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A GLOBALIZAÇÃO DESCARTÁVEL: AS PRINCIPAIS NOÇÕES QUE

FUNDAMENTAM A RACIONALIDADE DO VIVER NA ERA DO CAPITAL

Leozil Ribeiro de Moraes Júnior 1


Flaviane Mônica Christ 2

RESUMO
Nesse artigo a discussão é em torno da lógica que fundamenta o processo de globalização,
que nos é colocada como única. Baseado no pensamento de Descartes, discute-se como a
concepção dele de ciência e conhecimento, contribuiu para a formação do mundo que
vivemos no século XXI. Como a racionalidade, considerada como base do método
científico, constituída como idealista, está a serviço da sociedade e dos interesses do
Capital. Mostramos com o método materialista histórico dialético, em contraposição,
procura compreender o homem a partir da realidade material e concreta. Foge de uma
noção ideológica de ciência neutra e sem interesses. O pensador Augusto Comte, um
discípulo tardio de Descartes, é apresentado e problematizado, também a partir do
idealismo, por considerar conhecimento apenas o positivo e científico. A globalização
assim é entendida de forma muito ampla, não apenas como um processo de circulação
global de mercadorias e trabalho, mas como lógica essencial do capitalismo moderno.
Nesse sentido, que sua relação com a ciência é problematizada.
Palavras-chave: Globalização. Cartesianismo. Materialismo. Modernidade.

ABSTRACT
In this article the discussion is around the logic that underpins the process of globalization,
which is placed as the only. Based on the thought of Descartes, discusses how his
conception of science and knowledge contributed to the formation of the world that we live
in the XXI century. How the rationality, considered as the basis of the scientific method,
constituted as idealistic, is at the service of society and the interests of Capital. We show
how the historical dialectical materialist method, in contrast, tries to understand the man
from the material and concrete reality. Escapes from an ideological notion of neutral
science and without interests. The thinker Auguste Comte, a late disciple of Descartes, is
presented and problematized also from idealism, by considering only the positive and
scientific like knowledge. So globalization is understood a very broadly way, not just as a
process of global movement of goods and labor, but as essential logic of modern capitalism.
In this sense, his relation with science is problematic.
Keywords: Globalization. Cartesianism. Materialism. Modernity.

1
Jornalista, Historiador e Mestre em História pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).
Professor no curso de jornalismo na Universidade Estadual do Estado de Mato-Grosso (UNEMAT) e no curso
de pedagogia na Faculdade de Alta Floresta (FAF). Vice-coordenador do Programa de Iniciação Científica da
Faculdade de Alta Floresta (FAF). E-mail: leozil@bol.com.br
2
Jornalista, Historiadora e Mestre em História pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).
Professora no curso de jornalismo na Universidade Estadual do Estado de Mato-Grosso (UNEMAT) e no
curso de pedagogia na Faculdade de Alta Floresta (FAF). Vice-coordenadora do Núcleo de Pesquisa e
Extensão (NUPE) na Faculdade de Direito de Alta Floresta (FADAF). E-mail: flaviane@hotmail.com
1. INTRODUÇÃO

A globalização como um processo material de produção e circulação de mercadorias


e serviços é bem conhecido. Do mesmo modo ela é descrita como um processo moderno,
atual. Algo que podemos comprovar pelos tênis fabricados na China e vendidos no
Paraguai, pela soja produzida no Brasil e comercializada para a China, nas migrações
africanas para a Europa e nas crises econômicas globais. Mas procuramos mostrar uma
globalização como um processo de significação do mundo real. A lógica por detrás das
formas de conhecimento, produzidos na materialidade da história do capitalismo. E por isso
identificamos no século XVI, sobretudo em Descartes, o pensamento origem da ciência.
Aquele que ajuda a dar fundamento para o processo de constituição do capital, que hoje
chamamos genericamente de globalização. Percebemos também o século XIX como
momento importante na acumulação e capitalização do mundo, e por isso mesmo, pautado
pelo surgimento de um racionalismo pragmático de Comte.
Trazemos o materialismo histórico dialético como possibilidade de crítica ao
positivismo. Marx e sua análise dialética, mas, sobretudo pautado no real, na não separação
entre conhecimento e vida, nos ajuda a criticar as noções idealistas de conhecimento
científico neutro e fruto das ideias inatas de grandes gênios.
Nosso objetivo é propor a partir de uma revisão bibliográfica uma análise crítica
desses movimentos contraditórios e complexos, por isso na contemporaneidade, deixamos a
cargo do leitor uma análise da ciência e dos métodos de sua disciplina científica, de como
ela se atrela ao capitalismo.
Justificamos este trabalho, na medida em que, acreditamos num conhecimento
histórico e como tal propomos que dialeticamente partimos do conhecimento científico,
precisamos hoje pensar numa nova forma de fazer ciência. Também precisamos ir aos
fundamentos do pensamento científico para melhor analisar suas contradições internas e
fugir de uma análise inocente que o considera como verdade absoluta e inquestionável.
Assim, convidamos nosso leitor a rever alguns conceitos que são à base do
conhecimento, como forma de fazê-lo pensar nos interesses que estão por detrás do mundo
concreto. Para pensar nas relações entre ciência, técnica e o mundo de produção de
riquezas, como um conhecimento que está a serviço não da humanidade como um todo,
mas de uma classe social, que se esconde por detrás do lucro e da neutralidade científica.

2. ASPECTOS GERAIS DA GLOBALIZAÇÃO

Quanto menor o globo, maior as desigualdades sociais. Isso é dialético, mas não
seria escrito pelo método de Descartes, uma vez que descreve que as verdades das coisas,
são atingidas pelo raciocínio ordenado, começa pelo mais simples ao mais complexo,
renega a dialética que busca as contradições. O método científico surge do pensamento de
Descartes (1596 – 1650), que queria conhecer a natureza, para isso apresentou então os
procedimentos de indução e dedução, prontos para substituir a religião na explicação do
mundo. Pensamento que influenciou os filósofos modernos.
É exatamente, no nascimento desse pensamento, nos séculos XVI e XVII, que o
mundo começava a viver o início da globalização, com as grandes navegações. Segundo
Magnoli: “O comércio transoceânico representou a forma original de organização de um
espaço globalizado” (1997, p. 09). Essa ideia aceita por Andrade, quando descreve: “A
primeira fase do capitalismo se havia dado durante o chamado capitalismo comercial,
quando os povos europeus fizeram as grandes navegações e iniciaram a conquista dos
demais continentes” (2001, p. 08).
Podemos entender que os escritos, de Descartes, em busca de uma ciência neutra,
capaz de fazer enumerações tão completas e gerais a ponto de não ficar nada a dizer, nesse
período, ajudou a fundamentar essa globalização, que nos é colocada como única. Porque
Descarte dividiu o corpo da alma. “Compreendi que eu era uma substância cuja essência
ou natureza consiste exclusivamente no pensar e que, para ser não precisa de nenhum
lugar nem de nada material” (2000, p. 42).
Portanto, a alma racional não pode de modo algum, para o autor, derivar da
matéria, mas deve ter sido expressamente criada, porque se não os animais e as máquinas
nada se diferiam dos homens. Por isso o retrato da humanidade é um corpo mecânico que
tem uma alma e sobre ele o espírito de Deus guiando-nos e sustendo-nos a todos.
E ainda, porque Descartes fala que as regras da natureza, são as mesmas da
mecânica. “Quando várias coisas tendem a mover-se conjuntamente para um mesmo lado,
onde não há lugar bastante para todas [...], as mais fracas e menos agitadas devem ser
desviadas pelas mais fortes [...]” (2000, p. 55). Essa forma de entender o mundo
juntamente com a fragmentação, ou divisão em partes para depois se entender o todo, são
os grandes pontos de discussão dessa teoria.
Ou seja, partes empregadas até hoje, porque essa lei da mecânica justifica a
desigualdade social, como algo natural, que os homens não podem intervir. Dessa forma,
através de seu método racionalista, deduzimos cada vez mais coisas, que nos levam a crer
que desde o início da globalização, e se ela existe até os dias de hoje, excludente da forma
que é, é porque existe uma lei dita como natural justificando-a.
E na verdade, temos que compreender, mas parar de valer-se dessa explicação da
verdade. Pois ela esconde que pode existir outra globalização, como propõem Milton
Santos. “Uma globalização constituída de baixo para cima, em que a busca de
classificação entre potências deixe de ser uma meta, poderá permitir que preocupações de
ordem social, cultural e moral possam prevalecer” (2000, p.154). Ou seja, um processo
que se constitui a partir da classe trabalhadora.
Comparato então declara: “A humanidade em seu conjunto vem sendo submetida a
um processo fortemente contraditório de unificação de técnica e desagregação social”
(2000, p. 03). E muitas vezes isso não é relatado com ênfase, porque tendemos sempre a
pensar que com o avanço da mecânica, ou no caso a técnica, acontece uma melhora na
qualidade de vida de todos os cidadãos do mundo e isso não é real. Até porque alguns
fragmentos da ciência através da descrição tendem a não interpretar os fatos como eles
são, apenas relatam, deixam muitas dúvidas para serem esclarecidas.
É como denuncia o economista Oliveira: “Como construir a igualdade em um
mundo onde apenas quatro cidadãos norte-americanos (Bill Gates, Larry Ellyson, Paul
Allen e Warren Buffet) ganham o equivalente ao PIB de 42 países, com população
superior a 600 milhões de pessoas?” (2004, p. 01). Isso demonstra como a técnica e o
progresso estão para a melhora da qualidade de vida e a serviço de poucas pessoas.
À medida que vemos, com a informação e com os transportes, o mundo ficar cada
vez menor, percebemos também que esse globo não diminui para todos e somente para
quem tem dinheiro pode utilizar esse “progresso”. “A modernização criou uma
necessidade de bem-estar e aspirações igualitárias, mas não os meios de satisfazê-los”
(CLAVAL, 2001, p. 390). Não basta falarmos e igualdade se na prática ela não existe.
Então essa globalização fundamentada no método no cartesianismo não pode ser
de toda descartada – a ciência - uma vez que nasceu num contexto histórico para justificar
a materialidade da vida nesse período. Pelo rompimento que teve em relação ao passado
medieval acaba por ser uma base do pensamento moderno, serve até mesmo
dialeticamente de tese para a síntese de Hegel. Porém é necessário entender que estamos
em outra fase em que esse modelo precisa ser descartável, para continuarmos com o
desenvolvimento do pensamento e principalmente da prática humana.

2.1 Uma Discussão Materialista Do Cartesianismo

O mundo moderno surge e juntamente nasceu um pensamento que dá sustentação


para o que se propunha como modo de vida para a população. Ou seja, René Descartes
escreve seu livro Discurso do Método: Regras para a Direção do Espírito num momento em
que o mundo mudava, portanto a maneira de compreender esse mundo também se
transformava. Descartes é um pensador que ainda tem grande influência em nossa época,
por isso essa forma racionalista, que não deixa de ser idealista, vai ser utilizada durante esse
artigo para uma contraposição com o método materialista. Na tentativa de identificar, os
principais pontos de discordância dessas duas teorias, ou melhor, desses dois métodos
utilizados na busca da verdade.
Descartes, em seu livro, fala que a melhor aproximação da verdade se dá por
raciocínios e não por opiniões. Desta forma, se devem deixar de lado as inferências feitas
por outras pessoas, porque um homem de bom senso pode naturalmente chegar a verdade
através de raciocínios simples. Ou seja, não se pode partir de conhecimentos adquiridos por
outras pessoas, em outros momentos, porque assim não se chegaria ao conhecimento, cada
um tem que buscar suas verdades, na razão. Mas, dentro do materialismo as verdades são
históricas e o que já se conhece dá impulso para conhecimentos mais profundos, ou melhor,
ajuda nas repostas de uma determinada época. Só com esse acúmulo adquirido por outras
pessoas, ou outras gerações, nos possibilitam entendermos materialmente esse momento
histórico.
O cartesianismo defende que “[...] só havendo uma verdade em cada coisa, todo
aquele que a encontrar saberá tanto quanto se pode saber a esse respeito” (DESCARTES,
2000, p. 33:). O materialismo não defende uma verdade única, ao contrário, as verdades são
acumulativas, portanto históricas. Em cada momento da vida o homem precisa de respostas
diferentes, isso porque o acúmulo de conhecimento permite que ele evolua, não precisa
mais pensar na repetição, como forma de guardar informações, pois temos o computador,
que atualmente faz isso.
E ainda, o racionalismo defende que a verdade se alcança pela razão. Assim, pela
intuição você vai decidir o que é importante conhecer, depois disso se acumulam
experiências que mais tarde vão servir de matéria para o raciocínio. Marx diz que não. Que
não é a intuição que diz o que é necessário conhecer, e sim através das condições da vida
material, ou pelas experiências adquiridas durante sua relação com o mundo vão te
possibilitar que determinadas coisas, ou objetos chamem sua atenção e mereçam ser
estudas. E ainda, para o materialismo a prática e a teoria têm valores semelhantes, a
visualização da prática permite que você elabore uma teoria condizente com essa prática,
dessa forma essa elaboração teórica permite ao homem melhor praticar, a práxis é um dos
princípios fundamentais do materialismo.
Descartes ignora o conhecimento através dos sentidos, pois diz que é enganador, a
intuição é o ponto de partida para o conhecimento. No materialismo os sentidos dão a
primeira manifestação do que deve ser aprofundado depois, nada se apresenta
espontaneamente, mas se oferece enquanto um fenômeno externo, já no racionalismo o
pensamento existe antes de qualquer coisa, ou seja, a alma pode ser conhecida e pode
existir sem o corpo.
Com efeito, a razão não nos dita, em absoluto, que o que assim vemos ou
imaginamos seja verdadeiro, mas ao contrário, que todas as idéias ou
noções devem ter um fundamento de verdade, pois de outra forma não
seria possível que Deus, sendo absolutamente perfeito e verdadeiro, as
tivesse posto em nós (DESCARTES, 2000, p. 46).

Assim a alma racional foi criada sem interferência da matéria, nasceu


instantaneamente. O racionalismo chega ao conhecimento por fragmentos, divide tudo em
pequenas partes, para partir da mais fácil até a mais difícil.
[...] uma vez encontrada a proporção entre duas grandezas quaisquer,
pode-se dar outra inumeráveis que guardam entre si a mesma proporção e
não muda a natureza da dificuldade se buscam três ou quatro, ou um
número maior, porque cada uma delas deve ser encontradas à parte sem
relação alguma com as outras (DESCARTES, 2000, p. 88).

Essa divisão fragmentária não acontece no materialismo, pois o método é aplicado


para saber quais são as leis dos fenômenos, para depois aplicar ao particular, pensado que
cada momento histórico possui suas próprias leis. O mais importante não é discutir o
particular, mas os princípios que fazem com esses objetos se interliguem e se transformam.
O movimento do mundo é dialético e se transforma por causa da ação de vários homens,
“[...] e não momentaneamente, em explosões rápidas, como fugazes fogueiras de palha, mas
em ações continuas que se traduzem em grandes transformações históricas” (ENGELS,
1953, p. 199).
Descartes vê o homem separado do seu objeto de estudo, quando fala que “devemos
se referir, ou a nós que somos capazes de conhecer, ou às próprias coisas que podem ser
conhecidas, e estas duas coisas as discutimos separadamente” (2000, p. 97). No
materialismo o objeto e o homem estão em constante troca, para assim poder chegar à
verdade, ou seja, não se pode separar um do outro. Marx fala que com a separação do
trabalho material do espiritual os idealistas “passam a representar algo sem representar o
real” (1999, p. 45).
Então no método cartesiano não pode ser de todo descartado – a ciência - uma vez
que nasceu num contexto histórico para justificar a materialidade da vida nesse período.
Pelo diferencial que teve em relação ao passado medieval acaba por ser uma base do
pensamento moderno. Porém é necessário entendermos que estamos em outro momento e
para continuarmos com o desenvolvimento do pensamento e da prática humana é
necessário partimos para uma análise mais material da realidade em que vivemos, pois
assim vamos entender para modificar. Contudo, isso ainda é um objetivo a ser atingido,
pois o capitalismo, e sua burguesia, aprofundaram a visão mecanicista e positivista da
história.

2.2 Comte e a Continuidade Descartável

Augusto Comte é reconhecido como o pai do método positivista. Se no século XVI


Descarte deu início ao método racionalista, é no começo do século XIX que seu método vai
ser aprofundado por Comte. Até mesmo o nome do livro de Comte, Discurso Preliminar do
Espírito Positivo, carrega toda tentativa de ser fiel ao antigo mestre. Sobretudo seu
idealismo em perceber o homem como natural, eterno e finalizado. Bem diferente da
concepção materialista do homem que o percebe sempre em movimento, em transformação.
E não defende, portanto, um modelo prefixado de homem ou mesmo de conhecimento.
O Positivismo deve ser entendido, como uma reação intelectual contra Iluminismo,
que fora historicamente um método revolucionário de transformação e questionamento
social. Foi o Iluminismo que deu origem às revoltas que culminaram com a Revolução
Francesa, destruindo não apenas um regime político, mas principalmente um regime de
pensamento e, sobretudo um modelo social de produção da realidade.
Contudo, ao se efetivar no poder, no lugar da Igreja e das antigas nobrezas, a
burguesia precisa propor sua forma de pensar e compreender a realidade. A forma
negativista e questionadora da realidade do Iluminismo servira bem ao seu propósito de
questionar os dogmas religiosos e os absolutismos políticos dos reis, mas não podiam ser
continuados no novo regime burguês, porque fatalmente levavam a questionamentos agora
dispensáveis. Era necessária uma forma de compreensão mais positiva, que pregasse a
estabilidade e a ordem, tudo aquilo que antes fora combatido do feudalismo, podia ser
agora descartado.
Esse foi o papel histórico, magistralmente bem realizado, por Augusto Comte. Em
seu livro Discurso Preliminar do Espírito Positivo, o autor, para provar que a ciência, o
conhecimento e a própria sociedade devem ser mantidas e não precisam de mudanças
defende a tese de que a história da racionalidade do homem passou por três estágios de
evolução. Sendo os dois primeiros, Teológico e Metafísico, apenas provisórios e
preparatórios para o definitivo estágio Positivista.
Sua definição do primeiro estágio, o Teológico, é a de que o espírito humano se
encontrava ainda abaixo dos mais simples problemas científicos, numa situação inicial da
nossa inteligência, e procura a origem de todas as coisas, as causas essenciais, quer
primárias, quer finais, dos diversos fenômenos que o impressionam, procura os
conhecimentos absolutos, e insolúveis e desnecessários na visão de Comte. Por isso,
buscaria em seres sobrenaturais as explicações que não pode dar a realidade. O autor coloca
esse estagio como ultrapassado, mas não desnecessário, pois teria contribuído para a
sociabilidade, para o acúmulo de ideias morais e políticas, com doutrinas comuns e laços
sociais.
No segundo estágio, novamente Comte o caracteriza de uma forma totalmente
pejorativa como o início do pensamento humano, em se preocupar com questões insolúveis
e desnecessárias, as Metafísicas e Ontológicas. Comte fala da filosofia dos gregos, mas,
sobretudo critica a postura negadora do Iluminismo, chama de simples atividade crítica ou
dissolvente, radicalmente inconsequente. Fala que são apenas especulações, em que domina
um estado de imaginação infantil da realidade. “O estado metafísico pode, pois, ser afinal
encarado como uma espécie de doença crônica naturalmente peculiar à nossa evolução
mental, individual ou coletiva, entre a infância e a virilidade” (2002, s/p.).
Comte apenas considera esse estágio importante como exercício indispensável do
espírito de generalização, pois o espírito metafísico secundou negativamente o surto
fundamental de nossa civilização moderna, decompõe pouco a pouco o sistema teológico,
que se tornara enfim retrógrado ao terminar a Idade Média, em virtude de achar-se
essencialmente esgotada a eficácia social do regime monotéico. Mas que igualmente foi
deixado para trás, na medida em que representa algo ultrapassado.
O terceiro e definitivo estágio da humanidade seria então o Positivo. Em que a razão
emancipada da imaginação não se preocupa mais com as pesquisas absolutas e metafísicas,
mas com observação, única base possível dos conhecimentos realmente acessíveis,
criteriosamente adaptados às nossas necessidades efetivas, segundo Comte. O autor
considera “o estado viril de nossa inteligência consiste em substituir por toda a parte a
inacessível determinação das causas propriamente ditas, pela simples pesquisa das leis, isto
é, das relações constantes que existem entre os fenômenos observados” (2002, s/p.). Ou
seja, que a ciência deva se preocupar apenas com as ligações mútuas e as realizações, sem
tentar entender o mistério de sua produção, que se trate dos menores ou dos mais sublimes
efeitos, do choque e da gravidade, quer do pensamento e da moralidade. Comte está
fundando um pensamento acima de tudo pragmático. Em que a razão e inteligência devem
ser usados apenas para investigar o que seja observável e útil, no sentido de produzir
resultados concretos.
Esse mesmo pensamento parece ser a base e o fundamento da nossa sociedade
capitalista globalizada. Apenas tem importância um conhecimento, e é considerado
cientificamente aceito se produz algo concreto, como uma tecnologia nova para ser usada,
ou um conceito em defesa da ordem capitalista. Como é o caso do conceito ultramoderno
de “Agricultura Sustentável” (leia-se: Monocultura), apenas para produzir soja na
Amazônia e nova onda de devastação ambiental. Por isso a filosofia e o pensamento
deliberado são visto como atividade de um sujeito louco, ou fora da realidade. Ao que se
diz que o filósofo é ser no mundo da lua. Pensa sobre algo sem importância. Quando na
verdade pensa sobre algo mais importante que é o próprio futuro da humanidade.
Mas, sobretudo essa lógica descartável, que se tornou a ciência moderna, procura
atender aos interesses do sistema globalizado, descaracterizar todas as formas de
pensamento que não sejam em sua defesa, como formas ultrapassadas e desnecessárias.
Procura imputar aos outros, aquilo que ela é descartável. Saberes milenares são vistos como
bárbaros e primitivos. Saberes religiosos são substituídos por saberes construídos em
comerciais publicitários. Conhecimentos filosóficos são trocados por conhecimentos falso e
propagandístico de embalagens de produtos. E os saberes históricos são vistos como
lineares, sem mudanças.
Por isso o materialismo histórico dialético, com tentativa de fazer ciência, contrário
e contraditório ao positivismo, não apenas por seu método, mas sobretudo por que seus
interesses não são manter essa sociedade, mas revolucioná-la, seja hoje uma perspectiva
necessária à ciência, e à transformação da realidade. Por isso mesmo deve ser combatido
dentro da lógica capitalista.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para refletir sobre as ligações entre a ciência, seus métodos com a sociedade de
maneira ampla, partimos da realidade do bairro, ao macro universo da globalização. Isso é
necessário e se torna indispensável à medida que desmascara as noções que sustentam o
conhecimento imparcial e objetivo. Mostrar imbricações milimétricas e gigantescas entre
ciência e os interesses da globalização nos faz refletir que talvez seja necessário
discorrermos, assim como no passado, que outra forma de representação da realidade se
faça necessária.
O materialismo histórico dialético, ao não negar a ciência e seu método, mas apenas
ao colocá-lo como mecanicista, além de uma crítica pertinente, pois mostra que atende a
interesses apenas de grupos. Assim se torna possibilidade de avanço da própria ciência, que
se vê por vezes traída pelos interesses do capital. Ao fim prestamos conta da ciência que
produzimos não só à nossa consciência, sempre fáceis de serem limpas ou limpadas, como
quando pensamos: ninguém faz diferente, por que vou fazer? Mas prestamos conta à
história da humanidade, que precisa avançar e não ser vista como Comte, como encerrada,
no último estágio evolutivo.
Para não produzirmos conhecimentos mortos e descartáveis, precisamos questionar
os métodos científicos atuais. Interrogar o cartesianismo idealista que não relaciona, a
aniquilamento da floresta amazônica e as cartilhas capitalistas de destruição voraz em
beneficio de uns poucos.
Se o racionalismo parte de uma concepção de que o pensamento existe antes, o
materialismo nos ensina a ver e contar os caminhões carregados de madeiras que vemos
passar em frente a nossas casas. Ensina-nos principalmente a aceitar o pensamento e o
argumento de um analfabeto, mas que trabalhou anos na extração ilegal e que pode não
conhecer tanto quanto o pesquisador ao defender indústrias devastadoras da região, mas
não nega a contradição dialética de ser forçado a derrubar, por necessidade, e que ajuda a
destruir.
Do mesmo modo a perspectiva de Comte de querer hierarquizar o conhecimento, ao
dizer que apenas o positivo é científico é válido por que segue uma invariabilidade da
natureza é falso. Pois o humano e histórico do qual somos feitos, não pode seguir o modelo
invariável das ciências físicas. Nossa sociedade não pode ser administrada apenas com base
no mais esplêndido e complexo banco de dados numérico, pois ainda influirá os interesses
econômicos, as lutas e conflitos deles decorrentes, a racionalidade e a irracionalidade
humana para sobreviver.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Manuel Correia de. Globalização: inevitabilidade ou farsa. In. Ciência


Geográfica. Bauru: AGB/Bauru, set/dez. 2001. p.4-9.
CLAVAU, Paul. Os desafios culturais do mundo atual. In: A Geografia Cultural.
Florianópolis: EdUFSC, 2001. p. 387-421.

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Revista Praga nº 09, 2000.

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Barboza Rodrigues Pereira. Edição eletrônica: Ed. Ridendo Castigat Mores (www.jahr.org),
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DESCARTES, René. Discurso Do Método. Regras Para A Direção Do Espírito. São


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ENGELS Friedrich. Ludwing Feuerbach E O Fim Da Filosofia Clássica Alemã. In:


Obras Escolhidas. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1953.

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã. São Paulo: Editora Hucitec, 1999.

MAGNOLI, Demétrio. Globalização: Estados Nacionais e Espaço Mundial. São Paulo:


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OLIVEIRA, Marcus Eduardo de. Como construir a igualdade em um mundo extremamente


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