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Sermão

de Santo António aos Peixes


de Padre António Vieira

Painel de azulejos, Santo António a Pregar Vieira Protector dos Índios, gravura do livro
aos Peixes, Museu Nacional de Arte An;ga, de André de Barros, Vida do Apostólico

Lisboa.
Padre Antonio Vieyra da Companhia de
Jesus… (1746).

Santo António Padre António Vieira
Ø Viveu no século XIII. Ø Viveu no século XVII – 1608-1697
Ø Frade franciscano. Ø Padre missionário jesuíta.
Ø Viveu grande parte da vida em Itália. Ø Viveu grande parte da sua vida no Brasil.
Ø Concentrou-se na proteção dos justos Ø Concentrou-se na defesa dos índios face aos
Diferenças
através da conversão dos hereges. excessos dos colonos.
Ø Desempenhou um importante papel como Ø Desempenhou um importante papel na
mestre na Ordem Franciscana, diplomacia portuguesa como aliado de
a pedido de São Francisco de Assis. D. João IV.
Ø Morreu em Pádua (Itália). Ø Morreu na Baía (Brasil).
Ø Imortalizou-se como santo. Ø Imortalizou-se como escritor.
• Nasceram em Lisboa e morreram no estrangeiro.
• Seguiram a vida religiosa.
• Viveram grande parte da vida fora de Portugal.
• Destacaram-se pela palavra e pela ação.
Semelhanças
• Foram exímios oradores e pregadores.
• Deixaram escritos muitos sermões.
• Difundiram a fé cristã.
• Contribuíram para alterar leis que protegeram os desfavorecidos e os injustiçados.
Alegoria – representação de uma
Sermão de Santo António aos Peixes de Padre António Vieira realidade abstrata através de uma outra
concreta que a simboliza por analogia,
Voca;vo
Vos es>s sal terrae. S. Mateus, V, l3. encadeando de forma lógica imagens,
metáforas, comparações… é o simbolismo
Pregadores – responsáveis por impedir a concreto que abrange o conjunto de toda
degradação moral e espiritual dos fiéis. Têm a uma narra;va ou quadro, de maneira a
I “função do sal”. que cada elemento do símbolo
Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o corresponda a um elemento significado ou
simbolizado.
sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam
na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção;
mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa,
havendo tantos nela que têm oWcio de sal, qual será, ou qual Conceito Predicável – «Vós sois o sal da
terra» - a função do sal é impedir a
pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, corrupção, logo a função de todos nós é
ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não impedir que a corrupção exista. Cristo, no
entanto, dirige esta função
salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou
especificamente aos pregadores
porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo
verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é
porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e Problema – Corrupção na terra – «o sal
não salga» (os pregadores não estão a
fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes cumprir a sua função, impedir a corrupção
querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. na terra) ou «a terra não se deixa
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e salgar» (a terra/as pessoas não querem
deixar de ser corruptas, não querem
não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, receber a verdadeira palavra de Deus)
em vez de servir a Cristo, servem a seus ape;tes. Não é tudo isto
verdade? Ainda mal!
Interrogações retóricas – Habitualmente u;lizadas por Padre António Vieira. O obje;vo de qualquer
sermão é ser ouvido, desta forma há que ter preocupações adicionais com o auditório (princípios da
oratória). As interrogações retóricas têm como função chamar a atenção dos ouvintes, ques;onando
a sua inteligência para que reflitam acerca do que está a ser tratado. Não se pressupõe uma resposta,
esta está implícita, todavia o auditório tem que se ques;onar interiormente rela;vamente aos
I aspetos tratados.
Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o
Orações coordenadas disjun;vas –
sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam estabelecem uma relação de
na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; alternância
mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa,
havendo tantos nela que têm oWcio de sal, qual será, ou qual
Paralelismo sintá;co-anafórico –
pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, organiza o discurso, explicando em
ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não alterna;va as possíveis explicações
salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou para a corrupção na terra
porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo
verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é Frase exclama;va – expressa a
porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e desilusão face à realidade
fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes
querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. U;lização das interrogações
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e retóricas, orações coordenadas
não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, disjun;vas e exclamação –
em vez de servir a Cristo, servem a seus ape;tes. Não é tudo isto cons;tuem marcas do discurso oral
verdade? Ainda mal!
Expressa uma condição para o que se
(cont.I)
segue, supõe-se que há algo que é ;do
Suposto pois que ou o sal não salgue ou a terra se
como certo e, sendo assim, há
não deixe salgar; que se há-de fazer a este sal e que
necessidade de concluir acerca disso.
se há-de fazer a esta terra? O que se há-de fazer ao
Neste caso relaciona-se com o facto de
sal que não salga, Cristo o disse logo: Quod si sal
ser certo que «ou o sal não salga» «ou
evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra,
a terra não se deixa salgar» e, por isso,
nisi ut miCatur foras et conculcetur ab hominibus.
tem que haver uma solução para
«Se o sal perder a substância e a virtude, e o
qualquer um destes casos.
pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se
lhe há-de fazer, é lançá-lo fora como inú;l para que
Interrogações retóricas
seja pisado de todos.» Quem se atrevera a dizer tal
cousa, se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assim
como não há quem seja mais digno de reverência e Citações evangélicas – ao longo do
de ser posto sobre a cabeça que o pregador que Sermão são u;lizadas citações
ensina e faz o que deve, assim é merecedor de todo evangélicas que pretendem atribuir
o desprezo e de ser me;do debaixo dos pés, o que credibilidade e força àquilo que é dito.
com a palavra ou com a vida prega o contrário. A argumentação serve-se de citações
Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à bíblicas de forma a consolidar as ideias
terra que se não deixa salgar, que se lhe há-de expressas dando-lhes veracidade,
fazer? Este ponto não resolveu Cristo, Senhor afinal essas ideias estão a ser
nosso, no Evangelho; mas temos sobre ele a comprovadas com a palavra de Cristo.
resolução do nosso grande português Santo
António, que hoje celebramos, e a mais galharda e
gloriosa resolução que nenhum santo tomou. Panegírico (discurso de louvor, enaltecimento de
virtudes de personalidades, ações ou feitos de
grande valor) – Início ao louvor a Santo António
Abnegação e altruísmo de Santo António
(cont.I) Santo António tendo dificuldade em
Pregava Santo António em Itália na cidade de Arimino, pregar a verdadeira doutrina aos
contra os hereges, que nela eram muitos; e como erros homens, não cedeu às tentações de não a
de entendimento são dificultosos de arrancar, não só pregar ou pregar uma coisa e fazer outra,
não fazia fruto o santo, mas chegou o povo a se levantar ou ainda pregar-se a si e aos seus
contra ele e faltou pouco para que lhe não ;rassem a interesses e decidiu pregar aos peixes.
vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande
António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo Interrogações retóricas – chamar a
aconselha em outro lugar? Mas António com os pés atenção do auditório, fazendo-o refle;r
descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés a sobre o que é dito - aceleram o ritmo do
que se não pegou nada da terra não ;nham que texto
sacudir. Que faria logo? Re;rar-se-ia? Calar-se-ia?
Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria Jogos an;té;cos baseados num
porventura a prudência ou a covardia humana; mas o paralelismo sintá;co-anafórico – jogos de
zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se palavras reveladores de anpteses,
rendeu a semelhantes par;dos. Pois que fez? Mudou realidades antagónicas
somente o púlpito e o auditório, mas não desis;u da
Anáfora – reforça a urgência do auditório
doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra,
vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que me Enumeração – reforça a quan;dade e
não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes. Oh variedade de ouvintes-peixes
maravilhas do Alpssimo! Oh poderes do que criou o mar
e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a
concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os Modelações prosódicas – entoações diferentes
pequenos, e postos todos por sua ordem com as da voz que são feitas mediante o que se diz -
cabeças de fora da água, António pregava e eles inflexões e intensidades de voz que diferenciam
a importância do que é dito - captar a atenção e
ouviam.
agitar as mentalidades.
Ironia - Padre António Vieira louva Santo
(cont.I) António em detrimento dos outros
pregadores aos quais apelida ironicamente
Se a Igreja quer que preguemos de Santo António de «Santos Doutores», quando na realidade
sobre o Evangelho, dê-nos outro. Vos es>s sal não são «santos», pois não pregam a
terrae: É muito bom texto para os outros santos verdadeira doutrina, por isso mesmo é que
doutores; mas para Santo António vem-lhe muito «é muito bom o Texto» para eles, porque
curto. Os outros santos doutores da Igreja foram como não o pregam, é-lhes suficiente, já
sal da terra; Santo António foi sal da terra e foi sal para Santo António é “curto”.
do mar. Este é o assunto que eu ;nha para tomar
hoje. Mas há muitos dias que tenho me;do no
pensamento que, nas festas dos santos, é melhor Reforça a ideia da recusa dos homens em
pregar como eles, que pregar deles. Quanto mais ouvir a verdadeira doutrina e da necessidade
que o sal da minha doutrina, qualquer que ele seja dos pregadores que querem divulgá-la terem
tem ;do nesta terra uma fortuna tão parecida à de que o fazer aos peixes.
Santo António em Arimino, que é força segui-la em
tudo. Muitas vezes vos tenho pregado nesta igreja, Enumeração e Polissíndeto - explicita a
e noutras, de manhã e de tarde, de dia e de noite, importância da verdadeira doutrina na
sempre com doutrina muito clara, muito sólida, conduta de Padre António Vieira e a sua
muito verdadeira, e a que mais necessária e prestação conpnua em relação à terra/
importante é a esta terra para emenda e reforma homens. Estes dois recursos es;lís;cos
dos vícios que a corrompem. O fruto que tenho reforçam a ideia de Padre António Vieira ser
colhido desta doutrina, e se a terra tem tomado o incansável na divulgação da palavra de
sal, ou se tem tomado dele, vós o sabeis e eu por Cristo, ele tenta sempre «salgar» a terra, a
vós o sinto. terra é que «não se deixa salgar» por ele.
Caracterização da “doutrina” que evidencia as suas
virtudes.
(cont.I)
Isto suposto, quero hoje, à imitação de Padre António Vieira toma-lhe o
Santo António, voltar-me da terra ao exemplo e decide fazer o mesmo, daí a
mar, e já que os homens se não homenagem que lhe presta no seu dia
aproveitam, pregar aos peixes. O mar (13 de Junho), em vez de falar do Santo,
está tão perto que bem me ouvirão. Os junta-se a ele e seguindo-lhe o exemplo
demais podem deixar o sermão, pois não prega aos peixes, que se revelam um
é para eles. Maria, quer dizer, Domina melhor auditório.
maris: «Senhora do mar»; e posto que o
assunto seja tão desusado, espero que
me não falte com a costumada graça. Ave
Maria. Invocação – No final do exórdio existe
uma invocação a «Domina maris» -
Exórdio – apresentação do tema a ser abordado no Maria, Senhora do Mar. Esta invocação
Sermão. Padre António Vieira inicia o texto com o existe pelo facto de Maria ser a
Conceito Predicável, explicitando-o e chamando a inspiradora do discurso religioso, assim
atenção do auditório. No final do capítulo, o Padre António Vieira pretende, desta
forma, pedir inspiração a Maria para
orador faz uma invocação divina a Maria, por ser a proferir este sermão à semelhança de
“senhora do mar” a cujos habitantes vai passar a Santo António, a quem faz o seu
dirigir-se. panegírico.

Ao dirigir-se aos peixes, Padre António Vieira cria uma alegoria, na medida
em que , na realidade, as suas palavras des;nam-se aos homens.

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