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Análise de

Cenários
Econômicos
Mestre em Administração na Universidade FUMEC. MBA em Gestão de Projetos pela Faculdade
de Estudos Administrativos - FEAD. MBA em Gestão Estratégica de Empresas pelo Centro
Universitário Newton Paiva. Pós-graduação em Docência na Educação Superior pelo Centro
Universitário Newton Paiva. Possui graduação em Administração com habilitação em Marketing
pelo Centro Universitário Newton Paiva. Atualmente é Docente do 7º e 8º períodos do curso de
graduação de Administração de Empresas da Faculdade FEAD e Docente dos cursos de Pós -
Graduação no Senac. Experiência na área de Gestão Empresarial sendo: Implantação e liderança
de projetos de consultoria organizacional; Desenvolvimento e realização de pesquisas de
Marketing em geral (satisfação de clientes, público-alvo; medição e acompanhamento de
resultados...); Planejamento estratégico; Inteligência de Mercado; Inteligência Competitiva; Gestão
Estratégica;
IMPORTANTE: Gestão de Projetos; Atendimento a clientes (pessoa física e jurídica); Implantação e
acompanhamento de softwares de inteligência de mercado; Liderança de equipe no âmbito
Esta apostila é utilizada exclusivamente com fins didáticos na Pós-Graduação do Senac em MG. Não deve ser considerada como base
nacional na área de atendimento ao cliente; Criação, desenvolvimento, implantação e treinamento
para consulta bibliográfica, mas como material orientativo. É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer
meio. Ade software
violação para de
dos direitos informatização e gestão
autor (Lei nº 9.610/98) é crimede processos.
estabelecido peloSócio dadoEstruturarh
artigo 184 Código Penal.Consultoria Ltda,
empresa de consultoria em Recursos Humanos e consultoria em Estratégia.

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Mestre em Administração pela Universidade FUMEC. MBA em Gestão de Projetos pela Faculdade
de Estudos Administrativos - FEAD. MBA em Gestão Estratégica de Empresas pelo Centro
Universitário Newton Paiva. Pós-graduação em Docência na Educação Superior pelo Centro
Universitário Newton Paiva. Possui graduação em Administração com habilitação em Marketing
pelo Centro Universitário Newton Paiva (2006). Atualmente é Docente do 7º e 8º períodos do
curso de graduação de Administração de Empresas da Faculdade FEAD e Docente dos cursos de
Pós - Graduação no Senac. Sólida experiência na área de Gestão Empresarial sendo:
Implantação e liderança de projetos de consultoria organizacional; Desenvolvimento e realização
de pesquisas de Marketing em geral (satisfação de clientes, público-alvo; medição e
acompanhamento de resultados...); Planejamento estratégico; Inteligência de Mercado;
Inteligência Competitiva; Gestão Estratégica; Gestão de Projetos; Atendimento a clientes (pessoa
física e jurídica); Implantação e acompanhamento de softwares de inteligência de mercado;
Liderança de equipe no âmbito nacional na área de atendimento ao cliente; Criação,
desenvolvimento, implantação e treinamento de software para informatização e gestão de
processos; gestão de RH. Administrador da Estruturarh Consultoria em Recursos Humanos e
Gestão Estratégica.
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Ementa

 Sondagem econômica inicial, princípios econômicos associados às


decisões empresariais.

 Custo Brasil: impactos para o ambiente de negócios, crescimento


econômico da produção, renda e despesa nacional.

 Modelagem inflacionaria e sistemas de preços, tributos, juros e


variação cambial.

 Desenvolvimento de inteligência competitiva empresarial.

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Sumário
SONDAGEM ECONÔMICA INICIAL, PRINCÍPIOS ECONÔMICOS ASSOCIADOS ÀS DECISÕES
EMPRESARIAIS.......................................................................................................................................... 8

O QUE E ECONOMIA..............................................................................................................................................8
RECURSOS OU FATORES (OU MEIOS) DE PRODUÇÃO.................................................................................................11
REAÇÃO DAS EMPRESAS.....................................................................................................................................13
MEDINDO O PRODUTO DO PAÍS..............................................................................................................................15

RENDA E DESPESA NACIONAL.................................................................................................................................18

MODELAGEM INFLACIONÁRIA E SISTEMAS DE PREÇOS, TRIBUTOS, JUROS E VARIAÇÃO CAMBIAL.............29

PREÇO...............................................................................................................................................................29
PAPEL DAS TAXAS DE JUROS...................................................................................................................................31
TAXAS NOMINAIS E TAXAS REAIS DE JUROS...............................................................................................................33

JUROS INTERNOS X JUROS EXTERNOS.......................................................................................................................34

TRIBUTOS...........................................................................................................................................................35

VARIAÇÃO CAMBIAL.............................................................................................................................................38

DESENVOLVIMENTO DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA EMPRESARIAL........................................................42

INTELIGÊNCIA COMPETITIVA...................................................................................................................................44

O CICLO DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA...................................................................................................................49

FONTES DE INFORMAÇÃO EM INTELIGÊNCIA COMPETITIVA...........................................................................................51

A PRÁTICA DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA................................................................................................................55

Referências.........................................................................................................................................................60

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Introdução
A economia faz parte do dia a dia, independente de sermos consumidores,
trabalhadores, produtores ou cidadãos. As questões econômicas sejam no
âmbito nacional ou local, sobre a formação de preços, o mercado de trabalho, o
papel do governo e assim por diante, fazem parte do cotidiano tanto de
pessoas como de empresas. Afinal, todos têm alguma limitação seja de
recursos financeiros, físicos ou humanos. Estudar economia não é útil apenas
para entender melhor o mundo que nos cerca, mas principalmente para tomar
melhores decisões.

A microeconomia estuda as unidades (consumidores, firmas, trabalhadores,


proprietários dos recursos etc.) componentes da economia e o modo como
suas decisões e ações se inter-relacionam. Ela cuida, individualmente, do
comportamento de consumidores e produtores, com vistas à compreensão do
funcionamento geral do sistema econômico, a microeconomia está ligada ao
exame das ações dos agentes econômicos privados em suas atividades de
produção e de consumo, e assim, procura investigar as possibilidades de
eficiência e equilíbrio do sistema econômico como um todo.

A macroeconomia é o estudo do comportamento agregado de uma


economia. Enquanto a vida econômica de uma nação depende de milhões de
ações isoladas, realizadas por empresa, consumidores, trabalhadores e
funcionários do governo, o foco da Macroeconomia é a análise das
consequências globais dessas ações individuais.

Antes do século XX, a maior parte da raça humana estava envolvida em


produzir para atender às necessidades básicas da vida. Porém, durante a
Revolução Industrial, muitas fazendas e empresas familiares foram substituídas
por empresas administradas profissionalmente.

O comércio internacional cresceu, com os avanços no setor de transportes.


As comunicações se tornaram uma das principais indústrias mundiais. O setor
de serviços, como entretenimento e viagens, floresceu. Essas tendências se
aceleraram durante a era pós Segunda Guerra Mundial. A prosperidade

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durante a Revolução Industrial também resultou na criação de organizações
empresariais maiores e mais diversificadas.

A progressiva turbulência ambiental começou a exigir novos arranjos


organizacionais e novos tipos de liderança. A necessidade de criação de
sistemas internos de apoio à estratégia, além de novos métodos de
planejamento. A necessidade de adoção de um planejamento orientado para a
gestão da organização hoje é determinada pelas crises, problemas e conflitos
internos, além do aumento das incertezas em um mercado cada vez mais
competitivo e sempre em busca de um desempenho excelente por parte da
organização.

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Sondagem econômica inicial, princípios
econômicos associados às decisões
empresariais.

O que é Economia
A economia de acordo com Mendes (2009) é uma ciência social, tanto
quanto ciência política, a psicologia e a sociologia. Ela pode ser definida
como o estudo da alocação dos recursos escassos na produção de bens e
serviços para a satisfação das necessidades ou dos desejos humanos. Sua
principal tarefa é descobrir como o mundo econômico funciona.

Em qualquer sociedade, o problema básico é alocar recursos fixos e


variáveis para atender aos desejos individuais e coletivos. Nos lugares em
que os recursos são abundantes, o problema de alocação é trivial; naqueles
em que são escassos, a alocação assume importância preponderante. A
economia trata do bem-estar do homem.

Os elementos-chave da atividade econômica são: (a) os recursos


produtivos (R); (b) as técnicas de produção (que transformam os recursos
em bens e serviços – BS); (c) as necessidades humanas (NH).
Esquematicamente, tem-se:

R BS NH.

Já a Macroeconomia segundo Sachs e Larrain (2000) é o estudo do


comportamento agregado da economia. Enquanto a vida econômica de uma
nação depende de milhões de ações isoladas, realizadas por empresas,
consumidores, trabalhadores e funcionários do governo, o foco da
Macroeconomia é a análise das sequencias globais dessas ações
individuais. Por exemplo: certo mês, milhares de empresas aumentam o
prelo de seus produtos, enquanto milhares de outras abaixam seus preços.
Para compreender a alteração geral dos preços, os macroeconomistas vão
analisar uma média das milhares de alterações individuais. Para isso, criam

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e analisam um índice especial de preços, ou seja, uma média dos
individuais, a fim de calcular o valor geral da alteração de preços da
economia.

A abordagem clássica da Macroeconomia, portanto, consiste em observar


as tendências gerais da economia, em vez de examinar as tendências que
afetam isoladamente empresas, trabalhadores ou regiões. Medidas
especiais e resumidas da atividade econômica (produto nacional bruto, taxa
de poupança, índice de preços ao consumidor) revelam a “grande fotografia”
das alterações e tendências. Essas medidas macroeconômicas gerais são a
ferramenta com a qual os macroeconomistas analisam as principais
alterações, em vez de as influencias específicas que afetam somente as
partes individuais da economia.

O problema econômico está centralizado no fato de os recursos


disponíveis ao homem para produzir bens e serviços serem limitados,
escassos, mas a necessidade, ou o desejo, destes variar a ser insaciável.
Para certos bens como o ar, por exemplo, cuja quantidade é maior que a
necessidade, não há uma organização econômica para seu uso, uma vez
que todos os desejos são satisfeitos sem esforço. Contudo, no mundo real, a
maioria dos recursos é escassa relativamente à sua demanda, ou seja, não
existe em quantidade suficiente para atender todas as necessidades.

Por escassez entende-se a situação em que os recursos são limitados e


podem ser utilizados de diferentes maneiras, de tal modo que se deve
sacrificar uma coisa por outra. A seguir são apresentados alguns exemplos
de escassez que são enfrentados no dia a dia segundo (MENDES, 2009):

 Você dispõe de uma quantidade limitada de dinheiro e decide ir ao


supermercado. Lá, tem de escolher entre comprar algumas unidades a
mais de um produto e a menos de outro.

 Seu tempo também é limitado. Se você decidir ler um livro por duas
horas, terá duas horas a menos para se dedicar a outras atividades,
como por exemplo, assistir a um jogo de futebol.

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 No bairro onde você vive, a área geográfica é limitada. Se a prefeitura
construir uma escola pública ou fizer um parque em uma determinada
quadra, haverá uma quadra a menos para a construção de
apartamentos, escritórios ou mesmo uma fábrica.

 No plano nacional, se o governo federal decidir aplicar mais recursos


do Tesouro Nacional para a defesa (aviões-caça, porta aviões, tanques
bélicos, etc.), restarão menos recursos para a educação e a saúde, por
exemplo.

Por causa da escassez, as pessoas, as empresas e o governo


enfrentam situações de escolhas difíceis: você deve decidir como gastar
seu dinheiro ou tempo; a cidade, como utilizar seu espaço geográfico; o
empresário, como obter melhor proveito de sua máquina; e o país, como
aplicar seus recursos escassos – se na defesa nacional, na saúde, ou na
educação.

Na verdade, duas realidades dominam a vida do ser humano: de um


lado, os recursos limitados, e de outro, as necessidades ou os desejos
ilimitados. Essas duas realidades definem escassez – condição em que os
recursos disponíveis são insuficientes para satisfazer a todas as
necessidades humanas.

As escolhas feitas por indivíduos, empresas ou governo determinam as


escolhas da sociedade, cuja essência deve responder a três questões
fundamentais:

1. Que bens e serviços devem ser produzidos?


2. Como eles devem ser produzidos?
3. Quem os consome?

Recursos ou fatores (ou meios) de


produção
Uma sociedade deve utilizar os recursos econômicos, também
conhecidos como fatores ou meios de produção. Os recursos econômicos,

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que constituem a base de qualquer economia, são os meios utilizados pela
sociedade para a produção de bens e serviços que satisfarão as
necessidades humanas.

São três características dos recursos econômicos, conforme (MENDES,


2009):

a) Escassos em sua quantidade, ou seja, limitados, representados por uma


situação em que os recursos podem ser utilizados na produção de
diferentes bens e serviços, de tal modo que é preciso sacrificar um bem ou
serviço por outro.

b) Versáteis, isto é, podem ser aproveitados em diversos usos. Um


determinado recurso pode ser utilizado na produção de diferentes
produtos. A farinha de trigo, por exemplo, pode produzir pão, mas também
pode ser utilizada na produção do macarrão.

c) Podem ser combinados em proporções variáveis na produção de bens e


serviços. Se um insumo importado ficar muito caro, Poe ser substituído por
um insumo nacional.

Quanto à classificação os recursos podem ser agrupados em:

a) Recursos naturais. Consiste em todos os bens econômicos utilizados na


produção diretamente da natureza, como os solos, os minerais, as águas,
a fauna, a flora, o sol, o vento, entre outros. Esses recursos são um
presente da natureza.

b) Recursos humanos. Incluem toda atividade humana utilizada na produção


de bens e serviços. Capital humano é o conjunto de conhecimento e
habilidades que as pessoas obtêm por meio da educação e da experiência
em atividades produtivas.

c) Capital. Abrange todos os bens materiais produzidos pelo homem e que


são utilizados na produção. O fator capital inclui o conjunto de riquezas
acumuladas por uma sociedade, riquezas com as quais um país
desenvolve suas atividades de produção. Cabe ressaltar que, para haver
capital, é fundamental a participação do ser humano, ou seja, não existe o

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fator capital sem o fator trabalho. Entre os principais grupos de riquezas
acumulados por uma sociedade estão os seguintes:

 Infraestrutura econômica, como transportes (rodovias, ferrovias,


hidrovias, portos e aeroportos), telecomunicações (equipamentos e
satélites) e energia (hidrelétricas e termelétricas, linhas de transmissão
e sistemas de distribuição).

 Infraestrutura social, como sistemas de água e saneamento, educação,


cultura, segurança, saúde, lazer e esportes.

 Construções e edificações em geral, sejam públicas ou privadas, como


um galpão ou armazém na indústria, ou um aviário na agricultura, por
exemplo.

 Equipamentos de transporte, como caminhões, ônibus, utilitários,


locomotivas, vagões, embarcações e aeronaves.

 Máquinas e equipamentos, que são utilizados nas atividades de


extração, transformação e prestação de serviços, na indústria de
construção e nas atividades agrícolas.

 Matéria-prima ou insumos, como energia elétrica, óleo diesel, gás,


corantes e matérias químicas para indústria, sementes, fertilizantes,
inseticidas, herbicidas, fungicidas, vacinas, rações e combustíveis para
agricultura, entre outros.

A teoria da utilidade se baseia na constatação de que o consumidor


obtém utilidade ou satisfação pelo consumo de bens e serviços. Pelo termo
utilidade, entende-se o benefício ou satisfação (psicológica) que uma pessoa
consegue ter, resultante do consumo de uma ou mais unidades de produto
ou serviço. A utilidade total se refere à satisfação completa derivada de todas
as unidades consumidas de um bem, sendo, portanto, um termo aplicado a
cada produto ou serviço consumido por um individuo e não uma medida total
de satisfação que um indivíduo obtém pelo consumo de todos os bens.
Apesar da dificuldade de se mensurar a utilidade, por causa do caráter
subjetivo do consumidor, este tem condições de distinguir entre níveis

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maiores e menores de satisfação ao consumir determinado bem ou serviço.
Assim quanto mais o individuo consumir um bem por unidade de tempo,
maior será a sua satisfação ou utilidade total, até certo ponto. Em algum
nível de consumo, a utilidade total do produto alcançará um máximo, ou
ponto de saturação; portanto, a utilidade total cresce a taxas decrescentes,
atinge um ponto máximo e pode até decrescer.

Reação das empresas


As mudanças geradas no ambiente macroeconômico levaram as
empresas a adotar uma série de medidas com o objetivo de se tornarem
mais competitivas. A produção interna, que sempre foi altamente protegida,
enfrenta o desafio da competitividade, o que passa necessariamente pela
obtenção de ganhos de produtividade. Sem condições de se fixarem preços,
a produtividade passa a assumir um papel crítico para as empresas na nova
economia. Contudo, embora o aumento da produtividade seja uma condição
necessária, é longe de ser suficiente para garantir a sobrevivência, porque,
acima de tudo, é preciso ter competitividade global. (LANZANA, 2008).

O desafio da competitividade leva naturalmente à tendência de


especialização. Ao contrário do ocorrido na década de 70, quando as
empresas diversificaram suas linhas de produção, o novo ambiente levou à
concentração da produção em um número menor de produtos. A
reestruturação das empresas ocorreu em torno de seu negócio principal, ou
o core business. A nova visão está associada à própria teoria do comércio
internacional, ou seja, concentrar a produção de bens em relação aos quais
se tem maior vantagem competitiva.

O início do processo de abertura da economia e de mercado atingiu


fortemente alguns setores intensivos em mão de obra, como foram os casos
dos gêneros têxtil e calçadista. A busca de competitividade desses setores
veio por meio de realocação geográfica de suas atividades, com a
transferência das regiões Sul e Sudeste para o Nordeste.

Além dos incentivos fiscais e da possibilidade de aquisição de terrenos a


custo mais baixos, empresas que se transferiram foram beneficiadas pelo

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menos custo da mão de obra e passaram a ser globalmente competitivas. A
atuação em mercados altamente competitivos levou muitas empresas, na
impossibilidade de atuarem sobre os preços, a procurar um diferencial na
qualidade de serviços oferecidos. Mesmo na área industrial, o serviço
“embutido” permite gerar algum grau de diferenciação.

A maior inserção do país na economia mundial ocorreu no âmbito de


grandes transformações na economia internacional, derivadas do processo
de globalização. A redução substancial dos custos de transportes,
comunicações, e informática criou as condições para uma forte
internacionalização da economia, com grandes consequências econômicas,
políticas e sociais.

O excepcional crescimento dos investimentos diretos estrangeiros, com


empresas multinacionais espalhando-se por todo o mundo, fez com que as
decisões da produção e comércio internacional ficassem completamente
dependentes, ao mesmo tempo em que se verificava uma crescente
interligação entre os mercados financeiros e de bens.

Como salienta o estudo desenvolvido pela Fundação Instituto e


Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (FIPE – USP), a
globalização, de uma forma geral, e a experiência brasileira com o Plano
Real deixam lições importantes para o país.

Em primeiro lugar, é importante destacar que a globalização é uma


realidade e não uma escolha tem vida própria e independe dos governos.
Participar do processo não é uma opção; na realidade, a estratégia dos
países precisa ser direcionada no sentido de alanvacar o desenvolvimento,
aproveitando as oportunidades geradas pelo processo. Assim, fica clara a
falência da autossuficiência como objetivo nacional. Cada vez mais a
tendência é de especialização e não de integração vertical.

Em segundo lugar, vale observar que os custos de transição são


inerentes à passagem de uma economia fechada e com elevadas taxas de
inflação para uma economia aberta e com estabilidade, no contexto do
processo globalizado. Setores até então protegidos são eventualmente

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atingidos pelo processo, principalmente aqueles que sobrevivem somente
em economias fechadas. A ineficiência acumulada, característica de países
fechados, faz com que os ajustes na busca de maior competitividade
acabem reduzindo a capacidade de criação de emprego no curto prazo.
Existem ganhadores e perdedores no processo.

A terceira lição importante pode ser extraída das crises do México, da


Ásia, da Rússia e do próprio Brasil. Ao mesmo tempo em que gera novas
oportunidades, a globalização impõe custos extremamente elevados a
países que adotam políticas domésticas inconsistentes. Em nenhum outro
país da história recente, os “fundamentos” da economia foram tão
destacados. A livre movimentação dos fluxos de capitais financeiros e o
crescente investimento direto externo, que podem-se constituir em
importantes estímulos do processo de desenvolvimento econômico, serão
“ancorados” nas economias em que há confiabilidade. Esses fluxos (que
financeiros, quer de investimentos de risco) não tenderão a migrar dos
países, se a política econômica for estável e consistente, e, por
consequência, criar perspectivas favoráveis de expansão.

Medindo o Produto do País


O principal objeto da macroeconomia é estudar elementos que
determinam o nível de produção, de emprego e de preço (leia-se inflação).
Há períodos em que a economia consegue fazer com que a produção e o
consumo sejam elevados. Nestes casos, observa-se que os investimentos
crescem e que o desemprego é baixo. Compreende-se que está havendo
prosperidade nacional e que há crescimento econômico. Mas, há também a
situação inversa, ou seja, queda da produção, baixo consumo, desemprego
em alta e desestímulo aos investimentos.

Determinar o nível produção – e consequentemente, de emprego dos


fatores de produção – é o mesmo que medir crescimento ou decréscimo da
economia. Tendo em vista que na produção global de um país os mais
variados tipos de produtos e serviços (cimento, pão, sapatos, geladeira,
carnes, milho, bananas, televisão, soja, trigo, melancia, corte de cabelo,

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serviços médicos e milhares de outros bens e serviços) seria muito difícil,
para não dizer impossível, agregá-los, pois não tem sentido somar melancia
com televisão ou bananas com grãos. Para resolver esse problema de juntar
tudo, de obter um único indicador – um único valor – que incluísse todos os
bens e serviços, os economistas criaram o conceito “produto”.

Sendo assim é com o intuito de avaliar o nível de produção de um país


que se calcula o “produto”, o qual pode ser avaliado sob duas óticas: a do
produto interno bruto (PIB) e a do produto nacional bruto (PNB). Tanto o PIB
quanto o PNB são representados por um único número, que procura
expressar o nível de atividade econômica em todos os setores, ou seja, a
produção de todos os bens e serviços (BS) de um país em um determinado
ano e para estimá-los é preciso somar a produção de bananas, cimento,
televisões, pães, carnes, serviços médicos, corte de cabelo e todos os
demais BS produzidos durante o ano. Entretanto, como as unidades dos BS
variam, a única maneira de somar cada um deles é expressando seus
valores por meio da multiplicação do preço por que foram vendidos pelas
respectivas quantidades. Feito isso, chega-se à estimativa do produto, que
expressa um único valor monetário global de todos os bens e serviços finais
produzidos no país durante um determinado período de tempo, em geral, um
ano.

Importante distinguir PIB e PNB: ambos medem o valor monetário da


produção global de um país em determinado ano, mas o PIB inclui produção
situada dentro dos limites geográficos de uma nação, daí o nome interno,
enquanto o PNB inclui a produção pertencente apenas aos indivíduos de
uma nação, daí o nome nacional. No PIB brasileiro, portanto, está incluída
toda a produção gerada dentro do Brasil, não importando se essa foi obtida
de recursos brasileiros ou estrangeiros, ou seja, por empresas nacionais ou
do exterior. Já o PNB brasileiro computa apenas a produção oriunda de
fatores de produção pertencentes a brasileiros, não importando se estes se
encontram dentro ou fora do país. O Brasil tem que enviar para o exterior a
renda obtida dentro do território brasileiro pelos fatores de produção
estrangeiros situados no Brasil. Do mesmo modo, o Brasil recebe do exterior
a renda obtida pelos fatores de produção brasileiros situados no exterior.

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Essa distinção entre PIB e PNB é importante porque alguns países,
como o Brasil, recebem parcela significativa de fatores de produção
pertencentes a estrangeiros que se encontram dentro de seus limites
geográficos. No caso do Brasil essa parcela de fatores estrangeiros é muito
maior que a dos fatores de produção pertencentes a brasileiros que estão
localizados no exterior, o que significa que enviamos um volume de renda
muito maior ao exterior do que efetivamente recebemos. É por isso que no
Brasil o PIB é maior que o PNB. Em outras palavras, os estrangeiros
produzem (em valor monetário) mais dentro do Brasil que os brasileiros
produzem lá fora. Já nos Estados Unidos, que possuem significativa parcela
de seus fatores de produção localizados no exterior, ocorre o contrário: O
PNB norte-americano é maior que seu PIB.

Há duas grandes vantagens em se calcular o produto interno bruto. A


primeira é comparar o crescimento da economia em diferentes períodos de
tempo. Por exemplo, pode-se dizer que a economia brasileira cresceu muito
mais no período de 1965-1973 (8% ao ano) que nos períodos seguintes. A
segunda vantagem é permitir comparação de crescimento econômico entre
países. (MENDES, 2009)

Um dos grandes objetivos de um país é ter crescimento econômico, o


qual pode ser medido pelo PIB per capita, ou seja, o valor monetário do
produto interno bruto dividido pela população do país. Na realidade, o PIB
per capita permite avaliar a quantidade média de bens e serviços para cada
brasileiro. Por exemplo, ao final de 2008, o PIB brasileiro estava avaliado em
aproximadamente R$2,9 trilhões, os quais, divididos pela população total ao
redor de 190 milhões de habitantes, resultam em um PIB per capita
aproximado de R$15,2mil; ou seja, no final de 2008, cada brasileiro “deveria”
ter ficado com um valor aproximado de R$15,2 mil, equivalentes a produtos
interno bruto.

O verno no condicional (‘deveria’) está correto, porque, devido ao


problema da perversa distribuição da riqueza no Brasil, em que uns poucos
têm muito e muitos têm pouco, uma grande parcela da população brasileira

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– a mais pobre – tem, em média, um valor de produto interno bruto abaixo
do R$15,2 mil, ou o equivalente a R$6,6 mil.

Renda e Despesa Nacional


A microeconomia estuda as unidades (consumidores, firmas,
trabalhadores, proprietários dos recursos etc.) componentes da economia e o
modo como suas decisões e ações se inter-relacionam. Ela cuida,
individualmente, do comportamento de consumidores e produtores, com vistas
à compreensão do funcionamento geral do sistema econômico, a
microeconomia está ligada ao exame das ações dos agentes econômicos
privados em suas atividades de produção e de consumo, e assim, procura
investigar as possibilidades de eficiência e equilíbrio do sistema econômico
como um todo.

O Quadro 1 a seguir apresenta de forma clara as características dos


fluxos real e monetário entre famílias e empresas nos mercados de produtos e
de fatores:

Quadro 1: Características dos fluxos real e monetário entre famílias e empresas nos mercados de produtos e de fatores
Fonte: MENDES, 2009, p. 16.

O sistema econômico, ao colocar em funcionamento seu aparelho


produtivo, combina os recursos disponíveis às empresas, gerando a produção
de bens e serviços com a finalidade de satisfazer as necessidades humanas.

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Esse aparelho produtivo gera um diagrama de fluxo circular que contém quatro
fluxos: (1) fluxo físico de bens e serviços, também chamado de fluxo real; (2)
fluxo físico de fatores de produção; (3) fluxo monetário, que representa custos
para as empresas, de um lado, e, renda das famílias, de outro; (4) fluxo
monetário, que representa o dispêndio, as despesas ou custo de vida das
famílias, de um lado, e a receita para as empresas, de outro (Figura 1).

Figura 1: Sistema econômico mostrando a interação entre famílias, empresas e governo nos mercados de produtos, de
recursos, financeiro, de capitais e externo
Fonte: MENDES, 2009, p. 16.

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Neste diagrama, é possível visualizar a interação entre as empresas e
as famílias ou os consumidores, e é a partir dessa interação que se chega
ao produto interno. A avaliação do PIB pode ser feita por três dos quatro
fluxos acima – fluxo da produção, fluxo da renda e fluxo do dispêndio – e,
cada um deles permite uma ótica ou um ângulo diferente de visão.

Pela ótica da produção (ou do Produto), tem-se que as empresas


convertem os fatores de produção em produtos (bens e serviços), que são
alocados à disposição dos consumidores. Esses bens e serviços destinam-
se ao consumo das famílias (bens duráveis ou de uso imediato) ou voltam
ao processo de produção (bens intermediários, que são as matérias –
primas ou os insumos, e bens de capital), para, então, gerar produtos para o
consumo final. A avaliação do PIB pelo fluxo da produção consiste,
basicamente, em computar, a preços de mercado, o valor dos bens e
serviços finais produzidos pelo sistema em um determinado período de
tempo. Segundo essa ótica, o produto é computado mediante a avaliação
dos valores agregados (adicionais) por atividades produtivas, ou seja, em
cada nível de produção por cada um dos três principais setores da
economia. Esses três setores são:

 O setor primário, que inclui as atividades primárias, ou seja, as


lavouras temporárias e permanentes, a produção animal e seus
derivados, e a extração vegetal.

 O setor secundário ou industrial, que engloba as atividades


secundárias de três categorias de indústrias: a extrativa mineral, a de
transformação e a da construção.

 O setor terciário, que inclui o comércio e os serviços de transporte,


comunicações, intermediação financeira, administração publica e
outros serviços, como os dos profissionais liberais – médicos,
advogados, dentistas, psicólogos, entre outros – e das domésticas; as
chamadas atividades sociais, como: ensino particular e assistência
médico – hospitalar privada; a prestação de serviços urbanos, como:
alojamentos e alimentação, conservação e reparação de bens de uso
durável, diversões e serviços domésticos remunerados.

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Cabe ressaltar que a categoria “outros serviços” é responsável por mais
de 40%do valor adicionado nas atividades terciárias, no Brasil. Do PIB
brasileiro em média, o setor primário é responsável por 10%, o setor
secundário contribui com 33% e o setor terciário responde por mais da
metade 57%.

O segundo método de avaliação do PIB é pelo fluxo da renda. Por renda


estende-se a remuneração, em reais, pelo uso dos fatores de produção. A
venda dos bens e serviços produzidos nos três setores econômicos resulta
nas receitas das empresas. É com essa receita que os empresários pagam
os trabalhadores, os juros sobre os empréstimos feitos, os aluguéis de seus
imóveis, os arrendamentos de terras, os dividendos aos portadores de ações
de suas empresas e, também, obtêm lucros. Isso significa que a renda
consiste na remuneração de todos os fatores utilizados pelas empresas para
a fabricação de seus produtos ou a prestação de seus serviços. Desse
modo, sob a ótica da renda, o PIB pode ser dividido em lucros, salários,
juros, arrendamentos, aluguéis e dividendos. Em outras palavras, a receita,
que mede o valor da produção, ou seja, do produto, é distribuída entre vários
componentes da renda. É por isso que se diz que a renda nacional (RN)
equivale ao PIB. Assim, a renda nacional é a soma de todas as
remunerações pagas aos que detêm os fatores de produção, a RN
representa uma grande totalização dos custos dos recursos econômicos, os
quais correspondem às remunerações pagas pelas empresas:

a) Aos recursos humanos por elas mobilizados, sob a forma de salários, isto
é, a remuneração pelo fator trabalho;

b) Pela utilização de imóveis, sob a forma de aluguéis, arrendamentos e


depreciações;

c) Pelo uso de recursos financeiros de propriedade de unidades familiares,


sob a forma de juros, isto é, remuneração pelo fator capital e;

d) Pelo uso do capital e da capacidade administrativa e empreendedora do


empresário, sob a forma de lucros auferidos pelas empresas. Essa renda

21
(Y) é aplicada em consumo (C), poupança (S) e pagamento de impostos
(T). Assim: Y = C + S + T.

No Brasil, estima-se que a remuneração pelo trabalho (salários),


excluindo as contribuições sociais, represente aproximadamente 40% da
renda nacional, cabendo os restantes 60% à remuneração do fator capital
(aluguel, arrendamento, depreciação e juros) e da capacidade tecnológica e
empreendedora do empresário. Vale destacar que, na década de 1960, a
participação do trabalho na renda nacional estava em torno de 60%,
restando 40% para a contribuição do capital, tecnologia e custos
empresariais. Nos países desenvolvidos, a participação do trabalho na renda
nacional oscila entre 60% e 70%. Assim, pela ótica da renda, dizer que o PIB
per capta cresceu 3% em determinado ano é o mesmo que dizer que a
renda per capta cresceu 3% naquele ano.

O terceiro método de avaliação da atividade econômica de um país (isto


é, de estimar o produto) é pelo fluxo do dispêndio (também conhecido como
fluxo da despesa nacional). A despesa nacional é o gasto dos agentes
econômicos com o produto interno bruto, ela revela quais os setores
compradores do PIB. Para um país com economia aberta, que mantém
relações comerciais e financeiras com restante do mundo, sua oferta
agregada passa a incluir, além do PIB, que é a oferta interna de bens e
serviços, as mercadorias e os serviços importados por este país. Assim,
além do PIB, o Brasil importa mercadorias produzidas no exterior para serem
oferecias internamente. Somando-se as importações (M) ao nosso PIB,
temos o que se chama de oferta agregada (Sa).

Sa = PIB + M.

“Pela ótica do produto, o destino da produção é: o consumo por parte das famílias ou a volta para o
processo produtivo (na forma de bens e intermediários ou insumos e capital). Com a renda (Y), que
é a remuneração pelo uso dos fatores, as pessoas podem consumir, poupar e/ou pagar impostos.
A oferta agregada inclui, no PIB, a importação de bens e serviços que se tornam disponíveis aos
brasileiros. A demanda agregada representa o gasto global no país, incluindo o consumo das
famílias e do governo, o investimento das empresas e as exportações líquidas”. (MENDES, 2009,
p. 138, 139, 140)

22
No que se refere à demanda agregada, ocorre o mesmo: além das despesas
internas em consumo e em formação bruta de capital por parte das famílias,
das empresas e do governo, somam-se as exportações brasileiras de
mercadorias e serviços. É importante lembrar que as exportações fazem parte
do PIB gerado internamente no Brasil; por isso têm efeito positivo para a
economia, uma vez que geram renda internamente.

Da = C + G + I + X.

Já as importações desviam a renda gerada internamente para aquisição de


produtos procedentes do exterior, elas transferem recursos para outras
economias, gerando renda lá fora, mas não aqui dentro. Tendo em vista que o
objeto da macroeconomia é calcular o PIB e que as importações não fazem
parte dele, têm-se então que deduzir as importações das exportações.

Analisando que para uma economia estar em equilíbrio no mercado a


demanda agregada tem que ser igual à oferta agregada, igualando-se as
equações da Da com a da Sa tem-se que o destino do PIB é atender o consumo
de 190 milhões de brasileiros, a demanda do governo, os investimentos das
empresas, as exportações, deduzindo-se as importações.

PIB = C + G + I + X - M.

Assim, pode-se dizer que o produto nacional é absorvido ou despendido


interna e externamente. Internamente, ele é despendido por famílias (que
consomem), empresas e governo (que consomem e investem), e,
externamente, por meio da demanda líquida externa.

A expressão (X – M) representa o dispêndio externo líquido, que pode ser


positivo ou negativo. Essa diferença em relação ao PIB indica a proporção da
demanda externa líquida relativamente ao dispêndio total. No Brasil, até
recentemente, o déficit com o exterior foi histórico. O saldo das transações
correntes, que inclui a balança comercial, chegou a ser deficitário em US$33,4
bilhões em 1998, diminuindo nos três anos seguintes para algo próximo a
US$24 bilhões. A melhora, a partir dos anos 2000, tem sido, em grande parte,
devida ao aumento no saldo da balança comercial, que cresceu de US$2,6

23
bilhões em 2001 para US$46 bilhões em 2006, caindo em 2007 para US$40
bilhões e para US$24,7 bilhões em 2008.

Resumindo demonstra-se que:

a) Para gerar um produto, há necessidade de pagar renda aos fatores que


foram utilizados na sua geração, o que significa que a produção agregada
(leia-se: PIB) é igual à renda nacional;

b) Essa renda destina-se ao consumo, à poupança e ao pagamento de


impostos;

c) O produto nacional é absorvido em consumo, investimentos, gastos do


governo e exportações líquidas (X – M).

Como a soma dos dispêndios em consumo, investimento e exportações


menos importações equivale também ao PIB, conclui-se que há uma
interdependência, ou equivalência, entre PIB, renda nacional e despesa
nacional.

RENDA NACIONAL = PIB = DESPESA NACIONAL

A tabela a seguir mostra a composição do produto interno bruto do Brasil


sob as três óticas: da produção, da despesa e da renda, para três anos
selecionados.

24
Tabela 1: Composição do Produto Interno Bruto sob as três óticas: a da produção, a das despesas e da renda, 2003, 2004
2005
Fonte: IBGE, de acordo com a nova série.

As famílias vendem e as empresas compram os serviços de trabalho,


capital, terra e empreendedorismo nos mercados de recursos (fatores). Para os
serviços destes recursos, as empresas remuneram as famílias sob a forma de:
salários pelos serviços do trabalho, juros pelo uso do capital, aluguel pelo uso
da terra e lucro por empreender. Essa renda agregada recebida por todas as
famílias em pagamento pelos serviços dos recursos é Y.

As empresas vendem e as famílias compram bens e serviços de consumo,


tais como aparelhos de TV, chocolate, arroz, feijão, geladeiras, automóveis,
etc., nos mercados de bens e serviços. O pagamento total que as famílias
fazem por estes bens e serviços é dispêndio de consumo, expresso pelo fluxo
C (Figura 2).

As empresas por sua vez, compram e vendem novos equipamentos de


capital (máquinas, por exemplo) no mercado de bens e parte do que produzem

25
pode não ser vendida, sendo incorporada ao estoque. A aquisição de novas
plantas industriais, máquinas e equipamentos e sua adição ao estoque são
consideradas investimentos. Na Figura 2, o investimento é representado pelo
pela letra I, onde o investimento flui das empresas para os mercados de bens
(de capital) e de volta para as empresas, porque algumas delas produzem bens
de capital e outras compram.

As empresas financiam seus investimentos emprestando dinheiro das


famílias no mercado financeiro – as poupanças das famílias fluem para o
mercado financeiro (representado por S), que financia as empresas
(representado por E, como empréstimo). Incorpora-se agora o governo e o
restante do mundo.

Figura 2: Fluxo circular da renda e dos dispêndios na economia de um país (o caso brasileiro)
Fonte: MENDES, 2009, p. 142.

Os governos compram bens e serviços – são as chamadas compras


governamentais – das empresas, e o fluxo de pagamento e representado pó G
(Figura 2). Os governos usam os impostos e as taxas (representadas por T)
para pagar por suas compras. O fluxo monetário T corresponde a um volume
líquido, que é igual aos impostos e às taxas menos os pagamentos de
transferências recebidos do governo (para famílias e empresas, sob a forma de

26
benefícios da seguridade social, desemprego e subsídios) e menos o
pagamento de juros pelo governo por suas dívidas. Quando as compras do
governo (G) excedem o valor líquido T, diz-se que tem déficit, o qual financiado
por empréstimos governamentais (Eg) nos mercados financeiros.

Quanto ao resto do mundo, as firmas exportam bens e serviços para os


demais países e importam bens e serviços do restante do mundo. Ao valor das
exportações (E) menos o valor das importações (M) dá-se o nome de
exportações líquidas. Se o valor das exportações exceder o valor das
importações, tem-se um saldo positivo e os dólares fluirão do restante do
mundo para as empresas brasileiras. Mas, se o valor das exportações for
menor que os das importações têm-se um saldo negativo e os dólares fluirão
das empresas brasileiras para o restante do mundo. Se o valor líquido das
exportações brasileiras for positivo, o Brasil estará em superávit e o restante do
mundo estará em déficit. Mas, se for negativo, estaremos em déficit, e para
financiá-lo o Brasil emprestará do restante do mundo ou venderá ativos que
estão no estrangeiro e são de propriedade de brasileiros.

Por exemplo: a Gol ou a Tam pode tomar dólares em Nova York para
financiar a compra de novos aviões da Boeing. Essas transações ocorrem nos
mercados financeiros e são mostrados na Figura 2 pela sigla Ee (empréstimos
estrangeiros). Portanto o fluxo dos dispêndios compreende: despesas de
consumo, investimentos, compras governamentais e exportações líquidas. O
fluxo da renda é a renda agregada, que é igual aos gastos agregados.

Como as receitas das empresas pela venda de bens e serviços são iguais
aos gastos globais (C + I + G + X) e tudo o que as firmas recebem da venda de
seus produtos e serviços é pago como renda aos proprietários dos recursos
que são empregados, tem-se que:

Y=C+I+G+X

Ou seja:

O PIB brasileiro, em 2005, pela ótica dos dispêndios, em bilhões de reais:

C = 1.727,7; I = 347,9; G = 427,5; E = 324,8; M = 247,3.

27
Finalmente, uma observação sobre o método usado para medir o produto
interno bruto, que também serve para medir a contribuição de uma indústria
para o PIB. Para medir o valor da produção de uma determinada indústria,
como a do pão, por exemplo, considera-se apenas o valor adicionado (ou
agregado) por essa indústria, que vem a ser o valor da produção de uma
empresa menos o valor dos bens intermediários que ela compra de outras
empresas. Ou seja, é a soma das rendas (incluindo o lucro) pagas aos
recursos usados pela empresa, conforme demonstrado a seguir:

Valor adicionado no pão


Produtor Valor agregado do agricultor
Moinho Valor do trigo Valor agregado do moinho
Panificadora Valor da farinha Valor agregado da padaria
Consumidor Valor do pão no varejo = gasto final do consumidor
Tabela 2: Valor da produção do pão
Fonte: MENDES, 2009, p.143.

Modelagem inflacionária e sistemas de


preços, tributos, juros e variação cambial.

Preços
A maioria das teorias da demanda de moeda começa com a função especial
da moeda como meio de pagamento. O dinheiro presta “serviço de liquidez”
que os outros ativos não prestam. Sua utilidade como meio para transação
explica por que as pessoas mantêm dinheiro em seu poder mesmo que ele
tenda a ser dominado pelos outros ativos financeiros. Isso significa que os
outros ativos, como, por exemplo, os títulos do Tesouro, são tão seguros
quanto o dinheiro como investimento financeiro, e ainda pagam uma taxa de
juros maior que a do dinheiro. A moeda de alto poder de expansão não paga
juros, os depósitos à vista e as outras formas de moeda geralmente rendem
menos juros que outros títulos seguros.

28
Quando se começa a considerar a moeda, não se pode deixar de analisar o
papel dos preços e do nível de preços. Preço é simplesmente a taxa à qual o
dinheiro pode ser trocado por bens. Se o preço de um fator P (por exemplo, P
dólares nos Estados Unidos), isto significa que P unidades de moeda podem
ser trocadas por uma unidade desse bem. (SACHS E LARRAIN, 2000)

A moeda é o instrumento básico para que se possa operar no mercado e


sem ela o processo de troca seria extremamente limitado. A moeda é o ativo
utilizado para realizar as transações por ser o que possui maior liquidez, a
saber, a capacidade de converter-se rapidamente em poder de compra, isto é,
de transformar-se em mercadorias.

As pessoas e empresas demandam moeda por três razões básicas:

a) Necessidade de adquirir bens e serviços (transação);

b) Necessidade de atender a compromissos não previstos (precaução);

c) Oportunidade de uma aplicação interessante; mas, enquanto esse


momento não chega, elas mantêm a moeda (demanda para especulação).

A demanda por moeda é inversamente relacionada à taxa de juros. Pode-se


chegar a essa relação se pensar na taxa de juros como o custo de
oportunidade para reter moeda, o que se perde pelo fato de guardar moeda.
Assim, quanto maior for a taxa de juros, maior será o custo de oportunidade de
reter moeda, e, portanto, menor será a demanda por moeda. A demanda por
moeda depende tanto da renda dos consumidores como da taxa de juros
nominal – quanto maior for a renda, maior será a demanda por moeda; afina, o
aumento da renda do consumidor expande a demanda por bens e serviços e,
consequentemente, a necessidade de moeda aumenta. (MENDES, 2009)

O controle de preços começou a ser praticado no Brasil na década de 50,


com a criação da Comissão Nacional para Estabilização dos Preços (Conep).
Posteriormente, no ano de 1968, a Conep foi substituída pelo Conselho
Interministerial de Preços (CIP).

29
Ao criar o CIP, o governo tinha em mente colocar em funcionamento um
sistema de controle de preços flexível e adequado às particularidades setoriais.
A base do sistema seria constituída por um acompanhamento de preços dos
produtos, de modo a orientar a atuação do poder público, objetivando
regularizar a oferta de produtos. Além disso, previa a adoção de incentivos a
novos investimentos nos setores em que se observassem desequilíbrios.

O que se visava com a criação do CIP era eliminar a rigidez do controle


verificada durante a atuação da Conep, melhorar as condições de
operacionalidade da entidade controlada, além de fornecer ao governo as
informações básicas para a adoção de medidas que visassem a eliminação de
desequilíbrios de curto prazo.

Embora os objetivos que nortearam a criação da CIP visassem melhorar o


sistema de controle de preços, pela eliminação das deficiências constatadas na
experiência da Conep, o que se verificou, na prática, foi uma série de
imperfeições e distorções na atuação do órgão. Continuou prevalecendo a
burocracia, a utilização de artifícios para “segurar” aumentos de preços e,
acima de tudo, não constituía órgão de identificação de “pontos de
estrangulamento” do lado da oferta. A experiência do CIP foi depois repetida
pelo órgão que o viria substituir no início da década de 80, que foi a Secretaria
de Abastecimento e Preços (Seap).

Simultaneamente à presença desses órgãos controladores de preços, o país


assistiu a quatro tentativas de congelamento: Plano Cruzado (1986), Plano
Bresser (1987), Plano Verão (1989) e Plano Collor (1990). O próprio número de
experiências mostra, de uma lado, que os órgãos controladores de preços não
atingiram seu objetivo, o mesmo ocorrendo com as fracassadas tentativas de
congelamento. Pode-se depreender também que, sem o manejo adequado das
políticas fiscal, monetária e cambial, o congelamento de preços não contribuiu
sequer para “quebrar” a inflação inercial, a não ser por curto espaço de tempo.

Em julho de 1994, por ocasião da implantação do Plano Real, o controle de


preços é extinto. A partir deste período, o país registra taxas mais reduzidas de
inflação da história recente do Brasil, deixando claro que o controle de preços

30
ou congelamento de preços é completamente dispensável como instrumento
da política econômica. (LANZANA, 2008)

Papel das taxas de juros


A taxa de juros é, na realidade, o preço do dinheiro ou da moeda. É aquilo
que se ganha pela aplicação de recursos durante determinado período de
tempo, ou, inversamente, o que se paga pela obtenção de recursos de
terceiros (empréstimo) durante determinado período.

Sempre que o governo reduz ou aumenta os meios de pagamento, há uma


tendência de elevação ou redução das taxas de juros, porque a oferta de
empréstimos se contrai ou se expande. Na realidade, a taxa de juros tem um
papel fundamental nas decisões dos agentes econômicos.

No âmbito familiar, afeta as decisões de consumo de duas formas: na


disposição de adquirir um bem em curto prazo (se a taxa de juros sobe, as
prestações aumentam) e na decisão entre consumir e poupar (juros mais
elevados levam a aumento da poupança e redução do consumo).

Já do lado empresarial, as taxas de juros interferem nas decisões de


investimento: quanto mais elevadas as taxas de juros, menos os empresários
estarão dispostos a investir: de um lado, porque o custo de tomar emprestado o
recurso fica mais alto, e de outro, porque pode ser mais atraente aplicar o
recurso no mercado financeiro do que na atividade produtiva. Além disso,
quando os juros estão altos, as empresas procuram trabalhar com o menor
estoque possível, tento de produtos finais como de matérias – primas, porque o
custo de “carregar” o estoque fica muito alto (ou paga juros ou está deixando
de ganhar no mercado financeiro).

Para o governo, os juros também têm um papel relevante por causa de


dívida interna. Quando as taxas de juros sobem, o custo de rolagem da dívida
interna aumenta, pressionado o déficit público e, por consequência, a própria
divida interna.

As taxas de juros têm papel importante para as contas externas. Quando o


país está necessitando de dólares, as taxas internas de juros podem ser

31
elevadas para atrair recurso do exterior, que vêm em busca de rendimentos
mais altos.

No Brasil, há uma série de taxas de juros que convivem umas com as


outras. A taxa de juros se forma basicamente no mercado monetário, na
interação entre demanda por moeda e oferta de moeda.

As taxas de juros definidas pelo próprio governo devem funcionar como


taxas básicas do mercado, sobre as quais se formam as demais taxas, de
acordo com os riscos e os prazos de operações. No Brasil as taxas de juros
definidas pelo governo são:

Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), que é a taxa de


negociação dos títulos públicos. Ela regula as operações diárias com os títulos
públicos, serve como taxa básica da economia. A Selic é considerada a taxa
básica da economia porque é usada nos empréstimos que o Bacen faz a
instituições financeiras; por isso, serve de referência para a formação de todas
as outras taxas de juros.

A TR (Taxa Referencial de juros), inicialmente, era calculada com base na


média ponderada dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) dos 30
maiores banco do país, com a aplicação de um redutor; atualmente é corrigida
pela Selic. A TR é utilizada na remuneração da caderneta de poupança e na
correção dos saldos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). O rendimento
das cadernetas de poupança é calculado de acordo com a TR mais juros de
0,5% ao mês. (MENDES, 2009)

A TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), criada para vigorar trimestralmente,


com base nas rentabilidades médias anualizadas dos títulos da dívida externa
com prazo mínimo de dois anos e dos títulos da dívida com prazo mínimo de
seis meses, tem ponderação dos títulos das dividas externa e interna de 75% e
25%, respectivamente.

Além dessas três taxas definidas pelo governo, as quais são referenciais,
outras taxas também referencial, mas definida pelo mercado, são os CDBs
(Certificados de Depósitos Bancários), controlados pela Central de Custódia e
de Liquidação Financeira de Títulos (Cetip).

32
Um aspecto importante sobre a taxa de juros no Brasil diz respeito à
disparidade, ou seja, à grande discrepância que existe no spread bancário, o
que é a diferença entre a taxa de captação (taxa de juros recebida pelo
aplicador) e a taxa de aplicação das instituições financeiras (taxa de juros que
é cobrada pelos bancos para financiar o tomador, que pode ser uma empresa
ou um consumidor). Um aplicador em fundos de renda fixa recebe em torno de
12,% ao mês, as empresas pagam ao redor de 4% ao mês e o consumidor tem
que pagar até acima de 7% ao mês.

Taxas nominais e taxas reais de juros


A taxa nominal de juros refere-se à taxa de juros que é cobrada ou paga
independentemente da taxa de inflação. Já a taxa real é após “descontada” a
inflação. Assim, se a taxa nominal de juros é de 20%, e a inflação também de
20%, a taxa real de juros é de 0%.

A taxa real de juros pode, inclusive, ser negativa, se a taxa nominal de juros
for inferior à taxa de inflação, o que já ocorreu na economia brasileira durante
vários períodos. Em alguns meses de 1999 e no início de 2000, observaram-se
taxas reais de juros negativos, em função das oscilações na taxa de inflação.
(LANZANA, 2008)

Em certos casos, é possível saber antecipadamente qual será a taxa real de


juros. Alguns ativos financeiros especificam o pagamento em termos reais,
relacionando o pagamento futuro com a inflação que vai haver. Esses ativos
são conhecidos como ativos indexados. Em muitas nações em
desenvolvimento, com uma taxa de inflação alta e variável, a única maneira de
redigir contratos financeiros aceitáveis para ambas as partes é eliminar o risco
da inflação por meio de uma indexação. Um título indexado rende o valor da
inflação (seja qual for) mais uma determinada taxa real especificada. Nos
países que tem uma história de alta inflação, os ativos financeiros com
vencimento superior a um ano (e, às vezes, de seis meses e até menos)
normalmente não especificam o valor em termos nominais. (SACHS E
LARRAIN, 2000)

33
Juros internos x juros externos
Em tempos de globalização, as políticas monetárias dos países ficam cada
vez mais interdependentes. No caso brasileiro, tem sido comum, ao longo dos
últimos anos, o país acompanhar as decisões do Federal Reserve (o banco
central dos EUA) no que tange a fixação de taxas de juros no mercado norte-
americano. Essa taxa é importante para verificar o grau de liberdade que o
governo brasileiro terá para operar a política monetária interna.

Em relação ao risco, pode-se dividir, para simplificar, o mercado financeiro


internacional em dois grandes grupos: o primeiro refere-se ao mercado dos
títulos emitidos pelos países desenvolvidos (EUA e Europa), cujas
características essências são de papeis com reduzido grau de risco e, por
consequência, baixa rentabilidade. O outro grupo refere-se aos emergentes
(America Latina e Ásia), em que o grau de rico é maior, o mesmo ocorrendo
com as taxas de juros.

Os países são classificados, em termos de grau de risco, pelas empresas de


rating. Além de variáveis como a estabilidade política, uma questão importante
na avaliação é a situação dos chamados “fundamentos da economia”, incluindo
aí a situação fiscal (déficit e dívida pública), o grau de solvência do balanço de
pagamentos (que está associado à política cambial), combate inflacionário, etc.
Além disso, há um fator extremamente importante na avaliação do risco de um
país, que é o fato de já ter declarado moratória em seu passado.

Em função dos diferentes graus de risco, os países, ao lançarem seus


papéis no exterior, vão pagar diferentes taxas de juros. Países com elevado
grau de risco pagarão taxas mais elevadas; em outras palavras, pagarão
elevado spread (diferença entre a taxa paga pelo país e a taxa básica de juros,
que pode ser a prime de New York, ou a libor, do mercado de Londres, ou
ainda, a taxa básica dos títulos do Tesouro dos EUA).

Já quando uma empresa vai captar recursos no exterior, lançando títulos, o


grau de risco envolvido nesta operação PE composto de duas partes: a
primeira refere-se à própria empresa, que pode não ter recursos para arcar
com as obrigações relativas às operações (pagamento de juros, normalmente

34
semestrais, e o próprio título no vencimento); o outro componente de risco do
país, uma vez que, mesmo que a empresa tenha condições de honrar seus
compromissos, não há condições de efetuar o pagamento em dólar, se o país
encontrar-se em moratória, por ocasião dos vencimentos.

Tributos
Antes de se passar à análise da política tributária no Brasil, se faz
necessário discutir algumas divisões importantes dos impostos. A primeira
delas refere-se à forma de incidência, a partir da qual os impostos podem ser
diretos ou indiretos. Os diretos são aqueles que incidem diretamente sobre a
renda e propriedade, como é o caso do Imposto de Renda (IR), do Imposto
sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), do Imposto sobre a
Propriedade Territorial Urbana (IPTU) e do imposto dobre Propriedade Rural
(ITR). Já os impostos indiretos estão “embutidos” na produção, vendas e
consumo de mercadorias, incluindo-se aí o Imposto sobre produtos
Industrializados (IPI), o Imposto sobre a circulação de Mercadorias (ICMS), a
contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Finsocial), o Programa
de Integração Social (PIS), etc.

Outra divisão importante, ainda em termos de base de incidência, refere-se


aos impostos sobre valor adicionado e aos impostos em “cascata”. Os
primeiros (entre os quais se incluem IPI e o ICMS) são impostos cuja base de
incidência é o valor adicionado, isto, é, o que cada etapa agrega ao valor do
produto. Assim, quando uma empresa compra matéria-prima e paga ICMS,
esse valor será utilizado como um crédito para ser abatido do ICMS que a
empresa terá que recolher sobre o faturamento relativo a venda de seu produto
(a diferença do imposto representará a incidência sobre o valor adicionado).

Por outro lado, existem os chamados impostos em “cascata”, que incidem


sobre o faturamento (e não sobre o valor adicionado), não existindo, portanto, o
crédito. Se, de um lado, os impostos em “cascata” apresentam facilidade de
arrecadação, de outro, retiram competitividade da produção nacional. Como se
sabe, os países não exportam impostos, dado que os mesmos são retirados na
exportação; no Brasil, a exportação perde competitividade, porque não há

35
como retirar todos os impostos em “cascata” das vendas externas, até mesmo
pela impossibilidade de sua quantificação. A produção interna também é
penalizada na concorrência com o produto importado, que chega ao Brasil
totalmente livre de impostos, ocorrendo a incidência dos impostos em “cascata”
apenas na ultima etapa de comercialização (venda ao consumidor), ao
contrário da produção interna, que é penalizada em todas as etapas do
processo produtivo.

Além das divisões, de acordo com seu impacto sobre a renda das pessoas,
os impostos podem ser considerados progressivos, regressivos e
proporcionais. Os impostos são considerados progressivos quando as pessoas
de maior nível de renda pagam proporcionalmente mais impostos, como é o
caso do Imposto de Renda, que cresce proporcionalmente mais que o nível de
renda do individuo. Os impostos regressivos, ao contrário, são aqueles em que
classes de menor poder aquisitivo pagam proporcionalmente mais.
Geralmente, os impostos indiretos apresentam essa característica de
regressividade, dado que, como a alíquota é a mesma (IPI, por exemplo), o
montante de imposto por produto consumido será o mesmo, proporcionalmente
maior para as classes de menor nível de renda.

Muitos analistas olham o sistema tributário apenas como uma forma de gerar
a arrecadação pretendida pelo governo, entendendo que, quanto mais eficiente
em termos de arrecadação, melhor será o sistema adotado. Essa é uma visão
extremamente limitada do papel de um sistema tributário, embora a
arrecadação seja um de seus objetivos, o sistema tributário tem que ser visto
como um importante instrumento de desenvolvimento econômico e
redistribuição de renda no país.

No que se refere a questão distributiva, verifica-se que a estrutura tributária


brasileira é fortemente regressiva, em função da predominância de impostos
indiretos, ao contrário do que ocorre em outros países do mundo.

Outra distorção do sistema tributário brasileiro refere-se a sua limitação


como instrumento de desenvolvimento econômico, limitação reforçada com o
advento do Plano Real. Vale lembrar que o atual sistema tributário foi
“desenhado” em 1968, período que o Brasil era um país extremamente fechado

36
ao resto do mundo. Em mercados altamente protegidos, a ineficiência do
sistema tributário é transferida para o consumidor sob a forma de aumenta de
preços. Em uma economia mais aberta ao mundo, o quadro é diferente, uma
vez que a incidência de impostos em “cascata” tira a competitividade da
produção nacional, tanto na exportação como na concorrência com o produto
importado. Além disso, os impostos em “cascata” acabam sobretaxando os
bens de capital, à medida que não é possível isentar tais produtos na cadeia
produtiva de máquinas e equipamentos. E mais, a complexidade do sistema
impõe custos para as empresas que precisam dispor de estrutura adequada
para atender a todas as necessidades impostas pelo fisco. Essa mesma
complexidade, por sua vez, aliada à excessiva concentração da base de
incidência, acaba por se constituir em importante “estímulo” à sonegação.

Talvez nenhuma variável econômico-fiscal no Brasil tenha aumentado tanto


nos últimos anos como a carga tributária: de um patamar de 21,2% do PIB, no
final da década de 1980, para cerca de 36%. Quando se compara a situação
tributária brasileira com a de outros países, chega-se a suas situações: a carga
brasileira é relativamente alta em relação à dos demais países, tanto os
desenvolvidos (com 24% de seus PIBs) quanto os da América Latina, cuja
maioria tem taxas ao redor ou abaixo de 20% do PIB.

A carga tributária brasileira é concentrada em poucos tributos – em apenas


seis, que contribuem com mais de 80% do valor total arrecadado. A incidência
de tributos sobre bens e serviços é muito mais acentuada que sobre a renda e
o patrimônio, ao contrário do que ocorre em países ricos. A estrutura tributária é
fortemente marcada pelos “impostos em cascata”, que, cobrados diversas
vezes ao longo da cadeia produtiva, provocam aumentos nos custos de
produção e redução da competitividade dos produtos brasileiros no exterior. Em
parte isso explica porque ainda o Brasil exporta tão pouco.

Variação cambial
Por sua importância como um dos preços básicos da economia, têm sido
comum, principalmente entre os países que registram maior instabilidade,
mudanças frequentes na forma de condução da política cambial, dependendo

37
das condições do mercado internacional e do objetivo de política econômica
que está sendo perseguido. Em termos simplificados, podem-se dividir em três
os sistemas de cambio existentes: câmbio livre, câmbio fixo e “minibandas”.

No sistema de cambio livre, o valor da moeda estrangeira é determinado


pelas forças livres de mercado, isto é, oferta e demanda em dólares. A oferta
em dólares é dada pelos exportadores, pelos turistas, pelas empresas
multinacionais, enfim, por todos os agentes que trazem dólares para o país.
Por outro lado, a demanda de dólares é determinada pelos importadores, pelas
empresas brasileiras que efetuam pagamento de juros ou títulos no exterior,
pelas empresas multinacionais quando remetem juros, pelos turistas brasileiros
quando cão ao exterior, ou seja, por todos os agentes que enviam dólares para
fora do país.

Uma das características do câmbio livre é sua volatilidade, como ocorreu no


Brasil a partir de 1999. Essa volatilidade é explicada pelos movimentos bruscos
de entrada (dólares da privatização, novos empréstimos, etc.) ou saída de
dólares (vencimentos de empréstimos no exterior, remessa de lucros, etc.).
Essa volatilidade traz uma série de inconvenientes para o bom funcionamento
da economia: em primeiro lugar, torna-se um campo fértil para a especulação
com moeda estrangeira, trazendo incerteza aos agentes econômicos; em
segundo, gera dificuldades para os importadores determinarem o preço (em
reais) das mercadorias importadas, sejam elas bens intermediários ou bens
finais; e, em terceiro, acaba por desestimular as exportações pela incerteza
quanto ao valor a ser recebido pelo exportador (em reais).

Essa volatilidade faz com que a maior parte dos países do mundo adote o
sistema chamado de “flutuação suja”, Nesse sistema, o câmbio flutua
livremente, mas dentro de certos limites que o Banco Central não comunica ao
mercado. Se a cotação supera o limite máximo estabelecido, o banco Central
vende moeda estrangeira, fazendo o contrário (comprando) quando a cotação
cai abaixo do limite inferior.

Um segundo sistema cambial é o da taxa fixa, no qual o valor da moeda


estrangeira é determinado pelo governo e não se altera. A experiência mais
forte nesse sentido foi a da Argentina, que desde 1991 vinha mantendo a

38
paridade de 1US$ = 1 peso. O Banco Central da Argentina, de acordo com a
lei, comprometia-se a vender e a comprar qualquer montante de divisas à taxa
estipulada. Desde o final de 2001, a Argentina abandonou o sistema de cambio
fixo.

Uma observação relevante em relação ao câmbio fixo é o fato de o mesmo


ser normalmente adotado por países que têm problemas inflacionários, e
identificam no câmbio fixo uma forma de eliminar a inflação, uma vez, que os
preços dos produtos importados param de subir (a chamada “âncora cambial”).
Para que esse programa tenha sucesso como elemento de combate à inflação,
é necessária uma adequada condução das políticas fiscal e monetária. No
Brasil, assistiu-se a vários congelamentos de taxas de câmbio, como no Plano
Cruzado e Verão, mas os resultados em termos de inflação foram um fracasso.
Além disso, para a implantação de um sistema de câmbio fixo, o país precisa
contar com um bom nível de reservas para que o Banco Central possa fazer
frente a eventuais ataques especulativos.

Por outro lado, um sistema de câmbio fixo pode comprometer as contas


externas do país, tirando competitividade das exportações e incentivando
importações, principalmente se mantido por um período de tempo muito longo,
como ocorreu na Argentina.

O terceiro sistema é, na verdade, um meio termo entre os dois primeiros: é o


sistema de minibandas, no qual o governo estabelece (e informa ao mercado)
mini-intervalos, em que o Banco Central compra ou vende divisas para manter
sua cotação dentro da minibanda.

Esse sistema ganhou impulso na América Latina, principalmente a partir da


experiência do México, que havia sido bem-sucedida até o final de 1994. O
Brasil a partir de 1995 passou a utilizar o sistema de minibandas, mas, da
mesma maneira que o México, também teve seu sistema em janeiro de 1999.
Na realidade, esse sistema, a exemplo do câmbio fixo, também foi adotado
com objetivos anti-inflacionários, mas tem pequena flexibilidade, dada pela
banda, que vai gradualmente sendo alterada ao longo do tempo.

39
O conflito entre manter as contas externas equilibradas e combater a
inflação tem levado a uma grande discussão sobre qual a taxa de câmbio
“adequada” para um país. Infelizmente, essa questão não tem uma resposta
objetiva, embora se possam tecer algumas considerações.

A política cambial a ser adotada procura estar sintonizada com o objetivo


que está sendo perseguido pela política econômica do país: se a ênfase está
concentrada no controle da inflação, no equilíbrio externo ou no crescimento da
produção.

Uma retrospectiva das políticas de comércio exterior adotadas no mundo


mostra que, em determinados períodos de tempo, o comércio internacional foi
visto como importante fator de desenvolvimento econômico, enquanto em
outros esse mesmo comércio representou ameaça às economias domésticas.
Além disso, para vários países, principalmente na America latina, a política de
comercio exterior passou a ser vista como elemento estratégico nos programas
de estabilização, ao tornar a concorrência mais acirrada no mercado interno.

Do ponto de vista dos objetivos de política econômica, é importante observar


que a taxa de câmbio pode contribuir para o aumento do PIB, por meio da
elevação da exportação, que é dos componentes da demanda agregada.
Portanto, para incentivar a exportação e, portanto, o PIB, a política cambial
precisa ser agressiva. A política de incentivos à exportação também pode ser
usada para aumentar as vendas externas, embora seu grau de flexibilidade
seja reconhecidamente menor.

Por outro lado, desvalorizações mais pronunciadas da moeda local (e,


consequente aumento da taxa de câmbio) impactam negativamente a inflação,
pelo aumento dos preços dos produtos importados, em reais. Com isso, se o
objetivo da política econômica está concentrado no combate à inflação, quanto
mais baixo for o valor do dólar, maior será a contribuição da política cambial
para estabilizar a inflação. A mesma contribuição ocorre com a redução das
alíquotas do imposto de importação, como ocorreu no âmbito do Plano Real.

É importante destacar que políticas de ajustamento do balanço de


pagamentos (redução do déficit), nas quais a política cambial tem um papel

40
crucial, normalmente vêm acompanhadas de retração no ritmo de atividade
econômica. Isso porque, além da desvalorização da moeda, objetiva-se conter
a demanda agregada (redução de gastos públicos, aumento de impostos,
aumento de juros, etc.) para diminuir o volume de importações. Embora as
importações acabem sendo afetadas, a demanda dirigida à produção
doméstica também se contrai, levando, frequentemente, o país a recessão.

A política cambial fundamenta-se na administração de taxa de câmbio e no


controle das operações cambiais. Apesar de do forte vínculo que mantém com
a política monetária, sua influencia é direta sobre as variáveis ligadas às
transações econômico-financeiras do país com o restante do mundo, tendo
impacto direto sobre a política monetária, razão pela qual deve ser
administrada com muito cuidado.

Desenvolvimento de inteligência competitiva


empresarial.
De acordo com considerável parcela da literatura de marketing, o âmbito da
estratégia de marketing é de central importância para o desempenho de
grandes empresas, por ser capaz de reconhecer e explorar estrategicamente
as especificidades dos mercados e as diferentes necessidades dos
consumidores (HOOLEY; PIERCY; NICOULOUD, 2011). Mais especificamente,
evidências mostram que as estratégias de marketing têm ajudado não somente
as grandes empresas, mas também mercados e consumidores, a contornarem
a histórica dificuldade enfrentada pela alta hierarquia e pelos responsáveis pela
estratégia corporativa a reconhecer diferenças e especificidades dos mercados
e dos consumidores.

Torna-se cada vez mais importante e fundamental o monitoramento do


mercado com vistas à identificação de oportunidades, ameaças, forças e
fraquezas, o que possibilita à empresa realizar uma gestão estratégica
orientada para resultados.

Complementando a importância do monitoramento ambiental, a evolução


dos conceitos e práticas, que se estende do planejamento financeiro à gestão

41
estratégica, está diretamente ligada à intensificação do ritmo e da
complexidade das mudanças ambientais, conforme afirma Tavares (2000). Os
contextos empresarial e acadêmico norte-americanos constituíram-se em
terrenos férteis para as primeiras abordagens teóricas aceitas no Brasil.
Historicamente, a maioria das grandes empresas se dedicava a um ou a
poucos produtos e também contava com um ou com poucos cérebros em sua
gestão. Havia poucos concorrentes e não existiam problemas de demanda.

Até a década de 1950, o ritmo de mudanças na sociedade ocorria, de certa


forma, lento, uniforme e previsível. A conjuntura social, política, econômica e
cultural de relativa estabilidade também contribuíam para que muitas empresas
preservassem uma forte relação com seu fundador ou patriarca.

A progressiva turbulência ambiental começou a exigir novos arranjos


organizacionais e novos tipos de liderança. A necessidade de criação de
sistemas internos de apoio à estratégia, além de novos métodos de
planejamento. A necessidade de adoção de um planejamento orientado para a
gestão da organização hoje é determinada pelas crises, problemas e conflitos
internos, além do aumento das incertezas em um mercado cada vez mais
competitivo e sempre em busca de um desempenho excelente por parte da
organização.

Quadro 2: A evolução da gestão estratégica


Fonte: TAVARES, 2000, p. 23.

42
Senge (2012) afirma que, devido às mudanças enfrentadas no ambiente
empresarial, o aprendizado das organizações se torna o primeiro passo para
administrar de forma direcionada o negócio. Para esse autor, aprender quer
dizer desenvolver a capacidade de produzir consistentemente resultados com
certa qualidade, e o ambiente de aprendizagem, necessário para sustentar
esse ciclo de aprendizado profundo, é o foco na arquitetura estratégica.

Atualmente, o pensamento sistêmico é mais necessário do que nunca, pois


as pessoas estão cada vez mais desamparadas para enfrentar tanta
complexidade, afirma o autor. A humanidade, pela primeira vez na história, tem
a capacidade de criar muito mais informações do que o homem pode absorver,
de gerar uma interdependência muito maior do que o homem pode administrar
e de acelerar as mudanças com uma velocidade muito maior do que o homem
pode acompanhar.

O pensamento sistêmico envolve uma mudança de mentalidade: de ver


partes evolui para ver o todo; de considerar as pessoas como reativas e
impotentes para considerá-las como participantes ativas na formação de sua
realidade, deixando de reagir ao presente para criar o futuro. O pensamento
sistêmico é a pedra fundamental que determina como as organizações que
aprendem pensam a respeito do seu universo, ensina o autor.

Inteligência competitiva
Na interpretação das organizações e empresas, a inteligência econômica
tornou-se inteligência de negócios e, mais tarde, inteligência competitiva. As
primeiras instituições a adotarem a inteligência de negócios foram as grandes
empresas anglo-saxônicas (britânicas e, sobretudo, americanas) que, a partir
dos anos de 1960, criaram departamentos de inteligência de marketing,
influenciadas pela experiência e uso da informação militar. (TARAPANOFF,
2007)

Na prática militar, serviço de informação é sinônimo de inteligência.


Conforme o autor, na literatura militar, a inteligência resulta da busca de
informações relevantes sobre o ambiente estrangeiro e o adversário. Obtém-se

43
essa inteligência a partir da coleta, processamento, integração, análise,
avaliação e interpretação da informação disponível.

Pode-se dizer, que inteligência é a propriedade emergente da informação e


do conhecimento obtidos a partir de sua observação, análise e entendimento.
De posse da informação e avaliando oportunidades e ameaças existentes de
modo a responder a novos desafios, a definição das estratégias tem sido a
ocupação principal dos generais, líderes e tomadores de decisão.

Diante do significado de inteligência, a Sociedade dos Profissionais da


Inteligência Competitiva (SCIP) define Inteligência Competitiva como um
programa sistemático e ético de reunir, analisar e gerenciar informação externa,
que pode afetar os planos, decisões e operações de uma organização. Dito de
outra forma, é o processo que permite o aumento da competitividade da
organização no mercado por meio de um entendimento maior, mas
inequivocamente ético, dos seus competidores e do seu ambiente competitivo.

Na tradição francesa, a inteligência competitiva é entendida de forma mais


ampla, incluindo a busca de qualquer informação de caráter tecnológico, social
ou político, inclusive sobre os seus competidores, que possibilite um melhor
posicionamento da organização no ambiente de sua atuação. É um modelo de
gestão organizacional que contempla: gestão da informação, gestão
estratégica e gestão do conhecimento, apoiando-se num sistema de
inteligência baseado no ciclo de gestão da informação, nas tecnologias da
informação, em sistemas de informação e redes de especialistas.

Na atual literatura várias expressões são usadas para designar essa


inteligência nas organizações: Competitive Intelligence, Business Intelligence
(BI), Strategic Intelligence, Intelligence Economique, Marketing Intelligence. O
tema da inteligência evoluiu nos últimos anos e com o crescimento da Society
of Competitive Intelligence Professionals, o termo mais predominante é
Inteligência Competitiva (IC).

Fuld (2007) ensina que inteligência é usar a informação de forma eficiente e


tomar decisões com uma imagem menos do que perfeita; é ver claramente sua
concorrência, compreender a estratégia e, com esse conhecimento, agir antes.

44
Ao ser o primeiro a ver a imagem claramente, é possível perceber que se está
à frente da concorrência no mercado, obtendo, assim, vantagem competitiva.
Inteligência é tomar decisões críticas com conhecimento imperfeito, mas
razoável, e com certo grau de risco.

Já Fachinelli et al. (2010) acreditam que o maior desafio da atividade da


inteligência é o de separar, entre um grande e variado volume de informações,
aquelas úteis ao desenvolvimento da organização. O paradoxo da inteligência
é: diante da superinformação, ela é, antes de tudo, um processo de eliminação
da informação. A inteligência reduz a desordem de um grande número de
mensagens externas, selecionando as escolhas possíveis de interpretação e
de ação, fazendo surgir uma espécie de nova ordem na qual o leque de
possibilidades é reduzido, o que reduz também a incerteza.

Justamente devido ao enorme volume de informações hoje disponível é que


Hooley, Piercy e Nicoulaud (2011) afirmam que a complexidade e a
ambiguidade enfrentadas pelos executivos, em vários mercados modernos,
fazem emergir cada vez mais a exigência de se identificar, analisar e
compreender os concorrentes.

Sem conhecimento das forças e das prováveis ações dos concorrentes,


torna-se praticamente impossível formular o componente central da estratégia
de marketing, ou seja, determinar ou atingir um grupo de clientes com os quais
se tem uma vantagem competitiva diante da concorrência. Considerando
vantagem competitiva como um conceito relativo, uma empresa que não
compreende bem seus concorrentes não consegue compreender a si mesma.

Importante ressaltar, conforme Faber e Reichelt (2009), que, quando uma


empresa está concentrada apenas em agir conforme a sua vontade, sem saber
o que os concorrentes estão planejando e sem saber o que mercado está
exigindo, ela enfrentará enorme dificuldade para manter-se ativa e à frente dos
movimentos de mercado. Por isso decisões devem ser tomadas com base
sempre em informações concretas e de preferência já avaliadas e classificadas
por analistas e especialistas.

45
A grande maioria das empresas bem sucedidas tenta construir suas
estratégias com base em sua vantagem diferencial sobre os concorrentes no
mercado. Essa é uma consideração importante em dois sentidos; é necessário
e importante basear a vantagem diferencial nos objetivos dos clientes e é
também importante evitar a estratégia competitiva que tenha o intuito apenas
de construir forças sobre os pontos em que a empresa sempre será fraca em
relação aos concorrentes.

Oferecer algo diferenciado, mas de valor para os clientes, é um caminho


para a criação de vantagem competitiva que todas as organizações no
mercado podem trilhar. O aspecto criativo dessa estratégia é identificar as
características de um possível diferencial sobre o qual a empresa já tem, ou
pode vir a construir, uma vantagem defensável.

A análise do composto de marketing adotado pelos concorrentes, de acordo


com Hooley, Piercy e Nicoulaud (2011), pode dar pistas úteis quanto aos
mercados-alvo a que são destinados e quanto às vantagens competitivas nas
quais a concorrência está buscando focalizar suas metas. A análise do
composto de marketing também pode revelar áreas em que o concorrente é
vulnerável a ataques.

Para tanto, é necessário realizar a coleta de dados relevantes para permitir a


comparação de processos e operações. A análise de fontes públicas, focando o
compartilhamento de dados, além de entrevistas diretas com clientes,
distribuidores, ex-funcionários de concorrentes, funcionários governamentais,
pode ser considerada como banco de informação com objetivo de criar
diferencial frente aos concorrentes.

Choo (2006, p. 28), afirma que “a organização que desenvolve desde cedo a
percepção da influência do ambiente tem uma vantagem competitiva.
Infelizmente, as mensagens e sinais de ocorrências e tendências no ambiente
são invariavelmente ambíguos e sujeitos a múltiplas interpretações”.

Frente à influência do ambiente na organização e ao volume de informação


disponível, Gomes (2001) reforça que, na maioria das organizações, os
tomadores de decisão frequentemente trabalham com grande quantidade de

46
dados em estado bruto, pouca informação com valor agregado derivado de
análises e menor quantidade de inteligência para direcionar a tomada de
decisão. Um sistema de inteligência competitiva tem o propósito de alterar esse
quadro, transformando os dados em informação e a informação em
inteligência.

“a Inteligência Competitiva é o resultado da análise de dados e informações coletadas do


ambiente competitivo da empresa que irão embasar a tomada de decisão, pois gera
recomendações que consideram eventos futuros e não somente relatórios para justificar decisões
passadas” (GOMES, 2001, p. 28).

A utilização de Sistemas de Inteligência Competitiva em organizações, sejam


de pequeno, médio ou grande porte, tem alguns objetivos, entre os quais
podem ser citados: antecipar ações dos atuais concorrentes e aprender sobre
mudanças políticas, regulatórias ou legislativas que possam afetar seu negócio.
Além disso, o processo de inteligência competitiva também auxilia a abertura e
definição de novos negócios, além de aumentar a qualidade das atividades de
fusão, aquisição e alianças estratégicas, uma vez que a obtenção de
informações mais precisas sobre as empresas se torna uma constante.

Como descrito por Valentim et al. (2003), a inteligência competitiva é um


processo dinâmico composto pela gestão da informação e pela gestão do
conhecimento. A IC necessita que a empresa esteja preparada para
desenvolvê-la. Sendo assim, a cultura organizacional é alicerce para o êxito do
processo de IC. Profissionais envolvidos num processo de IC devem, ter uma
postura positiva relativamente à geração e socialização de dados, informação e
conhecimento.

Vidigal (2016) resume: trata-se de um movimento de quase toda a empresa,


que deve ser gerenciado e direcionado por um grupo específico na
organização, normalmente os responsáveis pela obtenção e análise dos dados
de mercado. Desse modo os setores funcionais da empresa interagem entre si,
sempre com objetivo de obter vantagem competitiva.

A prospecção e o monitoramento informacional desenvolvem e apoiam a


inovação tecnológica, atividade essencial para a competitividade
organizacional. As tecnologias de informação utilizadas nas diferentes fases
são caracterizadas e respondem pela eficiência e eficácia do sistema. A
linguagem utilizada em um processo de IC também deve ser observada, para

47
que ele seja realizado de forma a dar mais qualidade e consistência ao
sistema. A equipe responsável pelo processo de IC, preferencialmente
multidisciplinar, tem a responsabilidade de fazer com que o processo seja
dinâmico e de fato atenda às necessidades e ansiedades de informação da
empresa. A IC, segundo Passos (2005, p. 38-39), é

[...] a geração de discernimentos que contribuem para a tomada de melhores decisões de


negócios. IC não é espionagem. Não é necessário utilizar métodos ilegais ou antiéticos na prática
de IC. Na verdade, quando isso é feito, ocorre fracasso da IC, pois quase tudo que os tomadores
de decisão precisam saber sobre o ambiente competitivo pode ser levantado com o uso de meios
legais e éticos. As informações que não podem ser encontradas por meio de pesquisa podem ser
deduzidas com boas análises, que representam apenas uma das formas pelas quais a IC
acrescenta valor a uma organização.

Essa tendência é observada no campo da inteligência estratégica, que


atualmente considera a inovação e a criação do conhecimento como etapas
finais do processo. Fato é que informação e conhecimento são
complementares, pois deles emerge uma estrutura de sentido compartilhada
pelos membros de uma organização que neles embasam suas representações
comuns.

O ciclo de inteligência competitiva


Desenvolver Inteligência Competitiva, segundo Fuld (2007), é semelhante a
criar uma pintura pontilhada. O principal objetivo não é criar a imagem perfeita,
mas uma imagem representativa da realidade. A linguagem secreta da
Inteligência Competitiva está baseada em dois alicerces. Um é a habilidade de
encontrar a correta informação a respeito da competitividade, o outro, e mais
crítico, é a habilidade de enxergar as disrupções antigas de mercado e
interpretar imparcialmente os eventos.

Enxergar efetivamente o todo e além dos concorrentes é uma forma de arte


bastante acessível para aqueles dispostos a aprender as ferramentas, técnicas
e conceitos para o sucesso. Há um aspecto criativo ao se pegar uma
quantidade de dados desarrumados e dar sentido a eles. Para o autor,
Inteligência Competitiva é produto de uma mente perceptiva. Mais do que isso,
ele defende que a Inteligência Competitiva é ver o quanto for possível da
imagem, o mais rapidamente possível, “agir antes que a imagem perfeita se
forme”. O autor defende a inteligência como um insight a respeito das

48
condições competitivas ou uma previsão sobre novas oportunidades de
mercado.

Essa crescente preocupação das empresas com IC ou com a implantação


de Sistemas de Inteligência Competitiva, revela rápidas mudanças que vêm
ocorrendo no mundo e os desafios que essas mudanças trazem para a
empresa.

Corroborando essas ideias, Miller (2002) identifica as quatro fases do ciclo


de inteligência, que são:

(1) a identificação dos responsáveis pelas principais decisões e suas


necessidades em matéria de inteligência;
(2) a coleta de informações;
(3) a análise da informação e sua transformação em inteligência;
(4) a disseminação da inteligência entre os responsáveis pelas decisões.
“Para bem conduzir as funções componentes das quatro fases do ciclo da
inteligência, os profissionais necessitam valer-se de conjuntos específicos de
habilidades” (MILLER, 2002, p. 82-83).

Na primeira fase do ciclo é necessário que o profissional saiba identificar os


responsáveis pelas decisões e suas necessidades de inteligência, bem como
saber comunicá-las aos administradores do primeiro escalão.

Na segunda fase deve ocorrer a coleta de informações, o que requer um


conjunto totalmente diferente de aptidões. As tecnologias previstas e os
recursos por elas proporcionados, ao tomar forma tão velozmente, fazem a
capacidade de colher informações ser, hoje, o maior desafio para os
profissionais. Conhecer as diversas fontes de informação escrita, oral e
eletrônica, bem como a capacidade de usá-las de maneira criativa, é
fundamental. Persistência também é essencial, tendo em vista que dificuldades
sempre serão encontradas na tarefa de penetrar nas melhores fontes de
informação.

A terceira fase é normalmente o maior desafio do profissional, pois se


devem analisar as informações, transformá-las e aperfeiçoá-las em inteligência.

49
A quarta e última fase envolve a concreta transmissão e apresentação da
inteligência aos responsáveis pelas decisões.

Figura 3: O ciclo da inteligência competitiva


Fonte: MILLER, 2002, p. 37.

Fontes de informação em inteligência


competitiva
As fontes de informação são de extrema importância para que o processo de
inteligência seja efetivo, uma vez que, conforme Miller (2002), os profissionais
de inteligência devem buscar dados e informação que sejam relevantes para a
tomada de decisão estratégica, a partir de um roteiro previamente definido e
estruturado. Podem-se utilizar os seguintes tipos de fontes de informação,
segundo o autor:

1 – fontes primárias - experts como analistas, consultores, colunistas,


fornecedores e pessoal interno qualificado para ceder informações
e/ou

2 – fontes secundárias - impressas e eletrônicas como banco de dados


comerciais e publicações periódicas como relatórios de analistas,
publicações governamentais, relatórios setoriais, discursos de
executivos, relatórios técnicos e relatórios sobre patentes.

50
As fontes de informação são fundamentais para a coleta da informação correta em tempo
hábil. O quadro a seguir apresenta outras fontes de informação internas e externas à
organização.
Fontes Internas Fontes Externas

Funcionários da organização Agências de Publicidade da organização

Engenharia Bancos

Finanças Consultores

Recursos Humanos Clientes

Centros de informação Distribuidores

Produção Imprensa geral ou setorial

Marketing Fabricantes de equipamentos

Suprimentos Analistas financeiros

Relações Públicas Governo

Pesquisa e desenvolvimento Sindicatos

Vendas Advogados

Especialistas em Patentes

Ex-funcionários da organização

Fornecedores

Associações setoriais
Quadro 3 - Fontes de informação para geração de Inteligência Competitiva
Fonte: Adaptado de GORDON, 2004 e BARBOSA, 2005.

As fontes de informação podem ser direcionadas conforme a necessidade


da organização, seu porte, o segmento em que atua, entre outros aspectos,
pois há as que podem ser úteis para determinada empresa ou segmento e não
ser úteis para outro tipo de empresa e/ou segmento, tendo em vista o volume
de fontes existentes, as formas de acesso a elas, bem como o alcance da
informação de que a empresa realmente precisa para tomada de decisão e
geração de estratégias.

Além da importância da assertividade na busca pela informação, observa-se


também que toda organização está sujeita a receber sinais provenientes do
ambiente. Os movimentos dos rivais podem ser prenunciados por sinais fracos.
Segundo Day e Schoemaker (2004), sinais fracos são pequenos elementos de
informação que podem ser coletados em um ambiente de negócios. Quando

51
combinados com outras fontes externas de informação de ordem política,
social, econômica, podem anunciar eventos iminentes.

Os sinais são de difícil identificação e interpretação, principalmente quando


analisados isoladamente, por serem informações fragmentadas, de caráter
informal ou de interpretação ambígua. Day e Schoemaker (2004) citam como
exemplos:

 Um gerente regional de vendas comenta um boato que ouviu a respeito de


um novo concorrente.
 Um artigo publicado em um jornal descreve dispositivos implantados sob a
pele de uma pessoa que transmitem dados de identificação e prontuário
médico de emergência.
 Um blog de um consumidor irritado começa a atrair muita atenção.

Figura 4 - Representação do ruído até o evento


Fonte: CENDOTEC, 2007, citado por CRISTOFOLI e DIAS 2010, p. 12.

Conforme a FIG. 4, o item 1 – Ruído – diz respeito ao ambiente que está


cheio de sinais fracos, formando uma soma de dados. Esses sinais que estão
disponíveis aparecem e desaparecem, fazendo com que a organização fique
atenta para captá-los. O item 2 – Informação – (captação dos dados do
ambiente interno e externo, tratamento e utilização deles) diz que desse
conjunto é possível captar alguns sinais relacionados ao evento. Alguns são
rumores menores que vão voltar ao ruído; outros podem ser agrupados e
formar informação com valor agregado. Nessa etapa, a captação de sinais

52
fracos passa geralmente para canais informais (rede de contatos, eventos
sobre um tema), mas também, às vezes, formais (depósito de patente, de
marca). O item 3 – Evento – diz que as informações formadas a partir dos
sinais fracos iniciais multiplicam-se, agrupam-se e ficam mais fáceis de serem
captadas. É possível captar informações em canais formais (jornal, base de
dados). O evento, que já está em andamento, ocorre logo depois.

Captar oportunidades e contornar ameaças exige atenção contínua para


detectar os sinais mais distantes, interpretá-los e agir de acordo com eles. Em
poucas palavras, precisa-se de uma boa visão periférica. Day e Schoemaker
(2004) afirmam que cerca de 20% das organizações já desenvolveram uma
visão periférica capaz de mantê-las à frente dos concorrentes. Usando um
diagnóstico “olhar estratégico” para testar a visão periférica das organizações,
é possível, segundo os autores, desenvolver um processo capaz de preencher
uma falha na vigilância e evitar que as organizações permaneçam cegas ao
que acontece ao seu redor.

É importante destacar também o ambiente interno à organização. As fontes


internas de informação foram assunto pesquisado por Oliveira, Villaça e De
Paula (2010), com o objetivo de identificar entre os departamentos da
organização qual ou quais são considerados como melhores fontes de
informação interna.

Como descrito pelos autores, foi identificado, após enquete feita com
respondentes sobre quais seriam as principais fontes de informações dentro de
uma empresa, que os departamentos de marketing e vendas foram
considerados pelos profissionais de IC as fontes internas de informações mais
importantes para a produção de inteligência, seguidos de perto pelos
funcionários da empresa (ocupantes de cargos gerenciais), pelos
departamentos de finanças, de pesquisa e desenvolvimento e pelos centros de
informação. Os departamentos de engenharia e de relações públicas, por sua
vez, foram considerados de média importância. Com menor importância,
apareceram os departamentos de produção e de suprimentos. Por último, com
quase nenhuma importância, apareceu o departamento de Recursos Humanos.

53
A partir do grau de importância das fontes internas de informações
apresentadas pelos autores, pode-se concluir que os departamentos que
apresentaram maiores pontuações foram aqueles que normalmente
desenvolvem maior interação com o mercado consumidor (marketing e vendas)
ou os ligados ao desenvolvimento de novos produtos ou serviços (pesquisa e
desenvolvimento).

Por outro lado, departamentos com uma perspectiva mais introspectiva (ou
endógena) do negócio, normalmente orientados para a manutenção das rotinas
internas, foram considerados como fontes internas de informações menos
importantes para as atividades de Inteligência Competitiva (recursos humanos,
engenharia, suprimentos), comprovam Oliveira, Villaça e De Paula (2010).

A prática da inteligência competitiva


Inteligência Competitiva, além de ser um termo muito utilizado, é uma
ferramenta de gestão estratégica mercadológica que tem como foco principal o
entendimento do mercado de atuação da empresa, sua concorrência, além de
um monitoramento constante de dados, informações para geração de
inteligência, de forma a direcionar a tomada de decisão, bem como a geração
de estratégias mercadológicas que possam levar resultados para as
organizações.

Vidigal e Nassif (2012) demonstram que a IC é uma ferramenta de gestão


global. Na pesquisa realizada pelos autores, percebe-se que os principais
obstáculos para implementar processos formais de IC em diferentes países são
a cultura organizacional e a ausência de experiência de análises, o que inibe a
adoção de processos formais em IC. Segundo os autores, em relação à
experiência espanhola, executivos apontam a ausência de capital humano
como principal fator inibidor da adoção de IC no país, ou seja, a falta de
conhecimento dos executivos espanhóis acerca das técnicas de IC é o principal
obstáculo para implementar a IC.

Percebe-se ainda que as investigações que tratam da IC estão mais


alinhadas a produtos do que às competências de outras empresas. As

54
atividades de IC estão pouco estruturadas e se dão de maneira não sistemática
e mais informal.

O cenário chinês referente à IC é marcado por uma experiência ainda


relativamente embrionária e desigual, se comparada à experiência com outros
países ocidentais. A sua prática vem crescendo rapidamente e ganhando
capacidade contínua de aceleração. Embora exista um longo caminho a
percorrer, os resultados tendem a vir rapidamente, tendo em vista que há um
crescente interesse pela ferramenta, além do desenvolvimento de atividades
práticas que a envolvem.

Em comparação com a experiência japonesa, a capacidade de IC da China


encontra-se incipiente. A adoção de IC no Japão já vem crescendo desde suas
práticas relacionadas à economia, como estratégia para o crescimento em
tempos de pós-guerra (Segunda Guerra Mundial). Embora se encontre em um
estágio de maturidade superior ao da China, ainda é menos desenvolvida do
que a experiência prática de IC nos Estados Unidos, por exemplo. Na
experiência asiática, o Japão poderia ser considerado como uma das nações
de maior desenvolvimento em IC, não somente pela tradição militar, mas
também pela cultura nipônica, naturalmente afeita à busca de informações, à
formação das denominadas “redes humanas de informação”.

Vidigal e Nassif (2012) confirmam ainda que os autores pesquisados na


literatura sobre o tema associam a maior afinidade com a utilização da
inteligência com a maior militarização das nações. Outras nações que não
apresentam o mesmo desenvolvimento nesse sentido deixam visível a maior
necessidade de formalização, planejamento e adequações, sobretudo por
causas referentes à compreensão das premissas de IC no que diz respeito à
sua contribuição para os efetivos resultados organizacionais, como é o caso da
Espanha e do Reino Unido, por exemplo.

Em relação ao desenvolvimento mais lento de empresas de origem


espanhola e britânica quanto à IC, aspectos culturais que afetam o
comportamento dos seus executivos e o conhecimento da área são apontados
como as principais causas dessa lentidão.

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A Inteligência Competitiva, segundo Passos (2005), é uma disciplina
necessária e ética para a tomada de decisões, baseada na análise e
compreensão do ambiente competitivo. E pesquisas mostram que empresas
com programas de IC bem estabelecidos obtêm maiores ganhos por ação do
que as do mesmo setor que não têm programas de IC (www.scip.org).

Outra situação que demonstra os benefícios de se utilizar IC é que, em uma


recessão, a IC pode trazer grandes dividendos (conforme a revista Busines
week, em sua edição de 26 de novembro de 2001).

Outro dado relevante apresentado por Passos (2005) refere-se aos


resultados de uma pesquisa realizada em março de 2002 pelo Trendsetter
Barometer, para a PricewaterhouseCoopers. Foi revelado que os CEOs das
empresas que mais crescem são aqueles que consideram informações
referentes aos competidores como de “muita” ou de “crítica” importância. Para
essas empresas, os resultados alcançados foram um crescimento das receitas
na ordem 14,2% contra 11,8% para todas as outras, diferença de 20%.

Com esses dados conclui-se que aqueles que reconhecem o valor especial
das informações sobre os competidores apresentam melhor desempenho do
que seus pares em itens como: crescimento sustentado de receitas, margens
brutas, assim como diversos indicadores importantes de desempenho
mensurável, afirma o autor.

No dizer de Gomes (2001), aspectos de comportamento e de liderança no


processo de IC também influenciam a equipe para alcançar resultados
expressivos. A partir do momento em que a alta gerência está à frente do
empreendimento e passa confiança para os níveis abaixo, a tendência é existir
um comprometimento geral.

A necessidade de informação é o ponto de partida para o surgimento de um


sistema de inteligência, ou seja, o comprometimento de todos com o objetivo
da organização é que impulsiona todo o processo. Cuidar, motivar, incentivar
os funcionários envolvidos trará um retorno surpreendente para o negócio.

Estudos empíricos, descritos por Marin e Poulter (2004), realizados em mais


de seiscentas organizações, confirmam que os departamentos de marketing ou

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planejamento são a localização mais usual no quadro organizacional em
relação à função da Inteligência Competitiva.

A literatura não é clara em relação à centralização ou descentralização da


atividade. No entanto uma análise comparativa descrita pelos autores mostra
que 46% das empresas pesquisadas têm suas funções de Inteligência
Competitiva no departamento de marketing ou pesquisa de mercado.

As organizações tendem a trabalhar de forma profissional e estruturada


quando investem em uma estrutura física de Inteligência Competitiva - espaço
físico com computadores e estações de trabalho destinadas às atividades.
Enquanto eles estão conectados hierarquicamente com a alta gerência, as
atividades podem contribuir para um alinhamento estratégico da organização,
ou seja, diretrizes de planejamento, bem como servir como instrumento para
verificar a eficácia de suas ações e desempenho em relação aos esforços de
marketing da organização - tais como o feedback dos clientes sobre a imagem
da empresa e a percepção deles a respeito dos produtos e serviços oferecidos.

Rodrigues e Ricarddi (2007) realizaram uma pesquisa entre as 500 maiores


empresas sediadas no Brasil, por meio da qual identificaram um lócus funcional
de IC, os objetivos, as fontes, os processos, os usos, o papel da tecnologia da
informação e o seu disciplinamento ético nas organizações.

Na pesquisa dos autores, as empresas apontam a hipercompetição como o


principal motivo para implementação de um sistema de IC, além de evidenciar
que a IC nelas é ainda incipiente. Apenas 7% das empresas pesquisadas
indicaram contar formalmente com sistemas de IC, ainda que tenha sido
possível identificar que todas as empresas pesquisadas contam com
mecanismos de busca e análise de informações externas, que podem ser
entendidos como mecanismos de IC. Com base nessas informações empíricas,
os autores propõem um mapa de maturidade em uso da IC nas organizações.

OTIMIZADO: Ampliado e aperfeiçoado. Forte experiência em IC. IC


Nível 5 suporta os processos decisórios e de inovação estratégica. Forte
empreendedorismo corporativo. Suporte incisivo a GC.

Nível 4 CONTROLADO: Avaliado pelo desempenho. Experiência em IC


consolidada. Parâmetros e indicadores de desempenho definidos.
Auditamento e avaliação do retorno de IC. Inovação é sistematizada.

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DISCIPLINADO: Incorporado e praticado. Experiência moderada em IC.
Nível 3 Equipes observam procedimentos padrões definidos. Elementos
constitutivos funcionam de forma integrada. Empreendedorismo e inovação
são incipientes.

FORMAL: Estruturado e normatizado. Existência de infraestrutura de TI


Nível 2 voltada para IC. Pouca experiência em IC. Os elementos constituintes estão
criados e os processos de funcionamento estão definidos. Elementos não
funcionam integrados.

INFORMAL: Incipiente, sem forma ou estrutura definida. Nenhuma


Nível 1 experiência em IC. Existência de infraestrutura de TI, mas não
orientada para IC.

Figura 5 - Níveis de maturidade em uso de Inteligência Competitiva


Fonte: RODRIGUES; RICCARDI, 2007, p. 138.

Cada nível de maturidade tem características únicas e cada nível só é


superado se todas as características dele tiverem sido atendidas.

Tendo em vista os processos de IC e a classificação dos níveis de


maturidade e utilizando a contribuição de Oliveira, Gonçalves e De Paula
(2011), são apresentadas a seguir algumas conclusões referentes à atividade
de IC:

(1) geralmente é um processo formal e sistematizado;

(2) atua como um processo de monitoração contínuo do ambiente de


negócios;

(3) apresenta um ciclo de atividades que vai desde o planejamento até o


processo de disseminação de inteligência aos responsáveis pela
tomada de decisão;

(4) é orientado para o futuro, buscando antever mudanças do mercado e


dos concorrentes;

(5) precisa de uma adequada infraestrutura de TI e de profissionais com


habilidades e competências específicas;

(6) é um processo que se fundamenta nos valores éticos e legais, não se


confundindo com espionagem.

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Não há nenhuma informação específica sobre a estrutura física das
organizações para as atividades de IC. Recursos provenientes da tecnologia da
informação, tais como software específico, não é um fator essencial para as
práticas de IC, afirma o autor da pesquisa.

As organizações podem e devem estar cientes das ações dos seus


concorrentes, criando condições para antecipar-se rapidamente às suas
estratégias no ambiente competitivo do setor, bem como contribuir para a
proteção das organizações frente às suas forças no macroambiente.

A conclusão reforça a ideia de que a adoção das melhores práticas de IC


tem se mostrado uma atitude muito importante para os que precisam dela. Não
são necessárias estruturas robustas para se iniciar um processo de IC, mas é
de suma importância ter profissionais qualificados envolvidos em todas as
fases do processo.

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