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CURSO DE PSICOLOGIA
PSICOPATOLOGIA
(SDE 0167)
TEXTOS DE APOIO
EMENTA DA DISCIPLINA
Unidade I - Introdução ao estudo da Psicopatologia e o diagnóstico em Psiquiatria
1.1 - Histórico e principais correntes em Psicopatologia;
1.2 - O normal e patológico em Psicopatologia;
1.3 - Conceituação de doença mental e transtorno psiquiátrico;
1.4 - Sistemas classificatórios: DSM IV e CID-10;
1.5 - Entrevista psiquiátrica e exame da doença mental; anamnese psiquiátrica; diagnóstico
pluridimensional.
Unidade II - Processos psíquicos e suas alterações
2.1 - Alterações da consciência (vigilância);
2.2 - Alterações da atenção;
2.3 - Alterações da orientação;
2.4 - Alterações nas vivências de tempo e espaço;
2.5 - Alterações da sensopercepção (alucinação);
2.6 - Alterações do pensamento;
2.7 - Alteração do juízo de realidade (delírio);
2.8 - Alterações da afetividade;
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
2
Considerações preliminares
A expressão psicopatologia origina-se de três afixos gregos: “pshiché” –
psiquismo, psiquê, psíquico; “pathos” – paixão, sofrimento e, “logos” –
discurso, conhecimento.
[...] A psicopatologia pode ser definida como o conjunto de conhecimentos
referentes ao adoecimento mental do ser humano. É um conhecimento que se
esforça por ser sistemático, elucidativo e desmistificante. Como conhecimento que visa ser
científico, não inclui critérios de valor, nem aceita dogmas ou verdades a priori. O psicopatólogo
não julga moralmente o seu objeto, busca apenas observar, identificar e compreender os diversos
elementos da doença mental.
A psicopatologia estuda especialmente os transtornos, não a sua causa ou tratamento. Procura,
portanto, estudar as manifestações clínicas das doenças mentais.
É um estudo descritivo dos transtornos, então não é explicativo.
Nesse sentido, a psicopatologia possui uma natureza semiológica, ou seja, a de um estudo dos
sinais e sintomas dos transtornos mentais (ou patognomonia).
1
Vide artigo sobre as causas genéticas da Esquizofrenia – pág. 195.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
4
Sinais e sintomas
Os sinais e os sintomas2 representam os signos da psicopatologia [...]. Os
sintomas são subjetivos (vivências, sensações e impressões) e aparecem
nas queixas do paciente. Dor, o sentimento de tristeza e a escuta
alucinatória, por exemplo, são sintomas. Já os sinais são objetivos, ou seja
são verificáveis pela observação direta. Eles podem ser detectados por outra
pessoa, às vezes pelo próprio paciente. [...] uma fácies de tristeza e o solilóquio (falar sozinho) são
sinais. (CHENIAUX, 2013, p. 4). Síndrome é um agrupamento de sintomas e sinais que ocorrem
juntos e que constituem uma condição reconhecível com etiologias e mecanismos diversos.3
estímulos tendem a responder aos sintomas de forma mais viva e ampla, e assim por diante.
A inteligência determina essencialmente os contornos, a diferenciação, a profundidade e a
riqueza de todos os sintomas. Pacientes muito inteligentes produzem, por exemplo, delírios
ricos e complexos, interpretam constantemente as suas vivências e desenvolvem as
dimensões conceituais das vivências de forma mais acabada. Sujeitos com inteligência
reduzida criam quadros psicopatológicos indiscriminados, sem detalhes, superficiais e
pueris.
2. Os transfundos mutáveis e momentâneos também atuam decisivamente na determinação
da qualidade e no sentido do conjunto das vivências psicopatológicas. O nível de
consciência estabelece a clareza e a precisão dos sintomas. Sob o estado de turvação, uma
alucinação auditiva ou visual, uma recordação, um sentimento específico são
experimentados em uma atmosfera mais onírica e confusa. O humor e o estado afetivo-
volitivo momentâneo influem decisivamente não apenas no desencadeamento de sintomas
(os chamados sintomas catatímicos7), mas também no colorido específico de sintomas não
diretamente deriváveis do estado afetivo. Uma ideia prevalente, em um contexto ansioso
intenso, pode ganhar dimensões muito próprias. Em um estado depressivo, qualquer
dificuldade cognitiva passa a ter uma importância enorme para o paciente.
7
Catatimia - 1. Entidade psiquiátrica que se manifesta paroxisticamente como crises passageiras, ditas catatímicas, e
que se caracteriza por intensa alteração do humor, seja no sentido da depressão, da expansão ou da passividade, não
levando, contudo, à melancolia, à mania ou à esquizofrenia. 2. Influência que exerce o estado afetivo sobre as demais
funções psíquicas. (Aurélio)
8
DALGALARRONDO, p., 2008, p. 293-4)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
6
DESENVOLVIMENTO
PROCESSO
(ou, EVOLUÇÃO)
- Personalidade pré-mórbida;
Crises (ou, Ataques)
- Sinais prodrômicos;
- Remissão;
Episódios
- Recuperação;
Fenômenos Agudos ou - Recaída ou Recidiva;
Reação Vivencial Anormal
Subagudos - Recorrência.
Fase
Surto
9
Adaptado de DALGALARRONDO, 2008, p. 296-9. (Negritos e acréscimos foram feitos pelo professor da matéria)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
7
Processo
Processo refere-se a uma transformação lenta e insidiosa da personalidade, decorrente de alterações
psicologicamente incompreensíveis, de natureza endógena. O processo irreversível, supostamente
de natureza corporal (neurobiológica), rompe a continuidade do sentido normal do desenvolvimento
biográfico de uma pessoa. Utiliza-se o termo processo, por exemplo, para caracterizar a natureza de
uma esquizofrenia de evolução insidiosa [doentia, maléfica], que lenta e radicalmente transforma a
personalidade do sujeito acometido.
Episódio
O episódio tem geralmente a duração de dias até semanas. Tanto o termo crise como o termo
episodio nada especificam sobre a natureza do fenômeno mórbido. Os termos episodio e crise são
denominações referentes apenas ao aspecto temporal do fenômeno. Na pratica, é comum utilizar-
se o termo episodio de forma inespecífica, quando não há condições de precisar a natureza do
fenômeno mórbido. Assim, pode-se falar em episodio maniatimorfo, episodio paranoide, episodio
depressivo, etc.
Remissão (remission). É o retorno ao estado normal tão logo acaba o episódio agudo. Fala-se em
remissão espontânea quando o paciente se recupera sem o auxílio de intervenção terapêutica.
Recuperação (recovery). É o retorno e a manutenção do estado normal, já tendo passado um bom
período de tempo (geralmente se considera um ano) sem que o paciente apresente recaída do
quadro.
10
Pródromo - Fenômeno clínico que revela o início de uma doença; propatia.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
8
Recaída ou recidiva (relapse). É o retorno dos sintomas logo após haver ocorrido uma melhora
parcial do quadro clínico [...] (não tendo passado um ano do episódio agudo).
Fase
Já a fase refere-se particularmente aos períodos de depressão e de mania dos transtornos
afetivos. Passada a fase, o individuo retorna ao que era antes dela, sem alterações duradouras na
personalidade, ou seja, não há sequelas na personalidade. A fase é, em sua gênese, incompreensível
psicologicamente, tendo um caráter endógeno. Uma fase pode durar semanas ou meses, menos
frequentemente, anos, havendo sempre (ou quase sempre) restitutio ad integrum11. Fala-se, então,
em fase depressiva, fase maníaca e período interfásico assintomático.
Surto
O surto, segundo a noção da patologia geral (mas assumida pela psicopatologia), é uma ocorrência
aguda, que se instala de forma repentina, fazendo eclodir uma doença de base endógena, não
compreensível psicologicamente. O característico do surto é que ele produz sequelas irreversíveis,
danos à personalidade e/ou à esfera cognitiva do individuo. Assim como, após o primeiro surto de
esclerose múltipla, o paciente ‘sai’ com alguma sequela sensitiva ou motora, após o primeiro surto
de esquizofrenia (com alucinações, delírios, percepção delirante, etc.), que pode durar de 3 a 4
meses, por exemplo, o individuo ‘sai diferente’, seu contato com os amigos torna-se mais
distanciado, o afeto modula menos, e ele tem dificuldades na vida social, as quais não consegue
explicar ou entender. É o ‘déficit pós-esquizofrênico’, devido àquilo que Bleuler afirmava: ‘A
esquizofrenia, de modo geral, não permite restitutio ad integrum’. Tem-se, portanto, como
possibilidades, um surto esquizofrênico agudo, um surto hebefrênico, um surto catatônico, etc.
Após vários anos de doença, nos quais vários surtos foram se sucedendo (ou um processo insidioso
foi se implantando de forma lenta), em geral o paciente encontra-se no chamado estado residual da
11
Restitutio ad integrum - Regresso ou retorno completo à normalidade ou à integridade.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
9
doença, apresentando apenas sinais e sintomas que são sequelas desta, sintomas
predominantemente negativos.
Dessa forma, é incorreto falar em surto maníaco [pois o surto, no exemplo dado, é bipolar], fase
esquizofrênica [pois fase refere-se a períodos dos transtornos afetivos, conforme visto
anteriormente, e não à doença], crise maníaca [pois a crise, ou ataque, refere-se ao que foi visto
anteriormente]; tal uso revela o desconhecimento da terminologia e dos conceitos psicopatológicos
básicos.
12
Toda classificação não é o resultado de um trabalho exclusivamente científico ou apenas um instrumento político; ela
é o conjunto, de modo geral, desses fatores. Cabe aos que produzem as classificações e aos que se utilizam delas que
estejam cientes desses propósitos, de suas finalidades e de seus limites. (Lowenkron, T. 2007)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
10
Conceituação
a. Oligofrenias (ou, Retardos Mentais)
Oligofrenia é sinônimo de Deficiência ou Retardo Mental. A característica essencial do Retardo
Mental é um funcionamento intelectual significativamente inferior à média, acompanhado de
limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de
habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais, uso de
recursos comunitários, autossuficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança.
O início deve ocorrer antes dos 18 anos. O Retardo Mental possui muitas causas diferentes que
afetam o funcionamento do sistema nervoso central.
O funcionamento intelectual geral é definido pelo quociente de inteligência (QI ou equivalente)
obtido mediante avaliação com um ou mais testes de inteligência padronizados de administração
individual (por ex., Escalas Wechsler de Inteligência para Crianças — Revisada, Stanford-Binet,
Bateria Kaufman de Avaliação para Crianças). Um funcionamento intelectual significativamente
abaixo da média é definido como um QI de cerca de 70 ou menos (aproximadamente 2 desvios-
padrão abaixo da média).
Cabe notar que existe um erro de medição de aproximadamente 5 pontos na avaliação do QI,
embora este possa variar de instrumento para instrumento (por ex., um QI de 70 na escala Wechsler
é considerado como representando uma faixa de 65-75). Portanto, é possível diagnosticar o Retardo
Mental em indivíduos com QIs entre 70 e 75, que exibem déficits significativos no comportamento
adaptativo. Inversamente, o Retardo Mental não deve ser diagnosticado em um indivíduo com um
QI inferior a 70, se não existirem déficits ou prejuízos significativos no funcionamento adaptativo.
(http://www.psiqweb.med.br)
b. Demências
A demência não é apenas um tipo de doença, ela é considerada uma síndrome, ou
seja, é um grupo de sinais físicos e sintomas que a pessoa apresenta, estando
presente em várias doenças diferentes. Assim, como uma síndrome a Demência
apresenta três características principais.
Prejuízo da memória. Os problemas de memória podem ser desde um simples
esquecimento leve até um prejuízo severo a ponto de não se recordar da própria
identidade.
Problemas de comportamento. Normalmente se caracteriza por agitação, insônia, choro fácil,
comportamentos inadequados, perda da inibição social normal, alterações de personalidade.
Perda das habilidades. São as habilidades adquiridas durante a vida, tais como, organizar os
compromissos, dirigir, vestir a roupa, cuidar da vida financeira, cozinhar, etc.
Os sintomas iniciais de Demência variam, mas a perda de memória em curto prazo costuma ser a
característica principal ou única a ser trazida à atenção do médico na primeira consulta. Ainda
assim, nem todos os problemas cognitivos nos idosos são devidos a Demência. Perguntas
cuidadosas aos pacientes e aos familiares podem ajudar a determinar a natureza do
comprometimento cognitivo e a estreitar o diagnóstico.
Os sintomas mais comuns que aparecem nas Demências são:
1- déficit de memória;
2- dificuldades de executar tarefas domésticas;
3- problema com o vocabulário;
4- desorientação no tempo e espaço;
5- incapacidade de julgar situações;
6- problemas com o raciocínio abstrato;
7- colocar objetos em lugares equivocados;
8- alterações de humor de comportamento;
9- alterações de personalidade;
10- perda da iniciativa – passividade.
Existem muitas doenças ou alterações orgânicas capazes de levar a um quadro demencial. Muitas
dessas causas relacionadas à Demência são reversíveis, principalmente o uso prolongado de alguns
medicamentos, como por exemplo, drogas usadas para hipertensão arterial, diuréticos, alguns
hipnóticos. A depressão também pode esta associada à Demência. Muitas vezes, diferenciar a
Demência da depressão é uma tarefa difícil e que apresenta muitos obstáculos. Outras doenças
relacionadas com a Demência são:
doenças vasculares do sistema nervoso central – SNC,
doenças infecciosas,
hipotireoidismo,
deficiência de vitamina B12,
Síndrome de Wernic-Korsacoff,
sífilis e HIV no SNC,
doenças degenerativas do SNC (doenças inflamatórias, atrofias etc.)
(adaptado de http://www.psiqweb.med.br/)
c. Psicoses
Psicoses são distúrbios psiquiátricos graves onde o paciente perde contato
com a realidade, emite juízos falsos (delírios), podendo também apresentar
alucinações (ter percepções irreais quanto a audição, visão, tato), distúrbios
de conduta levando à impossibilidade de convívio social, além de outras
formas bizarras de comportamento.
O termo Psicose (e sintomas psicóticos) é empregado para se referir à perda do juízo da realidade e
um comprometimento do funcionamento mental, social e pessoal, normalmente levando a um
prejuízo no desempenho das tarefas e papéis habituais.
As Psicoses podem ter várias origens: por lesões cerebrais, tumores cerebrais, esquizofrenia,
tóxicos, álcool, infecções, traumas emocionais etc. Algumas Psicose são incuráveis, outras
apresentam cura completa. Quase sempre requer tratamento à base de psicotrópicos. Nem sempre é
necessária a internação. Nas psicoses agudas, as psicoterapias são pouco indicadas.
[No DSM-5, os Transtornos Psicóticos incluem: Transtorno Psicótico Breve, Transtorno
Esquizofreniforme, Esquizofrenia, Transtorno Esquizoafetivo, Transtorno Psicótico Induzido por
Substância/Medicamento, Transtorno Psicótico Devido a Outra Condição Médica, Catatonia13
Associada a Outro Transtorno Mental, Transtorno Catatônico Devido a Outra Condição Médica,
Catatonia Não Especificada, Outro Transtorno do Espectro da Esquizofrenia e Outro Transtorno
Psicótico Especificado, Transtorno do Espectro da Esquizofrenia e Outro Transtorno Psicótico Não
Especificado.]
Na CID.10 os Transtornos Psicóticos são classificados como (F20-F29) esquizofrenia, transtornos
esquizotípicos e transtornos delirantes. Este agrupamento reúne a esquizofrenia, a categoria mais
importante deste grupo de transtornos, o transtorno esquizotípico e os transtornos delirantes
persistentes e um grupo maior de transtornos psicóticos agudos e transitórios. Os transtornos
esquizoafetivos foram mantidos nesta seção, ainda que sua natureza permaneça controversa.”
(http://www.psiqweb.med.br/)
A perspectiva psicanalítica em relação às psicoses propõe existir um terrível conflito entre o ego
e o mundo externo. Incapaz de mediar satisfatoriamente tais circunstâncias o ego criaria uma nova
realidade, uma realidade delirante e alucinadamente de acordo com os impulsos do Id.
“O efeito patogênico depende do ego, numa tensão conflitual desse tipo, permanecer fiel à sua
dependência do mundo externo e tentar silenciar o id, ou se ele se deixar derrotar pelo id e,
portanto, ser arrancado da realidade.” Inicialmente, Freud propõe que na neurose existe uma luta
vitoriosa contra a perda da realidade, enquanto na psicose a perda é irremediável. Posteriormente,
através da observação clínica, ele conclui no texto “A Perda da Realidade na Neurose e na Psicose”
que tanto na neurose quanto na psicose existe uma perturbação da relação do sujeito com a
realidade. “Na neurose, um fragmento da realidade é evitado por uma espécie de fuga, ao passo que
na psicose ele é remodelado... a neurose não repudia a realidade, apenas a ignora: a psicose a
repudia e tenta substituí-la”. (Freud, 1924, pág. 231) [...]
Para Freud, o ponto central de sua observação é que em ambas as estruturas o mais importante não
13
Catatonia - Fenômeno esquizofrênico caracterizado por perda da iniciativa motora e certo grau de tensão muscular,
atitude fixa, fenômenos cinéticos e automáticos paradoxais, e, às vezes, estupor, mutismo e negativismo.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
13
d. Neuroses
[...] A neurose é uma reação exagerada do sistema emocional em relação a uma
experiência vivida (Reação Vivencial). Neurose é uma maneira da pessoa SER e
de reagir à vida. Quando se diz que a pessoa É neurótica e não ESTÁ neurótica,
está se tentando dizer que a neurose é uma maneira da pessoa ser, associada a
traços de sua personalidade. Essa maneira de ser neurótica significa que a pessoa
reage à vida através de reações vivenciais não normais; seja no sentido dessas
reações serem desproporcionais, seja pelo fato de serem muito duradouras, seja
pelo fato delas existirem mesmo sem que exista uma causa vivencial aparente.
Essa maneira exagerada de reagir leva a pessoa neurótica a adotar uma serie de comportamentos
compatíveis com o que está sentindo. Cada tipo de transtorno neurótico tem seus sintomas, suas
atitudes e sentimentos; o quadro das neuroses é muito variável.
Na realidade os quadros neuróticos estão descritos em várias seções, tais como Ansiedades e
Fobias, Depressão, Estresse, Histeria e afins, Obsessões e Compulsões e outros.
O neurótico tem plena consciência do seu problema e muitas vezes, sente-se impotente para
modificá-lo. [...]
(adaptado de http://www.psiqweb.med.br/)
Sob o ponto de vista psicanalítico, as neuroses corresponderiam, então, “numa divisão entre o
afeto e a ideia. O afeto permanece na esfera psíquica, enquanto a ideia passa a ser enfraquecida e
permanece na [recalcada no inconsciente], separada de qualquer associação. Para Freud, o afeto
apresenta um destino diferenciado.15
‘Mas seu afeto, tornado livre, liga-se a outras ideias que não lhe sejam incompatíveis; e, graças a
essa ‘falsa conexão’, tais ideias desenvolvem-se como obsessivas. Essa é, em poucas palavras, a
teoria psicológica das obsessões e fobias...’ (Freud,1894, pág. 64)
Nesse texto encontra-se a afirmativa de que a histeria, as fobias e obsessões acham-se diretamente
relacionadas a ideias sexuais reprimidas.
No artigo “hereditariedade e a etiologia das Neuroses”, de 1896, Freud reafirma que a origem das
neuroses está vinculada à vida sexual:
‘Baseado em uma laboriosa observação dos fatos, devo sustentar que essa última suposição
concorda e muito com a realidade, pois cada uma das neuroses maiores que enumerei têm como sua
causa imediata um distúrbio particular da economia do sistema nervoso, e que essas modificações
patológicas funcionais têm como fonte comum a vida sexual do sujeito, sejam apoiadas em uma
perturbação de sua vida sexual contemporânea ou em fatos importantes do passado.’ (Freud,1896,
pág. 171/172)16
14
Adaptado de OLIVEIRA, M.S.B., O conceito das estruturas clínicas neurose e psicose para a psicanálise. [s.d.],
p. 120.
15
Estas ideias correspondem ao que se conceitua em psicanálise de “Solução de Compromisso” nas neuroses.
16
OLIVEIRA, M.S.B., O conceito das estruturas clínicas neurose e psicose para a psicanálise. [s.d.], p. 120. As
chaves são do professor.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
14
e. Transtornos de personalidade
Pessoas explosivas, teatrais, sistemáticas, meticulosas, obsessivas, cismadas,
muito emotivas e outros tipos difíceis de conviver sugerem, intuitivamente
para todos nós, tratar-se de uma maneira de SER assim e não de ESTAR
assim. Ao longo da vida essas pessoas podem melhorar, através de muito
empenho e vontade de morrer melhor do que nasceram. Outras estacionam,
petrificadas para sempre, sofrendo e fazendo sofrer.
Henri Ey considera algumas pessoas portadoras de um Ego Patológico, caracterizando não apenas
uma maneira de ESTAR no mundo, mas sobretudo, uma maneira de SER no mundo. Karl Jaspers
afirma serem anormais as personalidades que fazem sofrer, tanto a pessoa quanto quem a rodeia.
Para Jaspers, as personalidades anormais representam variações não-normais da natureza humana,
as quais podem perfeitamente ser entendidas como Transtornos de Personalidade (TP).
Diz a CID.10 que os transtornos de personalidade são estados e tipos de comportamentos
característicos que expressam maneiras da pessoa viver e de estabelecer relações consigo
mesma e com os outros. São distúrbios da constituição e das tendências comportamentais –
continua dizendo a CID.10 – não diretamente relacionados a alguma doença, lesão, afecção
cerebral ou a outro transtorno psiquiátrico. Isso tudo quer dizer que a pessoa simplesmente é
desse jeito e será sempre assim.17
Habitualmente os transtornos da personalidade se acompanham de sofrimento e de
comprometimento no desempenho global da pessoa. Aparecem precocemente durante o
desenvolvimento individual sob a influência de múltiplos fatores, sejam constitucionais, sociais ou
existenciais.18 Depois de solidificado este conjunto de traços pessoais, tal como uma
personalidade normal, persistirá indefinidamente.
Entretanto, dependendo da cognição, juízo crítico, conhecimento e disposição ao entendimento, tais
estados supostamente pétreos podem seguir por caminhos mais favoráveis e de menor sofrimento,
tanto para a pessoa deles portadora, quanto dos demais à sua volta. Sabendo lidar com essa questão
a pessoa poderá se adaptar perfeitamente a sua maneira de ser, poderá disciplinar pulsões, esquemas
de pensamentos, impulsos específicos desses transtornos, e tal manejo poderá ser de tal forma
eficiente que a qualidade da vida emocional será muito melhorada.
De fato, o que denomina, classifica ou dá o nome ao transtorno da personalidade é a
predominância de determinados traços, os quais todos nós os temos em dose diminuta. Todos
temos algo de histéricos, uma pitada de paranoia, traços de ansiedade, e assim por diante.
Entretanto, no transtorno da personalidade tais traços são predominantes e dominam tiranamente a
maneira de ração dessas pessoas de forma a causar sofrimento (na pessoa e/ou naqueles próximos) e
comprometer o desempenho.
[...] A Organização Mundial de Saúde (OMS) trata do assunto sob o titulo de Transtornos da
Personalidade e de Comportamento, especificando-os nos códigos F60 até F69 na CID-10. A OMS
descreve tais transtornos da seguinte maneira:
‘Estes tipos de condição abrangem padrões de comportamento permanentes e profundamente
arraigados no ser que se manifestam como respostas inflexíveis a uma ampla série de situações
17
Este trecho nos sugere uma causa genética/orgânica para os diversos Transtornos de Personalidade.
18
Observe que neste trecho, diferentemente dos demais, cogitam-se causas sociais e existenciais para os TP. Isto nos
sugere uma possível falta de consenso entre os autores psiquiátricos. Note-se, no entanto, que a tendência predominante
em psiquiatria, em relação às causas dos TP, é a de atribuir às causas genéticas/orgânicas.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
15
19
Este trecho nos sugere uma possível origem genética para tais transtornos. Tal posição da psiquiatria não é a
definitiva nas ciências que estudam a mente humana (por exemplo, a própria psicologia).
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
16
exposição a uma toxina) ou a outra condição médica (p. ex., traumatismo craniencefálico) (Critério
F).
E qual seria a diferença entre o Transtorno da Personalidade e a Doença Mental franca? As
doenças mentais ocorrem e se desenvolvem a partir de um momento definido da vida, tal como são
as crises, reações, processos, episódios e surtos20, enquanto os Transtornos da Personalidade, por
sua vez, são maneiras problemáticas de ser, constantes e perenes. As doenças mentais surgem e os
Transtornos da Personalidade são.21
Na Esquizofrenia, por exemplo, assim como nos Transtornos do Humor e outros, a partir de um
determinado momento na vida a personalidade, que já era chamada pré-mórbida, envereda por uma
trajetória que se afasta mais e mais do normal resultando em um episódio agudo. Nos Transtornos
da Personalidade o rumo da personalidade está e sempre esteve algo distante do normal, embora não
tenha obrigatoriamente que piorar cada vez mais, como nos outros processos psicopatológicos.
Os Transtornos de Personalidade afetam todas as áreas da personalidade, o modo como o indivíduo
vê o mundo, a maneira como expressa as emoções, o comportamento social. Caracteriza um estilo
pessoal de vida mal adaptado, inflexível e prejudicial a si próprio e/ou aos que com ele convivem.
Essas características, no entanto, apesar de necessárias não são suficientes para identificação dos
Transtornos de Personalidade, pelo fato de serem muito vagas. A maneira mais clara como a
classificação deste problema vem sendo tratada é através da subdivisão em tipos de transtornos de
personalidade, com critérios de diagnóstico próprios e bem definidos, tanto pela CID.10, quanto
pelo DSM-5.
Convencionalmente os transtornos da personalidade foram divididos em três grupos:
1º. Grupo – Aqui estão as pessoas caracterizadas essencialmente por pensamentos estranhos,
comportamentos excêntricos e mórbida tendência ao isolamento. Estão classificadas aqui as
personalidades paranoides e esquizoides, as primeiras possuidoras de rígido padrão de suspeitas e
desconfianças infundadas, as segundas são emocionalmente distantes e com dificuldade em
estabelecer relações sociais.
2º Grupo – Os transtornos deste grupo têm em comum um comportamento com tendência à
dramaticidade, apelação e emoções que se expressam intensamente. Os indivíduos histriônicos
representam esse grupo, sendo muito excitáveis, demonstrativos, justificativos e egocêntricos.
Também está aqui a chamada Personalidade Antissocial, que manifesta expressiva incapacidade
geral de adaptação aos padrões sociais estabelecidos e para relações afetivas estáveis.
3º. Grupo – Estão neste grupo as personalidades com marcantes traços de dificuldade no controle
dos impulsos; transtorno explosivo ou impulsivo da personalidade, transtorno ansioso ou evitativo
da personalidade, transtorno anancástico ou obsessivo-compulsivo da personalidade.22
20
Assim definidas, o conceito de Doença Mental assemelha-se ao de Alteração da Personalidade, anteriormente
estabelecido.
21
Este parágrafo nos sugere, portanto, que os TP não deveriam ser classificados, stricto-sensu, como “doenças
mentais”.
22
Adaptado de www.psiqweb.com.br.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
17
CORRENTE DA PSICOPATOLOGIA23
23
Quadro montado a partir de DALGALARRONDO, 2008, p. 35-8)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
18
24
Nosologia – é o estudo das doenças.
25
Distimia – [...] em psicopatologia geral, é o termo que designa a alteração básica do humor, tanto no sentido da
inibição como no sentido da exaltação. Não se deve confundir o sintoma distímico com o transtorno depressivo
persistente (no DSM-5 também chamado de distimia), que, segundo as classificações da CID-10 e do DSM-5, é um
transtorno depressivo leve e crônico. (DALGALARRONDO, 2008, p. 164). Como transtorno, a distimia caracteriza-se
por ser um rebaixamento crônico do humor, persistindo ao menos por vários anos, mas cuja gravidade não é suficiente
ou na qual os episódios individuais são muito curtos para responder aos critérios de transtorno depressivo recorrente
grave, moderado ou leve.
26
Mania sem sintomas psicóticos - Presença de uma elevação do humor fora de proporção com a situação do sujeito,
podendo variar de uma jovialidade descuidada a uma agitação praticamente incontrolável. Esta elação se acompanha de
um aumento da energia, levando à hiperatividade, um desejo de falar e uma redução da necessidade de sono. A atenção
não pode ser mantida, e existe frequentemente uma grande distração. O sujeito apresenta frequentemente um aumento
do autoestima com ideias de grandeza e superestimativa de suas capacidades. A perda das inibições sociais pode levar a
condutas imprudentes, irrazoáveis, inapropriadas ou deslocadas. (CID 10)
Mania com sintomas psicóticos - Presença, além do quadro clínico descrito [anteriormente] de ideias delirantes (em
geral de grandeza) ou de alucinações (em geral do tipo de voz que fala diretamente ao sujeito) ou de agitação, de
atividade motora excessiva e de fuga de ideias de uma gravidade tal que o sujeito se torna incompreensível ou
inacessível a toda comunicação normal. (CID 10)
27
‘ [...] Uma psicose corresponde a uma perturbação primária da relação libidinal com a realidade. A oposição neurose-
psicose põe em jogo a posição intermediária do ego entre o id e a realidade. Enquanto na neurose o ego obedece as
exigências da realidade (e do superego), recalcando as reivindicações pulsionais, na psicose começar por se gerar uma
ruptura entre o ego e a realidade, que deixa o ego sob o domínio do id.” (CASTRO, 2006, p. 75)
28
Estupor – “estado mental no qual um indivíduo fica total ou quase totalmente insensível e imóvel e experimenta
desorientação”. (APA, 2010, p. 391)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
19
29
Assim colocada, esta corrente assemelha-se à corrente Existencial, anteriormente estudada.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
20
30
Macarthismo (em inglês McCarthyism) é o termo que descreve um período de intensa patrulha anticomunista,
perseguição política e desrespeito aos direitos civis nos Estados Unidos que durou do fim da década de 1940 até meados
da década de 1950. Foi uma época em que o medo do Comunismo e da sua influência em instituições americanas
tornou-se exacerbado, juntamente ao medo de ações de espionagem promovidas pela OTAN. (Wikipedia)
31
Presbiopia - Distúrbio visual que se observa na velhice, e em que se perde, por baixa de elasticidade e por
diminuição da capacidade de acomodação do cristalino, o poder de distinguir, com nitidez, objetos próximos.
(AURÉLIO)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
21
frequentes, mas que evidentemente não podem, a priori, ser considerados normais ou
saudáveis.
4. Normalidade como bem-estar
A Organização Mundial de Saúde (WHO, 1946) definiu, em 1946, a saúde como o completo
bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença. É um
conceito criticável por ser muito vasto e impreciso, pois bem-estar é algo difícil de se definir
objetivamente. Além disso, esse completo bem-estar físico, mental e social é tão utópico que
poucas pessoas se encaixariam na categoria “saudáveis”.
5. Normalidade funcional
Tal conceito baseia-se em aspectos funcionais e não necessariamente quantitativos. O
fenômeno é considerado patológico a partir do momento em que é disfuncional, produz
sofrimento para o próprio indivíduo ou para o seu grupo social.
6. Normalidade como processo
Neste caso, mais que uma visão estática, consideram-se os aspectos dinâmicos do
desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e das reestruturações ao longo do tempo,
de crises, de mudanças próprias a certos períodos etários. Esse conceito é particularmente
útil em psiquiatria infantil, de adolescentes e geriátrica.
7. Normalidade subjetiva
Aqui é dada maior ênfase à percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação a seu
estado de saúde, as suas vivências subjetivas. O ponto falho desse critério é que muitas
pessoas que se sentem bem, “muito saudáveis e felizes”, como no caso de sujeitos em fase
maníaca, apresentam, de fato, um transtorno mental grave.
8. Normalidade como liberdade
Alguns autores de orientação fenomenológica e existencial propõem conceituar a doença
mental como perda da liberdade existencial (p.ex., Henry Ey). Dessa forma, a saúde mental
se vincularia às possibilidades de transitar com graus distintos de liberdade sobre o mundo e
sobre o próprio destino. A doença mental é constrangimento do ser, é fechamento,
fossilização das possibilidades existenciais. [...]
9. Normalidade operacional
Trata-se de um critério assumidamente arbitrário, com finalidades pragmáticas explícitas.
Define-se, a priori, o que é normal e o que é patológico e busca-se trabalhar
operacionalmente com esses conceitos, aceitando as consequências de tal definição prévia.
Portanto, de modo geral, pode-se concluir que os critérios de normalidade e de doença em
psicopatologia variam consideravelmente em função dos fenômenos específicos com os quais se
trabalha e, também, de acordo com as opções filosóficas do profissional. Além disso, em alguns
casos, pode-se utilizar a associação de vários critérios de normalidade ou doença, de acordo com o
objetivo que se tem em mente. De toda forma, essa é uma área da psicopatologia que existe postura
permanentemente crítica e reflexiva dos profissionais. (DALGALARRONDO, 2008, p. 31-4)
A entrevista psiquiátrica32
A entrevista psiquiátrica possui três objetivos básicos: a formulação de um diagnóstico, a
formulação de um prognóstico33 e o planejamento terapêutico. [...] No início é essencial que o
médico se apresente, explique o objetivo da entrevista e, se possível, obtenha o consentimento do
paciente. Se não há plena consciência de morbidade por parte do paciente, é fundamental que se
entrevistem os familiares – ou outras pessoas que possam prestar informações – de preferência com
a concordância (e a presença) do paciente.
A arte de entrevistar só pode ser adquirida mediante o treinamento com um supervisor e com a
prática. Aulas e manuais, contudo, também trazem algum auxílio. Ensina-se ao aluno como
trabalhar com as evidências apuradas, embora seja difícil mostrar como obtê-las. De qualquer
modo, há algumas regras básicas que devem ser seguidas:
- No começo, deve-se deixar o paciente falar livremente, e só depois perguntar de modo mais
específico temas ou pontos duvidosos.
- É preciso saber quando e como interromper o paciente: sem cortar o fluxo da comunicação, mas
sem deixar que a minuciosidade ou a prolixidade (alterações da forma do pensamento) prejudiquem
a obtenção da história clínica. Sempre controlar e dirigir a entrevista.
- Não formular as perguntas de maneira monótona ou mecânica. O diálogo deve ser tão informal
quanto possível.
- Evitar perguntas muito sugestivas, fechadas, que podem ser respondidas com um simples sim ou
não: é melhor perguntar ‘Como você está se sentido?’ do que ‘Você está ansioso?’
- Não aceitar jargões fornecidos pelos pacientes, como ‘nervoso’, ‘deprimido’, ‘tenho pânico’: pedir
para que ele explique o que quer dizer com essas palavras.
- Certificar-se de que o paciente compreende as perguntas: utilizar linguagem acessível, sem termos
médicos.
32
CHENIAUX, 2013, p. 5-13 – com adaptações.
33
Prognóstico - Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, acerca da duração, evolução e
termo de uma doença. (AURÉLIO)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
23
34
sic - Palavra que se pospõe a uma citação, ou que nesta se intercala, entre parênteses ou entre colchetes, para indicar
que o texto original é bem assim, por errado ou estranho que pareça. (AURÉLIO)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
24
certos sintomas cuja ausência pode ser significativa para a identificação da doença ou da
fase evolutiva em que esta se encontra. Episódios psiquiátricos anteriores devem ser
relatados também aqui, já que estes devem estar relacionados ao atual, visto que os
transtornos mentais são, em geral, crônicos.
Em casos de transtorno de personalidade ou de retardo mental, será impossível separar HDA
e história pessoal, que podem ser fundidas.
5) História patológica pregressa (HPP)
A HPP refere-se a estados mórbidos passados, em geral não psiquiátricos, que não
mostrem possuir relação direta ou indireta de causa e efeito com a moléstia atual. Se existir
essa relação, eles são incluídos na HDA. São investigados principalmente as seguintes
ocorrências: enurese [incontinência urinária], sonilóquio, pesadelos frequentes, terror
noturno, sonambulismo, asma, tartamudez [dificuldades para falar, gagueira], fobia escolar,
na infância; convulsões35 ou desmaios; doenças venéreas; outras doenças infecciosas,
tóxicas ou degenerativas; traumatismos cranianos; alergia; intervenções cirúrgicas; hábitos
tóxicos (álcool, tabaco, drogas ilícitas); uso de medicamentos. Faz parte também da HPP a
revisão de sistemas, isto é, o questionamento junto ao paciente relativo a cada aparelho de
seu organismo (cardiovascular, respiratório, etc.).
Na redação da HPP incluem-se todas as doenças importantes relatadas. Não se devem listar
doenças ausentes, já que é impossível citar todas as que existem, a não ser que tal ausência
seja significativa para a formulação do diagnóstico.
6) História fisiológica
São investigados os seguintes elementos relativos à história fisiológica: gestação (da mãe),
nascimento, aleitamento, desenvolvimento psicomotor (andar, falar, controle esfincteriano),
menarca [primeira menstruação], catamênios [menstruação], atividade sexual, gestações,
partos, abortamentos, menopausa, padrões de sono e de alimentação.
7) História pessoal (Fatores Predisponentes)
Pode-se optar por fundir a HPP, a história fisiológica, a história pessoal e a história social,
sob a denominação de história pessoal. Caso se mantenha a história pessoal como um item
mais restrito, pesquisam-se as seguintes informações:
- Infância: personalidade, socialização, jogos e brincadeiras, aproveitamento escolar,
ansiedade de separação.
- Adolescência: desempenho escolar, uso de álcool e drogas, delinquência, relacionamentos
interpessoais.
- Sexualidade: iniciação, preferência, orientação, número de parceiros, frequência.
- Vida profissional: vocações; estabilidade no emprego; relacionamento com chefes,
subordinados e colegas; desempenho.
- Personalidade pré-mórbida: relacionamentos sociais, interesses, hábitos de lazer e
culturais, padrão de humor, agressividade, introversão/extroversão, egoísmo, altruísmo,
independência/dependência, atividade/passividade, valore, adaptação ao ambiente.
35
As convulsões generalizadas podem ser: De ausência: geralmente ocorrem em crianças. Como o nome implica, a
pessoa fica ausente do mundo consciente por um breve período. Clônicas: causam convulsões ou movimentos
involuntários em ambos os lados do corpo. Mioclônicas: envolvem o movimento involuntário da parte superior do
corpo e dos membros. Tônicas: resultam na contração súbita dos músculos. Essas convulsões são mais comuns durante
o sono. Atônicas: envolvem a perda do controle muscular, fazendo a pessoa desmaiar ou cair. Tônico-clônicas:
envolvem uma combinação dos sintomas das convulsões tônicas e clônicas.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
25
8) História social
Fazem parte da história social informações relativas à moradia – condições sanitárias,
pessoas com quem convive, número de cômodos, privacidade, características sócio-
demográficas da região; situação socioeconômica; características socioculturais; atividade
ocupacional atual; situação previdenciária; vínculo com o sistema de saúde; atividades
religiosas e políticas; antecedentes criminais.
9) História familiar (Fator Predisponente)
A história familiar abrange dados relacionados a: doenças psiquiátricas e não psiquiátricas;
ter sido a gravidez desejada ou não pelos pais do paciente, separação dos pais, quem criou o
paciente; ordem de nascimento entre os irmãos, diferença de idade; características de
personalidade dos familiares, o relacionamento entre estes e destes com o paciente; atitude
da família diante da doença do paciente; relacionamento com o cônjuge e filhos.
O exame psíquico
O exame psíquico também é chamado de exame do estado mental, exame mental, exame
psicopatológico, exame psiquiátrico. Ele começa no primeiro contato com o paciente, antes de se
obterem os dados de identificação. O psiquiatra experiente será capaz de realizar a maior parte do
exame do estado mental ao mesmo tempo em que completa a tomada da história. [...]
No exame psíquico, são descritas apenas as alterações presenciadas durante a entrevista. Portanto,
na redação do exame psíquico, expressões como no momento ou durante a entrevista são
redundantes. De um momento para outro, a sintomatologia psiquiátrica pode mudar – como podem
mudar a frequência cardíaca, a pressão arterial, etc. -, constituindo assim um outro exame psíquico.
Nos casos em que a sintomatologia é intermitente, o que não é raro com alucinações e com
alterações do nível de consciência, um exame psíquico isolado pode ser pouco revelador. Uma
possível solução seria tornar o exame psíquico mais amplo, compreendendo mais de uma
observação, com intervalos de horas ou dias entre uma e outra.
Na redação, é conveniente a descrição das condições nas quais se realizou ou exame: se no
domicílio do paciente, em consultório ou ambulatório, em quarto de hospital, ou numa enfermaria;
se havia mais alguém presente.
Há uma influência mútua entre as funções mentais. Na verdade, qualquer subdivisão das funções
mentais é artificial, e as diversas funções psíquicas são avaliadas de forma praticamente simultânea.
As funções psíquicas podem alterar-se quantitativa ou qualitativamente.
Além do registro das alterações psicopatológicas, faz parte do exame psíquico a descrição das
funções mentais preservadas. Não devem ser consideradas as possíveis causas dos fenômenos: são
apontadas todas as alterações presentes, mesmo que, por exemplo, se acredite que elas sejam
devidas à medicação em uso. Para a avaliação de algumas funções, como memória, orientação,
inteligência, etc., são necessárias perguntas mais específicas ou mesmo testes. A redação do exame
psíquico deve restringir-se a uma descrição dos fenômenos observados, sem o uso de termos
técnicos.
Súmula psicopatológica
Os itens que compõem a súmula psicopatológica são: (1) aparência; (2) atitude; (3) consciência; (4)
atenção; (5) sensopercepção; (6) memória; (7) fala e linguagem; (8) pensamento; (9) inteligência;
(10) imaginação; (11) conação36; (12) psicomotricidade; (13) pragmatismo37; (14) humor e
afetividade; (15) orientação38; (16) consciência do eu; (17) prospecção39; (18) consciência de
morbidade.
Esses mesmos elementos são examinados no exame psíquico. A súmula psicopatológica e o exame
psíquico possuem o mesmo conteúdo, sendo a súmula um resumo do exame psíquico: a partir de
um exame psíquico bem feito, qualquer outra pessoa terá que formular a mesma súmula
psicopatológica. Além disso, na súmula torna-se explícita a subdivisão das funções mentais e são
utilizados termos técnicos.
Não há uma uniformidade quanto a uma configuração ideal da súmula, nem quanto ao número ou
ordem de apresentação dos itens. [...]
Diagnóstico psiquiátrico
[...] As doenças são apenas conceitos, abstrações criadas pelo homem, que podem ser a qualquer
momento modificadas ou descartadas. Constituem condições relacionadas a desconforto, dor,
incapacitação ou morte, mas que só vão ser consideradas doenças em função de muitos fatores
(sociais, econômicos, biológicos, etc.).
São levantadas algumas objeções à formulação de diagnósticos. Uma delas está relacionada à ideia
de que cada pessoa é uma realidade única e inclassificável: ‘não existem doenças, mas doentes.’
Afirma-se ainda que o diagnóstico é estigmatizante, e que ele apenas serviria para rotular as pessoas
diferentes, permitindo e legitimando o poder médico, o controle social sobre o indivíduo
desadaptado ou questionador.
Mas, entre diagnosticar e reduzir a pessoa que recebeu o diagnóstico a um rótulo, há uma grande
diferença. Embora possua algumas desvantagens e possa ser usado indevidamente, o diagnóstico
36
Conação – “[...] conjunto de atividades psíquicas direcionadas para a ação. Incluem-se as funções conativas os
impulsos e a vontade.” (CHENIAUX, 2013, p.117)
37
Pragmatismo – “[...] capacidade de colocar em prática, de realizar de forma eficaz, aquilo que se deseja ou que foi
planejado. Portanto, ele não pode ser avaliado se a conação está diminuída: se o paciente nada quer, o distúrbio não está
na transposição do querer para a realização. De certa forma, o pragmatismo serve como uma medida do grau de eficácia
das funções psíquicas em seu conjunto (Motta, 1995). O pragmatismo só pode se alterar quantitativamente, e para
menos: hipopragmatismo e apragmatismo. O exame do pragmatismo implica, em primeiro lugar, identificar os
interesses e objetivos do paciente, e, em segundo, avaliar a adequação do comportamento quanto à realização de tais
objetivos. Todos os transtornos mentais levam a acerto grau de hipopragmatismo, uns mais, outros menos. O maníaco,
apesar da hiperbullia (intensificação da vontade), está hipopragmático: seus objetivos mudam constantemente e ele não
consegue terminar nada que inicia.” (CHENIAUX, 2013, p.130)
38
Orientação – “é a capacidade de se situar em relação a si mesmo e ao ambiente. Não é propriamente uma função
psíquica; consiste, de fato, no resultado dos rendimentos e da integração de diversas funções psíquicas – como a
percepção, a atenção, a memória, o pensamento, a inteligência e o afeto. A orientação resulta especialmente da
apercepção (ou apreensão, compreensão intelectual). A apercepção representa a capacidade de relacionar entre si as
percepções para alcançar a significação do contexto. Por exemplo, na tela do televisor vemos um extenso gramado com
algumas marcações brancas e duas traves, além de um bola e homens uniformizados correndo, e, através da apercepção,
concluímos que se trata de uma partida de futebol.” (CHENIAUX, 2013, p.152)
39
Prospecção – “[...] consiste no planejamento que o indivíduo faz quanto à própria vida, e reflete a expectativa que ele
tem em relação ao futuro. O exame da prospecção se faz perguntando-se diretamente ao paciente o que ele planeja
fazer, por exemplo, quando tiver alta hospitalar – se estiver internado -, ou mesmo num futuro mais distante. Os planos
para o futuro podem estar ausentes ou presentes. Se estão presentes, podem ser adequados e exequíveis, ou então
inadequados e inexequíveis – incompatíveis com a realidade do paciente. Pacientes delirantes costumam formular
planos absurdos e inexequíveis: por exemplo, eliminar todas as doenças do mundo. Os deprimidos em geral são
pessimistas, e nada esperam do futuro. Os maníacos, ao contrário, são muito otimistas, e muitas vezes formulam planos
cuja execução está além de suas possibilidades. Em alguns indivíduos com demência ou retardo mental, em função do
prejuízo intelectivo, noções abstratas como a de tempo podem estar ausentes, e a vida psíquica se limita à realidade
imediata, sendo impossível a prospecção.” (CHENIAUX, 2013, p.168)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
27
1. Posturas rígidas, estereotipadas, fórmulas que o profissional acha que funcionaram bem com
alguns pacientes e, portanto, devem funcionar com todos. Assim, ele deve buscar uma atitude
flexível, que seja adequada à personalidade do doente, aos sintomas que apresenta no momento, à
sua bagagem cultural, aos seus valores e à sua linguagem.
2. Atitude excessivamente neutra ou fria, que, muito frequentemente em nossa cultura, transmite ao
paciente sensação de distância e desprezo.
3. Reações exageradamente emotivas ou artificialmente calorosas, que produzem, na maioria das
vezes, uma falsa intimidade. Uma atitude receptiva e calorosa, mas discreta, de respeito e
consideração pelo paciente, é o ideal para a primeira entrevista. Criar um clima de confiança
para que a história do doente surja em sua plenitude tem grande utilidade tanto diagnóstica como
terapêutica.
4. Comentários valorativos ou emitir julgamentos sobre o que o paciente relata ou apresenta.
5. Reações emocionais intensas de pena ou compaixão. O paciente desesperadamente transtornado,
aos prantos, em uma situação existencial dramática, beneficia-se mais de um profissional que
acolhe tal sofrimento de forma empática, mas discreta, que de um profissional que se desespera
junto com ele.
6. Responder com hostilidade ou agressão às investidas hostis ou agressivas de alguns pacientes. O
profissional deve se esforçar por demonstrar serenidade e firmeza diante de um doente agressivo ou
muito hostil. Também deve ficar claro que, na entrevista, há limites. O profissional procura
responder, ao paciente que eleva a voz e se exalta, sempre em voz mais baixa que ele. Em algumas
situações, apesar de não revidar às agressões, o profissional deve mostrar ao paciente que ele está
sendo inadequadamente hostil e que não aceita agressão física ou verbal exagerada. Querelas e
discussões acirradas costumam ser inúteis no contato com os pacientes.
7. Entrevistas excessivamente prolixas, nas quais o paciente fala, fala, fala, mas, no fundo, não diz
nada de substancial sobre seu sofrimento. Fala, às vezes, para se esconder, para dissuadir a si
mesmo e ao entrevistador. Nesse sentido, o profissional deve ter a habilidade de conduzir a
entrevista para termos e pontos mais significativos, interrompendo a fala do paciente quando julgar
necessário.
8. Fazer muitas anotações durante a entrevista, pois, em alguns casos, isso pode transmitir ao
paciente que as anotações são mais importantes que a própria entrevista (o profissional precisa
observar se o paciente se sente incomodado enquanto anota).
Uma dificuldade comum nas entrevistas realizadas em serviços públicos é a falta de tempo dos
profissionais, excesso de trabalho, estresse e condições físicas (arquitetônicas) de atendimento
precárias. Assim, muitas vezes o profissional de saúde está impaciente para ouvir pessoas com
queixas pouco precisas (os “poliqueixosos”), rejeita aqueles doentes que informam de forma vaga
ou que estão muito desorganizados psiquicamente. Entretanto, no atendimento em saúde, a
paciência do entrevistador é fundamental. Às vezes, o profissional dispõe de não mais que 5 ou 10
minutos (p. ex., no pronto-socorro ou em um ambulatório repleto de pacientes à espera), mas, se
nesse pouco tempo, puder ouvir e examinar o doente com paciência e respeito, criando uma
atmosfera de confiança e empatia, mesmo com as restrições de tempo, isso poderá propiciar o início
de um trabalho de boa qualidade. Muitas vezes, não é a quantidade de tempo com o paciente que
mais conta, mas a qualidade da atenção que o profissional consegue lhe oferecer.
Assim, o profissional, ao entrar em contato com cada novo paciente, deve preparar seu espírito para
encarar o desafio de conhecer essa pessoa, formular um diagnóstico, entender, quando possível,
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
29
algo do que realmente se passa em seu interior. Aqui, a paciência é um dos elementos mais
fundamentais. Não é possível saber quantas entrevistas e quanto tempo serão necessários para
conhecer adequadamente o paciente. A experiência e a atitude do profissional, curiosa, atenta e
receptiva, determinam o quão profundo e abrangente será o conhecimento extraído das entrevistas.
A(s) primeira(s) entrevista(s)
A entrevista inicial é considerada um momento crucial no diagnóstico e no tratamento em saúde
mental. Esse primeiro contato, sendo bem-conduzido, deve produzir no paciente uma sensação de
confiança e de esperança em relação ao alívio do sofrimento. Entrevistas iniciais desencontradas,
desastrosas, nas quais o profissional é, involuntariamente ou não, negligente ou hostil com o
paciente, em geral são seguidas de abandono do tratamento.
Logo no início, o olhar e, com ele, toda a comunicação não-verbal, já tem sua importância: é o
centro da comunicação, que inclui toda a carga emocional do ver e ser visto, do gesto, da postura,
das vestimentas, do modo de sorrir ou expressar sofrimento. Mayer-Gross, Slater e Roth (1976)
assinalam, nesse sentido, que: ‘A primeira impressão tem o seu valor próprio e dificilmente poderá
ser recapturada em ocasiões posteriores...’.
E prosseguem:
[...] com maior frequência, essa impressão é correta, mesmo que desapareça aos poucos ou passe a ser considerada
como enganosa, quando a atenção estiver voltada para os detalhes, as ideias e as informações fornecidas pelo paciente.
(continua)
Apresentação
Logo no início da entrevista, é conveniente que o profissional se apresente, dizendo seu nome, se
necessário, sua profissão e especialidade e, se for o caso, a razão da entrevista. A confidencialidade,
a privacidade e o sigilo poderão ser explicitamente garantidos caso se note o paciente tímido ou
desconfiado ou se o contexto da entre- vista assim o exigir. Para isso, em alguns casos, é importante
que o profissional garanta explicitamente o que segue:
1. A entrevista e o tratamento ocorrerão com sigilo e discrição. O profissional esclarece ao paciente
(e aos familiares, quando necessário) que aquilo que for relatado durante as entrevistas não será
revelado a ninguém. Caso isso se faça necessário por exigência do próprio tratamento
(encaminhamento a um outro profissional, carta à alguma instituição, informação à família para
proteger o paciente, etc.), só será feito após consulta e anuência do entrevistado. O sigilo poderá ser
rompido no caso de ideias, planos ou atos seriamente auto ou heterodestrutivos.
2. Em qualquer caso, é preciso ressaltar a necessidade de colaboração mútua entre o profissional e o
paciente. Ambos devem trabalhar ativamente para que o processo terapêutico tenha bons resultados.
Na primeira entrevista, o profissional deve inicialmente colher os dados sociodemográficos básicos,
como nome, idade, data de nascimento, naturalidade e procedência, estado civil, com quem reside,
profissão, atividade profissional, religião, etc. Após colher tais informações, que de fato situam
quem é o paciente que chega ao serviço de saúde, deve-se solicitar que o paciente relate a queixa
básica, o sofrimento, a dificuldade ou o conflito que o traz à consulta. Esse primeiro relato deve
ocorrer de forma predominantemente livre, para que o paciente expresse de forma espontânea seus
sintomas e sinais. O profissional ouve o relato e observa, além do conteúdo daquilo que o
paciente conta, como esse relato é feito, o “estilo” do paciente, sua aparência e suas atitudes
básicas. O profissional deve, nesse momento, muito mais ouvir que falar. Suas intervenções
objetivam facilitar o prosseguimento da fala do paciente. O psiquiatra espanhol Vallejo Nágera
(1944) aconselhava ao jovem profissional:
El explorador hablará poco y dejará que hable mucho el enfermo; la regla más importante del interrogatorio es que el
alienista hable muy poco, para que sea locuaz el alienado.
Cabe lembrar, entretanto, que, embora a atitude básica do entrevistador na fase inicial da avaliação
seja de escuta, isso não significa colocar-se em posição totalmente passiva. Bem ao contrário, pois,
como enfatizado por Sullivan (1983), os dados essenciais da clínica psicopatológica emergem
basicamente de uma observação participativa, da interação intensa entre paciente e
profissional. Nesse sentido, Sullivan (1983) afirmava que
[...] o entrevistador desempenha um papel muito ativo na introdução de interrogações, não para mostrar que é
inteligente ou cético, mas literalmente para ter certeza que ele sabe o que está sendo dito. [...] Quase toda vez que se
pergunta, ‘Bem, você quer dizer assim e assado?’, o paciente é um pouco mais claro sobre o que ele quer dizer...
O entrevistador deve lembrar que, nas fases mais iniciais da entrevista, o paciente pode estar muito
ansioso e usar manobras e mecanismos defensivos como riso, silêncio, perguntas inadequadas,
comentários circunstanciais sobre o profissional, etc. Por exemplo: “O senhor é jovem, não?”; ou
‘A senhora é casada, tem filhos?”; ou, ainda, “Por que será que todo psiquiatra é tão sério (ou tem
barba, etc.)...?’. São estratégias involuntárias ou propositais que podem estar sendo utilizadas
para que o paciente evite falar de si, de seu sofrimento, de suas dificuldades. O profissional
deve lidar com tais manobras, lembrando polidamente ao paciente que a entrevista tem por
finalidade identificar seu problema para, assim, poder melhor ajudá-lo. Ele também deve deixar
claro para o paciente que a pessoa do entrevistador não é o tema da entrevista.
Nos primeiros encontros, o entrevistador deve evitar pausas e silêncios prolongados, que possam
aumentar muito o nível de ansiedade do paciente e deixar a entrevista muito tensa e improdutiva.
Alguns procedimentos podem facilitar a entrevista no momento em que o entrevistador lida com o
silêncio do paciente:
1. O entrevistador deve fazer perguntas e colocações breves que assinalem a sua presença efetiva e
mostrem ao paciente que ele está atento e tranquilo para ouvi-lo.
2. O entrevistador deve evitar perguntas muito direcionadas, fechadas, que possam ser respondidas
com um sim ou um não categóricos; também deve evitar perguntas muito longas e complexas,
difíceis de serem compreendidas pelo paciente.
3. É sempre melhor intervenções do tipo ‘Como foi isso?’, ‘Explique melhor’, ‘Conte um pouco
mais sobre isso’, que questões como ‘Por quê?’ ou ‘Qual a causa?’. Estas últimas estimulam o
paciente a fechar e encerrar a sua fala.
4. O entrevistador deve buscar para cada paciente em particular o tipo de intervenção que facilite a
continuidade de sua fala.
Mesmo realizando entrevistas abertas, nos primeiros encontros, o profissional deve ter a estrutura
da entrevista em sua mente, permitindo ao mesmo tempo que o paciente conte sua própria versão.
Falar de forma livre permite que o entrevistador avalie melhor a personalidade e, por vezes, alguns
conflitos do paciente. A fala livre também tem frequentemente uma dimensão catártica, de
‘desabafo’, que pode ser muito útil e servir de alívio para o paciente.
À medida que o relato feito pelo doente progride, tal relato vai sendo ‘encaixado’ em determinada
estrutura de história, que está na mente do entrevistador. Surgirão lacunas nessa história, que
saltarão à mente deste. Após a fase de exposição livre, ele fará as perguntas que faltam para
completar e esclarecer os pontos importantes da história e da anamnese de modo geral.
A duração e o número de entrevistas iniciais, com fins diagnósticos e de planejamento terapêutico
não são fixos, dependendo do contexto institucional onde se dá a prática profissional, da
complexidade e da gravidade do caso e da habilidade do entrevistador.
Transferência e contratransferência
O conceito de transferência, introduzido por Freud, é um elemento
fundamental que o profissional deve conhecer para realizar as
entrevistas de forma mais habilidosa, entendendo e tratando seus
pacientes de modo menos ingênuo, mais profundo e sensível.
A transferência compreende atitudes e sentimentos cuja origem são
basicamente inconscientes para o paciente. Inclui tanto sentimentos
positivos (como confiança, amor e carinho) quanto negativos (como
raiva, hostilidade, inveja, etc.). Esses sentimentos são uma repetição inconsciente do passado; o
analista (ou médico, profissional de saúde, professor, etc.) passa a ocupar, no presente, o lugar que o
pai ou a mãe ocupavam no passado. O paciente não se dá conta, dizia Freud [1926] (1986), da
natureza de tais sentimentos, e os considera como novas experiências reais, em vez de identificar o
que eles realmente são, ou seja, reflexos, repetições de sentimentos do passado. O próprio Freud
assim descreveu a transferência:
Eles desenvolvem com seu médico relações emocionais, tanto de caráter afetuoso como hostil, que não se baseiam na
situação real, sendo antes derivadas de suas relações com os pais (o complexo de Édipo). A transferência é a prova de
que os adultos não superaram sua dependência infantil.
uma forma de deslocamento que dirige para um objeto presente todos aqueles impulsos, defesas, atitudes, sentimentos
e respostas que experimentou e desenvolveu no relacionamento com os primeiros objetos de sua vida.
Segundo Jung (1999), a transferência não é mais que o processo comum de projeção: o paciente
tende a projetar inconscientemente no médico os afetos básicos que nutria (e nutre) pelas figuras
significativas de sua vida. Trata-se, então, de um fenômeno geral, não apenas exclusivo da relação
analítica. Para Jung, pode-se observar a transferência sempre que uma relação íntima entre duas
pessoas se estabelece. O paciente projeta inconscientemente, no profissional de saúde, os
sentimentos primordiais que nutria por seus pais na infância. Sente o seu médico atual como o pai
poderoso e onipotente (ou cruel e autoritário) da infância, ou a enfermeira como a mãe carinhosa e
preocupada (ou omissa e negligente) de seus primeiros anos.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
36
A contratransferência é, em certo sentido, a transferência que o profissional estabelece com seus
pacientes. Da mesma forma que o paciente, o profissional de saúde projeta inconscientemente, no
paciente, sentimentos que nutria no passado por pessoas significativas de sua vida. Sem saber por
que, este ou aquele paciente desperta no profissional sentimentos de raiva, medo, piedade, carinho,
repulsa, etc. Ao identificar tais reações contratransferenciais e conscientizar-se que estas têm a ver
com seus próprios conflitos, o profissional poderá lidar de forma mais racional e objetiva com o que
está ocorrendo na relação profissional.
[...]
DISSOCIAÇÃO DA REALIDADE
PSICOSES
ESQUIZOFRENIA MELANCOLIA
TRANSTORNO BIPOLAR
DO HUMOR
___________________________________________________________________________________________________
TRANSTORNOS INTERMEDIÁRIOS
BORDERLINES SOCIOPATIAS
NEUROSES
OBSESSIVA TRANSFERÊNCIA HIPOCONDRÍACA
FÓBICA
ANSIEDADE
HISTÉRICA
DEPRESSIVA
NORMAIS
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
“O doente revela-se indiferente, apático, sem iniciativa e sem espontaneidade.” (PAIM, 1993,
p.201)
41
Tópico construído a partir de recortes e adaptações de: CHENIAUX, 2013, p. 20-32; DALGALARRONDO, 2008, p.
88-101; PAIM, 1993, p. 193-218.
42
Obnubilação vem do latim, ob + nubilare, que significa ‘por uma nuvem na frente’, ‘enevoar’. Em psicopatologia, o
turvamento da consciência.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
41
43
Oniroide – do grego oneiros, que significa ‘sonhos’.
44
Pseudoalucinação – “percepção falsa que, ao contrário das alucinações, se reconhece como irreal. Kandinsky, que a
descreveu pela primeira vez em 1885, a denomina como a percepção que prescinde de ‘corporeidade’ que aparece no
‘espaço’ subjetivo interno’ e, no entanto, ‘se apresenta com toda a adequação perceptiva dos elementos sensíveis’.
(DORSCH, 2001, p. 711) “Resultam de atividade muito intensa da imaginação, em virtude da qual a imagem adquire o
aspecto de percepção real. É comum, normalmente, depois de uma viagem a bordo, nos sentirmos, em terra, como se
estivessemos navegando. Observa-se, por exemplo, como sintoma patológico, no delírio espírita episódico.”
(http://www.psiquiatriageral.com.br/psicopatologia/01percepcao.htm)
45
Delirium – “Síndrome cerebral orgânica sem etiologia específica caracterizada pela presença simultânea de
perturbações da consciência e da atenção, da percepção, do pensamento, da memória, do comportamento psicomotor,
das emoções e do ritmo vigília-sono. A duração é variável e a gravidade varia de formas leves a formas muito graves.
(CID -10)
A característica essencial de um delirium consiste de uma perturbação da consciência acompanhada por uma alteração
na cognição que não pode ser melhor explicada por uma Demência preexistente ou em evolução. A perturbação
desenvolve-se em um curto período de tempo, geralmente de horas a dias, tendendo a flutuar no decorrer do dia.
Existem evidências, a partir da anamnese, exame físico ou testes laboratoriais, de que o delirium é uma consequência
fisiológica direta de uma condição médica geral, Intoxicação ou Abstinência de Substância, uso de um medicamento ou
exposição a uma toxina, ou uma combinação desses fatores.
A perturbação na consciência manifesta-se por uma redução da clareza da consciência em relação ao ambiente. A
capacidade para focalizar, manter ou deslocar a atenção está prejudicada. As perguntas precisam ser repetidas porque a
atenção do indivíduo se dispersa, ou o indivíduo pode perseverar na resposta a uma pergunta anterior, ao invés de
deslocar adequadamente o foco de sua atenção.
A pessoa se distrai facilmente com estímulos irrelevantes. Em vista desses problemas, pode ser difícil (ou impossível)
engajá-la em uma conversação.
Há uma alteração concomitante na cognição (que pode incluir comprometimento da memória, desorientação ou
perturbação da linguagem) ou desenvolvimento de uma perturbação da percepção.
O comprometimento da memória é evidente, acomete com maior frequência a memória recente e pode ser testado
pedindo-se que a pessoa memorize vários objetos sem relação entre si ou uma frase curta e os repita após alguns
minutos de distração. A desorientação é habitualmente manifestada por desorientação temporal (por ex., pensa ser de
manhã no meio da noite) ou espacial (por ex., pensa estar em casa, não em um hospital). No delirium leve, a
desorientação temporal pode ser o primeiro sintoma a aparecer.
A desorientação autopsíquica é menos comum. A perturbação na linguagem pode se evidenciar como disnomia (isto é,
prejuízo na capacidade de nomear objetos) ou disgrafia (isto é, prejuízo na capacidade de escrever). Em alguns casos, o
discurso é dispersivo e irrelevante; em outros, compulsivo e incoerente, com mudanças imprevisíveis de assunto.
O profissional pode ter dificuldade para avaliar alterações na função cognitiva, pois o indivíduo pode mostrar-se
desatento e incoerente. Sob essas circunstâncias, é útil rever cuidadosamente a sua história e obter informações a partir
de outros informantes, particularmente membros da família.
As perturbações na cognição podem incluir interpretações errôneas, ilusões ou alucinações. O bater de uma porta, por
exemplo, pode ser interpretado pela pessoa como um tiro (interpretação incorreta); as dobras nas roupas de cama podem
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
42
identificar corretamente as pessoas ao seu redor. Com grande frequência, ele vê ou sente sobre sua
pele pequenos animais repugnantes – como baratas, aranhas, lagartixas ou ratos -, os quais não estão
realmente presentes.
Coma
O termo coma vem do grego e significa sono profundo. O quadro caracteriza-se
por abolição da consciência. Nesse estado, o indivíduo não pode ser despertado
nem por estímulos dolorosos muito intensos. Ocorre perda total da motricidade
voluntária e da sensibilidade. Embora a vida somática prossiga, não há sinal de
atividade psíquica.”46
Sopor
Segundo o dicionário Aurélio, sopor significa “modorra, sonolência; sono pesado.
Estado comatoso, letargia.” Em psicopatologia, refere-se a um estado de marcante
turvação da consciência no qual o paciente pode ser apenas despertado por estímulos
parecer-lhe objetos animados (ilusão); ou o indivíduo pode "ver" um grupo de pessoas pairando sobre a cama, quando
na verdade não há ninguém ali (alucinação).
Embora as interpretações sensoriais incorretas sejam habitualmente do tipo visual, elas podem afetar também outras
modalidades sensoriais. As percepções errôneas variam de simples e uniformes até altamente complexas. O indivíduo
pode ter uma convicção delirante do caráter de realidade das alucinações e apresentar respostas emocionais e
comportamentais congruentes com seu conteúdo.
A perturbação desenvolve-se em um curto período de tempo e tende a apresentar flutuações no decorrer do dia. Durante
a ronda hospitalar matinal, por exemplo, a pessoa pode mostrar-se coerente e cooperativa, mas à noite pode insistir em
arrancar o equipamento intravenoso e voltar à casa dos pais já falecidos. (DSM-IV) A abstinência e várias outras
condições médicas não relacionadas ao alcoolismo podem causar esse problema. Como dentro do estado de delirium da
abstinência alcoólica são comuns os tremores intensos ou mesmo convulsão, o nome ficou como Delirium Tremens.
Um traço comum no delírio tremens, mas nem sempre presente são as alucinações táteis e visuais em que o paciente
"vê" insetos ou animais asquerosos próximos ou pelo seu corpo [Síndrome de Ekbom, Delírio Parasitário ou Delírio
Dermatozóico, é uma condição na qual o paciente apresenta a crença inabalável de que está infestado por parasitas,
sejam sobre sua pele, ou mesmo percorrendo o interior do seu corpo]. Esse tipo de alucinação pode levar o paciente a
um estado de agitação violenta para tentar livrar-se dos animais que o atacam. Pode ocorrer também uma forma de
alucinação induzida, por exemplo, o entrevistador pergunta ao paciente se está vendo as formigas andando em cima da
mesa sem que nada exista e o paciente passa a ver os insetos sugeridos. O Delirim Tremens é uma condição
potencialmente fatal, principalmente nos dias quentes e nos pacientes debilitados. A fatalidade quando ocorre é devida
ao desequilíbrio hidro-eletrolítico do corpo.”( http://www.psicosite.com.br)
46
Adaptado de CHENIAUX, 2013, p. 22-3.
47
Adapatado de DALGALARRONDO, 2008, p.96.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
43
48
De crepúsculo, “luminosidade, de intensidade crescente ao amanhecer (crepúsculo matutino) e decrescente ao
anoitecer (crepúsculo vespertino), proveniente da iluminação das camadas superiores da atmosfera pelo Sol, quando,
embora escondido, está próximo do horizonte: Figura: Decadência, declínio; ocaso. (AURÉLIO)
49
Ou seja, formas psicóticas reativas à determinados eventos. P.ex., uma grave depressão, produzida pela morte de ente
querido, com manifestações delirantes.
50
Convém diferenciar duas condições da consciência relacionadas ao sono/vigília: 1ª. a hipnagógica. Ou seja, a
condição de sonolência, precedente ao sono e, 2ª. hipnopômpica. Ou seja, a condição anterior à vigília, logo após o
sono.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
44
Onirismo
“Estado semelhante a sonho em uma condição de vigília.” (APA, 2010,
p. 664)
O termo Onirismo é empregado para designar os estados de sonho
patológico. O Onirismo se caracteriza pela predominância das
representações imaginárias, resultando em perturbações sensoriais e
sensitivas. Nesta situação, muitas imagens aparecem como nitidamente
alucinatórias e tais representações compõem o fenômeno intelectual
inicial, daí adquirem a forma de percepção, colocando em atividade os
centros sensoriais das zonas sensitivas e sensoriais terminais.
Henri Ey comenta esse tema e diz que as lembranças e as imagens que participam da composição
fantástica do Onirismo são, elas próprias, dotadas de forte coeficiente de realidade, de tal sorte que
o conjunto adquire um perfeito caráter de nitidez e de realidade cênica. Será exatamente essa
realidade cênica que constitui o material imaginário do qual, pelo menos em certos momentos, o
paciente toma consciência.
Muitos autores estudaram esses casos de perturbações do sonhar, relatados como sonhos intensos e
vivenciados por uma consciência em Estado Crepuscular, o que determina uma profunda alteração
do imaginário e do próprio ato de sonhar. A descrição desses casos de Onirismo mostra a existência
de uma obnubilação da consciência durante um Estado Crepuscular, onde as cenas oníricas
desenroladas durante este Estado Crepuscular pudessem ser relembradas ao retornar o paciente às
condições de normalidade. (http://www.psiqweb.med.br)
Estado de Êxtase
Estado mental transitório, no qual o indivíduo perde todo contato com o mundo
sensível e experimenta um profundo sentimento de beatitude ou de graça, por
encontrar-se absorvido na contemplação mística e/ou espiritual. Algumas
pessoas com prática em meditação podem experimentar estados de êxtases de
duração muito variável. Portanto, para se atingir voluntariamente o estado de
êxtase, é necessário um treinamento especial ou preparação através de
exercícios espirituais.
Também alguns estados psicopatológicos, como por exemplo na histeria, em
alguns casos de esquizofrenia ou em crises de mania podemos observar Estados de Êxtase. Nesses
casos a consciência fica polarizada ao objeto da meditação e a pessoa abstêm-se voluntariamente de
contatar o restante da realidade, tal como ocorreria numa auto-hipnose.53
Transitivismo
Transitivismo é o fenômeno onde o enfermo sente-se transformado em
outra pessoa, como se fosse uma despersonalização54. Em
psicopatologia, o transitivismo consiste no desaparecimento da relação
entre o corpo e os objetos do meio exterior, como uma impossibilidade
de estabelecer a distinção entre aquilo que é próprio do indivíduo e
aquilo que pertence ao meio exterior, havendo um apagamento dos
limites entre a pessoa e o exterior.
Apesar do fenômeno poder aparecer sob a influência de severa angústia55, na maioria das vezes
prenuncia o desenvolvimento de uma psicose ou, quando não, ocorre na vigência de uma lesão dos
51
Tópico construído a partir de recortes e adaptações de: CHENIAUX, 2013, p. 159-67; DALGALARRONDO, 2008,
p. 245-56; PAIM, 1993, p. 193-218.
52
“[...] De maneira muito geral, ele [o Ego/Eu] define a pessoa enquanto unidade distinta. Deve-se assinalar uma
ambiguidade fundamental: o ego/eu se baseia numa experiência subjetiva (consciência de si), que garante sua unidade, e
ao mesmo tempo é o agente que governa as relações da pessoa com o mundo. [...] [Em psicanálise] O ego/eu aparece,
com efeito, como uma instância dentro da personalidade, cujas principais funções são a adaptação ao real e a
manutenção da coerência interna. O ego/eu é, ao mesmo tempo, uma instância integrada onde se forjam as
representações conscientes, especialmente a representação de si, e a agência defensiva que, para corresponder às duas
exigências do princípio da realidade e da coerência interna, deve, diante de qualquer sinal de ameaça em relação a esses
dois princípios (proveniente das representações internas ou das percepções), instalar mecanismos de recalque. O ego/eu
é, portanto, ao mesmo tempo, a sede da consciência e o agente de operações conscientes e inconscientes. (DORON;
PAROT, 2006, p. 270)
53
O Estado do Êxtase é também considerado uma alteração do humor.
54
Vide página 52.
55
Cabe aqui fazer algumas diferenciações importantes: “O termo angústia relaciona-se diretamente à sensação de
aperto no peito e na garganta, de compressão, sufocamento. Assemelha-se muito à ansiedade, mas tem conotação mais
corporal e mais relacionada ao passado. Do ponto de vista existencial, a angústia tem significado mais marcante, é algo
que define a condição humana, é um tipo de vivência mais ‘pesada’, mais fundamental que a experiência da ansiedade.
Ansiedade, por seu turno, é definida como estado de humor desconfortável, apreensão negativa em relação ao futuro,
inquietação interna desagradável. Inclui manifestações somáticas e fisiológicas (dispneia, taquicardia, vasoconstrição ou
dilatação, tensão muscular, parestesias (sensações anormais - formigamento, picada, queimadura - não causadas por
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
46
hemisférios cerebrais ou alguma outra da maturação neurológica. Por falta dessa maturação o
fenômeno pode ser observado como manifestação patológica em crianças entre 4 e 8 anos de idade.
No curso da esquizofrenia o Transitivismo, se apresenta como sintoma de primeira ordem, quando
então o enfermo situa em seu corpo um objeto exterior; seus órgãos se transformaram ou se
comunicam uns com os outros, sem consideração as realidades anatômicas. Nessa situação as ações
parecem comandadas de fora e acompanhadas da sensação de influência.
Possessão
O fenômeno da possessão tem caráter universal e a psicopatologia tenta
explicá-lo em termos de sugestão ou autossugestão ou como resultado
de desdobramentos do eu. Evidentemente a crença cultural em espíritos
desempenha papel importante no aparecimento dessas possessões.
Oesterreich acha que através da provocação da possessão, o ser humano
primitivo procurou voluntariamente a presença consciente do metafísico
e o desejo da presença divina, ambos oferecendo forte incentivo para
continuar a cultivar estados de possessão.
Também os desejos de comunicação com ancestrais e outros parentes mortos desempenham
importante papel na possessão do moderno espiritismo. Em seu estudo, Oesterreich procurou
destacar as relações da possessão com as condições socioculturais existentes entre os povos onde o
fenômeno é observado e, pode-se dizer que, na sociedade humana, a possessão começa a
desaparecer assim que a crença nos espíritos vai perdendo influência. A partir do momento em que
não se leva a sério a possibilidade da possessão, começa a faltar a necessária autossugestão.
Na clínica psiquiátrica a possessão é sempre acompanhada do sentimento de desdobramento da
personalidade e se manifesta em sua forma típica no delírio de possessão demoníaca ou no
Transtorno de Possessão. Há também um evidente aspecto de contaminação (normalmente entre
pacientes histéricos) desses fenômenos de possessão, onde ocorrem "epidemias" de possuídos.
Licantropia
Podem ser observados também os casos de delírio de possessão por
animais, dos quais os mais célebres são as possessões por lobos,
neste caso chamado de Licantropia (Lobisomem). A Licantropia foi
uma das manifestações muito comuns na Idade Média. Os pacientes
com este quadro se achavam transformados em lobo, ou tinham uma
serpente dentro do corpo, ou outros animais.
Na manifestação completa de Licantropia o paciente se torna "corpo
e alma" do animal. Com frequência, a possessão é vivida não como a inclusão de um corpo em
outro corpo, mas como a animação do corpo por um espírito do animal.
Convicção de inexistência
Trata-se de uma convicção de inexistência do próprio corpo ou de certos órgãos, ou de que o
enfermo não se encontra vivo e sim morto. O paciente apresenta uma forma de anulação da própria
corporalidade ou existência.” (http://www.psiqweb.med.br)
estímulo exterior ao corpo), tremores, sudorese, tonturas, etc.) e manifestações psíquicas (inquietação interna,
apreensão, desconforto mental, etc.). [...] (DALGALARRONDO, 2008, p. 166)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
47
ALTERAÇÕES DA ATENÇÃO56
Distração – Chama-se distração a dois estados diferentes. Em primeiro lugar é uma incapacidade
quase completa de fixar a atenção. Bleuler cita como exemplo a falta de
tenacidade e a supervigilância observada no escolar, que desvia a todo
instante a atenção de seus deveres para os mais simples ruídos do meio
exterior. No segundo caso, trata-se de uma concentração muito forte em
determinado assunto, que impede a apreensão de tudo aquilo que não se
refere ao motivo particular de atenção: é a distração do sábio, do
estudioso que se acha interessado vivamente por uma ideia ou por uma
pesquisa científica. Os efeitos, nos dois casos, são idênticos, pois a consciência não focaliza,
suficientemente, as impressões que a atingem. [...] (PAIM, 1993, p. 170)
Alguns autores referem-se a distraibilidade, um estado patológico que se exprime por instabilidade
marcante e mobilidade acentuada da atenção voluntária, com dificuldade ou incapacidade para
56
Tópico construído a partir de recortes e adaptações de: CHENIAUX, 2013, p. 33-40; DALGALARRONDO, 2008, p.
102-08; PAIM, 1993, p. 161-72.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
48
fixar-se ou deter-se em qualquer coisa que implique esforço produtivo. A atenção do indivíduo é
muito facilmente desviada de um objeto para outro.
57
TDAH - O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas
genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por
sintomas de desatenção, inquietude (hiperatividade) e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do
Déficit de Atenção). (http://www.tdah.org.br)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
49
compreensão. A hiperatividade refere-se a atividade motora excessiva (como uma criança que corre
por tudo) quando não apropriado ou remexer, batucar ou conversar em excesso. Nos adultos, a
hiperatividade pode se manifestar como inquietude extrema ou esgotamento dos outros com sua
atividade. A impulsividade refere-se a ações precipitadas que ocorrem no momento sem
premeditação e com elevado potencial para dano à pessoa (p. ex., atravessar uma rua sem olhar). A
impulsividade pode ser reflexo de um desejo de recompensas imediatas ou de incapacidade de
postergar a gratificação [baixo limiar de frustração]. Comportamentos impulsivos podem se
manifestar com intromissão social (p. ex., interromper os outros em excesso) e/ou tomada de
decisões importantes sem considerações acerca das consequências no longo prazo (p. ex., assumir
um emprego sem informações adequadas).
O TDAH começa na infância. A exigência de que vários sintomas estejam presentes antes dos 12
anos de idade exprime a importância de uma apresentação clínica substancial durante a infância. Ao
mesmo tempo, uma idade de início mais precoce não é especificada devido a dificuldades para se
estabelecer retrospectivamente um início na infância. As lembranças dos adultos sobre sintomas na
infância tendem a não ser confiáveis, sendo benéfico obter informações complementares.
Manifestações do transtorno devem estar presentes em mais de um ambiente (p. ex., em casa e na
escola, no trabalho). A confirmação de sintomas substanciais em vários ambientes não costuma ser
feita com precisão sem uma consulta a informantes que tenham visto o indivíduo em tais ambientes.
É comum os sintomas variarem conforme o contexto em um determinado ambiente. Sinais do
transtorno podem ser mínimos ou ausentes quando o indivíduo está recebendo recompensas
frequentes por comportamento apropriado, está sob supervisão, está em uma situação nova, está
envolvido em atividades especialmente interessantes, recebe estímulos externos consistentes (p. ex.,
através de telas eletrônicas) ou está interagindo em situações individualizadas (p. ex., em um
consultório).
Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico
Atrasos leves no desenvolvimento linguístico, motor ou social não são específicos do TDAH,
embora costumem ser comórbidos. As características associadas podem incluir baixa tolerância a
frustração, irritabilidade ou labilidade do humor. Mesmo na ausência de um transtorno específico da
aprendizagem, o desempenho acadêmico ou profissional costuma estar prejudicado.
Comportamento desatento está associado a vários processos cognitivos subjacentes, e indivíduos
com TDAH podem exibir problemas cognitivos em testes de atenção, função executiva ou
memória, embora esses testes não sejam suficientemente sensíveis ou específicos para servir como
índices diagnósticos. No início da vida adulta, o TDAH está associado a risco aumentado de
tentativa de suicídio, principalmente quando em comorbidade com transtornos do humor, da
conduta ou por uso de substância.
Não há marcador biológico que seja diagnóstico de TDAH. Como grupo, na comparação com pares,
crianças com TDAH apresentam eletrencefalogramas com aumento de ondas lentas, volume
encefálico total reduzido na ressonância magnética e, possivelmente, atraso na maturação cortical
no sentido póstero-anterior, embora esses achados não sejam diagnósticos. Nos raros casos em que
há uma causa genética conhecida (p. ex., síndrome do X-frágil, síndrome da deleção 22q11), a
apresentação do TDAH ainda deve ser diagnosticada. (DSM-5)
ALTERAÇÕES DA ORIENTAÇÃO58
Tipos de orientação
A orientação divide-se em autopsíquica e alopsíquica, classificação essa proposta por Wernicke. A
orientação autopsíquica refere-se à própria pessoa, e consiste num dos elementos da consciência do
eu. A orientação alopsíquica refere-se ao mundo externo e poder ser subdividida em: orientação
temporal (‘saber o dia da semana, o dia do mês, o mês e o ano em que se está. [...]’), orientação
espacial (‘significa exatamente onde se está – por exemplo, se estiver internado, saber que se está
num hospital, e o nome deste -, incluindo a rua, o bairro, a cidade etc.’), orientação quanto às
outras pessoas (‘estar orientado quanto as outras pessoas significa poder reconhece-las, identifica-
las corretamente’) e orientação situacional (‘significa saber a razão pela qual se está em
determinado lugar e que tipo de relação se tem com as pessoas ali presentes. Por exemplo, o
indivíduo saber que está num hospital como paciente, e que está sendo examinado por um médico.
A orientação situacional está estreitamente relacionada com as outras formas de orientação
alopsíquica e também com a orientação autopsíquica.’) (CHENIAUX, 2013, p. 152-3)
Examinar a orientação, tanto a auto quanto a alopsíquica, estamos avaliando as noções do paciente
sobre si mesmo, sobre seu estado atual e sobre suas relações com o restante do ambiente. Tendo em
vista a complexidade funcional da orientação, os quadros onde esta se encontra alterada não devem
ser considerados como sintomas autônomos, senão como consequência de vários fatores
psicopatológicos.
Na desorientação autopsíquica total, o indivíduo não sabe quem é. Normalmente esse
desconhecimento da própria identidade se verifica nas amnésias totais traumáticas, nos estados de
acentuada obnubilação da consciência ou na evolução extremas dos processos demenciais. Bem
mais frequente é a chamada falsa orientação autopsíquica. É a que acomete os enfermos delirantes,
quando se auto atribuem uma nova identidade ou quando assimilam a personalidade de figuras
fantasiosas de seus delírios.
Nos esquizofrênicos pode ocorrer ainda uma dupla orientação, isto é, uma orientação verdadeira ao
lado de uma falsa. É o caso, por exemplo, do paciente que responde encontrar-se numa igreja,
escola ou prisão, porque se delira acreditando incumbido de alta missão moral ou educativa, ou
porque se supõe prisioneiro, sequestrado, vítima da polícia, de associações secretas, de organizações
políticas internacionais mas, ao mesmo tempo ou logo a seguir, mostra saber que se acha no
hospital e que está diante do médico.
Os distúrbios da orientação podem manifestar-se de modo global ou atingir, preferentemente,
apenas uma das facetas da orientação. É, por exemplo, o que acontece no delirium tremens, onde se
observa conservada a orientação autopsíquica, junto com a mais completa desorientação alopsíquica
58
Tópico construído a partir de recortes e adaptações de: CHENIAUX, 2013, p.152-58; DALGALARRONDO, 2008, p.
109-13; PAIM, 1993, p. 181-92.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
51
(no tempo, no espaço e nas relações do enfermo com o ambiente). Em geral, nos doentes mentais,
verifica-se que, em primeiro lugar, há perda da orientação no tempo, depois no espaço e, por último,
em relação à própria pessoa.
Também pode ocorrer desorientação temporo-espacial completa diante de extremo desinteresse,
como acontece em esquizofrênicos, ou dependente de insuficiente apreensão e fixação de estímulos
sensoriais por desatenção e desinteresse nos depressivos mais graves (estupor depressivo). Pode
ainda ocorrer ofuscação geral da consciência, logo, desorientação global, nos estados crepusculares
epilépticos e histéricos, ou nas síndromes confusionais das psicoses tóxicas e infecciosas agudas.
Examinar a orientação, embora seja relativamente simples e acessível, pode ser considerada como a
investigação da essência estrutural da consciência. Portanto, para bem avaliar suas perturbações,
não basta nos limitarmos às perguntinhas costumeiras da rotina hospitalar mas sim, nos dedicarmos
à uma entrevista mais completa, demorada e minuciosa.
Desorientação Apática
[...] a Desorientação Apática depende de alterações da percepção, ou seja, de alterações decorrentes
da vida instintivo-afetiva. Embora o paciente esteja lúcido e perceba com clareza sensorial o que se
passa no ambiente à sua volta, existe enorme falta de interesse, expressiva inibição psíquica e
insuficiente energia psíquica para a elaboração da representação e do raciocínio. O paciente percebe
todas as particularidades do ambiente mas não tem capacidade para integrar essas informação e
formar um juízo sobre a própria situação. A Desorientação Apática ocorre nos estados de profunda
e grave depressão.
Desorientação Amnéstica
As perturbações da memória, que se acompanham de deficiência ou incapacidade de fixação
resultam numa desorientação no tempo e no espaço denominada de Desorientação Amnéstica.
Caracteriza-se pela incapacidade que o enfermo demonstra para fixar os acontecimentos e,
consequentemente, para orientar-se no tempo, no espaço e em suas relações com as pessoas do
ambiente.
Desdobramento da Personalidade
Hoje em dia os casos de Desdobramento da Personalidade são considerados como dependentes de
autossugestão, tratando-se em geral de pessoas histriônicas (histéricas), mas, de qualquer forma, há
uma evidente desorientação autopsíquica onde o paciente, desdobrando-se em outra personalidade,
perde a orientação da original.
Despersonalização
O fenômeno conhecido como Despersonalização pode ser observado
em alguns casos de reações afetivas muito intensas, em casos de
acessos febris toxi-infecciosos e em certas intoxicações exógenas.
Trata-se de um estado mental particular, de natureza paroxística, de
rápida ou longa duração, caracterizado por um inexplicável
sentimento de estranheza. Essa sensação de estranheza é
inicialmente relacionada com o meio exterior e se estende,
progressivamente, até a própria personalidade.
Nessa situação o paciente assiste inerte ao desenrolar de sua vida psíquica, como se aquilo não
estivesse relacionado com sua pessoa. Concomitantemente ele conserva um incrível estado de
apatia. (adaptado de www.psiqweb.med.br)
Atomização do tempo
Vivemos no tempo presente, em um agora que vincula intimamente aos acontecimentos passados e
às possibilidades do porvir. A alteração ou a falta dessa experiência subjetiva natural de fluir
temporal, decorrente da perda ou do enfraquecimento de ambas as margens do tempo (passado e
futuro), produz uma redução quase puntiforme ou atomizada do tempo, fazendo-o parecer uma
sucessão de pontos presentes que não se articulam entre si. O indivíduo não consegue inserir-se
naturalmente na continuidade do devir, adere a momentos quase descontínuos. Esse fenômeno
ocorre nos estados de exaltação e agitação maníaca, geralmente acompanhados da chamada fuga
de ideias e de distraibilidade intensa.
59
Tópico construído a partir de recortes e adaptações de: CHENIAUX, 2013, p. 152-58; DALGALARRONDO, 2008,
p. 114-18; PAIM, 1993, p. 181-92.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
54
60
DALGALARRONDO, 2008, p. 114-7)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
55
Conceitos básicos
Sensação
Define-se sensação como o fenômeno elementar gerado por estímulos físicos,
químicos ou biológicos variados, originados fora ou dentro do organismo, que
produzem alterações nos órgãos receptores, estimulando-os. Os estímulos
sensoriais fornecem a alimentação sensorial aos sistemas de informação do
organismo. As diferentes formas de sensação são geradas por estímulos sensoriais
específicos, como visuais, táteis, auditivos, olfativos, gustativos,
proprioceptivos e cinestésicos63.
62
Percepção
Por percepção, entende-se a tomada de consciência, pelo indivíduo, do estímulo
sensorial. Arbitrariamente, então, se atribui à sensação a dimensão neuronal, ainda
não plenamente consciente, no processo de sensopercepção. Já a percepção diz
respeito à dimensão propriamente neuropsicológica e psicológica do processo, à
transformação de estímulos puramente sensoriais em fenômenos perceptivos
conscientes. Piéron (1996) define percepção como a tomada de conhecimento
sensorial de objetos ou de fatos exteriores mais ou menos complexos.
A sensação é considerada, portanto, um fenômeno passivo; estímulos físicos (luz, som, pressão) ou
químicos atuam sobre sistemas de recepção do organismo. Já a percepção seria fenômeno ativo; o
sistema nervoso e a mente do sujeito constroem um percepto (ou seja, um conteúdo significativo)
por meio da síntese dos estímulos sensoriais, estímulos esses confrontados com experiências
61
Tópico construído a partir de recortes e adaptações de: CHENIAUX, 2013, p. 41-53; DALGALARRONDO, 2008, p.
119-36; PAIM, 1993, p. 25-70.
62
Proprioceptivos ou Cenestésicos - estímulos originados no interior do próprio organismo. Segundo o dicionário
Aurélio, as cenestesias corresponderiam a “sensação que o indivíduo experimenta, conscientemente, de sua existência;
sensação que tem o indivíduo de que todas as suas funções orgânicas estão normais.”
63
Cinestésicos - Sentido pelo qual se percebem os movimentos musculares, o peso e a posição dos membros.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
56
passadas registradas na memória e com o contexto sociocultural em que vive o sujeito e que atribui
significado às experiências. Tal percepto, ou seja, a percepção final, é, dessa forma, apreendido pelo
sujeito consciente.
Analise o quadro abaixo:
[...]
64
PAIM, 1993, p. 25.
65
O conhecido teste de personalidade Rorschach utiliza tais manchas.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
58
quando relembra mais tarde essa sensação ou a antecipa pela imaginação. Essas faculdades
podem remedar ou copiar as percepções dos sentidos, mas jamais atingirão a forma e a vivacidade
do sentimento original. O máximo que podemos dizer delas, mesmo quando operam com todo o seu
vigor, é que representam o seu objeto de maneira tão viva que quase se poderia dizer que os vemos
ou sentimos. [...] O mais vivo pensamento é ainda inferior à mais embotada das sensações (1973,
p. 134)
Alterações da sensopercepção
66
O LSD, acrônimo de dietilamida do ácido lisérgico, produz grandes alterações no cérebro, atuando diretamente sobre
o sistema nervoso e provocando fenômenos psíquicos, como alucinações, delírios e ilusões. É uma substância sintética,
produzida em laboratório, que adquiriu popularidade na década de 60, quando não era vista como algo prejudicial à
saúde. Pode ser consumida por via oral, injeção ou inalação, e se apresenta em forma de barras, cápsulas, tiras de
gelatina e líquida; seus efeitos duram de oito a doze horas. Os efeitos físicos dessa droga são: dilatação das pupilas,
sudorese, aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, aumento da temperatura, náuseas, vômitos. Os sintomas
psíquicos são alucinações auditivas e visuais, sensibilidade sensorial, confusão, pensamento desordenado, perda do
controle emocional, euforia alternada com angústia, dificuldade de concentração. É importante destacar que os efeitos
do LSD dependem do ambiente, da qualidade da droga e da personalidade da pessoa. O LSD é mais usado por
adolescentes e jovens, que querem experimentar visões e sensações novas e coloridas, pois as formas, cheiros, cores e
situações se modificam, levando a pessoa a criar ilusões e delírios, como por exemplo, paredes que escorregam, mania
de grandeza e perseguição. Pode ocorrer também um “flashback”, fenômeno no qual são sentidos os efeitos da droga
após um período de semanas ou meses sem usá-la. O LSD é conhecido também com outros nomes como doce, ácido,
gota, papel e microponto. (http://www.brasilescola.com/drogas/lsd.htm)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
59
das raízes medulares dos nervos (hipoestesia em faixa) e dos neurônios periféricos (hipoestesia ‘em
bota’ e ‘em luva’ das clássicas polineuropatias).
Por sua vez, as anestesias táteis implicam a perda da sensação tátil em determinada área da pele.
Usa-se, com frequência, o termo anestesia para indicar também analgesias (perda das sensações
dolorosas) de áreas da pele e partes do corpo. Anestesias, hipoestesias e analgesias em áreas que
não correspondem a territórios de nervos anatomicamente definidos, em geral são de causas
psicogenéticas. Tais alterações ocorrem mais em pacientes com transtornos histéricos, em sujeitos
com alto grau de sugestionabilidade e em alguns quadros depressivos e psicóticos graves. [...]
resultado de uma vida com muito stress onde a saúde em si é deixada em segundo plano em relação
às atividades do dia-a-dia.”67
Tipos de ilusão
As ilusões mais comuns são as visuais, nas quais o paciente geralmente vê pessoas, monstros,
animais, entre outras coisas, a partir de estímulos visuais como móveis, roupas, objetos ou figuras
penduradas nas paredes. Também não são raras as ilusões auditivas, nas quais, a partir de estímulos
sonoros inespecíficos, o paciente ouve seu nome, palavras significativas ou chamamentos.
As alucinações
Define-se alucinação como a percepção de um objeto, sem que este esteja presente, sem o estímulo
sensorial respectivo. [...]
A alucinação é a percepção clara e definida de um objeto (voz, ruído,
imagem) sem a presença do objeto estimulante real.
Embora as alucinações sejam mais comuns em indivíduos com
transtornos mentais graves, podem ocorrer em pessoas que não os
apresentam. Um estudo de Tien (1991) revelou que alucinações de
qualquer tipo ocorrem na população normal com incidência anual de 4 a 5%, sendo as visuais mais
comuns que as auditivas. Dessa forma, indivíduos sem transtornos mentais podem ter visões ou
ouvir vozes [odores], sobretudo a de parentes próximos já mortos, devido ao desejo intenso de
reencontrá-los. [...]
Tipos de alucinações
- Auditiva;
- Visuais (Liliputianas, Autoscópica; Extracampinas);
- Táteis e de contato;
- Olfativas;
ALUCINAÇÕES
- Gustativas;
- Cinestésicas;
- Cenestésicas (ou, Proprioceptivas);
- Psíquicas;
Alucinações auditivas são as mais frequentes e as mais importantes. Apresentam-se sob a forma
elementar: ruídos, zumbidos, murmúrios, estalidos; e sob a forma complexa: como ‘vozes’ que
censuram e ameaçam, como melodias, toques de campainha. O enfermo pode ouvir uma única voz,
que repete uma palavra ou diz frases completas, ou muitas vozes que mantêm entre si uma
conversação. Em alguns casos, são quase imperceptíveis, como sussurradas. As vozes podem ser
masculinas, femininas ou de crianças. A direção de onde provêm é variável; podem vir de longe ou
de perto, do teto, do quarto ao lado ou da rua. Alucinações liliputianas foram descritas por Bierre
de Boismont e Ziehen. Trata-se de um tipo especial de alucinação visual no qual, ao lado da
percepção normal dos objetos e pessoas que o rodeiam, o enfermo divisa uma série de personagens
67
http://doencasneurologicas.blogs.sapo.pt
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
61
Alucinose – “A alucinação denominada alucinose é o fenômeno pelo qual o paciente percebe tal
alucinação como estranha a sua pessoa. [...] o característico das alucinoses é serem adequada e
imediatamente criticadas pelo sujeito, reconhecendo o seu caráter patológico. [...]
Na alucinose, embora o doente veja a imagem ou ouça a voz ou o ruído, fala a crença que
comumente o alucinado tem em sua alucinação. O indivíduo permanece consciente de que aquilo é
68
Adaptado de PAIM, 1993, p.41-60)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
62
um fenômeno estranho, patológico, não tem nada a ver com a sua pessoa, estabelecendo
distanciamento entre si e o sintoma. Diz-se que a alucionose é um fenômeno periférico ao Eu,
enquanto a alucinação é central ao Eu.
A alucinose ocorre com maior frequência em
quadros psico-orgâncos; por isso, foram também
denominadas alucinações neurológicas.
A alucinose em sua modalidade visual ocorre com
maior frequência em pacientes com intoxicações
por substâncias alucinógenas, com LSD,
psilobicina, mescalina, anticolinérgicos, ayahuasca,
etc. Pode ocorrer devido a tumores do pendúnculo
cerebral, sendo então denominada alucinose
penduncular de Lhermitte, [...].”69
Pseudoalucinações
As pseudo-alucinações são produtos patológicos da atividade representativa. [...] Constituem-se de
imagens dotadas de clareza sensorial, as quais, ao contrário das alucinações verdadeiras, são
percebidas numa espécie de espaço subjetivo. Distinguem-se das alucinações pelo fato de que as
imagens visuais e as vozes serem localizadas no interior da cabeça ou na parte interna do corpo.
Kandinski empregou a expressão pseudo-alucinações para designar os casos em que as imagens
percebidas careciam de objetividade. Nas alucinações verdadeiras, as imagens visuais e auditivas
são projetadas para o exterior, para o espaço objetivo. A nitidez sensorial e a impressão de realidade
são de tal ordem que dão ao enfermo uma irresistível força de convicção. Nas pseudo-alucinações,
ao contrário, o paciente não desconhece o caráter falso dos fenômenos. (PAIM, 1993, p. 59-60)
69
DALGALARRONDO, 2008, p. 129-30)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
63
ALTERAÇÕES DO PENSAMENTO70
O que é o pensamento?
O que caracteriza o pensamento normal é ser regido pela lógica formal e orientar-se segundo a
realidade e os princípios de racionalidade da cultura na qual o indivíduo se insere.
Aspectos do pensamento
Curso, forma e conteúdo constituem os aspectos do pensamento. O curso refere-se à velocidade e
ritmo do pensamento, à quantidade de ideias ao longo do tempo. A forma, por sua vez, está
70
O texto de todo esse tópico foi extraído e adaptado de: CHENIAUX, 2013, p. 82-106; PAIM, 1993, p. 87-114;
DALGALARRONDO, 2008, p. 193-231.
71
APA, 2010, p. 692
72
Exemplo de raciocínio indutivo: Um cientista observa a cor de milhares de cisnes. Verificar que todos os cisnes
observados por ele são brancos (regularidade na cor dos cisnes). Formula, então, a partir desses dados empíricos uma
teoria a respeito da cor dos cisnes: “Todos os cisnes são brancos” (generalização).
73
Exemplo de raciocínio analógico: “A árvore é um ser vivo. Tem metabolismo e reproduz-se. O ser humano também.
Nisto, são semelhantes. Ora, se são semelhantes nestas coisas e a árvore cresce podemos concluir que o ser humano
também cresce.”
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
64
Alterações do pensamento
[...]
Aqui é proposta a seguinte classificação das alterações do pensamento:
- Quantitativas – curso (aceleração, alentecimento, interrupção);
- Qualitativas – forma (fuga de ideias, desagregação, prolixidade, minuciosidade, perseveração) e,
conteúdo (concretismo; ideias delirantes, deliroides e sobrevaloradas).
Analise o esquema a seguir:
O Exame do pensamento
A fala do paciente é o único meio de acesso ao seu pensamento. Não é possível, portanto, avaliar o
pensamento de um paciente em mutismo.
Quando se quer examinar a forma do pensamento, deve-se deixar o paciente falar livremente
durante algum tempo, evitando interrompê-lo.
Aceleração do curso
Na aceleração do curso do pensamento (ou taquipsiquismo), o paciente fala mais rápido; há uma
maior produtividade ideativa e uma maior velocidade no processo associativo. Isso ocorre na mania,
na intoxicação por cocaína ou anfetamina e nos estados de ansiedade ou agitação psicomotora.
Fuga de ideias
A fuga de ideias – [...] – caracteriza-se pela variação rápida e incessante de tema, com preservação
da coerência do relato e da lógica na associação de ideias. A tendência dominante do pensamento
está enfraquecida e, consequentemente, há um progressivo afastamento da ideia-alvo.
Alternativamente, pode-se considerar que diversas ideias-alvo se sucedem em um pequeno espaço
de tempo. O pensamento é facilmente desviado por estímulos externos; e as associações muitas
vezes se dão por assonância (rimas) ou aliteração (repetição de consoantes) das palavras.
A fuga de ideias está quase sempre associada a logorreia e aceleração do curso do pensamento.
Trata-se de uma manifestação típica da síndrome maníaca primária, sendo ainda observada na
intoxicação por cocaína ou anfetamina, na embriaguez alcoólica, na sífilis cerebral etc.
Exemplo: ‘Você foi o médico do meu marido. Ele voou pela janela. Minha irmã também se matou.
Também pulou pela janela. Ela se tratava com o doutor Pitta. Ele devia se chamar doutor ‘Apita’.
Aí ele apitava, e todos os doentes pulavam pela janela.’
74
Sintaxe - Parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase e a das frases no discurso, bem como a
relação lógica das frases entre si; construção gramatical (Aurélio).
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
66
Prolixidade
A prolixidade, que foi descrita por Lipmann e Edel, caracteriza-se por um
discurso repleto de detalhes irrelevantes, o que o torna tedioso; a ideia-alvo
jamais e alcançada ou só o é tardiamente. Decorre de uma incapacidade de
síntese, de distinguir o essencial do acessório.
É encontrada basicamente nos quadros em que há comprometimento intelectivo,
como retardo mental e na demência. Também é observada no transtorno de
personalidade associado à epilepsia do lobo temporal e na esquizofrenia.
Alguns autores preferem utilizar os termos circunstancialidade e tangencialidade para designar
esse tipo de pensamento. O que diferencia um do outro é que, só no caso da circunstancialidade, a
ideia-alvo seria atingida.
Um paciente prolixo apresenta dificuldades em responder de forma direta e objetiva uma pergunta.
Se questionado sobre, por exemplo, onde mora, ele, em vez de fornecer de imediato o seu endereço,
vai dar um monte de informações desnecessárias. Pode comentar que reside num local muito bonito,
que lá faz muito calor, citar todas as linhas de ônibus que circulam por lá etc. Quando pressionado a
ir direto ao ponto, muitas vezes vai dizer algo como ‘calma, que eu chego lá!’.
Minuciosidade
A minuciosidade caracteriza-se por um discurso com um número
excessivo de detalhes relevantes. Estes são introduzidos para enriquecer a
comunicação e, ansiosamente, para evitar quaisquer possíveis omissões. É
encontrada no transtorno obsessivo-compulsivo e no transtorno de
personalidade obsessiva (anancástica). Perguntado pelo médico sobre
como tem passado, um paciente minucioso vai fazer um relatório pormenorizado de tudo o que
sentia a cada dia desde a última consulta, descrevendo as características e a cronologia completa dos
sintomas.
Perseveração
A perseveração, descrita por Pick, caracteriza-se por uma recorrência excessiva e inadequada no
discurso do mesmo tema, ou uma dificuldade em abandonar determinado tema. Consiste numa
perda da flexibilidade do pensamento. Há a fixação persistente de uma única ideia-alvo e um
empobrecimento dos processos associativos.
A perseveração ocorre na demência, retardo mental, delirium, epilepsia, esquizofrenia. Muitas
vezes, num transtorno psicótico, um delírio (alteração do conteúdo do pensamento) assume tal
importância na vida do paciente que, em seu discurso, a temática se torna perseverante (alteração da
forma do pensamento).
As ideias obsessivas (ou obsessões) podem ser consideradas uma forma especial de perseveração do
pensamento. Elas possuem as seguintes características:
- São ideias tidas pelos próprios pacientes como absurdas, irracionais, sem sentido, repulsivas,
desagradáveis ou ansiogênicas;
- que o indivíduo reconhece como próprias;
- que são repetitivas ou persistentes;
- que se impõem à sua consciência contra a sua vontade;
- e que levam a violenta luta interna, isto é, o indivíduo se esforça para afastá-la de sua mente ou
realiza cerimoniais preventivos ou expiatórios.
São exemplos de conteúdos de ideias obsessivas: dúvidas torturantes, [...], tentações censuráveis,
presságios quanto a tragédias ou morte relacionadas a familiares ou a si próprio. [...]
As ideias obsessivas, [...], são encontradas principalmente no transtorno obsessivo-compulsivo, mas
também na depressão e na esquizofrenia.
Pensamento mágico
É o tipo de pensamento que fere frontalmente os princípios da lógica formal, bem como os
indicativos e imperativos da realidade. O pensamento mágico segue os desígnios dos desejos, das
fantasias e dos temores, conscientes e inconscientes, do sujeito, adequando a realidade ao
pensamento, e não o contrário.
Pensamento dereístico
O pensamento dito dereístico, algo semelhante ao pensamento mágico, é um tipo de pensamento
que se opõe marcadamente ao pensamento realista, o qual se submete à lógica e à realidade. Aqui, o
pensamento só obedece à lógica e à realidade naquilo que interessa ao desejo do indivíduo,
distorcendo a realidade para que esta se adapte aos seus anseios. No pensamento dereístico, o
pensar volta-se muito mais ao mundo interno do sujeito, suas fantasias e seus sonhos, manifestando-
se como um devaneio, no qual tudo é possível e favorável ao indivíduo. [...]
Na língua inglesa, utiliza-se o termo wishful thinking (tomar o desejo pela realidade) para indicar a
identificação errônea dos próprios desejos com a realidade, o conjunto de crenças adotadas pelo
indivíduo, crenças estas baseadas mais nos desejos que em fatos, ou seja, um aspecto do
pensamento dereístico. Pode ocorrer nos transtornos de personalidade (esquizotípica, histriônica,
borderline, narcisista, etc.), na esquizofrenia, na histeria e, eventualmente, em crianças e
adolescentes (e mesmo em adultos) normais.
Pensamento vago
As relações conceituais, a formação dos juízos e a concatenação destes em raciocínios são
caracterizadas pela imprecisão. O paciente expõe um pensamento muito ambíguo, podendo mesmo
parecer obscuro. Não há propriamente o empobrecimento do pensamento, mas, antes, a marcante
falta de clareza e precisão do raciocínio. O pensamento vago pode ser um sinal inicial de
esquizofrenia ou ocorrer em quadros demenciais iniciais, transtornos de personalidade (p.ex.,
esquizotípica) e neuroses75 graves.
Pensamento obsessivo
Aqui, predominam ideias ou representações que, apesar de terem conteúdo absurdo
ou repulsivo para o indivíduo, se impõem à consciência de modo persistente e
incontrolável. Isso determina uma luta constante entre as ideias obsessivas, que
voltam de forma recorrente à consciência, e o indivíduo, que se esforça por bani-las
de sua consciência, gerando um estado de angústia constante. Com certa frequência, em pacientes
gravemente obsessivos, aspectos do pensamento mágico também estão presentes (p.ex., ‘Se eu tocar
na roupa de uma prostituta ficarei contaminado’, ou ‘Se eu repetir a palavra santo cinquenta vezes
impedirei que meu pai morra’).
Descarrilhamento do pensamento
O pensamento passa a extraviar-se de seu curso normal, toma atalhos colaterais, desvios,
pensamentos supérfluos, retornando aqui e acolá ao seu curso original. Geralmente está associado a
marcante distraibilidade. Se o descarrilhamento for muito acentuado, e os desvios, muito frequentes
e longos, pode-se não mais captar a sequência lógica do pensamento. O descarrilhamento é
observado na esquizofrenia e, eventualmente, nos transtornos maníacos.
75
Uma neurose, em sentido amplo, caracteriza uma afecção psicogênica cujos sinais e sintomas são, segundo a teoria
psicanalítica, uma expressão simbólica de conflitos psíquicos, normalmente inconscientes, que têm suas raízes na
história infantil do indivíduo e constituem compromissos entre o desejo e as defesas.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
69
Pensamento demencial
Trata-se também de pensamento pobre, porém tal empobrecimento é desigual, ao contrário do que
ocorre no pensamento deficitário, no qual o empobrecimento é mais homogêneo. Em certos pontos,
o pensamento demencial pode revelar elaborações mais ou menos sofisticadas, embora de forma
geral seja imperfeito, irregular, sem unidade ou congruência. Em relação aos conceitos abstratos e
aos raciocínios diferenciados e complicados, podem-se observar seus resquícios no pensamento
demencial, embora, com o progredir da síndrome demencial, vá predominando mais e mais o
pensamento pobre, concreto e desorganizado. É frequente o fato de o indivíduo dementado, nas
fases iniciais, tentar dissimular suas dificuldades cognitivas. Ao se deparar com a dificuldade em
encontrar as palavras (aspecto característico no início das demências), procura termos mais
genéricos, evita os adjetivos e os substantivos específicos. Por exemplo, ‘Não consigo encontrar
aquela coisa, o meu... (batom), aquilo para pintar a boca...’; ‘Vou pedir ao...àquele homem (o
guarda), que me ajude a atravessar... aqui (a rua).
Ideias delirantes
A palavra delirar é derivada do latim delirare (de = fora; liros = sulcos),
que significa literalmente lavrar fora do sulco. Apofania é a apresentação
do delírio.
De acordo com Karl Jaspers (1987), ideias delirantes (ou delírios) são
juízos patologicamente falsos, que possuem as seguintes características
externas: acompanham-se de uma convicção extraordinária, não são
susceptíveis à influência e possuem um conteúdo impossível.
Os delírios, constituindo uma alteração do conteúdo do pensamento, são, por conseguinte,
detectados no discurso do paciente. Todavia, com frequência o paciente irá dissimular sua atividade
delirante ou não terá interesse ou possibilidade (nos casos de estupor, por exemplo) de verbaliza-la.
Nessa situação, torna-se fundamental a avaliação da atitude (desconfiança, medo, arrogância, etc.).
O delírio constitui uma alteração relacionada à formação de juízos. Através dos juízos,
discernimos a verdade do erro. Através do juízo de realidade, distinguimos o que é real do que é
fruto de nossa imaginação. [...]
O delírio caracteriza-se por uma certeza subjetiva absoluta, por uma firmeza irremovível da
convicção, por uma impossibilidade de modificação diante do desmentir dos fatos ou da refutação
rigorosa: é incorrigível. [...]
A impossibilidade do conteúdo é um critério bastante criticado, pois considera-se que a maior parte
dos delírios tem um conteúdo possível, embora improvável; e, em alguns casos, o conteúdo do
delírio é, por mero acaso, verdadeiro.
O juízo falso é impossível e irracional quando está relacionado a um erro lógico, quando o
raciocínio subverte os princípios lógicos: tornar existente o que não existe e não pode existir. Por
exemplo: acreditar estar na Terra e na Lua ao mesmo tempo. Trata-se de uma impossibilidade
lógica.
O juízo falso é impossível e racional quando está relacionado a um erro gnosiológico76 – tornar
existente o que não existe mas pode vir a existir – e, no raciocínio, os princípios lógicos são
preservados. Por exemplo: antes de 1969, afirmar ter estado na Lua. Trata-se de uma
impossibilidade real.
76
Gnosiologia – teoria do conhecimento.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
70
O juízo falso é possível e improvável quando está relacionado a um erro gnosiológico mas também
a uma possibilidade real, embora pequena, de ser verdadeiro (Chalub, 1977). Um exemplo de um
delírio com essas características é o seguinte: Senhora de mais de 50 anos morava sozinha desde sua
separação conjugal. Havia alguns anos que ela não tinha mais contato com o ex-marido, que estava
agora casado com uma mulher bem mais jovem que ela. A paciente, quando chegava em casa do
trabalho, notava que alguns objetos estavam fora de lugar. Ela acreditava que, quando saía de casa,
o ex-marido entrava em seu apartamento (sem ser visto por ela) e tirava de lugar tais objetos, para
que ela pensasse que estava perdendo a memória e ficando ‘maluca’. Segundo ela, o porteiro estava
envolvido nesse plano, pois ele avisava a seu ex-marido quando ela saía, assim como um chaveiro,
que tinha feito uma cópia da chave de seu apartamento para o invasor. Também faziam parte da
trama o síndico do edifício e diversas outras pessoas, todos judeus. O objetivo deles era fazer com
que ela ficasse nervosa e desesperada, e, assim, vendesse seu apartamento por um baixo preço para
um dos conspiradores, que então teria um grande lucro financeiro. Nenhuma das ideias formuladas
pela paciente era absurda, todavia as chances de todas elas terem sido verdadeiras eram, na prática,
desprezíveis. [...]
O delírio constitui uma vivência individual, idiossincrática77. Com isso, distingue-se das crenças
culturalmente compartilhadas, como os dogmas religiosos, os quais podem possuir as mesmas
características apontadas por Jaspers em relação ao delírio.
Todo delírio é de certa forma autorreferente, no sentido de que o seu conteúdo está direta ou
indiretamente relacionado ao enfermo. O delírio se transforma no eixo em torno do qual passa a
girar a vida do indivíduo.
Em função de sua convicção extraordinária, o delirante não sente a necessidade de comprovar
objetivamente a veracidade de seu juízo e pode não achar importante convencer as outras pessoas
de que está certo.
Muitas vezes há uma discrepância entre o delírio e a conduta do paciente: ou este não muda em
nada seu comportamento, ou age de forma diferente do que se esperaria de alguém que realmente
estivesse na sua situação.
Delírios são experimentados subjetivamente com características mais de saber do que acreditar
(Sedler, 1995), o que também os distingue das crenças religiosas.
Delírio primário
O delírio primário é a ideia delirante autêntica. Ele é autóctone, isto é, não deriva de nenhuma outra
manifestação psíquica. É incompreensível: não pode ser seguido psicologicamente até a sua origem,
é algo de ‘último e derradeiro’ (Jaspers). Está relacionado a uma profunda transformação da
personalidade, sendo expressão de um processo: o surgimento de algo novo, duradouro e
irreversível na vida mental. Classicamente, seria exclusivo da esquizofrenia.
K. Jaspers incluiu sob a denominação de vivências delirantes primárias as percepções delirantes, as
representações delirantes e as cognições delirantes. K. Schneider criou o conceito de ocorrências
delirantes, que englobaria as representações delirantes e cognições delirantes [ou, delírio intuitivo].
A percepção delirante consiste na atribuição de um significado novo, anormal, a uma percepção
normal de um objeto real. Essa significação se dá de forma simultânea ao ato perceptivo. O
significado é para o observador algo ilógico, absurdo e incompreensível, ou seja, parece não haver
77
Idiossincrasia - 1. Disposição do temperamento do indivíduo, que o faz reagir de maneira muito pessoal à ação dos
agentes externos. 2. Maneira de ver, sentir, reagir, própria de cada pessoa.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
71
qualquer relação entre o que foi percebido e a conclusão a que se chegou. Para o doente, o
significado é em geral autorreferente; tem o caráter de um aviso, mensagem ou revelação; é algo
especial, de grande importância, que é sentido como imposto. Um exemplo seria o seguinte: o
indivíduo vê um cachorro urinando na rua e sabe que o mundo vai acabar. A percepção delirante é
um dos sintomas de primeira ordem de Kurt Schneider para o diagnóstico da esquizofrenia. [...]
Na representação delirante, um significado anormal é dado a uma recordação normal. Por exemplo:
‘Eu podia muito bem ser filho do Rei Luis’ – uma recordação clara, de como o imperador, ao passar
a cavalo, na parada, vista há alguns anos, olhou justamente para ele, o confirma’ (Jasper, 1987).
A cognição delirante [ou, delírio intuitivo] consiste em uma convicção patológica intuitiva, uma
certeza súbita, uma revelação imediata, que prescinde por completo de conexões significativas com
quaisquer dados perceptivos ou representativos. Por exemplo, o indivíduo de repente sabe que é
Jesus Cristo, mas isso não está relacionado com nada que ele tenha visto, ouvido ou se lembrado. A
cognição delirante ocorre mais em quadros psicóticos mais agudos do que crônicos. Ao contrário da
percepção delirante e da representação delirante, constituídas por 2 membros – a percepção ou
recordação normal + a significação anormal –, a cognição delirante possui um único membro
(Schneider, 1978).
Ideia sobrevalorada
Na definição de Nobre de Melo (1981), a ideia sobrevalorada (ou supervalorada, ou prevalente, ou
sobrevalente) é uma ideia errônea por superestimação afetiva. O erro decorre do fato de a ideia estar
relacionada a uma carga afetiva muito intensa, que influencia o julgamento da realidade (influência
catatímica) tornando-o pouco racional. Essa ideia ganha preponderância em relação às demais e
orienta unilateralmente a conduta do indivíduo.
Na ideia sobrevalorada, o erro é compreensível psicologicamente em função da vivência emocional
ou de traços de personalidade do indivíduo. A convicção é menor do que no delírio: a ideia é mais
influenciável.
A ideia sobrevalorada pode ocorrer em pessoas normais. Por exemplo, convicções apaixonadas em
relação a questões científicas, filosóficas, políticas e religiosas, assim como as ideias dos
enamorados sobre o objeto do seu amor. Ocorre ainda em alguns transtornos mentais, como na
hipocondria (a ideia de sofrer de uma doença), no transtorno dismórfico corporal (ter um defeito na
aparência), na anorexia nervosa (precisar emagrecer), no transtorno obsessivo-compulsivo (ter que
limpar, contar, verificar ou tocar) e no transtorno de personalidade paranoide (estar sendo enganado
ou prejudicado).
78
O delírio erotomaníaco é típico da chamada Síndrome de Clèrambault, que se caracteriza na convicção delirante,
por parte do paciente, de que alguém de posição social mais elevada o ama. Nas descrições clássicas, o surgimento dos
delírios é abrupto, o que nem sempre é observado na prática clínica.
De Clèrambault descreveu a erotomania como uma síndrome de emoções patológicas que segue uma evolução
ordenada, passando pelos estágios de esperança, despeito e rancor. Essa evolução foi considerada por ele como
invariável, sendo a fase de rancor a mais importante delas e, na verdade, o que mais bem caracteriza toda a síndrome, ao
invés do estágio de amor.
Então o portador da erotomania acredita que o seu objeto de amor declarou-se para ele, de alguma maneira: por sinais ,
telepaticamente, ou frases ditas ao público mas que o portador acredita ter sido direcionadas a ele.
Depois disto, o portador que inicialmente poderia não corresponder ao amor que acredita ter sido declarado
primeiramente pelo outro, passa interessar-se e corresponder e tentar demonstrar este amor, seduzindo seu objeto
amado, declarando-se, etc.. O paciente pode desejar ter relações sexuais com o objeto de seu amor delirante, pode tentar
seduzi-lo para esse fim ou passar a acreditar, inclusive, que está gestando um filho dele. Os homens tendem mais à
perseguição de seus objetos que as mulheres.
Embora atos físicos ou sexuais sejam incomuns, esses pacientes podem trazer significativo impacto psicológico e social
à vida de suas vítimas, em consequência de perseguições por períodos prolongados, que variam de chamadas telefônicas
a declarações de amor em ambientes públicos e movimentados.
Diante da percepção do envolvimento do ser amado com terceiros surge o despeito e diante de sua rejeição, o rancor.
Quando o paciente erotomaníaco alcança o estágio de rancor, depois de repetidas rejeições que sofre, não raro exerce
retaliações contra seu objeto de amor ou contra terceiros.
O típico portador da erotomania pode ser homem ou mulher, leva uma vida reservada, socialmente inexpressiva; poucos
são casados, muitos são privados de contato sexual por anos, a maioria ocupa cargos subalternos, e alguns são muito
pouco atraentes. Esse comportamento pode resultar de traços de personalidade hipersensível, desconfiança acentuada ou
assumida superioridade em relação às outras pessoas. Por outro lado, os objetos de amor delirante, na realidade ou em
fantasia, são sempre superiores em inteligência, posição social, aparência física, autoridade ou uma combinação destes
atributos. Quase sempre, o paciente sente-se como que livrado de sua solidão pelo amor que o objeto supostamente lhe
dedica. Esta síndrome pode apresentar-se em diversos transtornos mentais: transtorno delirante persistente,
esquizofrenias, transtorno afetivo bipolar. (http://dicionariodesindromes.blogspot.com.br/2006/10/sndrome-de-
clrambault.html)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
73
não aproximação por parte da outra pessoa à malevolência de terceiros. O delírio erotomaníaco é
mais comum no sexo feminino e pode ocorrer no transtorno delirante.
- Delírio de referência (de alusão ou de auto-referência) – O doente atribui a fatos fortuitos ou
acidentes do cotidiano uma relação direta com a sua pessoa. Por exemplo: ele vê dois
desconhecidos conversando, e, mesmo sem nada ouvir, sabe que estão falando sobre ele. Ou então:
ele acredita que o enredo da novela da TV foi baseado na sua vida.
- Delírio de relação – O indivíduo delirante constrói conexões significativas (delirantes) entre os
fatos normalmente percebidos. Essas conexões novas surgem geralmente sem motivação
compreensível. Por exemplo, o paciente agora sabe que tudo faz sentido, os fatos se relacionam (as
chuvas do verão passado, o inverno atual mais frio, etc.), indicando “que realmente a guerra dos
seres alienígenas irá começar”. Tal tipo de delírio também apresenta colorido persecutório.
(DALGALARRONDO, 2008, p. 219)
- Delírio de ruína (ou niilista) – É comum na depressão. Para o paciente, sua vida está repleta de
desgraça, sofrimento, fracassos e perdas: tornou-se financeiramente miserável, seus familiares o
abandonaram, etc. Os delírios somáticos (ruína da saúde física), de culpa (ruína moral) e de negação
(ruína total) poderiam ser considerados subtipos do delírio de ruína.79
- Delírio somático (ou hipocondríaco) – o paciente acredita estar sofrendo de uma doença muito
grave e incurável, como AIDS, câncer, tumor cerebral, etc., ou ter o corpo terrivelmente deformado.
- Delírio de infestação (Síndrome de Ekbom) – O indivíduo acredita que seu corpo
(principalmente sua pele e/ou cabelos) está infestado por pequenos (mas macroscópicos)
organismos. Relata, no mais das vezes, que há ‘bichinhos’ sob a pele’, insetos nos cabelos,
vermezinhos, aranhas, etc. Acompanhando o delírio, podem ocorrer alucinações táteis
(correspondentes aos ‘pequenos insetos’). Esse tipo de delírio ocorre em pacientes esquizofrênicos,
deprimidos, no delirium tremens, em intoxicações por cocaína ou alucinógenos e em indivíduos
obcecados pela higiene corporal. (DALGALARRONDO, 2008, p. 223)
- Delírio de culpa (ou autoacusação) – Característico da depressão. O paciente acredita que
cometeu pecados terríveis, ou mesmo crimes, em seu passado, e que merece ser punido. Ele
supervaloriza pequenas falhas que cometeu, ou pensa ter influenciado o acontecimento de grandes
catástrofes.
- Delírio de negação de órgãos – O indivíduo experimenta profunda alterações corporais. Relata
que seu corpo está destruído ou morto, que não tem mais um ou vários órgãos, como o coração, o
fígado ou o cérebro, suas veias ‘estão secas’, não tem mais nem uma gota de sangue, seu corpo
secou ou apodreceu, seus braços e pernas estão se ‘esfarelando’. Denomina-se síndrome ou delírio
de Cottard quando o delírio de negação de órgãos vem acompanhado de delírio de imortalidade e
de enormidade (‘Não vou morrer nunca mais, vou sofrer para o resto da eternidade’) e, mais
raramente, de delírio de enormidade (o paciente vivencia o corpo se expandido, tomando conta de
todo o quarto, crescendo até proporções gigantescas). [...] O delírio de negação de órgãos e a
síndrome de Cottard são típicos das depressões graves com marcante componente ansioso. Podem
ocorrer também em quadros psico-orgânicos crônicos e na esquizofrenia. (DALGALARRONDO,
2008, p. 221-2)
79
Alguns autores fazem menção a uma variação relativa a este delírio: a chamada Síndrome de Cotard também
chamada de delírio de Cotard, síndrome do cadáver ambulante1, delírio niilista ou delírio de negação. É uma síndrome
rara de fundo psicológico onde a pessoa acredita estar morta, não reagindo a estímulos exteriores nem a outras pessoas.
Também pode acreditar que está com seus órgãos internos podres ou apodrecendo. (adaptado de Wikipédia)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
74
- Delírio místico ou religioso – Envolve temas religiosos, espíritos, etc. O indivíduo diz que é Jesus
Cristo, que pode fazer milagres, que Deus lhe deu uma missão, ou que vai fundar uma nova
religião. No delírio de possessão, que pode ser aqui incluído, o doente julga que um espírito entrou
em seu corpo e assumiu o controle de sus atos.
- Delírio de reforma (ou salvacionismo) – Ocorre entre indivíduos que se sentem destinados a
salvar, reformar, revolucionar ou redimir o mundo ou a sociedade. Tal plano revolucionário ou
salvacionista está muitas vezes fundamentado em dogma ou sistema religioso ou político,
desenvolvido pelo próprio delírio. Esses delirantes têm convicção plena de que seu sistema religioso
ou político é absolutamente o único capaz de salvar de fato a humanidade. (DALGALARRONDO,
2008, p. 223)
- Delírio fantástico (ou mitomaníaco) – Envolve temas extraordinários, ou de extrema
grandiosidade. Por exemplo: uma paciente que afirma ter parido todas as pessoas que existem no
mundo.
- Delírio de identificação – O paciente julga que uma pessoa familiar foi substituída por uma sósia.
Este é fisicamente idêntico à primeira, mas psicologicamente distinto.
- Delírio de conteúdo depressivo – são aqueles que têm temática de colorido marcadamente triste,
como ruína ou miséria, culpa ou auto-acusação, doenças e mesmo o desaparecimento de partes do
corpo (negação dos órgãos). São tipos de delírios intimamente associados a estados depressivos
profundos. Esses delírios são o inverso dos delírios de grandeza ou daqueles em que o sujeito
acredita ser alguém muito especial (verificados em certos quadros de mania). Além disso, diz-se
que, nos transtornos de humor que cursam com ideias delirantes, o delírio é congruente com o
humor quando, em episódios de depressão psicótica, se observam delírios de ruína, culpa, negação
dos órgãos ou hipocondríacos (e, no caso da mania, delírios de grandeza). Quando os conteúdos dos
delírios não estão coerentes com a alteração do humor, diz-se que eles são “incongruentes com o
humor” ou humor-incongruentes (delírio persecutório em quadro depressivo, sem a ideia de
‘merecer’ ser perseguido, ou delírio de controle80 em quadro de mania). Os principais delírios de
conteúdo depressivo são os de ruína, de culpa e de auto-acusação, de negação de órgãos e
hipocondríacos.” (DALGALARRONDO, 2008, p. 221)
- Delírio de invenção ou descoberta – Aqui o indivíduo, mesmo completamente leigo na ciência
ou na área tecnológica em questão, revela ter descoberto a cura de uma doença grave (de AIDS, do
câncer, etc.), ou ter desenvolvido um aparelho moderno fantástico; enfim, descobertas ou invenções
que irão mudar o mundo. Verifica-se principalmente nos transtornos delirantes (antiga paranoia), na
esquizofrenia e na mania. (DALGALARRONDO, 2008, p. 222-3)
80
O delírio de controle é típico na Síndrome de Kandinsky-Clèrambault. Nesta síndrome seu portador acredita que
sua mente esta sendo controlada por alguém ou por forças externas. O portador crê, portanto, que seu pensamento, suas
sensações e seus comportamentos estão sendo controlados por outra pessoa, gerando o que se chama em psicopatologia
"automatismos".
Assim, segundo o primeiro psiquiatra a descrever o fenômeno, Dr. Kandinsky na Rússia, poderia haver automatismos
cognitivos, sensitivos e motores, combinados com delírios de influência física ou mental, tais como roubo ou inserção
do pensamento.
Mais adiante, Dr. Clèrambault na França, dividiu os automatismos de modo semelhante em três tipos:
1.Tipo associativo: inclui afrouxamento de associações, bloqueio do pensamento, fuga de ideias, delírios de influência,
publicação do pensamento etc.
2.Tipo sensitivo: delírios de influência física com sensações desagradáveis vindas de órgãos internos, provocadas por
terceiros.
3.Tipo motor: envolve o delírio de que outra pessoa é responsável por movimentos e ações.
Esta síndrome é frequentmente observada no contexto das Esquizofrenias.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
75
- Delírio hipocondríaco - O paciente crê com convicção extrema que tem uma doença grave,
incurável e que irá morrer brevemente.
ALTERAÇÕES DA AFETIVIDADE81
Afetividade – Definições:
[...] grau de resposta da pessoa ou sua suscetibilidade a prazer, dor e
outros estímulos emocionais. [...] (APA, 2010, p. 40)
[...] refere-se a um tom emocional momentâneo que acompanha o que
dizemos ou fazemos. (BARLOW, 2010, p. 62)
[...] termo introduzido por Bleuler para designar o conjunto dos processos
emocionais da vida dos sentimentos, da vida emotiva. Em sentido amplo,
designa o conjunto dos sentimentos de uma pessoa. (DORCSH, 2001, p.
19)
Chama-se afetividade a capacidade de experimentar sentimentos e emoções. A afetividade
compreende o estado de ânimo ou humor, os sentimentos, as emoções e as paixões. (PAIM, 1993, p.
219)
[...] Afeto vem do latim afficere, que significa influenciar, afetar. Esse termo pode ser usado para
designar genericamente os elementos da afetividade, incluindo emoções, sentimentos e humor; mas,
outras vezes, é empregado como sinônimo de emoção.
O termo emoção corresponde ao francês emouvoir, que significa comover, emocionar; e está ligado
a uma ideia de movimento. Emoção em geral representa um estado afetivo súbito, de curta duração
e grande intensidade, que se acompanha de alterações corporais, relacionadas a uma hiperatividade
autonômica.
Sentimento deriva-se do latim sentire, que significa sensação, perceber através dos sentidos, dar-se
conta. Esse termo em geral se refere a um estado afetivo menos intenso e mais prolongado que as
emoções, e sem as alterações fisiológicas encontradas nestas. Talvez se possa dizer que os
sentimentos resultem de um processamento cognitivo maior do que haveria nas emoções.
As paixões têm a intensidade das emoções, porém uma duração maior. Elas monopolizam e
direcionam os pensamentos e ações do indivíduo.
O humor (ou estado de ânimo, ou tônus afetivo) representa um somatório ou síntese dos afetos
presentes na consciência em um dado momento. Constitui o estado afetivo basal e fundamental, que
se caracteriza por ser difuso, isto é, não relacionado a um objeto específico, e por ser em geral
persistente e não reativo. O humor oscila entre os polos da alegria, da tristeza e da
irritabilidade, assim como entre a calma e a ansiedade. [...]
Não é necessário que o paciente nos conte como está se sentido para podermos avaliar a sua
afetividade: o afeto é expresso através da mímica, do olhar, dos gestos da postura e do tom de voz.
A afetividade é avaliada empaticamente. É como se o observador dissesse para si mesmo, por
exemplo: ‘Se eu estivesse me sentido como aquele indivíduo aparenta estar – pela sua expressão
facial, gestos, etc. -, eu me sentiria muito alegre, portanto, ele está alegre.
81
O texto deste item foi retirado e adaptado, principalmente, de: CHENIAUX,2013, p. 139-151; DALGALARRONDO,
2008, p. 155-173 e, PAIM, 1993, p. 219-236
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
77
Alterações do humor
Analise o esquema a seguir:
82
Turgor vitalis – expressão latina que significa força, pressão de vida ou vital; disposição; estado de espírito.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
78
incapacidade para realizar qualquer atividade. Nas formas mais graves, os doentes apresentam um
estado de profundo abatimento: fisionomia triste, traços contraídos, [...]. Os enfermos estão
dominados por um profundo sentimento de tristeza imotivada. No doente deprimido, as percepções
são acompanhadas de uma tonalidade afetiva desagradável: tudo lhe parece sombrio. Os doentes
perdem completamente o interesse pela vida. Nada lhes interessa do presente nem do futuro e, do
passado, são rememorados apenas os acontecimentos desagradáveis. As percepções são lentas,
monótonas, descoloridas. Ao enfermo parece que os alimentos perderam o sabor habitual. Nos
estados depressivos, as ilusões são mais frequentes do que as alucinações. As ideias deliroides são
comuns, expressando geralmente ideias de culpabilidade, de indignidade e de autoacusação. O
pensamento é lento e o próprio ato-de-pensar é acompanhado de um sentimento desagradável. O
conteúdo do pensamento exprime motivações dolorosas. O doente não pode livrar-se de suas ideias
tristes.
O quadro clínico da depressão patológica é caracterizado pela inibição, refletida na lentidão e
pobreza de movimentos, na mímica apagada, na linguagem lenta, monótona, algumas vezes
expressa numa voz sussurrada. Em alguns casos, a inibição motora acompanha-se de um estado de
tensão da musculatura voluntária, quadro clínico esse denominado pelos antigos autores de ‘estado
atônito’.
Os sintomas somáticos são evidentes. As alterações vasomotoras se revelam pelas mãos frias e
cianosadas, pela cianose dos lábios e pela hipotermia. São frequentes espasmos vasculares, com
elevação da pressão arterial, palidez da face e diminuição do turgor vitalis. Os doentes dão a
impressão de mais velhos. As perturbações digestivas são constantes: língua saburrosa (mucosa),
inapetência, prisão de ventre. As perturbações circulatórias ocasionam um sentimento subjetivo de
opressão na região cardíaca, determinando a chamada angústia precordial83.
Disforia – [...] diz respeito à distimia acompanhada de uma tonalidade afetiva desagradável, mal-
humorada. Quando se fala em depressão disfórica ou mania disfórica, está sendo designado um
quadro de depressão ou de mania acompanhado de forte componente de irritação, amargura,
desgosto ou agressividade.
83
Precordial - Relativo ou pertencente à região que fica adiante do coração, ou nela situado. (Aurélio)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
79
permanecem quietos um só instante; o humor é extremamente instável; tornam-se cada vez mais
exuberantes, loquazes, riem às gargalhadas.
Paratimia – A paratimia caracteriza-se por uma inadequação do afeto: uma incongruência entre o
afeto expresso e a situação vivenciadas, ou entre o afeto expresso e aquilo que o indivíduo
verbaliza. Por exemplo: o paciente, rindo, conta que foi torturado na noite anterior; ou então o
doente afirma estar alegre, mas sua mímica é de tristeza.
A paratimia reflete uma desarmonia entre a afetividade e o pensamento. Ocorre na esquizofrenia.
Neotimia – [...] consiste em uma vivência inteiramente nova, extravagante e inusitada. São afetos
qualitativamente diferentes de todos os que o paciente havia experimentado em sua vida. Podem ter
esse caráter de neotimia alguns sentimentos místicos, de êxtase, de elação, de desolação e de terror.
A neotimia é observada na esquizofrenia – especialmente no trema84 -, na intoxicação por
alucinógenos e em algumas auras85 epiléticas.
84
Trema – [...] estado de tensão peculiar em que o ator fica antes de entrar em cena e que o professor experimenta antes
de iniciar a aula. Poderá ser de maior ou menor intensidade. Esta é uma palavra tirada do argot, da gíria do teatro.
85
Aura - Fenômeno ou sensação especial que, nos indivíduos epilépticos, surge imediatamente antes do início do
ataque. “O paciente sente pronunciado cheiro de terra molhada e experimenta várias outras sensações peculiares.
Involuntariamente, emite um urro animalesco, conhecido como “grito do leão” ou “grito do pavão”. Seguem-se
normalmente, a queda ao chão e o início das convulsões. Durante as crises o paciente pode ser tomado de grande
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
80
Labilidade afetiva – São estados nos quais ocorrem mudanças súbitas e imotivadas de humor,
sentimentos ou emoções. O indivíduo oscila de forma abrupta, rápida e inesperada de um estado
afeito para outro. O paciente está falando de algo ameno e começa a chorar convulsivamente,
passando, logo a seguir, a sorrir de forma tranquila. Pode ocorrer em quadros de depressão ou
mania, estados graves de ansiedade e esquizofrenia.
Pânico – É uma reação de medo intenso, de pavor, relacionado geralmente ao perigo imaginário de
morte iminente, descontrole ou desintegração. O pânico se manifesta quase sempre como crises de
pânico. Estas são crises agudas e intensas de ansiedade, acompanhadas por medo intenso de morrer
ou de perder o controle e de acentuada descarga autonômica (taquicardia, sudorese, etc.). As crises
caracterizam-se pelo início abrupto de uma sensação de grande perigo e desejo de fugir ou escapar
da situação. [...]
Tenacidade afetiva – [...] consiste na persistência anormal de certos estados afetivos, como
ressentimento, o ódio e o rancor. Em virtude dessa fixação prolongada de sentimentos
desagradáveis, o enfermo está sempre de mau humor e encara todos os acontecimentos da vida
através de um prima pessimista. [...] A tenacidade afetiva é própria dos epilépticos, conforme
assinalou Kleis, a perseveração dos epilépticos é um fenômeno geral, semelhante à sonolência ou ao
estupor, e abrange também os processos afetivos. Daí a persistência anormal dos sentimentos
observada nesses enfermos.
Sugestibilidade patológica – É uma alteração de ordem tanto afetiva quanto volitiva. Trata-se de
uma predisposição psíquica especial, que determina uma receptividade e uma submissão muito
fáceis às influências estranhas exercidas sobre o indivíduo. No terreno puramente psíquico,
encontra-se a sugestibilidade nos histéricos, razão pela qual se tornam esses enfermos muito
favoráveis à produção de estados hipnóticos, de sintomas somáticos e até mesmo de sintomas
psicóticos – as chamadas perturbações mentais induzidas ou por contágio mental. [...]
A sugestibilidade é também muito comum nos deficientes mentais e nos estados demenciais, nos
quais é uma consequência da insuficiência intelectual. Na demência senil a sugestibilidade adquire
grande significação do ponto de vista médico-legal (Justiça), em virtude de estarem esses enfermos
agressividade. Fora do surto a consciência e a vontade são restabelecidas plena ou parcialmente” (FUHRER, R.E.,
2000, p. 58)
86
Vide descrição clínica e relação das principais fobias na página 113 desta apostila.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
81
ALTERAÇÕES DA VOLIÇÃO87 88
Principais conceitos:
Impulso (em inglês, drive - tendência – “necessidade repentina e inegável de agir imediatamente,
muitas vezes resultando em ação sem deliberação para um propósito que não pode ser lembrado.
Também denominado impulsão.” (APA, 2010, p.503) Comportamento súbito, brusco, inesperado e
irracional, muitas vezes perigoso, vivenciado pelo sujeito como uma necessidade imperiosa. Sua
carga afetiva é geralmente intensa, mas de diversas naturezas, por exemplo, sexual ou destrutiva;
[...] (DORON; PAROT, 2008, p. 416). A impulsividade compõe o temperamento89 de um
indivíduo.
O conceito de impulso corresponde à tradução do termo psicanalítico pulsão (em alemão, trieb –
impulso, ímpeto, força impelente, força que coloca em movimento) cujo melhor sentido, em
psicanálise, seria o de uma pressão interna, totalmente inconsciente, “[...] algo incômodo, que
incita, algo intrinsecamente incessante e impelente que não é eliminado, pode apenas ficar em
estado de impedimento, bloqueado, latente. [...] [...] “Trieb é a força responsável pelas
necessidades, vontades, impulsos e desejos, assumindo a forma de impulso fisiológico, pensamento
etc..” (FREUD, 2004, p. 48) “Processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga
energética, fator de motricidade) que faz tender o organismo para um alvo. Segundo Freud, uma
pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão); o seu alvo é suprimir o estado de
tensão que reina na fonte pulsional; é no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir o seu
alvo.” (LAPLANCHE; PONTALIS, 1986, p. 506). Em psicanálise são distinguidos vários tipos de
pulsão (p.ex., pulsões sexuais, pulsões agressivas etc).
Vontade – A vontade constitui um processo psíquico de escolha de uma entre várias possibilidades
de ação, uma atividade consciente de direcionamento da ação. Trata-se de uma elaboração cognitiva
realizada a partir dos impulsos, sendo influenciada por fatores intelectivos e socioculturais.
Desejo – [...] é um querer, um anseio, um apetite, de natureza consciente ou inconsciente, que visa
sempre algo, que busca sempre a sua satisfação. Os desejos se diferenciam das necessidades, pois
estas são fixas e inatas, independentes da cultura e da história individual, enquanto aqueles são
móveis, moldados e transformados social e historicamente.
‘[...] Foi no contexto da psicologia do sonho que S. Freud elaborou sua teoria do desejo. As
condições de possibilidade da formação do desejo são dispostas no decorrer da experiência de
satisfação [prazer]. Esta ocorre quando a excitação proveniente de uma necessidade interior é
87
A expressão volição caracteriza o “ato pelo qual a vontade se determina.” (Aurélio). Entre os autores de
psicopatologia há termos distintos sobre esse mesmo tema. Por exemplo, vontade (“sentimento que incita alguém a
atingir o fim proposto por esta faculdade; aspiração; anseio; desejo” – Aurélio), conação (“tendência consciente para
atuar” – Aurélio), atividade voluntária etc.
88
Este item foi construído a partir de adaptações dos seguintes autores: CHENIAUX, 2013, p. 117-29;
DALGALARRONDO, 2008. p. 174-84.
89
Temperamento (do latim temperare que significa “equilíbrio”) – corresponde aos aspectos (traços) geralmente
inconscientes da personalidade relacionados às reações emocionais bem como de sua rapidez e intensidade. O
temperamento poderá ser alterado, até certos limites, por influências médicas (medicações, tratamentos etc) bem como
no decurso da aprendizagem e das experiências de vida. A impulsividade, a sensibilidade, a intempestividade etc. são
características de temperamento.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
83
amainada pela obtenção do objeto específico. S. Freud traz o exemplo de um bebê faminto que
recebe seu alimento: um elemento essencial dessa experiência é o aparecimento de certa percepção
(o alimento, no exemplo escolhido), cuja imagem mnésica ficará associada com o traço mnésico da
excitação da necessidade. Desde o momento em que a necessidade se apresentar novamente, haverá,
graças à relação estabelecida, desencadeamento de uma impulsão psíquica, que de novo investirá a
imagem mnésica dessa percepção na memória e provocará de novo a percepção, ou seja,
reconstituirá a situação de primeira satisfação. Essa moção [movimento] chama-se desejo; o
reaparecimento da percepção é realizada pelo desejo. O desejo inconsciente e, portanto, definido
como visando primitivamente a uma repetição alucinatória de uma percepção anteriormente
associada à satisfação, o que explica sua propensão a manifestar-se no sonho ou na fantasia.’
(DORON; PAROT, 2006, p. 227 – as chaves são do professor)
Instinto – [...] é definido como um modo relativamente organizado, fixo e complexo de resposta
comportamental de determinada espécie, que, por meio dela, pode sobreviver melhor em seu
ambiente natural. Geralmente envolve um conjunto de respostas e comportamentos herdados que,
apenas com modificações superficiais, serve sempre à adaptação do organismo (p.ex., as reações e
os comportamentos associados à fome, os instintos de sobrevivência, etc.). Há uma expressão
proveniente da etologia, que é a pesquisa científica em relação aos hábitos dos animais e da sua
acomodação às condições do ambiente, ‘padrão fixo de ação’, que para em alguns casos, assemelha-
se ao de instinto. Sua definição é a de um ‘comportamento caracterizado como específico de uma
espécie, altamente estereotipado, completado uma vez que iniciado, resistente à modificação e
frequentemente desencadeado por um estímulo específico.’ (DAVIDOFF, 2001, p.767)
Processo volitivo
O processo volitivo divide-se em quatro etapas: (1) intenção ou propósito; (2) deliberação (ou
análise); (3) decisão; e, (4) execução.
A fase de intenção ou propósito, na qual se esboçam as tendências básicas do indivíduo, suas
inclinações e interesses. Nesse momento, impulsos, desejos e temores inconscientes exercem
influência decisiva sobre o ato volitivo, muitas vezes imperceptíveis para o próprio indivíduo.
A fase de deliberação, que diz respeito à ponderação consciente, levando-se em conta tanto os
motivos como os móveis implicados no ato volitivo. O indivíduo faz uma análise básica do que
seria positivo ou negativo, favorável ou desfavorável, benéfico ou maléfico em sua decisão. É um
momento de apreciação, consideração dos vários aspectos e das implicações de determinada
decisão.
A fase de decisão propriamente dita é o momento culminante do processo volitivo, instante que
demarca o começo da ação, no qual os móveis e os motivos vencidos dão lugar aos vencedores.
A fase de execução constitui a etapa final do processo volitivo, na qual os atos psicomotores
simples e complexos decorrentes da decisão são postos em funcionamento, a fim de realizar e
consumar aquilo que mentalmente foi decidido e aprovado pelo indivíduo.
O ato de vontade pautado por essas quatro fases, em que ponderação, análise e reflexão precedem a
execução motora, é denominado ação vonluntária.
Alterações da vontade
Distúrbios como a diminuição ou perda do apetite (anorexia), da sede e da libido, além de insônia,
representam um enfraquecimento dos impulsos, um debilitamento das tendências naturais à
satisfação das necessidades corporais.
A anorexia é observada na depressão, na anorexia nervosa, em alguns quadros de ansiedade e em
diversas condições médicas gerais. A anorexia deve ser distinguida da sitiofobia91, na qual a recusa
alimentar se deve a manifestações fóbicas ou delirantes, não havendo uma real redução do apetite.
A insônia pode ser classificada em: inicial, quando há dificuldade para adormecer; intermediária,
caracterizada por diversos despertares noturnos; e terminal, quando o paciente acorda muito cedo e
não consegue voltar a dormir. A insônia aparece na depressão (podendo ser inicial ou terminal), nas
síndromes de ansiedade (em geral, inicial ou intermediária), na mania, nos quadros de agitação
psicomotora, nas intoxicações por psicoestimulantes (anfetamina, cocaína, cafeína, etc) e em
quadros de abstinência a algumas drogas psicoativas (opiáceos, benzodiazepínicos, álcool, etc).
A perda da libido é observada na depressão e no uso de substâncias antiandrogênicas92, de
neurolépticos e de alguns antidepressivos (especialmente os tricíclicos e os serotoninérgicos93).
90
Neurolépticos - Os antipsicóticos ou neurolépticos são medicamentos inibidores das funções psicomotoras, a qual
pode encontrar-se aumentada em estados, por exemplo, de excitação e de agitação. Paralelamente eles atenuam também
os sintomas neuro-psíquicos considerados psicóticos, tais como os delírios e as alucinações. São substâncias químicas
sintéticas, capazes de atuar seletivamente nas células nervosas que regulam os processos psíquicos no ser humano e a
conduta em animais. (http://www.psiqweb.med.br)
91
Sitiofobia - Medo de se alimentar.
92
Antiandrogênicas são drogas que inibem o hormônio testosterona. Geralmente são utilizadas no tratamento de
doenças da próstata.
93
Serotonina - A serotonina é um neurotransmissor que atua no cérebro regulando o humor, sono, apetite, ritmo
cardíaco, temperatura corporal, sensibilidade a dor, movimentos e as funções intelectuais.
Quando ela se encontra numa baixa concentração, pode levar ao mau humor, dificuldade para dormir e vontade de
comer o tempo todo, por exemplo. Uma das formas de aumentar a concentração de serotonina na corrente sanguínea é
consumindo alimentos ricos em triptofano, outra forma é praticando exercícios físicos com regularidade.
(http://www.tuasaude.com)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
85
Atos impulsivos – [...] caracterizam-se por serem súbitos, incoercíveis e incontroláveis. São atos
desprovidos de finalidade consciente. Pulam-se as etapas de deliberação e decisão do processo
volitivo, indo-se direto da intenção para a ação. Presumivelmente, os atos impulsivos ocorrem em
função de um aumento da intensidade dos impulsos ou de um enfraquecimento dos mecanismos de
inibição e refreamento.
Os atos impulsivos tornam-se patológicos quando são empaticamente incompreensíveis para o
observador. Alguns comportamentos heteroagressivos, autoagressivos e suicidas, a frangofilia, a
piromania, a dromomania, a dipsomania e os ataques de hiperingestão alimentar (da bulimia
nervosa) podem ter as características de um ato impulsivo.
Os comportamentos heteroagressivos impulsivos ocorrem de forma não premeditada, sendo
muitas vezes imotivados. Podem algumas vezes resultar em homicídio.
A frangofilia representa uma forma especial de comportamento agressivo. Nesse caso, a ação é a
de destruir objetos – deixa-los em frangalhos -, como roupas, móveis, colchões, etc.
A piromania constitui uma propensão a atear fogo, provocar incêndio. Muitas vezes trata-se de
uma reação agressiva a uma contrariedade.
94
Sobre hiperfagia, vide página 193.
95
A diabetes insipidus (DI) é uma doença caracterizada pela sede pronunciada e pela excreção de grandes quantidades
de urina muito diluída. Esta diluição não diminui quando a ingestão de líquidos é reduzida. Isto denota a incapacidade
renal de concentrar a urina. A DI é ocasionada pela deficiência do hormônio antidiurético (vasopressina) ou pela
insensibilidade dos rins a este hormônio.
96
Narcolepsia - Manifestação caracterizada pela necessidade mórbida de dormir, ou por ataques repentinos de sono,
que ocorrem com intervalos; sono paroxístico; hipnolepsia.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
86
97
Sobre o tipo borderline vide página 142.
98
Síndrome de Tourette (Transtorno de Tourette ou Doença de Gilles de La Tourette) é um distúrbio
neuropsiquiátrico caracterizado por tiques múltiplos, motores ou vocais, que persistem por mais de um ano e geralmente
se instalam na infância.
Na verdade, alguns destes movimentos, sua intensidade, podem ser controlados parcialmente, à custa de muita tensão.
Assim, na presença de pessoas desconhecidas ou com quem não se tem intimidade, a pessoa com a síndrome certamente
se esforçará para conter ao máximo os tiques.
Classificação dos Tiques:
•Simples
1.Motores: Piscar os olhos, repuxar a cabeça, encolher os ombros, fazer caretas, trincar os dentes, mover os dedos das
mãos, etc.
2.Vocais: “coçar” a garganta (Pigarrear, limpar a garganta), grunhidos, uivos, zumbidos, latidos, estalidos com a língua,
fungar, gritar, assobiar...
•Complexos. Os tiques complexos geralmente são precedidos por algum pensamento que direta ou indiretamente os
desencadeia, como obsessões, gerando ansiedade.
1.Motores: Pular, tocar pessoas ou coisas, cheirar, retorcer-se e, embora muito raramente, atos de autoagressão, tais
como machucar-se ou morder a si próprio...
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
87
2.Vocais: Frases fora de contexto, frases ou sons ouvidos recentemente que têm que ser repetidos (ecolalia), e mais
raramente obscenidades.
Apesar de não haver cura, há tratamento e a indicação para fazê-lo depende muito do quão incomodado o "Touréttico"
se sente. Sim, porque muitas vezes os tiques incomodam mais quem os observa, do que quem os têm.
99
A prodigalidade também pode ser entendida não só pelo impulso descontrolado (patológico, portanto) à compra,
como também o impulso descontrolado ao desperdício, às doações e à dilapidação do patrimônio pessoal ou familiar
(comum por exemplo, em alguns casos da demência, da compulsão ao jogo, da dependência química etc.). É comum,
nessas circunstâncias, que tais pessoas, por iniciativa de suas próprias famílias, sejam interditadas civilmente na Justiça.
100
Alguns autores preferem a denominação ‘atos impulsivos e compulsivos de natureza sexual; outros as chamam de
perversões sexuais. “Uma perversão representa um desvio em relação ao ato sexual ‘normal’, definido este como coito
que visa a obtenção do orgasmo pela penetração genital, com uma pessoa do sexo oposto. Diz-se que existe perversão
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
88
se tornam uma condição necessária para a excitação sexual e o orgasmo. Na quase totalidade das
vezes, as parafilias acometem pessoas do sexo masculino. No fetichismo, o interesse sexual se
concentra sobre partes não genitais do corpo feminino (pés, cabelos, nuca, etc) ou peças do
vestuário (sapatos, roupas íntimas, meias, etc.). No fetichismo transvéstico o indivíduo veste-se
com roupas do sexo oposto a fim de excitar-se sexualmente. No exibicionismo, o comportamento
consiste na exposição dos órgãos genitais, geralmente contra a vontade da pessoa que observa. Na
escopofilia (ou voyeurismo), o prazer provém basicamente da observação de uma pessoa que está
tento uma relação sexual ou que está nua ou tirando a roupa. No sadomasoquismo, o prazer está
vinculado à dor, humilhação, ou dominação e submissão. Na coprofilia, a excitação depende do uso
de excrementos no ato sexual. Na pedofilia o desejo sexual é por crianças ou púberes do sexo
oposto. Na pederastia o desejo sexual é por crianças ou púberes do mesmo sexo. Na gerontofilia o
desejo sexual é por idosos. Na zoofilia é por animais e na necrofilia os objetos sexuais são
cadáveres. Na compulsão à masturbação há uma intensa necessidade de realizar atividades
masturbatórias repetitivas, até mesmo praticada com desprazer. Na compulsão a utilizar
clisteres101 o paciente introduz objetos, como lâmpadas, podes vidro, garrafas, etc., no ânus ou na
vagina. No frotteurismo o indivíduo toca ou esfrega-se em uma pessoa sem o seu consentimento.
Ambitendência
A ambitendência também é denominada ambivalência volitiva. Consiste numa incapacidade para
decidir, em função da presença na consciência de tendências volitivas opostas. Por exemplo, querer
ficar perto de alguém e, ao mesmo tempo, não querer, e temer tal aproximação. A ambitendência
pode ocorrer na esquizofrenia.
Um fenômeno dessa natureza ocorre nos pacientes obsessivos. Nestes há um excesso de
deliberação, ou seja, todas as alternativas possíveis de conduta são minuciosa e repetidamente
examinadas, o que impede que se chegue à etapa de decisão do processo volitivo.
Negativismo
O negativismo, [...], consiste numa resistência não deliberada, imotivada e incompreensível às
solicitações externas. No negativismo passivo, o paciente simplesmente não faz o que lhe é pedido;
no ativo, ele faz o oposto ao solicitado. Podem ser manifestações de negativismo passivo o
mutismo (a recusa a falar) e a sitiofobia (recusa de alimentos). [...] O negativismo é observado em
quadros catatônicos, como na esquizofrenia e na depressão.
É uma ‘tendência permanente e instintiva a reagir contra toda solicitação do mundo exterior,
quaisquer que seja a sua natureza.’ (Kahlbaum). Essa tendência a resistir às influências externas,
chamada pelos antigos autores loucura de oposição, manifesta-se não só em relação às ordens
transmitidas ao paciente como ainda aos movimentos que se procura imprimir aos seus membros.
Se o médico manda o enfermo levantar-se, deitar-se, vestir-se ou andar, ele não obedece ou faz
exatamente o contrário daquilo que se lhe ordena.
O negativismo também é classificado como uma alteração do comportamento motor ou da
psicomotricidade (vide página 96).
quando o orgasmo é obtido através de objeto sexuais ou por outras zonas corporais, e quando o orgasmo é subordinado
de forma imperiosa a certas condições extrínsecas. De forma geral, tem-se por perversão o conjunto de comportamento
psicossexual que acompanha tais atipias na obtenção do prazer sexual.” (adaptado de CASTRO, 2006, 76)
101
Clister - Injeção, no reto, de água, de líquido medicamentoso ou de substância para contraste radiológico.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
89
Obediência automática
A obediência automática representa um exemplo de sugestionabilidade patológica. Caracteriza-se
pelo cumprimento passivo e imediato, sem qualquer reflexão ou elaboração, de quaisquer ordens ou
solicitações, mesmo que a ação realizada seja perigosa ou danosa para o próprio paciente. Se se
disser para o indivíduo pular do vigésimo andar, ele o fará ‘sem pestanejar’. O obediência
automática ocorre na síndrome catatônica.
Jogo patológico
É a compulsão por jogos de azar, fazer apostas, especular com dinheiro, apesar de prejuízos
financeiros e sociais percebidos pelo sujeito.
O exame da conação
102
Ecopraxia – consiste na repetição automática e despropositada das ações motoras executadas por outra pessoa, que
está diante do paciente. São imitados gestos, posturas, a fala (ecolalia) ou as expressões fisionômicas (ecomimia).
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
90
103
Oligolalia ou laconismo – refere-se a uma expressão verbal diminuída, mas não abolida. Consiste no oposto da
logorreia. É observada nas mesmas situações em que o mutismo pode ocorrer.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
91
A motilidade
Nem todos os movimentos corporais se encontram no âmbito da psicologia e da psicopatologia, mas
somente as ações psicomotoras. Aqueles movimentos corporais involuntários e independentes do
psiquismo interessam apenas à neurologia.
As ações psicomotoras possuem um conteúdo psicológico, são uma expressão do psiquismo. São
voluntárias, isto é, conscientes quanto à motivação e finalidade. Representam a quarta etapa do
processo volitivo: a execução.
A motilidade consiste na via final de todo evento psíquico e é a única forma de acesso que temos ao
psiquismo de uma outra pessoa.
Na psicomotricidade está incluída a fala, mas esta faz jus a um capítulo à parte. Os movimentos
expressivos da mímica – embora estejam diretamente relacionados ao psiquismo, particularmente à
afetividade – não são estudados aqui, por não serem, segundo Jaspers, voluntários nem intencionais.
104
Este tópico foi elaborado a partir de recortes e adaptações dos seguintes autores: CHENIAUX, 2013, p.131-38;
DALGALARRONDO, 2008, p. 184-92; PAIM, 1993, p. 237-48.
105
Paresia - Diminuição da força em um ou mais grupos musculares. É um grau menor de paralisia.
106
Neoplasia - Termo que denomina um conjunto de doenças caracterizadas pelo crescimento anormal e em certas
situações pela invasão de órgãos à distância (ver metástases). As neoplasias mais frequentes são as de mama, cólon,
pele e pulmões.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
92
paciente, por exemplo, que ele não deve fazer o movimento como se seus dedos fossem a escova de
dentes, e sim como se ele estivesse segurando uma escova.
Para avaliar a presença de apraxia ideativa, podem ser dadas as seguintes ordens, que se referem a
tarefas sequenciais: ‘Eu vou lhe dar um pedaço de papel. Quando eu fizer isso, pegue o papel com a
sua mão direita, dobre-o ao meio, com ambas as mãos, e coloque-o no chão’.
107
Sono REM (Rapid Eye Moviment). É a fase do sono em que sonhamos.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
93
Estereotipias motoras
São repetições automáticas e uniformes de determinado ato motor complexo, indicando geralmente
marcante perda do controle voluntário sobre a esfera motora. O paciente repete o mesmo gesto com
as mãos (gestos esses desprovidos de finalidade e sentido, inclusive para o próprio doente) dezenas
ou centenas de vezes em um mesmo dia. As estereotipias podem ser movimentos (desde simples
movimentos de dedos até marchas), de posição (estereotipia acinética ou catalepsia – a manutenção
de uma postura corporal, geralmente extravagante, durante longo tempo), de lugar (a busca
reiterada, sem razão plausível, de um mesmo local) ou de palavras e frases (chamada de
verbigeração). Observam-se as estereotipias motoras na esquizofrenia, sobretudo nas formas
crônicas e catatônicas, assim como na deficiência mental.
Ecopraxia
Consiste na repetição automática e despropositada das ações motoras executadas por outra pessoa,
que está diante do paciente. São imitados gestos, a postura, a fala (ecolalia) ou a expressão
fisionômica (ecomimia).
A ecopraxia está relacionada à sugestionabilidade patológica. Pode ser observada principalmente na
síndrome catatônica e, ainda, no retardo mental, no delirium e em processos demenciais.
Maneirismo
São movimentos expressivos – isto é, movimentos que servem a um propósito de comunicação, tais
como gestos, mímicas, vocalizações – que se tornam exagerados quanto à sua amplitude, tornam-se
afetados, rebuscados, estilizados ou desarmônicos, perdem sua graça natural e parecerem
extravagantes ao observador.
Observavam-se maneirismos na esquizofrenia catatônica ou hebefrênica, no retardo mental, na
histeria, em doenças cerebrais orgânicas e no homossexualismo.
O comportamento de um paciente que, toda vez em que vê seu médico, ajoelha-se e beija as mãos
deste pode ser considerado amaneirado. Um outro exemplo de maneirismo é o de um aperto de mão
que dura mais de um minuto, com movimentos excessivamente vigoroso. O paciente pega a colher
de modo muito próprio e realiza gestos bizarros para levar a comida à boca. Ao falar com o
enfermeiro, gesticula, faz caretas, encolhe os ombros de modo peculiar, faz rodopios com as mãos e
movimenta a cabeça de forma afetada.
Tiques
Os tiques são movimentos de defesa ou movimentos de expressão que acabaram
por degenerar em atos automáticos. São semiconscientes e só em determinado grau
dependem da vontade. São atos coordenados, repetitivos, resultantes de contrações
súbitas, breves e intermitentes, envolvendo geralmente um grupo de músculos que
atua em suas relações sinérgicas normais. Acentuam-se muito com a ansiedade. Os
tiques geralmente são reflexos condicionados, os quais surgiram associados a
determinados estímulos emocionais ou físicos, mantendo-se de forma estereotipada, como um
movimento involuntário. Podem ocorrer no indivíduo sem qualquer outra alteração mental e entre
crianças ansiosas, submetidas a estresse. Tiques múltiplos, motores e/ou vocais, podem indicar a
presença do Transtorno de Tourette. Os tiques ocorrem com mais frequência em crianças que
adultos.
Interceptação cinética
Consiste numa interrupção brusca e incompreensível de uma ação motora já iniciada, que para no
meio. O paciente muitas vezes atribui a impossibilidade de completar o movimento a uma
influência externa.
A interceptação cinética é algo equivalente ao roubo do pensamento (alteração da consciência do
eu), podendo também ocorrer na esquizofrenia catatônica.
Perseveração motora
Representa uma repetição sem sentido de uma ação motora de início executada adequadamente. Por
exemplo: solicita-se ao paciente que coloque a língua para fora, o que ele faz, e, em seguida, que ele
a coloque para dentro, o que ele também faz; todavia, o paciente agora passar a realizar
repetidamente os mesmos movimentos com a língua sem que haja uma nova solicitação por parte
do examinador.
Conversão
Na conversão há o surgimento abrupto de sintomas físicos (paralisias, anestesias, parestesias108,
cegueira, etc), de origem psicogênica. A conversão motora (paralisias, contraturas conversivas,
ataxias109 psicogênicas, etc.) ocorre geralmente em situação estressante, de ameaça ou conflito
intrapsíquico ou interpessoal significativos para o indivíduo. Por exemplo, após discussão violenta
com o marido, a esposa passa a apresentar-se paraplégica, não conseguindo mais andar, ou o
marido, após ser descoberta a sua infidelidade conjugal, passa abruptamente a apresentar
hemiplegia110 psicogênica.
Alterações da marcha
A marcha do paciente histérico é descrita como irregular, mutável, bizarra, podendo ter elementos
de ataxia, espasticidade111 e outras alterações, mas raramente revela um padrão preciso e estável de
108
Parestesia - Sensação de formigamento ou de ardência na pele, não-causadas por estímulo exterior ao corpo.
109
Ataxia - Perda da faculdade de coordenar os movimentos voluntários.
110
Hemiplegia - Paralisia da metade do corpo. Compromete a metade da face, braço e pernas do mesmo lado.
Relaciona-se a infartos, hemorragias ou tumores do sistema nervoso central.
111
Espasticidade - é a rigidez muscular que dificulta ou impossibilita o movimento, em especial dos braços e das
pernas.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
95
Hiperventilação psicogênica
Nesse tipo a respiração se acelera, fica quase imperceptível e é marcada por suspiros não
obstrutivos. Ocorre associada à ansiedade ou à situação estressante. Observa-se esse problema em
portadores de transtornos de pânico, em pacientes histéricos e, de modo geral, em indivíduos muito
ansiosos. [...]
ALTERAÇÕES DA LINGUAGEM112
Linguagem e pensamento estão intimamente relacionados, não podendo ser facilmente separados,
mas são dois fenômenos distintos. Podem ocorrer perturbações de pensamento não associadas a
perturbações da fala, e vice-versa. Podem existir pensamentos sem linguagem, como nos devaneios;
assim como palavras não associadas a pensamentos, como frases sem sentido usadas puramente
para a interação social – por exemplo, ‘olá!’, ‘tudo bem?’
O estudo da linguagem tem como objeto as palavras, enquanto o estudo do pensamento se refere às
ideias. A linguagem molda o pensamento e é fundamental para a sua elaboração e expressão. Só
com a aquisição da linguagem, e a consequente utilização de conceitos, é que se desenvolve na
criança o pensamento abstrato.
Além do componente cognitivo, a linguagem possui ainda um componente afetivo, que a prosódia.
Esta é constituída pela musicalidade, entonação e inflexões da fala, além da gesticulação.
Não faz parte da psicopatologia o estudo dos distúrbios restritos ao aparelho fonador, isto é, as
perturbações no processo mecânico da fala. Estas não interferem na compreensão da linguagem e,
principalmente, podem ocorrer na ausência de um transtorno mental. Assim, não estudaremos as
112
Este tópico foi elaborado a partir de recortes e adaptações dos seguintes autores: CHENIAUX, 2013, p.72-81;
DALGALARRONDO, 2008, p. 232-44; PAIM, 1993, p. 259-74.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
97
O exame da linguagem
A expressão oral e a compreensão auditivo-verbal são avaliadas de forma informal durante toda a
entrevista. Todavia, alguns testes podem ser necessários, [...].
- A compreensão pode ser avaliada através de ordens transmitidas oralmente ao paciente, como
‘Toque sua orelha direita com sua mão esquerda.’; perguntas simples, como ‘Os bairros são maiores
do que as cidades?’; ou ordens por escrito, como ‘Feche os olhos’.
- Capacidade de nomeação: mostra-se ao paciente uma caneta e um relógio, por exemplo, e pede-
se que diga como se chamam esses objetos. Ou então pede-se que ele, em um minuto, cite todos os
nomes de animais que puder.
- Capacidade de repetição: pede-se ao paciente que repita frases como ‘Nem aqui, nem ali, nem
lá.’, ou “Sem quês, nem mas, nem porquês.’
- Expressão: solicita-se ao paciente que escreva uma frase (com sujeito, verbo e objeto).
Afasias e disfasias
Os termos afasia e disfasias são, com frequência,
usados de forma intercambiáveis, todavia, mais
precisamente, o primeiro se refere a uma perda, e o
segundo, a um prejuízo ou dificuldade quanto à
linguagem.
As afasias são distúrbios adquiridos da capacidade
linguística – na compreensão ou expressão -, sem que
haja um déficit auditivo ou incapacidade motora do
órgão fonador. Estão relacionadas a lesões corticais –
causadas principalmente por distúrbios vasculares,
tumores e processos degenerativos, como a doença de
Alzheimer.
As afasias podem ser classificadas como: motora
(expressiva, ou de Broca), sensorial (receptiva, ou de
Wernicke), de condução, global, transcortical e anômica (semântica, amnéstica).
Afasia motora
Constitui uma apraxia verbal. Os pacientes conseguem utilizar os músculos fonadores para outros
fins que não a fala.
Trata-se de uma forma de afasia não fluente. O discurso, emitido com grande dificuldade,
caracteriza-se por frases curtas ou simplesmente fragmentos de palavras, e pela perda da estrutura
gramatical (agramatismo: ausência de artigos, preposições, conjunções, advérbios de lugar e
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
98
verbos auxiliares). Além disso, os pacientes cometem erros parafásicos 113 literais, e há perda da
prosódia. A compreensão da linguagem, assim com a capacidade de nomeação, está preservada,
mas a capacidade de repetição (do que o examinador fala) está comprometida.
A afasia motora está relacionada a lesões na região posteroinferior do lobo frontal esquerdo (área de
Broca).
Afasia sensorial
Corresponde a uma agnosia verbal. Há perda da capacidade de compreender a linguagem, e a
audição, por definição, não está prejudicada. É uma afasia fluente, mas o paciente tem dificuldades
em compreender a própria fala. As palavras são pronunciadas de forma defeituosa – há parafasias
literais e semânticas – e a sintaxe pode estar bastante alterada (paragramatismo). As capacidades
de repetição e de nomeação também estão comprometidas.
Na afasia sensorial, há lesão na região posterosuperior do lobo temporal esquerdo (área de
Wernicke).
Afasia da condução
Nessa forma de afasia há fluência, a compreensão é normal, mas a capacidade de repetição e a de
nomeação estão comprometidas. Esse tipo de afasia está relacionado a lesões no fascículo arqueado,
que conecta a área de Wernick com a de Broca.
Afasia global
Esta afasia está relacionada a lesões das áreas de Broca e de Wernick – a expressão, a compreensão
e a repetição estão comprometidas.
Afasia transcortical
A principal característica dessa afasia é a preservação da capacidade de repetição. Trata-se de uma
afasia não fluente, podendo estar a capacidade de compreensão comprometida ou não.
Afasia anômica
Nesse tipo de afasia há dificuldade de nomear objetos. A expressão, a compreensão e a repetição
são normais.
Agrafia
Caracteriza-se pela incapacidade isolada para escrever. Pode também estar associada às afasias.
Alexia
Nesse tipo, perde-se a capacidade para a leitura. Pode ocorrer isoladamente ou associada às afasias
e às agrafias.
Aprosódia (hipoprosódia)
Na aprosódia ou na hipoprosódia há, respectivamente, perda ou diminuição da modulação afetiva da
fala, que se torna monocórdica, monótona. Pode haver também perda (ou diminuição) da
113
Vide parafasias – pág. 101 desta apostila.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
99
capacidade de compreender a prosódia da fala das outras pessoas. Esse distúrbio relaciona-se a
lesões no hemisfério direito.
Hiperprosódia
Caracteriza-se por uma acentuação da inflexão verbal; uma fala enfática, loquaz. Ocorre na mania.
Mutismo
Significa ausência da fala. Pode expressar negativismo (silencia deliberado) ou inibição psíquica
(no estupor esquizofrênico, depressivo, histérico ou do delirium).
Hiperfonia
Representa uma elevação do volume da voz, isto é, falar excessivamente alto.
Hipofonia
Representa uma redução do volume da voz, isto é, falar excessivamente baixo, o que às vezes torna
impossível entender o que se está dizendo.
Latência da resposta
Refere-se ao tempo que o paciente demora para responder às perguntas do examinador, podendo
estar aumentada ou diminuída. O aumento pode expressar uma inibição psíquica (como na
depressão), negativismo ou suspicácia (suspeita). A diminuição pode estar relacionada a uma
síndrome maníaca ou a ansiedade.
Ecolalia
Consiste na repetição, como um eco, da últimas ou últimas palavras faladas pelo entrevistador (ou
outra pessoa do ambiente), dirigidas ou não ao paciente. Corresponde, na linguagem, ao que são a
ecomimia e a ecopraxia na psicomotricidade. Ocorre na síndrome catatônica, no autismo114 e na
demência. Por exemplo, o examinador pergunta ‘qual é o seu nome?’, e o paciente responde ‘qual é
o seu nome?’
114
Vide página 202.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
100
Palilalia
Consiste na repetição involuntária da última ou últimas palavras que o próprio paciente falou.
Ocorre na demência. Por exemplo, o examinador pergunta ‘qual o seu nome?’, e o paciente
responde ‘eu me chamo João...João’.
Logoclonia
Este tipo é semelhante à palilalia, só que a repetição é apenas das últimas silabas. É encontrada
tipicamente na demência. Por exemplo, o examinador pergunta ‘qual é o seu nome?’, e o paciente
responde ‘eu me chamo João...ão’.
Mussitação
Nesse tipo o paciente fala com uma voz sussurrada, em volume muito baixo e tom monótono, quase
sem mover os lábios; fala para si próprio, e de forma incompreensível. Esse distúrbio ocorre na
esquizofrenia.
Neologismos
Consiste em palavras novas, criadas pelos pacientes, ou palavras já existentes às quais é atribuído
um novo significado. Podem ser resultado de uma fusão de conceitos, ou consistir numa tentativa de
expressar vivências extraordinárias que o vocabulário comum não conseguiria expressar. São
encontrados principalmente na esquizofrenia. [...]
Paim (1998) refere-se a um paciente cujo discurso era repleto de neologismos:
‘Não é solteiro nem casado, é ‘sindorá’; seu pai não está vivo, é ‘simprizatos’; e sua mãe chama-se
Maria do ‘Silenciale’. [...]
Parafasias
Referem-se à deformação ou troca de palavras, podendo ser literais ou verbais. A parafasia literal
(ou fonêmica) caracteriza-se pela substituição de uma palavra por outra de som semelhante, como
faca por vaca, cadeira por cameila. Ocorre nas afasias motora e sensorial. A parafasia verbal (ou
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
101
semântica), por sua vez, é caracterizada pela substituição de uma palavra por outra semanticamente
relacionada, como faca por garfo. Ocorre na afasia sensorial.
Solilóquio
Refere-se ao comportamento de falar sozinho. É uma manifestação indicativa de alucinação
auditiva, mas pode ocorrer também em pessoas normais.
Coprolalia
Neste tipo o discurso é caracterizado pela presença de palavras obscenas, vulgares ou relativas a
excrementos. Quando se constitui num tique verbal, é uma manifestação típica da síndrome de
Tourette.
Glossolalia
O indivíduo expressa-se como se falando em outra língua. Ele produz sons ininteligíveis, mantendo
os aspectos prosódicos da fala normal.
Maneirismos
Nesse tipo a fala torna-se pouco natural, afetada, seja quanto à escolha das palavras (rebuscamento,
uso de palavras difíceis, formalismo exagerado, assim como o uso excessivo de diminutivos, gírias
ou jargões), à pronúncia, ao sotaque ou à inflexão verbal (disprosódia ou paraprosódia115).
Quando um indivíduo refere-se a si mesmo na terceira pessoa, isso representa um maneirismo. Com
frequência o ex-jogador de futebol Pelé conta episódios de sua carreira sem usar o pronome eu,
preferindo usar a expressão o Pelé. [...]
Pedolalia
O paciente fala com uma voz infantilizada.
Pararrespostas
São respostas totalmente disparatadas em relação às perguntas. Por exemplo: ‘Qual o seu nome?’ –
Resposta: ‘Acho que vai chover’. São encontradas na esquizofrenia e na demência.
Respostas aproximadas
[...] O paciente, embora compreenda perfeitamente a pergunta e conheça a resposta correta,
deliberadamente dá uma resposta errada, mas que está relacionada à pergunta. Por exemplo:
‘Quantas patas tem um cachorro?’ – Resposta: ‘Cinco’; ou então: ‘Quantos são 3 X 3’? – Resposta:
‘Dez’.
Respostas aproximadas ocorrem num quadro de pseudodemência (dissociativa) conhecido como
síndrome de Ganser [...].
115
Disprosódia ou paraprosódia - Distúrbio da fala em que há maior demora na silabação das palavras, e anomalia em
sua entonação, ritmo e altura.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
102
ALTERAÇÕES DA MEMÓRIA116
O processo de memorização possui três etapas principais: fixação (ou engramação), conservação
(ou retenção) e evocação.
Do ponto de vista psicológico, a engramação depende de:
- Nível de consciência e estado geral do organismo (o indivíduo deve estar desperto, não muito
cansado, bem-nutrido, calmo, etc);
- Atenção global e capacidade de manutenção de atenção concentrada sobre o conteúdo a ser fixado
(capacidade do indivíduo concentrar-se);
- Sensopercepção preservada;
- Interesse e colorido emocional relacionado ao conteúdo mnêmico a ser fixado, assim como do
empenho do indivíduo em aprender (vontade e afetividade);
- Conhecimento anterior (elementos já conhecidos ajudam a adquirir elementos novos);
- Capacidade de compreensão do conteúdo fixado;
- Organização temporal das repetições (distribuição harmônica e ritmada no tempo auxilia na
fixação de novos elementos);
- Canais sensoperceptivos envolvidos na percepção, já que, quanto maior o número de canais
sensoriais, mais eficaz a fixação (p.ex., o método audiovisual de ensino de línguas).
A evocação é a capacidade de recuperar e atualizar os dados fixados. Esquecimento, por sua vez, é
a denominação que se dá à impossibilidade de evocar e recordar. O reconhecimento é a capacidade
de identificar o conteúdo mnêmico como lembrança e diferenciá-la da imaginação e de
representações atuais.
Em relação ao processo temporal de aquisição e evocação de elementos mnêmicos, a
neuropsicologia moderna divide a memória em três fases ou tipos [...]:
1. Memória imediata ou de curtíssimo prazo (de poucos segundos até 1 a 3 minutos)
Este tipo de memória confunde-se com a atenção e com a memória de trabalho117, pois é a
capacidade de reter o material (palavras, números, imagens, etc) imediatamente após ser percebida.
116
Este item foi redigido a partir de recortes de CHENIAUX, 2013, p.54-71; DALGALARRONDO, 2008, p. 137-54;
PAIM, 1993, p. 141-60.
117
Memória de trabalho – [...] é, na verdade, a combinação de habilidades de atenção (capacidade de prestar atenção e
de concentração) e da memória imediata. São exemplos de memória de trabalho ouvir um número telefônico, retê-lo na
mente, para, em seguida, discar, assim como, quando ao dirigir em uma cidade desconhecida, perguntar sobre um
endereço, receber a informação e a sugestão do trajeto e, mentalmente, executar o itinerário de forma progressiva. [...]
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
103
Hipermnésias
As representações (elementos mnêmicos) afluem rapidamente, em tropel, ganhando em número,
perdendo, porém, em clareza e precisão. [...] A hipermnésia traduz mais a aceleração geral do ritmo
psíquico que um alteração propriamente da memória.
118
A melancolia representa uma das formas da psicose. “A depressão melancólica é um diagnóstico psiquiátrico de
história de vida, geralmente com episódios recorrentes. Melancolia é uma síndrome com longa duração e características
específicas de psicopatologia, insuficientemente diferenciada de depressão maior por um especificador no DSM-5 e
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
105
Déjà vu e Jamais vu
No déjà vu (já visto), o indivíduo tem uma sensação de familiaridade diante de uma situação (ou
objeto) inteiramente nova, como se ele já a houvesse vivenciado anteriormente. É muito comum,
quando vamos a um lugar pela primeira vez, a sensação de que estivemos lá. No jamais vu (nunca
visto) ocorre o oposto: há uma ausência da sensação de familiaridade diante de uma situação já
vivenciada um ou mais vezes no passado. Um exemplo seria o de não ser capaz de reconhecer a
mãe, o pai ou um amigo íntimo. [...] O dèjá vu e o jamais vu podem ocorrer na epilepsia do lobo
temporal, na esquizofrenia, em síndromes de ansiedade em pessoas normais.
Criptomnésia
Termo criado por Freud. Consiste numa falha relativa ao reconhecimento como pretérito.
Recordações voltam à mente do indivíduo, mas não são reconhecidas como tais, parecendo a ele
ideias novas, criações originais suas. É o mecanismo dos casos de plágio involuntário. O próprio
Freud reconheceu que havia, inconscientemente, tomado para si a autoria de uma hipótese
psicanalítica, relativa à bissexualidade humana, que seu então amigo Fliess lhe comunicara algum
tempo antes.
Ecmnésia
[...] representa também um distúrbio quanto ao reconhecimento como pretérito. Trata-se de uma
presentificação do passado: a recordação é tão intensa, quase alucinatória, que o paciente se
comporta como se o evento pretérito estivesse ocorrendo naquele momento, como se ele estivesse
vivendo em uma época anterior de sua vida.
Ocorre em estados crepusculares histéricos e epilépticos, em estados de obnubilação oniróide (como
no delirium ocupacional), na intoxicação por alucinógenos e na demência.
Um exemplo de ecmnésia, de natureza dissociativa, foi o de uma senhora de mais de 60 anos que,
após a morte súbita do marido, passou a agir como criança, brincava o dia inteiro e ficava
chamando pelos pais, falecidos havia muito tempo.
parcialmente descrito nos critérios da Classificação Internacional de Doenças-10ª Edição. Dentro da classificação atual,
é frequentemente vista em pacientes gravemente doentes com depressão e transtorno bipolar. No entanto, a melancolia
possui uma homogeneidade psicopatológica e biológica distinta na experiência clínica e nos marcadores de testes
laboratoriais, e é diferencialmente sensível às intervenções terapêuticas específicas.” (adaptado de JURUENA, et al.,
Rev. Bras. Psiq., vol. 33, mai/2011.)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
106
Ansiedade normal
A ansiedade é uma reação em geral normal do ser humano. É um sentimento que acompanha
mudanças na vida da pessoa; separação da criança dos pais ao ir para escola, rompimento de
relacionamentos, espectativa para fazer provas ou testes, e assim por diante.
A ansiedade é um sintoma primariamente psíquico, ou seja, a pessoa se sente ansiosa e conta isso
aos outros, por exemplo, mas há uma série de sinais que acompanham a sensação mental que
incluem: tontura, diarréia, pressão alta, palpitação, tremor, sudorese excessiva, etc. As reações
variam de indivíduo a outro.
Assim ela se divide em dois aspectos:
1) sua percepção de alterações fisiológicas (como sudorese e palpitação)
2) a consciência de estar nervoso ou amedrontado.
A ansiedade tem como função adaptativa básica o alerta a perigos internos (dor) ou externos
(ameaça de lesão corporal). Desta maneira, pode vir acompanhada de medo (medo de morrer frente
à um assalto), e visa a preparar o indivíduo para reações imediatas ou evitar tais ameaças, ou pelo
menos atenuar os seus danos.
“Estresse” geralmente depende do estímulo e do indivíduo que recebe o estímulo. Assim, um
desbalanço entre o interno (capacidade de a pessoa manter-se calma, estruturação psicológica, e
assim por diante) e o externo (sobrecarga emocional e/ou física) gera o estresse.
Ansiedade patológica
A ansiedade passa a ser patológica na medida em que ela aparece sem que haja um estímulo, ou
seja, na medida em que a pessoa fique ansiosa sem ter um motivo aparente. Palpitações, sudorese,
“aperto no peito” surgem com uma frequência razoável sem que haja uma causa imediata que possa
ser identificada por ele.
Outro critério que geralmente é usado é quando a reação ansiosa é desproporcional ao estímulo.
Reações muito drásticas a estímulos que normalmente teriam de desencadear respostas menores por
parte do indivíduo.
As causas são as mais variadas; as teorias psicológicas falam e repressão de desejos (Freud), de
condicionamento de respostas ansiosas (teorias comportamentais) e de vazios existenciais (teorias
existenciais).
As teorias biológicas falam em hiper-excitação do sistema nervoso autônomo (aquele que é
responsável por respostas como taquicardia, dor de cabeça e aceleração da respiração, por exemplo)
e desequilíbrio de hormônios como a serotonina e a noradrenalina, além de fatores genéticos que
contribuem para isso.
(http://www.psiq.med.br/index.php?opcao=ver_tema&id_tema=19&id_cat=3)
Transtornos de Ansiedade
Agorafobia
CID-10 DSM-5
Grupo relativamente bem definido de fobias A característica essencial da agorafobia é o
relativas ao medo de deixar seu domicílio, medo ou ansiedade acentuado ou intenso
medo de lojas, de multidões e de locais desencadeado pela exposição real ou prevista a
públicos, ou medo de viajar sozinho em trem, diversas situações [...]. O diagnóstico requer que
ônibus ou avião. A presença de um transtorno os sintomas ocorram em pelo menos duas das
de pânico é frequente no curso dos episódios cinco situações seguintes:
atuais ou anteriores de agorafobia. Entre as 1) uso de transporte público, como automóveis,
características associadas, acham-se ônibus, trens, navios ou aviões;
frequentemente sintomas depressivos ou 2) permanecer em espaços abertos, como áreas
obsessivos, assim como fobias sociais. de estacionamento, mercados ou pontes;
3) permanecer em locais fechados, como lojas,
As condutas de evitação comumente são teatros ou cinemas;
proeminentes na sintomatologia e certos 4) permanecer em uma fila ou ficar em meio a
agorafóbicos manifestam pouca ansiedade uma multidão; ou
dado que chegam a evitar as situações 5) sair de casa sozinho.
geradoras de fobia. Os exemplos de cada situação não são
exaustivos; outras situações podem ser temidas.
Quando experimentam medo e ansiedade
acionada por essas situações, os indivíduos
geralmente experimentam pensamentos de que
algo terrível possa acontecer [...]. Acreditam
com frequência que escapar dessas situações
poderia ser difícil (p. ex., “não consigo sair
daqui”) ou que o auxílio pode não estar
disponível (p. ex., “não há ninguém para me
ajudar”) quando ocorrem sintomas do tipo
pânico ou outros sintomas incapacitantes ou
constrangedores. “Sintomas do tipo pânico” se
referem a algum dos 13 sintomas inclusos nos
critérios para ataque de pânico, como tontura,
desmaio e medo de morrer. “Outros sintomas
incapacitantes ou constrangedores” incluem
sintomas como vomitar e sintomas inflamatórios
intestinais, bem como, em adultos mais velhos,
medo de cair ou, em crianças, uma sensação de
desorientação e de estar perdido.
A quantidade de medo experimentada pode
variar com a proximidade da situação temida e
pode ocorrer em antecipação ou na presença real
da situação agorafóbica. Além disso, o medo ou
ansiedade pode assumir a forma de um ataque
de pânico com sintomas completos ou sintomas
limitados (i.e., um ataque de pânico esperado).
O medo ou ansiedade é evocado quase todas as
vezes em que o indivíduo entra em contato com
a situação temida [...]. Assim, alguém que fica
ansioso apenas ocasionalmente em uma situação
119
Desrealização: Experiências de irrealidade ou distanciamento em relação ao ambiente ao redor (p. ex., indivíduos ou
objetos são vivenciados como irreais, oníricos, nebulosos, inertes ou visualmente distorcidos). DSM-5
Fobia específica
CID-10 DSM-5
Fobias limitadas a situações altamente Uma característica essencial desse transtorno é
específicas tais como a proximidade de que o medo ou ansiedade está circunscrito à
determinados animais [cinofobia], locais presença de uma situação ou objeto particular
elevados [acrofobia], trovões [brontofobia], [...], que pode ser denominado estímulo fóbico.
escuridão [nictofobia], viagens de avião As categorias das situações ou objetos temidos
[Ptesiofobia], espaços fechados [claustrofobia], são apresentadas como especificadores. Muitos
utilização de banheiros públicos indivíduos temem objetos ou situações de mais
[molismofobia], ingestão de determinados de uma categoria, ou estímulo fóbico. Para o
alimentos [sitiofobia], cuidados odontológicos, diagnóstico de fobia específica, a resposta deve
visão de sangue [hemo/hemafobia ou ser diferente dos medos normais transitórios que
hematofobia] ou ferimentos. Ainda que a comumente ocorrem na população. Para
situação desencadeante seja inofensiva, o satisfazer os critérios para um diagnóstico, o
contato com ela pode desencadear um estado medo ou ansiedade deve ser intenso ou grave
de pânico como na agorafobia ou fobia social. (i.e., “acentuado”) [...]. O grau do medo
experimentado pode variar com a proximidade
do objeto ou situação temida e pode ocorrer
com a antecipação da presença ou na presença
real do objeto ou situação. Além disso, o medo
ou ansiedade pode assumir a forma de um
ataque de pânico com sintomas completos ou
limitados (i.e., ataque de pânico esperado).
Outra característica das fobias específicas é que
o medo ou ansiedade é evocado quase todas as
vezes que o indivíduo entra em contato com o
estímulo fóbico [...]. Assim, um indivíduo que
fica ansioso apenas ocasionalmente ao ser
confrontado com a situação ou objeto (p. ex.,
fica ansioso apenas em um de cada cinco voos
que faz) não seria diagnosticado com fobia
específica. Entretanto, o grau de medo ou
ansiedade expresso pode variar (desde a
ansiedade antecipatória até um ataque de pânico
completo) nas diferentes ocasiões de encontro
com o objeto ou situação fóbica devido a vários
fatores contextuais, como a presença de outra
pessoa, a duração da exposição, e a outros
elementos ameaçadores, como turbulência em
um voo para indivíduos que têm medo de voar.
O medo e a ansiedade são com frequência
expressos de formas diferentes entre crianças e
adultos. Além disso, o medo ou ansiedade
ocorre tão logo o objeto ou situação fóbica é
encontrado (i.e., imediatamente, em vez de ser
retardado).
O indivíduo evita ativamente a situação, ou, se
não consegue ou decide não evitá-la, a situação
ou objeto evoca temor ou ansiedade intensos
[...]. Esquiva ativa significa que o indivíduo
120
Vasovagal - Relativo aos vasos e ao nervo vago; síndrome caracterizada por mal-estar epigástrico e cardíaco,
sensação de constrição respiratória, até falsa angina de peito, palidez, extremidades frias, cefaléia, durante minutos.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
115
122
O choque anafilático, ou anafilaxia, é uma reação alérgica, de hipersensibilidade imediata e severa, que afeta o
corpo todo. A sua manifestação mais grave é quando provoca inchaço e obstrução de vias aéreas superiores e/ou
hipotensão, que pode ser fatal.
A falta de ar pode ser fatal, a menos que o indivíduo receba o tratamento de emergência prontamente.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
124
123
As chaves e os destaques são do professor da matéria.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
131
124
As chaves e os destaques são do professor da matéria.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
136
125
Síncope - Perda transitória da consciência com recuperação posterior completa. É produzida por irrigação cerebral
insuficiente podendo ter causas variadas. Quando se associa a uma arritmia cardíaca grave, pode significar um
importante risco de vida para o indivíduo. (Dicionário de Termos Médicos)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
138
126
La belle indifférence – Um exemplo é a pessoa que acaba de ficar cega (cegueira histérica), paralítica ou muda, e
reage a essa grave incapacidade com aparente naturalidade”. Tais quadros são indicativos de conversão ou histeria.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
139
auditivas ou outras e ideias pseudodelirantes, nos quais as crenças são mantidas com
ocorrendo em geral sem fator desencadeante convicção delirante. Esses indivíduos podem ser
exterior. O início do transtorno é difícil de supersticiosos ou preocupados com fenômenos
determinar, e sua evolução corresponde em paranormais que fogem das normas de sua
geral àquela de um transtorno da subcultura [...]. Podem achar que têm poderes
personalidade. especiais para sentir os eventos antes que
ocorram ou para ler os pensamentos alheios.
Podem acreditar que exercem controle mágico
sobre os outros, o qual pode ser implementado
diretamente (p. ex., a crença de que o fato de o
cônjuge estar levando o cachorro para passear é
consequência direta de, uma hora antes, ter
pensado que isso devia ser feito) ou
indiretamente, por meio de obediência a rituais
mágicos (p. ex., passar três vezes por
determinado objeto para evitar uma
consequência danosa). Alterações perceptivas
podem estar presentes (p. ex., sentir que outra
pessoa está presente ou ouvir uma voz
(Salvador Dali – 1904-1989) murmurando seu nome) [...]. Seu discurso pode
incluir fraseados e construções incomuns ou
idiossincrásicas e costuma ser desconexo,
digressivo ou vago, embora sem apresentar um
real descarrilhamento ou incoerência [...].
Respostas podem ser excessivamente concretas
ou abstratas, e palavras e conceitos são, por
vezes, aplicados de maneiras pouco habituais (p.
ex., o indivíduo pode afirmar que não estava
“conversável” no trabalho).
Indivíduos com esse transtorno são
frequentemente desconfiados e podem
apresentar ideias paranoides (p. ex., crer que os
colegas de trabalho estão planejando minar sua
reputação com o chefe) [...]. Em geral, são
incapazes de lidar com os afetos e as minúcias
interpessoais que são necessários para
relacionamentos bem-sucedidos; assim, com
frequência parecem interagir com os outros de
forma inadequada, formal ou constrita [...].
Esses indivíduos são geralmente considerados
esquisitos ou excêntricos em virtude de
maneirismos incomuns, isto é, sua forma
desleixada de vestir-se que não “combina” bem
e sua falta de atenção às convenções sociais
habituais (p. ex., o indivíduo pode evitar contato
visual, usar roupas manchadas ou que não
servem bem e ser incapaz de participar das
provocações e brincadeiras que ocorrem entre
colegas de trabalho) [...].
Indivíduos com transtorno da personalidade
esquizotípica vivenciam os relacionamentos
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
151
127
As chaves foram acrescentadas pelo professor da matéria.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
169
Transtorno Bipolar
CID-10 DSM-5
Transtorno caracterizado por dois ou mais Tipo I (Episódio Maníaco)
episódios nos quais o humor e o nível de Para diagnosticar transtorno bipolar tipo I, é
atividade do sujeito estão profundamente necessário o preenchimento dos critérios a
perturbados, sendo que este distúrbio consiste seguir para um episódio maníaco. O episódio
em algumas ocasiões de uma elevação do maníaco pode ter sido antecedido ou seguido
humor e aumento da energia e da atividade por episódios hipomaníacos ou depressivos
(hipomania ou mania) e em outras, de um maiores.
rebaixamento do humor e de redução da
energia e da atividade (depressão). Episódio Maníaco
[...] A. Um período distinto de humor anormal e
Inclui: persistentemente elevado, expansivo ou irritável
doença maníaco-depressiva e aumento anormal e persistente da atividade
psicose maníaco-depressiva dirigida a objetivos ou da energia, com duração
reação maníaco-depressiva mínima de uma semana e presente na maior
Exclui: ciclotimia parte do dia, quase todos os dias (ou qualquer
duração, se a hospitalização se fizer necessária).
B. Durante o período de perturbação do humor e
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
175
Transtorno afetivo bipolar, episódio atual aumento da energia ou atividade, três (ou mais)
hipomaníaco dos seguintes sintomas (quatro se o humor é
Episódio atual correspondente à descrição de apenas irritável) estão presentes em grau
uma hipomania tendo ocorrido, no passado, ao significativo e representam uma mudança
menos um outro episódio afetivo notável do comportamento habitual:
(hipomaníaco, maníaco, depressivo ou misto). 1. Autoestima inflada ou grandiosidade.
2. Redução da necessidade de sono (p. ex.,
Transtorno afetivo bipolar, episódio atual sente-se descansado com apenas três horas de
maníaco sem sintomas psicóticos sono).
Episódio atual maníaco correspondente à 3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para
descrição de um episódio maníaco sem continuar falando.
sintomas psicóticos, tendo ocorrido, no 4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de
passado, ao menos um outro episódio afetivo que os pensamentos estão acelerados.
(hipomaníaco, maníaco, depressivo ou misto). 5. Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada
muito facilmente por estímulos externos
Transtorno afetivo bipolar, episódio atual insignificantes ou irrelevantes), conforme
maníaco com sintomas psicóticos relatado ou observado.
Episódio atual correspondente à descrição de 6. Aumento da atividade dirigida a objetivos
um episódio maníaco com sintomas psicóticos, (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja
tendo ocorrido, no passado, ao menos um outro sexualmente) ou agitação psicomotora (i.e.,
episódio afetivo (hipomaníaco, maníaco, atividade sem propósito não dirigida a
depressivo ou misto). objetivos).
7. Envolvimento excessivo em atividades com
Transtorno afetivo bipolar, episódio atual elevado potencial para consequências dolorosas
depressivo leve ou moderado (p. ex., envolvimento em surtos desenfreados de
Episódio atual correspondente à descrição de compras, indiscrições sexuais ou investimentos
um episódio depressivo leve ou moderado128, financeiros insensatos).
tendo ocorrido, no passado, ao menos um C. A perturbação do humor é suficientemente
episódio afetivo hipomaníaco, maníaco ou grave a ponto de causar prejuízo acentuado
misto bem comprovado. no funcionamento social ou profissional ou para
necessitar de hospitalização a fim de prevenir
Transtorno afetivo bipolar, episódio atual dano a si mesmo ou a outras pessoas, ou
depressivo grave sem sintomas psicóticos existem características psicóticas.
Episódio atual correspondente à descrição de D. O episódio não é atribuível aos efeitos
um episódio depressivo grave sem sintomas fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de
psicóticos129, tendo ocorrido, no passado, ao abuso, medicamento, outro tratamento) ou a
menos um episódio afetivo hipomaníaco, outra condição médica.
maníaco ou misto bem documentado. Nota: Um episódio maníaco completo que surge
durante tratamento antidepressivo (p. ex.,
Transtorno afetivo bipolar, episódio atual medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que
depressivo grave com sintomas psicóticos persiste em um nível de sinais e sintomas além
Episódio atual correspondente à descrição de do efeito fisiológico desse tratamento, é
128
Leve - Geralmente estão presentes ao menos dois ou três dos sintomas citados anteriormente. O paciente usualmente
sofre com a presença destes sintomas mas provavelmente será capaz de desempenhar a maior parte das atividades.
Moderado - Geralmente estão presentes quatro ou mais dos sintomas citados anteriormente e o paciente aparentemente
tem muita dificuldade para continuar a desempenhar as atividades de rotina. (CID 10).
129
Grave ou Severo - Episódio depressivo onde vários dos sintomas são marcantes e angustiantes, tipicamente a perda
da autoestima e ideias de desvalia ou culpa. As ideias e os atos suicidas são comuns e observa-se em geral uma série de
sintomas "somáticos". (CID 10)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
176
um episódio depressivo grave com sintomas evidência suficiente para um episódio maníaco
psicóticos130, tendo ocorrido, no passado, ao e, portanto, para um diagnóstico de transtorno
menos um episódio afetivo hipomaníaco, bipolar tipo I.
maníaco ou misto bem comprovado.
Episódio Hipomaníaco
Transtorno afetivo bipolar, episódio atual A. Um período distinto de humor anormal e
misto persistentemente elevado, expansivo ou irritável
Ocorrência, no passado, de ao menos um e aumento anormal e persistente da atividade ou
episódio afetivo maníaco, hipomaníaco ou energia, com duração de pelo menos quatro dias
misto bem documentado, e episódio atual consecutivos e presente na maior parte do dia,
caracterizado pela presença simultânea de quase todos os dias.
sintomas maníacos e depressivos ou por uma B. Durante o período de perturbação do humor e
alternância rápida de sintomas maníacos e aumento da energia e atividade, três (ou mais)
depressivos. dos seguintes sintomas (quatro se o humor é
Exclui: episódio afetivo misto isolado apenas irritável) persistem, representam uma
mudança notável em relação ao comportamento
Transtorno afetivo bipolar, atualmente em habitual e estão presentes em grau significativo:
remissão (Vide os itens de 1 a 7 do Episódio Maníaco)
Ocorrência, no passado, de ao menos um C. O episódio está associado a uma mudança
episódio afetivo maníaco, hipomaníaco ou clara no funcionamento que não é característica
misto muito bem comprovado, e de ao menos do indivíduo quando assintomático.
um outro episódio afetivo (hipomaníaco, D. A perturbação no humor e a mudança no
maníaco, depressivo ou misto) mas sem funcionamento são observáveis por outras
nenhuma perturbação significativa do humor, pessoas.
nem atualmente nem no curso dos últimos E. O episódio não é suficientemente grave a
meses. As remissões sob tratamento profilático ponto de causar prejuízo acentuado no
devem ser classificadas aqui. funcionamento social ou profissional ou para
necessitar de hospitalização. Existindo
características psicóticas, por definição, o
episódio é maníaco.
F. O episódio não é atribuível aos efeitos
fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de
abuso, medicamento ou outro tratamento).
Nota: Um episódio hipomaníaco completo que
surge durante tratamento antidepressivo (p. ex.,
medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que
persiste em um nível de sinais e sintomas além
do efeito fisiológico desse tratamento, é
evidência suficiente para um diagnóstico de
episódio hipomaníaco. Recomenda-se, porém,
cautela para que 1 ou 2 sintomas
(principalmente aumento da irritabilidade,
nervosismo ou agitação após uso de
antidepressivo) não sejam considerados
suficientes para o diagnóstico de episódio
hipomaníaco nem necessariamente indicativos
130
Episódio depressivo correspondente á descrição de um episódio depressivo grave mas acompanhado de alucinações,
ideias delirantes, de uma lentidão psicomotora ou de estupor de uma gravidade tal que todas as atividades sociais
normais tornam-se impossíveis; pode existir o risco de morrer por suicídio, de desidratação ou de desnutrição. As
alucinações e os delírios podem não corresponder ao caráter dominante do distúrbio afetivo.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
177
Transtornos Alimentares
Pica
CID-10 DSM-5
(Pica do lactente ou da criança) A característica essencial da pica é a ingestão de
Transtorno caracterizado pelo consumo uma ou mais substâncias não nutritivas, não
duradouro de substâncias não-nutritivas (por alimentares, de forma persistente durante um
exemplo, terra, lascas de pintura etc). Pode período mínimo de um mês (Critério A), grave o
constituir um comportamento psicopatológico suficiente para merecer atenção clínica. As
relativamente isolado ou fazer parte de um substâncias típicas ingeridas tendem a variar
transtorno psicuquiátrico mais global (tal como com a idade e a disponibilidade e podem incluir
o autismo). Um diagnóstico de pica deve ficar papel, sabão, tecido, cabelo, fios, terra, giz,
reservado às manifestações isoladas. Este talco, tinta, cola, metal, pedras, carvão vegetal
comportamento se observa sobretudo em ou mineral, cinzas, detergente ou gelo. O termo
crianças que apresentam retardo mental; na não alimentar está incluso porque o diagnóstico
presença de um retardo mental, este último de pica não se aplica à ingestão de produtos
deve constituir o diagnóstico principal. alimentares com conteúdo nutricional mínimo.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
181
Anorexia Nervosa
CID-10 DSM-5
Anorexia nervosa é um transtorno A anorexia nervosa tem três características
caracterizado por perda de peso intencional, essenciais: restrição persistente da ingesta
induzida e mantida pelo paciente. O transtorno calórica; medo intenso de ganhar peso ou de
ocorre comumente numa mulher adolescente engordar ou comportamento persistente que
ou jovem, mas pode igualmente ocorrer num interfere no ganho de peso; e perturbação na
homem adolescente ou jovem, como numa percepção do próprio peso ou da própria forma.
criança próxima à puberdade ou numa mulher O indivíduo mantém um peso corporal abaixo
de mais idade até na menopausa. daquele minimamente normal para idade,
A doença está associada a uma psicopatologia gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde
específica, compreendendo um medo de física (Critério A). O peso corporal dessas
engordar e de ter uma silhueta arredondada, pessoas com frequência satisfaz esse critério
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
182
Bulimia Nervosa
CID-10 DSM-5
A bulimia é uma síndrome caracterizada por Existem três aspectos essenciais na bulimia
acessos repetidos de hiperfagia e uma nervosa: episódios recorrentes de compulsão
preocupação excessiva com relação ao controle alimentar (Critério A), comportamentos
do peso corporal conduzindo a uma alternância compensatórios inapropriados recorrentes para
de hiperfagia e vômitos ou uso de purgativos. impedir o ganho de peso (Critério B) e
Este transtorno partilha diversas características autoavaliação indevidamente influenciada pela
psicológicas com a anorexia nervosa, dentre as forma e pelo peso corporais (Critério D). Para se
quais uma preocupação exagerada com a forma qualificar ao diagnóstico, a compulsão alimentar
e peso corporais. Os vômitos repetidos podem e os comportamentos compensatórios
provocar perturbações eletrolíticas e inapropriados devem ocorrer, em média, no
complicações somáticas. mínimo uma vez por semana por três meses
Nos antecedentes encontra-se freqüentemente, (Critério C).
mas nem sempre, um episódio de anorexia Um “episódio de compulsão alimentar” é
nervosa ocorrido de alguns meses a vários anos definido como a ingestão, em um período de
antes. tempo determinado, de uma quantidade de
alimento definitivamente maior do que a
Bulimia Nervosa Atípica maioria dos indivíduos comeria em um mesmo
Transtornos que apresentam algumas período de tempo em circunstâncias
características da bulimia nervosa mas cujo semelhantes (Critério A1). O contexto no qual a
quadro clínico global não justifica tal ingestão ocorre pode afetar a estimativa do
diagnóstico. Por exemplo, pode haver acessos clínico quanto à ingestão ser ou não excessiva.
repetidos de hiperfagia e de uso exagerado de Por exemplo, uma quantidade de alimento que
laxativos sem uma alteração significativa de seria considerada excessiva para uma refeição
peso ou então a preocupação típica e exagerada típica poderia ser considerada normal durante
com a forma e peso corporais pode estar uma refeição comemorativa ou nas festas de fim
ausente. de ano. Um “período de tempo determinado”
refere-se a um período limitado, normalmente
menos de duas horas. Um único episódio de
compulsão alimentar não precisa se restringir a
um contexto. Por exemplo, um indivíduo pode
iniciar um comportamento de compulsão
alimentar no restaurante e depois continuar a
comer ao voltar para casa. Lanches contínuos de
pequenas quantidades de alimento ao longo do
dia não seriam considerados compulsão
alimentar.
Uma ocorrência de consumo excessivo de
alimento deve ser acompanhada por uma
sensação de falta de controle (Critério A2) para
ser considerada um episódio de compulsão
alimentar. Um indicador de perda de controle é
a incapacidade de abster-se de comer ou de
parar de comer depois de começar. Alguns
indivíduos descrevem uma qualidade
dissociativa durante, ou em seguida a, episódios
de compulsão alimentar. O prejuízo no controle
associado à compulsão alimentar pode não ser
absoluto; por exemplo, um indivíduo pode
Transtornos Psicóticos
Esquizofrenia (Dados epidemiológicos mostram que cerca de 1% da população mundial sofre de
Esquizofrenia)
CID-10 DSM-5
Os transtornos esquizofrênicos se caracterizam Os sintomas característicos da esquizofrenia
em geral por distorções fundamentais e envolvem uma gama de disfunções cognitivas,
características do pensamento e da percepção, comportamentais e emocionais, mas nenhum
e por afetos inapropriados ou embotados. sintoma é patognomônico do transtorno. O
Usualmente mantém-se clara a consciência e a diagnóstico envolve o reconhecimento de um
capacidade intelectual, embora certos déficits conjunto de sinais e sintomas associados a um
cognitivos possam evoluir no curso do tempo. funcionamento profissional ou social
Os fenômenos psicopatológicos mais prejudicado. Indivíduos com o transtorno
importantes incluem o eco do pensamento apresentarão variações substanciais na maior
[ouvir o próprio pensamento após ter sido parte das características, uma vez que a
pensado (sonorização) de forma repetida], a esquizofrenia é uma síndrome clínica
imposição ou o roubo do pensamento, a heterogênea.
divulgação do pensamento [o paciente tem a Critérios Diagnósticos
nítida sensação de que as pessoas ouvem o que A. Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um
pensa no momento mesmo em que está presente por uma quantidade significativa de
pensando], a percepção delirante, ideias tempo durante um período de um mês (ou
delirantes de controle, de influência ou de menos, se tratados com sucesso). Pelo menos
passividade, vozes alucinatórias que comentam um deles deve ser (1), (2) ou (3):
ou discutem com o paciente na terceira pessoa, 1. Delírios.
transtornos do pensamento e sintomas 2. Alucinações.
negativos. 3.Discurso desorganizado.
A evolução dos transtornos esquizofrênicos 4.Comportamento grosseiramente
pode ser contínua, episódica com ocorrência de desorganizado ou catatônico.
um déficit progressivo ou estável, ou 5.Sintomas negativos (i.e., expressão emocional
comportar um ou vários episódios seguidos de diminuída ou avolia).
uma remissão completa ou incompleta. Não se B. Por período significativo de tempo desde o
deve fazer um diagnóstico de esquizofrenia aparecimento da perturbação, o nível de
quando o quadro clínico comporta sintomas funcionamento em uma ou mais áreas
depressivos ou maníacos no primeiro plano, importantes do funcionamento, como trabalho,
a menos que se possa estabelecer sem relações interpessoais ou autocuidado, está
equívoco que a ocorrência dos sintomas acentuadamente abaixo do nível alcançado antes
esquizofrênicos fosse anterior à dos do início (ou, quando o início se dá na infância
transtornos afetivos. Além disto, não se deve ou na adolescência, incapacidade de atingir o
fazer um diagnóstico de esquizofrenia nível esperado de funcionamento interpessoal,
quando existe uma doença cerebral acadêmico ou profissional).
manifesta, intoxicação por droga ou C. Sinais contínuos de perturbação persistem
abstinência de droga. [...] durante, pelo menos, seis meses. Esse período
de seis meses deve incluir no mínimo um mês
Esquizofrenia paranoide (ou, parafrênica) de sintomas (ou menos, se tratados com
A esquizofrenia paranoide se caracteriza sucesso) que precisam satisfazer ao Critério A
essencialmente pela presença de ideias (i.e., sintomas da fase ativa) e pode incluir
delirantes relativamente estáveis, períodos de sintomas prodrômicos ou residuais.
frequentemente de perseguição, em geral Durante esses períodos prodrômicos ou
acompanhadas de alucinações, particularmente residuais, os sinais da perturbação podem ser
auditivas e de perturbações das percepções. As manifestados apenas por sintomas negativos ou
perturbações do afeto, da vontade, da por dois ou mais sintomas listados no Critério A
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
192
linguagem e os sintomas catatônicos, estão presentes em uma forma atenuada (p. ex.,
ausentes, ou são relativamente discretos. crenças esquisitas, experiências perceptivas
incomuns).
Esquizofrenia hebefrênica D. Transtorno esquizoafetivo e transtorno
Forma de esquizofrenia caracterizada pela depressivo ou transtorno bipolar com
presença proeminente de uma perturbação dos características psicóticas são descartados porque
afetos; as ideias delirantes e as alucinações são 1) não ocorreram episódios depressivos maiores
fugazes e fragmentárias, o comportamento é ou maníacos concomitantemente com os
irresponsável e imprevisível; existem sintomas da fase ativa, ou 2) se episódios de
frequentemente maneirismos. O afeto é humor ocorreram durante os sintomas da fase
superficial e inapropriado. O pensamento é ativa, sua duração total foi breve em relação aos
desorganizado e o discurso incoerente. Há uma períodos ativo e residual da doença.
tendência ao isolamento social. Geralmente o E. A perturbação não pode ser atribuída aos
prognóstico é desfavorável devido ao rápido efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex.,
desenvolvimento de sintomas "negativos", droga de abuso, medicamento) ou a outra
particularmente um embotamento do afeto e condição médica.
perda da volição. A hebefrenia deveria F. Se há história de transtorno do espectro
normalmente ser somente diagnosticada em autista ou de um transtorno da comunicação
adolescentes e em adultos jovens. iniciado na infância, o diagnóstico adicional de
esquizofrenia é realizado somente se delírios ou
Esquizofrenia catatônica alucinações proeminentes, além dos demais
A esquizofrenia catatônica é dominada por sintomas exigidos de esquizofrenia, estão
distúrbios psicomotores proeminentes que também presentes por pelo menos um mês (ou
podem alternar entre extremos tais como menos, se tratados com sucesso).
hipercinesia e estupor, ou entre a obediência [...]
automática e o negativismo. Atitudes e Características Associadas que Apoiam o
posturas a que os pacientes foram compelidos Diagnóstico
a tomar podem ser mantidas por longos Indivíduos com esquizofrenia podem exibir
períodos. Um padrão marcante da afecção pode afeto inadequado (p. ex., rir na ausência de um
ser constituído por episódios de excitação estímulo apropriado); humor disfórico que pode
violenta. O fenômeno catatônico pode estar assumir a forma de depressão, ansiedade ou
combinado com um estado oniróide com raiva; padrão de sono perturbado (p. ex., sono
alucinações cênicas vívidas. durante o dia e atividade durante a noite); e falta
de interesse em alimentar-se ou recusa da
Esquizofrenia indiferenciada ou atípica comida. Despersonalização, desrealização e
Afecções psicóticas que preenchem os critérios preocupações somáticas podem ocorrer e por
diagnósticos gerais para a esquizofrenia mas vezes atingem proporções delirantes. Ansiedade
que não correspondem a nenhum dos subtipos e fobias são comuns. Déficits cognitivos na
incluídos [...], ou que exibam padrões de mais esquizofrenia são comuns e fortemente
de um deles sem uma clara predominância de associados a prejuízos profissionais e
um conjunto particular de características funcionais. Esses déficits podem incluir
diagnósticas. diminuições na memória declarativa, na
memória de trabalho, na função da linguagem e
Depressão pós-esquizofrênica em outras funções executivas, bem como
Episódio depressivo eventualmente prolongado velocidade de processamento mais lenta.
que ocorre ao fim de uma afecção Anormalidades no processamento sensorial e na
esquizofrênica. Ao menos alguns sintomas capacidade inibitória, bem como redução na
esquizofrênicos "positivos" ou "negativos" atenção, são também encontradas. Alguns
devem ainda estar presentes mas não dominam indivíduos com esquizofrenia mostram déficits
mais o quadro clínico. Este tipo de estado na cognição social, incluindo déficits na
depressivo se acompanha de um maior risco de capacidade de inferir as intenções dos outros
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
193
suicídio. Se o paciente não apresenta mais (teoria da mente), podendo atender a eventos ou
nenhum sintoma esquizofrênico, deve-se fazer estímulos irrelevantes e depois interpretá-los
um diagnóstico de episódio depressivo. Se os como significativos, talvez levando à geração de
sintomas esquizofrênicos ainda são aparentes e delírios explanatórios. Esses prejuízos
proeminentes, deve-se manter o diagnóstico da costumam persistir durante a remissão dos
forma clínica apropriada da esquizofrenia. sintomas.
Alguns indivíduos com psicose podem carecer
Esquizofrenia residual de insight ou consciência de seu transtorno (i.e.,
Estádio crônico da evolução de uma doença anosognosia). Essa falta de insight inclui não
esquizofrênica, com uma progressão nítida de perceber os sintomas de esquizofrenia, podendo
um estádio precoce para um estádio tardio, o estar presente em todo o curso da doença. Não
qual se caracteriza pela presença persistente de perceber a doença costuma ser um sintoma da
sintomas "negativos" embora não própria esquizofrenia em vez de uma estratégia
forçosamente irreversíveis, tais como lentidão de enfrentamento. É comparável à falta de
psicomotora; hipoatividade; embotamento percepção de déficits neurológicos após dano
afetivo; passividade e falta de iniciativa; cerebral, chamada de anosognosia. Esse sintoma
pobreza da quantidade e do conteúdo do é o mais comum preditor de não adesão ao
discurso; pouca comunicação não-verbal tratamento e prevê elevadas taxas de recaída,
(expressão facial, contato ocular, modulação da aumento no número de tratamentos
voz e gestos), falta de cuidados pessoais e involuntários, funcionamento psicossocial mais
desempenho social medíocre. pobre, agressão e um curso mais pobre da
doença.
Esquizofrenia simples Hostilidade e agressão podem estar associadas a
Transtorno caracterizado pela ocorrência esquizofrenia, embora agressão espontânea ou
insidiosa e progressiva de excentricidade de aleatória não seja comum. A agressão é mais
comportamento, incapacidade de responder às frequente em indivíduos do sexo masculino
exigências da sociedade, e um declínio global mais jovens e em pessoas com história anterior
do desempenho. Os padrões negativos de violência, não adesão ao tratamento, abuso
característicos da esquizofrenia residual (por de substância e impulsividade. Deve-se observar
exemplo: embotamento do afeto e perda da que a grande maioria das pessoas com
volição) se desenvolvem sem serem precedidos esquizofrenia não é agressiva, sendo, com mais
por quaisquer sintomas psicóticos manifestos. frequência, mais vitimizada que aquelas na
população em geral.
Atualmente não há exames laboratoriais,
radiológicos ou testes psicométricos para o
transtorno. As diferenças são claras em
múltiplas regiões do cérebro entre grupos de
pessoas saudáveis e pessoas com esquizofrenia,
incluindo evidências de estudos por
neuroimagem, neuropatologia e neurofisiologia.
Diferenças ficam também evidentes na
arquitetura celular, na conectividade da
substância branca e no volume da substância
cinzenta em uma variedade de regiões, como os
córtices pré-frontal e temporal. É observada
redução no volume cerebral total, bem como
aumento da redução de volume com o
envelhecimento. Reduções do volume cerebral
com o envelhecimento são mais pronunciadas
em pessoas com esquizofrenia do que em
indivíduos saudáveis. Por fim, pessoas com a
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
194
131
Eye-tracking – “Rastreamento ocular.” Refere-se ao processo pelo qual os olhos seguem um objeto em movimento,
sem rotação da cabeça.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
195
Transtorno delirante
CID-10 DSM-5
Transtorno caracterizado pela ocorrência de A característica essencial do transtorno delirante
uma ideia delirante única ou de um conjunto de é a presença de um ou mais delírios que
ideias delirantes aparentadas, em geral persistem por pelo menos um mês (Critério A).
persistentes e que por vezes permanecem Não é feito o diagnóstico de transtorno delirante
durante o resto da vida. O conteúdo da ideia ou se o indivíduo alguma vez teve apresentação de
das ideias delirantes é muito variável. A sintomas que satisfaçam o Critério A para
presença de alucinações auditivas (vozes) esquizofrenia (Critério B). Independentemente
manifestas e persistentes, de sintomas do impacto direto dos delírios, prejuízos no
esquizofrênicos tais como ideias delirantes de funcionamento psicossocial podem estar mais
influência e um embotamento nítido dos circunscritos que os encontrados em outros
afetos, e a evidência clara de uma afecção transtornos psicóticos como a esquizofrenia, e o
cerebral, são incompatíveis com o diagnóstico. comportamento não é claramente bizarro ou
Entretanto, a presença de alucinações auditivas esquisito (Critério C). Se ocorrerem episódios
ocorrendo de modo irregular ou transitório, de humor concomitantemente com os delírios,
particularmente em pessoas de idade avançada, sua duração total é breve em relação à duração
não elimina este diagnóstico, sob condição de total dos períodos delirantes (Critério D). Os
que não se trate de alucinações tipicamente delírios não podem ser atribuídos aos efeitos
esquizofrênicas e de que elas não dominem o fisiológicos de uma substância (p. ex., cocaína)
quadro clínico. ou a outra condição médica (p. ex., doença de
Alzheimer), não sendo mais bem explicados por
outro transtorno mental, como transtorno
dismórfico corporal ou transtorno obsessivo-
compulsivo (Critério E).
Além das cinco áreas de domínios de sintomas
identificadas nos critérios diagnósticos, é
fundamental a avaliação dos sintomas dos
domínios cognição, depressão e mania para que
sejam feitas distinções importantes entre os
vários transtornos do espectro da esquizofrenia
e outros transtornos psicóticos.
Características Associadas que Apoiam o
Diagnóstico
Problemas sociais, conjugais ou profissionais
podem ser consequências de crenças ou
transtorno delirante. Indivíduos com transtorno
delirante podem ser capazes de descrever, de
forma factual, que outras pessoas veem suas
crenças como irracionais; são incapazes, no
entanto, de aceitar isso (i.e., pode existir
“insight dos fatos”, mas não um insight
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
199
Retardo mental com características autísticas uso da linguagem para comunicação social
Usar código adicional (F70-F79), se recíproca está prejudicado no transtorno do
necessário, para identificar o retardo mental. espectro autista.
Déficits na reciprocidade socioemocional (i.e.,
capacidade de envolvimento com outros e
compartilhamento de ideias e sentimentos) estão
claramente evidentes em crianças pequenas com
o transtorno, que podem apresentar pequena ou
nenhuma capacidade de iniciar interações
sociais e de compartilhar emoções, além de
imitação reduzida ou ausente do comportamento
de outros. Havendo linguagem, costuma ser
unilateral, sem reciprocidade social, usada mais
para solicitar ou rotular do que para comentar,
compartilhar sentimentos ou conversar. Nos
adultos sem deficiência intelectual ou atrasos de
linguagem, os déficits na reciprocidade
socioemocional podem aparecer mais em
dificuldades de processamento e resposta a
pistas sociais complexas (p. ex., quando e como
entrar em uma conversa, o que não dizer).
Adultos que desenvolveram estratégias
compensatórias para alguns desafios sociais
ainda enfrentam dificuldades em situações
novas ou sem apoio, sofrendo com o esforço e a
ansiedade para, de forma consciente, calcular o
que é socialmente intuitivo para a maioria dos
indivíduos.
Déficits em comportamentos de comunicação
não verbal usados para interações sociais são
expressos por uso reduzido, ausente ou atípico
de contato visual (relativo a normas culturais),
gestos, expressões faciais, orientação corporal
ou entonação da fala. Um aspecto precoce do
transtorno do espectro autista é a atenção
compartilhada prejudicada, conforme
manifestado por falta do gesto de apontar,
mostrar ou trazer objetos para compartilhar o
interesse com outros ou dificuldade para seguir
o gesto de apontar ou o olhar indicador de
outras pessoas. Os indivíduos podem aprender
alguns poucos gestos funcionais, mas seu
repertório é menor do que o de outros e
costumam fracassar no uso de gestos
expressivos com espontaneidade na
comunicação. Entre adultos com linguagem
fluente, a dificuldade para coordenar a
comunicação não verbal com a fala pode passar
a impressão de “linguagem corporal” estranha,
rígida ou exagerada durante as interações. O
prejuízo pode ser relativamente sutil em áreas
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
203
b) Síndrome de Capgras
Também conhecida como Delírio de Capgras, Ilusão de Capgras e Paranóia de Capgras, foi descrita
pela primeira vez em 1923 no boletim da Sociedade Clínica de Medicina Mental, na França, por
Jean Marie Joseph Capgras e Jean Reboul-Lachaux, no artigo entitulado “L`illusion des sosies dans
um délire systématisé chronique” (A ilusão dos sósias num delírio sistematizado crônico) e daí em
diante a síndrome passou a ser reconhecida com o nome do primeiro autor (Capgras).
Caracteriza-se pelo paciente acreditar que um familiar próximo torna-se um impostor, um duplo, a
despeito do reconhecimento de sua familiaridade na aparência e na conduta. Em decorrência da
ideação delirante, esse “impostor” ou “duplo” possui um caráter persecutório.
Tais pacientes podem continuar convivendo com o “impostor” ou “duplo”, apesar de “secretamente
saberem” que ele, ou ela, não é a pessoa que se diz ser.
Ocorre em ambos os sexos, apesar de inicialmente ter sido descrito apenas em mulheres.
O fenômeno de Capgras acompanha a doença de base do paciente, sendo geralmente de origem
funcional e menos frequentemente de causas orgânicas.
Entre as causas funcionais a mais frequente ainda é a Esquizofrenia, em especial o subtipo
paranóide. Mas, os transtornos de humor também ocupam lugar de destaque nas doenças de base
para ocorrência da Síndrome de Capgras.
Na verdade o percentual em que o Delírio de Capgras ocorre entre psicoses orgânicas é maior que
entre transtornos de humor. E os quadros orgânicos podem ser bastante variáveis: traumatismo
craniano, deficiência de ácido fólico, alcoolismo, má nutrição, etc., sem que que haja nenhum
marcador bioquímico específico.
132
Os relatos dessas síndromes foi adaptado de< http://dicionariodesindromes.blogspot.com.br/>.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
207
Existem ainda muitas explicações psicodinâmicas aplicáveis, dado o fato de que somente ocorre o
fenômeno com familiares. Mas, há uma tendência dos artigos mais recentes sobre o tema a tentar
encontrar razões biológicas para a ocorrência do fenômeno.
c) Síndrome de Diógenes
A Síndrome de Diógenes (SD) é uma alteração comportamental que geralmente ocorre entre
pessoas idosas, caracterizada pelo isolamento social, pela autonegligência (descuido com o
autocuidado, com a higiene pessoal e do lar), pelo comportamento paranoico e pelo colecionismo.
Em 1975 esta Síndrome foi descrita e nomeada, uma certa injustiça ao filósofo grego Diógenes de
Sínope, também chamado Diógenes "o Cínico" (kynikos, kynon = cachorro). Diógenes acreditava
que a virtude não deveria ser uma teoria mas uma ação prática, resultado da própria vivência, assim
optou por viver na miséria, habitando um grande barril como lar e carregando à luz do dia uma
lanterna acesa em busca de um homem honesto; acreditava que faria bem ao ser humano aprender
com o cão:
"afinal o cão é capaz de realizar suas funções corporais naturais em
público sem constrangimento, um cachorro comerá qualquer coisa, e
não fará estardalhaço sobre que lugar dormir. Cachorros vivem o
presente sem ansiedade, e não possuem as pretensões da filosofia
abstrata. Somando-se ainda a estas virtudes, cachorros aprendem
instintivamente quem é amigo e quem é inimigo. Diferente dos
humanos que enganam e são enganados uns pelos outros, cães
reagem com honestidade frente à verdade."
Paradoxalmente, o Cinismo anárquico de Diógenes nada tem em comum com o emprego atual da
palavra, assim como a vida despojada de bens de Diógenes nada se assemelha à Síndrome que leva
seu nome.
Na Síndrome de Diógenes o colecionismo é a tônica, em detrimento do autocuidado. É possível
observar desde casos de pessoas que colecionam todo tipo de objetos: recolhendo lixo e todo tipo de
objetos inúteis (syllogomania), até animais: já presenciamos um caso de uma senhora que chegou
mesmo a recolher, para desespero dos vizinhos, um jumento!
d) Síndrome de Estocolmo
Trata-se da dependência afetiva que o agredido (sequestrado, refém) passa a sofrer do seu agressor.
Este fenômeno foi descrito pelo psiquiatra e criminologista Nils Bejerot à propósito do assalto a um
banco ocorrido de 23 a 28 de agosto de 1973, em Estocolmo (Suécia), quando os reféns ficaram
"amigos" dos criminosos, chegando a colocar-se contra a polícia.
e) Síndrome de Fregoli
A síndrome caracteriza-se como uma condição na qual a pessoa acredita que um ou mais pessoas
que lhe são familiares (conhecidas), usualmente perseguidores, repetidamente modificam sua
aparência e passam a ocupar outros postos, por exemplo: de médico, carteiro, vendedor, etc.
Portanto, para o portador da síndrome justificando como é possível ao seu perseguidor estar nos
diversos ambientes dele, disfarçado.
É claramente uma ideia delirante de perseguição. Portanto espera-se encontrá-la em pessoas que
estejam psicóticas: transtorno delirante persistente e principalmente esquizofrenias.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
208
A síndrome recebeu este nome em homenagem ao ator italiano Leopoldo Fregoli, (1867-1936)
capaz de em suas apresentações encenar desde um monólogo até uma ópera, sendo ele o único ator
e cantor do espetáculo. Deu origem ao transformismo no teatro, tamanha a sua habilidade para
interpretar diversos personagens como ator e cantor.
É importante estabelecer um diagnóstico diferencial entre a Síndrome de Fregoli e a
Intermetamorfose. Enquanto na primeira as pessoas modificariam apenas sua aparência física, seria
um disfarce externo, na Intermetamorfose a transformação seria completa, isto é, também interna,
transformando a personalidade também.
Vejamos então exemplos concretos dos dois tipos de delírios:
1. Síndrome de Fregoli: se o perseguidor for um parente, um tio, o tio disfarça-se como irmão do
portador de Fregoli, mas as características de personalidade continuam sendo do tio. Inclusive o
portador do delírio de Fregoli saberá distinguir entre os trejeitos do irmão e como ele estaria se
portando agora para justificar seu delírio.
2. Já na Intermetamorfose o paciente acredita que o perseguidor passou também por uma
metamorfose interna, transformando-se completamente na outra pessoa: sendo o tio o perseguidor
ele teria se transformado fisicamente e psiquicamente no irmão do paciente, passando a ficar
absolutamente idêntico, em personalidade e trejeitos ao irmão. Mas de algum modo, o delirante diz
que aquele não é originalmente seu irmão, mas sim o seu perseguidor transformado a fim de fazer-
lhe algum mal.
Tanto a Síndrome de Fregoli quanto a Intermetamorfose, a Síndrome de Capgras, a Síndrome de
Cotard e até a Síndrome de Clèrambault fazem parte das Síndromes de Má-Identificação (delusional
misidentification syndrome).
f) Síndrome de Koro
A Síndrome de Koro também chamada de Síndrome de Redução Genital, Síndrome de Jinjin Bemar
e Síndrome de Suk Yeong (China, Índia, Sudeste asiático).
Caracteriza-se pelo medo agudo, ou ansiedade intensa diante da retração normal do pênis (no caso
dos homens), da vulva ou dos mamilos (em mulheres). A reação de angústia severa diante da
retração normal dos órgãos sexuais advém da crença de que esta retração prosseguirá até que
desapareça e provoque a morte do indivíduo, assim por exemplo, em homens, gênero em que é mais
comum, os portadores desta síndrome creêm seu pênis continuará retraindo incessantemente, até
penetrar de volta à cavidade abdominal, quando isto lhe provocará o óbito.
A palavra Koro, proveniente da língua malaia, significa cabeça de tartaruga, uma clara referência à
retração que esta é capaz de fazer em direção ao casco, desaparecendo por completo, à semelhança
do que os pacientes acometidos pela síndrome crêem que aconteça com a sua genitália.
Fatores predisponentes:
•exposição ao frio,
•coito excessivo,
•conflitos interpessoais,
•pressões sócio-culturais.
O Surgimento da síndrome é súbito.
Na tentativa de "tratar-se", as pessoas acometidas pela doença tentam explorar a própria genitália
(podendo levar a acidentes), ou solicitam a familiares que o façam, colocam talas para evitar a
retração dos genitais, usam remédios fitoterápicos, massagens ou felação.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
209
g) Síndrome de Lima
Trata-se de um conjunto de sintomas desenvolvidos por sequestradores em sua atividade criminosa,
nas relações de proximidade e compreensão das necessidades das vítimas, resultando em afeto.
Ganhou este nome por tal fato ter sido registrado em 1996, em Lima (Peru), em ataque a embaixada
japonesa.
h) Síndrome de Münchausen
O nome deriva do Barão de Münchausen, o alemão Karl Friederich Hieronymus (1720-1797), que
após ter lutado em guerra contra os turcos (1740-1741) voltou relatando suas histórias. Entretanto, o
Barão tinha o hábito de modificá-las, mentindo e criando histórias grandiosas e fantasiosas, como
por exemplo:
•saíra de um poço muito profundo puxando os próprios cabelos;
•ficara com seu cavalo sobre a torre de uma igreja e de lá, escalando uma corda, chegara à lua;
•vencera todo um exército fantasiado de galinha;
•cavalgara numa bala de canhão etc .
Quanto à síndrome, é uma condição na qual conscientemente o indivíduo simula doenças, chegando
inclusive a agredir-se fisicamente para isto. Geralmente são pessoas inteligentes, conhecedoras das
práticas médicas que ao simularem ou provocarem um problema de saúde alcançam seu objetivo:
submeter-se a tratamentos médicos, internações e numerosos exames. É importante notar que nesta
doença apesar da simulação ser consciente as motivações para tanto são inconscientes.
Uma variação desta síndrome é a conhecida por Síndrome de Münchausen por Procuração.
Nestes casos ocorre o mesmo que na Síndrome de Münchausen por iniciativa de um adulto a
respeito da saúde de um menor, isto é, o portador da síndrome (geralmente um dos genitores) altera
a história médica ou adultera exames de uma criança para provocar mais cuidados médicos sobre
ela.
i) Síndrome de Oslo
A Síndrome de Oslo é uma reação psicológica de pessoas ou de grupos vítimas de maus tratos e/ou
ameaças a sua integridade física e mental.
Nesta síndrome a pessoa ou o grupo vitimizado passa a acreditar-se responsável pelos maus tratos
que recebe, às vezes até merecedora dos "castigos" que lhe são impostos. A vítima passa a achar
que merece ser agredida.
Trata-se geralmente de uma defesa: diante de uma situação de agressão ou de ameaça severa, sobre
a qual o indivíduo sente-se absolutamente impotente, como mecanismo de defesa, o sujeito passa a
fantasiar que tem o controle da situação e a depender das suas reações, dos seus gestos, do seu
comportamento poderá controlar o agressor, isto é, assim a vítima acredita que se mudar o seu
agressor também mudará.
Nestes casos, subliminarmente, inconscientemente, a vítima considera pior do que a própria ameaça
à integridade física a sensação de impotência diante da iminência de agressão.
Da mesma maneira que ocorre com pessoas individualmente, pode ser um mecanismo de defesa
grupal, podendo ser a reação de um grupo ou de uma comunidade.
Exemplos: mulheres que sofrem violência doméstica, crianças abusadas fisicamente... .
j) Síndrome de Stendhal
A Síndrome de Stendhal caracteriza-se pelo surgimento súbito de diversos sintomas simultâneos
(vivências estranhas, por vezes acompanhadas de sintomas físicos, sensação de profunda emoção,
seguida de um leve entorpecimento, desorientação temporo-espacial momentânea, sudorese profusa
e desrealização) mediante a exposição do indivíduo à contemplação de uma ou mais obras de arte.
l) Síndrome de Ganser: Apesar de já ter sido classificada entre os transtornos factícios, atualmente
pertence aos quadros histéricos dissociativos.
A pessoa provoca um quadro psiquiátrico repentino e intenso, com exuberância de sintomas, a
ponto de parecer insana: pararrespostas, sonambulismo, dissociação. Contudo, aspectos
psicopatológicos conflitantes fazem o diagnóstico diferencial com as psicoses verdadeiras.
Foi inicialmente descrita entre presidiários sendo por isto também chamada de "Psicose da prisão".
Álcool
“O álcool compartilha características dos sedativos, hipnóticos e ansiolíticos. (DSM-4)
Dependência ao álcool
Para se fazer o diagnóstico de dependência alcoólica é necessário que o usuário venha tendo
problemas decorrentes do uso de álcool durante 12 meses seguidos e preencher pelo menos 3 dos
seguintes critérios:
a) apresentar tolerância ao álcool -- marcante aumento da quantidade ingerida para produção do
mesmo efeito obtido no início ou marcante diminuição dos sintomas de embriaguez ou outros
resultantes do consumo de álcool apesar da continua ingestão de álcool.
b) sinais de abstinência -- após a interrupção do consumo de álcool a pessoa passa a apresentar os
seguintes sinais: sudorese excessiva, aceleração do pulso (acima de 100), tremores nas mãos,
insônia, náuseas e vômitos, agitação psicomotora, ansiedade, convulsões, alucinações táteis. A
reversão desses sinais com a reintrodução do álcool comprova a abstinência. Apesar do álcool
"tratar" a abstinência o tratamento de fato é feito com diazepam ou clordiazepóxido dentre outras
medicações.
c) o dependente de álcool geralmente bebe mais do que planejava beber.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
213
133
http://www.hospitaldeolhos.com.br/noticia/1255
134
Os macrófagos são considerados fagócitos profissionais, isto é, células cuja função primária é a de fagocitar
partículas, sejam elas restos celulares, partículas inertes ou microorganismos.
135
Hemiparesia - Hemiparesia é a paralisia parcial de um lado do corpo.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
214
É uma síndrome que reúne vários sinais e sintomas, desde o nascimento, em pessoas filhas de mães
que consumiram bebidas alcoólicas durante a gestação.
A Síndrome Álcoólica Fetal (SAF) é a maior causa de retardo mental do ocidente e caracteriza-se
por déficit de crescimento, dismorfismo facial e evidências de anormalidades no SNC.
Os critérios mínimos para o diagnóstico da SAF são:
1.retardo do crescimento pré ou pós-natal;
2.envolvimento do sistema nervoso, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, alterações do QI e
do comportamento;
3.dismorfismo facial. Pelo menos dois dos seguintes sinais:
•microcefalia,
•microftalmia e/ou fissura palpebral pequena
•filtro nasal hipoplásico137 com lábio superior fino,
•hipoplasia maxilar
136
http://dicionariodesindromes.blogspot.com.br/2008/10/sindrome-alcoolica-fetal.html
137
Hipoplásico – hipoplasia - É um termo utilizado para designar a diminuição da atividade que leva à formação dos
tecidos orgânicos. Com isto ocorre o hipodesenvolvimento de órgãos ou de tecidos, já que as células que os compõem
estão presentes em menor número.
O órgão afetado se torna mais leve do que o normal, porém os padrões de sua arquitetura não sofrem modificações. São
várias as causas que podem levar a esta condição, sendo que a mesma pode afetar uma série de órgãos diferentes.
(http://www.saudemedicina.com/hipoplasia/)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
215
3. Insônia.
4. Náusea ou vômitos.
5. Alucinações ou ilusões visuais, táteis ou auditivas transitórias.
6. Agitaçãopsicomotora.
7. Ansiedade.
8. Convulsões tônico-clônicas138 generalizadas.
C. Os sinais ou sintomas do Critério B causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
D. Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição médica nem são mais bem explicados
por outro transtorno mental, incluindo intoxicação por ou abstinência de outra substância.
[...] Os sintomas podem ser aliviados por meio da administração de álcool ou benzodiazepínicos (p.
ex., diazepam). Os sintomas de abstinência geralmente começam quando as concentrações
sanguíneas de álcool declinam abruptamente (i.e., em 4 a 12 horas) depois que o uso de álcool foi
interrompido ou reduzido. Refletindo o metabolismo relativamente rápido do álcool, a intensidade
dos sintomas costuma atingir o auge durante o segundo dia de abstinência, e os sintomas tendem a
melhorar acentuadamente no quarto ou quinto dia. Após abstinência aguda, entretanto, os sintomas
de ansiedade, insônia e disfunção autonômica podem persistir durante um período de até 3 a 6
meses em níveis menores de intensidade.
Menos de 10% dos indivíduos que desenvolvem abstinência de álcool chegam a desenvolver
sintomas drásticos (p. ex., hiperatividade autonômica grave, tremor, delirium por abstinência de
álcool). Convulsões tônico-clônicas ocorrem em menos de 3% das pessoas.
Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico
Embora confusão mental e alterações na consciência não sejam critérios para abstinência de álcool,
delirium por abstinência de álcool (ver “Delirium” no capítulo “Transtornos Neurocognitivos”)
pode ocorrer no caso de abstinência. Assim como é válido para qualquer estado de confusão e
agitação independentemente da causa, além de perturbação da consciência e da cognição, o delirium
por abstinência pode envolver alucinações visuais, táteis ou (raramente) auditivas (delirium
tremens). Quando se desenvolve delirium por abstinência, provavelmente há uma condição médica
clinica- mente relevante (p. ex., insuficiência hepática, pneumonia, sangramento gastrintestinal,
sequelas de traumatismo craniano, hipoglicemia e desequilíbrio eletrolítico ou estado pós-
operatório).
138
Convulsões Tônicas - resultam na contração súbita dos músculos. Essas convulsões são mais comuns durante o
sono. Convulsões Clônicas - causam convulsões ou movimentos involuntários em ambos os lados do corpo.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
216
canabinóides
cocaína
alucinógenos
inalantes
nicotina
opióides
fenciclidina (PCP) ou arilciclo-hexilaminas de ação similar e sedativos
hipnóticos ou ansiolíticos
[...]
Muitos medicamentos vendidos com ou sem prescrição médica também podem causar Transtornos
Relacionados a Substâncias. Os sintomas com frequência estão relacionados à dosagem do
medicamento e habitualmente desaparecem com a redução da dosagem ou suspensão do
medicamento. Entretanto, às vezes pode haver uma reação idiossincrática a uma única dose.
Os medicamentos capazes de causar Transtornos Relacionados a Substâncias incluem (mas não se
limitam a) anestésicos e analgésicos, agentes anticolinérgicos141, anticonvulsivantes, anti-
histamínicos, medicamentos anti-hipertensivos e cardiovasculares, antimicrobianos,
antiparkinsonianos, agentes quimioterápicos, corticosteroides, medicamentos gastrintestinais,
relaxantes musculares, anti-inflamatórios não-esteroides, outros medicamentos vendidos sem
prescrição, antidepressivos[...].
A exposição a uma ampla faixa de outras substâncias químicas também pode levar ao
desenvolvimento de um Transtorno Relacionado a Substância. As substâncias tóxicas capazes de
causar Transtornos Relacionados a Substâncias incluem (mas não se limitam a) metais pesados (por
ex., chumbo ou alumínio), raticidas contendo estricnina, pesticidas contendo inibidores da
acetilcolinesterase, gases nervosos, etileno glicol (anticongelante), monóxido e dióxido de carbono.
As substâncias voláteis (por ex., combustíveis, tintas) são classificadas como "inalantes" (ver p.
157), quando usadas com fins de intoxicação e são consideradas "toxinas", se a exposição é
acidental ou faz parte de um envenenamento intencional. Prejuízos na cognição ou no humor são os
141
Anticolinérgicos - diz-se das substâncias antagonistas da ação de fibras nervosas parassimpáticas que liberam
acetilcolina. Ou seja, que inibem a produção da acetilcolina. [...] Estes medicamentos tem utilidade terapêutica no
tratamento da Síndrome de Parkinson e como antiespasmódico. Foram usados durante a Segunda Guerra Mundial por
organismos militares, que viram neles um "soro da verdade", pois na aplicação parenteral levam a um estado torporoso,
com especial tendência à sugestibilidade, liberando barreiras conscientes de defesa. [...] Absorvido em quantidades
maiores do que a dose terapêutica, o produto provoca alterações mentais como alucinações e delírios, com duração de
48 horas. Consumido junto com outras drogas, como inalantes e maconha, o efeito pode durar mais tempo ainda,
iniciando pela sensação de "barato" na cabeça ou no corpo todo, seguida de alterações na percepção de cores/sons,
terminando com sensações de estranheza, medo, confusão mental, ideias de perseguição, dificuldades de memória -
síndrome que adota a forma de um surto psicótico agudo. O potencial de dependência parece elevado, com alta
toxicidade, evoluindo para alterações crônicas. Os delírios e alucinações dependem bastante da personalidade da pessoa
e de sua condição. As drogas anticolinérgicas são capazes de produzir muitos efeitos periféricos. Assim, as pupilas
ficam muito dilatadas, a boca seca e o coração dispara. Os intestinos ficam paralisados - tanto que são usados
medicamentosamente como antidiarréicos - e a bexiga fica "preguiçosa" ou há retenção de urina. Os anticolinérgicos
podem produzir, em doses altas, grande elevação da temperatura - que chega, às vezes, até a 40-41 graus. Nestes casos,
não muito comuns, a pessoa apresenta-se com a pele muito seca e quente com vermelhidão principalmente no rosto e
pescoço. Esta temperatura elevada pode provocar convulsões. São, por isto, bastante perigosas. Existem pessoas que,
também, descrevem ter "engolido a língua" e quase se sufocarem por causa disto. Ainda, em casos de dosagem elevada,
o número de batimentos do coração sobe exageradamente, podendo chegar acima de 150 batimentos por minutos. Estas
drogas não desenvolvem tolerância no organismo e não há descrição de síndrome de abstinência após a parada de um
uso contínuo. (http://www.imesc.sp.gov.br)
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
218
sintomas mais comuns associados com substâncias tóxicas, embora ansiedade, alucinações, delírios
ou convulsões também possam ocorrer.
Os sintomas em geral desaparecem quando o indivíduo deixa de expor-se à substância, mas sua
resolução pode levar de semanas a meses e exigir tratamento.
Os sintomas agudos de abstinência frequentemente são vistos após períodos de uso repetitivo de
altas doses e caracterizam-se por sensações intensas e desagradáveis de lassidão [cansaço, fadiga] e
depressão, geralmente exigindo vários dias de repouso e recuperação. Sintomas depressivos com
ideação ou comportamento suicida podem ocorrer e geralmente são os problemas mais sérios vistos
durante a "aterrissagem" ou outras formas de Abstinência de Cocaína. Uma parcela considerável
dos indivíduos com Dependência de Cocaína apresenta poucos ou nenhum sintoma de abstinência
evidente ao cessar o uso da substância.
142
Texto adaptado da CID-10.
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221
Canabidiol
Sem efeito psicoativo, o canabidiol (CDB) é uma substância
canabinoide existente na folha da Cannabis Sativa, a planta da
maconha. De acordo com pesquisadores, não causa efeitos
psicoativos ou dependência.
O elemento possui estrutura química com grande potencial terapêutico neurológico, ou seja, pode
ter ação ansiolítica, que diminui a ansiedade, antipsicótica, neuroprotetora, anti-inflamatória,
antiepilética e agir nos distúrbios do sono.
143
http://psicoativas.ufcspa.edu.br/maconha.html
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
222
Pesquisadores defenderam a reclassificação do canabidiol por parte da Anvisa. Segundo eles, o uso
medicinal da substância tem efeitos positivos relevantes em pacientes com autismo, esclerose
múltipla, dores neuropáticas, câncer, epilepsia, mal de Parkinson e não causa efeitos psicoativos ou
dependência.144
Alucinógenos
São substâncias capazes de produzirem um efeito sensorial (visual, auditivo,
olfativo, gustativo ou tátil) na ausência de um estímulo real. Por produzirem
alterações na percepção, cognição e humor os alucinógenos são chamados de
drogas psicodélicas (do grego, significando “que manifesta a mente”). Os
alucinógenos são um grupo de compostos heterogêneos, muitos dos quais de
ocorrência natural; outros são produzidos sinteticamente. Muitos alucinógenos são estruturalmente
semelhantes a um dos diversos neurotransmissores, o que pode ser usado como forma de
categorização. Por exemplo, alucinógenos semelhantes à serotonina incluem as indolalquilaminas,
exemplificadas pela dietilamida do ácido lisérgico (LSD), [...]; alucinógenos semelhantes às
catecolaminas incluem as feniletilaminas e seus derivados, tais como a mescalina, [...].
Ambas as classes em geral produzem alucinações visuais por sua atividade em subtipos de
receptores de serotonina. [...] (APA, 2010, p. 55)
amplamente usada no mundo e está presente em diversos tipos de bebidas (p. ex., café, chá, mate,
refrigerantes, refrescos, bebidas energéticas), alimentos, complementos energéticos, medicamentos
e suplementos alimentares. Como sua ingestão costuma estar integrada a hábitos sociais e a rituais
diários (p. ex., pausa para o cafezinho, chá da tarde), alguns consumidores podem não estar cientes
de sua dependência física da substância, e, por isso, os sintomas de abstinência podem ser
inesperados e atribuídos erroneamente a outras causas (p. ex., gripe, enxaqueca). Além disso, os
sintomas de abstinência de cafeína podem ocorrer quando o indivíduo precisa abster-se de
alimentos e bebidas antes de procedimentos médicos ou quando perde uma dose habitual da
substância devido a uma mudança na rotina (p. ex., durante viagens, fins de semana).
A probabilidade e a gravidade da abstinência de cafeína geralmente aumentam como resultado da
dose diária regular da substância. Contudo, há grande variação de uma pessoa para outra e em um
mesmo indivíduo em diferentes episódios quanto a incidência, gravidade e duração dos sintomas de
abstinência. Os sintomas de abstinência podem ocorrer após a interrupção abrupta de doses crônicas
relativamente baixas da substância (i.e., 100 mg).
Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico
Demonstrou-se que a abstinência de cafeína está associada a comprometimento do desempenho
comportamental e cognitivo (p. ex., atenção sustentada). Estudos eletrencefalográficos
demonstraram que os sintomas de abstinência estão significativamente associados a aumentos na
atividade teta e diminuições na atividade beta-2. Redução na motivação para trabalhar e diminuição
na sociabilidade também foram relatadas durante a abstinência de cafeína. Documentou-se, ainda,
aumento do uso de analgésicos durante a abstinência da substância.
Nicotina - O tabaco é uma planta cujo nome científico é Nicotiana tabacum, da qual é extraída uma
substância de efeito estimulante chamada nicotina. Além desta, o tabaco possui mais de 4.700
substâncias tóxicas, dentre elas o monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído e partículas
de nicotina e alcatrão.
O tabaco começou a ser utilizado aproximadamente no
ano 1000 a.C., nas sociedades indígenas da América
Central, em rituais mágico-religiosos, com o objetivo de
purificar, contemplar, proteger e fortalecer os ímpetos
guerreiros. A planta chegou ao Brasil provavelmente pela
migração de tribos tupis-guaranis. Hoje, apesar dos males
que o hábito de fumar provoca, a nicotina é uma das
drogas mais consumidas no mundo.
Quando o fumante dá uma tragada, a nicotina é absorvida pelos pulmões, chegando ao cérebro
aproximadamente em nove segundos. Os principais efeitos da nicotina no sistema nervoso central
consistem em: elevação leve no humor (estimulação) e diminuição do apetite.
A nicotina produz um pequeno aumento na frequência dos batimentos cardíacos, na pressão arterial,
no ritmo respiratório e na atividade motora. Quando uma pessoa fuma um cigarro, a nicotina é
imediatamente distribuída pelos tecidos. No sistema digestivo, provoca diminuição da contração do
estômago, dificultando a digestão.
O uso intenso e constante de cigarros aumenta a probabilidade de ocorrência de algumas doenças,
como: pneumonia, câncer (pulmão, laringe, faringe, esôfago, boca, estômago), infarto de miocárdio,
bronquite crônica, enfisema pulmonar, derrame cerebral e úlcera digestiva.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
226
A nicotina é um psicotrópico que gera dependência, por isso, o tabagismo é classificado pelo
Código Internacional de Doenças (CID-10) como um transtorno mental e de comportamento pelo
uso da substância.
No sistema digestivo, provoca diminuição da contração do estômago, dificultando a digestão. Além
disso, estimula no aparelho gastrointestinal a produção de ácido clorídrico, o que pode causar úlcera
gástrica.
Essa droga, no organismo, aumenta a liberação de catecolaminas, as quais são responsáveis pela
vasoconstricção, hipertensão arterial e aumento da frequência cardíaca.
A nicotina juntamente com o monóxido de carbono, provoca diversas doenças cardiovasculares,
como: infarto, acidente vascular cerebral e morte-súbita. Também desencadeia a liberação de
substâncias quimiotaxias145 no pulmão, o que estimula um processo de destruição da elastina
(proteína responsável pela expansão e contração do pulmão), provocando o enfisema pulmonar.
145
Quimiotaxia - Reação de movimento orientado e obrigatório de organismos móveis, desencadeada e mantida por
uma substância química, que se efetua na sua direção (quimiotaxia positiva) ou em direção oposta (quimiotaxia
negativa).
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
227
146
(http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/conteudo/index.php?id_conteudo=11287&rastro=I
NFORMA%C3%87%C3%95ES+SOBRE+DROGAS/Tipos+de+drogas/Tabaco)
146
A doença de Buerger (tromboangeíte obliterante) é a obstrução das artérias e das veias de pequeno e de médio
calibre, por uma inflamação causada pelo hábito de fumar.
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228
Inalantes e solventes - A palavra solvente significa substância capaz de dissolver coisas, e inalante
é toda substância que pode ser inalada, isto é, introduzida no
organismo através da aspiração pelo nariz ou pela boca.
Em geral, todo solvente é uma substância altamente volátil, ou
seja, evapora-se naturalmente, por esse motivo pode ser facilmente
inalado. Outra característica dos solventes ou inalantes é que
muitos deles (mas não todos) são inflamáveis.
Um número enorme de produtos comerciais, como esmaltes, colas,
tintas, tíneres, propelentes, gasolina, removedores, vernizes etc.,
contém esses solventes. Eles podem ser aspirados de forma involuntária (por exemplo,
trabalhadores de indústrias de sapatos
ou de oficinas de pintura, o dia inteiro
expostos ao ar contaminado por essas
substâncias) ou voluntariamente (por
exemplo, crianças em situação de rua
que cheiram cola de sapateiro, o
menino que cheira em casa acetona ou
esmalte, ou o estudante que cheira o
corretivo Carbex etc.).
Todos esses solventes ou inalantes são
substâncias pertencentes a um grupo
químico chamado de hidrocarbonetos,
como o tolueno, xilol, n-hexano,
acetato de etila, tricloroetileno etc [...].
Um produto muito conhecido no Brasil
é o “cheirinho” ou “loló”, também
conhecido como “cheirinho da loló”. Trata-se de um preparado clandestino à base de clorofórmio e
éter147, utilizado somente para fins de abuso.
Mas já se sabe que, quando esses “fabricantes” não encontram uma daquelas duas substâncias, eles
misturam qualquer outra coisa em substituição. Assim, em relação ao “cheirinho da loló” não se
conhece bem sua composição, o que complica quando se tem casos de intoxicação aguda por essa
mistura.
É importante chamar a atenção para o lança-perfume. Esse nome designa inicialmente aquele
líquido que vem em tubos e que se usa no carnaval. À base de cloreto de etila ou cloretila, é
proibida sua fabricação no Brasil e só aparece nas ocasiões de carnaval, contrabandeada de outros
países sul-americanos. Mas cada vez mais o nome lança-perfume é também utilizado para designar
o “cheirinho da loló”.
Os solventes começam a ser utilizados como droga de abuso por volta de 1960 nos Estados Unidos.
No Brasil, o uso de solventes aparece no período de 1965-1970.
O clorofórmio e o éter chegaram a servir como drogas de abuso em outros tempos e depois seu uso
foi praticamente abandonado. No Brasil, o hábito voltou com os lança-perfumes trazidos da
Argentina. O clorofórmio é conhecido desde 1847 como anestésico, mas foi abandonado porque
147
O éter e o clorofórmio são anestésicos de uso medicinal.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
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surgiram anestésicos mais eficientes e seguros. Assim também ocorreu com o éter. Há referências
ao abuso do éter como substituto do álcool durante a Segunda Guerra Mundial na Alemanha.
Por volta de 1960, os lança-perfumes, que eram feitos de Cloreto de Etila, começaram a ser
aspirados para dar sensação de torpor, tontura e euforia. O Quelene, anestésico local, formava par
com o lança-perfume e era empregado fora das épocas de carnaval, quando a disponibilidade dos
lança-perfumes era menor. Por volta de 1965, o governo brasileiro proibiu a fabricação dos lança-
perfumes e do Quelene. Contudo, começou a surgir referências ao retorno do uso de lança-
perfumes, só que como um produto à base de clorofórmio e éter.
Assim como ocorre com o álcool, os solventes são substâncias que têm efeito bifásico, ou seja,
causam uma excitação inicial, seguida por depressão do funcionamento cerebral, que dependerá da
dose inalada.
Após a inalação, os solventes alcançam os alvéolos e capilares pulmonares e são distribuídos pelas
membranas lipídicas do organismo. O pico plasmático é atingido entre 15 a 30 minutos. O
metabolismo é variável: nitratos e hidrocarbonetos aromáticos são metabolizados pelo sistema
hepático microssomal. Alguns solventes possuem metabólitos ativos mais potentes que a substância
inicial. A eliminação pode ser renal ou pulmonar.
Praticamente todos os inalantes, com exceção dos nitritos, produzem efeitos prazerosos e
depressores do Sistema nervoso central. O Tolueno, substância encontrada em produtos como
tintas, colas e removedores, parece agir ativando o sistema dopaminérgico. Este sistema neural se
relaciona à dependência. É responsável pela sensação de prazer associada ao consumo da droga,
bem como a outros comportamentos naturalmente gratificantes como comer, fazer sexo e saciar a
sede.
Por outro lado, os Nitritos, conhecidos também como “poppers” e atualmente fabricados com a
finalidade de limpeza de roupas e utensílios e desodorização de ambientes, produz o efeito de
dilatação e relaxamento dos vasos sanguíneos e são utilizados como droga de abuso para melhor o
desempenho sexual.
O início dos efeitos, após a aspiração, é bastante rápido – de segundos a minutos no máximo – e em
15 a 40 minutos já desaparecem. Assim, o usuário repete as aspirações várias vezes para que as
sensações durem mais tempo.
Os efeitos dos solventes vão desde uma estimulação inicial até depressão, podendo também surgir
processos alucinatórios. Vários autores dizem que os efeitos dos solventes (quaisquer que sejam)
lembram os do álcool, entretanto, este não produz alucinações, fato bem descrito para os solventes.
Entre os efeitos, o predominante é a depressão, principalmente a do funcionamento cerebral. De
acordo com o aparecimento desses efeitos, após inalação de solventes, foram divididos em quatro
fases:
Primeira fase: a chamada fase de excitação, que é a desejada, pois a pessoa fica eufórica,
aparentemente excitada, sentindo tonturas e tendo perturbações auditivas e visuais. Mas podem
também aparecer náuseas, espirros, tosse, muita salivação e as faces podem ficar avermelhadas.
Segunda fase: a depressão do cérebro começa a predominar, ficando a pessoa confusa,
desorientada, com a voz meio pastosa, visão embaçada, perda do autocontrole, dor de cabeça,
palidez; ela começa a ver ou a ouvir coisas.
Terceira fase: a depressão aprofunda-se com redução acentuada do estado de alerta, incoordenação
ocular (a pessoa não consegue mais fixar os olhos nos objetos), incoordenação motora com marcha
vacilante, fala “enrolada”, reflexos deprimidos, podendo ocorrer processos alucinatórios evidentes.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
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Quarta fase: depressão tardia, que pode chegar à inconsciência, queda da pressão, sonhos
estranhos, podendo ainda a pessoa apresentar surtos de convulsões (“ataques”). Essa fase ocorre
com frequência entre aqueles “cheiradores” que usam saco plástico e, após certo tempo, já não
conseguem afastá-lo do nariz e, assim, a intoxicação torna-se muito perigosa, podendo mesmo levar
ao coma e à morte.
Finalmente, sabe-se que a aspiração repetida, crônica, dos solventes pode levar à destruição de
neurônios (células cerebrais), causando lesões irreversíveis no cérebro. Além disso, pessoas que
usam solventes cronicamente apresentam-se apáticas, têm dificuldade de concentração e déficit de
memória.
Os solventes praticamente não agridem outros órgãos, a não ser o cérebro. Entretanto, existe um
fenômeno produzido pelos solventes que pode ser muito perigoso. Estes tornam o coração humano
mais sensível a uma substância que o nosso corpo fabrica, a adrenalina, que faz o número de
batimentos cardíacos aumentar.
A adrenalina é liberada toda vez que temos de exercer um esforço extra, como, correr, praticar
certos esportes etc. Assim, se uma pessoa inala um solvente e logo depois faz esforço físico, seu
coração pode sofrer, pois ele está muito sensível à adrenalina liberada por causa do esforço. A
literatura médica já cita vários casos de morte por arritmia cardíaca (batidas irregulares do coração),
principalmente de adolescentes.
Os solventes quando inalados cronicamente podem levar a lesões da medula óssea, dos rins, do
fígado e dos nervos periféricos que controlam os músculos. Por exemplo, verificou-se, em outros
países, que em fábricas de sapatos ou oficinas de pintura, os operários, com o tempo, acabavam por
apresentar doenças renais e hepáticas. Em decorrência disso, nesses países passou a vigorar uma
rigorosa legislação sobre as condições de ventilação dessas fábricas, e o Brasil também tem leis a
respeito.
Em alguns casos, principalmente quando existe no solvente uma impureza, o benzeno, mesmo em
pequenas quantidades, pode levar à diminuição de produção de glóbulos brancos e vermelhos pelo
organismo.
Um dos solventes mais utilizados nas nossas colas é o n-hexano. Essa substância é muito tóxica
para os nervos periféricos, produzindo degeneração progressiva, a ponto de causar transtornos no
andar (as pessoas acabam andando com dificuldade, o chamado “andar de pato”), podendo até
chegar à paralisia. Há casos de usuários crônicos que, após alguns anos, só podiam se locomover
em cadeira de rodas.
Outras razões associadas a mortes provocadas por inalantes são: sufocamento – acidentes com o uso
de saco plástico, pois no momento da inalação a pessoa coloca o saco plástico na cabeça e pode se
sufocar; quedas – os solventes provocam vertigens e tonturas, podendo levar a quedas e
atropelamentos, devido à incoordenação motora e ao prejuízo de reflexos.
A dependência entre aqueles que abusam cronicamente de solventes é comum, sendo os
componentes psíquicos da dependência os mais evidentes, tais como desejo de usar a substância,
perda de outros interesses que não seja o solvente.
A síndrome de abstinência, embora de pouca intensidade, está presente na interrupção abrupta do
uso dessas drogas, sendo comum ansiedade, agitação, tremores, cãibras nas pernas e insônia.
Pode surgir tolerância à substância, embora não tão dramática em relação a outras drogas (como as
anfetaminas, que os dependentes passam a tomar doses 50-70 vezes maiores que as iniciais).
Dependendo da pessoa e do solvente, a tolerância instala-se ao fim de um a dois meses.
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo)
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