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Archives of Veterinary Science ISSN 1517-784X

v.17, n.2, p.10-17, 2012 www.ser.ufpr.br/veterinary

AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DE PROPRIETÁRIOS DE CÃES RESIDENTES


EM APARTAMENTOS NO MUNICÍPIO DE NITERÓI-RJ SOBRE OS SINAIS DA
SÍNDROME DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO EM ANIMAIS

Guilherme Marques Soares¹, João Telhado², Rita Leal Paixão³

¹ USS
² UFR-RJ
³ UFF
Correspondência: Guilherme Soares: gsoaresvet@gmail.com

RESUMO: Esta pesquisa constitui um estudo exploratório sobre a percepção de proprietários de cães
residentes em apartamento em relação à síndrome de ansiedade de separação em animais (SASA), distúrbio
caracterizado por comportamentos anormais exibidos pelos animais quando afastados da figura de apego. A
coleta de dados foi realizada por meio de entrevista para avaliar a percepção dos proprietários (EAPP) e dois
questionários, o questionário para identificação da SASA (QI-SASA) e um questionário de apoio (QA). Foram
entrevistados 161 proprietários de cães residentes em apartamento no município de Niterói-RJ. Concluiu-se que
os proprietários percebiam o problema, mas a maioria (58,7%) de forma distorcida, atribuindo os
comportamentos indesejáveis à pirraça. Concluiu-se também, que a maioria dos proprietários (75,0%) relatou
que o cão apresentava comportamentos incômodos ou problemas de comportamento, mas somente uma
pequena parcela destes (15,1%) considerou que tais comportamentos seriam decorrentes de atitudes do próprio
proprietário em relação ao cão.
Palavras-chave: ansiedade de separação; cães; comportamento; bem-estar animal

EVALUATION OF THE PERCEPTION OF OWNERS OF DOGS THAT LIVE IN


APARTMENTS IN NITERÓI, RJ ABOUT THE SEPARATION ANXIETY
SYNDROME IN ANIMALS’ SIGNALS

ABSTRACT: This research is an exploratory research about the perception of the apartment dogs‘ owners
about the Separation Anxiety Syndrome in Animals (SASA), a disease characterized by abnormal behaviors
shown by the animals when they were put away from their attached subjects. The data were collected by means
of an interview to evaluate the owner‘s perception (EAPP, from Portuguese: “Entrevista para Avaliar a
Percepção do Proprietário”); and two questionnaires: one to identify the SASA and, the other, a Support
Questionnaire (QA – from Portuguese: “Questionário de Apoio”). A hundred and sixty-one dogs‘ owners that live
in apartments in the Niterói city (in the Rio de Janeiro state) were interviewed. It was concluded that the owners
have noticed the problem, but the majority (58.70%) in a distorting way, attributing the undesirable behaviors to a
kind of ‗spite‘ of the animal. And also the majority of the owners (75%) has mentioned that their dog showed
inconvenient behaviors or behavior‘ troubles. But only a small part of them (15.13%) has declared that these
behaviors were a consequence to the owners themselves‘ attitude in relation to their dogs.
Key Words: separation anxiety, dogs, behavior, animal welfare

Recebido em 23/09/2011
Aprovado em 24/05/2012
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Hermeto et al. (2012)

INTRODUÇÃO do animal (McCrave, 1991; Landsberg et


al., 2004).
A Síndrome de Ansiedade de Os quatro sinais básicos podem
Separação em Animais (SASA) é ser explicados como tentativas do cão
caracterizada nos cães por um conjunto restabelecer contato com a figura de
de comportamentos exibidos quando vínculo ausente, como ocorre com a
esses animais são deixados sozinhos, vocalização excessiva e os
sendo um dos problemas comportamentos destrutivos. Os
comportamentais mais comuns na comportamentos destrutivos
espécie (Takeuchi et al., 2001). Os normalmente são direcionados a objetos
comportamentos, que compõem a que tragam referência olfativa da figura
síndrome, segundo a descrição de de vínculo, como pertences do
vários autores (McCrave, 1991; Fogle, proprietário, ou direcionados a portas,
1992; Overal, 1997; King et al., 2000; janelas ou móveis que possam ser
Beaver, 2001; Appleby e Pluijmakers, usados como rotas de fuga para o cão.
2003; Bénézech, 2003; Schwartz, 2003; Os casos que apresentam
Landsberg et al., 2004; Lantzman, 2006; distúrbios de eliminação podem ser
Soares et al., 2007) são: vocalização considerados mais graves, pois a
excessiva, destruição de objetos, micção micção e a defecação caracterizam uma
e defecação fora do lugar determinado. perda do controle da situação por parte
A síndrome também pode incluir vômitos do cão. Por teoria, o animal sente-se
e depressão (McCrave, 1991; Fogle, abandonado por sua matilha e,
1992; Bénézech, 2003; Landsberg et al., desistindo da tentativa de fazer contato
2004; Lantzman, 2006), além de com a figura de vínculo, passa a deixar
comportamentos compulsivos (McCrave, marcas para ser encontrado.
1991; Fogle, 1992; Beaver, 2001; Caracteriza também uma ativação
Overall e Dunham, 2002; Landsberg et autonômica parassimpática comum em
al., 2004). Os comportamentos situações mais intensas de estresse.
compulsivos são movimentos repetidos (Appleby e Pluijmakers, 2003).
intensamente e fora de contexto, Os sinais da SASA são
atribuídos a uma busca na redução de frequentemente associados à pirraça.
um estado da ansiedade (Fogle, 1992; Os proprietários interpretam tais
Telhado, 1997). A SASA é um dos comportamentos como tentativas de o
distúrbios de comportamento mais cão se vingar pelo fato de ter sido
atendidos em todo o mundo em serviços deixado sozinho (McCrave, 1991;
especializados de etologia clínica junto Appleby e Pluijmakers, 2003).
com distúrbios relacionados à O presente trabalho objetivou
agressividade (Overall, 2001; Seksel e avaliar a percepção dos proprietários em
Lindeman, 2001; Takeuchi et al., 2001; relação à SASA e identificar as
Denenberg et al., 2005). principais queixas dos proprietários em
A síndrome pode se manifestar na relação ao comportamento de seus cães
ausência real do proprietário ou outra para ratificar se a SASA realmente é
figura de vínculo, mas também pode uma das principais queixas. Para tal
ocorrer quando o cão tem o acesso ao analisou-se aspectos da SASA na busca
proprietário restrito de alguma maneira, de meios para prevení-la e tratá-la, pois
como ao ser fica preso em algum ela reduz a qualidade de vida dos
cômodo, caixa de transporte ou gaiola, animais que a apresentam, provoca
ainda que essa figura de vínculo esteja perdas econômicas aos proprietários
no mesmo ambiente e a poucos metros pela destruição de seus pertences, traz
transtornos ao relacionamento com

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Avaliação da percepção de proprietários de cães residentes em apartamentos no município de
Niterói-RJ sobre os sinais da síndrome de ansiedade de separação em animais

vizinhos) e é causa frequente de O proprietário para ser incluído,


abandono e eutanásia de cães. deveria viver com seu cão e ser
residente em apartamento no município
MATERIAL E MÉTODOS de Niterói, no bairro de Icaraí ou outro
de características semelhantes. Tais
A população escolhida foram os informações foram extraídas do QA, ou
cães residentes em apartamentos seja, dados referentes a alguns
situados em Icaraí, que é um bairro com proprietários foram excluídos do estudo
características mistas entre residencial e posteriormente a sua participação.
comercial, no Município de Niterói-RJ Para a quantificação dos
(latitude 22,52S, longitude 43,0W), onde ―problemas de comportamento‖ ou dos
há predomínio de prédios de ―comportamentos incômodos‖ mais
apartamentos residenciais. Porém, frequentes, assim como das razões para
foram incluídos animais com residência tais comportamentos e para as
em bairros próximos com características ―modalidades de pirraça‖ foram
semelhantes. Todas as informações incluídos todos aqueles que
sobre o comportamento dos cães foram responderam à entrevista nos
colhidas junto aos proprietários. estabelecimentos selecionados, mesmo
Foram selecionados seis que não tivessem devolvido os
estabelecimentos que se dedicavam ao questionários ou que não residissem em
comércio de produtos veterinários apartamentos ou nos bairros
(medicamentos, cosméticos, rações e determinados.
acessórios) e ofereciam serviços de As perguntas da EAPP (Quadro 1)
banho e tosa. Em tais estabelecimentos, foram elaboradas de modo a promover
foram abordados aleatoriamente uma abordagem gradual ao problema,
proprietários de cães, no período de ou seja, as questões envolviam o
julho a novembro de 2006. problema, inicialmente de forma menos
O estudo baseou-se em dados específica e iam se tornando mais
obtidos por meio de uma entrevista e de direcionadas no decorrer da entrevista.
aplicação de questionários. Na Tal abordagem gradativa visou
Entrevista para Avaliação da Percepção identificar se o proprietário percebia o
do Proprietário (EAPP), as respostas problema e sua visão sobre o assunto.
eram gravadas para posterior análise. As últimas perguntas investigavam se o
Imediatamente após a entrevista, dois animal tinha alguma enfermidade, a fim
questionários foram entregues ao de descartar outras possíveis fontes de
entrevistado, o questionário para variação no comportamento do animal,
identificação da SASA (QI-SASA) e o ou associar algum quadro mórbido com
outro Questionário de Apoio (QA) para a a SASA.
identificação do proprietário, do animal, Comportamentos específicos
do ambiente social e físico, e de alguns foram listados de forma a não permitir
itens de manejo do animal. Os que o respondente identificasse o que
respondentes levavam consigo os se pretendia objetivamente com as
questionários e devolviam preenchidos perguntas do QI-SASA, para que as
posteriormente. Não houve, portanto, respostas não fossem direcionadas de
qualquer tipo de interferência do maneira a enquadrar seu cão ou não
entrevistador nas respostas aos dentro do problema pesquisado. Os
questionários. dados foram agrupados de forma a
O QI-SASA é um instrumento caracterizar como positivos aqueles
validado para avaliação da SASA questionários que incluíssem ao menos
(Soares et al., 2009). um dos sinais clássicos da SASA ou

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comportamento depressivo, associados Outra pergunta feita na entrevista


a sinais de hipervinculação. foi se o cão fazia algum tipo de pirraça,
Foram realizadas 161 entrevistas, pergunta feita propositalmente indutora,
porém nove foram descartadas por já que os autores descrevem tal
falhas técnicas na sua realização, associação dos sinais da SASA com
totalizando 152 entrevistas válidas. pirraça.
Foram obtidos ao todo 102 conjuntos de Para testar os dados
QI-SASA e QA que atendiam aos categorizados, foi realizado o teste de
critérios de inclusão. qui-quadrado clássico (χ2), de acordo
com Arango (2005) e através do
programa Graphad Instat® V.2.0. O
nível de significância para todos os
testes aplicados foi de 5% (α=0,05).

RESULTADOS

A agressividade foi o
comportamento incômodo ou
problemático mais relatado com 27,6%
das respostas, seguido por vocalizações
com 23,0% e comportamentos
sanitários inadequados referentes à
micção e defecação em locais e/ou
contextos inapropriados (13,8%). Trinta
e oito proprietários (25,0%) afirmaram
que seu cão não apresentava qualquer
comportamento incômodo ou problema
de comportamento. Portanto 114
proprietários (75,0%) consideraram que
Após a reprodução do áudio e a seus cães apresentavam algum
transcrição literal das respostas, estas comportamento incômodo ou algum
foram agrupadas de acordo com seus problema de comportamento. Os
núcleos significativos e quantificadas comportamentos citados foram
com o objetivo de identificar os agrupados de acordo com o relato dos
problemas de comportamento dos quais proprietários.
os proprietários mais se queixavam e Na pergunta referente à pirraça,
suas variáveis. houve 111 (73,0%) respostas positivas,
Os problemas relatados nas sendo os comportamentos relacionados
perguntas ―Seu cão tem algum à micção e defecação os mais citados
comportamento que te incomoda?‖ e como pirraça. Foram 43 (28,3%)
―Seu cão tem algum problema de aqueles que relataram que seus cães
comportamento?‖ foram agrupados. demonstram comportamentos
As pergunta ―Houve algum motivo eliminativos inapropriados quando
para ele apresentar este querem fazer pirraça. Os demais
comportamento?‖ e ―Há quanto tempo comportamentos citados foram
ele apresenta este comportamento?‖ comportamentos destrutivos (17,1%),
não eram feita àqueles proprietários que agressividade (9,9%), teimosia (6,6%),
diziam que seus cães não tinham vocalizações (5,9%), exigências
comportamentos incômodos ou alimentares (o animal só come com
problemas de comportamento. determinadas exigências atendidas)

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Avaliação da percepção de proprietários de cães residentes em apartamentos no município de
Niterói-RJ sobre os sinais da síndrome de ansiedade de separação em animais

(5,9%), ciúmes (2,0%) e ―ficar de mal‖ Apesar da diferenciação apresentada,


(3,3%). Neste último item o animal todos esses casos podem ser atribuídos
permanece por algum tempo ignorando a mudanças na rotina ou no ritual de
a presença do proprietário ou não partida dos proprietários, que funcionam
atendendo a nenhuma de suas como desencadeadores dos sinais de
solicitações. SASA.
Outra pergunta feita nas Observou-se a percepção dos
entrevistas, que visava identificar se os proprietários em relação aos sinais da
proprietários reconheciam a origem do SASA em seus cães. Na comparação
problema de comportamento de seus entre EAPP e QI-SASA, 46 proprietários
cães, foi a seguinte: ―Houve algum perceberam os sinais, sendo que
motivo para ele apresentar este desses 39 cães apresentaram-se como
comportamento?‖. Os motivos descritos positivos pela avaliação dos
pelos proprietários foram agrupados, questionários e sete como negativos.
sendo o próprio cão incriminado em Vinte e um respondentes não
25,6% dos casos como ―culpado‖ pelo mostraram perceber o problema.
seu comportamento, seguido de eventos O resultado obtido mostrou que
externos (20,4%); inabilidade do os proprietários entrevistados percebiam
proprietário (15,1%); a raça (4,6%); e o problema (χ2=23,3; GL=1; p<0,0001),
11,2% desconheciam. Os proprietários porém dos 46 que percebiam o
que diserram que seus cães não tinham problema, 27 (58,7%) o atribuíram à
comportamentos incômodos totalizaram pirraça e apenas 9 (19,6%) a algum
35 (23,0%). problema de comportamento. Um total
O total de entrevistas para o de 10,9% descreveu os sinais como
levantamento dos comportamentos comportamento incômodo e o mesmo
apresentados quando os cães ficavam número como motivo para não deixar o
sozinhos foi de 68. Na avaliação cão sozinho em casa.
combinada de entrevistas e Os 21 proprietários que não
questionários, o total de animais que perceberam o problema foram
apresentaram sinais de SASA foi de 45 comparados com os resultados da
(65,2%) dentre os 68. Valor que não avaliação dos QI-SASA e os sinais de
difere significativamente dos 59,2% SASA extraídos desses questionários
encontrados pela análise isolada dos foram: oito com vocalização excessiva;
questionários (χ2=0,84; GL=1; p=0,179). sete com comportamento depressivo;
Desses quarenta e cinco, sete (15,6%) cinco com comportamento destrutivo; e
apresentaram histórico de desenvolver um com eliminação inapropriada.
os sinais de SASA apenas em Contrariando a expectativa de que a não
determinadas condições, o que passará percepção do problema pudesse ser
a ser chamado de SASA Condicional. devida a comportamentos depressivos,
Quatro relataram que seus cães já que esses são silenciosos.
apresentavam os sinais quando havia
mudanças na rotina. Dois, desses sete, DISCUSSÃO
disseram que seus cães apresentavam
os sinais de SASA se, ao sair, não lhes Duas dificuldades acompanham
forem dadas ―satisfações‖, como o qualquer pesquisa sobre problemas de
proprietário dizer que iria trabalhar, comportamento relacionados à
mesmo quando fosse sair, por exemplo. ansiedade em animais. Não há um
O último desses sete, descreveu padrão que determine o que é cada
a mesma apresentação condicional da doença, como há o DSM-IV (Diagnostic
SASA quando seu cão ficava no escuro. and Statistical Manual for Mental

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Disorders, 4ª versão) para a psiquiatria seeking behavior) (Fogle, 1992; Overall,


humana. O segundo obstáculo é a 1997; Beaver, 2001; Landsberg et al.,
dificuldade de definir qualquer problema 2004). Para isto, o repertório
de comportamento como positivo ou comportamental pode ser variado,
negativo, já que não há distúrbio dependendo do comportamento do
psiquiátrico que seja binário em proprietário o cão pode vocalizar
qualquer espécie animal É importante excessivamente, urinar/defecar em
ressaltar que nada substitui uma locais impróprios e até simular dores.
abordagem minuciosa e individualizada Existem também comportamentos
de cada caso, considerando cada exibidos pelo cão na ausência do
particularidade dos agentes da relação proprietário e que este pode atribuir à
(humanos e caninos), que, ainda assim pirraça. Contudo, são comportamentos
é insuficiente para mensurar o real lúdicos (roer objetos, cavar buracos, etc)
sofrimento dos animais ao serem e/ou sanitários não apresentados pelo
deixados sozinhos por seus cão com o proprietário presente por
proprietários. saber que este o repreenderá, mas que
Houve uma tendência maior a não encontram obstáculos quando o
atribuir ao cão as razões para os proprietário se encontra distante. Esses
comportamentos incômodos ou para os comportamentos são encarados como
problemas de comportamento falha na educação do cão (Fogle, 1992;
apresentados. Apenas 15,1% dos Overall, 1997; Beaver, 2001; Landsberg
proprietários admitiram que tais et al., 2004).
problemas ocorreram por inabilidade Durante a realização das
deles em lidar com o cão ou porque o entrevistas percebeu-se a presença de
cão aprendeu com eles a se comportar uma determinada característica pouco
assim. Tal dado corrobora com vários citada pela maioria dos autores
autores que descrevem que a maioria consultados, claramente descrita
dos problemas de comportamento dos apenas por Landsberg e colaboradores
cães é causada ou agravada pela forma (2004), que é o fato do animal apenas
com que o proprietário conduz esse apresentar os sinais de SASA em
animal (O´Farrell, 1997; Overall, 1997; determinadas circunstâncias, não os
Bénézech, 2003; Kobelt et al., 2003; apresentando quando deixados
Ladewig, 2005; Bennett e Rohlf, 2007). sozinhos nas demais.
Faz-se importante ressaltar que, O aspecto condicional da SASA
por definição, pirraça é um ato praticado pode induzir ao erro de diagnóstico,
propositalmente com o intuito de pois, em virtude do animal não se
contrariar, aborrecer, agastar ou amolar comportar sempre da mesma maneira
alguém (Ferreira, 1975). Sendo descarta-se a opção da SASA. Porém,
desconhecida nos cães essa como foi observado, aproximadamente
capacidade de praticar atos 15% dos animais que apresentaram
premeditados com o intuito de contrariar SASA o fizeram apenas sob certas
ou aborrecer quem quer que seja, condições sem, com isso, descartar o
sugere-se que sejam atitudes diagnóstico de SASA.
inconvenientes para o proprietário, que Se a condição desencadeante
visam comunicar algo normalmente não puder ser evitada, é certo que o impacto
entendido pelo mesmo (Fogle, 1992; da SASA na qualidade de vida do cão e
Beaver, 2001). O cão também é capaz da família é menor, porém pode gerar
de se comportar de maneiras certos rituais ou impedimentos que
inconvenientes apenas para chamar a podem desencadear outros fatores
atenção do proprietário (attention

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redutores na qualidade de vida de NOTAS INFORMATIVAS


todos.
O fato de a SASA ser percebida De acordo com a Resolução
como pirraça, possivelmente gera uma 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
instabilidade na relação entre o cão e o (CNS), vinculado ao Ministério da
proprietário. A partir do momento que tal Saúde/BR, o projeto foi submetido e
atitude é encarada como proposital, leva aprovado pelo Comitê de Ética em
o proprietário a punir o cão e/ou a sentir Pesquisa da Faculdade de Medicina da
aversão a ele, para não falar em raiva Universidade Federal Fluminense (CEP
ou ódio, com posterior degradação da CMM/HUAP nº. 149/06). Cada
relação e agravamento do problema. participante, ao ser abordado, assinou
um termo de consentimento livre e
CONCLUSÃO esclarecido.

A maioria dos proprietários dos e


cães considerados positivos para SASA REFERÊNCIAS
neste estudo perceberam o problema,
porém o fizeram de maneira distorcida
antropomorfizada, atribuindo os APPLEBY, D.; PLUIJMAKERS, J. Separation
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síndrome como pirraça. Além dos cães Clinics of North America: Small Animal
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comportamentos mais relatados como
incômodos ou problemáticos foram a ARANGO, G. H. Bioestatística: teórica e
computacional. 2. ed. Rio de Janeiro:
agressividade e as vocalizações
Guanabara Koogan, 2005.
excessivas. Ambos os resultados
obtidos ressaltam a importância de que BEAVER, B. V. Comportamento Canino: um
os Médicos Veterinários que atendem a guia para veterinários. São Paulo: Roca, 2001.
cães, principalmente nos grandes
centros urbanos, tenham conhecimento BENNETT, P. L.; ROHLF, V. I. Owner-
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sobre os distúrbios de comportamento between demographic variables, potentially
para orientar corretamente os problematic behaviours, training engagement
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commune?, Annales Médico Psychologique,
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v. 161, n. 8, p. 569–578, 2003.
entrevistas e aos questionários.
Também aos empresários que DENENBERG, S.; LANDSBERG, G. M.;
permitiram que a pesquisa fosse HORWITZ, D.; SEKSEL, K. A Comparison of
realizada em seus estabelecimentos. Cases Referred to Behaviorists in Three
Esta pesquisa teve o apoio da CAPES Different Countries, in: MILLS, D.; LEVINE, E.;
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