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No universo dos livros

bowie15/iStockphoto.com
A leitura é capaz de ampliar horizontes
e estimular cada indivíduo da sociedade
a ser protagonista de sua história

Por que tornar o Brasil um país leitor?


Para que a leitura se torne um hábito entre os brasileiros, é
preciso investir em educação e expandir o acesso às publicações

Escrever livros é semear mudanças

03
Edição O poder de registrar momentos, ideias e transformações
expresso nas páginas de uma obra literária

Carreira: Produção Editorial


A profissão responsável por construir o livro desde a
primeira linha e perpetuar esse instrumento de comunicação
Abr–2018
Nesta edição

7
ENTRELINHAS
POR QUE TORNAR O BRASIL UM PAÍS LEITOR?
E x p e d i e n t e Para que a leitura se torne um hábito entre os brasileiros, é preciso
investir em educação e expandir o acesso às publicações

9
CONTEXTO
ESCREVER LIVROS É SEMEAR MUDANÇAS
Direção geral O poder de registrar momentos, ideias e transformações
Nicolau Arbex Sarkis expresso nas páginas de uma obra literária

12
ENTREVISTA
Gerente editorial CARREIRA: PRODUÇÃO EDITORIAL
Emilia Noriko Ohno A profissão responsável por construir o livro desde a primeira
linha e perpetuar esse instrumento de comunicação

15
PARÊNTESE
Coord. de projetos editoriais
AUTORES INDEPENDENTES E O MERCADO EDITORIAL
Diego da Mata
Marília L. dos Santos G. Ribeiro Editorial
Viviane Rodrigues Nepomuceno
No universo dos livros
Edição / Texto

E
m 2007, aos 13 anos, Yeonmi Park realizou um feito que poucos são
Anaiza Castellani Selingardi
capazes: fugir da Coreia do Norte, país que vive um regime ditatorial e
Bruno Freitas
é considerado um dos mais isolados do mundo. Em sua autobiografia,
Cláudio Leyria intitulada Para poder viver, ela conta que o regime da Dinastia Kim, que tem
Edilene Faria governado o país ao longo de três gerações, bloqueia toda a informação vinda
Érica M. Bettoni Hayashibara de fora. Não existe rede mundial de computadores, por exemplo, e todos os
Thaís Inocêncio documentos escritos abordam temas políticos e propagandas do governo.
Acostumada com essas condições, Yeonmi encontrou um mundo novo
quando chegou ao destino de sua fuga, a Coreia do Sul. Condicionada a obedecer
Projeto gráfico ao seu líder sem questionamentos, inicialmente, ela sentiu dificuldade em pensar
Willyam Gonçalves por conta própria e tomar decisões. No entanto, essa autonomia foi conquistada
com o auxílio de uma importante ferramenta, a qual ela passou a ter acesso
Revisão irrestrito: os livros. Em um dos trechos finais de sua autobiografia, ela declara:
[...] Eu lia para encher minha mente e bloquear as lembranças ruins. Mas
Kemi Tanisho
descobri que, quanto mais eu lia, mais profundos ficavam meus pensamentos;
Vivian Prado de Souza
minha visão se ampliava e minhas emoções ficavam menos rasas. O vocabulário
na Coreia do Sul era muito mais rico do que aquele que eu conhecia, e,
Diagramação quando você dispõe de mais palavras para descrever o mundo, você aumenta
Willyam Gonçalves sua aptidão para desenvolver pensamentos complexos. [...] Eu podia sentir,
literalmente, meu cérebro começar a viver, como se novas trilhas estivessem
aparecendo em lugares que tinham estado escuros e áridos. Ler estava me
Licenciamento
ensinando o que significava estar viva, ser humana.
Jade Cristina Bernardino
Mas, se os livros podem ampliar o conhecimento, estimular a capacidade
analítica e desenvolver o pensamento crítico, por que a leitura ainda se mostra um
hábito raro em tantos países do mundo? É sobre esse poder de transformação
dos livros e sobre a necessidade de garantir o acesso a eles que esta edição do
Leia Agora irá tratar. Após um panorama dos principais acontecimentos do mês,
entenderemos o cenário da leitura no Brasil e os benefícios dessa atividade para
o progresso de uma nação, refletiremos sobre a função do livro como registro
histórico e instrumento de contestação das estruturas sociais, conheceremos
detalhes da carreira de Produção Editorial e seremos convidados a pensar sobre
os desafios de se publicar um livro no Brasil. Desejamos a você uma boa leitura!
Equipe Leia Agora

2
// NOTÍCIAS EM FOCO Stephen Hawking, físico britânico, Cerco policial encurrala Temer e
morre aos 76 anos implode suas pretensões eleitorais
Morreu nesta quarta-feira (14), em sua casa, o físico e No momento em que os partidos brasileiros
pesquisador britânico Stephen William Hawking, aos começam a definir suas estratégias eleitorais para
76 anos. A morte foi comunicada por sua família à outubro, o cerco policial-judicial ao presidente Michel
imprensa inglesa. Hawking nasceu em 8 de janeiro de Temer (MDB), pretenso candidato à reeleição, está
1942, exatamente 300 anos após a morte de Galileu, se fechando e minando suas já frágeis pretensões
e morreu no mesmo dia do nascimento de Albert eleitorais. É o que avaliam seus próprios aliados.
Einstein (14 de março de 1879). O físico se tornou um Agora, o emedebista lida com o constrangimento
dos cientistas mais conhecidos do mundo ao abordar de ter seus homens de confiança provisoriamente
temas como a natureza da gravidade e a origem do atrás das grades. Duas das pessoas que foram
universo. presas pela Polícia Federal pertencem ao círculo de
14 mar. 2018 – G1 máxima confiança do presidente e são amigos de
Vale lembrar!
longa data dele.
Filme sobre Stephen Hawking rendeu Oscar a Eddie
Redmayne em 2015. 30 mar. 2018 – El País

Leia em: <https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/filme-


sobre-stephen-hawking-rendeu-oscar-a-eddie-redmayne-
em-2015.ghtml>.
Vacinação contra febre amarela será
ampliada para todo o país
Morador de rua faz livro de poesia O Ministério da Saúde ampliou, para todo o território
sobre como é viver nas calçadas de SP nacional, a área de recomendação para vacinação
Gilberto Camporez mora há 13 anos no Largo São contra febre amarela. O anúncio foi feito nesta terça-
Francisco, no Centro de SP. Foi nas ruas ao redor do -feira (20). Até agora, alguns estados da região
monumento [de Álvares de Azevedo] que ele viveu as Nordeste e parte do Sul e Sudeste não faziam parte
experiências que estão nas 25 poesias do seu primeiro da área de recomendação. A meta é vacinar 77,5
livro, Velha calçada, que será lançado nesta sexta- milhões de pessoas em todo o país até abril do ano
-feira (16). Vinte jovens [estudantes da USP] começaram que vem. Desse total, 40,9 milhões de pessoas nos
a arrecadar dinheiro para a publicação, que foi editada estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e da Bahia
por eles e será lançada em um auditório da USP estão entre os que tiveram maior número de casos
São Francisco. confirmados nos últimos meses.
16 mar. 2018 – G1 20 mar. 2018 – Agência Brasil

Lula se entrega à PF e é preso para Farra do Boi: prática sangrenta ainda


cumprir pena por corrupção é comum
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se Nem a lei apaga uma tradição cultural vinda com os
entregou à Polícia Federal (PF) e foi preso na noite seis mil açorianos que desembarcaram em Santa
deste sábado (7), após ficar dois dias na sede do Catarina entre 1748 e 1756. A Farra do Boi consiste
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo em soltar o animal em local ermo. Os participantes da
do Campo. Lula foi condenado em duas instâncias da prática agridem o boi com objetos. O evento só acaba
Justiça no caso do triplex em Guarujá (SP). A pena quando o bicho já está exausto e machucado a ponto
definida pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da de não mais se levantar. Acabam frequentemente
4ª Região (TRF-4) é de 12 anos e 1 mês de prisão, sacrificados. A tradição controversa acabou proibida
com início em regime fechado, por corrupção passiva há 21 anos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Os
Brasil e lavagem de dinheiro. ministros consideraram a prática “intrinsecamente
7 abr. 2018 – G1 cruel”. Mas, somente em 2017, foram registradas
Ciências Vale lembrar!
pela PM mais de 147 ocorrências.
Lula é primeiro ex-presidente brasileiro preso por
Educação 30 mar. 2018 – BBC
crime comum.
Leia em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/luiz-inacio-
Saúde
lula-da-silva-e-primeiro-ex-presidente-brasileiro-preso-por-
crime-comum.ghtml>.
Cultura

Internacional

Tecnologia

3
// NOTÍCIAS EM FOCO Vereadora do PSOL, Marielle Franco Malala volta à sua cidade no
é morta a tiros Paquistão
A vereadora Marielle Franco foi morta a tiros dentro “Fui embora do Swat com os olhos fechados e agora
de um carro na Rua Joaquim Palhares, no bairro do volto com eles abertos”, disse a Prêmio Nobel da Paz
Estácio, na Região Central do Rio, por volta das 21h30 Malala Yousafzai em uma escola da região do Swat,
desta quarta-feira (14). Além da vereadora, o motorista bem perto de Mingora, sua cidade natal, no noroeste
do veículo, Anderson Pedro Gomes, também foi do Paquistão. É a primeira vez que Malala, que sofreu
baleado e morreu. Uma outra passageira, assessora o atentado em 2012 por sua defesa da educação
de Marielle, foi atingida por estilhaços. A principal feminina e se tornou um símbolo, volta ao país e à
linha de investigação da Delegacia de Homicídios é sua região depois disso.
execução. Marielle foi atingida com pelo menos quatro 31 mar. 2018 – El País
tiros na cabeça. A perícia encontrou nove cápsulas de
tiros no local. Os criminosos fugiram sem levar nada. Enem deste ano terá 30 minutos a
14 mar. 2018 – G1 mais para provas de Exatas
Neste ano, os candidatos que participarão do
É hora de abandonar o Facebook? Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) terão
Muita gente está pensando nisso depois das 30 minutos a mais para fazer a prova do segundo
revelações sobre o uso questionável, por parte da dia, que reúne conteúdos de Ciências da Natureza e
Cambridge Analytica, dos dados pessoais de mais Matemática. Segundo o edital da prova, publicado
de 50 milhões de usuários do Facebook para apoiar hoje (21) no Diário Oficial da União, os estudantes
a campanha de Donald Trump, isso sem falar de terão cinco horas para fazer a prova no segundo
problemas como roubo de dados, trolls, assédio, dia e cinco horas e meia no primeiro dia. Assim
proliferação de notícias falsas, teorias conspiratórias como em 2017, neste ano as provas do Enem
e bots russos. O número de usuários ativos do serão realizadas em dois domingos seguidos: nos
Facebook continuou aumentando em 2017, mas, dias 4 e 11 de novembro.
nos três últimos meses do ano, seu crescimento deu 21 mar. 2018 – Agência Brasil

sinais de desaceleração.
28 mar. 2018 – El País

*Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 7 abr. 2018.

Consumo de água: quem gasta mais?


Brasil

Marnikus/Shutterstock.com
Considerado privilegiado por abrigar 12% da água doce do mundo, o Brasil divide o consumo desse bem
entre a irrigação, o abastecimento humano e animal, a indústria e a geração de energia, entre outros.

Irrigação
46,2% de toda a água retirada para uso no Brasil é destinada à irrigação. Esse é o principal uso do recurso
no país. Em 2016, a demanda total de água retirada para irrigação no Brasil era de 969 mil litros por segundo.

Cidades
O abastecimento urbano fica com 23,3% de toda a água destinada para consumo no Brasil. Segundo a
Agência Nacional de Águas (ANA), são necessários 488,3 mil litros/s, cerca de 15 vezes a demanda para o
abastecimento ao cidadão rural, para atender a população que vive nas cidades.
Brasil
Indústria
Ciências
As indústrias ficam com 9,2% do total da água usada, o que corresponde a 192,4 mil litros/s.
Educação
Pecuária
Saúde
Além do uso ligado a práticas agrícolas, no meio rural, a água é utilizada para o abastecimento animal,
Cultura principalmente na criação de bovinos. O consumo de água diário para a pecuária totaliza 165,1 mil litros/s.

Internacional
Fonte: Portal Brasil e Agência Nacional de Águas.
Tecnologia

4
The last male northern
white rhino just died

The death of a 45-year-old rhino is rarely a tragedy; they seldom live much longer. But Sudan was the last male
of his species, and he leaves behind just two females in the entire northern white rhino population at the Ol Pejeta
Conservancy in Kenya. There were some 500,000 rhinos across Africa and Asia at the start of the 20th century.
His death is a cruel symbol of human disregard for nature.

20 mar. 2018 – Popular Science

La Vanguardia
Popular Science
BARCELONA
HARLAN

El maestro que se jugó la vida para salvar a


centenares de niños del infierno nazi

Lejos de mostrarse impasible ante las atrocidades del régimen nazi y aún sabiendo que su valerosa acción
podía costarle la vida, el profesor universitario y político holandés Johan Van Hulst consiguió salvar más de
medio millar de bebés y niños judíos durante el Holocausto. Estos días Holanda recuerda la figura del maestro
y político, ya que falleció el pasado 22 de marzo a la edad de 107 años en Ámsterdam, su ciudad natal.

2 abr. 2018 – La Vanguardia

Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 7 abr. 2018.

5
Wilson Dias/Agência Brasil
Uma das atrações da Vila Cidadã simula uma coleta
de lixo do fundo do mar. Grande novidade do 8º Fórum
Mundial da Água (FMA), a Vila Cidadã foi erguida em um
espaço de 10 mil m² e ofereceu atrações para todos
os tipos de público, desde as crianças até os adultos.
O diretor de gestão da Agência Nacional de Águas (ANA),
Ricardo Andrade, destacou que esta foi a primeira vez
que o fórum foi realizado no Hemisfério Sul e lembrou o
início do sonho de trazê-lo para Brasília, há seis anos,
durante a sexta edição do evento, em Marselha, na
França.
17 mar. 2018 – Agência Brasil

// IMAGEM EM FOCO
6
ENTRELINHAS

Por que tornar o Brasil um país leitor?


A leitura não é um hábito consolidado no país, mas precisa ser incentivada. Afinal, essa atividade pode
trazer benefícios não só para o desenvolvimento pessoal, mas para o progresso de uma nação.

TEXTO 01 02TEXTO
Estimativa de leitores no Brasil (%) A alfabetização na idade certa é indispensável para
Dados de 2015 uma vida plena e integrada à cultura do escrito. Mas
esse direito nem sempre é garantido no Brasil. De
104,7
milhões acordo com a Avaliação Nacional de Alfabetização
Não leitor (ANA) de 2016, na educação pública, 55% dos alunos
Leitor com 8 anos não conseguem ler suficientemente. [...]
44 56 Nesse sentido, uma biblioteca pode fazer uma
Número de livros lidos por ano grande diferença. Como fez na vida dos filhos de
4,96 livros por habitante/ano
2,43 inteiros Glaucimar Soares de Assis – Iarley (11), Ana Íris (9) e
População brasileira com 5 anos 2,53 em partes Mirela (4). Todos eles moram na comunidade carioca
ou mais em 2015: 188 milhões.
Chácara do Céu, no Leblon; e fazem parte da primeira
Influência no hábito de leitura (%) leva de frequentadores da Biblioteca Comunitária que
Mãe ou responsável do sexo feminino 15 leva o nome da escritora negra Carolina Maria de Jesus,
6
Algum professor ou professora 10 ela mesma um marco no acesso à literatura.
4
Para a Glaucimar, a convivência dos filhos com
Pai ou responsável do sexo masculino 6
2 os livros foi uma virada de página, pois as crianças
Algum outro parente 6
2 penetraram em um universo novo. “Ana Íris já tinha
Outra pessoa
2
5 passado por duas escolas diferentes e não tinha
Padre, pastor ou algum líder religioso 1 sido alfabetizada. Depois que passou a frequentar o
1 espaço, a leitura se desenvolveu, os estudos e as notas
Marido, esposa ou companheiro (a)
1
melhoraram”, afirma. [...]
Não/Ninguém em especial 55
83 Lázaro Campos Junior. “Uma biblioteca que muda sua comunidade”.
Leitor Não leitor Estadão, 21 mar. 2018. Disponível em: <http://educacao.estadao.
com.br/blogs/de-olho-na-educacao/uma-biblioteca-que-muda-sua-
FONTE: INSTITUTO PRÓ-LIVRO; INSTITUTO BRASILEIRO DE comunidade/>. Acesso em: 9 abr. 2018.
OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA. Retratos da leitura no Brasil.
4 ed. São Paulo, mar. 2016. Disponível em: <http://prolivro.
org.br/home/images/2016/Pesquisa_Retratos_da_Leitura_no_
Brasil_-_2015.pdf>. Acesso em: 9 abr. 2018.

TEXTO 03
Talvez muitos brasileiros ignorem o pouco que se lê nesse país em relação ao resto do mundo. Talvez não saibam
que, em um ranking dos 30 países onde mais se lê, segundo a agência Nop World, o Brasil aparece na rabeira, à frente
apenas de Taiwan e Coreia. [...]
É possível que um analfabeto ou alguém que não tenha lido um livro na vida possa revelar uma sabedoria natural, um
senso comum agudo e até uma grande carga de poesia.
[...] Entretanto, o mais natural é que um país que não lê ou que aparece, como o Brasil, entre os piores leitores do
mundo esteja comprometendo seu desenvolvimento futuro – não apenas cultural, mas também econômico. Mais ainda,
dificilmente entrará no rio da modernidade e do progresso um país não leitor, ao mesmo tempo que será refém dos
poderes dominantes. [...]
Juan Arias. “No Brasil se lê menos que na Venezuela, Turquia e Egito”. El País, 27 fev. 2015. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/26/opinion/1424979919_254116.html>. Acesso em: 9 abr. 2018.

7
ENTRELINHAS
ANÁLISE

A
bril é um mês importante para a literatura: no Uma das maneiras de reverter esse cenário é ampliar
dia 23, comemora-se o Dia Mundial do Livro, e, o acesso à literatura, e, nesse sentido, as bibliotecas são
no dia 18, é celebrado o Dia Nacional do Livro uma ferramenta fundamental. Na favela Chácara do Céu,
Infantil. Não por acaso, nesta mesma data, em 1882, no Rio de Janeiro, esse espaço foi criado por iniciativa dos
nasceu aquele que viria a ser um dos maiores nomes da próprios moradores, que, com isso, pretendem contribuir
literatura infantil do Brasil, Monteiro Lobato. Foi o autor para a ampliação do senso crítico, o aperfeiçoamento da
quem tornou famosa a frase: “um país se faz com homens percepção de mundo e a melhora no desempenho escolar
e livros”. Vale ressaltar que o escritor viveu em uma época de crianças e adultos daquela região.
em que o país registrava índices de analfabetismo muito Por outro lado, a falta de incentivo à leitura pode
maiores que os atuais. No entanto, apesar das mudanças comprometer o progresso de um país em diversos
e dos investimentos na educação desde a República setores, como revela o Texto 3. O artigo opinativo indica
Velha, quando ele publicou suas primeiras obras, a leitura que o Brasil ocupa os últimos lugares de uma lista de
está longe de ser o hábito mais apreciado pelos brasileiros. países leitores e aponta essa situação como um risco
Que impacto isso pode ter no desenvolvimento de uma para a nação, que, sem a criticidade e o conhecimento
nação? adquiridos com o hábito da leitura, pode ser facilmente
O Texto 1 mostra alguns resultados da última edição dominada. Isso vai ao encontro do que afirma o escritor
da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo peruano, ganhador do Nobel de Literatura, Mario Vargas
Instituto Pró-Livro de quatro em quatro anos. O recorte Llosa: “Um público comprometido com a leitura é crítico,
escolhido revela que o país tem 104,7 milhões de leitores, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas
o que representa 56% da população. O estudo considera que alguns fazem passar por ideias”.
como leitor a pessoa que leu um livro inteiro ou parte dele As informações apresentadas demonstram,
nos três meses anteriores ao levantamento, e o não leitor resumidamente, que os brasileiros leem pouco e que é
é aquele que não leu nenhum livro nesse período. Em um preciso investir em educação para que eles sejam capazes
primeiro momento, o número de leitores brasileiros parece de ler mais. No entanto, saber ler não significa gostar de
alto, mas, se aprofundarmos essa análise, veremos que a ler. Diante disso, que tal fazer uma dissertação sobre o que
realidade é outra: cada pessoa lê apenas 4,96 livros por pode ser feito para que a leitura se torne um hábito no país,
ano, e, desse total, 2,43 são terminados; os outros 2,53 tão arraigado quanto algumas festas ou esportes? Não se
são lidos em partes. esqueça de incluir em seu texto os motivos pelos quais
Essa pesquisa também reforça o fato de que os pais essa atividade é tão importante, tanto para a nação como
ou responsáveis – especialmente os do sexo feminino – e um todo quanto para cada indivíduo. Ler notícias, artigos e
os professores têm muita influência na formação do hábito até mesmo livros a respeito desse assunto pode ajudar a
de leitura. Esse incentivo ainda contribui para que uma enriquecer o seu texto. Boas produções textuais!
pessoa adquira ou não o gosto por ler, já que, enquanto a
grande maioria dos não leitores declarou não ter recebido Editorial
influência, somente metade dos leitores respondeu o
wavebreakmedia/Shutterstock.com

mesmo.
No entanto, para que o Brasil se torne um país
leitor, é imprescindível que os brasileiros saibam ler. Essa
parece uma equação simples e óbvia, mas os índices de
analfabetismo do país revelam o contrário. O Texto 2 é
um artigo opinativo que evidencia o quanto o investimento
em educação é necessário para que as pessoas possam
colher os benefícios da leitura. O trecho aponta que,
embora a alfabetização seja um direito de todos, na
educação pública, mais da metade dos alunos com
8 anos de idade não consegue ler suficientemente.

8
Escrever livros
é semear
mudanças

Africa Studio/Shutterstock.com
Nas páginas literárias, estão o poder de registrar a alma de um momento
histórico, as ideias que vibram na mente de um povo e as chamas
capazes de provocar transformações sociais

POR MARCEL VERRUMO

N
ísia Floresta Brasileira Augusta. Você já ouviu
A escritora Nísia Floresta Brasileira Augusta. Bico de pena, por volta de
1880. Autor desconhecido/Wikimedia Commons (Domínio público)

falar dessa mulher em algum momento de sua


vida escolar? Já escutou seu nome em algum
filme ou o viu estampado nas páginas de algum
livro? Já chegou a pegar alguma obra escrita por ela?
Se a resposta for “não”, você está entre a maioria
dos brasileiros, que não conhece essa escritora nem
sua trajetória. Embora ela seja uma figura praticamente
esquecida da nossa história cultural, Nísia foi a primeira
mulher a publicar um livro no Brasil. E não só isso: em
sua obra, registrou o seu tempo, as suas ideias e o
seu desejo de um mundo onde as mulheres tivessem
equidade de direitos com os homens.
Nascida no Rio Grande do Norte em 1810, Nísia
era uma mulher à frente do seu tempo. Casada com
um homem aos 13 anos, provavelmente por imposição,
fugiu do marido depois de apenas um ano – se mulheres
separadas recebiam olhares tortos até o final do século
XX, imagine o quão revolucionário foi deixar o marido
nos mil e oitocentos. O preço da separação foi alto.
Perseguida pelo ex, Nísia e sua família tiveram de fugir
de sua cidade natal. Após passar por outras regiões do

9
país, ela se estabeleceu no Rio de Janeiro, então capital sabemos tantos detalhes sobre as transformações sociais
federal, onde iniciou uma nova vida. Lá, fundou uma escola dessa época, é graças à sua literatura.
voltada para mulheres na qual ensinava Filosofia, Política Assim como na obra de Machado de Assis, na
e Matemática. Na Educação, apostava em disciplinas de Pero Vaz de Caminha, de Boca do Inferno, de José
que não eram ensinadas às mulheres até então, as quais de Alencar, de Lima Barreto, de Paulo Lins e de tantos
deveriam se contentar com estudos de corte e costura, outros, a literatura flerta com a história. Em alguns casos,
gastronomia e outros temas historicamente associados a literatura é a história. E eis outro poder: a arte da escrita.
ao gênero feminino. Na mesma época, começou a

O escritor Machado de Assis, aos 57 anos, 1896. Autor desconhecido/


Biblioteca Nacional do Brasil (Domínio público)
publicar suas ideias em jornais e lançou o livro Direitos
das mulheres e injustiças dos homens (1832), no qual
reuniu suas ideias sobre igualdade de gênero.
Mas, afinal, por que me detenho tanto no nome
de Nísia? Porque, embora praticamente desconhecida,
essa figura foi responsável por escrever uma obra que
expressa o poder dos livros. Sua literatura mostra como
o livro é capaz de registrar um momento, o pensamento
e as histórias de um povo e como é uma ferramenta
política de contestação das estruturas sociais. Aliás,
ao publicar um livro sobre as desigualdades de gênero
em seu tempo e escrever sobre os direitos femininos,
Nísia não apenas se tornou a primeira mulher a escrever
um livro no Brasil, como também introduziu o próprio
movimento feminista por aqui – plantando uma semente
que germinaria em obras de tantas outras escritoras
nas décadas seguintes.
Ao longo do tempo, livros foram ferramentas
para contar histórias, registrando distintas realidades,
eternizando personagens, propagando ideias. Em cada
livro, há uma semente para levar adiante o olhar do autor
sobre o mundo, para divulgar as figuras que convivem em Palavras revolucionárias censuradas
seu mundo físico ou imaginário, para germinar suas ideias e Como livros são capazes de levar a multidões de
crenças em outras mentes e corações. As palavras contidas leitores diferentes visões de mundo, a história no Brasil
em livros são uma revolução capaz de mudar quem o lê. é marcada por episódios em que escritores foram
presos e censurados. Nem sempre obras apresentaram
Livros namoram com a história realidades que caíram bem aos olhos de quem estava
É impossível falar da revolução dos livros sem no poder, afinal muitos foram os momentos em que
mencionar o nome de Machado de Assis. Dono de questionamentos contra as estruturas político-sociais
uma escrita afiada e conectada com as ideias científico- vigentes foram levantados.
-filosóficas de seu momento histórico, o Bruxo do Cosme Não por acaso, autores como Graciliano Ramos
Velho (epíteto a ele dado e que ganhou força com o poeta e Jorge Amado colecionaram passagens pela polícia
Carlos Drummond de Andrade) compôs uma literatura e viram muitas de suas obras serem censuradas e
que é um verdadeiro documento sobre as transformações queimadas a céu aberto em praça pública. Suas
sociais do Rio de Janeiro da segunda metade do século literaturas eram contestação, enfrentamento, luta. Suas
XIX, em especial sobre a passagem do Império para a palavras clamavam mudanças.
República. Suas linhas foram uma fotografia que tornou E engana-se quem pensa que o potencial para
possível fazer o seu tempo chegar a nós. causar revoluções esteja apenas nas obras clássicas,
Em Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom em livros e autores geralmente cobrados no vestibular
Casmurro, só para citar suas obras clássicas, a ciência e a ou em escritos datados de muitas décadas. Até nas
filosofia de seu tempo foram transformadas em narrativas prateleiras de best-sellers mais contemporâneos há
ficcionais. Os personagens de seus romances, de suas histórias com mensagens e histórias transgressoras.
crônicas e até de seus contos foram inspirados em viventes Harry Potter, por exemplo, é proibido em uma série de
que presenciaram as mudanças de nosso sistema político países. Os livros com as aventuras do bruxinho marcado
e que transitaram por uma cidade em mudanças. Se hoje na testa e seus amigos transmitem uma mensagem

10
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Literatura
sobre o valor da amizade e do amor, sobre a importância
da justiça e da igualdade, sobre como o mal deve ser
combatido com todas as forças possíveis. Nas palavras TOQUE DO
ESPECIALISTA
de J. K. Rowling, o amor é contagioso e pode causar
uma revolução – daí a censura a seus livros em alguns
pontos do globo. POR JULIANA RIBEIRO OLIVEIRA ALVES
Historicamente, livros são sementes para
Literatura: horizontes de possibilidades
mudanças. São registros de um tempo presente,
documentações de um passado, imaginações Eu não tenho imaginação. Por isso não escrevo
utópicas e distópicas de possíveis cenários futuros.
romances. Escrevo sobre o que vejo, escrevo sobre
São sementes de ideias, sonhos, mundos possíveis.
fatos e sobre coisas concretas. Minha imaginação é
São sementes que fazem um pensamento sair de uma
péssima [...].
cabeça e chegar a milhões de leitores, que dão voz
Rubem Braga
a personagens socialmente mudos, que enfrentam

L
governos autoritários e que podem fazer nascer flores iteratura é uma palavra originada do latim litteris,
em solos áridos. No fim, livros são uma prova de que a que significa “letras”, um conjunto de saberes e/ou
realidade não basta e de que, juntando palavras, a vida habilidades: ler, escrever, criar artes e compor textos.
pode ser muito maior. Existem inúmeras produções literárias em que a literatura
apresenta diferentes gêneros, que podem ou não agradar
distintos gostos e públicos, como a literatura de cordel, a
Marcel Verrumo é jornalista e mestre em
Comunicação pela Unesp. Especializado em
literatura popular, a literatura portuguesa, entre outras. Não
Jornalismo Cultural, já passou pelas editoras podemos esquecer que é também uma disciplina escolar, na
Abril e Globo. É autor do livro História
bizarra da literatura brasileira (Editora
qual se estuda a contribuição de autores e suas obras.
Planeta, 2017) e professor de De uns tempos para cá, a literatura tem mudado e, hoje,
Pós-Graduação da Faap. Também fala
abre-se em horizontes e possibilidades. Os textos das redes
sobre Literatura e História no canal “Perdido
na História”, no Youtube. sociais, uma conversa entre amigos, os grandes autores
Arquivo pessoal/Nati Luz
premiados: tudo isso é literatura. Portanto, além do livro
impresso, a mídia digital tem se tornado um suporte de leitura,
e todo assunto pode ser um gancho para um texto literário. É
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
possível escrever e refletir sobre temas das conversas banais
estabelece competências e habilidades
do dia a dia bem como sobre Clarice Lispector sem o peso
norteadoras do estudo dos conteúdos exigidos
acadêmico, a obrigação escolar, ou seja, de uma maneira
para o Ensino Médio. Por meio do texto “Escrever
livros é semear mudanças”, foram trabalhadas as
viável, simples e objetiva.
seguintes competência e habilidades da área de Hoje nos abrimos para uma literatura que seja de diferentes
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias: modalidades e realmente para todos, que provoque a reflexão
C5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos sobre os novos formatos consumidos e que proporcione prazer
expressivos das linguagens, relacionando e conhecimento em suas leituras.
textos com seus contextos, mediante a Esperamos que seja possível levá-la a lugares do nosso
natureza, função, organização, estrutura das cotidiano e para dentro de nossas casas, mas é preciso ter
manifestações, de acordo com as condições de em mente que a literatura pode e deve ir a qualquer lugar.
produção e recepção. Se histórias, poemas, peças teatrais chegam até nós e nos
H15 – Estabelecer relações entre o texto literário despertam, significa que podem também mudar o mundo.
e o momento de sua produção, situando
A literatura, portanto, é uma arte que vai muito além da
aspectos do contexto histórico, social e político.
informação, é um portal de acesso às histórias do mundo, à
HA H16 – Relacionar informações sobre concepções
cultura escrita, ao universo dos sonhos encantados.
artísticas e procedimentos de construção do
BILI texto literário.
No Brasil, essencialmente, temos uma produção literária
rica, com grandes e bons autores, que está ao alcance
DA H17 – Reconhecer a presença de valores
de todos. Não vamos deixá-la fora do nosso horizonte de
sociais e humanos atualizáveis e permanentes
DES no patrimônio literário nacional. possibilidades!

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E N T R E V I S TA | Plinio Martins Filho

Plinio Martins Filho


Arquivo pessoal/
CARREIRA:
Produção Editorial
Plinio Martins Filho é professor do
Departamento de Jornalismo e Editoração
da Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Trabalha na área de Produção Editorial
desde 1971. Dirigiu a Editora da Universidade
de São Paulo – Edusp – de 1989 a 2016.
É mestre e doutor em Ciências da
Comunicação pela USP. Já editou mais de
3.000 títulos pelas editoras em que trabalhou
e por uma centena deles recebeu o Prêmio
Jabuti – a mais destacada premiação do
setor no Brasil. Publicou e organizou vários
livros sobre história e técnicas de edição de
livros, dentre os quais se destaca o Manual
de Editoração e Estilo, que foi premiado com
o Jabuti de melhor livro de Comunicação de
2017. Atualmente, é coordenador do Núcleo
fortovik/Shutterstock.com

de Estudos do Livro e editor da revista Livro.

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Equipe Leia Agora: Quais devem ser os interesses Equipe LA: Necessariamente, o profissional desse
do candidato com relação ao curso de Editoração/ setor trabalhará com revisão de textos? Quais
Produção Editorial? Quais são as principais podem ser as áreas de atuação de um profissional
disciplinas do currículo dessa graduação? de Produção Editorial?

?
Editar é dar à luz, conceber, planejar e preparar A revisão é uma das várias possibilidades de atuação
o conteúdo de um livro, em colaboração com o do egresso do curso, talvez a que mais empregue. No
autor. O livro é, há muito, uma das tecnologias mais entanto, na longa cadeia de produção do livro, há várias
importantes da história. As editoras notabilizaram não atividades/profissões, nas áreas de leitura crítica, direitos
só os autores, mas também os trabalhadores do livro. autorais, designer, revisão de provas, capista (designer de
A humanidade utiliza o livro há milênios como meio de capas), diagramação, tradução, divulgação, entre outras.
registrar todo o conhecimento, e, sem dúvida, ele é o
melhor instrumento de formação cultural e educacional. Equipe LA: Como é a rotina de quem trabalha com
Portanto, o candidato a editor deve, em primeiro lugar, produção editorial? Você poderia descrever um dia
conhecer e gostar muito do livro e da leitura. de trabalho desse profissional?
O curso procura formar editores que sejam, em primeiro O curso de Editoração pode formar especialistas em
lugar, humanistas, sem dispensar a tecnologia. Há uma várias etapas da produção de livros.
carga de matérias ligadas às Humanidades (Literatura; O editor propriamente dito deve dominar todos os
Língua Portuguesa; Cultura Brasileira; História do Livro) passos da edição – do autor ao leitor. Ele precisa
e outras mais técnicas (Produção Editorial; Revisão; conhecer todas as fases para poder decidir e orientar.
Comercialização e Distribuição). O editor não é o designer, mas precisa conhecer essa
O curso, na USP, completa-se com três semestres na arte. Não é o revisor, mas precisa conhecer as normas
Editora-Laboratório, na qual todos os alunos praticam de edição, dominar bem a língua portuguesa e ter
o passo a passo de todos os ofícios ligados à edição conhecimento de outras línguas.
(avaliação de originais; preparação e edição de textos,
revisões de prova; orçamentos etc.). Equipe LA: A área de Produção Editorial está em alta?
O curso exige que o estudante faça estágios, de forma
que facilite seu ingresso no mercado de trabalho?
“O editor não é o designer, mas O curso já recebeu o prêmio de melhor empregabili-
precisa conhecer essa arte. Não é dade, e todos que se formam estão trabalhando na
área. O estágio é sempre aconselhável, mas no caso
o revisor, mas precisa conhecer as
da USP não é obrigatório, já que a Editora-Laboratório
normas de edição, dominar bem a cumpre essa tarefa. Também não tem faltado oferta
de estágio nas editoras privadas.
língua portuguesa”

Uma das funções, dentro da área de Produção


Editorial, é a de revisor. O profissional precisa
Maica/iStockphoto.com

dominar a língua portuguesa, bem como outros


idiomas.

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Equipe LA: É possível atuar com as redes sociais Equipe LA: Por que você recomendaria a carreira de
sendo um profissional de Produção Editorial? Como? Produção Editorial?
O profissional de Editoração pode atuar nas redes Sou suspeito para recomendar! Trabalho há quase meio
sociais, principalmente no setor de marketing e de século nessa área. Toda a minha formação profissional,
divulgação. Como ele conhece o livro e as técnicas de educacional e até mesmo financeira ocorreram por meio
edição, com certeza, caso se identifique com essa área, do livro. Posso afirmar que ele me deu tudo o que tenho e
terá uma formação muito mais adequada para atuar sou hoje. E fiz isso com muito prazer!
nos meios de comunicação.
Equipe LA: Em abril, é comemorado o Dia Mundial
do Livro. Na sua opinião, qual é o papel do livro na
Equipe LA: Diante de um mercado editorial cada vez
educação brasileira?
mais tecnológico, quais são as dicas para quem deseja
Em suas diversas formas, o livro tem persistido como
investir em publicações digitais, como os e-books?
agente e como testemunho da história desde o início
Apesar de toda falácia a respeito do livro impresso, é ele
da civilização. Isso me leva a crer que ele se manterá
que ainda domina o mercado editorial. A edição do livro
por muitos séculos como instrumento de comunicação
digital é outra forma de livro. Ambos se complementam.
necessário entre as pessoas.
Formam uma parceria necessária que vai conviver por
Hoje se fala muito do fim do livro impresso. Ele nunca vai
muito tempo. Estranhamente, não conheço nenhuma
acabar, seja na forma impressa ou digital, com algumas
editora que viva somente do e-book.
vantagens para o livro impresso: não usa bateria e não
encrenca!
Equipe LA: Quais são as expectativas e os desafios
do mercado de trabalho nessa área para os próximos “Hoje se fala muito do fim do livro
anos?
impresso. Ele nunca vai acabar,
Há algumas profissões ligadas ao livro que a tecnologia
não vai substituir: escrever e revisar bem e a criação seja na forma impressa ou digital,
artística de projetos e de capas. A tecnologia faz parte com algumas vantagens para o
de tudo isso, mas o fator humano jamais será abolido. É
um mercado estável e que oferece uma gama enorme de
livro impresso: não usa bateria e
possibilidades e atuação. não encrenca!”

jorisvo/Shutterstock.com

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PA R Ê N T E S E

lechatnoir/iStockphoto.com

Autores independentes e o
mercado editorial
Po r B r u n o Fr e i t a s

Alguma vez você já pensou em escrever um livro? O processo de escrita nem sempre é uma
tarefa fácil, já que colocar as suas ideias no papel e transformá-las em uma obra literária é algo
desafiador – mesmo para pessoas que possuem o dom da escrita e da criatividade. Contudo,
mais difícil do que criar um livro é publicá-lo. O processo de aceitação de um livro por parte das
grandes editoras é burocrático e trabalhoso, exigindo dos autores, principalmente daqueles que não
possuem nenhuma experiência no mercado editorial, muito mais do que uma boa história com apelo
comercial.
Nesse contexto, podemos afirmar que a internet é uma aliada importante dos chamados autores
independentes, permitindo a eles um caminho alternativo para a publicação de suas histórias. No
mercado editorial convencional, os escritores contam com um amplo apoio de profissionais da área,
como editores, diagramadores e publicitários, todos focados em deixar a história o mais atrativa
possível para despertar a atenção do público consumidor. Já do outro lado da moeda, quando um
autor se propõe a publicar e custear seu próprio livro, ele encontrará pela frente uma maior liberdade
de criação e de divulgação, ainda que precise se desdobrar para fazer com que seu trabalho chegue
às mãos dos leitores.
Atualmente, é imprescindível que os escritores, sobretudo os de primeira viagem, mantenham perfis
ativos em diferentes mídias sociais, já que o número de seguidores é tão importante quanto o de
leitores, sendo um fator determinante para o sucesso de quem escreve livros. Em outras palavras,
os leitores estão cada vez mais interessados na vida pessoal dos autores, às vezes mais do que
nas próprias histórias que escrevem. Ponto positivo para aqueles que se aventuram no mercado
independente e têm disposição de sobra para estarem próximos de milhares de seguidores.
Sem a burocracia do mercado e livre da dependência das editoras, a autopublicação é algo que
veio para ficar – existem até profissionais e empresas especializadas nesse novo nicho de mercado.
Mas, com o aumento de autores independentes, há leitores para tantas novas histórias? Segundo
a 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Ibope e encomendada pelo
Instituto Pró-Livro, entre 2001 e 2015 o número de leitores no país subiu em 6 pontos percentuais,
atingindo a marca de 104,7 milhões de pessoas. A pesquisa considera como leitor a pessoa que
leu um livro inteiro ou em partes nos últimos três meses do levantamento.
Então, com tantos novos autores e com o crescimento, ainda que tímido, do número de
leitores, o mercado editorial, independente ou não, ainda tem uma longa trajetória pela frente,
contrariando todas as expectativas de um final triste para essa história.

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Mosaico • A G E N D A •
Slava17/Shutterstock.com

LITERATURA

Cultural
16ª Flip
De 25 a 29 de julho
ONDE: Paraty (RJ).
A Festa Literária Internacional de Paraty
contará com a presença do escritor André
Aciman, de Me chame pelo seu nome. A atriz
Fernanda Montenegro e a pianista Jocy de
Oliveira abrem o evento. A festa homenageia a
LIVRO OU FILME: QUAL É O MELHOR? escritora Hilda Hilst, autora de poesia, ficção,
Os filmes baseados em livros sempre fizeram parte da história teatro e crônica.
do cinema. Uma das primeiras adaptações foi Cinderella INFO: <flip.org.br>.
(1898), feita a partir da obra do francês Charles Perrault
(1697). No início, a preocupação era mostrar imagens ON-LINE
simples e superficiais ditadas pelo livro. O cinema evoluiu Harry Potter: uma história mágica
artística e tecnicamente, e, já na primeira solenidade do Permanente
Oscar, premiando filmes de 1927, o melhor roteiro, do ONDE: Internet.
O Google Arts & Culture disponibiliza um rico
filme Sétimo céu, já era uma adaptação da peça da
material sobre Harry Potter, personagem criado
Broadway. Poucos anos depois, os organizadores pela escritora britânica J. K. Rowling, com
dividiram a categoria em roteiro original e adaptado, fotos, textos, vídeos, documentos (incluindo
cada um com suas peculiaridades. manuscritos da autora) e a arte de Jim Kay,
Não é difícil bradarmos ou ouvirmos que “o ilustrador dos livros de Potter. O site tem até o
lendário pergaminho de Ripley.
livro é melhor”; porém, antes disso há muito a ser
INFO: <artsandculture.google.com/project/harry-
considerado. O livro tem todas as palavras do potter-a-history-of-magic>.
mundo para abastecer a mente do leitor e criar um
nível de detalhamento a serviço da narrativa. Em ARTE SACRA
um filme, ideias precisam ser suprimidas, alteradas, Imagens do Aleijadinho
Até 3 de junho
potencializadas para atender ao campo visual (cinema é
ONDE: São Paulo (SP).
imagem). Outros detalhes inerentes a um filme: a atuação
Esta é a primeira exposição monográfica do
dos atores, os ângulos, as cores e o estilo artístico do MASP dedicada à obra de Antônio Francisco
diretor. Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814). O Aleijadinho
Poucos filmes são exatamente como o livro, mas podemos é autor de uma série de obras realizadas em
citar dois exemplos bem-sucedidos: O silêncio dos inocentes igrejas mineiras. A exposição reúne 37 esculturas
devocionais atribuídas ao artista.
(1991), de Jonathan Demme, idêntico ao livro que Thomas Harris
INFO: <masp.org.br/exposicoes/aleijadinho>.
escreveu em 1988, e A época da inocência (1993), no qual Martin
Scorsese cuidou com muito carinho da história escrita por Edith Warthon
em 1920.

Fahrenheit 451. Direção: François Markus Zusak. A menina que roubava Como os livros podem abrir sua mente
Truffaut. Reino Unido, 1966. livros. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2011. A jovem chinesa programadora de softwares
Lida Bu expõe de maneira simples (mas
Baseado no livro de Ray Bradbury, Na Alemanha, durante a Segunda Guerra
muito apaixonada) suas especificidades ao
esta ficção científica traz um futuro no Mundial, a jovem Liesel faz amizade com
curtir os livros: primeiro, aprendendo outro
qual os livros são proibidos. Quando a mulher do prefeito e, fascinada por
idioma; depois, comparando obras na íntegra
o governo localiza um lote de livros, leitura, passa a roubar os livros da casa.
com versões censuradas na China; e, em
um grupo de bombeiros é acionado Em um mundo de guerra e destruição (e
seguida, detectando anomalias causadas por
para queimar as obras. Esse trabalho de queima de livros), a leitura dá a Liesel
traduções.
incomoda muito um dos bombeiros, um propósito em sua vida conturbada.
Acesse: <www.ted.com/talks/lisa_bu_how_books_
interpretado por Oskar Werner.
can_open_your_mind?referrer=playlist-the_
power_of_fiction_1#t-279689>.

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EXTRA! Busca literária

“Você precisa ler mais”.


O conselho vinha de todos os lados. Diziam sem ao menos terem sido
perguntados.
“Ajuda na escrita, na compreensão”.
Buscou algo para ler, mas não causou aquela paixão. Logo deixou de lado
o livro indicado. Torceu o nariz na primeira página. “Ah, muito complicado”.
Queria algo diferente, que dialogasse com o seu mundo. “Leia esse aqui,
Brasil Colônia como pano de fundo”.
Palavras difíceis, estranhas. Não faziam sentido. Por que descrever o
formato daquela montanha?
Largou sem hesitar. Não, não era aquilo. Queria sonhar, viajar, encantar-se.
Não entendia como existiam pessoas que amavam tanto ler, sendo que não
encontrava nada que agradasse ao seu ser.
O desânimo perdurou por algum tempo, mas não foi o suficiente para fazer
com que desistisse. Se tinha algo por aí que valesse a pena, iria encontrá-lo,
com certeza.
Livros e mais livros chegavam a suas mãos. Clássicos, indicações de
críticos, pais, professores, irmãos. “Esse é Nobel de Literatura, é muito bom”.
Não, não era isso, nada disso!
Era jovem, mal tinha aprendido a ler. Como queriam que lesse algo que
sequer conseguia compreender?
Precisava de alguém da sua idade, isso sim. A pergunta fez para um colega
de sala. Assim, como quem não quer nada, entregou-lhe o livro que lia. “Foi
Por Jéssica Anitelli

presente de aniversário da minha tia”.


A surpresa foi enorme ao encontrar uma personagem da sua idade e até
com o mesmo nome. Não sabia que isso podia acontecer. Leu sem o tempo
perceber. Terminou antes do esperado e buscou compreender o porquê de
não terem indicado algo magnífico antes.
Empolgou-se. Quis mais. Mostrou a todos, inclusive para seus pais.
“Mas não é bom ler esse tipo de livro”.
O comentário veio como um baque. “Nem é literatura”. Como podiam
pensar assim? O livro era destaque em todos os lugares que olhasse. Não,
tinha algo muito errado.
Continuou lendo aquilo que lhe agradava. Ria, chorava, encontrava-se
em cada página. Sua escrita melhorou, a compreensão, então, deslanchou.
Perguntaram sobre as dicas de leitura. “Está lendo literatura?”.
Sim, estava.

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