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All content following this page was uploaded by Jose Jefferson M. Oliveira on 29 November 2016.
O PRÉ-SAL BRASILEIRO E O
PROBLEMA DA CORROSÃO POR CO2
José Jefferson Morais de Oliveira1 e João Roberto Bastos Zoghbi Filho2
1) Petrobras, Endereço: Av. Nossa Senhora da Penha, nº 1688, Barro Vermelho, Vitória – ES;
2) Faculdade do Centro Leste, Endereço: Rod. ES – 010, km 6, S/N, Manguinhos, Serra – ES.
Resumo
A integridade de materiais e equipamentos em ambientes com presença de dióxido de carbono (CO2) e sulfeto de
hidrogênio (H2S) é uma das principais preocupações na produção do petróleo da chamada camada do pré-sal. Isto
porque o CO2 e o H2S estão geralmente associados com a corrosão interna de instalações de petróleo e gás natural.
E como estes dois gases estão presentes em teores elevados nos reservatórios do pré-sal, o ataque corrosivo se
constitui num sério problema para a produção e transporte do grande volume de petróleo e gás ali presentes. Uma
vez que o dióxido de carbono já é considerado o principal agente corrosivo desta importante província petrolífera,
apresentaremos alguns tópicos relacionados ao processo corrosivo por CO2, para os tubos de produção de petróleo
localizados no pré-sal da costa brasileira.
materiais cerâmicos. No caso específico da corrosão em atmosférica; corrosão microbiológica e ataque pelo
metais, o fenômeno da corrosão metálica pode ser hidrogênio [5].
definido como “o ataque destrutivo e não intencional de
um metal. Esse ataque é eletroquímico e começa 2.1. Corrosão quanto à morfologia
normalmente pela superfície” [3]. O resultado dessa Este tipo de classificação considera quatro formas
deterioração, “causada pela interação físico química diferentes de corrosão – uniforme ou generalizada,
entre o material e o seu meio operacional”, introduz localizada, seletiva e intergranular ou transgranular.
alterações prejudiciais e indesejáveis, como por Nas Figuras 2, 3 e 4, têm-se exemplos de corrosão
exemplo: “desgaste, variações químicas ou uniforme, localizada e intergranular, respectivamente:
modificações estruturais”, de forma que o material tem
sua funcionalidade comprometida [4].
Uma reação de oxidação típica para o aço carbono, por
exemplo, pode ser representada conforme a Equação 1
[4]:
→ + 2 (1)
2 + 2 → 2 → (2)
+ 2 → + (3)
repentina. Caso um componente, sujeito a esforços macroscópica de fratura iminente, com quase nenhuma
cíclicos, se encontre em um meio capaz de atacar evidência de produtos de corrosão. As tensões residuais
química ou eletroquimicamente o material, tem-se as que causam esse processo de corrosão são geralmente
condições que promovem a corrosão sob fadiga – provenientes de operações de soldagem e deformações
conforme visto na Figura 9. Geralmente, os metais a frio, como estampagem e dobramento – conforme
sujeitos a este tipo de ataque, são aqueles que têm uma Figura 10, a seguir:
camada protetora (por exemplo, um óxido), capaz de
conferir resistência a um meio que tenderia a atacar o
material. No caso do processo de corrosão-fadiga em
metais, diferentemente do dano por fadiga, a presença
do meio corrosivo reduz a resistência a fadiga do
material a tal ponto que, não há faixa de tensão segura
dentro da qual a vida do componente é infinita.
destas fases, diferentes regimes de fluxo podem ser Por sua vez, a presença de CO2 eleva a taxa de corrosão
obtidos – conforme Figura 12. Deve-se ressaltar que a do ferro em solução aquosa pela reação de geração de
previsão do regime de fluxo para um dado fluido não é hidrogênio [8].
tarefa simples e é tema de vários trabalhos na literatura. Conforme já mencionado, a formação de filmes na
Basicamente as previsões se baseiam na resolução de superfície do material como produtos de corrosão (no
equações diferenciais de escoamento, através de caso, o FeCO3), tem uma importante função na redução
simulações numéricas ou observação direta em das taxas de corrosão. A formação e remoção destas
experimentos em escala real; camadas na superfície do material sofrem influência da
Composição química da água: trata-se de um dos temperatura. Por exemplo, em torno dos 100°C, a taxa
parâmetros que mais afeta a taxa de corrosão pelo CO2. de corrosão é mais elevada para o aço carbono. Para
Em sistemas onde a água é originada de processo de elevadas temperaturas, ou seja, acima de 300ºF
condensação, a composição tende a ser apenas a (~150ºC), recomenda-se o uso de tubos em 13Cr. A
resultante da dissolução do ácido carbônico na água, influência da temperatura na corrosão do aço carbono
entretanto, à medida que o processo corrosivo se pode ser observada na Figura 13. Nela se percebe que
intensifica, aumenta o teor de ferro na água. Como para faixa de temperatura entre 60 e 100ºC, o filme de
geralmente a proporção de água condensada é corrosão formado apresenta “falhas” e pode favorecer
relativamente menor que a superfície de metal exposta, o surgimento de pontos de corrosão localizada, levando
a água fica rapidamente saturada de íons Fe2+. Deve-se a uma perda de material elevada e pontual.
mencionar ainda que, a água de formação tem
composição bem mais complexa, podendo apresentar
um elevado teor de sais dissolvidos. O tipo de eletrólito
vai interferir no cálculo do pH. Assim, para um mesmo
valor de pH, a água de formação age como um eletrólito
mais forte (maior condutividade elétrica), podendo
aumentar a taxa corrosão. Por outro lado, é citado na
literatura que um maior teor de sais diminui a
solubilidade de gases corrosivos (entre eles o CO2), o
que em alguns casos, pode diminuir a taxa de corrosão;
produção requer a interrupção da produção do poço. Na – demandarão metalurgia mais elaboradas. Podem-se
Figura 14 temos mais um exemplo de corrosão por encontrar, em catálogos da Vallourec e na NKK, outras
CO2, neste caso, para um poço on-shore [12]. Mesmo especificações de tubos de produção confeccionados
assim, observe que o custo de retirada da coluna e em ligas de níquel, e certamente a nobreza desses tubos
substituição dos tubos de produção é da ordem de dois limitam suas aplicações a ambientes extremamente
milhões de dólares. corrosivos [13].
Aços que contenham teores de cromo superior a 12%,
têm excelente resistência à corrosão e são comumente
designados como aços inoxidáveis. O cromo é o
elemento de liga predominante e é responsável pela
formação de uma camada superficial uniforme e
protetora de óxido de cromo quando o aço é exposto à
atmosfera contendo oxigênio. Estes materiais são
considerados aços de alta liga (o teor de Cr pode variar
de 12 a 26%, o teor de Ni pode chegar a 22% e,
frequentemente, contêm pequenas quantidades de
outros elementos de liga). São divididos em três
classes, com base na fase constituinte predominante em
sua microestrutura – martensíticos, ferríticos e
austeníticos. Despertam, ainda, grande interesse para
engenharia em função da sua resistência à oxidação e à
corrosão, propriedades mecânicas a temperaturas
Figura 14. Falha em tubulação, com diâmetro de 7 elevadas e tenacidade – no caso específico dos aços
polegadas, de uma coluna de produção de um poço de austeníticos [3, 14, 15, 16, 17].
gás (contendo CO2 e H2S), devido à corrosão Elementos de liga tais como cromo, níquel e
localizada. O custo de retirada e substituição de uma molibdênio impactarão na estrutura cristalina do
coluna em um poço típico on-shore é da ordem de 2 material, de forma a manter, por exemplo, a fase
milhões de dólares, além do custo de produção austenítica estável nas condições usuais encontradas no
cessante. Reparos e substituição em linhas de transporte interior de um reservatório ou de um poço de petróleo
podem envolver custos ainda maiores. – quando isso só seria possível em temperaturas
elevadas. A diversidade de ligas da classe inoxidável é
vasta, mesmo se considerarmos apenas aquelas
4. Especificação e Metalurgia para Tubos de
destinadas à indústria petrolífera. Além das
Produção especificações usuais do API, existem vários graus de
De maneira geral, os elementos tubulares empregados materiais de propriedade do fabricante (ou seja, não
na indústria do petróleo são padronizados pelas normas API). De forma que, se torna difícil correlacionar os
API – American Petroleum Institute, que especificam: diferentes esquemas de classificação dos fabricantes. O
composição química, propriedades mecânicas e API reconhece a liga L80 13Cr (bastante similar ao aço
processo de fabricação dos mesmos. No caso dos tubos carbono L80, mas com a adição de 13% de cromo
de produção (tubing), de acordo com a API Spec 5CT, efetivamente, sem teores de níquel e molibdênio). A
estes são caracterizados por size, grau, peso por essa composição tem se uma microestrutura
unidade de comprimento e o tipo de conexão. martensítica. Tubos de produção com grau L80 13Cr
É o grau de um aço quem identifica a faixa de (ou superior), são maioria nos poços off-shore. Uma
composição química do material e, geralmente, equivalência AISI para esse grau seria o 420 mod, já o
representa qual a tensão de escoamento mínima do aço grau ASTM F6NM seria de qualidade superior, bem
em milhares de psi (libra força por polegada quadrada como de maior custo [9].
absoluta), ou ainda em ksi, já que 1.000 psi equivalem Para os casos onde se há a demanda para aplicações em
a 1 ksi [13]. ambientes ainda mais severos, os tubos de produção
Na escolha da metalurgia ideal para os tubos de podem ser fabricados em aços ferrítico-austeníticos ou
produção leva-se em consideração a corrosividade e a aços duplex. Estes aços possuem microestruturas que
temperatura dos fluidos produzidos. Entretanto, consistem em frações aproximadamente iguais da fase
quantificar a corrosão não costuma ser uma tarefa ferrítica e austenítica, proporcionando “uma
muito fácil. Entretanto, “quantificar a corrosão quanto combinação favorável das propriedades dos aços
a sua severidade é uma tarefa extremamente difícil e inoxidáveis ferríticos e austeníticos: tem elevada
quase invariavelmente falha” [5]. resistência mecânica, boa tenacidade, resistência à
Acredita-se que, para as aplicações no pré-sal, corrosão muito boa em diversos meios e excelente
obviamente – devido ao elevado nível de corrosividade resistência à corrosão sob tensão e à fadiga” [16].
Revista da Pós-Graduação da Faculdade do Centro Leste
Pós-Graduação em Engenharia de Petróleo & Gás Natural
Conforme se pode observar na Tabela 1, relacionam-se observado na Figura 15, onde se tem um tubo de
algumas metalurgias usuais para tubos de produção de produção fabricado em 13Cr e que apresenta pontos de
poços de petróleo e o tipo de aplicação a que se destina corrosão por pite. Este tubo operava num poço com
[13]: presença de dióxido de carbono.
ainda representa uma difícil missão para geólogos e [5] Jambo, H. C. M., Fófano, Sócrates, 2008, “Corrosão
engenheiros [20]. – Fundamentos, Monitoração e Controle,” Rio de
Isto se deve porque, esta importante descoberta, cujo Janeiro: Editora Ciência Moderna, 342, p. 19, 53-
volume recuperável estimado, somente na Bacia de 54, 57.
Santos, é de 5 a 8 bilhões de barris de óleo equivalente [6] Ramanathan, Lalgudi V., 200-, “Corrosão e Seu
no campo de Lula e de 3 a 4 bilhões de petróleo e gás Controle,” São Paulo: Hemus, 342, p. 79-80, 93,
natural no campo de Iara, também trouxe consigo uma 103-104, 114, 120, 171.
série de desafios tecnológicos à sua produção. [7] Heidersbach, Robert, 2011, “Metallurgy and
Certamente, dentre os principais desafios a serem Corrosion Control in Oil and Gas Production,
superados, o problema da corrosão por CO2 nos Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, Inc., 281, p. 75-
equipamentos que compõem a coluna de produção 116.
destes poços é um deles – nosso escopo se deteve [8] Nešić, Srdjan, 2007, “Key Issues Related to
apenas nos tubos de produção da coluna de produção. Modelling of Internal Corrosion of Oil and Gas
Surge assim, uma nova demanda nos poços do pré-sal Pipelines – A Review,” Corrosion Science 49, p.
por uma metalurgia mais nobre em seus equipamentos, 4308-4338.
pois o elevado nível de corrosividade encontrado nos [9] Bellarby, J., 2009, “Well Completion Design,”
reservatórios, não permite que os materiais usuais para Oxford: Elsevier, 711, p. 433, 438-439, 443-446.
poços do pós-sal sejam empregados para o caso da [10] Zhang, Yucheng et al., 2012, “Discussion of the
camada sub sal. CO2 Corrosion Mechanism Between Low Partial
O tema abordado no presente artigo é de considerável Pressure and Supercritical Condition,” Corrosion
complexidade e, embora se tenha registros de corrosão Science 59, p. 195.
por CO2 deste a década de 40, o mecanismo de corrosão [11] Gomes, Ana C. T., 2005, “Análise da Corrosão e
ainda não é completamente compreendido. Na verdade, da Erosão-Corrosão do Aço Carbono em Meio com
não obstante todo o esforço desprendido durante as NaHCO3 e CO2,” Dissertação (Mestrado em
atividades de pesquisas para organização deste Engenharia) – Programa de Pós Graduação em
material, o resultado do trabalho foi apenas Engenharia de Materiais e Processos, Universidade
introdutório. O assunto é de grande especificidade e, Federal do Paraná, Curitiba, 120, p. 42-49.
portanto, requer investimento em pesquisas e na [12] Institutt for Energiteknikk, 201-, “Kjeller
especialização de profissionais para atuarem nesta área. Localised Corrosion Project (KLOC),”
Isto justifica o porquê das grandes companhias de Materialteknologi, Sektor: Petroleumsteknologi.
petróleo e gás, bem como as prestadoras de serviços Publicado em 201-. Disponível em:
nesta área, tanto formam quanto contratam <http://www.ife.no/no/ife/avdelinger/material_og_
especialistas responsáveis pela seleção e emprego de korrosjonsteknologi/prosjekter/kloc> Acesso em:
materiais utilizados nos equipamentos que irão compor 20 de agosto de 2013.
a coluna de produção de poços de petróleo [9]. [13] De Paula, J. L., Garcia, J. E. de L., 200-, “Colunas
de Produção,” PETROBRAS/ Universidade
Referências Corporativa/Núcleo Bahia/Recursos Humanos, 55;
p. 12, 32-34.
[1] Pré-sal. In: Petrobras – Petróleo Brasileiro, S.A., [14] Askeland, D. R.; Phulé, P. P., 2008, “Ciência e
2012, Disponível em: <http://www.petrobras. Engenharia dos Materiais,” Tradução de Vertice
com.br/pt/energia-e-tecnologia/fontes-de-energia/ Translate All Tasks, São Paulo: Cengage Learning,
petroleo/presal>. Acesso em 27 de junho de 2012. 594, p. 402-403.
[2] Santos, F. P. dos, 2009, “Uso de Simuladores para [15] Colpaert, Hubertus, 2008, “Metalografia dos
Previsão da Corrosão pelo CO2 em Aço Carbono na Produtos Siderúrgicos Comuns,” Revisão Técnica
Indústria de Petróleo,” Dissertação (Mestrado em de André Luiz V. da Costa e Silva, 4ª Edição, São
Engenharia) – Programa de Pós Graduação em Paulo: Edgar Blucher/VILLARES Metals, 652, p.
Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais, 522.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto [16] Silva, A. L. V. da C. e, Mei, P. R., 2006, “Aços e
Alegre, 104, p. 1, 12, 16-22. Ligas Especiais,” 2ª Edição, São Paulo: Edgard
[3] Callister Jr, William D., 2008, “Ciência e Blucher/Villares Metals, 646; p. 407-408, 425.
Engenharia de Materiais – Uma Introdução,” [17] Telles, P. C. S., 2003, “Materiais para
Tradução de Sérgio Murilo Stamile Soares, 7ª Equipamentos de Processo,” 6ª Edição, Rio de
Edição, Rio de Janeiro: LTC, 708, p. 263, 456. Janeiro: Interciência, 275; p. 131.
[4] Gentil, Vicente, 2011, “Corrosão,” 6ª Edição, Rio [18] Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A., 2013,
de Janeiro: LTC, 360, p. 1, 11, 45, 50, 53-54, 101, “Cenpes comprova economia de US$ 188 milhões
146-147, 159. na seleção de materiais,” Tecnologia e Pesquisa –
ETM-Corp/GC/COM (Comunicação). Rio de
Revista da Pós-Graduação da Faculdade do Centro Leste
Pós-Graduação em Engenharia de Petróleo & Gás Natural
Janeiro, 2013. Disponível em: [20] Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A., 2015,
<http://portalpetrobras.petrobras.com.br/Petrobras “Produção de petróleo e gás natural no pré-sal
Portal/appmanager/portal/desktop?_nfpb=true&_p atinge 824 mil barris por dia,” Exploração e
ageLabel=dctm_noticia_servicos&idConteudo=not Produção – Comunicação e Relacionamento
icia_028438&areaAtual=servicos&portalpath=port Interno, Rio de Janeiro, Publicado em 03/03/2015.
al#> Acesso em: 20 de agosto de 2013. Disponível em: <http://portalpetrobras.petrobras.
[19] Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A., 2014, com.br/PetrobrasPortal/appmanager/portal/desktop
“Desenvolvemos superligas para superar os ?_nfpb=true&_pageLabel=dctm_noticia_a_petrobr
desafios do Pré-Sal,” Tecnologia e Inovação, Rio de as&idConteudo=petro_noticia_003143&portalpath
Janeiro, Publicado em 28/12/2014. Disponível em: =portal> Acesso em: 04 de março de 2015.
<http://portalpetrobras.petrobras.com.br/
PetrobrasPortal/appmanager/portal/desktop?_nfpb
=true&_pageLabel=dctm_noticia_ep&idConteudo
=noticia_041891&portalpath=portal> Acesso em:
03 de janeiro de 2015.