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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CRISTIANO ALVES DA SILVA

GEOPROCESSAMENTO APLICADO AO MAPEAMENTO DE


VULNERABILIDADE AMBIENTAL: UMA ANÁLISE INTEGRADA
DO AMBIENTE PARA SUPORTE À DECISÃO NO MUNICÍPIO DE
PACOTI - CE

Fortaleza
2006
CRISTIANO ALVES DA SILVA

GEOPROCESSAMENTO APLICADO AO MAPEAMENTO DE


VULNERABILIDADE AMBIENTAL: UMA ANÁLISE INTEGRADA
DO AMBIENTE PARA SUPORTE À DECISÃO NO MUNICÍPIO DE
PACOTI – CE

Monografia submetida ao Curso de


Especialização em Geoprocessamento Aplicado a
Análise Ambiental e Recursos Hídricos da
Universidade Estadual do Ceará, como requisito
parcial para a obtenção do titulo de especialista.

Orientador: Prof. Ms João Silvio Dantas de Morais

Fortaleza
2006
S586g Silva, Cristiano Alves da
Geoprocessamento aplicado ao mapeamento de
vulnerabilidade ambiental: uma análise integrada do ambiente para
suporte à decisão no município de Pacoti – Ce / Cristiano Alves da
Silva
.__Fortaleza,2006.
135p.; il.

Orientador: Prof. Ms. João Silvio Dantas de Morais


Monografia (Especialização em Geoprocessamento Aplicado a
Análise Ambiental e Recursos Hídricos) – Universidade Estadual
do Ceará, Centro de Ciências e Tecnologia.
1. Geoprocessamento. 2. Mapeamento de vulnerabilidade
ambiental. 3. Pacoti – Ce. I. Universidade Estadual do Ceará,
Centro de Ciências e Tecnologia.

CDD:577
CRISTIANO ALVES DA SILVA

GEOPROCESSAMENTO APLICADO AO MAPEAMENTO DE


VULNERABILIDADE AMBIENTAL: UMA ANÁLISE INTEGRADA
DO AMBIENTE PARA SUPORTE À DECISÃO NO MUNICÍPIO DE
PACOTI – CE

Monografia submetida ao Curso de


Especialização em Geoprocessamento Aplicado a
Análise Ambiental e Recursos Hídricos da
Universidade Estadual do Ceará, como requisito
parcial para a obtenção do titulo de especialista.

Aprovado em: 13 /09/ 2006 Conceito obtido: Satisfatório

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________
Prof. Ms. João Silvio Dantas de Morais
Universidade Estadual do Ceará

____________________________________________
Profa. Ms. Claudia Maria Magalhães Granjeiro
Universidade Estadual do Ceará

____________________________________________
Prof. Ms. Renata Mendes Luna
Universidade Estadual do Ceará
Dedico aos meus pais, Benones
Ferreira e Maria Neuma, que
dedicaram parte de suas vidas na
minha formação pessoal e
profissional...
AGRADECIMENTOS

À Deus pelo dom da vida que me foi concedido e pelas preces


alcançadas.

À minha família pelo incentivo e dedicação.

À minha namorada Tatiana Marques pela sua compreensão e apoio


durante o trabalho.

Ao meu orientador pelos ensinamentos repassados.

Aos meus colegas de turma pelas trocas de experiências.


“Pedi,
e recebereis...
Buscai e achareis,
pois todo aquele que pede recebe
e o que busca acha”.

Jesus Cristo (Mt 7,7)


8

LISTA DE TABELAS

TABELA 01: ÁREA PLANTA EM HECTARES DO MUNICÍPIO DE PACOTI .................................. 22


TABELA 02: TOTAL PLUVIOMÉTRICO (1990-2005) .......................................................... 29
TABELA 03: CLASSES MAPEADAS DO PI VEGETAÇÃO / USO E OCUPAÇÃO ........................ 91
TABELA 04: CLASSES DE DECLIVIDADE ........................................................................ 103
TABELA 05: INTERVALOS DAS CLASSES DE VULNERABILIDADE ....................................... 122

LISTA DE QUADROS

QUADRO 01: ESPÉCIES DA MATA ÚMIDA ........................................................................ 41


QUADRO 02: ESPÉCIES DA MATA SECA ......................................................................... 43
QUADRO 03: ESCALA DE COMPARAÇÃO DE CRITÉRIOS .................................................... 73
QUADRO 04: ESCALA DE COMPARAÇÃO DE CRITÉRIOS E SEUS RECÍPROCOS ..................... 74
QUADRO 05: VARIAÇÃO DA CONSISTÊNCIA EM RELAÇÃO AO PERCENTUAL ACRESCIDO A N .. 77
QUADRO 06: ÍNDICE RANDÔMICO .................................................................................. 77
QUADRO 07: SOFTWARES UTILIZADOS ........................................................................... 85
QUADRO 08: PONTOS AMOSTRAIS ................................................................................ 88

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01: PERFIL PLUVIOMÉTRICO (1990-2005) FORTALEZA - CANINDÉ ....................... 31


FIGURA 02: ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL-ZCIT MOSTRADA ATRAVÉS DAS
IMAGENS DO SATÉLITE METEOSAT-7 ................................................................... 33

FIGURA 03: FEIÇÕES GEOMORFOLÓGICAS ..................................................................... 37


FIGURA 04: PERFIL ESQUEMÁTICO RELEVO X VEGETAÇÃO .............................................. 40
FIGURA 05: GEOSSISTEMA ........................................................................................... 51
FIGURA 06: OPERADORES BOLEANOS ........................................................................... 65
FIGURA 07: ÁRVORE DE DECISÃO ................................................................................. 66
FIGURA 08: APLICAÇÃO DO OPERADOR BOLEANO AND E OR .......................................... 67
FIGURA 09: ESTÁGIOS DO PROCESSO AHP ................................................................... 70
FIGURA 10: HIERARQUIA COM K NÍVEIS .......................................................................... 71
FIGURA 11: UTILIZAÇÃO DO MÉTODO AHP PARA SUPORTE A DECISÃO .............................. 80
FIGURA 12: IMAGEM ORBITAL SPOT-5 – RECORTE DA SEDE MUNICIPAL DE PACOTI ......... 81
9

FIGURA 13: RESTITUIDOR ............................................................................................. 82


FIGURA 14: ORTOFOTOCARTA – RECORTE DA SEDE MUNICIPAL DE PACOTI ..................... 83
FIGURA 15: POSICIONAMENTO DOS PONTOS DE CONTROLE ............................................ 86
FIGURA 16: CÓDIGO DOS PONTOS AMOSTRAIS .............................................................. 87
FIGURA 17: GRADE TRIANGULAR ................................................................................ 103
FIGURA 18: DRENAGEM EXTRAÍDA DO MDT .............................................................. 107
FIGURA 19: GRADE REGULAR................................................................................... 108
FIGURA 20: HIERARQUIA DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL ........................................... 111
FIGURA 21: MATRIZ DE COMPARAÇÃO PAREADA DOS PI’S ............................................ 113
FIGURA 22: MATRIZ DE COMPARAÇÃO PAREADA DOS ATRIBUTOS DO PI DE VEGETAÇÃO/USO
E OCUPAÇÃO...................................................................................................... 115

FIGURA 23: MATRIZ DE COMPARAÇÃO PAREADA DOS ATRIBUTOS DO PI DE DECLIVIDADE 117


FIGURA 24: MATRIZ DE COMPARAÇÃO PAREADA DOS ATRIBUTOS DO PI DE ÁREA LEGAL. 118
FIGURA 25: CRUZAMENTO DOS PI’S ............................................................................ 119
FIGURA 26: GRID DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL ..................................................... 121

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01: TOTAL PLUVIOMÉTRICO (1990-2005) ........................................................ 29


GRÁFICO 02: TOTAL PLUVIOMÉTRICO (1990-2005) DO PERFIL FORTALEZA – CANINDÉ ..... 31
GRÁFICO 03: PLUVIOMETRIA MENSAL DO MUNICÍPIO DE PACOTI (2000 – 2005) ............... 32
GRÁFICO 04: PRECIPITAÇÃO NO MÊS DE JULHO DE 1989 ................................................ 34
GRÁFICO 05: GRÁFICO DE UMA FUNÇÃO DE PERTINÊNCIA ................................................ 64

LISTA DE EQUAÇÕES

EQUAÇÃO 01: FUNÇÃO DE PERTINÊNCIA ........................................................................ 63


EQUAÇÃO 02: RELAÇÃO ENTRE PESOS .......................................................................... 73
EQUAÇÃO 03: AUTOVETOR ........................................................................................... 76
EQUAÇÃO 04: AUTOVALOR MÁXIMO ............................................................................... 76
EQUAÇÃO 05: ÍNDICE DE CONSISTÊNCIA......................................................................... 77
EQUAÇÃO 06: RAZÃO DE CONSISTÊNCIA ........................................................................ 78
EQUAÇÃO 07: ALGORITMO DE AVALIAÇÃO.................................................................... 120
10

LISTA DE MAPAS

MAPA 01: LOCALIZAÇÃO ............................................................................................... 21


MAPA 02: APA DE BATURITÉ ........................................................................................ 24
MAPA 03: RECURSOS HÍDRICOS ................................................................................... 47
MAPA 04: PONTOS DE CAMPO - AMOSTRAS ................................................................... 90
MAPA 05: VEGETAÇÃO / USO E OCUPAÇÃO ................................................................. 101
MAPA 06: DECLIVIDADE.............................................................................................. 105
MAPA 07: ÁREA LEGAL............................................................................................... 110
MAPA 08: VULNERABILIDADE AMBIENTAL ..................................................................... 123

LISTA DE FOTOS

FOTO 01: RELEVO DO MACIÇO DE BATURITÉ - CHUVA OROGRÁFICA ................................ 30


FOTO 02: JARACATIÁ (JARACATIÁ SPINOSA) ................................................................... 42
FOTO 03: PAU-FERRO (CAESALPINIA LEILOSTACHYA)...................................................... 42
FOTO 04: ANGICO (ANADENANTHERA MACROCARPA) ...................................................... 44
FOTO 05: MUTAMBA (GUAZUMA ULMIFOLIA) ................................................................... 44
FOTO 06: MATA ÚMIDA CONSERVADA ........................................................................... 93
FOTO 07: MATA ÚMIDA PARCIALMENTE DEGRADADA ...................................................... 94
FOTO 08: MATA ÚMIDA DEGRADADA ............................................................................. 94
FOTO 09: MATA SECA DEGRADADA ............................................................................... 95
FOTO 10: CULTIVO DE BANANA ..................................................................................... 96
FOTO 11: CULTIVO DE CHUCHU .................................................................................... 97
FOTO 12: DESMATAMENTO ........................................................................................... 98
FOTO 13: CULTIVO ANUAL ............................................................................................ 98
FOTO 14: CULTIVO ANUAL APÓS A COLHEITA................................................................. 99
FOTO 15: AÇUDE (RESTALRANTE NOSSO SÍTIO) ............................................................ 99
FOTO 16: ZONA URBANA (IGREJA MATRIZ DE PACOTI) .................................................. 100
FOTO 17: CULTIVO ANUAL EM DECLIVIDADE ................................................................. 125
FOTO 18: ROCHA AFLORANDO EM ÁREA DE CULTIVO ANUAL ......................................... 125
FOTO 19: DESMATAMENTO DA ENCOSTA PARA CULTIVO DE CHUCHU ............................. 126
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LISTA DE SIGLAS

AHP – Analystic Hierarchy Process (Processo Analítico Hierárquico)


APA – Área de Proteção Ambiental
APP – Área de Preservação Permanente
CAD – Computer-Aided Design
CNES – Centre National d’Estudes Spatiales
CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento
CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente
FUNCEME – Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
GPS – Global Positioning System
HRG – High-Resolution Geometric
IDACE – Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC – Índice de Consistência
INCRA – Instituto Nacional de Reforma Agrária
IPECE – Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
IPLANCE – Instituto de Planejamento do Ceará
IR – Índice Randômico
MAXVER – Máxima Verossemelhança
MDT – Modelo Digital do Terreno
NAVSTAR-GPS – Navigation Satellite with Time And Ranging
PI – Plano de Informação
PROURB – Plano de Desenvolvimento Regional do Maciço de Baturité
RC – Razão de Consistência
SEMACE – Superintendência de Meio Ambiente do Ceará
SIG – Sistema de Informação Geográfica
SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente
SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
TIN – Triangular Irregular Network
ZCIT – Zona de Convergência Intertropícal
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13

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 8
2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................. 18
2.1. Histórico ....................................................................................................... 18
2.2. Localização .................................................................................................. 20
2.3. O Município de Pacoti no Contexto da APA de Baturité .............................. 22
2.4. Caracterização Geoambiental...................................................................... 26
3. REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................... 48
3.1. Teoria Geossistêmica .................................................................................. 48
3.2. Planejamento Regional ................................................................................ 54
3.3. Abordagem Integrada no Planejamento Regional ....................................... 57
3.4. Geoprocessamento e Suporte a Decisão .................................................... 59
3.4.1. Estruturas Lógicas de Análise e Integração ................................................. 62
3.4.1.1. Lógica Boleana ............................................................................................ 63
3.4.1.2. AHP – Analystic Hierarchy Process ............................................................. 68
4. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................. 81
4.1. Material ........................................................................................................ 81
4.1.1. Imagem Orbital ............................................................................................ 81
4.1.2. Ortofotocartas .............................................................................................. 82
4.1.3. Equipamentos de Campo............................................................................. 84
4.1.4. Sistemas Computacionais............................................................................ 84
4.2. Métodos ....................................................................................................... 85
4.2.1. Geração dos Planos de Informação............................................................. 85
4.2.1.1. Vegetação / Uso e Ocupação do Solo ......................................................... 85
4.2.1.2. Declividade ................................................................................................ 102
4.2.1.3. Área Legal.................................................................................................. 106
4.2.2. Abordagem Multicriterial ............................................................................ 111
4.2.2.1. Estruturação da Hierarquia ........................................................................ 111
4.2.2.2. Construção e Operacionalização das Matrizes de Comparação Pareada . 112
4.2.2.3. Priorização das Alternativas e Definição das Classes de Vulnerabilidade . 118
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 124
6. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 129
14

1. INTRODUÇÃO

A área objeto deste estudo está localizada em uma zona considerada exceção
no contexto do Estado do Ceará, denominada Maciço de Baturité, que de acordo
com Souza (2000) é um enclave úmido na paisagem árida do Ceará. Devido a esse
caráter de exceção em 1990 foi instituída pelo Governo do Estado do Ceará a Área
de Proteção Ambiental de Baturité, sendo essa a primeira Unidade de Conservação
desta categoria criada pelo Estado.

De acordo o com o Decreto Nº. 20.956, de 18 de Setembro de 1990, que institui


a Área de Proteção Ambiental de Baturité, essa unidade de conservação de uso
sustentável tem como limite a cota de (seiscentos) 600m do maciço, abrangendo os
municípios de Aratuba, Baturité, Capistrano, Guaramiranga, Mulungu, Pacoti,
Palmácia e Redenção. Neste contexto, constitui objeto deste estudo os 56,89% da
área do município de Pacoti localizada dentro dos limites desta APA.

A paisagem serrana do Maciço de Baturité apresenta uma grande exuberância


natural. Devido a este fato o município de Pacoti vem despontando nos últimos anos
como um importante pólo turístico. Essa atividade está sendo responsável por um
crescimento significativo dos seguimentos econômicos ligados à hospedagem,
artesanato e alimentação, abrindo-se uma nova perspectiva de emprego e renda
para a população local. Entretanto os benefícios do turismo se concentram
principalmente nas proximidades da zona urbana da sede do município de Pacoti,
em quanto às populações mais afastadas sofrem com a falta de políticas públicas
voltadas para a agricultura, que é a principal atividade econômica destas
populações. Nessas áreas marginalizadas pelo capital do turismo, vários impactos
ambientais podem ser citados como: desmatamento indiscriminado, assoreamento
de riachos, queimadas, agricultura em áreas com topografia inadequada,
contaminação dos recursos hídricos por agrotóxicos dentre outros.

Nesse sentido o presente trabalho tem como objetivo mapear a região do


município de Pacoti, localizada dentro da APA de Baturité, quanto a sua
vulnerabilidade ambiental, de forma a fornecer informações que subsidiarão nas
tomadas de decisão por parte dos órgãos governamentais bem como da sociedade
15

civil, na busca de alternativas sustentáveis de uso do solo, complementando a


atividade turística do município e contribuindo para o direcionamento de ações que
visam o desenvolvimento sustentável desta região, com base em uma análise
integrada dos fatores que compõem o cenário ambiental da mesma.

Para realizar um diagnóstico ambiental, fornecendo informações que auxiliem no


aproveitamento sustentável da APA de Baturité, circunscrita aos limites do município
de Pacoti, a paisagem não foi considerada neste estudo como a simples adição de
elementos geográficos dissociados, mas sim considerada como um espaço fruto da
integração dinâmica dos elementos físicos, bióticos e antrópicos.

Neste contexto foram utilizados os preceitos da Teoria Geossistêmica, idealizada


por V. B. Sotchava e difundida no Brasil por G. Bertrand. Essa teoria foi inspirada na
Teoria Geral dos Sistemas que propõe o estudo não somente das partes e
processos isoladamente, de onde surgiu a expressão “o todo é mais que a soma das
partes”. Tendo em vista que a Teoria Geossistêmica desempenha um papel
fundamental para a realização de uma análise integrada do ambiente visando o
desenvolvimento sustentável, sendo necessário para alcançá-lo promover um
processo de planejamento eficiente, garantindo a utilização racional do meio natural,
essa teoria foi utilizada como base para realizar uma análise integrada do ambiente
através do mapeamento das condições de sustentabilidade ambiental, no tocante a
vulnerabilidade, a fim de orientar as tomada de decisões dentro do contexto do
planejamento regional e da gestão territorial.

O planejamento regional é abordado aqui como passo inicial para alcançar o


desenvolvimento equilibrado das funções econômicas, sociais e políticas, permitindo
a alocação eficiente dos investimentos, auxiliando nas tomada de decisões e
garantindo o desenvolvimento sustentável da região estudada, em compasso com a
definição de planejamento de Almeida et al. (2002) que define planejamento como a
aplicação regional do conhecimento do homem ao processo de tomada de decisões
para conseguir uma melhor utilização dos recursos, garantindo o máximo de
benefícios para a coletividade.

Para realizar essa análise integrada, foi utilizada uma avaliação multicritério,
definida por Silva et al. (2004) como um conjunto de procedimentos utilizados para
16

avaliar e combinar diversos critérios para suporte no processo de decisão. Dentro


desta perspectiva, o Geoprocessamento se revelou como uma poderosa ferramenta
capaz de realizar a integração destes dados, possibilitando a descrição e análise
integrada das inter-relações dos diversos fatores que compõem a região do Maciço
de Baturité, onde está localizada a área estudada. Sendo o mesmo aplicado de
acordo com a definição de XAVIER-DA-SILVA (2001) que define Geoprocessamento
como um conjunto de técnicas computacionais que opera sobre uma base de dados
georreferenciados, capaz de integrar fatores físicos, bióticos e sócio-econômicos que
retratam a realidade ambiental de uma determinada região.

Para realizar o mapeamento da vulnerabilidade, através de uma análise


integrada do ambiente, abordando a região como um sistema composto por
múltiplas variáveis que se inter-relacionam entre si e com outros sistemas, foi
utilizada a estrutura lógica de análise e integração denominada AHP – Analystic
Hierarchy Process ou Processo Analítico Hierárquico.

O método AHP, desenvolvido por Thomas L. Saaty na década de 70, consiste na


criação de uma hierarquia de decisão, sendo essa hierarquia composta por níveis
hierárquicos que permitem uma visão global das relações inerentes ao processo.
Para estabelecer a importância relativa de cada fator da hierarquia são elaboradas
matrizes de comparação para cada nível, onde os resultados das matrizes são
ponderados entre si.

O modelo hierárquico de Saaty (1980) consiste basicamente em um processo de


escolha baseada na lógica de comparação par a par (pairwise comparison), em que
diferentes fatores que influenciam na tomada de decisão são organizados
hierarquicamente, e comparados entre si, e um valor de importância relativa (peso) é
atribuído ao relacionamento entre estes fatores, conforme uma escala pré-definida
que expressa a intensidade com que um fator predomina sobre outro, em relação à
tomada de decisão.

Neste contexto, para realizar o mapeamento de vulnerabilidade ambiental da


área estudada, foram cruzados três fatores decisivos para a determinação desta
vulnerabilidade: declividade, área legal e vegetação / uso e ocupação.
17

O primeiro fator mapeado, a declividade, foi obtido com base em um MDT –


Modelo Digital do Terreno, criado a partir das curvas de nível existentes nas
ortofotocartas mapeadas pelo IDACE – Instituto de Desenvolvimento Agrário do
Ceará, com data de sobrevôo de 1988. Já o mapeamento da área legal,
corresponde à espacialização da resolução do CONAMA Nº 303, de 20 de março de
2002, que dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de áreas de preservação
permanente. No tocante ao mapeado de vegetação / uso e ocupação, este foi
realizado através do emprego de técnicas de Sensoriamento Remoto e
Geoprocessamento, tendo como base uma imagem orbital do satélite SPOT-5
imageada em setembro de 2004.

Todas as feições que compõem esses fatores foram organizadas em uma


hierarquia de acordo com seu grau de importância para definição da vulnerabilidade
ambiental. Posteriormente foi promovida a integração dos três fatores mapeados,
com base nos pesos atribuídos a cada um destes, gerando como resultado final o
Mapa de Vulnerabilidade Ambiental da região da APA de Baturité localizada dentro
dos limites do município de Pacoti/CE.
18

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1. Histórico

Os aldeamentos que originaram as cidades que hoje compõem o Maciço de


Baturité tiveram origem no século XVIII, quando pela ocasião da introdução da
pecuária no sertão cearense no século anterior provocou a aculturação, expulsão e
extermínio dos índios que ocupavam o interior cearense. Os índios remanescentes
em sua maioria foram incorporados ao pastoreio, outros foram agrupados em
aldeamentos construídos por missionários, dando origem a muitas cidades
cearenses, principalmente no Maciço de Baturité.

Entretanto a ocupação do homem branco nesta região teve início no século XVII,
quando em 1680 a região foi alcançada pelo Rio Choró por Estevão Velho de Moura
e mais seis rio-grandenses do norte, contemplados pelo Capitão-mor Sebastião de
Sá com uma sesmaria com extensão superior a três léguas, que abrangia grande
parte do curso do Rio Choró em direção a sua nascente nas partes mais elevadas
do maciço, correspondendo à grande parte da atual região de Baturité. (CEARÁ.
PROURB, 2002).

Outras sesmarias concedidas na região do maciço datam de 1718, como a


sesmaria do Pe. Filipe Pais Barreto, de 1727; a de Tomás Galvão e mais seis
companheiros, de 1735; a de Manuel Rodrigues das Neves, de 1735; a de Pedro da
Rocha Maciel, de 1736; e a de Teodósio de Pina e Silva. (CEARÁ. SEMACE, 1991).

Na parte alta do maciço a ocupação teve início em 1740, quando os irmãos


Arnáu, Sebastião e Cristóvão Holanda, junto com Manoel Ferreira da Silva, viúvo de
Maria Trindade Holanda habitaram, temporariamente, a serra. Os descendentes
destes pioneiros são alguns dos responsáveis pela colonização de grande parte do
Maciço de Baturité. Muitos de seus quintos e sextos netos, ainda têm propriedades
em Aratuba, Baturité, Guaramiranga, Mulungu e Pacoti.

No tocante a economia, somente em meados da década de 1860 a região


ganhou importância. Fatores como o longo período praticamente sem secas, entre
1845 e 1877 e a guerra da secessão nos Estados Unidos que aumentou o comércio
19

de algodão do Brasil com a Inglaterra, proporcionaram uma alavancada na


economia cearense, com destaque para a região do Maciço de Baturité que
despontava pela sua alta produtividade, que resultou em uma rápida expansão
econômica da região através da cotonicultura aliada a criação de gado.

No entanto essa ocupação se dava no sopé do maciço, onde hoje está localizada
a cidade de Baturité, ao passo que os terrenos da região cimeira do maciço
continuavam pouco explorados, uma vez que a topografia da região não favorecia
nem a agricultura do algodão nem a pecuária.

Somente em meados do século XIX, com a introdução da cultura do café na


região, que o maciço passou a ter uma ocupação, mas significativa, surgindo assim
às cidades da parte serrana do maciço, dentre elas Pacoti.

De acordo com Senador Pompeu, as primeiras sementes do café chegaram ao


Ceará através da Serra do Araripe em 1822, e dali se mandaram algumas para o
Capitão Antônio Pereira de Queiroz Sobrinho, que as plantou no Sítio Munguaípe,
na Serra de Baturité. Logo depois, em 1824, Felipe Castelo Branco, também realiza
experiência com o plantio de café no Sítio Bagaço, posteriormente denominado
Correntes, no atual Município de Guaramiranga. (CEARÁ. PROURB, 2002).

Várias famílias estimuladas pela rentabilidade do café passaram a habitar a


região, outras se deslocaram temporariamente para essa região no período de
estiagem, fugindo das dificuldades do sertão neste período.

Neste contexto, o município de Pacoti com origem nos sítios de café, possui
relevante importância no tocante as suas tradições, e de seu patrimônio histórico,
visto que sua ocupação se deu de forma diferenciada, marcada pela apropriação da
natureza pelo homem, que como conseqüência teve sua floresta tropical desmatada
de forma predatória, tanto para possibilitar a agricultura, como para manipulação da
madeira para geração de energia e sua utilização em atividades construtivas.

Atualmente Pacoti tem o desafio de conciliar seu modo de vida com o uso
sustentável de seus recursos naturais, garantindo o equilíbrio das funções
ecológicas deste ambiente tão vulnerável do ponto de vista ambiental.
20

2.2. Localização

O município de Pacoti, emancipado de Baturité no ano de 1890, está localizado


na porção nordeste do Estado do Ceará, distante 90km da capital seguindo pela CE-
065. O município possui uma área de 108,55 km² equivalente a 0,08% da área do
Estado, sua sede está localiza a uma altitude de 736,13m, sendo o ponto mais alto
do município localizado nas proximidades da localidade Sítio São José, com 1030m
de altitude. Seus municípios limítrofes são: a norte Palmácia; a sul Baturité e
Guaramiranga, a leste Redenção, Palmácia e Baturité; e a oeste Caridade e
Guaramiranga. Pacoti além da sede possui três distritos, Colina, Fátima e Santa
Ana, e está localizado entre as latitudes 4°08’00’’ S e 4°16’45’’, e entre as longitudes
38°51’00’’ e 38°58’00’’. Tendo como principais aces sos, partindo de Fortaleza, a
rodovia CE-060, sentido Pacatuba-Baturité e a rodovia CE-065, sentido
Maranguape-Palmácia. (CEARÁ. IPECE, 2006).

Pacoti está localizado na região denominada Maciço de Baturité, que é


considerada um ambiente de exceção no contexto do Estado Ceará. Segundo
Souza(2000) o maciço residual de Baturité é um enclave úmido na paisagem árida
do Ceará. Devido a esse caráter de exceção em 1990 foi instituída pelo Governo do
Estado do Ceará a Área de Proteção Ambiental – APA de Baturité, sendo essa a
primeira Unidade de Conservação desta categoria criada pelo Estado.

De acordo o com o Decreto Nº. 20.956, de 18 de Setembro de 1990, que institui


a APA de Baturité, essa unidade de conservação de uso sustentável tem como limite
a cota de (seiscentos) 600m do maciço, abrangendo os municípios de Aratuba,
Baturité, Capistrano, Guaramiranga, Mulungu, Pacoti, Palmácia e Redenção. O
município de Pacoti possui 56,89%, ou seja, 61,75km² de sua área dentro da APA,
inclusive sua sede.

Com base nestas informações a área aqui estudada corresponde a essa porção
do município de Pacoti inserida na APA de Baturité, sedo o limite da área de estudo
baseado no limite municipal definido pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia
Econômica do Ceará – IPECE, e pela cota 600m que corresponde ao limite da APA.
(Vide Mapa 01)
38°58'0" 38°50'0"

Palmácia
4°8'0"

Caridade

Pacoti
Redenção
Gu
ar a
mi
r an

4°17'0"
ga

Baturité

Legenda
Limite Municipal
Limite da APA de Baturité
Limite da Área de Estudo

Universidade Estadual do Ceará


Especialização em Geoprocessamento Aplicado a
Análise Ambiental e Recursos Hídricos
Município: Geoprocessamento Aplicado ao Mapeamento de Data:
Pacoti Agosto/2006
Vulnerabilidade Ambiental: Uma Análise Integrada do
Autor:
Estado: Ceará Ambiente no Município de Pacoti - CE Cristiano Alves
Escala: Orientador:
- João Silvio Dantas
Mapa de Localização
Datum:
SAD69
Mapa:
01
22

2.3. O Município de Pacoti no Contexto da APA de Baturité

De acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística – IBGE, no ano de 2000, o município de Pacoti possuía neste ano uma
população total de 10.929 habitantes, sendo 65,15% desse total residentes em
domicílio rural. Ao compararmos esses dados com o censo realizado em 1996 que
computou uma população 10.972 habitantes, onde 73,94% residiam na zona rural,
concluímos que o município sofreu, nos quatro anos que correspondem ao intervalo
da pesquisa, êxodo rural, bem como uma urbanização da população, visto que
durante este intervalo de tempo praticamente não houve aumento na população
total, mas sim um aumento da população urbana. (BRASIL. IBGE, 2005)

Na tabela 01 é possível analisarmos também os dados do IBGE referentes área


plantada do município. Onde podemos constatar que mesma sofreu um declínio nos
últimos anos. (BRASIL. IBGE, 2005)

Tabela 01: Área planta em hectares do município de Pacoti

Café Arroz Cana-de- Feijão Milho


Ano Banana
(beneficiado) (em casca) açúcar (em grão) (em grão)
1990 1260 722 850 930 194 410
1991 1260 710 840 910 189 380
1992 1266 710 850 910 194 385
1993 2200 800 1200 720 336 540
1994 2200 800 1250 680 170 520
1995 2200 800 1260 310 173 525
1996 2980 880 280 45 150 560
1997 2960 875 270 40 145 500
1998 2960 875 650 40 70 350
1999 3500 950 1085 45 214 466
2000 3500 950 1120 45 220 350
2001 2300 950 650 45 125 350
2002 2300 950 720 45 135 390
2003 2300 950 720 45 150 390
Fonte: (BRASIL. IBGE, 2005)
23

Como pode ser observado na tabela acima, cultivos como o de cana-de-açucar


que em 1990, ano da criação da APA, possuía uma área plantada de 930 hectares,
em 2003 possuía apenas 45 hectares plantados. Já o cultivo da banana apresentou
crescimento de 82,54% entre 1990 e 2003, podendo ser observado um aumento na
área plantada até o ano 2000, quando a mesma passou a declinar. Do mesmo modo
o cultivo do café também apresentou um aumento de 31,58% na área plantada no
mesmo período. Já cultivos anuais como arroz, feijão e milho não apresentaram
grande variação em suas áreas plantadas. Tal fato se deve ao vertiginoso
crescimento do turismo, como nova forma de exploração praticada no município
após a criação da APA de Baturité,

A APA de Baturité foi instituída em 1990, pelo Governo do Estado do Ceará


através do Decreto Estadual Nº. 20.956, de 18 de Setembro de 1990, foi a primeira
Unidade de Conservação dessa categoria criada pelo Estado, com 32.690 hectares,
sendo também a mais extensa.

Delimitada pela cota 600 (seiscentos) metros é composta pelos municípios


de Aratuba, Baturité, Capistrano, Guaramiranga, Mulungu, Pacoti, Palmácia e
Redenção. Está situada a 90 Km de Fortaleza e tem como principais acessos,
partindo de Fortaleza, a Rodovia CE-060, sentido Pacatuba-Baturité e a Rodovia
CE-065, sentido Maranguape-Palmácia. (Vide Mapa 02)

De acordo com a Lei Federal n° 9.985 de 18 de julho de 2000, que institui


Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, Área de
Proteção Ambiental está inserida na categoria de unidades de uso sustentável, que
tem o objetivo de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável
de parcela de seus recursos naturais.

O artigo 15º do SNUC define APA como uma área em geral extensa, com um
certo grau de ocupação humana, dotada de atributos, bióticos, estéticos ou culturais
especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações
humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar
o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos
naturais.
500000 515000 530000

9550000

9550000
BR
020 Palmácia

CE
065
9535000

9535000
Acarape
Pacoti Redencão

Guaramiranga
CE
253

Mulungu CE
356 Baturité
CE
9520000

9520000
060

Aracoiaba

Aratuba
9505000

9505000
Capistrano

Legenda
Limite Municipal Rodovia
Itapiuna Limite da APA de Baturité BR
02 0
Federal
Limite da Área de Estudo Estadual
Sedes Municipais Ferrovia
9490000

9490000

500000 515000 530000

Universidade Estadual do Ceará


Especialização em Geoprocessamento Aplicado a
Análise Ambiental e Recursos Hídricos
Município: Geoprocessamento Aplicado ao Mapeamento de Data:
- Agosto/2006
Vulnerabilidade Ambiental: Uma Análise Integrada do
Autor:
Estado: Ceará Ambiente no Município de Pacoti - CE Cristiano Alves
Escala: Orientador:
1: 300.000 João Silvio Dantas
APA de Baturité
Datum:
SAD69 - 24S
Mapa:
02
25

Nesse contexto, a Superintendência de Meio Ambiente do Ceará – SEMACE


como órgão pertencente ao Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA criado
pela Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, no nível de órgão seccional é
responsável pela fiscalização e controle das atividades susceptíveis de degradarem
a qualidade ambiental tais como:

• Implementação ou aplicação de quaisquer tipos de construção civil sem o


devido licenciamento ambiental;
• Supressão de vegetação e uso do fogo sem a autorização da SEMACE;
• Atividades que possam poluir ou degradar os recursos hídricos abrangidos
pela APA, como também o despejo de efluentes, resíduos ou detritos capazes
de provocar danos ao meio ambiente;
• Intervenção em áreas de preservação permanente, como: margens de rios,
barragens e açudes, olhos d’água e aluviões, áreas íngremes e matas virgens
ou em avançado processo de regeneração;
• Demais atividades danosas previstas na legislação ambiental.

Diante deste contexto, o turismo desponta como uma nova atividade econômica
no município de Pacoti. Muitas fazendas que antes tinham na agricultura seu
sustento deram espaço para casas de campo, ocupadas principalmente durante os
finais de semana e eventos realizados no município.

Com o desenvolvimento do turismo local, incentivado pela exuberância e belezas


da paisagem serrana, houve um crescimento significativo dos seguimentos
econômicos ligados à hospedagem, artesanato e alimentação, abrindo-se uma nova
perspectiva de emprego e renda para a população local.

Essa nova atividade econômica diminui a pressão sobre os recursos naturais,


entretanto seus benefícios não são sentidos pela população em sua totalidade.
Muitos pequenos proprietários acabaram vendendo suas terras para dar lugar às
casas de campo da elite da capital.

Os benefícios do turismo se concentram principalmente próximo a zona urbana


do município, em quanto às populações mais afastadas sofrem em muito com a falta
de políticas públicas que orientem para um correto uso do solo. Nessas áreas
26

marginalizadas pelo capital do turismo, vários impactos ambientais podem ser


citados como desmatamento indiscriminado, assoreamento de riachos, queimadas,
agricultura em áreas com topografia inadequada dentre outras.

O município de Pacoti é sem dúvida uma área de natureza exuberante, com


ambientes extremamente frágeis e com necessidade de proteção, mas vale salientar
que somente a atividade turística não é o caminho mais viável para um
desenvolvimento sustentável da região, uma vez que o município apresenta um
grande leque de ambientes com aptidões distintas. Nesse sentido o presente
trabalho visa mapear a região do município, localizada dentro da APA de Baturité,
quanto à vulnerabilidade ambiental, de forma a fornecer informações que
subsidiarão nas tomadas de decisão dos governantes na busca de alternativas
sustentáveis de uso do solo de forma a complementar a atividade turística que
atualmente atua no município.

2.4. Caracterização Geoambiental

GEOLOGIA

O município de Pacoti está localizado na região cimeira do Maciço Residual de


Baturité se estendendo para a vertente oriental do mesmo. De acordo com Souza in
(IBAMA/UECE, 2001) essa região está localizada sobre a Faixa de Dobramento
Jaguaribana de Brito Neves (1975), apresentando uma morfologia fortemente
acidentada oriunda de um tectonismo intenso que deu origem as zonas de
cizalhamentos, fraturamentos, dobramentos e falhamentos que podem ser
encontrados por toda a área do maciço.

Quanto à litologia o município está inserido em sua porção setentrional na


Unidade Independência – onde se evidencia a ocorrência de rochas metamórficas
como paragnaisses, micaxistos e metacalcários – e meridionalmente na Unidade
Canindé – com ocorrência de rochas metamórficas como paragnaisses,
ortognaisses, metabásicas e metacalcários (BRASIL. CPRM/CEARÁ, 2003).

De acordo com o Projeto Mapeamento do Maciço de Baturité de Sidrim et al.


(1978) na área de estudo ocorre o predomínio de gnaisses, migmatitos e granitos
27

datados do pré-cambriano, sendo descritas a seguir as principais características


destas rochas dominantes.

Gnaisses

Apresentam composição mineralógica homogênea e são constituídos


essencialmente de quartzo, plagioclástico, microclina, biotita e muscovita, com
zircão, apatita, titanita e opacos e acessórios. As feições macroscópicas com que os
gnaisses ocorrem são bastante variadas, apresentando-se gnaisse com orientação
bastante precária e gnaisses com bandeação marcante.

Ocorrem nesta região vários tipos de gnaisse, distribuídos irregularmente por


toda a área, sendo identificados por Sidrim et al. (1978) a existência de biotita
gnaisse, muscovita gnaisse, biotita-muscovita gnaisse, biotita-granada gnaisse,
gnaisse quartzoso, gnaisse xistoso, gnaisse facoidal, e em alguns trechos o gnaisse
apresenta-se cataclasado.

Os gnaisses desta região apresentam textura predominante granoblástica e


granolepdoblástica, comandada pela orientação das micas e pela granulometria dos
minerais não micáceos.

Migmatitos

Os migmatitos encontrados na área são principalmente dos tipos epibolito e


diadisito. Megascópicamente, os migmatitos apresentam uma mineralogia
homogênea, destacando-se: quartzo, plagioclásio, biotita e microclina. De acordo
com os estudos de Sidrim et al. (1978), o quartzo ocorre em boa concentração e
geralmente em cristais anédrais. O plagioclásio, bastante abundante, encontra-se
alterado, originando minerais de argila. A biotita frequentemente altera-se para
muscovita e secundariamente para clorita. A microclina apresenta-se com
percentagem variável, normalmente em quantidade menor que a dos minerais
anteriormente citados. A clorida geralmente está presente como produto da
alteração da biotita, valendo ressaltar que em alguns migmatitos existe também
clorita primária. A muscovita pode aparecer como acessório juntamente com a
28

calcita, apatita, titanita, zircão e opacos. As texturas mais comuns dos migmatitos
são as granolepdoblástica e granoblástica.

Granitos

Ainda com bases nos estudos de Sidrim et al. (1978), os granitos são
constituídos essencialmente de quartzo, microclina, plagioclásio, biotita, hornblenda,
apatita, zircão, titanita, epidoto, alanita e muscovita como acessórios. O quartzo
apresenta teor variando entre 30 e 40% em cristais uniformes bem desenvolvidos. A
microclina ocorre em cristais pouco desenvolvidos e com pouca alteração, com teor
variando entre 20 a 40%. O plagioclásio encontra-se frequentemente alterado,
dando origem a minerais de argila. A biotita apresenta-se em lamelas de tamanho
variável. Quando alterada, geralmente dá clorida e/ou muscovita. A hornblenda
ocorre em cristais geralmente bem definidos e com distribuição uniforme, chegando
a representar o segundo mineral em percentagem. A apatita, zircão e titanita
compõem os acessórios mais freqüentes, ocorrendo em todas as lâminas estudadas
por Sidrim. Em algumas lâminas foram identificadas também epidoto, alanita e
muscovita como acessórios.

O aspecto morfológico e o contato brusco com o gnaisse indicam tratar-se


provavelmente de um pluton granítico intrusivo. A rocha possui cor variando de rosa
clara a cinza clara.

CLIMATOLOGIA

De acordo com Souza in (CEARÁ. SEMACE, 1991 apud AB’SÁBER, 1970) a


área serrana do Maciço de Baturité, onde está localizado o município de Pacoti, é
um enclave florestal submetido aos processos engengrados por topoclimas úmidos,
inserido no domínio morfoclimático semi-árido das caatingas.

A variável climática é sem dúvida o principal condicionante das diversas regiões


fisiográficas existentes nesta região, sendo este resultado da ação combinada de
fatores como relevo, direção dos ventos e distância do litoral, colocado essa região
entre as regiões mais pluviosas do Estado do Ceará, com uma incidência de totais
pluviométricos elevados. Tal fato pode ser comprovado através da observação dos
totais pluviométricos do município de Pacoti e dos demais municípios que compõem
29

a região serrana do maciço em comparação com os municípios da depressão


sertaneja circunvizinha, na tabela 02 e no gráfico 01.

Tabela 02: Total Pluviométrico (1990-2005)

Município Posto Latitude Longitude Período Total (mm)


Pacoti Pacoti 4° 13’ 39° 55’ 1990 - 2005 22.764,3
Guaramiranga Guaramiranga 4° 16’ 38° 56’ 1990 -2005 25.472,8
Mulungu Mulungu 4° 18’ 38° 59’ 1990 - 2005 17.597,6
Aratuba Aratuba 4° 25’ 39° 03’ 1990 - 2005 16.815,3
Caridade Caridade 4° 14’ 39° 11’ 1990 - 2005 10.229,8
Canindé Canindé 4° 21’ 39° 18’ 1990 - 2005 8.217,8
Itapiúna Itapiúna 4° 35’ 38° 57’ 1990 - 2005 11.678
Fonte: (CEARÁ. FUNCEME, 2006)

Gráfico 01: Total Pluviométrico (1990-2005)

30.000,00

25.000,00

20.000,00
Guaramiranga
mm

15.000,00
Pacoti

Mulungu

Aratuba

10.000,00
Itapiúna

Caridade

Canindé

5.000,00

0,00
Municípios

Fonte: (CEARÁ. FUNCEME, 2006)

Essa diferença acentuada nos totais pluviométricos expressos na tabela 02 e no


gráfico 01 pode ser explicada pela ação do relevo como barreira natural frente aos
deslocamentos dos ventos úmidos oriundos do litoral, que ao encontrarem o
anteparo do maciço se elevam, ocasionando o seu resfriamento e
conseqüentemente a precipitação abundante na região barlavento do maciço, como
pode ser visto na foto 01, exercendo também influência direta na temperatura local
que varia em torno de 19 e 22°C.
30

Foto 01: Relevo do Maciço de Baturité - Chuva Orográfica

Foto do autor / abril de 2006.


Ponto: C03P001* – Coordenadas: E523666; N9546351.
Local: Margem da CE-065 na subida do maciço.
*Código do ponto (Vide Página 87 e Mapa 04)

Já as vertentes sotavento, opostas ao litoral são mais secas, visto que quando o
vento alcança essas regiões já tem perdido em muito seu teor de umidade. Tal
fenômeno pode ser constatado através da observação do perfil pluviométrico
traçado no sentido Nordeste-Sudoeste, entre Fortaleza a Canindé, cruzando a
região serrana de Pacoti, ilustrado na figura 01, cujos totais pluviométricos estão
expressos no gráfico 02, onde fica evidente o declínio da pluviometria na região
sotavento do maciço em comparação a região serrana localizada barlavento.
31

Figura 01: Perfil Pluviométrico (1990-2005) Fortaleza - Canindé

_NE_

_SW_

Gráfico 02: Total Pluviométrico (1990-2005) do Perfil Fortaleza – Canindé

30000
NE
25000

20000
mm

15000

10000 SW
5000

0
Fortaleza Maranguape Palmácia Pacoti Mulungu Canindé
Municípios

Fonte: (CEARÁ. FUNCEME, 2006)


32

Gráfico 03: Pluviometria Mensal do Município de Pacoti (2000 – 2005)

Ano 2000 Ano 2001


mm mm
500 500
400 400
300 300
200 200
100 100
0
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Mês
M

Ano 2002 Ano 2003


mm mm
600 600
400 400
200 200
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Mês Mês

Ano 2004 Ano 2005


mm mm
500 400
400 300
300
200 200
100 100
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Mês Mês

mm Total no Período
2500
2000
1500
1000
500
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Mês

Fonte: (CEARÁ. FUNCEME, 2006)

No gráfico 03, podemos observar a pluviometria mensal do município de Pacoti


entre os anos de 2000 e 2005. De acordo com estes dados, fica evidente a
existência de duas estações anuais bem definidas. Uma estação chuvosa,
33

correspondente ao primeiro semestre do ano, referente ao período de verão-outorno,


e outra seca no segundo semestre, correspondente ao período de inverno-
primavera.

No gráfico 03, podemos observar ainda que o mês de abril se destaca como
sendo o mês com maior incidência de chuvas. Essa intensificação das chuvas neste
período é causada pela influência da ZCIT – Zona de Convergência Intertropícal. De
acordo com Ceará. SEMACE (1992 apud NIMER, 1977), no setor setentrional da
região Nordeste, a marcha estacional das chuvas, que representa o principal
componente do quadro climático da região, é regido pelo comportamento da ZCIT,
onde durante o período correspondente ao verão-outorno o sistema de correntes
pertubadas de oeste, com pancadas de chuvas ocasionais, asseguram, quase
exclusivamente, as máximas pluviais (Vide figura 02). Já no inverno-primavera, com
o aquecimento deste sistema, essa região fica sob o domínio dos ventos
anticiclonais de NE e E de alta sub-tropical do Atlântico Sul, ocorrendo então o
período de estiagem. Vale salientar que o período de estiagem é atenuado na região
serrana pelo orvalho e nevoeiro comuns nesta região, possibilitando uma
conservação da umidade do solo e diminuindo assim os efeitos da
evapotranspiração tão evidente nas áreas sertanejas.

Figura 02: Zona de Convergência Intertropical-ZCIT mostrada através das


imagens do satélite METEOSAT-7

Fonte: (CEARÁ. FUNCEME, 2006)


34

As precipitações nesta região serrana possuem a característica de ocorrerem em


pesados aguaceiros em um curto período de tempo, como pode ser observado no
gráfico 04 que contempla a precipitação no mês de julho de 1989 durante os dias
deste mês. Nesta ocasião aproximadamente 40% da precipitação do mês ocorreu
apenas no dia 9, quando foi registrado pela estação da FUNCEME - Fundação
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, localizada na cidade de Pacoti, um
total de 148,1mm somente neste dia. Essa característica faz com que áreas mais
intensamente degradadas sofram com maior intensidade movimentos de massa,
principalmente em áreas com declividade acentuada, provocando o aparecimento de
ravinas e voçorocas.

Gráfico 04: Precipitação no mês de julho de 1989

160
140
120
100
mm

80
60
40
20
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias

Fonte: (CEARÁ. FUNCEME, 2006)

De acordo com Souza (in IBAMA/UECE, 2001) o Maciço de Baturité apresenta


três classificações climáticas distintas: úmido, semi-úmido e semi-árido. Neste
contexto o município de Pacoti, localizado no platô úmido do maciço se estendendo
para a vertente oriental, está inserido no clima úmido onde as condições de
umidade, ritmo das precipitações, índices pluviométricos e altitude, enquadra-se no
tipo mesotérmico (Thornthwaite), Aw’ (Köeppen) ou nos sub-domínios úmidos e sub-
úmidos com três a cinco meses secos.
35

PEDOLOGIA

Conforme o Mapa Exploratório – Reconhecimento de Solos do Estado do Ceará


(MA-SUDENE, 1973) citado por (CEARÁ-SEMACE, 1992) a área de estudo
apresenta uma associação de solos PV1 – Associação de Podzólico Vermelho
Amarelo + Podzólido Vermelho Amarelo equivalente eutrófico, ambos A moderado e
textura argilosa, devido os elevados índices de umidade que favorecem a
intensificação dos processos de alteração química das rochas.

De acordo com o Levantamento Exploratório dos Solos da Zona Fisiográfica de


Baturité (CEARÁ. SUDEC, 1967) os solos do maciço onde está localizada a área de
estudo apresenta solos minerais mais ou menos profundos em torno de dois metros
A+B+C, com moderada diferenciação morfológica entre seus horizontes. Via de
regra estes solos apresentam uma drenagem moderada e ocasionalmente bem
drenados e moderadamente ácidos com PH aumentando com a profundidade.

O horizonte A apresenta espessura de 25 – 35cm normalmente subdividido em


A11 e A12, com cor variando de bruno escuro a bruno avermelhado, de textura
pesada da classe argila, estrutura granular fortemente desenvolvida, com transição
para o horizonte B gradual e plana ou ondulada.

O horizonte B é bastante espesso, oscilando entorno de 180cm, geralmente


diferenciado em B1, B2 e B3, sendo o B2 subdividido em B21 e B22. A cor no
horizonte B normalmente bruno forte no B2 varia de vermelho amarelado a vermelho
claro e no B3 vermelho amarelo de textura argilosa pesada no B1 e B21 e argila no
B3.

O horizonte C é menos espesso que o B com a espessura em torno de 80cm,


apresentando coloração geralmente avermelhada, de textura de média a leve,
geralmente com sensação de mica, com bastante mineral primário em
decomposição.

Do ponto de vista da agricultura estes solos são classificados como profundos,


com drenagem variando em função da profundidade de bem drenado a
moderadamente drenado, sendo a permeabilidade na parte superficial maior, devido
à textura e estrutura, e menos permeável nas partes mais profundas. São
36

considerados solos de fertilidade de média a alta, entretanto o uso agrícola é


limitado pela acentuada declividade, que expõe o solo a erosão e limita o uso de
maquinário agrícola, bem como devido à falta de água nos longos períodos de
estiagem.

Atualmente os solos desta região são ocupados principalmente por culturas de


café, banana e milho, e nos fundos de vale predomina a horticultura – cenoura,
tomate, repolho, etc – e cultivo de chuchu.

GEOMORFOLOGIA

O Maciço de Baturité é classificado por Ceará. SEMACE (1992, apud SOUZA,


1988) como uma subunidade denominada planalto residual, correspondente à área
serrana, pertencente ao Domínio dos Escudos e Maciços Antigos compostos por
litotipos do embasamento cristalino datados do pré-cambriano.

A área do município de Pacoti inserida na Área de Proteção Ambiental de


Baturité possui uma geomorfologia variada, sendo comuns feições como cristas –
elevações com topos agudos e vertentes íngremes; colinas – elevações com topos
convexos, ligeiramente arredondados e vertentes curtas; lombadas – elevação com
topos arredondados que se alongam em sentido paralelo aos fundos de vale; vales
em V – depressão entre elevações profunda e estreita em forma de V; vales em U –
depressão entre elevações profunda e larga formando um vale de fundo plano, em
forma de U. (CAVALCANTE, 2005). (Vide figura 03).

A altimetria elevada do Maciço de Baturité em comparação com as áreas


sertanejas periféricas se deve ao fato de suas rochas terem se comportado de forma
mais resistentes às ações intempéricas em comparação com as litologias das áreas
sertanejas.
37

Figura 03: Feições Geomorfológicas


38

A geomorfologia atual do maciço se deve a ação conjugada de influências


litológicas e estruturais do passado modeladas por variações no clima da região,
bem como por ação dos processos da morfodinâmica atual. De acordo com Souza
(in IBAMA/UECE, 2001) a influência das condições paleoclimáticas é evidenciada
pelos níveis tanto na superfície cimeira como nas vertentes que convergem para as
depressões sertanejas circunvizinhas, denotando a existência de superfícies de
aplainamentos elaborados em condições de morfogênese mecânica sob influência
de climas secos.

No presente, onde preponderam às condições climáticas úmidas, as superfícies


erosivas são desmontadas pela forte dissecação do relevo em condições de
morfogênese química, que possui efeitos de dissecação mais intensos, e devido ao
forte entalhe executado pela drenagem superficial ocorre à formação de vales
estreitos em forma de V.

Os níveis suspensos de pedimentação representam os setores do relevo mais


conservados do ambiente da Serra de Baturité. Com origem remetida as condições
climáticas mais secas do que as atuais, essa feição teve origem em um ambiente
onde preponderava a morfogênese mecânica, que originou o desenvolvimento dos
pedimentos posicionados acima das superfícies pediplanadas sertanejas.

Nos fundos de vale, onde ocorre uma suavização do relevo, desenvolvem-se


pequenas depressões de topografias planas com coberturas colúvio-aluvias,
comumente chamados na região de “baixa”. Essas áreas, por apresentarem
características favoráveis à agricultura, são muito utilizadas para o cultivo de chuchu
e hortaliças, visto que nestas regiões o relevo não constitui fator limitante para essas
práticas, além de ter o suprimento de água para os cultivos garantido pelas
pequenas barragens construídas nos riachos existentes neste compartimento do
relevo serrano.

VEGETAÇÃO

As formações vegetais existentes no Maciço de Baturité são diretamente


condicionadas por fatores como altitude e localização, visto que a altitude elevada
do maciço aliada a proximidade do litoral funciona como barreira natural para os
39

ventos oriundos do mar, submetendo a região ao fenômeno das chuvas orográficas.


Entretanto fatores como relevo, solos, hidrografia bem como as atividades antrópicas
também podem ser considerados como condicionantes da vegetação local.

De acordo com Souza in (CEARÁ. FNMA/FCPC, 1994) essa diversidade de


cenários ambientais condiciona a formação de quatro unidades distintas de
vegetação existentes no Maciço de Baturité: Arboreto Climático Estacional
Caducifólico (Caatinga); Arboreto Estacional Sub-caducifólio (Mata Seca); Arboreto
Climático Perenifólio (Mata Úmida); Arboreto Climático Estacional Caducifólio tipo
mesófilo (caatinga) e Vegetação Ciliar.

Na figura 04 é possível visualizar a distribuição das unidades vegetais de acordo


com sua localização, a partir de um perfil topográfico esquemático traçado no
sentido NW / SE, partido da depressão sertaneja, no município de Caridade cortando
o município de Pacoti, na região cimeira do maciço, até o município de Aracoiaba.

Com base nesta classificação a região do município de Pacoti acima da cota


600m, que corresponde à área estudada, está inserida nas Unidades Mata Úmida e
Mata Seca, sendo a primeira a que apresenta maior área, se estendendo por quase
toda a região estudada, ao passo que a Unidade Mata Seca foi identificada apenas
nas encostas da vertente oriental do maciço voltada para o município de Caridade.

A Mata Úmida está localizada nas regiões mais elevadas do maciço, sendo de
acordo com Campos (2000 apud SALES, 1997) identificada a partir da cota 600m a
barlavento e após 800m a sotavento. Fato este que denota a relação direta da
existência desta formação vegetal com a altitude, visto que esta é responsável pelos
altos índices de umidade nesta região, favorecendo a existência de uma vegetação
com caráter perenifólio.
40

Figura 04: Perfil esquemático Relevo x Vegetação

I – Arboreto Climático Estacional Caducifólico Xerófilo (Caatinga)

II – Arboreto Estacional Sub-caducifólio (Mata Seca)

III – Arboreto Climático Perenifólio (Mata Úmida)

IV – Arboreto Climático Estacional Caducifólio Tipo Mesófilo (Caatinga)

V – Vegetação Ciliar

Fonte: Souza in (CEARÁ. FNMA/FCPC, 1994)


41

Segundo Ceará. SEMACE (1992) a Mata Úmida é composta por duas


subunidades denominadas Floresta Úmida Perenifólia e Floresta Úmida
Semiperenifólia. De acordo com essa classificação a primeira tipologia florestal
encontra-se situada em altitudes superiores a 800m e a segunda em níveis
altimétricos entre 600m e 800m. Entretanto essa vegetação de uma maneira geral
apresenta um caráter predominantemente perenifólio, sendo composta por uma
mesclagem de espécies perenifólias e semiperenifólias, como pode ser visto no
quadro 01.

Quadro 01: Espécies da Mata Úmida

Espécies Perenifólias Espécies Semiperenifólias


Nome Popular Nome Científico Nome Popular Nome Científico
Amarelão Ateleia ovata Frei-jorge Cordia trichotoma
Abacate-bravo Phoebe brasiliensis Pau-d’arco-roxo Tabebuia heptaphylla
Almécega Protium heptaphyllum Mulungu Erythrina velutina
Bálsamo Myroxylon peruiferum Babaçu Orbignya speciosa
Café-bravo Caseara sylvestris Gonçalo-alves Astronium fraxinifolium
Cajueiro-bravo Caseara sylvestris Mutamba Guazuma ulmifolia
Pau-ferro
Camunzé Pithecolobium polycephalum Caesalpinia leilostachya
(foto 03)
Cocão Esenbeckia grandiflora Inharé Brosimum gaudichudii
Folha-miúda Myrcia rostrota Tatajuba Chloroflora tinctoria
Guabiraba Campomanesia dichotoma - -
Ingá Ingá bahiensis - -
Limãozinho Zanthoxylum rhoifolium - -
Jaracatiá
Jaracatiá spinosa - -
(foto 02)
Murici-da-Serra Byrsonima crispa - -
Maçaranduba Manilkara rufula - -
Orelha-de-burro Clusia nemorosa - -
Pau-d’arco-amarelo Tabebuia serratifolia - -
Piroá Basiloxylon brasiliensis - -
Fonte: (CAMPOS, 2000)
42

Foto 02: Jaracatiá (Jaracatiá spinosa)

Foto: http://www.arvores.brasil.nom.br

Foto 03: Pau-ferro (Caesalpinia leilostachya)

Foto: http://www.arvores.brasil.nom.br

Neste contexto, a vegetação com características perenifólias localizadas


principalmente a partir da cota 600m do maciço foi classificada neste estudo como
43

Mata Úmida, e subdividida de acordo com seu grau de conservação em Mata Úmida
Conservada, Mata Úmida Parcialmente Degradada e Mata Úmida Degrada.

Já a Mata Seca é uma transição entre a Mata Úmida das regiões mais elevadas
do maciço e a depressão sertaneja circunvizinha. Essa unidade é composta por
uma cobertura vegetal com predominância de espécies arbóreas na área onde há
um maior nível de conservação tornando-se mais arbustiva nas regiões mais
degradadas. Essa vegetação se desenvolve principalmente em altitudes entre 400 e
600m nas vertentes barlavento e entre 600 e 800m nas vertentes sotavento. Vale
salientar que atividades antrópicas como o desmatamento e as queimadas
favorecem o avanço da caatinga, originaria das depressões sertanejas, sob áreas
antes ocupadas por essa vegetação.

Como nas demais unidades vegetacionais, a extensão e os aspectos floristicos e


fisionômicos da Mata Seca estão diretamente vinculados às atividades de uso e
ocupação da superfície das vertentes da serra, bem como a presença de fontes e
curso d’água que drenam até os sertões periféricos (SOUZA in CEARÁ.
FNMA/FCPC, 1994). No quadro 02 estão descritas algumas das principais espécies
lenhosas da Mata Seca e nas fotos 4 e 5 podem ser observados dois espécimes
desta vegetação.

Quadro 02: Espécies da Mata Seca

Nome Popular Nome Científico


Espinheiro Acácia glomerosa
Angico (foto 04) Anadenanthera macrocarpa
Aroeira Astronium urundeuva
Catingueira Caesalpinia bracteosa
Feijão-bravo Capparis flexuosa
Mutamba (foto 05) Guazuma ulmifolia
Sabiá Mimosa caesalpinifolia
Maniçoba Manihot cocrulescens
Pajeú Triplaris gardneriana
Coração de negro Machacrium acutifolium
Fonte: (SOUZA, 1994)
44

Foto 04: Angico (Anadenanthera macrocarpa)

Foto: http://www.arvores.brasil.nom.br

Foto 05: Mutamba (Guazuma ulmifolia)

Foto: http://www.arvores.brasil.nom.br

Assim como a Mata Úmida a Unidade Mata Seca foi subdividida neste estudo de
acordo com seu grau de conservação em Mata Seca Conservada, Mata Seca
Parcialmente Degrada e Mata Seca Degradada.
45

RECURSOS HÍDRICOS

A rede de drenagem predominante na região cimeira do Maciço de Baturité


apresenta um padrão dendrítico associado ao modelo retangular em áreas que
sofreram tectônica ruptural, podendo estas serem observadas nas vertentes mais
escarpadas e com declividade superior a 40%. Trata-se de uma rede
excessivamente ramificada cujos cursos d’água desenvolvem perfis longitudinais
com elevados gradientes e perfis transversais estreitos. (Vide Mapa 03)

As características da hidrografia desta região são determinadas pela ação


conjugada de fatores climáticos, geológicos, geomorfológicos e pelas condições
vegetacionais e de uso do solo.

Quanto à climatologia, os municípios da região cimeira do Maciço de Baturité tem


como característica elevados índices pluviométricos, com média superior a do
Estado do Ceará. Entretanto, devido às precipitações se concentrarem em um curto
espaço de tempo correspondente principalmente ao trimestre março, abril e maio, e
devido à variação espacial da mesma, ocorre uma variação temporal quanto a
disponibilidade de água disponível em superfície, no solo e sub-solo, visto que a
recarga dos recursos hídricos fica limitada a um curto período durante o ano.

Em conseqüência destas características climáticas, com exceção do Rio Pacoti1


que tem seu fluxo hídrico continuo durante todo o ano, em virtude das pequenas
barragens existentes amontante de seu curso, via de regra a rede de drenagem da
área de estudo possui um escoamento superficial intermitente sazonal, entretanto a
permanência do escoamento ainda se estende durante parte da estação seca.

A drenagem no maciço também sofre influência da geologia local e das


formações superficiais, principalmente devido às características de
impermeabilidade das rochas cristalinas, que provoca um maior adensamento dos
cursos d’água que tendem a uma elevada ramificação, favorecendo o escoamento
superficial, ficando as águas subterrâneas restritas a ocorrência de áreas

1
O Rio Pacoti é o principal recurso hídrico existente na área de estudo. Suas nascentes estão
localizadas na área do platô úmido do Maciço de Baturité e drena as vertentes oriental e setentrional
do mesmo.
46

diaclasadas ou fraturadas, sendo característico deste terreno uma densa rede de


fraturas.

No tocante a influência da geomorfologia na hidrografia, o relevo influencia de


forma direta através dos perfis longitudinais e transversais dos rios. Os gradientes
que direcionam as ações de escoamento determinam à velocidade do fluxo hídrico
ou a retenção da água bem como condições de transporte ou de sedimentação nos
setores deprimidos.

As condições vegetacionais e de uso do solo são fatores preponderantes no


tocante a hidrografia, visto que os mesmos são determinantes quanto à proteção da
superfície frente os elevados índices pluviométricos da região, atenuando os efeitos
das precipitações.

Quanto maior a densidade da vegetação menor os efeitos do escoamento


superficial através das vertentes íngremes, uma vez que a vegetação diminui o
impacto da chuva com o solo, fazendo com que apenas parte da água atinja os
fundos de vale e talvegues. Já nas áreas que não dispõem de cobertura vegetal, ou
com baixa densidade, o escoamento superficial é intensificado provocando
movimentos de massa, formando voçorocas e ravinas.
508000 512000 516000

9544000

9544000
DENDRÍTICO RETANGULAR
9540000

9540000
9536000

9536000
9532000

9532000

508000 512000 516000

Universidade Estadual do Ceará


Especialização em Geoprocessamento Aplicado a
Análise Ambiental e Recursos Hídricos
Município: Data:
Pacoti Geoprocessamento Aplicado ao Mapeamento de Agosto/2006
Vulnerabilidade Ambiental: Uma Análise Integrada do Autor:
Estado: Ceará Ambiente no Município de Pacoti - CE Cristiano Alves
Escala: Orientador:
1: 75.000 João Silvio Dantas
Recursos Hídricos
Datum:
SAD69 - 24S
Mapa:
03
48

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. Teoria Geossistêmica

Devido à complexidade dos ambientes naturais, bem como dos alterados pelo
homem, as ações antrópicas sobre o ambiente devem ser precedidas por um
diagnóstico ambiental adequado, fornecendo informações que garantam um
aproveitamento sustentado destes ambientes.

Para a realização de um diagnóstico ambiental condizente com a realidade


ambiental é necessário, de acordo com Ross (1991) analisar o ambiente não apenas
como meio físico e biótico, mas incluindo também o sócio-econômico. Tal
necessidade faz com que a ciência geográfica se destaque frente às demais nas
análises ambientais, garantindo um estudo integrado da paisagem.

Segundo Morais (2001), a ciência na qual a paisagem, suas características, inter-


relações e gêneses são estudadas, pode ser denominada “Ciência da Terra”, que na
verdade é uma das formas da Geografia, a Geografia da Paisagem. O propósito da
Ciência da Terra ou Ciência da Paisagem é o estudo do “caráter total de uma porção
da Terra”. A Ciência da Terra abrange as rochas, relevo, partículas dos solos, solos,
água, clima, vegetação, flora, fauna, plantações e estruturas humanas e os próprios
seres humanos.

Neste contexto, a paisagem não pode ser considerada como a simples adição de
elementos geográficos dissociados. Devendo a mesma ser considerada como um
espaço fruto da integração dinâmica, portanto instável dos elementos físicos,
bióticos e antrópicos, que interagindo de forma dialética entre si formam um conjunto
único e indissociável em constante evolução. Vale salientar que o termo paisagem
não é abordado aqui referente somente à paisagem “natural”, mas da paisagem em
sua totalidade integrando todas as implicações da ação antrópica.
49

Na busca por uma análise integrada, surgiu no inicio do século XX uma teoria
que se contrapunha ao pensamento antes vigente do mecanicismo2 e do vitalismo3,
a Teoria Geral dos Sistemas proposta pelo biólogo Ludwig Von Bertalanffy.

De acordo com Von Bertalanffy (1975) a Teoria Geral dos Sistemas resultou do
fato do esquema mecanicista das séries causais isoláveis e do tratamento isolado
das partes ter se mostrado insuficiente na solução de problemas teóricos, e aos
problemas práticos propostos pela moderna tecnologia. Neste sentido essa teoria
propõe o estudo não somente das partes e processos isoladamente, mas também
solucionar problemas existentes na organização e na ordem que os unifica,
resultante da interação entre as partes, tendo como resultado um comportamento
diferente das partes quando estudadas isoladamente e quanto abordadas como um
todo.

Desta concepção surgiu à expressão “o todo é mais que a soma das partes”, ou
seja, as características constitutivas não podem ser explicadas através de uma
análise isolada das partes que a compõem. Essa característica firma a Teoria Geral
dos Sistemas como uma ciência geral da totalidade.

A teoria proposta por Bertalanffy sofreu durante meados do século XX


apropriação por vários ramos científicos, contribuindo de forma decisiva na
formulação da Teoria Geossistêmica. Segundo Rodrigues (2001 apud GREGORY,
1992), ela propõe que os sistemas podem ser definidos como conjuntos de
elementos com variáveis e características diversas, que mantêm relação entre si e
entre o meio ambiente, permitindo uma análise voltada para a estrutura desse
sistema, para seu comportamento, para trocas de energia, limites, ambientes ou
parâmetros.

A Teoria Geossistêmica é parte integrante de um conjunto de tentativas ou de


formulações teórico-metodológicas da Geografia Física, sugeridas em função da
necessidade de lidar com princípios de interdisciplinaridade, síntese, com a
abordagem multidisciplinar e com a dinâmica, fundamentalmente, incluindo-se
prognoses a respeito desta última. (RODRIGUES, 2001).

2
A abordagem mecanicista consistia em uma análise dividida em partes e processos individuais.
3
A teoria intitulada de vitalismo se propunha a explicar os problemas da organização das partes e
suas interações, pela ação de fatores anímicos.
50

A Teoria Geossistêmica surgiu na escola russa através de V. B. Sotchava,


entretanto a mesma foi difundida no mundo ocidental pela escola francesa. No Brasil
essa teoria teve como precursor G. Bertrand, que em 1972 publicou no 13º Caderno
de Ciências da Terra - periódico do extinto Instituto de Geografia da Universidade de
São Paulo - seu trabalho intitulado “Paisagem e Geografia Física Global” onde o
autor traça um esboço metodológico da Teoria Geossistêmica, através da
taxonomia, dinâmica, e tipologia da paisagem.

Para Bertrand (1972) a noção de escala é inseparável do estudo das paisagens.


Neste contexto, seu sistema taxonômico propõe uma classificação alicerçada em
função da escala têmporo-espacial de inspiração geomorfológica de A. CAILLEUX e
J. TRICART, sendo esta a base geral de referência para todos os fenômenos
geográficos.

Tendo em vista que todas as delimitações geográficas são arbitrárias é


impossível definir um sistema geral do espaço que coincida com os limites de cada
ordem de fenômeno, o que torna inviável a delimitação dos geossistemas pela
superposição de unidades elementares, como por exemplo, definir as unidades
sintéticas justapondo classificações geomorfológicas, pedológicas e climáticas.
Como conseqüência desta tentativa de síntese o resultado seria um mosaico
desarticulado, onde se perderiam as articulações e interações entre as partes.

Neste contexto, Bertrand (1972) propõe vislumbrar a paisagem global tal qual ela
se apresenta. Garantindo assim que as combinações e as relações entre os
elementos, assim como os fenômenos de convergência apareçam mais claramente.
Dentro desta perspectiva ele estabelece um sistema de classificação com seis níveis
têmporo-espaciais, divididos em dois grupos. O primeiro composto pelas unidades
superiores denominadas: zona, domínio e região; e o outro por unidades
progressivamente inferiores, que definiriam os geossistemas, geofácies e geótopo.

As unidades superiores correspondem a grandes extensões geográficas. As


denominadas zonas são definidas pelas grades zonas planetárias delimitadas
primeiramente pelo clima e os biomas que o compõem (zona tropical, por exemplo).
Já os domínios são definidos como porções geográficas, de grandeza inferior à
zona, com características peculiares (domínio andino, por exemplo). A região
51

natural, última na escala de grandeza das unidades superiores, corresponde a


enclaves existentes nos domínios, que por apresentarem características diferentes
do seu entorno merecem destaque.

As unidades inferiores são divididas em três, cuja nomenclatura foi definida com
a finalidade de evocar o traço característico da unidade correspondente. O geo
“sistema” acentua o complexo geográfico e a dinâmica de conjunto; geo “facies”
insiste no aspecto fisionômico e geo “topo” situa essa unidade no último nível da
escala espacial. É nestas escalas que a maior parte dos fenômenos de interferência
entre os elementos da paisagem se manifestam e que evoluem as combinações
dialéticas de maior interesse para o geógrafo. BERTRAND (1972).

O geossistema é um sistema geográfico natural circunscrito a uma área ou região


proveniente das relações mútuas entre os componentes do potencial ecológico e da
exploração biológica e destes com a ação antrópica. (vide figura 05)

Figura 05: Geossistema

Fonte: (BERTRAND, 1972).

O potencial ecológico de um geossistema é composto pela relação entre os


fatores geomorfológicos, climáticos e hidrológicos. Ao passo que a exploração
biológica ocorre sobre a vegetação, fauna e solo, sendo esta exploração realizada
pela ação antrópica que também exerce influência sobre o potencial ecológico.
52

Essa relação mutua entre potencial ecológico, exploração biológica e ação


antrópica denotam a grande dinâmica dos geossistemas. Tal fato faz com que se
torne difícil o estado de clímax, ou seja, um equilíbrio entre potencial ecológico e
exploração biológica, uma vez que ambos são dados instáveis que variam no tempo
e no espaço.

Essa dinâmica dos geossistemas torna difícil a delimitação com clareza de sua
extensão e abrangência. Para Christofoletti (1979) distinguir um sistema na
multiplicidade dos fenômenos da superfície terrestre é ato mental, cuja ação procura
abstrair o referido sistema da realidade envolvente.

Devido essa dinâmica interna, em geral o geossistema não apresenta


necessariamente homogeneidade fisionômica ou funcional. Sendo ele formado por
paisagens diferentes que mostram alguns traços comuns de uma mesma família
geográfica. Essas paisagens homogêneas que compõem o geossistema são
denominadas geofácies e localmente ou pontualmente por geótopos.

Quanto à tipologia dos geossistemas, Bertrand (1972) propõe uma tipologia


fundamentada na bio-resistasia do pedólogo alemão H. Erhart, abordando uma
tipologia dinâmica que classifica os geossistemas em função de sua evolução e que
engloba através disto todos os aspectos das paisagens. Para tanto são
considerados três elementos básicos: o sistema de evolução – considerando uma
série de agentes e processos hierarquizados que atuam sobre o geossistema e as
relações entre morfogênese x pedogênese x ação antrópica; o estágio atingindo em
relação ao clímax e o sentido geral da dinâmica – progressiva, regressiva e
estabilidade. Neste contexto, as variações dos geossistemas foram agrupadas em
dois conjuntos dinâmicos.

O primeiro conjunto diz respeito aos geossistemas em biostasia, onde a


paisagem é caracterizada por uma atividade morfogenética fraca ou nula, ocorrendo
equilíbrio entre o potencial ecológico e a exploração biológica. Neste sistema a ação
antrópica pode provocar uma dinâmica regressiva da vegetação e dos solos sem
comprometer o equilíbrio ambiental. Esses geossistemas podem ser classificados de
acordo com seu grau de estabilidade em geossistemas climácicos – paisagens onde
o clímax é mais ou menos bem conservado, sem que a ação antrópica comprometa
53

o equilíbrio ecológico e a exploração biológica; geossistemas paraclimácicos – são


derivados de uma evolução regressiva de origem antrópica em função da mudança
de características do potencial ecológico ou da exploração biológica; geossistemas
degradados com dinâmica progressiva – áreas que estão em estado de pousio em
que o potencial ecológico apresenta uma rápida capacidade de recuperação; e
geossistemas degradados com dinâmica regressiva – áreas que estão em estado de
pousio em que o potencial ecológico apresenta pequena capacidade de recuperação
devido ao avançado estado de degradação.

O segundo conjunto é o dos geossistemas em resistasia. Nestes geossistemas a


atividade morfogenética é muito ativa e comanda o mecanismo de evolução do
ambiente. Pertencem a esse conjunto os geossistemas em resistasia natural e os
em resistasia antrópica.

Diante do exposto, conclui-se que a Teoria Geossistêmica desempenha um papel


fundamental para a realização de uma análise integrada do ambiente visando o
desenvolvimento sustentável. Souza (2000) destaca a importância do conhecimento
e análise dos sistemas naturais como componentes da base da planificação do
desenvolvimento que visa criar melhores condições e bem-estar para os homens.
Para tanto ele destaca a necessidade de uma compatibilização das políticas de
desenvolvimento econômico e a defesa e controle do ambiente como caminho para
alcançar um desenvolvimento sustentado.

Para alcançar este desenvolvimento sustentado é fundamental um processo de


planejamento eficiente, que garanta a utilização racional do meio natural. Diante
desta necessidade Christofoletti in (GUERRA; CUNHA, 2003) define como
obrigatória à consideração dos aspectos dos sistemas ambientais (geossistemas) e
dos sistemas sócio-econômicos para a realização de um planejamento eficaz.

A luz da Teoria Geossistêmica, Rodrigues (2001) destaca a abordagem


morfodinâmica de TRICART (1977) ou a abordagem ecogeográfica de TRICART &
KILLIAN (1979) como principais alternativas para trabalhar ou identificar unidades de
planejamento físico. Visto que as mesmas possibilitam a identificação de unidades
territoriais com dinâmicas semelhantes, passiveis das mais diversas classificações
no contexto do planejamento territorial, tais como: fragilidade do meio físico,
54

potencialidade para suportar determinadas atividades antrópicas dentre outras.


Neste contexto, a abordagem morfodinâmica possibilita a delimitação espacial de
unidades cujos processos atuais podem ser considerados semelhantes, permitindo a
realização de uma classificação das unidades quanto a sua estabilidade (formas e
Processos), singularidade e grau de recorrência (diversidade ambiental) e fragilidade
ou vulnerabilidade no que se refere às interferências antrópicas, entre outras
discriminações úteis na esfera do planejamento e gestão territorial.

No presente trabalho serão avaliadas as condições de sustentabilidade ambiental


no tocante a vulnerabilidade, tendo como base o modelo de classificação
ecodinâmica do ambiente proposto por Souza (2000) que fundamentado nas
interferências entre processos morfogenéticos e pedogenéticos (TRICART, op. cit;
TRICART e KILIAN, 1982) viabiliza a possibilidade de avaliar as condições de
sustentabilidade dos geossistemas através dos meios estáveis, de transição e
fortemente instáveis.

3.2. Planejamento Regional

O planejamento regional é o passo inicial para alcançar o desenvolvimento


equilibrado das funções econômicas, sociais e políticas. Nesse contexto, o
planejamento permite a alocação eficiente dos investimentos, auxiliando nas
tomadas de decisão e garantindo o desenvolvimento sustentável de uma
determinada região.

Segundo Hilhorst (1981) o conceito de região baseia-se na observação de que os


seres humanos, para a execução de suas atividades, necessitam de espaço e
portanto tem uma localização determinada. Dessas atividades resultam relações que
exigirão, necessariamente, uma dimensão espacial, bem como transporte e ou
comunicação entre suas localizações. Logo, região é uma porção geográfica onde é
possível determinar os fluxos de transporte e comunicação entre os pontos de
atividade humana e todos os outros pontos da mesma natureza, levando-se em
consideração sua intensidade.

De acordo com Corrêa (1987) a região, a luz da nova geografia, é definida como
um conjunto de lugares onde as diferenças internas entre esses lugares são
55

menores que as existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto de


lugares. Podendo essa ser simples – quando a divisão regional é feita de acordo
com um único critério ou variável; ou complexa – quando a divisão regional
considera muitos critérios ou variáveis.

O intenso processo de globalização que o mundo vem sofrendo na atualidade


tende a anular as diferenças criando uma interdependência e integração. Entretanto
esse mesmo processo alimenta as desigualdades e contradições, fazendo com que
a análise regional voltada para as particularidades revele aspectos da realidade que
seria de difícil percepção e análise do ponto de vista global. Nesse sentido, para
Lencioni (2003), a região é uma escala intermediaria de análise, mediando entre o
local e o global, permitindo revelar a espacialidade particular dos processos sociais
globais.

Diante desta concepção de análise da região, dentro de um contexto global onde


o desenvolvimento ocorre de maneira desigual, Corrêa (1987) de acordo com a
concepção da geografia crítica, define região como sendo uma entidade concreta,
resultado de múltiplas determinações, ou seja, da efetivação dos mecanismos de
regionalização sobre um quadro territorial já previamente ocupado, caracterizado por
uma natureza já transformada, heranças culturais, matérias e determinada estrutura
social e seus conflitos.

Neste contexto o planejamento regional incidirá sobre a região avaliando fatores


físicos e socioeconômicos de forma integrada, procedendo uma análise da região
como parte integrante de um todo, não podendo essa ser analisada isoladamente. O
processo de planejamento regional envolve uma ampla avaliação da região, a fim de
determinar suas carências e potencialidades, bem como traçar objetivos e
procedimentos a serem adotados para correção dos problemas sociais econômicos
e ambientais.

De acordo com a metodologia proposta pelo extinto Instituto de Planejamento do


Ceará – IPLANCE, em sua publicação Planejamento Regional: Síntese Metodológica
(1977) o planejamento regional é composto de duas fases básicas, uma analítica ou
de diagnóstico e a outra normativa ou de determinação das intervenções a serem
realizadas na estrutura regional.
56

A fase analítica dá subsidio para a elaboração do diagnóstico regional. Nessa


fase, que é eminentemente técnica, são levantados os aspectos físicos,
populacionais e da estrutura sócio-econômica, determinando através da análise
integrada destes os entraves e as potencialidades da região.

No tocante aos aspectos físicos, é realizada uma análise da posição geográfica


da região. Visto que, é de fundamental importância determinar a área onde se
pretende aplicar o planejamento. Contudo, deve-se atentar para o fato de que região
nenhuma se encontra isolada, uma vez que, a mesma é parte de uma macrorregião.

Depois de delimitada a abrangência geográfica da região onde o planejamento


do desenvolvimento regional incidirá, é realizado um levantamento dos elementos
geoambientais tais como clima, relevo, recursos hídricos, solos e vegetação que
compõem a região, a fim de determinar o quadro natural da região e
conseqüentemente determinar as potencialidades e a vulnerabilidade do ambiente.
Essa etapa do planejamento, também denominada Planejamento Ambiental, tem
como principal objetivo realizar uma avaliação da sustentabilidade harmonizando
informações e bases que envolvem um elenco de variáveis de natureza física,
biológica, antrópica, econômica e social, interagindo em um sistema de relações
harmônicas.

Vale salientar também a importância de analisar os aspectos populacionais e a


estrutura sócio-econômica regional a fim de identificar às origens da configuração
espacial atual, bem como as condições econômicas e sociais da região.

Com base no diagnóstico realizado na fase analítica é realizada a fase normativa.


Nessa fase é realizado o prognóstico regional, onde se estabelecem os objetivos e
estratégias do desenvolvimento, visando aproveitar as potencialidades e mitigar ou
solucionar os entraves.

Os objetivos são divididos em geral e específicos, sendo o primeiro o propósito


que norteia o trabalho de planejamento regional, orientando a busca dos dados para
o conhecimento e avaliando as etapas do trabalho. Já nos objetivos específicos são
propostas as soluções para os problemas encontrados, e alternativas para explorar
sustentavelmente as potencialidades. De posse destes objetivos são traçadas as
57

estratégias de ação que iram orientar a concretização dos objetivos, considerando


as deficiências e lacunas encontradas no diagnóstico.

Almeida (1999) define planejamento como a aplicação regional do conhecimento


do homem ao processo de tomada de decisões para conseguir uma melhor
utilização dos recursos, garantindo o máximo de benefícios para a coletividade.
Dentro desta perspectiva serão aplicadas neste trabalho técnicas de
Geoprocessamento com o intuito de promover uma análise integrada do ambiente
dando subsidio para as tomadas de decisão da fase normativa do planejamento
regional.

3.3. Abordagem Integrada no Planejamento Regional

De acordo com Christofoletti in (GUERRA; CUNHA, 2003) o planejamento incide


na implementação de atividades em determinado território constituindo um processo
que repercute nas características, funcionamento e dinâmica das organizações
espaciais. Nesse sentido é essencial levar em consideração os aspectos dos
sistemas ambientais (geossistemas) e dos sistemas sócio-econômicos.

A integração entre os sistemas ambientais e sócio-econômicos foi intensamente


discutida na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro, em 1992, também
conhecida por Rio 92. Durante o encontro foi publicada a declaração do Rio sobre
meio ambiente e desenvolvimento, essa declaração vem reafirmar a Declaração das
Nações Unidas Sobre Meio Ambiente Humano, adotada em Estocolmo e 1972, que
busca estabelecer novos níveis de cooperação entre os Estados, os setores-chave
da sociedade e os indivíduos com o objetivo de estabelecer uma nova e justa
parceria global de modo a proteger a integridade do sistema global de meio
ambiente e desenvolvimento, reconhecendo a natureza integral e interdependente
da Terra.

Da Conferência das Nações Unidas também resultou outros acordos como a


Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, a Convenção sobre a
Diversidade Biológica, Convenção sobre Mudanças Climáticas e a Agenda 21
Global.
58

A Agenda 21 é um plano de ação para ser adotado global, nacional e localmente,


por organizações do sistema das Nações Unidas, governos e pela sociedade civil,
em todas as áreas em que a ação humana incide sobre o meio ambiente. Constitui-
se na mais abrangente tentativa já realizada a fim de nortear um novo padrão de
desenvolvimento para o século XXI, cujo alicerce é a sinergia da sustentabilidade
ambiental, social e econômica, perpassando em todas as suas ações propostas.

Em seu 8º capítulo a Agenda 21 global considera fundamental para alcançar o


desenvolvimento sustentável à abordagem integrada entre meio ambiente e
desenvolvimento nos planos político, de planejamento e de manejo.

Essa integração tem como objetivo melhorar ou restaurar o processo de tomada


de decisões considerando questões socioeconômicas e ambientais, bem como
garantir uma maior participação do público. Para alcançar esse objetivo a proteção
ambiental passa a constituir parte integrante do processo de desenvolvimento e não
pode ser considerada isoladamente deste, sendo necessária uma integração de
fatores econômicos, sociais e ambientais para garantir um melhoramento dos
processos de tomada de decisão.

Surge assim, a necessidade de um planejamento do uso da terra, sendo este um


processo de tomada de decisão que facilite a conservação da diversidade biológica
e o uso sustentável dos recursos biológicos proporcionando maiores benefícios em
termos de sustentabilidade.

De acordo com o 10º capítulo da Agenda 21, a terra é um recurso finito, e os


recursos naturais que ela sustenta podem variar com o tempo e de acordo com as
condições de gerenciamento e os usos a eles atribuídos. No entanto, as crescentes
necessidades humanas e a expansão das atividades econômicas estão exercendo
uma pressão cada vez maior sobre os recursos terrestres, criando competição e
conflitos e tendo como resultado um uso impróprio tanto da terra como dos recursos
terrestres.

Neste contexto a abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento


físico e do uso da terra surge como alternativa para resolver os conflitos gerados
pela pressão exercida pelas atividades humanas sobre os recursos terrestres, uma
59

vez que examinando todos os usos da terra de forma integrada é possível reduzir os
conflitos ao mínimo, fazer as alternativas mais eficientes e vincular o
desenvolvimento social e econômico à proteção e melhoria do meio ambiente.

O planejamento do uso visa o desenvolvimento das populações dentro e em


torno de uma unidade territorial. Isto se relaciona a uma análise de múltiplos critérios
e a avaliação dos vários recursos naturais4 e ambientais5 destas unidades
territoriais. Sendo esse um processo de avaliação de opções e subseqüentes
tomadas de decisão que precedem à prática de uma decisão. Já a implementação
do uso da terra por parte das populações é denominada de gerenciamento, que
consiste na real prática de uso da terra pela população humana local. Vale salientar
que o gerenciamento dos recursos naturais deve se dar de forma a garantir a
consolidação de uma comunidade sustentável.

Uma comunidade sustentável resulta da preservação e do manejo adequado dos


recursos naturais de importância regional, que propiciam a subsistência dos seres
vivos nessa região. Uma comunidade sustentável reconhece o fato de que a
prosperidade futura dependerá da preservação das reservas naturais atuais. A
sustentabilidade requer um modelo de desenvolvimento que vá de encontro das
demandas do atual sistema consumista, sem comprometer o acesso das futuras
gerações aos recursos naturais e ambientais, lhes garantido o direito de proverem
seu próprio sustento.

3.4. Geoprocessamento e Suporte a Decisão

O processo de decisão tem como finalidade satisfazer um ou múltiplos objetivos.


Para tanto, se faz necessária uma avaliação com base em múltiplos critérios, ou
seja, uma avaliação multicritério. Silva et al. (2004) define avaliação multicritério
como procedimentos utilizados para avaliar e combinar diversos critérios para
suporte no processo de decisão.

4
Recursos Naturais de acordo com a definição dada pelas Nações Unidas na Convention to Combat
Desertification (UN, 1994) são considerados componentes das unidades territoriais que são de uso
direto para grupos de população que vivem numa determinada área.
5
Recursos Ambientais são os componentes da terra que possuem um valor intrínseco por si só, ou
seja, são intangíveis em termos econômicos. É o caso da biodiversidade de populações de plantas e
animais. Sendo esses de valor indispensáveis para um uso sustentável da terra.
60

Essa abordagem é de fundamental importância em estudos ambientais, visto que


para realizar um estudo do ambiente, destinado a projetos de planejamento, com o
objetivo de definir vulnerabilidades, potencialidades, fragilidades naturais, dentre
outros, se faz necessária à combinação de dados espaciais oriundos de diversas
fontes. Dentro desta perspectiva, o Geoprocessamento se revela como uma
poderosa ferramenta capaz de realizar essa integração de dados, possibilitando a
descrição e análise integrada das interações, proporcionando o suporte necessário à
decisão.

Segundo XAVIER-DA-SILVA (2001) Geoprocessamento é um conjunto de


técnicas computacionais que opera sobre uma base de dados georreferenciados,
capaz de integrar fatores físicos, bióticos e socio-econômicos que retratam a
realidade ambiental de uma determinada região.

Dentro deste contexto o Geoprocessamento permite uma análise detalhada dos


múltiplos fatores que incidem sobre o ambiente, sendo o mesmo considerado como
um sistema, isto é, uma entidade que tem expressão espacial, a ser modelada
segundo seus múltiplos fenômenos. No entanto, esta forma de analisar o ambiente
exige a manipulação de uma grande quantidade de informações. Para tanto os
Sistemas de Informação Geográficas – SIG atendem perfeitamente essa
necessidade.

O SIG é um sistema com capacidade para aquisição, armazenamento,


tratamento, integração, processamento, recuperação, transformação, manipulação,
modelagem, atualização e exibição de informações digitais georreferenciadas.
ROCHA (2000).

Mesmo com todas essas características, de acordo com XAVIER-DA-SILVA


(2001) o conceito de SIG não deve ser confundido com o conceito de modelos
digitais do ambiente que é uma modelagem de dados, normalmente contida em
estrutura de processamento analítico, que procura reproduzir os limites e as partes
componentes do sistema ambiental e, se possível, os processos ambientais que
caracterizam suas funções internas e externas. O modelo digital do ambiente se
61

mostra mais complexo, pois não apenas contém os planos de informação6 básicos
com os quais se inicia a análise ambiental, mas também porque pode abranger
informações de relacionamento de diversos tipos, garantindo uma maior
representatividade da realidade ambiental retratada.

Neste sentido, o Sistema de Informação Geográfica é aqui aplicado para gerar


um modelo digital do ambiente, explorando o SIG como suporte para a análise
espacial de fenômenos, a partir de um banco de dados geográficos, com função de
armazenamento, integração e recuperação da informação espacial, não sendo aqui
utilizado como sinônimo de uma cartografia digital que tem como finalidade apenas a
reprodução de representações digitais da realidade geográfica. Contudo, o SIG
necessita de uma base cartográfica confiável como requisito básico para analisar os
conjuntos de variáveis georreferenciadas e integradas em sua base de dados digital.

O Geoprocessamento tornou disponíveis procedimentos que permitem a


investigação detalhada de relacionamentos entre múltiplos fatores que atuam em um
ambiente, tornando possível um diagnóstico ambiental mais eficiente e eficaz, sendo
este produto da análise efetuada sobre os vários cenários ambientais, exprimindo o
conjunto de condições favoráveis e não favoráveis de um ambiente. Neste sentido o
presente trabalho se propõe a fornecer subsidio para um diagnóstico ambiental mais
eficaz, aplicando técnicas do Geoprocessamento aplicadas ao mapeamento de
áreas que, devido suas características peculiares de vulnerabilidade, necessitam de
proteção. Uma vez que, com base em um diagnóstico bem elaborado são realizados
prognósticos eficazes, a fim de solucionar as deficiências - vulnerabilidades - e
explorar de forma racional as potencialidades de uma região, garantindo uma gestão
ambiental sustentável dos recursos naturais existentes.

Para possibilitar uma análise ambiental integrada, abordando a região como um


sistema composto por múltiplas variáveis que se inter-relacionam entre si e com
outros sistemas, possibilitando análises ambientais tais como avaliações de
criticidade, monitoramento de alterações ambientais, prognósticos e zoneamentos
ambientais, auxiliando de forma decisiva nas tomadas de decisão, se faz necessária

6
Planos de informações são cartogramas digitais temáticos que compõem uma estrutura de
informação georreferenciada.
62

à utilização de estruturas lógicas de análise e integração capazes de fornecer um


suporte a decisão.

3.4.1. Estruturas Lógicas de Análise e Integração

No desenvolvimento de projetos voltados para o ordenamento territorial e


estudos ambientais, as geotecnologias, através dos SIGs, são fundamentais na
produção de novas informações a partir de um banco de dados georreferenciado,
caso em que os dados dos levantamentos básicos – Planos de Informação – são
compilados a fim de inferir a informação final. Para alcançar tais resultados o
ambiente deve ser modelado através de uma análise multicritérial possibilitando uma
análise ambiental integrada dos múltiplos fatores que atuam sobre uma determinada
região.

A abordagem multicritérial pode ser considerada como um processo que integra


e transforma dados espaciais – Planos de Informação de entrada – em mapas finais
que auxiliam na tomada de decisão, sendo as regras de decisão é que definem as
relações entre os dados de entrada e os mapas finais resultantes. (VALENTE, 2005
apud MALCZEWSKI, 1999).

Para modelar as áreas de acordo com uma série de critérios definidos se faz
necessária à utilização de modelos de tomada de decisão fundamentados no
princípio da racionalidade, onde indivíduos e organizações seguem um
comportamento de escolha entre alternativas, baseado em critérios objetivos de
julgamento, cujo fundamento será satisfazer um nível pré-estabelecido de
aspirações. (CÂMARA et al, 2001).

Se o critério for determinado como um conjunto de regras determinísticas, é


oportuna a aplicação de operadores boleanos sobre o conjunto de mapas de
entrada. O resultado será um mapa binário – 0 ou 1; verdadeiro ou falso – uma vez
que cada área é classificada somente como sendo satisfatória ou não satisfatória, de
acordo com a satisfação ou não da função de pertinência aplicada.

Como alternativa, a avaliação pode ser feita de acordo com um critério de pesos,
resultando em uma graduação definida através de uma escala de acordo com o grau
de adequabilidade em vez da simples classificação binária – presença/ausência.
63

Diante da grande quantidade de estruturas lógicas de análise e integração de


dados georreferenciados em um SIG, é de fundamental importância à escolha
correta da forma de combinação dos dados que atenda as necessidades impostas.
Neste contexto, a técnica AHP - Analystic Hierarchy Process ou Processo Analítico
Hierárquico, desenvolvida por Saaty na década de 70, é considerada como sendo
uma das mais eficientes no processo de tomada de decisão, surgindo como uma
ferramenta de suporte a decisão eficaz na criação e organização de um modelo
racional de combinação de dados.

3.4.1.1. Lógica Boleana

O Modelo Boleano consiste na combinação de mapas temáticos – Planos de


Informação – para dar suporte a uma hipótese ou preposição. Nesse sentido, cada
entidade é testada por uma função de pertinência para determinar se as evidências
nesse ponto satisfazem ou não os parâmetros estabelecidos pela hipótese.

De acordo com Câmara et al. (2001), função de pertinência é uma função que
dado o valor de um atributo z, ela determina se o elemento avaliado pertence ou não
a um determinado conjunto em análise, ou seja, se para satisfazer uma hipótese à
função de pertinência é expressa pela equação 01.

Equação 01: Função de Pertinência

Fp(z) = 1 se Li < z < Ls


Fp(z) = 0 se z < Li ou z > Ls

Fonte: (CÂMARA et al. 2001).

Então teremos a situação ilustrada no gráfico 05, onde a hipótese é representada


em um plano cartesiano com eixos x e y, onde no eixo x é representada a variação
do atributo z, e no eixo y os possíveis valores para a função de pertinência (Fp). O
atributo z pertencerá ao conjunto de análise se a função de pertinência tiver
resultado igual a um, para tanto z tem que estar entre o limiar inferior (Li) e o limiar
superior (Ls). Para valores fora deste intervalo o resultado será igual a zero,
definindo o atributo como não pertencente ao conjunto em questão.
64

Gráfico 05: Gráfico de uma função de pertinência

Fonte: (CÂMARA et al. 2001).

Como visto neste exemplo na classificação Boleana os resultados obtidos são


binários: 0 ou 1, ou seja, “pertence” à classe ou “não pertence” à classe, “há risco”
ou “não há risco” e assim sucessivamente.

Uma forma de análise Boleana rotineiramente utilizada consiste na sobreposição


de Planos de Informação. Esse processo atua de maneira análoga à sobreposição
física de mapas numa mesa de luz, onde sucessões de combinações de planos de
informações formam uma trajetória com bifurcações denominada por XAVIER-DA-
SILVA (2001) como árvore de decisão, representando o caminho lógico de
organização de um raciocínio relativo a uma determinada ocorrência de uma
entidade ou evento ambiental.

Esse tipo de análise é realizada através dos operadores boleanos que consistem
em regras algébricas baseadas nos atributos de pertinência espacial dos elementos
representados na base de dados. A figura 06 ilustra os operadores boleanos
atuando sobre dois conjuntos.
65

Figura 06: Operadores Boleanos

Fonte: (MEIRELLES, 1997)

Já na figura 07 esses operadores são utilizados numa sucessão de combinações


ilustrando uma árvore de decisão onde são realizadas sucessivas avaliações de
pertinência, avaliando a inclusão ou exclusão de características ambientais que
denotam uma realidade ambiental.
66

Figura 07: Árvore de Decisão

Fonte: (XAVIER-DA-SILVA, 2001)

Para exemplificar a utilização dos operadores boleanos, usaremos um exemplo


de um estudo ambiental que visa identificar áreas com risco de erosão. A figura 08
67

ilustra a sobreposição dos planos de informação através dos operadores AND e OR


determinando as áreas com alto risco de erosão.

Figura 08: Aplicação do operador boleano AND e OR

Na sobreposição de Planos de Informação através de uma interseção boleana,


cada polígono ou pixel será analisado a partir dos parâmetros estabelecidos no input
do modelo, definindo se satisfazem ou não as três condições estabelecidas
simultaneamente.

Os resultados obtidos a partir deste tipo de modelagem podem não condizer com
a realidade, uma vez que uma classe que possui uma declividade de 9,9%, solo
arenoso e cobertura vegetal inferior a 50%, é definida como não sendo de alto risco,
pois não atende por completo a um dos parâmetros estabelecidos.

Esse talvez seja um dos maiores entraves para a utilização deste tipo de
modelagem, pois o resultado obtido possui fronteiras rígidas, refletindo uma
mudança abrupta na paisagem, fato esse que não existe na natureza. Isso faz com
que pequenas diferenças nos valores amostrados provoquem uma separação de
classes, fazendo com que áreas com características semelhantes sejam alocadas
em classes distintas.

Outro problema da utilização da lógica boleana em estudos ambientais


integrados é que cada critério utilizado na modelagem, possui o mesmo grau de
68

importância. No entanto, para refletir melhor a realidade as evidências devem ser


consideradas com diferentes pesos, de acordo com a importância relativa de cada
critério no processo de decisão.

Devido a essas características a lógica boleana não será utilizada neste trabalho
para determinar a vulnerabildade ambiental da área de estudo, uma vez que a
mesma não se mostrou eficaz na análise de ambientes complexos.

3.4.1.2. AHP – Analystic Hierarchy Process

Dentre os diversos métodos multicriteriais passiveis de integração com os SIG’s,


o AHP (Analystic Hierarchy Process) ou Processo Analítico Hierárquico foi o
escolhido para ser o principal método de integração de informações no estudo de
caso do presente trabalho. Dentre suas principais características podemos destacar:

• Permite comparação em vários níveis além de ser flexível quanto à


entrada e retirada de dados;
• Integra dados e é eficaz na combinação dos vários atributos a partir de
mapas;
• Possibilita a avaliação de um grande número de fatores quantitativos e
qualitativos, de maneira sistemática, através da estruturação de uma
hierarquização do problema;
• Permite definir a importância de cada critério no processo de decisão,
garantindo que sejam mantidas as preferências dos decisores.

O método AHP consiste na criação de uma hierarquia de decisão, sendo essa


hierarquia composta por níveis hierárquicos que permitem uma visão global das
relações inerentes ao processo. Para estabelecer a importância relativa de cada
fator da hierarquia são elaboradas matrizes de comparação para cada nível, onde os
resultados das matrizes são ponderados entre si.

Essa teoria foi desenvolvida por Thomas L. Saaty na década de 70, e definida
por ele como reflexo do que parece ser um método natural de funcionamento da
mente humana. Uma vez que, ao defrontar-se com um grande número de
elementos, controláveis ou não, que abrangem uma situação complexa, ela os
69

agrega em grupos, segundo propriedades comuns. Essa decomposição do problema


em grupos, ou níveis, foi definida por ele como hierarquia, isto é, um sistema de
níveis estratificados, cada um consistindo em tantos elementos, ou fatores. (SAATY,
1991).

O modelo hierárquico de Saaty (1980) consiste basicamente em um processo de


escolha baseada na lógica de comparação par a par (pairwise comparison), em que
diferentes fatores que influenciam na tomada de decisão são organizados
hierarquicamente, e comparados entre si, e um valor de importância relativa (peso) é
atribuído ao relacionamento entre estes fatores, conforme uma escala pré-definida
que expressa a intensidade com que um fator predomina sobre outro, em relação à
tomada de decisão.

Com base nesta comparação pareada, esta técnica pondera todos os elementos
e seus respectíveis níveis, calculando um valor de razão de consistência entre [0 e
0,1], onde “zero” indica a completa consistência do processo de julgamento
(CÂMARA et al. 2001).

O processo de decisão utilizando AHP desenvolve-se ao longo de cinco estágios,


listados a seguir e explicadas em maior nível de detalhe na seqüência: (Vide figura:
09).

• Estruturação da hierarquia de decisão;


• Construção da matriz de comparação pareada;
• Operacionalização da Matriz;
 Verificações de consistência;
 Definir o valor da importância relativa (peso) de cada fator.
• Priorização das alternativas.
70

Figura 09: Estágios do Processo AHP

Estruturação da Hierarquia de Decisão

De acordo com Saaty (1991) uma hierarquia é uma abstração da estrutura de um


sistema7 para estudar as interações funcionais de seus componentes e seus
impactos no sistema total.

Neste contexto a hierarquia passa a ser considerada como um tipo particular de


sistema, onde as entidades identificadas no sistema podem ser agrupadas em
conjuntos distintos, também chamadas de níveis, com as entidades de um grupo
influenciando as de outro grupo e sendo influenciadas pelas entidades de apenas
um outro grupo. (Vide figura 10)

7
Saaty (1991) considera o sistema quanto a sua estrutura (de acordo com a organização física,
biológica, social e até psicológica de suas partes, e de acordo com o fluxo do material e pessoas que
definem as relações e a dinâmica da estrutura); e função (de acordo com as funções a que os
componentes do sistema, seja ele animado ou inanimado, devem servir).
71

Figura 10: Hierarquia com K níveis

Fonte: Adaptado de (ZAHEDI, 1986).

Na figura 10 o “problema” é dividido em uma hierarquia composta por elementos


de decisão interrelacionados. No topo fica o objetivo; nos níveis inferiores da
hierarquia são listados os atributos que contribuem para a qualidade da decisão; nos
níveis mais inferiores esses atributos são mais detalhados; e no último nível são
indicadas às alternativas de decisão. Neste sentido os elementos com
características mais gerais são alocados nos níveis superiores, enquanto os que
caracterizam especificamente o problema são dispostos nos níveis de base. O
número de níveis de uma hierarquia vai depender da complexidade do problema e
do grau de detalhe que o analista necessita para solucionar o problema.

A organização do problema em uma hierarquia possibilita aos tomadores de


decisão avaliar com maior eficácia como mudanças nas prioridades de níveis mais
altos afetam a prioridade dos níveis mais baixos, além de proporcionar uma análise
mais eficiente dos sistemas naturais do que quando estruturados de forma geral.
72

Diante do exposto, se conclui que uma hierarquia representa a análise dos


elementos julgados de maior relevância dentro do contexto de um sistema, bem
como suas relações. Contudo, Saaty (1991) chama atenção para o fato da mesma
não ser o suficiente para o processo de planejamento ou tomada de decisões.
Sendo necessária a utilização de um método analítico para determinar a força com a
qual os vários elementos num nível influenciam os elementos do nível mais alto
seguinte, de modo que as forças relativas dos impactos dos elementos sobre o nível
mais baixo e sobre os objetivos gerais possam ser computadas.

Para determinar a importância relativa entre os elementos que compõem os


níveis de uma hierarquia, é definida uma relação de importância relativa entre as
evidências. Essa relação é utilizada como dado de entrada em uma matriz de
comparação pareada, onde serão definidos os pesos relativos dos elementos de
decisão.

Construção da Matriz de Comparação Pareada

De acordo com Silva et al. (2004) a técnica AHP baseia-se numa matriz
quadrada de n x n, de comparação entre os n critérios, onde as linhas e as colunas
correspondem aos critérios (na mesma ordem ao longo das linhas e ao longo de
colunas). Onde ai,j representa a importância relativa do critério da linha i face ao
critério de coluna j.

Neste sentido, Saaty (1991) define as condições necessárias para a comparação


de alternativas relativas a um conjunto de atividades C1, C2,...,Cn. Sendo o
julgamento quantificado dos pares Ci, Cj representados por uma matriz n x n.

1 a12 ... a1n


1/ a12 1 ... a2n
A= . . ... .
. . ... .
. . ... .
1/ a1n 1/ a2n 1

Assim, as regras que definem os elementos aij são:


73

• Se aij = α, então aji = 1/α, α≠ 0.


• Se Ci é julgado como de igual importância relativa à Cj, então aij = 1, aji =
1; e em particular, aii = 1 para todo i.

Definida a matriz de comparação pareada é possível determinar para n


contingências C1, C2,...,Cn um conjunto de pesos numéricos w1, w2 ..., wn que refletirão
os julgamentos registrados. Sendo as relações entre os pesos w1 e os julgamentos
aij dadas simplesmente pela equação a seguir.

Equação 02: Relação entre pesos

aij = w i (para i,j = 1,2, ..., n)


wj
Fonte: (SAATY, 1991).

De uma maneira geral, as matrizes de comparação pareada devem ser positivas


(se aij > 0), recíprocas (aij = 1/aij) e consistentes, isto é, satisfazer a propriedade de
transitividade, ou seja, se i é preferível a j e j é preferível a k, então i é preferível a k.
Satisfazendo a propriedade de consistência, onde a(i,j).a(j,k) = a(i,k),
respectivamente.

Os valores de entrada na matriz são obtidos com base na comparação dois-a-


dois dos fatores que influenciam a tomada de decisão, e um critério de importância
relativa é atribuído ao relacionamento entre estes fatores, conforme uma escala pré-
definida de 1 a 9. (Vide quadro 03).

Quadro 03: Escala de comparação de critérios

Intensidade de
Definição
Importância
MESMA IMPORTÂNCIA – As duas atividades contribuem
1
igualmente para o objetivo.

IMPORTÂNCIA PEQUENA DE UMA SOBRE A OUTRA – A


3 experiência e o julgamento favorecem levemente uma
atividade em relação a outra.
INPORTÂNCIA MUITO GRANDE OU ESSENCIAL – A
5 experiência e o julgamento favorecem fortemente uma
atividade em relação a outra.
74

IMPORTÂNCIA MUITO GRANDE OU DEMONSTRADA –


Uma atividade é muito fortemente favorecida em relação a
7
outra; sua dominação de importância é demonstrada na
prática.
IMPORTÂNCIA ABSOLUTA – A evidência favorece uma
9
atividade em relação a outra com o mais alto grau de certeza.
VALORES INTERMEDIÁRIOS ENTRE OS VALORES
2,4,5,8 ADJACENTES – Quando se procura por uma condição de
compromisso entre duas definições.
Recíprocos dos Se a atividade i recebe uma das designações diferentes acima
valores acima de de zero, quando comparada com a atividade j, então j tem o
zero valor recíproco quando comparado com i.
Se a consistência tiver de ser forçada para obter valores
numéricos n, para completar a matriz. Valores de 1,1, 1,2,
...,1,9, ou ainda mais refinados, podem ser utilizados para
Racionais
comparação de critérios extremamente próximos em grau de
importância, tal como para 2,0 até 2,9, etc, tornando quase
continua a escala de comparação.
Fonte: Adaptado de (SAATY, 1991).

No quadro 04 Silva et al. (2004), demonstra os critérios de importância relativa,


propostos por SAATY (1980) agrupados em valores de maior importância e de
menor importância, sendo o último referente ao valor recíproco do de maior
importância.

Quadro 04: Escala de comparação de critérios e seus recíprocos

1/9 1/7 1/5 1/3 1 3 5 7 9

Extremamente Bastante Muito Pouco Igual Pouco Muito Bastante Extremamente


MENOS IMPORTANTE MAIS IMPORTANTE

Fonte: (SILVA et al. 2004).

Saaty (1991) enumera quatro razões para escala de comparação de critérios ter
como limite inferior 1 e limite superior igual a 9:

• “As distinções qualitativas são significativas na prática e têm uma


característica de precisão quando os itens comparados
apresentam a mesma ordem de magnitude ou próximos com
relação à propriedade usada para fazer comparação”;
• “Notamos que nossa habilidade para fazer distinções qualitativas
é bem representada por cinco atributos: igual, fraco, forte e
absoluto. Podemos estabelecer compromissos entre os atributos
75

adjacentes quando uma precisão maior for necessária. A


totalidade requererá 9 valores e eles podem ser consecutivos – a
escala resultante seria, então, validada na prática”;
• “Com a finalidade de reforçar o item anterior, um método prático
frequentemente usado para avaliar itens, tem sido a classificação
de estímulos em uma tricotomia de sentimentos: rejeição,
indiferença, aceitação. Para melhor classificação, cada um destes
será dividido em uma tricotomia: baixo, médio e alto. Ao todo, são
indicadas 9 áreas de distinções significativas”;

8
“O limite psicológico de 7 + 2 itens em uma comparação
simultânea sugere que se tomarmos mais do que 7 + 2 itens,
satisfazendo o primeiro item, e se eles diferirem entre si
levemente, precisamos de 9 pontos para distinguir estas
diferenças”.

Definida a matriz de comparação pareada, onde foi determinada a importância


relativa para cada critério, avaliado dois-a-dois, se faz necessário avaliar a
consistência do julgamento, a fim de garantir que as preferências sejam efetivadas.
Caso o resultado seja considerado inconsistente os julgamentos devem ser
novamente analisados.

Operacionalização da Matriz

A operacionalização consiste no cálculo da consistência dos julgamentos


realizados no estágio anterior, onde foi definido o grau de importância relativa dos
critérios escolhidos para comporem a matriz de comparação pareada. Sendo
também neste estágio que é definido o vetor de prioridade (peso) dentro de cada
nível da hierarquia.

Para determinar a ordem de prioridade e a medida de consistência do


julgamento, Saaty (1991) estabeleceu como autovetor (eigenvectors) o cálculo a
partir da matriz de comparação pareada que quando normalizado torna-se vetor de
prioridade. Já a medida de consistência do julgamento é determinada pelo autovalor
(eigenvalue) que pode ser usado em estimativa da consistência como um reflexo da
proporcionalidade das preferências.

8
Este limite foi proposto por MILLER (1956 apud SAATY, 1991), como resultado de seu experimento
na área da psicologia, em que um indivíduo não é capaz de fazer comparações simultâneas entre 7
objetos (mais ou menos 2), sem ficar confuso.
76

Saaty (1991) propõe quatro métodos para a definição do autovetor. O escolhido


para ser aplicado no presente trabalho consiste na multiplicação dos n elementos de
cada linha da matriz de decisão e obtenção da raiz n-ésima, sendo em seguida
normalizados. (Vide equação 03)

Equação 03: Autovetor

Fonte: (SILVA et al. 2004).

Já o autovalor, utilizado nas matrizes pareadas é o autovalor principal,

representado por , que corresponde ao de maior valor numérico, que é obtido


pela equação 04.

Equação 04: Autovalor máximo

Fonte: (SILVA et al. 2004)

Onde:

= Autovalor máximo da matriz;


n = ordem da matriz;
W = vetor de pesos pretendido;
W’ = vetor de pesos pretendido multiplicado pela matriz.

O autovalor é usado como estimativa de consistência, como um reflexo da


proporcionalidade das preferências. Neste sentido para uma matriz ser consistente é
necessário que seu autovalor seja aproximadamente igual n (número de atividades
consideradas na matriz).

Para garantir a consistência do resultado o autovalor não deve ultrapassar 5% de


n, pois a partir deste limite o autovalor passa a desequilibrar a consistência da
matriz. (Vide quadro 05)
77

Quadro 05: Variação da consistência em relação ao percentual acrescido a n

ERRO (%) IC RC
1 5,05 0,01 0,01
2 5,10 0,03 0,02
3 5,15 0,04 0,03
4 5,20 0,05 0,04
5 5,25 0,06 0,05
6 5,30 0,07 0,06
7 5,35 0,09 0,08
8 5,40 0,10 0,09
9 5,45 0,11 0,10
10 5,50 0,13 0,11

Saaty (1991) estabelece um índice de consistência (IC) para mensurar a


coerência da matriz de comparação, representado pela equação 05. Quanto mais
próximo de 0, maior o IC da matriz.

Equação 05: Índice de consistência

Fonte: (SAATY, 1991)

Com base em estudos realizados inicialmente no laboratório de Oak Ridge, foi


criado o Índice Randômico – IR, medido para matrizes de ordem 1-15 usando uma
amostra de tamanho 100. Saaty refez esse índice na escola de Wharton, fazendo
uso de uma amostra de tamanho 500 até uma matriz de 11 por 11, acrescido dos
resultados de Oask Ridge para n = 12, 13, 14, 15. (Vide quadro 06)

Quadro 06: Índice Randômico

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
0,00 0,00 0,58 0,90 1,12 1,24 1,32 1,41 1,45 1,49 1,51 1,48 1,56 1,57 1,59

Fonte: (SAATY, 1991)


78

Para possibilitar a avaliação do grau de violação da proporcionalidade e


transitividade dos julgamentos é necessário calcular a Razão de Consistência – RC,
expressa na equação 06 que para ser aceitável deve ter resultado inferior 0,10.

Equação 06: Razão de consistência

Fonte: (SAATY, 1991)

Se os resultados do IC e da RC não forem satisfatórios é necessário rever as


informações dos critérios de avaliação da matriz, ou seja, rever o julgamento dos
elementos ou das somas das linhas da matriz com as maiores diferenças.

Outra alternativa é formar um desvio da media quadrática da raiz usando as


linhas de (ai,j) e (wi/wj) e rever os julgamentos para a linha com maiores valores.
Para chegar a consistência desejada, esse processo propõe substituir todos ai,j na
linha em questão pelo correspondente wi/wj e recalcular o vetor de prioridade.

Se a matriz não atender as condições de consistência supracitadas, devem ser


obtidas maiores informações ou mesmo reexaminar o arranjo da hierarquia. No caso
da obtenção de resultados satisfatórios, os autovetores obtidos podem ser utilizados
para a priorização das alternativas.

Priorização das Alternativas

Este estágio é o último do processo de tomada de decisão utilizando o método


AHP. Nesta etapa os autovetores resultantes da matriz de comparação pareada
serão utilizados para compor a classificação final. Visto que eles manifestam a
ordem de importância relativa para cada fator considerado.

De posse destes autovetores (pesos) essas informações são inseridas em um


SIG para realização do cruzamento dos PI’s, gerando um resultado diferente do
cruzamento realizado com uso do método boleano. Visto que, no método boleano
cada entidade é testada por uma função de pertinência para determinar se as
evidências nesse ponto satisfazem ou não os parâmetros estabelecidos pela
79

hipótese, tendo como resultado um mapa binário – 0 ou 1; verdadeiro ou falso –


neste sentido cada área é classificada somente como sendo satisfatória ou não
satisfatória, de acordo com a satisfação ou não da função de pertinência aplicada.

Já o cruzamento de PI’s com o uso dos pesos obtidos pela técnica AHP, tem
como resultado uma graduação definida através de uma escala de acordo com o
grau de adequabilidade (nula, baixa, moderada, alta e muito alta), em vez da simples
classificação binária (presença e ausência). Neste processo as escolhas entre as
alternativas são baseadas em critérios objetivos de julgamento, cujo fundamento é
satisfazer um nível pré-estabelecido de aspirações.

Em suma a utilização do método AHP para suporte a decisão, através do


Geoprocessamento, consiste na avaliação dos PI’s de entrada para alocação de
suas classes em um hierarquia. As classes que compõe os planos de informação
são avaliadas de forma pareada e inseridas em uma matriz de comparação. Se a
matriz não obtiver a consistência desejada é necessária reavaliar a matriz, caso a
consistência seja positiva, os autovetores resultantes determinarão a importância
relativa entre os elementos que compõem os níveis da hierarquia, definindo a
relação de importância entre cada evidência considerada. De posse desta
informação é realizado o cruzamento dos PI’s pelo SIG. Neste processo cada classe
temática será avaliada considerando o peso a ela atribuído. (Vide figura 11)

O resultado é um PI que exprime soluções compatíveis com as características da


paisagem em questão, pois além de analisar os elementos que compõem a
paisagem esse método analisa as interações entre os elementos.
80

Figura 11: Utilização do método AHP para suporte a decisão

PI’s de
Entrada

PI de Saída
81

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. Material
4.1.1. Imagem Orbital

Para realizar o mapeamento da vegetação bem como do uso e ocupação da área


de estudo, foi utilizada uma imagem orbital do satélite SPOT-5, desenvolvido pela
França através de um convênio entre o CNES – Centre National d’Estudes Spatiales
e o Programa de Satélite de Observação Militar HELIOS II, imageada em setembro
de 2004. (Vide Figura 12)

Figura 12: Imagem Orbital SPOT-5 – Recorte da Sede Municipal de Pacoti

As imagens do SPOT-5 apresentam uma resolução superior a de seus


antecessores (SPOT-1, SPOT-2, SPOT-3 e SPOT-4) devido o funcionamento de
dois instrumentos HRG (High-Resolution Geometric), que possibilita a aquisição de
imagens de maior resolução na banda pancromática (5 metros) e no modo
“supermode9” (2,5 metros). Cada um dos dois instrumentos recobre uma faixa de 60
Km no solo, dentro de um corredor potencial de visibilidade de ±420 km. Da mesma

9
“Supermode” é um conceito desenvolvido pelo CNES para as imagens geradas com resolução de
até 2,5m, produto do sensor HRG do satélite SPOT-5.
82

forma que os sensores dos antecessores do SPOT 5, os instrumentos HRG podem


imagear igualmente em modo multiespectral em 4 bandas (faixa espectral da luz
verde, vermelho, infravermelho próximo e infravermelho médio).

Os telescópios do instrumento HRG trabalham com resolução de 5m para


imagens em P&B e 10m para imagens multiespectrais. A opção de funcionamento
em "supermode" é possível usando um novo conceito de imageamento, que consiste
em duplicar e deslocar de ½ pixel os detectores CCD que já existem no modo
Pancromático em 5 metros de resolução. Esta tecnologia permite que sejam
captadas duas vezes mais informações da área imageada, e por processamento de
imagem feito em Terra, alcança a resolução espacial de 2,5 metros.

4.1.2. Ortofotocartas

Ortofotocarta pode ser definida como uma Ortofoto, ou seja, uma fotografia aérea
retificada, complementada com a adição de referências cartográficas como curvas
de nível, legenda, malha de coordenadas e toponímia, equivalente a um mapa
convencional. A retificação do fotograma é realizada, ponto por ponto, através de
uma varredura em faixas sucessivas, modificando constantemente a escala de
ampliação em função da altura do vôo sobre o terreno, sendo o controle da altura
feito por um Restituidor comum (Vide figura 13), adaptado para comandar o projetor
ortofoto. (ROCHA, 2000)

Figura 13: Restituidor

Fonte: (ROCHA, 2000)


83

O Ortoprojetor permite a interpretação dos perfis do terreno, obtidos através da


leitura de uma malha de pontos sobre o modelo estereoscópico, possibilitando a
utilização destes perfis na retificação diferencial da imagem, sendo possível gerar
Ortofotos ampliadas em até quatro vezes a escala original de vôo.

Neste contexto, foi utilizada como base altimétrica para o presente estudo as
Ortofotocartas do Projeto de Desenvolvimento do Sistema Fundiário Nacional,
realizado através do convênio firmado entre o INCRA – Instituto Nacional de
Reforma Agrária e o IDACE – Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará, como
pode ser visto na figura 14.

Figura 14: Ortofotocarta – Recorte da Sede Municipal de Pacoti

As Ortofotocartas deste projeto foram confeccionadas na escala de 1: 10.000, a


partir das fotografias aéreas da área de estudo levantadas no ano de 1988 com
escala aproximada de vôo de 1: 32.500. Quanto às características cartográficas, as
mesmas possuem Projeção Universal Transversa de Mercator, elipsóide de
referência UGGI 1967, Datum horizontal vértice chuá (MG) e Datum vertical
maréografo de Ibituba (SC).
84

Para utilização deste material no presente estudo foi necessária à conversão das
Ortofotocartas analógicas para o formato digital, através do processo de
escanerização, a fim de possibilitar as edições necessárias para compatibilizar essa
base com as demais. Após esse processo de conversão para formato digital foi
realizada uma nova retificação para o Datum horizontal South American 1969, fuso
24 sul e meridiano central 39°W.GR, permanecendo a Projeção Plana Universal
Transversa de Mercator e o Datum vertical maréografo de Ibituba.

4.1.3. Equipamentos de Campo

Durante a etapa de campo foram utilizados equipamentos como receptor GPS,


máquina fotográfica, bússola e altímetro, sendo sua utilização descrita abaixo.

O receptor GPS foi utilizado para realizar o georreferenciamento dos pontos


notáveis da área de estudo e em especial das amostras utilizadas no processo de
classificação supervisionada da imagem orbital do satélite SPOT-5. O Sistema de
Posicionamento Global, conhecido por GPS (Global Positioning System) ou
NAVSTAR-GPS (Navigation Satellite with Time And Ranging) que é um sistema de
radio-navegação foi desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos
da América (DoD-Department Of Defense), visando ser o principal sistema de
navegação do exército americano. Atualmente o sistema é utilizado nas mais
variadas aplicações civis, como navegação, posicionamento geodésico e
topográfico, etc. (CEUB/IPCD, 2006).

De posse dos pontos coletados com o uso do receptor GPS foram atribuídas aos
mesmos uma série de informações, como fotografia digital da área, sentido da
fotografia (determinado a partir de uma bússola) e a altitude do ponto (aferida por um
altímetro).

4.1.4. Sistemas Computacionais

Durante a realização dos trabalhos foram utilizados diversos sistema


computacionais aplicados ao Geoprocessamento, onde cada um foi responsável
pela elaboração de uma determinada etapa do trabalho.
85

No quadro 07 estão expressos todos os softwares utilizados no decorrer do


estudo e as suas respectivas aplicações.

Quadro 07: Softwares utilizados

SOFTWARE APLICAÇÃO
Utilizado para receber as informações de campo coletadas
TrackMaker
com GPS (trilhas e pontos).

ENVI 4.0 Equalização e recorte da imagem orbital SPOT-5.

Classificação da imagem orbital e definição das APP’s de


SPRING 4.3
Topo de Morro.
Buffer das APP’s de rio e lagoa/açude; banco de dados;
ArcGis 9.0
georreferenciamento e apresentação final.
Cruzamento dos PI’s para definição das classes de
ArcView 3.2
vulnerabilidade.

4.2. Métodos
4.2.1. Geração dos Planos de Informação
4.2.1.1. Vegetação / Uso e Ocupação do Solo

O mapeamento da Vegetação / Uso e Ocupação da área de estudo foi realizado


através do emprego de técnicas de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento,
organizadas em três etapas de trabalho.

A primeira etapa consistiu na aquisição e tratamento das informações utilizadas


na confecção deste PI. Para tanto foi utilizada como base para o mapeamento, uma
imagem orbital do satélite SPOT-5 imageada em setembro de 2004. Para utilizar
essa imagem como base para o mapeamento foi necessário submetê-la a uma
equalização, a fim de melhorar a identificação das feições a olho nu, bem como
correção geométrica da mesma. Na equalização da imagem foi utilizado um filtro
linear de 2%, e para a correção geométrica foi usado um modelo de transformação
polinomial de segundo grau, com reamostragem de pixel do tipo vizinho mais
próximo, devido sua característica de preservar o valor original dos números digitais,
uma vez que não envolve nenhuma média.
86

Os pontos de controle utilizados na correção geométrica foram retirados das


ortofotocartas do Projeto de Desenvolvimento do Sistema Fundiário Nacional,
realizado através do convênio firmado entre o INCRA e o IDACE, fotografadas no
ano de 1988. Para definição dos pontos de controle foi levada em consideração a
disparidade temporal entre as ortofotocartas e a imagem do satélite SPOT-5. Neste
sentido, os pontos de controle foram distribuídos por toda imagem, posicionados em
construções que não sofreram alterações dentro deste intervalo de tempo, tais como
pontes e intersecções na malha viária como pode ser visto na figura 15.

Ortofotocarta Imagem SPOT-5

Figura 15: Posicionamento dos Pontos de Controle

De posse da imagem tratada foi realizado o cruzamento da mesma com a carta


digitalizada da SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, folha
SB.24-X-A-I, para confecção de uma carta imagem utilizada para orientação em
campo na próxima etapa.

Na segunda etapa, a partir da carta imagem, gerada na etapa anterior, foram


aferidas em campo as feições existentes na área de estudo. Neste sentido, foram
87

realizadas três visitas de campo com a finalidade de coletar as amostras10 utilizadas


na classificação supervisionada da imagem do satélite SPOT-5.

O critério utilizado para realizar uma cobertura significativa da área de estudo, foi
à identificação na carta imagem, através da observação das diferentes respostas
espectrais da mesma, das áreas prioritárias a serem visitadas, sendo também
adquiridas amostras no percurso entre estas áreas pré-identificadas na carta
imagem, totalizando um total de 92 amostras distribuídas por toda a área de estudo,
como pode ser visto no mapa 04.

As informações obtidas em campo foram organizadas em uma planilha de campo


contendo os seguintes itens:

• Código do Ponto
• Coordenadas da amostra;
• Altitude;
• Sentido da fotografia;
• Data;
• Descrição do local.

Para identificação das amostras coletadas durante as três visitas de campo foi
criado um código de identificação da amostra, atribuído para cada ponto
georreferenciado em campo, cuja estrutura pode ser observada na figura 16.

Figura 16: Código dos Pontos Amostrais

10
A amostra consiste na identificação em campo das classes a serem mapeadas. Essas amostras
são georreferenciadas e fotografadas e irão orientar o software SPRING 4.3 na classificação
supervisionada da imagem orbital.
88

Após uma depuração dos pontos coletados durante as três visitas de campo
foram identificados 92 pontos amostrais, sendo 13 identificados no primeiro campo,
34 no segundo e 45 no último, conforme pode ser visto no quadro 08.

Quadro 08: Pontos Amostrais

COODENADAS
PONTO ALTITUDE SENTIDO DATA DESCRIÇÃO
E N

C01P001 510403 9537088 550 E 11/09/05 Cultivo de Banana


C01P002 510410 9534910 691 SE 11/09/05 Cultivo de Chuchu
C01P003 509202 9533391 730 SE 11/09/05 Área Desmatada Para Cultivo Anual
C01P004 509233 9533260 760 E 11/09/05 Campo de Futebol
C01P005 509326 9533232 760 E 11/09/05 Mata Úmida Degradada
C01P006 509744 9533048 720 N 11/09/05 Mata Úmida Parcialmente Degradada
C01P007 507822 9534855 761 NE 11/09/05 Café Sombreado
C01P008 507613 9533436 744 E 11/09/05 Cultivo de Chuchu em Área de Várzea
C01P009 507612 9533169 740 E 11/09/05 Cultivo Anual em Área de Várzea
C01P010 507604 9533019 740 NE 11/09/05 Mata Úmida Parcialmente Degradada
C01P011 507562 9532698 780 N 11/09/05 Mata Úmida Parcialmente Degradada
C01P012 508126 9532986 730 N 11/09/05 Restaurante Parada do Lago
C01P013 508658 9532974 730 N 11/09/05 Igreja Matriz de Pacoti
C02P001 512800 9532000 672 O 26/02/06 Igreja do Distrito de Santa Ana
C02P002 510474 9532436 720 SE 26/02/06 Cultivo de Chuchu
C02P003 510526 9533472 740 NO 26/02/06 Cultivo de Chuchu
C02P004 510474 9534201 739 N 26/02/06 Cultivo de Banana
C02P005 510392 9533931 757 N 26/02/06 Localidade de Boa Vista
C02P006 510490 9533421 740 N 26/02/06 Localidade de Bom Jardim
C02P007 511285 9532258 703 O 26/02/06 Mata Úmida Conservada
C02P008 511784 9531995 680 SE 26/02/06 Cultivo de Chuchu
C02P009 512191 9532325 680 NO 26/02/06 Casarão Centenário
C02P010 512797 9531544 678 N 26/02/06 Mata Úmida Degradada
C02P011 515390 9531443 667 N 26/02/06 Mata Úmida Degradada
C02P012 515414 9531703 670 N 26/02/06 Localidade de Areias
C02P013 515617 9532227 657 SE 26/02/06 Mata Úmida Degradada
C02P014 515759 9532363 630 SE 26/02/06 Cultivo de Banana
C02P015 515958 9532464 630 NE 26/02/06 Cultivo Anual
C02P016 516135 9532329 648 SO 26/02/06 Cultivo Anual
C02P017 515833 9532445 626 NO 26/02/06 Mata Úmida Degradada
C02P018 513706 9531416 674 N 26/02/06 Mata Úmida Parcialmente Degradada
C02P019 512633 9531557 680 N 26/02/06 Antigo Engenho de Cana de Açúcar
C02P020 510480 9534479 709 N 27/02/06 Cultivo de Chuchu
C02P021 510489 9534407 711 S 27/02/06 Mata Úmida Degradada
C02P022 510442 9534572 706 O 27/02/06 Cultivo de Chuchu
C02P023 511359 9533662 763 NE 27/02/06 Lagoa
Cultivo de Chuchu Avançando Sobre a
C02P024 511241 9533338 752 NO 27/02/06
Mata
C02P025 511182 9533813 770 NE 27/02/06 Mata Úmida Parcialmente Degradada
C02P026 509343 9531228 757 SO 27/02/06 Mata Úmida Degradada
C02P027 509042 9531187 760 N 27/02/06 Mata Úmida Degradada
89

C02P028 508608 9530749 790 N 27/02/06 Mata Úmida Conservada


C02P029 509686 9533969 740 O 28/02/06 Cultivo de Chuchu
C02P030 509607 9534281 793 NE 28/02/06 Cultivo de Chuchu
C02P031 509070 9533727 754 E 28/02/06 Cultivo de Hortaliças
C02P032 507327 9532601 812 N 28/02/06 Mata Úmida Parcialmente Degradada
C02P033 507688 9536010 746 E 28/02/06 Cultivo de Chuchu
C02P034 507639 9535836 753 SE 28/02/06 Área Recentemente Desmatada
C03P001 523666 9546351 108 SO 29/04/06 Massas de Ar Barradas Pelo Maciço
C03P002 509832 9538828 550 S 29/04/06 Cultivo de Banana
C03P003 507980 9539612 550 NE 29/04/06 Cultivo de Banana e Cultivo Anual
C03P004 507078 9540599 580 S 29/04/06 Cultivo de Banana
C03P005 506471 9540955 633 NE 29/04/06 Cultivo de Banana
C03P006 505941 9540964 666 SE 29/04/06 Cultivo de Banana
C03P007 505921 9540934 670 NO 29/04/06 Mata Seca Degradada
C03P008 505698 9540934 692 N 29/04/06 Cultivo Anual (Milho)
C03P009 505584 9540716 688 NO 29/04/06 Mata Úmida Degradada
C03P010 505497 9540471 717 E 29/04/06 Mata Úmida Degradada
C03P011 505563 9540462 708 SE 29/04/06 Área Desmatada Para Cultivo Anual
C03P012 506730 9541237 664 O 29/04/06 Cultivo de Banana
Plantio de Milho Associado com Cultivo de
C03P013 507178 9541585 602 NO 29/04/06
Banana
C03P014 507230 9541855 580 N 29/04/06 Cultivo Anual (Milho)
C03P015 506658 9541165 673 NE 29/04/06 Mata Seca Parcialmente Degradada
C03P016 506721 9540840 615 S 29/04/06 Distrito de Colina
C03P017 506744 9540770 606 S 29/04/06 Cultivo Anual (Milho)
C03P018 507575 9540480 550 N 29/04/06 Mata Úmida Degradada
C03P019 507011 9539411 550 N 29/04/06 Cultivo Anual (Milho)
C03P020 509528 9538587 579 SE 29/04/06 Cultivo Anual (Milho)
C03P021 508575 9537573 769 SO 29/04/06 Antiga Área de Cultivo Anual
C03P022 507330 9537260 826 NE 29/04/06 Mata Úmida Degradada
C03P023 506314 9537469 780 S 29/04/06 Localidade de Pombas (Parque São José)
C03P024 506165 9537982 735 SO 29/04/06 Mata Úmida Degradada
C03P025 506298 9537220 810 O 29/04/06 Eucalipto Curvado Pelo Vento
C03P026 506081 9536898 887 SO 29/04/06 Mata Úmida Degradada
C03P027 506230 9536073 958 SO 29/04/06 Mata Úmida Parcialmente Degradada
C03P028 506012 9535597 886 NO 29/04/06 Mata Úmida Degradada
C03P029 506877 9537005 860 SO 29/04/06 Mata Úmida Degradada
C03P030 506877 9537005 860 E 29/04/06 Mata Úmida Degradada
C03P031 509105 9537689 715 E 29/04/06 Distrito de Fátima (Icó)
C03P032 509574 9538833 553 O 30/04/06 Cultivo de Banana
C03P033 508956 9536659 688 NO 30/04/06 Cultivo de Banana em um dia chuvoso
C03P034 508932 9536642 690 N 30/04/06 Cultivo de Pastagem Para Gado
C03P035 509001 9536427 701 E 30/04/06 Cultivo de Banana
C03P036 508887 9536134 648 E 30/04/06 Cultivo Anual (Milho)
C03P037 509802 9536314 600 N 30/04/06 Mata Úmida Conservada
C03P038 510035 9536345 590 SE 30/04/06 Babaçu
C03P039 510422 9536369 594 E 30/04/06 Babaçu
C03P040 511323 9534549 778 SE 30/04/06 Cultivo Anual (Milho)
C03P041 511303 9534540 780 SE 30/04/06 Vale
C03P042 512664 9535356 755 N 30/04/06 Localidade de Rolador
C03P043 511832 9535184 820 NE 30/04/06 Mata Úmida Degradada
C03P044 511330 9534472 780 S 30/04/06 Mata Úmida Degradada
C03P045 510417 9535648 686 NE 30/04/06 Mata Úmida Parcialmente Degradada
506000 508000 510000 512000 514000 516000
9542000

9542000
CA03PO014

CA03PO013

CA03PO012
CA03PO006
CA03PO015
CA03PO007
CA03PO005
CA03PO008 CA03PO016
CA03PO009 CA03PO017
Colina CA03PO004
CA03PO010 CA03PO011 CA03PO018
9540000

9540000
CA03PO003
CA03PO019

CA03PO032
CA03PO002

CA03PO020
9538000

9538000
CA03PO024 Fátima (Icó)
CA03PO021
CA03PO023 CA03PO031
CA03PO022
CA03PO025
CA01PO001
CA03PO029
CA03PO026 CA03PO030 CA03PO033
CA03PO034

CA03PO035 CA03PO039
CA03PO036 CA03PO038
9536000

9536000
CA03PO037
CA03PO027 CA02PO033
CA02PO034
CA03PO028 CA03PO045 Rolador

CA03PO042
CA03PO043
CA01PO002
CA01PO007
CA03PO040 CA03PO041
CA02PO020 CA02PO022
CA03PO044
CA02PO030 CA02PO021
CA02PO004
9534000

9534000
CA02PO029
CA02PO031 CA02PO005 CA02PO025
CA02PO023
CA02PO003
CA01PO008 CA01PO003
CA01PO004 CA02PO006
CA02PO024
CA01PO009 CA01PO005
CA01PO013
CA01PO010 CA01PO006
CA01PO012 Granja
CA01PO011 CA02PO017 CA02PO015
CA02PO032 PACOTI CA02PO002 CA02PO009 CA02PO014
CA02PO016
9532000

9532000
CA02PO007 CA02PO013
CA02PO001
CA02PO008 Santana
CA02PO010 CA02PO012
CA02PO019 CA02PO018
CA02PO026 CA02PO011
CA02PO027

CA02PO028
9530000

9530000

506000 508000 510000 512000 514000 516000

LEGENDA
Universidade Estadual do Ceará
Zona Urbana Hidrografia
Sede Rio / Riacho Especialização em Geoprocessamento Aplicado a
Distrito Lagoa / Açude Análise Ambiental e Recursos Hídricos
Localidade Município: Data:
Pontos de Campo Pacoti Geoprocessamento Aplicado ao Mapeamento de Agosto/2006
Estrada Vulnerabilidade Ambiental: Uma Análise Integrada do Autor:
Estado: Ceará Ambiente no Município de Pacoti - CE Cristiano Alves
Não Pavimentada Orientador:
Escala: 1/50.000
Pavimentada João Silvio Dantas
Pontos de Campo - Amostras
Datum:
SAD69 - 24S
Mapa:
04
91

A classificação da vegetação foi realizada com base na classificação de Souza in


(CEARÁ. FNMA/FCPC, 1994) que apresenta à existência de duas classes distintas
de vegetação nesta região, sendo elas a vegetação Arboreto Estacional Sub-
caducifólio ou (Mata Seca) e a vegetação Arboreto Climático Perenifólio (Mata
Úmida). Devido à constatação em campo de intenso processo de degradação
vigente, estas formações vegetais foram subdivididas em três classes cada uma, de
acordo com o estágio de conservação das mesmas, totalizando seis classes
vegetacionais. No tocante as classes de Uso e Ocupação do solo, foram também
identificadas seis classes distintas, como podem ser constatadas na tabela 03.

Tabela 03: Classes Mapeadas do PI Vegetação / Uso e Ocupação

VEGETAÇÃO ÁREA (ha) %


Mata Úmida Conservada 983,00 15,92
Mata Úmida Parcialmente Degradada 2.838,71 45,97
Mata Úmida Degradada 1.005,19 16,28
Mata Seca Conservada 20,68 0,33
Mata Seca Parcialmente Degradada 49,89 0,81
Mata Seca Degradada 117,48 1,90
USO E OCUPAÇÃO ÁREA (ha) %
Bananeira 399,02 6,46
Chuchu 168,83 2,73
Cultivo Anual (Feijão, Milho, Arroz, Hortaliças) 541,39 8,77
Zona Urbana 31,82 0,52
Desmatamento 7,17 0,12
Corpo d'água (Açude, Lagoa) 11,82 0,19

Na terceira e última etapa, foi realizada uma classificação supervisionada da


imagem orbital do satélite SPOT-5 a partir das amostras identificadas em campo. De
acordo com o Tutorial de Geoprocessamento do DPI/INPE - Divisão de
Processamento de Imagens, Brasil (2006), a classificação consiste no processo de
extração de informações de imagens para reconhecer padrões e objetos
homogêneos e é utilizada em Sensoriamento Remoto para mapear áreas da
superfície terrestre que correspondem aos temas de interesse. Neste contexto, a
classificação supervisionada é realizada a partir do treinamento, ou seja, do
reconhecimento da assinatura espectral das classes, que é realizado com base nas
regiões da imagem em que o usuário dispõe de informações que permitem a
identificação de uma classe de interesse.
92

Com base nestas informações foi realizado um treinamento a partir da


identificação das amostras representativas de cada classe. Para aumentar a
precisão da classificação supervisionada foram coletas diversas amostras
espalhadas por toda a imagem, procurando identificar amostras homogêneas, mas
ao mesmo tempo incluindo o máximo possível da variabilidade dos níveis de cinza.

A identificação das amostras foi realizada sobre uma imagem segmentada11 de


similaridade12 10 e área 80. Para realizar essa segmentação, inicialmente este
processo rotulou cada pixel como uma região distinta e posteriormente calculou a
partir de uma similaridade de valor 10 cada par de regiões adjacente espacialmente.
Por fim a imagem foi dividida em um conjunto de sub-imagens e então realizada a
união entre elas, segundo um limiar de agregação definido, no caso 80.

Definidas as amostras de acordo a segmentação da imagem orbital foi utilizado


um classificador por região que além da informação espectral de cada "pixel", utiliza
a informação espacial que envolve a relação entre os "pixels" e seus vizinhos. Os
classificadores por região procuram simular o comportamento de um foto-intérprete,
ao reconhecer áreas homogêneas de imagens, baseados nas propriedades
espectrais e espaciais de imagens. A informação de borda é utilizada inicialmente
para separar regiões e as propriedades espaciais e espectrais une as áreas com
mesma textura.

O classificador utilizado foi o Battacharya que é o algoritmo disponível no


SPRING para classificar regiões de uma imagem segmentada. De acordo com o
Tutorial do SPRING, Brasil (2006), este classificador utiliza a medida da distância de
Battacharya, para medir a separabilidade estatística entre um par de classes
espectrais. Ou seja, mede a distância média entre as distribuições de probabilidades
de classes espectrais.

11
O processo de segmentação consiste na divisão da imagem em regiões que correspondem às
áreas de interesse. Entende-se por regiões um conjunto de pixels contíguos, que se espalham
bidirecionalmente e que apresentam uniformidade. Já a divisão em porções consiste basicamente em
um processo de crescimento de regiões, que é uma técnica de agrupamento de dados, na qual
somente as regiões adjacentes espacialmente podem ser agrupadas. Tutorial SPRING – INPE,
(BRASIL, 2006).
12
O critério de similaridade baseia-se em um teste de hipótese estatístico que testa a média entre as
regiões.
93

Como resultado desta classificação foi gerado o PI de Vegetação / Uso e


Ocupação da área de estudo (mapa 05). Como pode ser observado neste mapa,
existe uma predominância na região da feição vegetacional denominada Mata
Úmida, com destaque para a classe Mata Úmida Parcialmente Degradada (foto 07)
que abrange uma área de 2.838,71 hectares, que equivale a 45,97% da área total
estudada e 58,80% da vegetação classificada como Mata Úmida. Já a classe Mata
Úmida Degradada (foto 08) apresentou uma área de 1.005,19 hectares, que
equivale a 16,28% da área de estudo e 20,83% da vegetação de Mata Úmida. Ainda
referente à Mata Úmida, apenas 983 hectares foram classificados como conservado
(foto 06), correspondendo a 15,92% da área total e 20,37% desta vegetação. Com
base nestes dados fica evidente a forte degradação desta vegetação, principalmente
na porção norte da área de estudo, entre os distritos de Fátima e Colina, assim como
na porção nordeste, nas proximidades da localidade de Rolador, onde foram
detectados os maiores índices de desmatamento.

Foto 06: Mata Úmida Conservada

Foto do autor / fevereiro de 2006.


Ponto: C02P028 – Coordenadas: E508608; N9530749.
Local: Sítio Horizonte Belo – Porção sudoeste da área de
estudo.
94

Foto 07: Mata Úmida Parcialmente Degradada

Foto do autor / fevereiro de 2006.


Ponto: C02P032 – Coordenadas: E507327; N9532601.
Local: Margem da CE-065 entre Pacoti e Guaramiranga.

Foto 08: Mata Úmida Degradada

Foto do autor / fevereiro de 2006.


Ponto: C02P011 – Coordenadas: E 515390; N 9531443.
Local: Proximidades da Localidade de Areias - Porção
sudeste da área de estudo.
95

Quanto à vegetação de Mata Seca, esta foi identificada somente no extremo


norte da área de estudo, que corresponde à vertente oriental do maciço, divisa
municipal com Caridade. A vegetação de Mata Seca, de acordo com o mapeamento
realizado, possui uma área total de 188,05 hectares, onde 62,47% são áreas
classificadas como Mata Seca Degradada (foto 09) e 26,53% de Mata Seca
Parcialmente Degradada, sendo apenas 11% classificadas como Mata Seca
Conservada. Essa intensa degradação é conseqüência de um intenso processo de
desmatamento e queimadas realizadas pelos agricultores, onde a vegetação é
suprimida para dar lugar a cultivos de curto período, como milho, arroz e feijão, e
principalmente extensos cultivos de banana.

Foto 09: Mata Seca Degradada

Foto do autor / abril de 2006.


Ponto: C03P007 – Coordenadas: E 505921; N 9540934.
Local: Proximidades do Distrito de Colina – Porção norte
da área de estudo.

As classes de Uso e Ocupação mapeadas foram: Cultivo de Banana, Cultivo de


Chuchu, Cultivo Anual, Desmatamento e Corpos d’água. No tocante ao plantio de
banana, foram mapeados 399,02 hectares desta cultura, sendo sua maior
concentração na porção norte da área de estudo, entre os distritos de Fátima e
Colina (foto 10). O cultivo de banana nesta região se dá principalmente em áreas
96

com declividade inadequada, favorecendo processos erosivos como ravinas e


voçorocas.

Já o cultivo do chuchu, esta presente principalmente na porção sul da área


estudada, onde estão os níveis altimétricos mais elevados, totalizando uma área de
168,83 hectares. Nestas regiões prevalece o cultivo nos interflúvios dos rios e
riachos (foto 11), devido à topografia menos acidentada, o que ocasiona além da
contaminação da água por agrotóxicos um assoreamento destes recursos causado
pelo desmatamento de sua mata ciliar. Vale salientar que essas áreas são
classificadas como de preservação permanente pela resolução do CONAMA Nº 303,
de 20 de março de 2002, logo não sendo admitido seu desmatamento.

Foto 10: Cultivo de Banana

Foto do autor / abril de 2006.


Ponto: C03P035 – Coordenadas: E 509001; N 9536427.
Local: Proximidades do Distrito de Fátima – Porção norte
da área de estudo.
97

Foto 11: Cultivo de Chuchu

Foto do autor / novembro de 2005.


Ponto: C01P002 – Coordenadas: E 510410; N 9534910.
Local: Margem da CE-065 entre Palmácia e Pacoti

Como já foi supracitado é comum nesta região o desmatamento para realização


de cultivos anuais, onde são aproveitadas as precipitações da quadra chuvosa para
cultivar culturas de ciclo rápido como feijão, milho e arroz. Essas áreas desmatadas
foram dividas em duas classes: Desmatamento e Cultivo Anual.

Foram classificadas como Desmatamento as regiões onde o solo está totalmente


exposto, sem cobertura alguma (foto 12). Foram mapeadas poucas áreas com esta
característica, totalizando apenas 7,17 hectares. Já a classe Cultivo Anual (foto 13),
que corresponde às áreas onde foi realizado o desmatamento para realização de
cultivo no período chuvoso, apresentou uma área de 541,39ha, que corresponde a
8,77% da área estudada. Essa divisão entre Desmatamento e Cultivo Anual é devido
ao fato destas áreas cultivadas não apresentarem solo totalmente exposto, sendo as
mesmas recobertas por uma vegetação arbustiva.

Neste contexto, devido à imagem ser do mês de setembro, logo posterior ao


período em que são realizados os cultivos, foram classificadas como Cultivo Anual
as áreas onde foram identificados desmatamentos recentes, que apresentam uma
vegetação arbustiva que denota a existência recente de áreas cultivadas. (foto 14)
98

Foto 12: Desmatamento

Foto do autor / novembro de 2005.


Ponto: C01P004 – Coordenadas: E 509233; N 9533260.
Local: Proximidades da Sede de Pacoti.

Foto 13: Cultivo Anual

Foto do autor / abril de 2006.


Ponto: C03P008 – Coordenadas: E 505698; N 9540934
Local: Proximidades do Distrito de Colina – Porção norte
da área de estudo.
99

Foto 14: Cultivo Anual Após a Colheita

Foto do autor / novembro de 2005.


Ponto: C01P003 – Coordenadas: E 509202; N 9533391
Local: Proximidades da Sede de Pacoti.

Sem sombra de dúvida, estes são os fatores de maior degradação do maciço,


visto que o desmatamento é realizado de forma indiscriminada em áreas com
declividade extremamente intensa, deixando o solo totalmente desprotegido ao fim
da colheita e sujeito a o intenso processo de erosão existente nesta região.

Por fim foram classificados todos os recursos hídricos como lagoas e açudes de
acordo com suas áreas apresentadas na imagem orbital, podendo ser maior sua
área real, visto que as copas das árvores acabam por encobrir parcialmente seu
espelho d’água (foto 15).

Quanto à classe Zona Urbana esta não foi fruto da classificação supervisionada descrita
anteriormente, isto porque essas regiões apresentaram uma grande variedade de respostas
espectrais, sendo mais viável à digitalização manual de seus contornos. Neste contexto, foram
mapeados 31,82 hectares de áreas urbanas correspondentes aos distritos de Colina, Fátima e
Santa Ana; além das localidades de Granja e Rolador; bem como da própria sede do
município (foto 16).

Foto 15: Açude (Restalrante Nosso Sítio)


100

Foto do autor / novembro de 2005.


Ponto: C01P012 – Coordenadas: E 508126; N 9532986.
Local: Sede de Pacoti.

Foto 16: Zona Urbana (Igreja Matriz de Pacoti)

Foto do autor / novembro de 2005.


Ponto: C01P013 – Coordenadas: E 508658; N 9532974
Local: Sede de Pacoti.
506000 508000 510000 512000 514000 516000
9542000

9542000
Colina
9540000

9540000
9538000

9538000
Fátima (Icó)
9536000

9536000
Rolador
9534000

9534000
PACOTI

Granja

Santa Ana
9532000

9532000
9530000

9530000

506000 508000 510000 512000 514000 516000

LEGENDA
Zona Urbana Vegetação / Uso e Ocupação Universidade Estadual do Ceará
Sede Mata Úmida Conservada
Distrito Mata Úmida Parc. Degradada Especialização em Geoprocessamento Aplicado a
Análise Ambiental e Recursos Hídricos
Localidade Mata Úmida Degradada
Estrada Mata Seca Conservada
Não Pavimentada Mata Seca Parc. Degradada Município:
Pacoti Geoprocessamento Aplicado ao Mapeamento de
Data:
Agosto/2006
Pavimentada Mata Seca Degradada Vulnerabilidade Ambiental: Uma Análise Integrada do Autor:
Hidrografia Bananeira
Estado: Ceará Ambiente no Município de Pacoti - CE Cristiano Alves
Rio / Riacho Chuchu Escala: 1/50.000
Orientador:
João Silvio Dantas
Lagoa / Açude Desmatamento Vegetação / Uso e Ocupação
Culivo Anual
Datum:
SAD69 - 24S
Mapa:
05
102

4.2.1.2. Declividade

O PI de Declividade foi gerado a partir de um MDT – Modelo Digital do Terreno,


criado a partir das curvas de nível existentes nas ortofotocartas mapeadas pelo
IDACE – Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará, no período entre novembro
de 1990 e novembro de 1991. Essas ortofotocartas foram elaboradas na escala de
1: 10.000, sendo a mesma de classe “A”13 com eqüidistância de 10 metros entre as
curvas de nível.

As ortofotocartas foram adquiridas em formato analógico, sendo convertidas para


o formato digital através do processo de escanerização. Após essa conversão foi
realizada uma vetorização manual, no software AutoCad Map, de todas as curvas de
nível existentes na região estuda. Posteriormente essas curvas foram exportadas
para o formato shape file e a partir deste arquivo foi gerado no software ArcGis 9.0 o
MDT da área.

De acordo com Rocha (2000) MDT é uma técnica que consiste na descrição
matemática do terreno através de uma função de interpolação, que de forma
simplificada pode ser definido como a representação matemática de uma superfície,
através das coordenadas X, Y e Z. Podendo de acordo com o ferramental
matemático envolvido pertencer a duas concepções: Modelos que utilizam
superfícies (equações analíticas) e Modelos que utilizam rede ou grade de pontos
(malha quadrada, retangular e triangular). Devido sua maior representatividade, no
presente trabalho, foram utilizados os modelos que utilizam grades de pontos, sendo
no caso especifico do PI de Declividade utilizado uma grade triangular.

Neste contexto este PI foi obtido a partir de um MDT de grade triangular gerado
no software ArcGis 9.0 denominado TIN – Triangular Irregular Network. As grades
triangulares ou TIN são estruturas do tipo vetorial, compostas de arcos (arestas) e

13
De acordo com o decreto Nº 89.817 de 20 de junho de 1984, que estabelece as Instruções
Reguladoras das Normas Técnicas da Cartografia Nacional, uma carta é classificada como classe
“A”, quando atende aos seguintes parâmetros: Padrão de Exatidão Cartográfica Planimétrico de 0,5
mm, na escala da carta, sendo de 0,3 mm na escala da carta o Erro-Padrão correspondente; e
Padrão de Exatidão Cartográfica Altimétrico igual a metade da eqüidistância entre as curvas-de-nível,
sendo de um terço desta eqüidistância o Erro-Padrão correspondente.
103

nós (vértices), que representam à superfície através de um conjunto de faces


triangulares interligadas. (Vide figura 17)

Figura 17: Grade Triangular

Fonte: Help ArcGis 9.0

Nas grades triangulares, os pontos com valores altimétricos retirados das curvas
de nível digitalizadas, podendo o mesmo coincidir ou não com os pontos fornecidos,
são usados de maneira a formar uma triangulação, onde as faces dos triângulos
representam à superfície mapeada. Para cada um dos vértices dos triângulos são
armazenadas as coordenadas de localização X e Y, bem como o atributo Z,
representando um valor correspondente a altimétria. Devido essas características, o
modelo triangular diante de sua maior complexidade, é a representação que melhor
representa o relevo, incorporando restrições como linhas de crista, talvegue e platôs.

De posse deste MDT foram extraídas as classes de declividade existentes na


área de estudo, tendo como base para determinar os intervalos à vulnerabilidade
ambiental oferecida pela mesma, como pode ser observado na tabela 12. A
classificação final realizada de acordo com esses intervalos gerou o PI de
Declividade. (Mapa 06).

Tabela 04: Classes de Declividade

Declividade Vulnerabilidade Área - Km²


< 15° Baixa 19,14
15° - 30° Moderada 28,37
30° - 45° Alta 12,55
> 45° Restritiva 1,68
104

Como pode ser visto na tabela acima, foram classificadas como de


vulnerabilidade baixa as áreas com declividade inferior a 15°. Essas áreas
correspondem principalmente os fundos de vales em “U” onde estão os rios e
riachos, sendo estas, devido sua topografia menos agressiva, as áreas mais
degradadas pela agricultora, principalmente pelo cultivo de chuchu. Fato este que
compromete diretamente a qualidade dos recursos hídricos, uma vez que essa
prática além de desmatar a mata ciliar causa ainda a contaminação destes
mananciais por agrotóxicos.

Já a classe de declividade com maior área mapeada foi a de vulnerabilidade


moderada, com declividade variando entre 15 e 30°, essas áreas estão localizadas
principalmente na transição entre os fundos de vale e as regiões mais elevadas
como cristas, lombadas e escarpas. Acima destas regiões estão às áreas
classificadas como de vulnerabilidade alta, com declividades entre 30 e 45°,
localizadas principalmente nas áreas mais elevadas das encostas das colinas e
lombadas comuns na geomorfologia local.

As declividades superiores a 45° foram agrupadas na classe denominada


restritiva, uma vez que essas áreas são protegidas pela resolução do CONAMA Nº
303, que em seu artigo 3º, inciso VII, reza que são Áreas de Preservação
Permanente as áreas situadas em encostas ou parte desta, com declividade superior
a quarenta e cinco graus na linha de maior declividade. Neste sentido foram
mapeados 1,68 km² da área de estudo com esta característica, sendo observada
sua existência principalmente nas vertentes das cristas.

Diante destas informações se conclui que área de estudo apresenta um alto grau
de vulnerabilidade ambiental devido à forte dissecação do relevo, principalmente nas
áreas classificadas como de vulnerabilidade moderada, alta e restritiva que juntas
somam 42,6 km² que equivale a quase 70% da área estudada.
506000 508000 510000 512000 514000 516000
9542000

9542000
Colina
9540000

9540000
9538000

9538000
Fátima (Icó)
9536000

9536000
Rolador
9534000

9534000
PACOTI

Granja

Santa Ana
9532000

9532000
9530000

9530000

506000 508000 510000 512000 514000 516000

LEGENDA
Zona Urbana Hidrografia Universidade Estadual do Ceará
Especialização em Geoprocessamento Aplicado a
Sede Rio / Riacho

Distrito
Análise Ambiental e Recursos Hídricos
Lagoa / Açude
Localidade Declividade
Município: Data:
Estrada < 15° Pacoti Geoprocessamento Aplicado ao Mapeamento de Agosto/2006
Vulnerabilidade Ambiental: Uma Análise Integrada do Autor:
Não Pavimentada 15°- 30°
Estado: Ceará Ambiente no Município de Pacoti - CE Cristiano Alves
Pavimentada Escala: Orientador:
30°- 45° 1/50.000 João Silvio Dantas
> 45°
Declividade Mapa:
Datum:
SAD69 - 24S 06
106

4.2.1.3. Área Legal

O PI denominado Área Legal foi elaborado através da espacialização da


resolução do CONAMA Nº 303, de 20 de março de 2002, que dispõe sobre os
parâmetros, definições e limites de APP’s – Áreas de Preservação Permanente.
Com base nesta resolução, se observou que na área de estudo aplicam-se o artigo
3º, inciso I, alínea a14; inciso III, alínea b15 e inciso V16 da resolução em questão.

Para atender as especificações do artigo 3º, inciso I, alínea a, primeiramente foi


necessário mapear todos os recursos hídricos da área estudada. Para tanto foi
utilizada a extensão do software ArcGis 9.0 denominada de Arc Hydro Tools. Essa
extensão traça a drenagem de acordo com a topografia local, com base em um
arquivo grid de elevação. Neste sentido foi realizada a transformação de um MDT de
grade triangular, confeccionado com base nas curvas nível vetorizadas a partir das
ortofotocartas do IDACE, em um arquivo raster, ou seja, em um arquivo no formato
matricial com tamanho de pixel igual a 2,5m, sendo esse valor atribuído com base no
tamanho do pixel da imagem orbital do satélite SPOT-5 que possui essa mesma
resolução espacial, tendo em vista que todas as informações levantadas serão
cruzadas, sendo assim necessário compatibilizar todos os PI’s.

Como resultado deste processo foi traçada toda a drenagem local com base nas
informações do MDT. Entretanto devido ao fato da drenagem ter sido traçada com
base em um arquivo raster a mesma apresentou certa retificação de suas feições,
sendo necessário um tratamento da mesma em ambiente CAD – Computer-Aided
Design, para suavização dos contornos, bem como eliminação de resíduos
indesejados. O resultado deste processo pode ser visualizado na figura 18 que
apresenta a hidrografia traçada de forma automatizada e a mesma hidrografia após
seu tratamento.

14
Constitui Área de Preservação Permanente a área situada em faixa marginal, medida a partir do
nível mais alto, em projeção horizontal, com largura mínima de trinta metros, para cursos d’água com
menos de dez metros de largura.
15
Constitui Área de Preservação Permanente a área situada ao redor de lagos e lagoas naturais, em
faixa com metragem de mínima de cem metros, para as que estejam em áreas rurais, exceto os
corpos d’água com até vinte hectares de superfície, cuja faixa marginal será de cinqüenta metros.
16
Constitui Área de Preservação Permanente a área situada no topo de morros e montanhas, em
áreas delimitadas a partir de curva de nível correspondente a dois terços da altura mínima da
elevação em relação a base.
107

FIGURA 18: Drenagem Extraída do MDT

Drenagem Automatizada Drenagem Tratada

No tocante as feições da hidrografia como açudes e lagos, estes foram


mapeados de acordo com a classificação supervisionada realizada na confecção do
PI de Vegetação / Uso e Ocupação. Por fim, estas feições foram cruzadas com a
drenagem gerada a partir do MDT, contemplando assim todos os recursos hídricos
locais.

De posse da hidrografia foram realizados buffers17 de acordo com as distâncias


especificadas pela resolução do CONAMA Nº 303, de 20 de março de 2002. Neste
sentido foi atribuído um buffer de 30 metros para as feições de rios e riachos, uma
vez que, não existe na área estudada corpo hídrico desta natureza com largura
superior a 10 metros, e um buffer de 50 metros para as lagoas, visto que os
mananciais mapeados desta categoria não ultrapassam os 20 hectares
determinados pela resolução do CONAMA.

Ainda com base na resolução do CONAMA N° 303, foram traçadas as APP’s


referentes aos topos de morro. Para determinar com confiabilidade a área
correspondente ao um terço superior do morro, que de acordo com a resolução do
CONAMA é considerada APP, foi utilizado o software SPRING 4.3, que com base
em um MDT de grade retangular traçou o limite correspondente.

17
Buffer é um polígono criado a partir da distância especificada pelo usuário de uma determinada
feição.
108

As grades regulares são representações matriciais onde cada elemento da matriz


se encontra associado a um valor numérico, sendo utilizado na sua confecção
interpoladores matemáticos, que com base nos pontos originais, extraídos das
curvas de nível digitalizadas das ortofotocartas, estimam os valores para as células
que não possuem elevação, considerando-se os pontos vizinhos. (Vide Figura 19)

FIGURA 19: Grade Regular

Neste contexto, primeiramente foram identificados os morros existentes na área


de estudo, tendo em vista que essa mesma resolução define como morro, em seu
artigo 2º inciso IV, elevação do terreno com cota do topo em relação à base entre
cinqüenta e trezentos metros e encostas com declividade superior a trinta por cento
(aproximadamente dezessete graus) na linha de maior declividade. Posteriormente
foram fornecidas para o software as cotas referentes ao topo e a base de cada um
dos morros anteriormente identificados, sendo assim calculada de forma
automatizada a fração de um terço superior.
109

Essa mesma resolução do CONAMA Nº 303, em seu artigo 3º, inciso VII, reza
que também são APP’s as áreas situadas em encostas com ou parte desta, com
declividade superior a cem por cento ou quarenta e cinco graus na linha de maior
declividade. Entretanto essa área não foi contemplada no PI de Área Legal, visto
que a mesma já faz parte do PI de Declividade.

Vale salientar também que não foram mapeadas neste PI as nascentes ou olhos
d’água, que de acordo com esta mesma resolução, constitui Área de Preservação
Permanente, ainda que intermitente, com raio mínimo de cinqüenta metros. Contudo
foi observado que a maioria das nascentes existentes estão localizadas dentro das
APP’s de topo de morro, bem como das APP’s dos riachos por elas formados, logo
sua vulnerabilidade não deixou de ser considerada neste estudo.

Com base nestas informações foi gerado o PI de Área Legal, onde pode ser
observado que cerca de 45,36% da área total estudada está enquadrada em Áreas
de Preservação Permanente, sem contar as áreas com declividade superior a
quarenta e cinco graus e os olhos d’água. Tal fato denota a grande vulnerabilidade
deste ambiente justificando a necessidade de um planejamento que garanta a
sustentabilidade desta região. (Vide Mapa 07).
506000 508000 510000 512000 514000 516000
9542000

9542000
Colina
9540000

9540000
9538000

9538000
Fátima (Icó)
9536000

9536000
Rolador
9534000

9534000
PACOTI

Granja

Santa Ana
9532000

9532000
9530000

9530000

506000 508000 510000 512000 514000 516000

LEGENDA
Zona Urbana Hidrografia Universidade Estadual do Ceará
Sede Rio / Riacho
Distrito
Especialização em Geoprocessamento Aplicado a
Análise Ambiental e Recursos Hídricos
Lagoa / Açude
Localidade Ártea Legal
Município: Data:
Estrada APP-Hidrografia Pacoti Geoprocessamento Aplicado ao Mapeamento de Agosto/2006
Vulnerabilidade Ambiental: Uma Análise Integrada do Autor:
Não Pavimentada APP-Topo de Morro
Estado: Ceará Ambiente no Município de Pacoti - CE Cristiano Alves
Pavimentada APP-Hidrografia e Topo Escala: Orientador:
1/50.000 João Silvio Dantas
de Morro Área Legal
Demais Áreas Datum:
SAD69 - 24S
Mapa:
07
111

4.2.2. Abordagem Multicriterial


4.2.2.1. Estruturação da Hierarquia

A estruturação da hierarquia consiste em agrupar as entidades mapeadas nos


PI’s sendo possível definir a influência mutua entre os mesmos, onde as entidades
de um grupo influencia as de outro e são influenciadas pelas entidades de apenas
outro. (Vide figura 20)

Figura 20: Hierarquia de Vulnerabilidade Ambiental

Na figura 20 pode ser visualizada a estrutura da hierarquia para definir a


vulnerabilidade ambiental da área estudada. No topo da hierarquia está a objetivo,
no caso definir a vulnerabilidade ambiental. No segundo nível estão os atributos que
irão determinar as classes de vulnerabilidade, compostos pelos PI’s Vegetação / Uso
e Ocupação, Declividade e Área Legal. No último nível estão as feições mapeadas
em cada um dos PI’s que compõem o segundo nível.

Esta hierarquia representa a análise dos elementos julgados de maior


importância dentro do contexto do sistema da área estudada, bem como as suas
relações. Entretanto somente a hierarquização da problemática não é suficiente para
112

o processo de planejamento ou tomada de decisão, sendo necessário definir a força


com a qual os vários elementos num nível influenciam os elementos do nível mais
alto seguinte.

Para determinar a importância relativa entre os elementos que compõem os


níveis desta hierarquia, foi definida a relação de importância entre as evidências,
sendo esta relação utilizada como input de uma matriz de comparação pareada, que
definiu os pesos relativos dos elementos de decisão.

4.2.2.2. Construção e Operacionalização das Matrizes de Comparação


Pareada

De acordo com Silva et al. (2004) a técnica AHP baseia-se numa matriz
quadrada de n x n, de comparação entre os n critérios, onde as linhas e as colunas
correspondem aos critérios, sendo o resultado igual à importância relativa do critério
da linha face ao critério da coluna.

Neste contexto os valores de entrada nas matrizes foram obtidos com base na
comparação dois-a-dois dos fatores que influenciam na vulnerabilidade ambiental da
área. A partir desta comparação pareada foi definido o critério de importância relativa
entre os fatores, conforme uma escala pré-definida de 1 a 9, onde o valor 1 equivale
ao mínimo, e 9 o máximo de importância de um fator sobre o outro.

De cada matriz de comparação pareada foram extraídos seus autovetores, que


correspondem ao grau de importância relativa para cada fator considerado. Os
autovetores resultantes da matriz de comparação dos atributos do segundo nível da
hierarquia, no caso os PI’s, são denominados “NOTAS” e os resultantes da matriz de
cada conjunto de atributos do terceiro nível, ou seja, as feições mapeadas em cada
PI, são chamados de “PESOS”.

Neste contexto, a matriz construída a partir dos PI’s que compõem o segundo
nível da hierarquia, obteve as seguintes “NOTAS” que representam o grau de
influência exercida por cada PI sobre o topo da hierarquia. (Vide figura 21)
113

Figura 21: Matriz de Comparação Pareada dos PI’s

Vegetação/Uso
Área Legal Declividade
e Ocupação

Vegetação/Uso e Ocupação 1,00 3,00 3,00

Área Legal 0,33 1,00 1,50

Declividade 0,33 0,67 1,00

ÍNDICE DE CONSISTÊNCIA 0,0091


GRAU DE CONSISTÊNCIA 0,0158

Declividade 0,1741

Área Legal 0,2281

Vegetação/Uso
0,5978
e Ocupação

Vegetação/Uso e
Área Legal Declividade
Ocupação
NOTA 0,5978 0,2281 0,1741

Como pode ser visto na figura 21, o PI que obteve maior “NOTA” foi o
correspondente a Vegetação/Uso e Ocupação, uma vez que este PI representa a
situação atual da área de estudo em relação à vulnerabilidade de seu ambiente,
além de exercer uma influência decisiva sobre os demais.

Para ilustrar esse fato podemos tomar como exemplo hipotético duas áreas
distintas, as duas estão localizadas em uma área de preservação permanente de um
rio e possuem declividade superior a 45°, sendo que uma está recoberta pela sua
vegetação natural e a outra foi desmatada para dar lugar a uma plantação de milho
(cultivo anual). Neste caso qual seria a área mais vulnerável do ponto de vista
ambiental?
114

A duas áreas são bastante vulneráveis do ponto de vista ambiental, visto que as
duas estão localizadas em áreas extremamente frágeis. Entretanto a segunda é bem
mais vulnerável que a primeira, visto que a ausência da vegetação desequilibra todo
o ambiente, deixando a área mais susceptível à erosão, demonstrando a forte
influência do PI de Vegetação / Uso e Ocupação para definição da vulnerabilidade
ambiental da área de estudo.

Quanto ao PI de Área Legal, este obteve uma maior “NOTA” que o de


Declividade, por se tratar de áreas em sua excelência frágeis, motivo pelo qual são
áreas protegidas pela legislação. Contudo o PI de Declividade obteve uma “NOTA”
próxima da obtida pelo PI de Área legal, demonstrando uma importância
relativamente próxima deste.

Posteriormente o mesmo processo descrito acima foi aplicado aos atributos do


terceiro nível hierárquico, que correspondem às feições mapeadas nos três PI’s.
Nesta etapa os valores obtidos correspondem aos “PESOS”, ou seja, dizem respeito
ao grau de importância do atributo dentro do contexto de cada PI gerado.

Na figura 22 podem ser observados os “PESOS” atribuídos a cada feição


mapeada no PI de Vegetação / Uso e Ocupação, bem como a matriz pareada que
deu origem a estes valores.
115

Figura 22: Matriz de Comparação Pareada dos Atributos do PI de Vegetação/Uso e Ocupação

Cultivo M. S. M. S. Parc. M. S. M. U. M. U. Parc. M. U.


Desmatamento Chuchu Bananeira
Anual Degradada Degradada Conservada Degradada Degradada Conservada
Desmatamento 1,00 2,00 3,00 5,00 4,00 5,00 7,00 6,00 8,00 9,00
Cultivo Anual 0,50 1,00 2,00 4,00 3,00 4,00 6,00 5,00 7,00 8,00
Chuchu 0,33 0,50 1,00 3,00 2,00 3,00 5,00 4,00 6,00 7,00
Bananeira 0,20 0,25 0,33 1,00 0,50 3,00 4,00 3,00 5,00 6,00
M. S. Degradada 0,25 0,33 0,50 2,00 1,00 2,00 4,00 3,00 4,00 5,00
M. S. Parc. Degradada 0,20 0,25 0,33 0,33 0,50 1,00 2,00 2,00 3,00 4,00
M. S. Conservada 0,14 0,17 0,20 0,25 0,25 0,50 1,00 0,50 2,00 3,00
M. U. Degradada 0,17 0,20 0,25 0,33 0,33 0,50 2,00 1,00 3,00 4,00
M. U. Parc. Degradada 0,13 0,14 0,17 0,20 0,25 0,33 0,50 0,33 1,00 2,00
M. U. Conservada 0,11 0,13 0,14 0,17 0,20 0,25 0,33 0,25 0,50 1,00

INDICE DE CONSISTÊNCIA 0,0605


GRAU DE CONSISTÊNCIA 0,0406

M. U. Conservada 0,0165
M. U. Parc. Degradada 0,0226
M. U. Degradada 0,0434
M. S. Conservada 0,0315
M. S. Parc. Degradada 0,0556
M. S. Degradada 0,0984
Bananeira 0,0848
Chuchu 0,1489
Cultivo Anual 0,2106
Desmatamento 0,2876

Desmata- Cultivo M. S. M. S. Parc. M. S. M. U. M. U. M. U.


Chuchu Bananeira
mento Anual Degradada Degradada Conservada Degradada Parc. Conservada
PESO 0,2876 0,2106 0,1489 0,0848 0,0984 0,0556 0,0315 0,0434 0,0226 0,0165
116

Na figura 22 pode ser observado que as feições mais vulneráveis são as que
suprimiram a vegetação natural, com destaque para o desmatamento e as áreas de
cultivo anual, bem como as áreas onde são cultivadas a banana e o chuchu. No
outro extremo estão as áreas em que prevalece a vegetação natural, aumentando a
vulnerabilidade de acordo com seu grau de preservação.

No cruzamento final entre os PI’s, esses “PESOS” serão decisivos na


classificação da vulnerabilidade, sendo possível identificar as áreas onde está
ocorrendo uma maior pressão sobre o ambiente, orientando assim nas tomadas de
decisão para mitigação da problemática.

A matriz de comparação do PI de Declividade possui quatro classes distintas


dividas de acordo com a vulnerabilidade de cada uma. Neste sentido a primeira
classe diz respeito a regiões onde a vulnerabilidade é baixa, com declividade inferior
a 15°. Na segunda classe foram agrupadas as áreas c om vulnerabilidade moderada
e na terceira as áreas com vulnerabilidade alta, com declividade variando entre 15° e
30°; e 30° e 45° respectivamente. Na última classe estão agrupadas às áreas com
declividade superior a 45°, essas regiões são prote gidas pela Resolução do
CONAMA Nº 303, de 20 de março de 2002, que em seu artigo 3º, inciso VII, reza
que são Áreas de Preservação Permanente as áreas situadas em encostas com ou
parte desta, com declividade superior a cem por cento ou quarenta e cinco graus na
linha de maior declividade. Devido a este fato essas áreas foram classificadas como
restritivas.

Na figura 23 é possível observar que a classe de declividade superior a 45°


possui um peso relevante sobre as demais, materializando assim a alta
vulnerabilidade destas áreas a ações antrópicas.
117

Figura 23: Matriz de Comparação Pareada dos Atributos do PI de Declividade

< 15° 15° - 30° 30° - 45° > 45°


< 15° 1,00 0,20 0,14 0,11
15° - 30° 5,00 1,00 0,33 0,20
30° - 45° 7,00 3,00 1,00 0,33
> 45° 9,00 5,00 3,00 1,00

INDICE DE CONSISTÊNCIA 0,0535


GRAU DE CONSISTÊNCIA 0,0595

> 45° 0,5651

30° - 45° 0,2696

15° - 30° 0,1260

< 15° 0,0393

< 15 15 - 30 30 -45 > 45


PESO 0,0393 0,1260 0,2696 0,5651

No PI de Área Legal foram contempladas às áreas de preservação permanente


da hidrografia e dos topos de morro, definidas pela Resolução do CONAMA Nº 303,
de 20 de março de 2002, sendo por esse motivo nomeado de PI de Área Legal.
Como pode se visto na figura 24, esse PI apresenta quatro classes distintas, sendo a
primeira correspondente às áreas de APP da hidrografia, delimitadas a partir do
buffer da hidrografia mapeada; a segunda contemplando as APP’s de topo de morro,
geradas a partir do modelo digital do terreno; e a terceira classe, composta pela
sobreposição das anteriores, sendo essa classe a que obteve maior peso, visto que
além de se tratar de uma sobreposição de APP’s, essas áreas englobam as áreas
de nascentes, que não foram mapeadas, mas foram levadas em consideração para
a definição do peso desta classe. Por fim as áreas não classificadas como sendo de
preservação permanente foram denominadas como “demais”, fazendo alusão as
demais áreas não protegidas pela Resolução do CONAMA.
118

Figura 24: Matriz de Comparação Pareada dos Atributos do PI de Área Legal

APP - APP - APP - Hidrografia e


Demais Áreas
Hidrografia Topo de Morro Topo de Morro

APP - Hidrografia 1,00 0,33 0,20 5,00

APP - Topo de
3,00 1,00 0,25 7,00
Morro
APP- Hidrografia e
5,00 4,00 1,00 9,00
Topo de Morro
Demais Áreas 0,20 0,14 0,11 1,00

INDICE DE CONSISTÊNCIA 0,0823


GRAU DE CONSISTÊNCIA 0,0915

Demais Áreas 0,0384

APP -Hidrografia
0,5933
e Topo de Morro

APP - Topo de
0,2452
Morro

APP -
0,1231
Hidrografia

APP - APP - Topo APP -


Demais Áreas
Hidrografia de Morro Hidrografia e
PESO 0,1231 0,2452 0,5933 0,0384

4.2.2.3. Priorização das Alternativas e Definição das Classes de


Vulnerabilidade

Este estágio é o último do processo de decisão utilizando o método AHP. Nesta


etapa os autovetores, “NOTAS” e “PESOS”, resultantes das matrizes de avaliação
são utilizados para compor a classificação final, ou seja, o PI resultante do
cruzamento dos três PI’s mapeados, refletindo neste a vulnerabilidade ambiental da
área estudada.

Para realizar o cruzamento dos PI’s optou-se por um cruzamento em formato


raster. Isso porque neste formato cada pixel do PI resultante será fruto do
cruzamento dos pixels dos outros três PI’s existentes na mesma coordenada x,y.
119

Para tanto foi necessário transformar os PI’s do formato vetorial “shape file” para o
formato matricial “grid”, onde cada pixel passou a conter o “PESO” definido por sua
matriz.

Para que os pixels dos três PI’s coincidissem espacialmente, antes de


transformá-los para o formato raster, foi conjugada a estes uma máscara com
latitude UTM entre 9529000 e 9543000; e longitude entre 503700 e 517700;
garantindo assim que os três possuíssem o mesmo tamanho. Posteriormente os três
Pi’s foram convertidos para o formato “grid” com pixel de 2,5m e valor
correspondente ao peso definido na matriz de comparação de seu PI. Vale salientar
que esse tamanho do pixel foi escolhido por ser o mesmo tamanho do existente na
imagem orbital do satélite SPOT-5, que serviu como base para o mapeamento do PI
Vegetação / Uso e Ocupação. Este artifício garantiu que os três PI’s tenham o
mesmo número de colunas e linhas, bem como a sobreposição exata dos pixels.
(Vide figura 25).

Figura 25: Cruzamento dos PI’s


120

Como pode ser visto na figura 25 cada pixel dos PI’s mapeados possui o peso
definido pela matriz de comparação dos atributos mapeados neste PI, bem como a
nota atribuída ao PI com base na matriz de comparação entre os PI’s, sendo
posteriormente aplicada a equação 07 que realizou a interação entre os PI’s,
levando em conta a importância de cada critério no processo de decisão, garantindo
que o PI resultante, no caso o PI de Vulnerabilidade Ambiental, seja fruto da análise
integrada de todas as informações levantas.

Equação 07: Algoritmo de Avaliação

Onde:

Aij = Pixel resultante do cruzamento entre os PI’s;


n = Número de PI’s utilizados;
Pk = Peso atribuído à feição dentro do contexto de seu PI;
Nk = Nota atribuída ao PI.
O resultado desta operação foi um PI no formato rater de extensão “grid” com
valores variando entre 0 e 0,3596 onde 0 representa a ausência e 0,3596 o máximo
de vulnerabilidade, como pode ser visto na figura 26.
121

Figura 26: Grid de Vulnerabilidade Ambiental

Para determinar as classes de vulnerabilidade foi necessário realizar uma


reclassificação do grid, dividindo seus valores em quatro classes distintas de
vulnerabilidade, conforme os intervalos ilustrados na tabela 05. Posteriormente foi
realizada uma nova conversão dos dados, agora do formato matricial para o vetorial.
A partir destes dados foi possível calcular a área em hectares de cada uma das
classes, bem como construir o layout final do mapa de vulnerabilidade ambiental da
APA do Maciço de Baturité localizada dentro dos limites do município de Pacoti.
(Vide mapa 08).
122

Tabela 05: Intervalos das Classes de Vulnerabilidade

Intervalo Vulnerabilidade Área (ha) %


0 - 0,042787458 Baixa 918,88 14,88
0,042787458 - 0,071123454 Moderada 2.413,60 39,10
0,071123454 - 0,098722602 Alta 1.343,87 21,77
0,098722602 - 0,3596 Muito Alta 1.497,32 24,25
506000 508000 510000 512000 514000 516000
9542000

9542000
Colina
9540000

9540000
9538000

9538000
Fátima (Icó)
9536000

9536000
Rolador
9534000

9534000
PACOTI

Granja

Santa Ana
9532000

9532000
9530000

9530000

506000 508000 510000 512000 514000 516000

LEGENDA
Zona Urbana Hidrografia Universidade Estadual do Ceará
Sede Rio / Riacho
Distrito
Especialização em Geoprocessamento Aplicado a
Análise Ambiental e Recursos Hídricos
Lagoa / Açude
Localidade Vulnerabilidade
Município: Data:
Estrada Muito Alta Pacoti Geoprocessamento Aplicado ao Mapeamento de Agosto/2006
Vulnerabilidade Ambiental: Uma Análise Integrada do Autor:
Não Pavimentada Alta
Estado: Ceará Ambiente no Município de Pacoti - CE Cristiano Alves
Pavimentada Escala: Orientador:
Moderada 1/50.000 João Silvio Dantas
Baixa
Vulnerabilidade Ambiental
Datum:
SAD69 - 24S
Mapa:
08
124

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como foi observado no decorrer deste estudo, a região da APA de Baturité


localizada dentro dos limites do município de Pacoti, é uma região extremamente
frágil do ponto de vista ambiental. Tal fato se deve a forte relação existente entre os
vários fatores ambientais que compõem este geossistema.

Com base no PI Vegetação / Uso e Ocupação foi possível observar que essa
região vem sofrendo um forte desequilíbrio de suas funções ambientais causado
pelo desmatamento indiscriminado e por práticas inadequadas de cultivo. De acordo
com este mapeamento, realizado com base em uma imagem orbital do satélite
SPOT-5, apenas 20,37% da vegetação denominada Mata Úmida não se encontra
degrada e somente 11% da vegetação de Mata Seca foi classificada como
conservada. Como pode ser observado no mapa desde PI (Mapa 05), as áreas mais
degradas estão localizadas principalmente na porção centro-norte da área de
estudo, entre os distritos de Fátima e Colina, assim como na porção centro-leste,
nas proximidades da localidade de Rolador. Nessas regiões foram detectadas as
maiores incidências de desmatamento para realização de cultivos anuais como
arroz, milho e feijão. (Vide Foto 17).

A grande problemática inerente a esse tipo de agricultura é a forma inadequada


de realização dos cultivos, sendo comum plantações em áreas com declividade
acentuada, sem o devido cuidado de se realizar as plantações em patamares
seguindo as curvas de nível do terreno, atenuando assim os efeitos erosivos. Esses
cultivos são realizados geralmente no período chuvoso, ou seja, no início do primeiro
semestre do ano, sendo feita a colheita por volta do mês de junho e julho, ficando o
solo desprotegido durante o restante do ano e principalmente durante o início da
estação chuvosa, visto que essas áreas neste período ainda estão desprovidas de
cobertura, logo sujeitas a um intenso processo de lixiviação do solo, que acarreta na
perca de sua fertilidade, bem como a perca progressiva do mesmo. Em algumas
regiões foram identificadas áreas onde este processo evoluiu de tal maneira que já
não existe mais solo, podendo ser notado o afloramento da rocha subjacente onde
antes existia solo. (Vide foto 18)
125

Foto 17: Cultivo Anual em Declividade

Foto do autor / abril de 2006.


Ponto: C03P013 – Coordenadas: E 507178; N 9541585.
Local: Proximidades do Distrito de Colina.

Foto 18: Rocha Aflorando em Área de Cultivo Anual

Foto do autor / fevereiro de 2006.


Ponto: C02P015 – Coordenadas: E 515958; N 9532464.
Local: Porção sudeste da área de estudo.
126

Já na porção sul da área de estudo, nas proximidades da sede do município de


Pacoti, o cultivo de chuchu é a atividade de maior impacto, estando estes cultivos
localizados principalmente nos interflúvios dos rios e riachos avançado sobre as
encostas, como pode ser visto na foto 19 que mostra o desmatamento de uma
encosta para dar lugar a este cultivo. Essas áreas são intensamente exploradas por
apresentarem solos mais profundos e uma topografia menos acidentada, além de ter
o fornecimento de água para o cultivo garantido pelos seus riachos. Essa prática é
extremamente danosa para os recursos hídricos, visto que além de desmatar a mata
ciliar causando assoreamento, ela provoca a contaminação das águas dos riachos
através do resíduo dos agrotóxicos aplicados no cultivo.

Foto 19: Desmatamento da Encosta para Cultivo de Chuchu

Foto do autor / fevereiro de 2006.


Ponto: C02P0334 – Coordenadas: E 507639; N 9535836.
Local: Porção central da área de estudo.

Analisando o mapeamento realizado no PI de Declividade fica evidente a forte


influência exercida por esse fator na vulnerabilidade deste ambiente. De acordo com
este mapeamento 70% da área foi classificada como sendo de vulnerabilidade
moderada, alta e restritiva quanto à declividade, denotando a forte dissecação do
127

relevo desta região. Vale salientar que essa classificação diz respeito a
vulnerabilidade natural da declividade, sendo esta influenciada de forma direta pela
forma de uso dada a sua superfície, de modo que quanto mais desprotegido o solo
mais vulnerável as ações erosivas.

Quando analisamos o PI de Área Legal fica evidente a fragilidade ambiental da


área estudada. Segundo o mapeamento deste PI, 45,36% da área total estudada
está enquadrada em Áreas de Preservação Permanente, com base na resolução do
CONAMA nº 303 de março de 2002, justificando assim a necessidade de um
planejamento que garanta a sustentabilidade desta região.

Com base nestas informações foi utilizada a técnica AHP para realizar uma
análise integrada de todos estes fatores, que de forma conjunta determinam à
fragilidade ambiental desta região. Neste sentido foi gerado o PI de Vulnerabilidade
ambiental que concluiu que quase 50% da área estudada possuem vulnerabilidade
alta e muito alta. Sendo constatada através da observação do mapa de
vulnerabilidade uma concentração maior destas áreas no centro e no norte da área
de estudo. Nestas áreas prevalece um relevo muito acidentado, sendo na região
central onde se encontram as áreas mais elevadas do município, chegando a atingir
a cota de 1030 metros de altitude. Já na região norte se destaca a vertente oriental
do maciço com declividades superiores a 45°. Nesta região são comuns as práticas
rudimentares de agricultura, como desmatamentos e queimadas para dar lugar a
cultivos anuais.

Esses maiores índices de vulnerabilidade, entre o centro e o extremo norte da


área de estudo, é conseqüência da falta de políticas públicas voltadas aos
agricultores que residem nestas regiões, que por estarem mais distantes da sede do
município não usufruem dos benefícios trazidos pelo turismo, benefícios estes que
do ponto de vista ambiental são positivos, pois essa mudança na economia diminuiu
a pressão do homem sobre os recursos naturais. Entretanto do ponto de vista social,
essa atividade está sendo excludente, uma vez que por falta de apoio a agricultura,
atividade secular desenvolvida na região, os agricultores se vêem obrigados a
vender suas terras por preços irrisórios para dar lugar às mansões da elite de
Fortaleza.
128

Diante de todas essas informações esperasse que as mesmas sejam utilizadas


como subsídio nas tomadas de decisão por parte dos órgãos governamentais bem
como da sociedade civil, afim de mitigar os efeitos da degradação constatada e
proteger as áreas identificadas como sujeitas a essa degradação, garantindo a
preservação do meio ambiente através de programas de orientação técnica que
garantam aos agricultores, residentes nas áreas mais distantes da região turística do
município, desenvolver suas atividades de maneira sustentável.
129

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