Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Resumo Abstract
O presente artigo debruça-se sobre a mudança This article refers to the organizational change,
organizacional, procurando avaliar a natureza da trying to assess the nature of the change, its
mudança, os factores que a determinam, as suas determining factors and its consequences to the life
consequências para a vida das organizações, bem of the organizations. It also thinks over the measures
como reflectir sobre as medidas a implementar a fim which need to be established in order to increase the
de aumentar a eficácia organizacional. organizational efficacy.
com o presente artigo pretende-se reflectir sobre a estruturas organizacionais e respectivas dinâmicas.
relação entre os processos de mudança organizacional Neste contexto, seguiremos de perto Caetano,
e a transição de uma época de estabilidade económica propondo vários critérios para classificar a mudança.
e social, caracterizada pela prevalência de um modelo Assim, se atendermos à forma como o processo se
de produção estandardizado ou sequencial, para iniciou, a mudança poderá ser classificada como
uma época de mudança, incerteza, variabilidade e planeada ou não planeada.
imprevisibilidade. Um outro critério apontado abrange o grau de
Como refere Caetano (Caetano, 2001), a mudança modificação da organização que, desta forma,
organizacional é um tema recorrente, abrangendo classifica a mudança em mudança de primeira
os processos de gestão, os procedimentos e a ordem ou mudança de segunda ordem conforme,
organização do trabalho, as estruturas, a relação com respectivamente, provoca alterações de pouca ou de
o cliente e com o mercado, as atitudes e os valores grande dimensão.
dos colaboradores das organizações. A mudança pode então ser considerada de primeira
Entende-se por mudança organizacional “o conjunto ordem (ou incremental) ou de segunda ordem (ou
de medidas de melhoria no estado da organização radical). A mudança de primeira ordem é produzida
necessárias para suportar o desenvolvimento a partir do interior do sistema que, partindo da sua
estratégico da organização” (Neves, 2001). auto análise, procura ajustar-se à situação, mas não
No contexto organizacional dos finais do século XX, a à sua transformação. Esta mudança é quantitativa,
mudança flui quotidianamente nas empresas a partir correctiva, implica continuidade e baseia-se no
de alterações, com origem endógena ou exógena. imediato, na lógica do bom senso e na manutenção
“São processos dinâmicos, quase omnipresentes, das estruturas.
frequentemente contínuos, em contextos organiza- A mudança de segunda ordem é de natureza
cionais que enfrentam a instabilidade, a incerteza e a qualitativa, o que implica uma alteração nas regras
mutabilidade de uma economia mundial globalizada básicas e na estrutura do sistema. Trata-se de uma
e face à qual as empresas têm de se posicionar e actuar mudança descontínua, isto é, qualquer desvio ou
relativamente às pressões e solicitações do meio flutuação do sistema através de mecanismos de
envolvente, bem como antecipar as transformações feedback positivo origina uma nova estrutura. Produz-
(Parente, 2006)”. se a partir do exterior do sistema.
O estudo da mudança organizacional procura Pode-se ainda referir as mudanças graduais de
averiguar a natureza da mudança, os factores que a tipo evolutivo em contraposição às radicais de tipo
determinam, as suas consequências para a vida das revolucionário.
organizações, bem como as medidas a implementar As mudanças evolutivas caracterizam-se por serem
a fim de aumentar a eficácia organizacional. mudanças lentas, não transgredindo as expectativas
dos actores nelas envolvidos, não provocando nem
Abordagens do processo de mudança grande resistência nem grande entusiasmo. Ao invés,
organizacional as mudanças revolucionárias caracterizam-se por
Os efeitos da mudança organizacional podem ser serem mudanças rápidas, intensas, que transgridem
diversos em função do nível da dinâmica da organização. e rejeitam as antigas expectativas, sendo súbitas e
Os estudos psicológicos efectuados por Katz e Kahn causadoras de grande impacto.
(1970) possibilitam uma visão sobre as influências Da conjugação deste dois critérios, resultam
externas e internas que o ser humano absorve, quatro tipos de mudança distintos: incremental,
podendo-se igualmente direccioná-las para as transformacional, evolucionária e revolucionária.
82
Mudança organizacional
Sintetizando, podemos definir do seguinte modo os Mais tarde Schein (1987), partindo do modelo
quatro tipos de mudança assinalados: referido, constrói uma versão modificada, explicando
• mudança incremental - é uma mudança os mecanismos que actuariam em cada uma das
planeada de primeira ordem, que incide sobre fases propostas por K. Lewin (Caetano, 2001).
o processo normal de funcionamento da Este modelo é composto por três estádios:
organização; • primeiro estádio ou descongelamento
• mudança transformacional - é uma mudança (unfreezing) - durante o qual comportamentos
planeada de segunda ordem, dizendo respeito e atitudes correntes começam a ser encarados
essencialmente ao nível da cultura organizacional como inaceitáveis, ocorrendo quando a
e provocando alterações profundas ao processo necessidade de mudança se torna óbvia,
de gestão e de concepção do trabalho; tornando-se rapidamente entendida e aceite;
• mudanças evolucionárias - são mudanças planeadas • segundo estádio - envolve a mudança para outro
de primeira ordem, que acontecem sobretudo ao nível e tem como objectivo procurar e estabelecer
nível das relações com clientes e concorrentes; novas respostas aos problemas e novos modelos
• mudanças revolucionárias - são mudanças não de comportamento; pode incluir a mudança
planeadas de segunda ordem, implicando um de valores e cultura, ou seja, ocorre quando há
corte radical com a organização anterior. descoberta e adopção de novas atitudes, valores
Dito de outra forma, podemos assim fazer o balanço, e comportamentos, promovidos através de
distinguindo as mudanças contínuas, planeadas e processos de identificação e de interiorização;
radicais. nesta fase as novas ideias e práticas são
As mudanças contínuas centram-se na actividade interiorizadas de modo a que as pessoas passem
desenvolvida em grupo, visando basicamente a qualidade a pensar e a agir de acordo com o novo modelo;
dos produtos e serviços a longo prazo. Privilegiam a • terceiro estádio ou recongelamento (refreezing)
melhoria gradual através das pessoas envolvidas. - ocorre quando novos comportamentos são
As mudanças planeadas são basicamente mudanças estabelecidos e passam a ser aceites como regra,
culturais e comportamentais, feitas a partir de um significando a incorporação do novo padrão
diagnóstico prévio, seguindo-se um planeamento da de comportamento através de mecanismos de
acção e utilização das técnicas de intervenção adequadas. suporte e de reforço, assumindo-se como uma
As mudanças radicais centram-se nos processos nova norma (o aprendido é integrado na prática).
organizacionais e visam o seu total “redesenho”, bem O modelo de mudança do processo definido por
como um completo reposicionamento do negócio da Burns inclui três áreas a abordar (Caetano, 2001):
organização. 1ª - definir objectivos e fins - a necessidade de uma
maior performance para a estratégia competitiva,
Modelos teóricos sobre a implementação da ou problemas com a actual performance ou ainda
mudança oportunidades de um maior retorno, implicam a
“Todo e qualquer sistema é resultante de forças criação de uma equipa avaliadora a fim de identificar
positivas, que reforçam ou incentivam uma posição e e recomendar as mudanças necessárias;
forças opostas, que se contrapõem às forças positivas 2ª - planear a mudança - implica definir a equipa
à situação” (Kurt Lewin). de gestão da mudança, estabelecer o calendário e
Um dos primeiros modelos teóricos sobre mudança especificar as tarefas e actividades necessárias;
foi proposto por Kurt Lewin (entre 1951 e 1965), no 3ª - pessoas - são, na sua opinião, a parte central do
quadro das suas investigações em psicologia social. processo de mudança.
83
PERCURSOS & IDEIAS - Nº 1 - 2ª SÉRIE 2009 REVISTA CIENTÍFICA DO ISCET
Apesar da crescente evolução das pesquisas no organizações encaradas como seres vivos
âmbito da mudança organizacional, constata-se uma e implicando compreensão e gestão das
certa coerência no estudo. necessidades organizacionais;
De acordo com o autor seguido, destacam-se quatro • organizações como “fluxo de transformação” -
teorias básicas explicativas no âmbito do processo de nas quais a lógica da mudança enforma a vida
mudança organizacional: social (sistemas auto-produtores, dialéctica);
• a perspectiva teleológica - na qual a acção • organizações como “sistemas políticos” - que
é reflectida e monitorada por uma entidade incluem os sistemas de governação, baseados
no sentido de prosseguir um objectivo em princípios políticos, definidores de diferentes
comum; envolve um processo identificável de regulamentações e factores que definem a
definição de objectivos, estando estes sujeitos a política da vida organizacional.
constrangimentos e exigências; Inúmeras classificações de mudança organizacional
• a perspectiva dialéctica - na qual duas entidades categorizam o tipo de mudança em função da sua
se opõem entre si e se confrontam, resultando extensão e o facto de se tratar de mudanças orgânicas
deste confronto a emergência de uma entidade (bottom-up) ou guiadas (top-down).
diferente; a mudança inclui facetas planeadas
(tese) e improvisadas (antítese); a mudança Resistência à mudança
resulta da síntese dos pólos em confronto (Clegg, A resistência é encarada como uma manifestação
Cunha e Cunha); emergente, determinada ou desencadeada como
• a perspectiva evolucionária - segundo a qual uma reacção à mudança (Mendes 2004).
população de entidades compete por recursos De acordo com algumas perspectivas, podemos
limitados; a evolução procede por variação, elencar quatro tipos de factores de resistência:
selecção e retenção das entidades na população; • factores racionais - em que se contrapõem
inclui uma definição macro-populacional dos visões opostas;
parâmetros que regulam esses mecanismos; • factores não racionais - que incluem
• a perspectiva do ciclo de vida - no âmbito da predisposições ou preferências;
qual uma entidade singular inicia a mudança, • factores políticos - que são alicerçados por
mas mantém a sua identidade ao longo do opiniões em confronto, favoritismos em relação
processo, percorrendo um conjunto de estados a determinadas correntes, sistemas ideológicos
identificáveis, de acordo com um programa de antagónicos;
tipo natural, sócio-institucional ou lógico que • factores de gestão - sendo a má gestão geradora
determina as fases de desenvolvimento e o de obstáculos ou resistências à mudança.
caminho a percorrer. O homem é um animal de hábitos, cria rotinas e
Independentemente da origem, natureza, daí que o desconhecido provoque tensão, ansiedade,
composição, ou dimensão da mudança, ela representa desconforto ou medo. Há que utilizar a resistência
o maior desafio para qualquer organização ou gestão. como uma aliada. A aprendizagem deve implicar
Destacaremos os quatro modelos metafóricos de um comprometimento com a organização.
Morgan, ( Mendes 2004). Quando as pessoas resistem à mudança, temos
• organizações como “máquinas” - isto é, oportunidade de avaliar os motivos dessa resistência.
organizações e máquinas constituídas por partes Consequentemente, identificam-se problemas e
interligadas; verifica-se se as decisões são de facto assertivas.
• organizações como “organismos” - isto é, A resistência estimula a procura de alternativas
84
Mudança organizacional
e melhores métodos para resolver questões ao de qualquer outro período anterior e abrange uma
emergentes. Daí que a resistência possa ser, em gama muito mais extensa de bens e serviços. Mas a
essência, uma fonte de avaliação e mudança. As maior diferença regista-se a nível financeiro e nos
mudanças sem contestação seriam sempre “top- movimentos de capitais. Alimentada pelo dinheiro
down”; a maioria das vezes as mudanças “bottom- electrónico, isto é, computadores - a economia do
up”, ao emergir, mesmo no âmbito das mudanças mundo actual não tem paralelo com a das épocas
planeadas, têm maior influência e resultados mais anteriores” (Giddens 2000).
significativos (idem, ibidem). De acordo com Giddens, as descontinuidades
presentes na mudança apresentam-se em três
Agentes da mudança e comunicação aspectos:
As pessoas com perfil para gerir os relacionamentos • ritmo da mudança (dinâmica extrema) - a
e que funcionem como catalisadores têm um rapidez é mais notória na tecnologia, mas
importante papel no desenvolvimento do processo de abrange todas as outras esferas;
mudança, dirimindo obstáculos. • alcance da mudança - abrangendo toda a
A mudança envolve não só o modo de acção, mas superfície da terra;
também o modo como se pensa, sendo a comunicação • natureza das instituições modernas (estado-
interna um aspecto fundamental para o sucesso da nação; dependência generalizada da produção
mudança. dos recursos a fontes de energia inanimadas ou a
Será útil recorrer a pessoas imparciais que motivem para completa transformação dos produtos e do trabalho
a mudança, assim como demonstrar através do exemplo assalariado em mercadorias). (Silva, 2002)
(o exemplo deve vir de cima). O comprometimento da Giddens advoga uma caracterização pluridimensional,
gestão de topo com uma comunicação eficaz e fidelidade que associa a modernidade ao desenvolvimento do
aos princípios que promove contribuem decisivamente industrialismo, da vigilância e do poder militar.
para o sucesso. A estruturação de um sistema de A economia de mercado é orientada pela competição
comunicação formal e informal, que assegure uma por mercados onde se encontram investidores,
disseminação rápida da informação e que englobe produtores e consumidores, e onde as mercadorias
todos os colaboradores, é também um factor chave para são avaliadas em preços e trocadas através de meios
promover a mudança organizacional. padronizados como a moeda. Na perspectiva aqui
A condução da mudança das sociedades defendida, o capitalismo corresponde a uma forma
contemporâneas estende-se a aspectos fundamentais específica de economia de mercado.
da sua estrutura tecnológica, produtiva, administrativa, As sociedades actuais em sentido estrito são o
educativa e ocupacional. É sobre este processo que nos produto do projecto de modernidade, isto é, decorrem
vamos debruçar nas próximas páginas, procurando do desenvolvimento do mercado e do estado, da
alinhar ideias e sintetizar as principais mudanças que expansão da economia capitalista e do primado da
ocorreram nas últimas décadas. racionalidade cognitivo-instrumental. São sociedades
Castells (2000) fala em revolução nas tecnologias instaladas na mudança, vinculadas a constantes
da informação e na reestruturação do capitalismo à movimentos de inovação, nos conhecimentos, nas
escala global, aspectos cuja interligação desencadeia a tecnologias, nas instituições, formas e estilos de vida
emergência de um novo modelo de desenvolvimento (Silva 2002).
das economias ocidentais, o qual designa como O fim do século XX, na perspectiva de Santos Silva,
modelo de desenvolvimento informacional. é um momento de perplexidade e incerteza. O autor
“O volume do comércio externo de hoje é superior foca alguns dos paradoxos da actual sociedade:
85
PERCURSOS & IDEIAS - Nº 1 - 2ª SÉRIE 2009 REVISTA CIENTÍFICA DO ISCET
86
Mudança organizacional
87
PERCURSOS & IDEIAS - Nº 1 - 2ª SÉRIE 2009 REVISTA CIENTÍFICA DO ISCET
88
Bibliografia
ALBERT, E. et al (2004), Trabalhar para quê?, Lisboa: Bertrand CUNHA, M. P. (2002), “As duas faces da Mudança
Editora. Organizacional: Planeada e emergente”, in Universidade
Nova de Lisboa - Faculdade de Economia, http://fersd.fe.unl.
BILHIM, J. A. F. (2006), Teoria Organizacional - Estruturas e pt/WPFEUNL/wp2002/wp407.
Pessoas, Lisboa: UTL - ISCSP.
ESTANQUE, E. (2003), “Crise Económica e Impactos no
COHEN, R., KENNEDY, P. (2000), Global Sociology, New Mundo do Trabalho”, in Revista Com(m)textos de Sociologia (4).
York: New University Press.
ILONA, K., CASACA, S. F. (2000), “Evolução dos Temas em
FERREIRA, J. M. C., NEVES, J., CAETANO, A. (2001), Gestão e SIOT: modas, rivalidades e influências”, in Actas do
Manual de Psicossociologia das Organizações, Lisboa: McGraw- IV Congresso Português de Sociologia.
Hill.
MADUREIRA, C. (2000), “A Organização Neotaylorista do
FREIRE, J. (2001), Sociologia do Trabalho - Uma Introdução, Trabalho no Fim do Século XX”, in Sociologia, Problemas e
Porto: Edições Afrontamento. Práticas (32), pp. 158-182.