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Spinoza, em sua Ética, começa tratando acerca de Deus, já que para ele
a ordem das ideias deve corresponder à ordem das coisas e Deus seria o
primeiro nessa ordem. Expondo sua filosofia à maneira dos geômetras, ele
segue o procedimento que se desenvolve em definições, axiomas, proposições,
demonstrações e escólios. Tratarei aqui dos sete axiomas.
II. O que não pode ser concebido por outra coisa deve ser concebido
por si.
Por vezes, concebemos algo por outra coisa enquanto são dependentes
ontologicamente, ou até temporalmente, uma da outra. Há seres que não
possuem sua razão de ser em si, isto é, não se explicam por si só, mas
dependem, para ser concebidos, de outro. Nesse caso, esse outro é sua causa,
sua razão de existir. Logo, se algo não pode ser concebido como que
dependente de outro, ou, como possuindo sua razão de ser em outro, deve ser
concebido por si mesmo. E ser concebido por si é também da substância
(definições 3); para se conceber a substância não é necessário nenhum outro
conceito, antes, é dela que depende a formação dos outros conceitos. Para
Spinoza, o modo é concebido por outra coisa (definições 5).
III. De uma dada causa determinada segue-se necessariamente um
efeito; se não existe qualquer causa determinada, é impossível
seguir-se um efeito.
No axioma II, tratou-se das coisas que podem ser concebidas. Há coisas
que são concebidas por outras e para que isso ocorra é necessário que tenham
algo em comum, razão mesmo pela qual é possível concebê-las como sendo
“por outra”. Não tendo esse elemento comum torna-se impossível entender uma
por outra.
Ora, como foi dito (definições 1) o que existe por causa de si, sua essência
envolve a existência, assim, não pode ser concebido senão como existente. De
modo evidente, se a essência de algo não envolve a existência esse algo pode
ser concebido como inexistente, isto é, é um ente contingente.