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24 ENSINO COOPERATIVO: ESPAÇO FÍSICO

ENSINO COOPERATIVO: ESPAÇO FÍSICO


Patricia Helena Lara dos Santos Matai
Shigueharu Matai

RESUMO
Segundo o relatório Jacques Delors, no século XXI a educação deverá ser organizada sobre quatro
pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. O aprender a
conhecer tem sido o objetivo do ensino convencional e, em menor escala, acrescido do aprender a fa-
zer. Já o aprender a viver juntos e o aprender a ser envolvem questões comportamentais e requerem
uma nova metodologia de ensino. A motivação e o espaço físico formam o cenário para que ocorra o
aprendizado para os novos objetivos da educação. Ensino cooperativo é uma metodologia de ensino
que alterna períodos exclusivos de aulas com períodos de estágios nas empresas, mesclando o apren-
dizado com o trabalho e a vida.

Palavras-chave: Ensino cooperativo. Estágios. Ambiente educacional. Salas de aulas.

ABSTRACT
According to the Jacques Delors Report, education in the 21st century will be supported by four
pillars. It is expected from students: learn how to acquire knowledge, learn how to do, learn how to
socialize and learn how to be. The learning process of how to acquire knowledge has been the main
objective of the conventional education and also, in a minor fashion, the learning process of how to do
things. However the learning process of how to socialize and how to be, deal with behavioural matters
and requires a new educational methodology. Motivation and the physical environment make the
scenery suitable for the learning process to take place. Cooperative education is a teaching methodo-
logy that alternates academic activities at the university with work term periods in companies. This
methodology mixes learning and professional experiences.

Key words: Cooperative education. Work term. Environmental education. Classrooms.

INTRODUÇÃO meio de novos processos de aprendizado, para


acompanhar a velocidade e o volume de infor-
A palavra “ensino” normalmente está asso- mações disponibilizado pelas novas tecnologias
ciada a uma capacitação, a uma certificação, a nos meios de comunicação.
um diploma, a um pedaço de papel ao concluir Este relatório conclui que a educação deve-
um curso. Já a palavra “educação”, no seu sen- rá estar organizada sobre quatro pilares:
tido mais holístico, além de uma boa formação, • aprender a conhecer – adquirir instru-
também aufere ao indivíduo um comportamen- mentos da compreensão;
to. Os novos paradigmas de um mercado de tra- • aprender a fazer – para poder agir sobre o
balho em constante transformação vêm em bus- meio que o envolve;
ca de competências, ou seja, de um conjunto de • aprender a conviver – socializar e prati-
conhecimentos, habilidades e atitudes. Neste car atividades cooperativas;
cenário, o estudo dos elementos que influenciam • aprender a ser – integrando os três: co-
o comportamento do indivíduo é fator prepon- nhecer, fazer e conviver.
derante na definição do processo formativo dos O aprender a conhecer tem sido o objetivo do
novos profissionais. ensino convencional e, em menor escala, acresci-
O Relatório Jacques Delors, publicado no do do aprender a fazer. Já o aprender a conviver
Brasil como “Educação – um tesouro a se des- e o aprender a ser envolvem questões comporta-
cobrir” (CAVALCANTI, 2005), foi elaborado com mentais e requerem uma nova metodologia de
o objetivo de emitir um parecer sobre as mu- ensino. A motivação e o espaço físico formam o
danças que deverão ocorrer na educação, por cenário para o aprendizado para esses novos ob-

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jetivos da educação. O estudo da influência do No seu primeiro livro, Ética e Nicômaco,


meio ambiente no comportamento das pessoas é Aristóteles se pergunta qual seria bem cuja bus-
objeto de uma das áreas de pesquisas da psico- ca é a motivação fundamental do comportamen-
logia, que trata do estudo científico das relações to humano. Apesar de filósofo, ele não parte de
do homem com seu meio ambiente. Lembra-se deduções filosóficas, mas da opinião que pessoas
que a palavra “meio ambiente”, traduzida da pa- têm sobre a finalidade que as atrai naquilo que
lavra inglesa environment, representa um con- fazem. E revela: “Em palavras, o acordo quanto
ceito muito amplo e impreciso. Foi adotada pelos a este ponto é quase geral; tanto a maioria dos
britânicos, sem alterações pela língua inglesa, homens quanto pessoas mais qualificadas dizem
a partir da palavra francesa environ, que sig- que este bem supremo é a felicidade, e conside-
nifica formar um anel em torno, rodear, cercar. ram que viver bem e ir bem (ser bem sucedido)
O sufixo ment expressa o resultado ou produto equivalem a ser feliz” (COBRA...).
do verbo. Dessa forma, a palavra environment Segundo West (apud PEKELMAN, 2002),
significa aquilo que rodeia, especificamente, “as os sucessos são determinados pelo senso de au-
condições ou influências em que qualquer pes- to-eficácia que uma pessoa tem de si mesma. O
soa vive ou se desenvolve” (Oxford English Dic- senso de auto-eficácia pode ser definido como o
tionary). julgamento que as pessoas fazem de suas capa-
De uma forma pragmática, Lee (1977) ex- cidades para organizar e executar os cursos de
pressa que “a psicologia ambiental se ocupa de ação para diferentes tipos de desempenho. É a
todos os vários conceitos que o homem criou para confirmação do senso de competência e confian-
representar o espaço; do estudo das respostas do ça pessoal que temos para a realização de uma
homem aos padrões de estímulos que as pessoas tarefa, a qual é mutável, dinâmica, influenciada
experimentam; se elas se movimentam seleti- pelo contexto social e por determinantes situa-
vamente nos intervalos existentes entre objetos cionais. É desenvolvido quando o indivíduo tem
desejados ou adversos”. uma habilidade para realizar uma atividade e,
Gifford (2002) conceitua que “a psicologia depois de reconhecido por tal, sua crença neste
ambiental estuda a transação entre os indivídu- domínio é reforçada.
os e seus ambientes físicos. Nestas transações, Ao longo da vida, mudanças ocorrem em
os indivíduos mudam o ambiente e seu compor- diversos domínios das crenças de auto-eficácia.
tamento é mudado pelo ambiente. Psicologia As crenças de nossas capacidades e o potencial
Ambiental inclui a pesquisa e a prática dire- para superar dificuldades são fundamentais
cionadas para o fazer de construções mais hu- para nosso posicionamento diante de diferentes
manas e para melhora do nosso relacionamento situações na vida. As crenças que uma pessoa
com o meio ambiente natural”. tem de si mesma podem ser modificadas. O Qua-
A arquitetura do espaço físico destinado ao dro 1 mostra o modelo da origem e os efeitos dos
aprendizado exerce a sua mais potente influên- julgamentos de auto-eficácia.
cia sobre o comportamento de um modo indireto,
promovendo formas particulares de organização ORIGEM EFEITOS
Auto eficácia

Desempenho

social. Em nenhum outro local isso é mais evi- Experiência Escolhas de tarefas
dente do que nos espaços físicos destinados aos Persuasão social Persistência
propósitos educacionais. Observações Aproximação ou
O modo como agimos sobre o nosso meio am- Motivação
Afastamento de
biente e percebemos as conseqüências de nossas tarefas
ações é decisivos para o aprender a conviver e Quadro 1 – Origem e efeitos da auto-eficácia
aprender a ser.
No desenvolvimento do ser humano, ele
aprende a correr riscos somente naquelas situa-
COMPORTAMENTO E ções em que tiver a convicção de que não sofrerá
COMPETÊNCIA sansões pelos seus erros. Os erros contêm lições
Comportamento humano pode ser definido dramáticas dentro do processo de aprendizagem
como o conjunto de reações de um sistema di- (SAWREY, 1989)
nâmico em face das interações e realimentações O termo “competência” é definido por Perre-
propiciadas pelo meio em que está inserido. noud (1999) “como a capacidade de agir eficaz-
mente numa determinada situação, apoiada em

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conhecimentos, mas sem se limitar a eles”. Nes- Hipóteses Andragogia


se contexto, os conhecimentos científicos passam Autonomia Desenvolver a capacidade de tomar
a serem utilizados para a construção das compe- suas próprias decisões
tências, não se restringindo à reflexão, mas para Experiência Produzir das experiências a base
o desenvolvimento de habilidades construídas para o aprendizado de novos con-
pela ação prática. Para as novas gerações, que ceitos
se desenvolvem para a formação profissional, Prontidão para Prontidão de aprendizagem: de for-
a aprendizagem ma pragmática, aprender aquilo que
será exigida uma flexibilização para múltiplas está relacionado com situações reais
funções, não a formação específica para deter- da sua vida.
minada qualificação, criada para padrões de es- Aplicação da Desenvolver a visão do futuro para
pecialização e divisão do trabalho. Aprendizagem o aprendizado daquilo que acredi-
A nova metodologia de ensino deverá per- ta que será necessário, através do
mitir que o aluno explore aptidões e descubra aprendizado baseado em problemas
e não só centrado no conhecimento.
vocações por meio de um processo de aprendiza-
Motivação para Desenvolver interesses intrínsecos
do moderno, simultâneo e eficaz, ao contrário de
Aprender que são associados aos seus valo-
ambientes artificiais e protegidos, mas mescla- res e objetivos pessoais, ao invés de
do com o trabalho e a vida. associar os resultados do seu apren-
dizado a compensações externas.
EDUCAÇÃO COOPERATIVA
Quadro 3 – Hipóteses da andragogia
Segundo Cole (1981), para a exploração de
aptidões e descoberta de vocações, o estudante Educação cooperativa é uma metodologia de
deve conhecer as áreas de trabalho, as respec- ensino que promove o aprendizado sistêmico por
tivas exigências e o que se espera dele (Quadro meio de aulas e aprendizagem baseadas no tra-
2): balho. Este modelo integra as empresas e a ins-
tituição de ensino na formação de profissionais
Conhecer Explorar aptidões e descobrir vocações habilitados para enfrentar o dinamismo do mer-
seus Fornecer ao individuo oportunidade de co- cado de trabalho, o qual exige rápida adequação
interesses nhecer e experimentar diferentes áreas de de função e de conhecimentos atualizados com
trabalho a fim de descobrir seus interesse as inovações tecnológicas (MATAI, 2005).
e aptidões.
O modelo proposto reorganiza o calendário
a ser Permitir que o indivíduo possa aprender de
imediato as exigências de certas ocupações
escolar em quadrimestres: de janeiro a abril, de
e de suas possibilidades em satisfazê-las maio a agosto e de setembro a dezembro, alter-
realizando atividades práticas. nando períodos de aulas com períodos de prática
a conviver Mostrar ao indivíduo o que se espera dele profissional em empresas, na forma de estágios
em relação a determinados tipos de ativi- curriculares
dades, seus deveres diários, pessoas com
as quais será forçado a conviver e grau de
competição que pode esperar. Cursos cooperativos
J F M A M J J A S O N D
Quadro 2 – Aptidões e vocações 1o ano Aula 1 Aula 2 Estágio 1
2o ano Aula 3 Estágio 2 Aula 4
3o ano Estágio 3 Aula 5 Estágio 4
O aprendizado é considerado uma mudança
4o ano Aula 6 Estágio 5 Aula 7
relativamente permanente no comportamento
5o ano Estágio 6 Aula 8 Aula 9
do indivíduo, que acontece como resultado de
Salas 3 3 3
uma experiência prática.
Estágios 2 cjt 2 cjt 2 cjt
Malcolm Knowles (1980) propõe cinco hipó-
teses para o processo de ensino aprendizagem
Quadro 4 – Estrutura quadrimestral
baseado na vivência e experiência prática (Qua-
dro 3).
Na estrutura quadrimestral, são neces-
sárias três salas de aulas e dois conjuntos de
vagas, ao contrário do sistema semestral, que
ocupa uma sala de aula para cada ano de esco-
laridade (cinco salas). Dessa forma, tem-se uma

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redução de cerca de 40% do número de salas. aulas tomavam lugar em qualquer parte, assim
Conseqüentemente, há uma redução nos demais como acontecia nas escolas elementares.
recursos, como biblioteca, salas de informática, À medida que essas universidades adqui-
salas de projetos e de estudos, laboratórios, li- riam prestígio, os mestres mais famosos eram
vros, software, hardware, áreas de pátio, de es- disputados pelos alunos. Estudantes migravam
tacionamento, enfim, recursos para três em vez de cidades para estudar nas universidades mais
de cinco turmas. importantes. O Estado e a Igreja disputavam o
O aluno, ao se formar, terá cumprido seis controle sobre as universidades e tentavam or-
módulos de estágio de quatro meses, completan- ganizar o funcionamento e a taxação. No final
do 24 meses de atividades, exercendo diversas do século XII, foram organizadas residências
funções em empresas ou departamentos dife- para abrigar estudantes de outras cidades, ori-
rentes, ou seja, um currículo profissional de dois ginando os famosos colleges, como o da Sorbon-
anos no mercado de trabalho associado ao seu ne. Se, no passado, a conceituação da educação
diploma acadêmico, aumentando a sua compe- como forma organizada, somente surgiu, quan-
tência e seu espaço de atuação. do o homem domina as formas da sua subsis-
Os módulos de estágios poderão ser reali- tência, conseguindo abrigo e alimento suficien-
zados em empresas em cadeia produtiva (forne- te, passando a dispor de tempo para atividades
cedora, produtora, cliente), em diversos depar- exclusivamente educacionais, nos tempos atuais
tamentos da mesma empresa, em empresas do a educação passa a ser a forma preponderante
setor público, em institutos de pesquisas, em na subsistência do ser humano.
laboratórios de pesquisas em outras universida- As questões sobre a política educacional não
des, em quaisquer instituições do meio produti- se limitam ao ambiente da sala de aula, mas se
vo. Por serem de período exclusivo, poderão ser estendem a questões sobre onde as escolas de-
realizados em outras cidades, em outros estados vem estar localizadas. O surgimento da escola
e em outros países, proporcionando aos alunos de tecnologia é sempre acompanhado de um
uma vivência de outras realidades e culturas. desenvolvimento urbanístico na região em que
Com dedicação integral, os alunos podem assu- ela se instala. Na maioria das vezes, ela sur-
mir atividades mais nobres e com responsabili- ge naturalmente como um apelo à necessidade
dade, aumentando a empregabilidade. Por meio de profissionais devidamente habilitados para
dos convênios de estágio, a instituição de ensino acompanhar, ou, até mesmo, impulsionar o par-
aumenta o seu espaço (região) de atuação, além que industrial local, ou para atender às famí-
de divulgar as outras competências disponíveis lias da sociedade dos grandes centros urbanos
na pesquisa e na extensão, proporcionando solu- (BRUBAKER, 1998).
ções tecnológicas ou até mesmo patentes. A exemplo do que ocorreu na Sorbonne, as
universidades de renome ainda têm atraído es-
tudantes de várias regiões, inclusive de outros
POLÍTICA DO ESPAÇO
países. Para uma aplicação eficaz do aprendiza-
EDUCACIONAL
do adquirido por estes estudantes deverá existir
As cidades-estados da Grécia antiga tinham um mercado de trabalho equivalente, que muitas
propósitos distintos: enquanto a educação em vezes só é encontrado nos grandes centros urba-
Esparta era pública e com propósitos militares, nos. Nesta questão, o desenvolvimento da mo-
em Atenas era particular e fundamentada no bilidade física dos jovens estudantes modernos
ideal grego (Paidéia), que visava a um homem deve fazer parte da graduação (a exemplo dos
pleno, uma perfeita ligação entre o corpo e espí- programas europeus como o Erasmus), para que
rito. Ao final do século VIII, no período carolín- não ocorra uma saturação de mão-de-obra espe-
gio, surgiu a escola Palatina (edificações anexas cializada nas regiões das universidades e uma
aos palácios) e nas paróquias surgirem as escolas conseqüente decadência do sistema. A implanta-
catedrais (ao lado das mesmas). As escolas epis- ção das universidades de tecnologia para um efi-
copais representaram um movimento na transi- ciente desenvolvimento da economia, não para
ção entre a cátedra romana e as universidades uma fábrica de diplomas, deve ser eficazmente
medievais, que surgiram como fruto do desejo planejada com propostas inovadoras para solu-
e ascensão dos burgueses. Apesar de termos a cionar os problemas da escassez de recursos.
idéia do espaço da universidade como único, as A estrutura modular do curso cooperativo
apresentado no Quadro 4 otimiza os espaços aca-

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dêmicos, assim como amplia a região do merca- Para Lee (1977) os edifícios são construí-
do de trabalho para os seus formandos, por meio dos para as pessoas; algumas delas somente os
dos convênios com empresas das mais diversas contemplam e outras vivem e trabalham neles.
localidades do país, para atender aos módulos de Os edifícios das escolas, hospitais e residências
estágios. À medida que mais universidades ado- podem ser belos para os olhos, mas muito com-
tarem o sistema modular quadrimestral, será plicados para quem vive neles, caso não se defi-
possível o intercâmbio de estudantes entre estas nam de forma correta as funções que deveriam
instituições de ensino: um grupo de alunos de desempenhar para quem os utiliza. E conclui:
uma determinada universidade poderá cumprir “Omodo como agimos sobre o nosso meio am-
um módulo de estágio ou acadêmico em outra biente e percebemos as conseqüências de nossas
universidade, que também concederá um outro ações pode ser decisivo para a nossa sobrevivên-
grupo de estudante para uma outra universida- cia como espécie.”
de. Esses estudantes poderão ocupar o sistema A arquitetura com origens e afinidades com
de residências organizadas para abrigá-los ao a pintura e a escultura serve para a construção
redor da universidade, como no caso da Sorbon- de edifícios e monumentos. No planejamento
ne (repúblicas de moradia estudantil). dos espaços com forte determinismo ambiental
As empresas, ao oferecerem bolsas auxílio supõe-se que as vidas das pessoas possam ser
de estágio, também atraem talentos de outras influenciadas por decisões planejadas sobre o
regiões para divulgar as suas soluções, mesmo meio ambiente, pois se poderia dispor e distri-
que não se interessem em se fixar no quadro da buir as unidades em relação umas com as ou-
empresa. O governo e as empresas locais, ao ofe- tras controlando prioridades. Dessa forma, os
recerem bolsas de estudo para que os alunos da psicólogos ambientalistas propõem-se oferecer
sua comunidade possam cursar módulos acadê- um nível de planejamento, tanto ou superior ao
micos em outras regiões, solucionam a demanda oferecido pelos arquitetos, abrindo um campo
de especialistas para o mercado de trabalho re- de pesquisa sobre o espaço físico e a sua relação
gional, que não chega a justificar uma faculda- com a aprendizagem como sendo da área da psi-
de local ou as instalações especiais de determi- cologia ambiental.
nados módulos acadêmicos.
RELAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO COM O
ESPAÇO FÍSICO APRENDIZADO

A palavra “espaço” é, no seu primeiro sig- Segundo Canter (2001), a tarefa dos psicó-
nificado, “região com uma, duas ou três dimen- logos ambientais que estudam o aprendizado é
sões, ditas respectivamente: extensão, superfície identificar condições sob as quais os elementos
e volume, dentro da qual se localiza um ponto”. físicos e não físicos do arranjo da sala se combi-
No segundo: “extensão indefinida”. No terceiro: nam, resultando numa melhora do aprendiza-
“lugar delimitado que pode conter alguma coisa” do.
(Dicionário Larousse da Língua Portuguesa). De acordo com Weinstein (apud GIFFORD,
O espaço físico das instituições de ensino 2002), os efeitos do espaço físico sobre o apren-
deve ser planejado e projetado para o futuro tec- dizado devem ser analisados sob quatro dimen-
nológico que se insere no nosso cotidiano; por- sões: o próprio aprendizado, sentimentos com
tanto, constituído de salas de microinformática, relação ao aprendizado, o comportamento social
de videoconferência, com projeção 3D holográ- relacionado ao aprendizado e os aspectos de saú-
fica e oficinas com maquinário atualizado com de e estresse do aprendizado (Quadro 5). Nessas
as inovações tecnológicas. É uma utopia para análises, os psicólogos ambientalistas utilizam-
a situação em que se encontra a maioria das se de quatro premissas referentes ao aprendi-
instituições públicas no país, mas uma meta a zado e ao ambiente físico: de que não influem
ser perseguida. No espaço educacional, que se diretamente, que não são universais, que não
insere no âmbito social e de relações humanas, existe um melhor arranjo físico, porém que o seu
a metodologia de ensino deverá ser estruturada arranjo é importante no processo do ensino e da
e planejada para atender ao futuro, que requer, aprendizagem.
além do aprender a conhecer e a fazer, também
o aprender a conviver e aprender a ser.

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Ambiente físico e aprendizagem TAMANHO DAS ESCOLAS


a O arranjo físico não influi diretamente, mas pode
As dimensões, condicionadas à demanda de
tanto facilitar como dificultar o aprendizado de forma
simbólica e direcionada. Por exemplo: ruídos exces- alunos da região, parecem definir que elas deve-
sivos interferem na atenção da classe e, se a classe rão ser “as maiores possíveis” nos grandes cen-
está mal organizada, pode repassar aos aprendizes tros urbanos e dispersas no restante do interior
a impressão de que o professor e a escola não estão do país.
preocupados com o seu progresso. Não se tem registro de um estudo que defi-
b Os efeitos dos arranjos físicos sobre o aprendizado na as dimensões ótimas para um campus esco-
não são universais, mas são regulados pelo contexto lar por critérios como o desempenho acadêmico
social e pelo programa acadêmico.
ou as satisfações sociais dos quadros docente e
c Não existe o melhor arranjo físico para o aprendiza- discente, contudo é óbvia a economia de escala
do. Os melhores arranjos são aqueles coerentes com
na provisão de professores e de instalações es-
o conteúdo programático do que está sendo aprendi-
do, com os objetivos da classe e com as característi- peciais, como laboratórios, anfiteatros, oficinas,
cas dos aprendizes. acervo das bibliotecas, uma vez que este tipo de
d O aprendizado é maximizado quando o arranjo físico instalação seria proibitivo em escolas de peque-
é considerado de forma tão cuidadosa quanto outros no porte.
aspectos da situação do aprendizado, como a habili- Muitas experiências de aprendizado são
dade do professor e o currículo do curso. afetadas pelas dimensões da escola, a qual está
Quadro 5 – Premissas de Weinstein freqüentemente ligada a condições não ideais
com relação ao tempo no espaço. Estudantes em
As relações pessoa/meio no espaço do apren- escolas grandes têm interesses numa variedade
dizado, segundo Weinstein, compõem o esquema de assuntos, mas o tempo na escola é limitado,
apresentado na Figura 1: de forma que eles não participam realmente de
• as características pessoais dos estudantes mais atividades do que os estudantes de escolas
(atitudes em relação ao aprendizado, ida-
pequenas.
de, personalidade, sexo, experiências esco-
lares anteriores);
• interagem com o layout do espaço de ESPAÇO DA AÇÃO
aprendizagem (tamanho, ruído, densidade
O formato e a disposição do mobiliário da
populacional e disposição do mobiliário);
• e o ambiente socioorganizacional (normas, sala de aula formam uma dimensão simbólica
currículos, metodologia de ensino, orien- que influencia as atitudes de professores e alu-
tação educacional); nos. Essa disposição é acentuada com o tablado
• produzindo atitudes relacionadas com o e a diferenciação do tipo e tamanho da mesa,
aprendizado (satisfação com a escola, in- reiterando uma compreensão avaliativa e auto-
satisfação com a classe, compromisso com ritária do professor em detrimento da compre-
o aprendizado); ensão empática e colaborativa.
• comportamentos (participação da classe, Do ponto de vista de Richardson (apud
atenção com os materiais de aprendiza- HEIMSTRA, 1998), a posição tradicional da
gem, questionamento, atitude proativa ou sala de aula – carteiras de aluno em filas re-
não-persistência, criatividade, aprendiza- tas, de frente para o professor – pode não ser a
gem e desempenho).
melhor forma de promover o envolvimento e a
satisfação do aluno por uma série de razões: os
alunos da frente podem bloquear a visão sobre
o professor e o quadro negro; os últimos alunos
das filas ficam isolados e se dispersam na aten-
ção ao assunto ministrado na aula; dificultam
a comunicação visual e auditiva em atividades
interativas com os alunos; o papel dominador do
professor é acentuado pelo uso de mobiliário di-
ferente e a sua distância e posição com relação
aos alunos; a disposição fila a fila inibe as me-
todologias de aprendizado baseadas em grupos
e na ação.
Figura 1 – Relações pessoa-meio no espaço de aprendi-
zado

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30 ENSINO COOPERATIVO: ESPAÇO FÍSICO

No estudo realizado por Sommer (1973) seis As mudanças físicas no espaço de aprendi-
tipos de salas de aulas foram utilizados, com zado como um todo afetam o desempenho esco-
carteiras dispostas em filas, com mesas para lar. Fatores como cor, ruído, temperatura, ilumi-
atividades em grupo, em forma de laboratório, nação e odor influenciam no conforto ambiental
em forma de seminário (em forma circular), sem das salas de aulas.
janelas e com divisória envidraçada. A observa-
ção de alunos durante as aulas regulares indi- A SALA DE AULA E O COMPORTAMENTO
cou que nas disposições em fila reta participava
nas discussões em aula um número médio maior Para os professores, pesquisadores e admi-
de alunos por sessão. Entretanto, o número ab- nistradores, a sala de aula sempre foi de gran-
soluto de afirmações por questão era mais eleva- de interesse. Com o surgimento das novas tec-
do nas aulas em forma de seminário. Os alunos nologias educacionais, novos conceitos, como o
também declararam não gostar de aulas em la- planejamento modular e de sala de aula aberta,
boratórios e de salas sem janelas. remetendo a metas amplamente definidas com o
Sommer realizou um experimento em uma objetivo de incrementar a qualidade da experiên-
sala de aula tradicional, retangular, com a mesa cia educacional, têm aumentado ainda mais, e
do professor ao centro e carteiras em fileiras, substancialmente, este interesse. Porém, nem
relacionando a posição do estudante na sala com sempre tem sido dada a efetiva atenção ao espa-
o número de participações na aula. Essas parti- ço físico da sala de aula, como parte integrante
cipações foram tabeladas. A região central e a do processo educacional.
frente, que apresenta estatisticamente a maior Na maioria das vezes, o ambiente da sala de
participação dos alunos, é denominada “zona de aula é alterado para promover algum objetivo
ação”. Os resultados obtidos estão apresentados comportamental. Por exemplo para intensificar
na Figura 2. o nível de discussão em classe ou para promover
o trabalho em grupo. Para os pesquisadores, é
Instrutor interessante verificar, caso tenha ocorrido uma
alteração comportamental, se foi devida à nova
57% 61% 57% técnica de ensino ou se foi possivelmente cau-
sada pela disposição do mobiliário como forma
51% 54% 51% mais útil para o relacionamento professor-alu-
no.
41% 51% 41% Na análise das variáveis físicas de salas para
propriedades ou variáveis inerentes às pessoas
31% 48% 31% que usam as salas, os fatores individuais são
Figura 2 – Zona de ação (Sommer) importantes porque todo indivíduo tem carac-
terísticas em algum grau, as quais influenciam
Embora seja importante a posição na sala a interação com as propriedades físicas de uma
de aula, as pesquisas demonstraram que os bons sala, bem como com as demais pessoas na sala.
alunos aumentam a sua participação quando co- Essas variáveis individuais compõem uma série
locados na zona de ação, mas alunos com proble- de fontes diferentes. A atitude de uma pessoa so-
mas não demonstram melhora quando dispostos bre a função social e física de uma sala pode ser
nesta zona, apesar do relativo aumento na par- resultado de sua experiência passada na mesma
ticipação. sala ou em outra semelhante. Entre as pesqui-
Embora a zona de ação aumente o número sas realizadas, Richardson (apud HEIMSTRA,
de participação, não necessariamente a posi- 1998) relata que um professor inovador decidiu
ção está associada a um aumento na avaliação mudar as fileiras retas tradicionais de cartei-
e aproveitamento do aluno. Isso talvez seja ex- ras de sua sala de aula para uma disposição em
plicado pela predisposição dos alunos que esco- semicírculos. Contudo, seus alunos não gosta-
lhem a zona de ação para participar da aula e ram da nova disposição. Aparentemente, suas
para se sentirem mais responsáveis para com as experiências passadas com salas de aulas con-
atividades escolares, o que parece indicar que vencionais haviam formado atitudes sobre como
a relação espacial na eficiência dos alunos tem deve ser a disposição de uma sala de aula. Os
participação individualizada e merece um estu- resultados do estudo previamente discutido so-
do mais criterioso. bre percepções de uma sala distorcida refletem
também efeito de associações passadas sobre as

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experiências ou conceitos de um indivíduo. O ASSISTÊNCIA E MOTIVAÇÃO:


aprendizado social do indivíduo é determinante FEEDBACK
igualmente importante de seu comportamento
em determinados ambientes e tenderá a sus- A experiência demonstra que, embora o am-
citar o comportamento que é esperado numa biente físico afete o desempenho escolar, muito
situação específica. mais importante a se considerar é a construção
Alguns fatores individuais, como a necessi- da relação do professor com o grupo de alunos,
dade de privacidade, não são facilmente influen- que, entre todas as funções, tem, principalmen-
ciados por experiências anteriores. Essas são te, a de assistir e motivar, o que pode ser efetua-
variáveis mais universais, que determinam cer- do através de feedback (MATAI, 2004)
tos aspectos de comportamento social em apro- Motivação é a força que nos estimula a agir
ximadamente todos os contextos socioambien- – o motivo para a ação. Porém, seja a teoria de
tais. Duas destas variáveis são a necessidade de Maslow, Herberg, McGregor, Freud, Skinner, ou
estabelecimento de território e a necessidade de qualquer outro, nenhuma teoria isolada é sufi-
preservação de espaço pessoal. ciente para explicar a complexidade da motiva-
ção humana, porque a verdadeira motivação é
intrínseca. O motivo da ação está relacionado
APRENDIZAGEM EM GRUPO
com o interesse que o indivíduo possui por uma
Provavelmente, o primeiro experimento for- atividade, cujo valor é definido pelo grupo social
mal de laboratório sobre os aspectos sociais da e pelo meio ambiente em que opera. De acordo
educação se deva a Triplett, que em 1897 cons- com Spitzer (1997), a motivação só é mantida
tatou que o desempenho dos indivíduos aumen- quando incorporada ao grupo; quando não há
ta quando em companhia de outros. Mais tarde, interesse, não ocorre o aprendizado.
Allport, em 1920, criou a expressão “facilitação Bergun e Lerh (apud LEE, 1977) realizaram
social” para descrever o incremento no desem- um experimento através de uma simples tarefa
penho que se verifica em situações em que as de vigilância em dois grupos de jovens militares
pessoas estão individualmente empenhadas na que tinham de monitorar um painel para locali-
mesma tarefa, na presença umas das outras, zar erros ocasionais num padrão de luzes. Num
mas sem qualquer comunicação evidente. grupo, eles trabalharam isoladamente e ao outro
De acordo com Rogers (1996), a maioria de era dito que um oficial superior compareceria
nós tem de ensinar e aprender em grupos. A uma vez por outra para supervisionar a tarefa.
maior parte da educação para adultos ocorre em No primeiro caso, registrou-se a usual deterio-
salas de aula e em outras formas de grupos. As ração progressiva do desempenho; no segundo,
razões para que seja dessa forma, são apresen- o desempenho se manteve estável. Na extensão
tadas no Quadro 6. em que existe uma competição nos paradigmas
de assistência e facilitação social, deve-se pres-
1 As escolas são habitualmente organizadas desta for- supor que o sujeito forma, pelo menos, uma es-
ma. Nós mesmos aprendemos em grupos (classes) timativa da noção da oposição, isto é, o padrão
e desta forma, esperamos e também preferimos en- de desempenho desejado ou esperado. Mesmo
sinar em grupos. quando esse padrão fica completamente inter-
2 O uso de uma classe parece ser a melhor forma de nalizado, de modo que o sujeito compete consi-
aproveitar os recursos de um único professor. go mesmo, isto é, com o pundonor ou dignidade,
3 A maioria dos alunos adultos parece preferir os gru- pode-se considerar que ele está agindo de acordo
pos para a aprendizagem, apesar de que muitas com uma norma social.
oportunidades de aprendizado individual (cursos por Uma demonstração de que os efeitos da
correspondência, Universidade Aberta, uso de biblio-
tecas, leitura de manuais por alunos que estudam
fixação de um padrão podem distinguir-se da
em casa, por exemplo) têm aparecido. Mas o contato excitação foi fornecida por um experimento de
pessoal entre professores e estudantes e entre os Foot e Lee (LEE, 1977). Três sujeitos desempe-
próprios estudantes ainda é a forma preferida. nharam simultaneamente uma tarefa simples
de aprendizagem em cabinas adjacentes. Os
4 Há vantagens reconhecidas no aprendizado em gru-
po. A educação em grupo pode freqüentemente tra- painéis instalados em cada cabina mostravam
zer maior ganho (vantagens). aos sujeitos seus próprios escores e os dos seus
dois colegas. Verificou-se que essa aprendiza-
Quadro 6 – Aprendizagem em grupo

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32 ENSINO COOPERATIVO: ESPAÇO FÍSICO

gem em grupo era muito superior à aprendiza- ção aos desafios propostos pelo grupo. As neces-
gem solitária. O problema seguinte consistiu em sidades do aprendiz devem ser priorizadas, do
descobrir por quê – e isso foi tentado mediante ponto de vista de que não exista crítica ou medo
a separação de dois importantes aspectos da ta- da crítica, para evitar a exclusão deste aprendiz
refa. Numa condição (público sem feedback), o do grupo. Deve também ficar atento às pressões,
sujeito não podia ver os painéis de seus dois co- permitindo que cada participante possa praticar
trabalhadores, mas pensava que estes podiam suas habilidades e expressar os seus pontos de
ver o dele; na outra condição (feedback sem pú- vista aos demais membros do grupo. Os partici-
blico), o sujeito podia monitorar os escores de pantes devem ser capazes de experimentar, pra-
seus co-trabalhadores, mas pensava estar ele ticar e explorar os seus próprios conceitos.
mesmo trabalhando em completa privacidade. Não se deve encorajar ou tentar desenco-
Os resultados são reproduzidos na Figura 3. rajar algumas interações não relacionadas com
as tarefas a serem cumpridas, mas que venham
a desestimular o grupo. Não é uma tarefa fácil
a de balancear as ações quando os membros do
grupo desejam engajar-se em outros assuntos
que não a tarefa de aprender o que está progra-
mado. Nestes casos, é preferível ocorrer quebra
do grupo em subgrupos, com novas estruturas e
papéis, de forma a encorajar o aprendizado.
Os professores podem encorajar o aprendiza-
do efetivo na sala de aula de algumas maneiras:
devem ajudar o grupo de alunos, incentivando os
aprendizes individuais a participar como mem-
Figura 3 – Escores de desempenho (Lee, 1977) bros de um grupo; efetuar trocas freqüentes das
interações face a face, quando for observado al-
O ESPAÇO PARA O ENSINO E PARA gum envolvimento emocional. Pessoas que não
têm nada a compartilhar nunca irão se tornar
O APRENDIZADO
parte de um grupo. Estudantes que vêm para a
Mestre não é quem sempre ensi-
classe e entram sem dizer nada, esperando que
na, mas quem de repente aprende. o professor inicie a aula, com uma frieza que su-
(Guimarães Rosa) gere uma falta de comprometimento emocional,
irão permanecer como uma coleção de aprendi-
Algumas pessoas nascem professores e pos-
zes individuais. O domínio equânime do grupo
suem o dom de criar interesse nos alunos e de
pelo professor também não ajuda. Sem um com-
analisar o seu processo de aprendizado, mas
partilhamento de tarefas e senso de realizar,
todos podem aprender naturalmente ao lidar
de completar (nós fizemos isto), os aprendizes
com o grupo de alunos, aumentando o grau de
irão permanecer desatentos e pouco integrados
atenção, pelo entendimento dos caminhos pelos
(ROGERS, 1996). Nessa função de produzir um
quais os grupos operam e aprendem a observar.
ambiente propício para o trabalho em grupo, a
É importante considerar que o atributo prin-
disposição do mobiliário é fator preponderante.
cipal na “função professor” é o de desenvolver
uma sensibilidade suficiente para estar atento
DISPOSIÇÃO EM FILEIRAS
às interações verbais e não verbais do grupo,
dando atenção ao que ocorre na classe com rela- Os assentos disponibilizados em fileiras im-
ção a piadas, críticas, risos e comentários. Deve pedem que os aprendizes da frente interajam
também estar atento aos sinais de satisfação. com os que estão atrás.
A identificação dos líderes naturais dos grupos Esta disposição é interessante em aulas ex-
também auxilia na construção do relacionamen- positivas e centradas no professor, cuja face é
to e da comunicação, como potenciais monitores a única enxergada pela classe. Neste layout, é
auxiliares em cada grupo de alunos. importante considerar a localização da porta da
O professor deve se preocupar com o desen- sala, se na frente ou na parte de trás, conforme
volvimento pessoal de cada aprendiz com rela- Figura 4.

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ENSINO COOPERATIVO: ESPAÇO FÍSICO 33

Em todas as disposições imagináveis do


mobiliário, a dinâmica do grupo somente ocorre
com a intervenção de um facilitador, cuja função
é a de assistir e motivar os alunos para o apren-
dizado, o que não deve ocorrer somente na sala
de aula.

Figura 4 – Disposição em fileiras

DISPOSIÇÃO CIRCULAR

Este arranjo permite que todos os membros


interajam livremente uns com os outros e com
o professor, que também deverá fazer parte do
grupo, mesmo quando os alunos estiverem rea-
lizando tarefas individuais, tais como o uso de
equipamentos como computadores; arranjo per- Figura 6 – Disposição em “U”
mite interação e mobilização. A ausência de um
anteparo, como uma mesa ou carteira, deixa os TRANSFORMAR “CELAS” EM
aprendizes expostos e obriga-os a ficar atentos e CÉLULAS DE ENSINO
participativos com os demais membros do grupo
(Fig. 5). Quando uma sala tiver de favorecer deter-
minado tipo específico de comportamento, deve-
rá ser projetada para essa finalidade, que antes
de tudo será a de facilitar o aprendizado do alu-
no.
A finalidade do espaço físico tem uma im-
portância significativa sobre a influência do
comportamento. O tipo de influência sobre o
comportamento depende da estrutura, da dispo-
sição e da arquitetura a que se destina: se um
auditório de palestras, se um laboratório quími-
co ou se apenas uma pequena sala de seminá-
rios. Além disso, a forma, o mobiliário e deter-
minadas condições ambientais também afetam
o comportamento.
Um dos locais a serem reformulados são as
salas dos professores para atender aos novos ob-
jetivos da educação.
Figura 5 – Disposição circular As instituições de ensino existem para ensinar,
para trocar informações e principalmente para
os outros objetivos que parecem estar esqueci-
DISPOSIÇÃO EM “U” dos, cuja ausência explica o desinteresse dos
alunos por ela e que a sua presença desenvolve
Nem sempre a disposição ao redor de uma o interesse e a motivação pela mesma (MASET-
mesa grande ajuda, porque os membros de um TO, 1995).
dos cantos podem formar o seu próprio grupo. O É preciso alertar à arquitetura que constrói
professor deve atentar para que as pessoas não salas de professores que os isolam do contato
se sentem sempre no mesmo lugar. A ausência com seus orientados e àqueles que defendem
da mesa também permite a mobilidade dos alu- esta estrutura que as novas metas da educa-
nos na classe e provoca maior participação nas ção vão além do aprender a conhecer e a fazer,
dinâmicas (Fig. 6). mas se estendem ao aprender a conviver e ao

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aprender a ser. As celas em que os monges ere- trada, transformando as salas dos professores
mitas ficavam enclausurados nos monastérios, em verdadeiras “celas”, isolando o professor dos
ocupando-se em copiar, mesclar e traduzir anti- alunos. O layout dos espaços físicos destinados
ao ensino e aprendizado do aprender a conviver
gos textos conforme os preceitos da Igreja, estão
e do aprender a ser deverão ser construídos para
deixando de existir. Aqueles que persistem im-
facilitar o trabalho do professor no desenvolvi-
pedem o avanço que a educação deverá assumir mento desses comportamentos sociais.
para garantir a da sua própria existência, rele- É interessante notar a semelhança entre os
gando a ela ficar à margem do tempo, ao lado layouts de um convento e de um presídio (Fig. 7)
das escolas episcopais. com o layout de uma instituição de ensino supe-
Em muitas instituições encontram-se salas rior (Fig. 8): todas apresentam um conjunto de
transformadas em verdadeiros escritórios, com
“celas” .
uma secretária ou uma porta automática na en-

Figura 7 – Convento / Presídio (*)

Figura 8 – Instituição de ensino superior

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ENSINO COOPERATIVO: ESPAÇO FÍSICO 35

INDIVIDUALIDADE E
TERRITORIALIDADE
Segundo Heimstra (1998), o espaço indi-
vidual pode ser concebido como um envoltório
que delimita uma fronteira “portátil”. De cer-
ta forma, este espaço pessoal é social porque
a sua existência é verificada somente quando
uma pessoa se introduz inadvertida ou proposi-
talmente no espaço pessoal de outro indivíduo.
Esse fenômeno é comumente observado quando
uma pessoa está sentada sozinha num banco de
um jardim (por exemplo) e outra se aproxima
e senta-se ao seu lado; automaticamente, a pri-
meira pessoa mostrará um sinal de perturbação
e se movimentará um pouco para mais longe do
outro indivíduo. Além de diferir entre os indiví-
No primeiro estágio as divisórias que se-
duos, as necessidades de delimitar as fronteiras
param uma sala da outra deverão proporcio-
pessoais têm se mostrado de modo diverso nas nar, pelo menos, o contato visual, substituindo
diferentes culturas e subgrupos de população. os “muros” por materiais transparentes. Este
O espaço pessoal também se diversifica em contato visual rompe algumas barreiras que se-
função da situação social. O limite para amigos param os espaços pessoais e proporcionam um
íntimos difere daquele imposto para estranhos, primeiro estágio para a convivência, mesmo que
como difere entre membros do sexo oposto e alguns insistam na colocação de persianas para
membros do mesmo sexo. As necessidades de es- continuarem isolados.
paço pessoal revelam-se variadas em situações Heimstra (1998) considera a territorialidade
de agrupamento de pessoas, embora a natureza outro aspecto do comportamento espacial huma-
da multidão possa também ser de considerável no, que é freqüentemente difícil de ser separado
importância. Se a razão para a formação de um da manutenção de espaço pessoal. Segundo ele,
grupo ou multidão for comum (por exemplo, via- o indivíduo demarca um território, usando as-
jar no metrô ou esperar numa fila), os limites pectos existentes de seu meio ambiente ou pela
pessoais fatalmente se desfarão. modificação de seu ambiente para estabelecer
marcações ou limites. Estas linhas de demarca-
CONVIVER É ENSINAR E APRENDER ção são entendidas e respeitadas por outros in-
divíduos. Este comportamento é surpreendente-
A palavra “conviver” está relacionada a ou- mente semelhante ao dos animais inferiores.
tras, como convidar, ser convidativo, ser atra- A territorialidade para a atividade de pes-
ente, convite, conviva, convivência, convívio, quisa, como a de ensino, requer do docente um
convizinho, a um indivíduo que habita próximo espaço adequado para a função de ser professor.
(Dicionário Larousse da língua portuguesa).
Mesmo que o regime de trabalho entre os
docentes seja de dedicação exclusiva ou parcial,
é preciso considerar que todos têm sua função
principal na graduação, que têm, entre outras, a
nova meta do aprender a conviver, cujo conceito
se estende além das salas de aula e passa pelas
suas próprias salas.
Existem relatos de que layouts que separam
os espaços pessoais dos professores, por meio de
elementos que isolam a visão e a acústica, tam-
bém isolam socialmente uns dos outros.

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OUTRAS CARACTERÍSTICAS do mobiliário. Na maioria das vezes, se o am-


biente da sala é alterado de alguma forma, tal
Entre as diversas características que com- alteração se dá para promover algum objetivo
põem uma sala, quer sejam fixas, quer sejam va- comportamental, por exemplo, para aumentar o
riáveis, certamente o tamanho e a forma consti- nível de discussão ou do trabalho em grupo. Os
tuem as mais rígidas. Dessa forma, os projetistas estudos têm demonstrado que a relação profes-
preocupam-se com o trabalho de manipular ou- sor-aluno é fator preponderante, mas algumas
tros aspectos do ambiente da sala, tais como a técnicas de ensino requerem layouts especiais.
cor, luminosidade, temperatura e a disposição

CONCLUSÃO gações mostrassem que o meio social tinha mais


influência no comportamento do que o meio fí-
Com o avanço dos meios de comunicação e sico. Em parte, em virtude dessa constatação e,
as competências dirigidas de maneira pragmáti- em parte, por causa de outros desenvolvimentos
ca e voltadas ao meio produtivo, será exigido do na psicologia aplicada, a preocupação com os
trabalho educativo também ensinar a aprender efeitos psicológicos do meio físico foi abandona-
a conviver e aprender a ser. da pelos psicólogos e passou a ser atribuída aos
Muitas vezes a sala do professor encontra- engenheiros e arquitetos.
se em melhor estado do que as salas de aula,
onde efetivamente ele exerce a sua função e nas AGRADECIMENTOS
quais os alunos permanecem quase todo o perí-
odo do dia. André Sant’Anna da Silva é formado da Fa-
A concepção do espaço físico deverá promo- culdade de Arquitetura e Urbanismo da Univer-
ver o trabalho em grupo e uma interação entre sidade de São Paulo. Ganhou concurso da Ari-
o orientador e seus orientados, uma simbiose zona State University, onde estudou e estagiou
entre a sala dos professores e as salas de aulas, durante o primeiro semestre de 2005. Atualmen-
transformando as “celas” em células de ensino. te é aluno do programa de dupla-certificação com
Este espaço deve adequar a tarefa de pesquisa a Escola Politécnica da USP, onde deverá cursar
à de ensino, integrando a graduação com a pós- mais dois anos de Engenharia Civil, o que traria
graduação, evitando isolar o orientador de seus admiração ao próprio Vilanova Artigas. Tam-
orientados e transformando o espaço puramente bém realiza trabalho comunitário na sua igreja
físico em algo efetivamente orgânico. e toca saxofone nas horas de folga. Fora isto, é
uma pessoa comum como os da sua geração: gos-
CONSIDERAÇÕES FINAIS ta de futebol, carrega um laptop e uma câmera
digital na mochila; tem destreza em microinfor-
Provavelmente, a primeira tentativa de mática, principalmente nos aplicativos gráficos
avaliar o impacto do ambiente físico sobre o em que realizou vários trabalhos profissionais.
comportamento fora de laboratório foram as in- Clica, tecla, liga um ponto a outro, faz, refaz,
vestigações de Hawthorne na década de 1920. grava e se diverte. Hoje, ele divide a sala com
Num período de crise econômica, toda tentativa um engenheiro civil e um arquiteto e participa
de usar o ambiente e outros aspectos das condi- com entusiasmo nos projetos de expansão da
ções de trabalho, de forma a maximizar a pro- sua universidade. É uma pessoa feliz que sabe
dutividade, foi considerada. A manipulação dos conviver e ser. São dele também os créditos das
níveis de iluminação e uma variedade de outras ilustrações deste artigo e a inspiração do tema,
modificações das condições de trabalho foram surgido graças ao seu questionamento constan-
aplicadas. Dado o contexto e uma variedade de te sobre os espaços físicos na universidade.
outros aspectos, não foi surpresa que as investi-

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