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Débora Gomes
Administradora/UNISUL
E-mail: debora_de2@hotmail.com
Rodney Wernke
Doutor em Engenharia de Produção/UFSC, Professor no Curso de Administração/UNISUL
E-mail: rodney.wernke@unisul.br
RESUMO
O artigo teve como objetivo mensurar os custos financeiros de possíveis inadequações nos
níveis de estocagem em uma pequena fábrica de confecções. Para essa finalidade foi utilizada
metodologia do tipo descritiva, com abordagem qualitativa e o formato de estudo de caso.
Foram selecionadas as 14 matérias-primas mais relevantes, segundo o administrador da
empresa, para as quais foram obtidos os dados imprescindíveis ao cálculo (quantidade física
estocada e consumida por mês, bem como o custo unitário de compra). Além disso, foi
considerado o número médio de dias úteis trabalhados por mês e a taxa de juros a ser
considerada como “custo de oportunidade”. Quanto aos resultados obtidos através do estudo,
convém salientar que foi possível determinar que havia produtos com prazos médios de
estocagem muito extensos e bem superiores aos prazos de reposição dos fornecedores; que o
custo financeiro da estocagem representou 3,41% do total estocado e que o valor do estoque
excedente equivalia a 46,17% do valor total armazenado. Além disso, constatou-se que o grupo
de aviamentos que merece maior atenção dos gestores é o “Linha Algodão”, visto que este
participa com 38,48% do custo financeiro de estocagem mensurado e 40,23% do estoque
excedente total da empresa. Esse resultado diverge da prioridade que seria dada pela análise
com base na Curva ABC, que levaria em conta o valor total armazenado e priorizaria o grupo
“Linha Poliéster”.
1 INTRODUÇÃO
As inversões de recursos em estoques podem ser bastante representativas em termos do
ativo total das empresas. Nesse sentido, Assaf Neto e Lima (2009) citam que os valores
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aplicados em estoques podem ter participação significativa, chegando a representar uma média
de 9%dos valores dos ativos das companhias brasileiras de capital aberto. Em razão dessa
importância econômica, é salutar que os administradores tenham a gestão de estoques como
uma de suas prioridades. Sobre isso, Wecinski (2017) defende que a gestão dos itens
armazenados pode proporcionar benefícios relacionados a informações como o prazo médio de
estocagem, o custo financeiro da manutenção dos estoques, o nível do estoque excedente etc.
Entre as ferramentas que podem auxiliar os gerentes a administrar melhor os níveis
mantidos em estoques estão a Curva ABC (SLACK et al., 2009), o Lote Econômico (PINTO;
RIBEIRO, 2016) e a mensuração do custo financeiros da estocagem (Wernke 2014). No caso
desta pesquisa, optou-se por esta última abordagem porque considerou-se que esta proporciona
informações financeiras mais relevantes para o contexto da empresa pesquisada.
Portanto, neste estudo se pretendeu responder a seguinte questão: como avaliar os
efeitos financeiros dos níveis de estoques de insumos mantidos por uma fábrica de confecções?
Para tal finalidade foi estabelecido o objetivo mensurar os impactos financeiros de possíveis
inadequações dos níveis de estocagem da indústria pesquisada.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Para Wernke (2010), na maioria das empresas o valor aplicado no estoque de
mercadorias é um dos mais relevantes em termos dos ativos totais da companhia. E, por
demandarem grande parte do capital de giro do empreendimento, os gestores devem avaliar
com atenção a pertinência do montante destinado a esses bens.
Ballou (2006) assevera que o controle de estoques é parte vital do composto logístico,
pois estes podem absorver de 25 a 40% dos custos totais, representando uma porção substancial
do capital da empresa. Destarte, é importante a correta compreensão do seu papel na logística
e de como devem ser gerenciados. Também salienta que os estoques servem para uma série de
finalidades, pois melhoram o nível de serviço, incentivam economias na produção, permitem
economias de escala nas compras e no transporte, agem como proteção contra aumentos de
preços, protegem a empresa de incertezas na demanda e no tempo de ressuprimento e servem
como segurança contra contingências.
Nessa direção, um dos objetivos da gestão de estoques é identificar a quantidade de
consumo de certo produto por um determinado período de tempo, pois “a manutenção da
competitividade depende diretamente de como os materiais são geridos, os quais devem possuir
níveis compatíveis com suas demandas” (COSTA, 2002, p. 17).
Iudícibus et al. (2010) citam que os estoques estão intimamente ligados às principais
áreas de operação das companhias e envolvem problemas de administração, controle,
contabilização e avaliação. No caso de companhias industriais e comerciais, os estoques
representam um dos ativos mais importantes do capital circulante e da posição financeira, de
forma que sua correta determinação no início e no fim do período contábil é essencial para uma
apuração adequada do lucro líquido do exercício. Referidos autores aduzem que os estoques
são bens tangíveis ou intangíveis adquiridos ou produzidos pela empresa com o objetivo de
venda ou utilização própria no curso normal de suas atividades.
Para Silva et al. (2010) as empresas que adotam estratégias administrativas que
maximizem a gestão de seus estoques controlam com maior efetividade os custos de compras
e de armazenagem. Com isso, podem adquirir apenas a quantidade necessária às suas operações
de vendas, reduzindo custos de estocagem e minimizando custos relativos a perdas em
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decorrência de fatores diversos (como prazo de validade, deterioração de produtos devido ao
armazenamento inadequado ou ainda em decorrência da entrada no mercado de produtos com
melhor aceitação).
Por outro lado, a gestão eficaz de estoques alavanca a competitividade na produção de
bens e serviços, podendo trazer melhorias de processos, minimização de desperdícios e auxiliar
na tomada de decisão acerca da manutenção ou expansão do negócio, otimizando resultados.
Essa gestão passa pela fabricação, movimentação, armazenagem e distribuição destes bens e
abrange toda a logística das organizações (GOMES DE SÁ; SOUZA; COSTA, 2017).
Os estoques são itens (mercadorias) que a organização mantém para vender ou insumos,
matérias-primas ou componentes destinados à fabricação de um produto no processo de
produção interno ou externo, podendo variar a quantidade conforme o tipo de produto ou seu
modelo (ALVAREZ; QUEIROZ, 2003). A função do controle de estoques “é definida como
um fluxo de informações que permite comparar o resultado real de determinada atividade com
seu resultado planejado” (FRANCISCHINI; GURGEL, 2013, p. 147).
Borinelli e Pimentel (2010) citam que a palavra estoque abrange as contas referentes às
mercadorias destinadas à venda ou materiais destinados à produção, consumo ou venda. Os
estoques devem ser registrados pelo menor valor entre o custo de aquisição ou fabricação e o
valor de realização (preço de venda estimado), ou seja, as empresas devem ajustar o valor de
estoque ao preço de mercado quando esses forem inferiores ao valor de custo.
Gonçalves (2010) defende que a administração de estoques tem por objetivo encontrar
um equilíbrio entre os diversos pontos de vista das gerências quanto à manutenção do
suprimento regular dos materiais e aos níveis de estoques. Examinando os estoques na ponta de
consumo, sua existência será justificada pela demanda do produto, ou seja, para não perder
vendas ou clientes. Do lado da produção, é necessária a existência de estoques de insumos, de
matérias-primas e de componentes destinados à fabricação de um produto, sendo justificável a
existência de um estoque (por menor que seja) para suprir situações imprevisíveis.
Existem muitos motivos para o uso de estoques dentro de uma organização, sendo que
Fenili (2015) elenca os seguintes:
a) Estoques podem proteger as organizações de eventuais oscilações de mercado: uma vez
adquirida, a mercadoria torna-se independente de flutuações do mercado;
b) Estoques podem ser uma oportunidade de investimento: isso ocorre quando, em
determinado período, a taxa de aumento do valor financeiro do estoque for maior do
que a taxa de aplicação em outros ativos que podem ser obtidos no mercado;
c) Estoques podem proteger de atrasos: os atrasos podem ser originários de diversas fontes,
desde um problema no transporte das mercadorias, uma negociação mais prolongada
com fornecedores ou mesmo uma influência do clima.
d) Grandes estoques podem implicar economia de escala: a aquisição de itens de material
em maiores quantidades usualmente implica a prática de preços unitários menos
significativos, se comparado com compras de menores vultos.
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A necessidade de ter uma certa quantidade de estoque disponível na organização pode
acarretar alguns custos, que Martins e Alt (2002) classificam em três categorias:
1) Custos diretamente proporcionais: são aqueles que aumentam proporcionalmente com
o aumento do estoque;
2) Custos inversamente proporcionais: são os custos que diminuem com o aumento dos
estoques, ou seja, quanto menor o estoque maior é o custo;
3) Custos independentes: são os custos fixos, aqueles custos que não dependem da
quantidade de estoque que a empresa possui.
Assef (1999) defende que a política de estocagem deve começar pela definição de um
indicador para o monitoramento dos dias médios de estoque de cada insumo/produto. Os dias
médios de estoque podem ser calculados através da equação: Dias de estoque = [ (Estoque
médio em unidades/Venda média mensal em unidades) x 30 dias ]. Ao conhecer e monitorar o
indicador de prazo de estocagem dos insumos, o gestor da área pode analisar a conveniência do
nível de estoque atual considerando as diversas variáveis envolvidas no processo de aquisição
e armazenamento de materiais.
Para realizar a gestão financeira do estoque pode ser utilizada a metodologia
recomendada por Wernke (2014), onde os passos a observar são os seguintes:
a) Coletar os dados necessários: quantidade física estocada ao final do período, quantidade
vendida/consumida no período, custo de compra unitário (em R$) e taxa de juros a ser
considerada como custo de oportunidade do capital aplicado em estoques (que pode ser
a taxa de captação que a organização paga para obter recursos junto a terceiros ou, se a
organização for uma aplicadora de recursos, a taxa da remuneração que seria obtida
numa aplicação financeira de baixo risco para valor semelhante àquele estocado).
b) Calcular os valores estocados: apurar os valores monetários referentes ao valor total
armazenado (quantidade física multiplicada pelo custo unitário de compra) e ao valor
do estoque excedente (quantidade estocada menos o consumo físico do período,
multiplicado pelo custo unitário de compra);
c) Apurar o custo financeiro do estoque total: inicialmente calcula-se o valor (em R$)
estocado ao final do prazo de estocagem (em dias) de cada produto armazenado, por
meio da equação do Valor Futuro (VF). Para essa finalidade é utilizada uma taxa de
juros ao mês como “custo de oportunidade” do capital empregado em estoques. Em
seguida, desse valor futuro se desconta o valor estocado para determinar o “custo
financeiro do estoque”.
d) Cálculo do custo financeiro do estoque excedente: os mesmos procedimentos do passo
anterior, mas com base nos valores do estoque considerado excedente.
Então, a partir dos valores apurados podem ser confeccionados relatórios que propiciam
condições de otimizar o gerenciamento do estoque de insumos ou de mercadorias, de vez que
facultam identificar aspectos importantes, do ponto de vista financeiro, para a adequada gestão
do almoxarifado. Além disso, os citados relatórios são adaptáveis ao contexto de qualquer tipo
(ou porte) de organização e são de fácil compreensão (WERNKE, 2014).
3 METODOLOGIA
É possível caracterizar este estudo pelos ângulos dos objetivos, da abordagem e dos
procedimentos empregados. Quanto aos seus objetivos é classificável como descritiva, pois
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envolve descrição, registro, análise e interpretação do fenômeno e, em sua maioria, se utiliza
da comparação e contraste (SALOMON, 1999). Conforme Gil (2008), esse tipo de estudo
possui como foco a descrição das características de uma população, de um fenômeno ou de uma
experiência.
A respeito da forma de abordagem do problema pode ser considerada como qualitativa,
pois neste contexto se concebem análises mais profundas em relação ao fenômeno que está
sendo estudado visando destacar características que não são passíveis de se observar através de
um estudo quantitativo (RAUPP; BEUREN, 2010).
Acerca dos procedimentos adotados classifica-se como estudo de caso, pois essa
modalidade de pesquisa faz uma análise profunda e exaustiva, de um ou de poucos objetos, de
modo a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado em desenhos caracterizados pela
flexibilidade, simplicidade de procedimentos e ênfase na abordagem qualitativa integral dos
eventos (RAUEN, 2015). No caso em tela, a escolha da empresa em consideração a facilidade
de acesso aos dados proporcionada pelo gestor da firma pesquisada. Portanto, trata-se de um
estudo de caso onde as conclusões circunscrevem-se a essa realidade empresarial, sem permitir
extrapolações para outros contextos.
No que tange à coleta de dados, nos estudos de caso é possível a combinação de métodos
como entrevistas, busca de documentos em arquivos, questionários, relatórios verbais e
observações, sendo que as evidências podem ser qualitativas e quantitativas (MARQUES;
CAMACHO; ALCANTARA, 2015). A respeito disso, Yin (2010) sugeriu diversas fontes para
a coleta de dados em estudos de caso, citando exemplos como documentos e registros,
entrevistas, observação direta e participante, evidências físicas etc.
No âmbito deste estudo a coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas com os
funcionários envolvidos na compra e armazenamento dos insumos abrangidos, além de exame
documental dos controles internos mantidos pela empresa acerca da movimentação de estoques.
Como havia mais de 300 itens listados em estoque no setor de aviamentos da indústria em lume,
a escolha dos produtos a serem abrangidos nesta pesquisa deveu-se à indicação do gestor da
empresa, que informou aqueles que seriam mais relevantes nos quatro grupos de insumos
armazenados. Com isso, chegou-se ao número de 14 matérias-primas para as quais foram
obtidos os dados respectivos para os cálculos necessários à metodologia escolhida para
fundamentar este estudo.
Convém salientar, ainda, que não se tratou de consultoria empresarial, visto que essa
pesquisa fundamentou trabalho de conclusão de curso de um dos coautores. Portanto, a
abrangência da totalidade dos itens armazenados, além de demandar tempo adicional,
complicaria a elaboração do relato acerca do estudo de caso, dada a limitação de espaço no
texto para este evento.
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Tabela 2 - Prazo Médio de Estocagem (em dias)
Estoque Atual Quantidade Dia Médio de
Descrição da (metros) Consumida/mês Estocagem
matéria-prima (A) (B) C = (A/B) x Dias úteis
L.POLIESTER 25 2500M FILLOTEX 294.452,77 208.047,23 29,72
L.POLIESTER 36 5000M FILLOTEX 357.133,77 187.866,23 39,92
L.POLIESTER 50 5000M FILLOTEX 310.199,25 259.800,75 25,07
L.100% ALGODÃO 20 2500M FILLOTEX 157.681,40 29.818,60 111,05
L.100% ALGODÃO 30 5000M FILLOTEX 70.112,75 29.887,25 49,26
L.100% ALGODÃO 50 5000M FILLOTEX 334.897,22 165.102,78 42,60
L.50 1002 5000M SANT BRASIL 295.446,62 254.553,38 24,37
L.50 PRETA 5000M SAINT BRASIL 141.629,98 58.370,02 50,95
L.50 BRANCA 5000M SAINT BRASIL 139.339,24 60.660,76 48,24
L.50 1001 5000M SAINT BRASIL 316.814,15 43.185,85 154,06
F.TEXT 500G BRANCA SAINT BRASIL 231.067,90 38.932,10 124,64
F.TEXT 500G PRETO SAINT BRASIL 449.907,40 180.092,60 52,46
F.TEXT 500G 1002 SAINT BRASIL 542.297,20 57.702,80 197,36
F.TEXT 500G 1001 SAINT BRASIL 113.120,00 86.880,00 27,34
Fonte: Elaborada pelos autores.
Para determinar o prazo médio de estocagem foi dividido o estoque atual em unidades
físicas de cada insumo (coluna “A”) pela respectiva quantidade média consumida nos últimos
meses precedentes ao mês utilizado como base (Abril/2017), conforme expresso na coluna “B”.
Em seguida, multiplicou-se o resultado da divisão pelo número de dias úteis do mês (21 dias,
no caso da fábrica pesquisada). O resultado dessa equação forneceu o prazo médio de
estocagem (PME), em dias, dos itens abrangidos como consta da coluna “C” da Tabela 2.
O conhecimento do “Prazo Médio de Estocagem” (PME) de cada item armazenado
possibilita ao gestor uma comparação deste com o prazo de entrega dos fornecedores. No caso
do produto “F.TEXT 500G 1002 SAINT BRASIL” (penúltimo produto listado na Tabela 2), a
empresa mantinha nível de estoque equivalente a 197,36 dias de consumo. Esse prazo é
considerado inadequado porque, segundo o gestor do almoxarifado, o fornecedor entrega esse
item no prazo máximo de 15 dias depois de efetuado o pedido. Portanto, não haveria
necessidade de manter grande volume físico desse produto, o que implica prazo médio de
estocagem tão elevado. Desse modo, poderiam ser mantidas em estoque apenas algumas peças
em número pouco superior ao consumo mensal como “estoque de segurança”.
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Tabela 3 - Valor Total Estocado
Estoque Atual Custo unit. de Valor Total
Descrição da (metros) Compra (R$) Estocado (R$)
matéria-prima (A) (D) E=AxD
L.POLIESTER 25 2500M FILLOTEX 294.452,77 0,003452 1.016,45
L.POLIESTER 36 5000M FILLOTEX 357.133,77 0,002154 769,27
L.POLIESTER 50 5000M FILLOTEX 310.199,25 0,001612 500,04
L.100% ALGODÃO 20 2500M FILLOTEX 157.681,40 0,003964 625,05
L.100% ALGODÃO 30 5000M FILLOTEX 70.112,75 0,002924 205,01
L.100% ALGODÃO 50 5000M FILLOTEX 334.897,22 0,002036 681,85
L.50 1002 5000M SANT BRASIL 295.446,62 0,001380 407,72
L.50 PRETA 5000M SAINT BRASIL 141.629,98 0,001260 178,45
L.50 BRANCA 5000M SAINT BRASIL 139.339,24 0,001260 175,57
L.50 1001 5000M SAINT BRASIL 316.814,15 0,000283 89,76
F.TEXT 500G BRANCA SAINT BRASIL 231.067,90 0,000307 70,86
F.TEXT 500G PRETO SAINT BRASIL 449.907,40 0,000350 157,47
F.TEXT 500G 1002 SAINT BRASIL 542.297,20 0,000350 189,80
F.TEXT 500G 1001 SAINT BRASIL 113.120,00 0,001380 156,11
Totais 3.754.099,65 - 5.223,41
Fonte: Elaborada pelos autores.
Considerando-se apenas os 14 itens escolhidos para efetuar o estudo, o valor total que a
empresa possuía em estoque desses produtos era de R$ 5.223,41. Para chegar a esse montante
bastou multiplicar a quantidade armazenada pelo respectivo custo de compra unitário (em R$).
A partir dos dados disponíveis foi possível apurar o custo financeiro do estoque mantido
pela indústria pesquisada, conforme exemplificado na Tabela 4.
Tabela 4 - Custo Financeiro do Estoque
Taxa de juros considerada como custo de oportunidade: 1,86% ao mês
Valor Total Dia Médio de Estoque a Custo
Descrição da Estocado (R$) Estocagem Valor Futuro (R$) Financ. do
matéria-prima E=AxD C = (A/B) x Dias úteis VF = VP(1+i)^n Estoque (R$)
L.POLIESTER 25 2500M FILLOTEX 1.016,45 29,72 1.035,18 18,73
L.POLIESTER 36 5000M FILLOTEX 769,27 39,92 788,36 19,10
L.POLIESTER 50 5000M FILLOTEX 500,04 25,07 507,80 7,76
L.100% ALGODÃO 20 2500M FILLOTEX 625,05 111,05 669,18 44,13
L.100% ALGODÃO 30 5000M FILLOTEX 205,01 49,26 211,31 6,30
L.100% ALGODÃO 50 5000M FILLOTEX 681,85 42,60 699,93 18,08
L.50 1002 5000M SANT BRASIL 407,72 24,37 413,87 6,15
L.50 PRETA 5000M SAINT BRASIL 178,45 50,95 184,13 5,67
L.50 BRANCA 5000M SAINT BRASIL 175,57 48,24 180,85 5,28
L.50 1001 5000M SAINT BRASIL 89,76 154,06 98,67 8,91
F.TEXT 500G BRANCA SAINT BRASIL 70,86 124,64 76,50 5,64
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F.TEXT 500G PRETO SAINT BRASIL 157,47 52,46 162,63 5,16
F.TEXT 500G 1002 SAINT BRASIL 189,80 197,36 214,27 24,46
F.TEXT 500G 1001 SAINT BRASIL 156,11 27,34 158,75 2,64
Totais 5.223,41 - 5.401,42 178,01
Fonte: Elaborada pelos autores.
Para encontrar o custo financeiro dos itens estocados (em R$) foi utilizada a equação do
Valor Futuro (VF). Nesse caso foi necessário considerar: (i) o valor monetário dos estoques de
aviamentos armazenados, (ii) o prazo de estocagem (em dias) e (iii) a taxa de juros de 1,86%
ao mês como “custo de oportunidade”. Com isso, encontrou-se o “Valor Futuro” de cada item
estocado (na penúltima coluna da Tabela 4) e, em seguida, o “Custo Financeiro do Estoque”
(na última coluna da Tabela 4) pela dedução dos valores estocados (segunda coluna da Tabela
4) do “valor futuro dos estoques”.
Por exemplo: no caso do produto “L. POLIESTER 25 2500M FILLOTEX” havia estoque
de R$ 1.016,45, cujo prazo de permanência em estoque apurado foi de 29,72 dias. Considerando
o custo de captação de recursos de 1,86% ao mês, no fim do prazo de estocagem o valor futuro
desse item deveria ser de R$ 1.035,18. Como essa “valorização” não ocorre, significa que a
empresa teve “Custo Financeiro do Estoque” no valor de R$ 18,73 (R$ 1.035,18 - R$ 1.016,45).
Ao aplicar o mesmo procedimento de cálculo nos demais produtos em estoque chegou-se ao
valor total de R$ 178,01 como custo financeiro da estocagem da empresa pesquisada, o que
representa 3,41% do total armazenado (R$ 178,01 / R$ 5.223,41) dessa gama de aviamentos.
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abrangidos. Nesse sentido, com base no valor total estocado de R$ 5.223,41 (vide Tabela 3)
pode-se considerar que o valor do custo financeiro do estoque excedente equivalia a 2,09% do
total armazenado (R$ 109,49 / R$ 5.223,41 x 100).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo visou responder questão de estudo relacionada aos efeitos financeiros dos
níveis de estoques de aviamentos em uma fábrica de confecções. Sendo assim, o objetivo geral
foi mensurar os impactos financeiros de possíveis inadequações dos níveis de estocagem da
mesma. Nessa direção, entende-se que a pergunta de pesquisa foi convenientemente respondida
e o objetivo geral atendido, tendo em vista que as tabelas apresentadas nas seções precedentes
evidenciaram informes importantes relacionados com os prazos médios de estocagem, com o
custo financeiro do estoque e com o estoque excedente dos produtos armazenados, bem como
dos grupos de matérias-primas, entre outras informações financeiramente relevantes.
Em que pese a pequena quantidade de itens abrangida no estudo, a partir dos resultados
citados restaram evidenciadas situações que merecem a atenção dos gestores da entidade
pesquisada, ou seja:
a) Há produtos com prazo de estocagem elevados (vide Tabela 2), que podem superar
largamente o prazo de reposição dos mesmos pelos fornecedores respectivos;
b) O valor do custo financeiro apurado (R$ 178,01) representa 3,41% do total estocado
(R$ 5.223,41). Mesmo sendo valor monetário pequeno, dado o baixo número de itens
abrangidos, o percentual citado pode ser considerado preocupante especialmente se tal
análise envolver todo o almoxarifado desta empresa;
c) O volume monetário que pode ser considerado como estoque excedente chega a R$
2.411,46 e equivale a 46,17% do valor armazenado dos itens pesquisados;
d) O custo financeiro da parcela de estoque excedente ficou em torno de R$ 109,49 e
corresponde a 61,51% do custo financeiro total;
e) O grupo de insumos que merece maior atenção dos gestores é da “Linha Algodão”, pois
participa com 38,48% do custo financeiro do estoque e 40,23% do estoque excedente
total. Este resultado diverge do que seria considerado se fosse utilizada a análise com
base na Curva ABC, visto o grupo “Linha Poliéster” teria a maior representatividade
(43,76%) nesse caso.
No que concerne às limitações da pesquisa, inicialmente cabe salientar que tratou-se de
estudo de caso, o que restringe às conclusões a esse contexto. Da mesma forma, o reduzido
número de matérias-primas abrangidas pode ser considerado uma limitação, pois foram
escolhidos somente os 14 itens mais importantes do estoque mantido pela empresa, segundo a
opinião do gestor/proprietário.
Além disso, foi utilizada a taxa de juros de 1,86% tendo em vista que esta representava
a taxa de captação que a indústria pesquisada arcava para captar recursos. Assim, mesmo que
outras metodologias mais aprimoradas possam ser utilizadas para tal finalidade, optou-se por
essa taxa tendo em vista a facilidade de utilização futura, visto que esta informação poderá ser
facilmente obtida quando for refeito ou ampliado o estudo nesta firma.
Como sugestão para trabalhos futuros sugere-se a ampliação do número de produtos
para o total do mix armazenado e a utilização de outro procedimento para determinar a taxa de
14
juros a empregar nos cálculos do custo financeiro (como o Custo Médio Ponderado de Capital,
por exemplo). Além disso, caberia testar essa metodologia em outros contextos fabris,
comerciais etc., visando comparar os resultados.
REFERÊNCIAS
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cliente na cadeia de suprimentos como fonte de competitividade. In: XXIII ENEGEP, Ouro
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ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas,2009.
ASSEF, R. Administração financeira: pequenas e médias organizações. Rio de Janeiro:
Campus, 1999.
BALLOU, R. H. Logística empresarial: transporte, administração de materiais e
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BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R. C. Curso de contabilidade para gestores, analistas e
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