Sociedade conectada

filadendron/istockphoto.com
Do telégrafo aos smartphones, os dispositivos
de transmissão de mensagens passaram a
ditar relações e comportamentos

Comunicar: um ato responsável

A troca de informações é essencial para os seres humanos,
mas propagar conteúdos de maneira inadequada
pode causar conflitos

Dos fios ao mundo on-line

04
Edição
A transformação do contato face a face em
relacionamento mediado por interfaces tecnológicas

Carreira: Engenharia de Telecomunicações

A profissão que se dedica a desenvolver e aprimorar
Maio–2018 sistemas voltados às novas formas de comunicação
 Nesta edição

7
ENTRELINHAS
COMUNICAR: UM ATO RESPONSÁVEL
E x p e d i e n t e A troca de informações é essencial para os seres humanos, mas propagar
conteúdos de maneira inadequada pode causar conflitos

9
CONTEXTO
COMUNICAÇÃO: DOS FIOS AO MUNDO ON-LINE
Direção geral A transformação do contato face a face em relacionamento
Nicolau Arbex Sarkis mediado por interfaces tecnológicas

12
ENTREVISTA
CARREIRA: ENGENHARIA DE TELECOMUNICAÇÕES
Gerente editorial
A profissão que se dedica a desenvolver e aprimorar sistemas
Emilia Noriko Ohno
voltados às novas formas de comunicação

15
PARÊNTESE
Coord. de projetos editoriais DE UMA ENGENHOCA DE CALCULAR A UMA ENTIDADE CAPAZ
Marília L. dos Santos G. Ribeiro DE “AMAR”
Viviane Rodrigues Nepomuceno Editorial

Analista de projetos editoriais Sociedade conectada

O
Brunna Mayra Vieira da Conceição mês de maio tem duas datas importantes para as telecomunicações: no
dia 17 se comemora o Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade
Edição / Texto da Informação e no dia 5 é celebrado o Dia Nacional da Comunicações.
A data mundial foi criada pela União Internacional das Telecomunicações (UIT),
Anaiza Castellani Selingardi
uma entidade que surgiu em 1865, por esforço de 20 países europeus, quando o
Bruno Freitas
telégrafo despontou como a maior tecnologia de comunicação à distância. Naquele
Cláudio Leyria tempo, a organização se chamava União Internacional de Telegrafia; o nome foi
Edilene Faria atualizado nos anos 1930 com o advento de novas invenções no segmento.
Érica M. Bettoni Hayashibara Já a comemoração nacional homenageia o aniversário do sertanista marechal
Cândido Rondon, que nasceu em 5 de maio de 1865 – ano em que foi criada
Thaís Inocêncio
a UIT. Rondon recebeu o título de Patrono da Comunicação no Brasil por ter
cumprido a odisseia de levar linhas telegráficas ao Norte do país no início do
Projeto gráfico século XX. O marechal queria promover uma real integração nacional, criando
Willyam Gonçalves pontes entre a sociedade moderna da Costa Brasileira e os povos indígenas
escondidos em milhares de quilômetros quadrados de matas desconhecidas da
Revisão civilização moderna. Sua missão foi muito além: ele se tornou um apoiador das
causas indígenas e catalogou espécimes da fauna e da flora brasileira.
Kemi Tanisho
Do telégrafo aos dias de hoje, a vida em sociedade mudou muito. As
telecomunicações estão tão arraigadas em nosso dia a dia que, se, de repente,
Diagramação fossem desligadas, o mundo se tornaria um caos.
Willyam Gonçalves As modalidades de comunicação anteriormente apresentadas em livros, filmes
e séries de ficção científica já fazem parte da realidade e continuam evoluindo a
Licenciamento passos largos. A tecnologia se desenvolve tão rapidamente que não há tempo nem
de refletirmos qual deveria ser o comportamento adequado diante dessa evolução.
Jade Cristina Bernardino
No início do século XXI, esse é o ponto-chave: já estamos acostumados a desfrutar
da modernidade tecnológica, mas será que estamos lidando com ela corretamente?
Há tópicos sociais, éticos, morais e de segurança que merecem ser lapidados. Há,
também, aspectos emocionais que poderiam ser domados para que possamos
usufruir dessas maravilhas tecnológicas sem causar danos aos outros e a nós mesmos.
A tecnologia não vai parar, e isso é muito bom. Entretanto, podemos ser
mais críticos para que um equipamento ou aplicativo esteja a nosso serviço, mas
não nos controle. Esta edição traz muitas informações sobre telecomunicações e
oferece espaço para refletirmos sobre esse tema. Boa leitura!
Equipe Leia Agora

2
 // NOTÍCIAS EM FOCO Estados Unidos encerram ataques
após atingir instalações químicas
da Síria
Os Estados Unidos encerraram os bombardeios
aéreos lançados em conjunto com França e Reino
Unido sobre a Síria, na noite desta sexta-feira (13),
após atingirem os três alvos descritos como locais
de “capacidades químicas”: um centro de pesquisa
científica localizado na capital, Damasco; uma
instalação de armazenamento de armas químicas,
localizada a oeste de Homs; e ainda uma terceira
instalação, próxima ao segundo alvo, que serviria –
segundo o Pentágono – de armazém de equipamentos
de armas químicas, além de posto de comando.
14 abr. 2018 – Agência Brasil
Vale lembrar!
Após ataques na Síria, Conselho de Segurança da
ONU se reunirá a pedido de Rússia.
Leia em: <https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/04/otan-
apoia-ataque-a-siria-e-deve-ouvir-eua-reino-unido-e-franca-
ainda-neste-sabado.shtml>.
Tarsila está no Museu de Arte
Moderna de Nova York
A primeira artista latino-americana a contar com
uma retrospectiva no Moma é Tarsila do Amaral; e é
também a oitava de uma curta lista de autores dessa
região geográfica que desfilaram nas últimas décadas
pelas salas do Museu de Arte Moderna de Nova York.
A retrospectiva que o Moma propõe sobre Tarsila
do Amaral é tranquilizadora e suspeitamente parcial.
Põe o foco no período entre 1923 de 1933, a década
posterior a seus anos de aprendizado em Paris.
22 abr. 2018 – El País
Senador vai ao Conselho de Ética
contra Gleisi
O senador José Medeiros (Pode-MT) apresentou nesta
terça-feira (24) uma representação no Conselho de Ética
e Decoro Parlamentar do Senado contra a senadora
Gleisi Hoffmann, após a parlamentar conceder uma
entrevista na TV Al Jazeera. O pedido para investigar
a possível quebra de decoro da petista foi recebido
pelo presidente do colegiado, senador João Alberto
Brasil
Souza (MDB-MA), que o encaminhou à Advocacia
do Senado para uma análise prévia. Ao apresentar a
$ Economia petição, José Medeiros alega que Gleisi Hoffmann fez
Educação um chamamento a “grupos estrangeiros” para virem
ao Brasil após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio
Saúde
Lula da Silva. Segundo Medeiros, a senadora estaria
Cultura incitando o ódio e tentando incendiar o país.
24 abr. 2018 – Agência Brasil
Internacional
Ibope: só 19% dos brasileiros
pretendem ter filhos nos próximos
2 anos
Nos próximos dois anos, apenas 19% dos
brasileiros pretendem ter filhos, 17% por gravidez
e 2% por adoção. É o que mostra uma pesquisa
sobre natalidade, divulgada pelo Ibope. Do total
de entrevistados, 79% não pretendem ter filhos
até 2020, e 2% não sabem. Para a demógrafa e
diretora da Faculdade de Ciências Econômicas
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
Paula de Miranda Ribeiro, as pessoas adiam os
planos de ter filhos por razões diversas, como a
maior participação da mulher no mercado de
trabalho e a maior escolaridade, explicando que o
Estado não oferece boas condições para a mulher
conciliar a maternidade com a vida profissional.
24 abr. 2018 – Agência Brasil
Profissão de arqueólogo é regula-
mentada
A Presidência da República sancionou a lei que
regulamenta a profissão de arqueólogo. O texto foi
publicado no Diário Oficial da União desta quinta-
-feira (19) e estabelece que o exercício da profissão
pode ser realizado por: bacharéis em Arqueologia;
diplomados por escolas estrangeiras com diploma
revalidado no Brasil; pós-graduados com área
de concentração em Arqueologia, dissertação de
mestrado ou tese de doutorado na área e pelo menos
dois anos consecutivos de trabalho no setor. Também
serão reconhecidos como arqueólogos os diplomados
em outros cursos de nível superior que tenham, pelo
menos, cinco anos de trabalho na área.
19 abr. 2018 – Portal Brasil
Curso gratuito sobre internacionali-
zação no setor de jogos eletrônicos
O curso “Internacionalização no setor de games”,
com foco nos desafios do mercado externo, já
está disponível na internet. A iniciativa é resultado
de parceria do Ministério da Cultura (MinC) com
a Associação Brasileira dos Desenvolvedores de
Jogos Digitais (Abragames) e o Núcleo de Estudos
em Economia Criativa e da Cultura da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (NECCULT-UFRGS).
As inscrições podem ser feitas a qualquer momento,
na plataforma de cursos on-line Lúmina, da UFRGS.
As aulas são gratuitas, em formato de educação a
distância (vídeos e textos), e dão direito a certificado
de conclusão.
24 abr. 2018 – Ministério da Cultura
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 // NOTÍCIAS EM FOCO Anatel reduz em 2,65% tarifas de
$
telefonia fixa
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
determinou a redução dos valores das tarifas
de assinatura da telefonia fixa da prestadora
Vivo no estado de São Paulo, onde a empresa é
concessionária. A partir do mês de maio, o valor da
assinatura residencial passará a ser de R$ 24,22,
redução de 2,65% em relação ao valor atual. A
redução se deve ao compartilhamento dos ganhos
da fusão entre as empresas Vivo e GVT no ano de
2016, de acordo com determinação da Anatel.
19 abr. 2018 – Anatel
Atenas: capital mundial do livro em
2018
O Dia Mundial do Livro e dos Direitos Autorais é
comemorado hoje [23 de abril]. A data foi decretada pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (UNESCO) como uma homenagem
a importantes autores, como William Shakespeare,
Miguel Cervantes e Inca Garcilaso de la Vega, que
morreram nesta data. Atenas foi designada a capital
mundial do livro de 2018. Segundo a UNESCO,
a cidade foi escolhida como reconhecimento da
qualidade de seus programas de apoio ao setor
editorial, que têm facilitado o acesso aos livros pela
população como um todo e, em especial, a migrantes
e refugiados. O tema do Dia Mundial do Livro de 2018
é “Ler é meu direito!”.
23 abr. 2018 – Agência Brasil
ONU testa drones para combater
mosquitos no Brasil
A Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) está
realizando com sucesso, no Brasil, testes com drones
para combater mosquitos transmissores de doenças.
Os pequenos veículos não tripulados transportam
milhares de insetos tornados estéreis através de
radiação, que são liberados no meio ambiente e cruzam
com mosquitos nativos sem gerar descendentes.
Com isso, ao longo do tempo, a população de insetos
diminui, reduzindo a propagação de doenças como
dengue, zica e outras. O Brasil deve começar a usar
esse sistema em zonas rurais e urbanas em janeiro do
próximo ano, no pico do verão e época do mosquito.
19 abr. 2018 – Agência Brasil
Fake news geraram guerras e
conflitos ao redor do mundo
“Se uma história é demasiadamente emocionante
ou dramática, provavelmente não é real. A verdade é
geralmente entediante”, disse a jornalista ucraniana
Olga Yurkova durante a palestra inaugural do TED
2018, a série de conferências realizada neste mês
em Vancouver, no Canadá. A ativista engajada no
combate a notícias falsas – cofundadora do site
StopFake – disse que as chamadas fake news
são “uma ameaça à democracia e à sociedade”.
Yurkova lançou o StopFake em 2014 para abordar o
problema na Ucrânia. Desde então, o grupo evoluiu
até se transformar em uma sofisticada organização
de comprovação de fatos em 11 idiomas.
25 abr. 2018 – BBC

*Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 26 abr. 2018.

Mais de 40% dos brasileiros até 14 anos vivem em situação de pobreza

kamomeen/Shutterstock.com
17,3 milhões de crianças (mais de 40%) e adolescentes de até 14 anos vivem em situação domiciliar
de pobreza no Brasil.

5,8 milhões de jovens estão em extrema pobreza (13,5%).

2,5 milhões de crianças se encontram em situação de trabalho infantil e escravo.

33% da população brasileira é formada por crianças e jovens, enquanto, no grupo dos mais pobres,
esse segmento etário chega a 40,2%.

Brasil Somente 27% das crianças de 0 a 3 anos têm vaga em creche. A meta prevista no Plano Nacional de
Educação, em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, é oferecer vagas
$ Economia para 50% da população de 0 a 3 anos até 2024.
Educação 18,4% dos homicídios cometidos no Brasil em 2016 vitimaram menores de 19 anos de idade, um
Saúde
total de 10.676. Dessas vítimas, mais de 70% são jovens negros, pobres e que vivem na periferia.

Cultura Fonte: Fundação Abrinq e Agência Brasil

Internacional

4
 A lynching memorial is opening. The country
has never seen anything like it.

[...] The National Memorial for Peace and Justice [in Montgomery], which opens Thursday on a six-acre site
overlooking the Alabama state capital, is dedicated to the victims of American white supremacy. And it demands a
reckoning with one of the nation’s least recognized atrocities: the lynching of thousands of black people in a
decades-long campaign of racist terror.
[...]
Inspired by the Holocaust Memorial in Berlin and the Apartheid Museum in Johannesburg, Mr. Bryan Stevenson,
the founder of the Equal Justice Initiative, the nonprofit organization behind the memorial, decided that a single
memorial was the most powerful way to give a sense of the scale of the bloodshed.

25 abr. 2018 – The New York Times

The New York Times

NEW YORK

El Comercio
QUITO

Perjudicados en red de criptomonedas no

reciben su dinero

Más de tres meses después de haber denunciado una supuesta estafa, los cerca de 1 500 comerciantes,
trabajadores y amas de casa que invirtieron entre USD 100 y 1 000 mensuales en una plataforma digital aún
no han recibido respuestas ni han obtenido su dinero de vuelta. El 23 de enero último, el Movimiento Indígena
y Campesino de Cotopaxi (MICC) dio a conocer una supuesta estafa masiva del sistema Bit Trader o Banco
del Futuro, que prometía ganancias a través de las criptomonedas o bitcoins.

24 abr. 2018 – El Comercio

Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 26 abr. 2018.

5
 NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS/
Gerald Eichstädt /Seán Doran

No dia 23 de abril, a NASA publicou em seu portal na

internet uma imagem da superfície de Júpiter que chama
a atenção pela qualidade de sua resolução, destacando
o famoso “olho vermelho”, um ciclone permanente do
planeta. A imagem foi captada pela sonda espacial
Juno, que atualmente orbita o planeta gasoso. O grande
feito da Juno foi ter registrado a imagem a apenas
25 mil quilômetros do topo das nuvens ácidas de Júpiter.
23 abr. 2018 – NASA

// IMAGEM EM FOCO
6
 ENTRELINHAS

Comunicar: um ato responsável

A comunicação é essencial para os seres humanos, pois permite o desenvolvimento de sociedades e culturas.
No entanto, transmitir e propagar mensagens de maneira inadequada pode causar diversos conflitos.

TEXTO 01 03TEXTO
A importância de comunicar foi reconhecida na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, que
estabelece que “todo ser humano tem direito à liberdade
de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de,
sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e
independentemente de fronteiras”.
De 1948, quando a declaração foi feita, até agora, o
fluxo de informação e comunicação é cada vez maior.
A mídia passou a ocupar um lugar ainda mais central
na vida pública. Por meio dela, é possível saber o que
ocorre em diferentes partes do mundo [...].
A possibilidade de criar e propagar informações
próprias, sem depender de mediadores, motivou a criação
da Agência de Notícias das Favelas (ANF), considerada
a primeira no mundo a produzir notícias diretamente
de favelas. [Segundo] o idealizador da entidade, André
Fernandes, [...] “a comunicação garante direitos porque faz
com que o cidadão se torne autor da sua cidadania, faz
com que aqueles que não tinham voz passem a ter”. [...]
Helena Martins; Lilian Beraldo (Ed). “Comunicação: reconhecimento
como direito humano fundamental é recente”. Agência Brasil,
1 out. 2014. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/
geral/noticia/2014-10/comunicacao-reconhecimento-como-direito-
humano-fundamental-recente>. Acesso em: 27 abr. 2018.

TEXTO 02 AntonKarlik/Shutterstock.com

O problema – e esse está diretamente relacionado a

como a nossa mente funciona – é que [...] a exposição
a fake news pode ter um efeito devastador na maneira
como agimos e tomamos as nossas decisões mesmo
depois de saber que a notícia é falsa.
Mas tem como se proteger disso? Sim. [...] Avalie
bem as fontes de notícia, peça opinião de pessoas ou
especialistas que você confie e pare de ter exposição
aos meios de comunicação que tendem a propagar
notícias falsas e emocionalmente carregadas.
André L. Souza. “Virgindade intelectual: o perigo das fake news.”
Medium. Disponível em: <https://medium.com/@andrelesouza/
virgindade-intelectual-o-perigo-das-fake-news-911bdea064f2>.
Acesso em: 25 abr. 2018.

7
 ENTRELINHAS
ANÁLISE
A
comunicação é definida pelo dicionário Houaiss como
a “ação de transmitir uma mensagem e, eventualmente,
receber outra mensagem como resposta”. Assim,
comunicar-se é essencial para todos os animais, pois é por
meio desse processo que são capazes de adquirir e repassar
o conhecimento através das gerações. Entre a maioria dos
animais, a comunicação é limitada a uma linguagem não verbal,
predominantemente gestual, que exprime, essencialmente,
necessidades básicas de alimentação, reprodução e defesa. Entre
os seres humanos, a comunicação vai além: pode ser oral, escrita,
corporal, de sinais, entre outras, sendo estabelecida pelo diálogo,
pela dança, pela mímica e até pelo famoso código Morse. Desse
modo, o processo comunicativo permite o desenvolvimento de
sociedades e a criação de culturas.
No entanto, tão importante quanto o ato de comunicar, que
envolve o emissor e o receptor, é o meio pelo qual a mensagem é
transmitida. Você já percebeu que uma mesma mensagem
é exibida de formas diferentes na televisão e na internet, por
exemplo? Além disso, a mídia utilizada – seja o rádio, a TV,
os jornais impressos ou os canais on-line – possibilita que a
mensagem ultrapasse barreiras geográficas e atinja um grande
número de pessoas.
O Texto 1 é uma reportagem da Agência Brasil e revela
que, recentemente, a importância de comunicar foi reconhecida
na Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento
adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde
1948. Nele, fica estabelecido que todo ser humano tem o direito
de “receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios
e independentemente de fronteiras”. Isso evidencia que, além de
sermos submetidos às informações, podemos propagá-las sem
a necessidade de mediadores, fato que motivou a criação da
Agência de Notícias das Favelas (ANF), mencionada no trecho.
Porém, a possibilidade de qualquer pessoa produzir
conteúdo e difundi-lo para todas as partes do mundo, inclusive
instantaneamente, também apresenta riscos. Um deles são
as chamadas fake news (em português, notícias falsas). Esse
não é um fenômeno novo na sociedade; a novidade é a rapidez
com que essas informações mentirosas têm sido produzidas
e difundidas, alcançando muitas pessoas e podendo provocar
problemas de grandes dimensões. Nesse sentido, o Texto 2,
opinativo, destaca que, mesmo depois de sabermos que uma
notícia é falsa, essa informação continua afetando a nossa
percepção da realidade e as decisões que tomamos com base
nela. Isso porque o nosso sistema cognitivo tem dificuldade de
modificar uma informação após ela ter sido adquirida.
Além disso, em geral, as fake news são notícias carregadas
de apelo emocional, visando chamar a atenção do receptor e
estimulá-lo a compartilhar esse conteúdo. De acordo com o
portal Buzzfeed News, no Brasil, as dez notícias falsas mais
populares sobre a Operação Lava Jato, comandada pela Polícia
Federal, têm maior engajamento do que as dez verdadeiras
mais populares. Por isso, o Texto 2 reforça a necessidade de
se proteger das notícias falsas antes que elas transformem
completamente a maneira como pensamos e agimos.
É preciso considerar ainda que, mesmo que as informações
publicadas sejam verdadeiras, elas podem ser manipuladas,
sobretudo pelas poucas empresas que controlam os principais
veículos de comunicação. O Texto 3 é uma ilustração que
demonstra o poder da mídia sobre a opinião pública. A imagem
vai ao encontro de uma teoria da comunicação chamada “Agenda
Setting”, desenvolvida pelos pesquisadores norte-americanos
Maxwell McComns e Donald Shaw em 1972. De acordo com
esse estudo, a seleção e a disposição ou hierarquização dos
assuntos na mídia determinam os temas sobre os quais o
público pensará e discutirá. Assim, as informações que recebem
maior destaque também são vistas pelo público como mais
importantes. Nesse sentido, a mídia pode ser vista como uma
agente modificadora da realidade social, uma vez que é capaz de
direcionar os esforços da sociedade para determinado problema
ou situação.
Mas, afinal, de quem é a responsabilidade pela
comunicação? Do emissor, que deve transmitir mensagens
claras e verdadeiras de maneira eficiente e adequada ao seu
público; ou do receptor, que deve buscar informações de
fontes confiáveis e apurá-las antes de repassar seu conteúdo?
Pense sobre essa resposta e produza uma dissertação que
aponte os direitos e deveres de cada parte envolvida no ato
de comunicar. Analisar jornais, telejornais e notícias veiculadas
na internet pode contribuir para a sua argumentação. Boa
produção textual!
Editorial
Diego Schtutman/Shutterstock.com
8
Comunicação:
dos fios ao
mundo on-line
Partimos de uma comunicação face a face, que conectava pessoas pelas
mídias tradicionais; hoje nos comunicamos mais e de diversas formas,
reunindo diversos meios em um cenário de constantes mudanças.
POR VÂNIA BRAZ DE OLIVEIRA
Q
uando falamos de comunicação, pensamos
logo na definição do filósofo grego Aristóteles,
o qual afirma que a comunicação é a
“procura de todos os meios disponíveis de
persuasão”, meios pelos quais nos comunicamos. Tudo é
comunicação: os sons que produzimos, nossos gestos e
movimentos do corpo, a roupa que usamos, os programas
a que assistimos na TV ou que ouvimos no rádio, os textos
que lemos nas revistas ou nos jornais e, até mesmo, a
informação que produzimos e compartilhamos nas redes
sociais on-line. O fato é que nossas relações sociais
saíram da “Galáxia de Gutenberg” e migraram para a
“Galáxia da internet”, que, pela primeira vez, permite a
comunicação de um com muitos e de muitos com muitos,
em um momento definido pelo usuário e em escala global.
Para o pesquisador e doutor em comunicação
Mássimo Di Felice, a humanidade passou por três
grandes revoluções comunicativas, sendo a primeira com
o surgimento da escrita, no século V a.C., no Oriente;
a segunda com a invenção dos caracteres móveis e
com a prensa de Gutenberg, no século XV, na Europa;
e a terceira com a cultura de massa e a veiculação das
pixelfit/iStockphoto.com
mensagens por meios de comunicação eletrônicos, no
Ocidente, a partir do século XX. Do relacionamento face
a face, passamos para o relacionamento regido pelas
mídias de massa, o que proporcionou uma maneira
diferente de mediação social. Olhamos para a invenção
de Gutenberg e entendemos que a comunicação oral, os
manuscritos e os impressos coexistiram e integraram-se,
facilitando o acúmulo de conhecimento e a difusão das
descobertas e tornando-se cada vez mais importantes
em nossa vida cotidiana. O autor complementa com o
que chama de quarta revolução: a da tecnologia digital,
que estaria ocasionando importantes transformações no
convívio humano. Transformações estas não imaginadas
pelo patrono da comunicação no Brasil, Cândido Mariano
da Silva Rondon.
Fazendo jus ao título e às homenagens recebidas
por ele até hoje, Marechal Rondon utilizou-se do principal
papel da comunicação, que é o de estabelecer relações,
vistas na sociedade por meio das interações que cada
indivíduo desempenha, por sua vez, em ações. Nesse
sentido, no início do século XX, Marechal Rondon trouxe
inúmeros benefícios para a sociedade brasileira, por meio
9
dos conhecimentos adquiridos em suas expedições e
relações sociais; consequentemente, ele promoveu uma
maior interação comunicacional entre regiões do Brasil
até então estranhas umas às outras, abrindo caminhos,
inventariando a fauna e a flora e integrando os indígenas
à sociedade. Desse modo, ao analisarmos os feitos de
Rondon, compreendemos que a sociedade é fruto de
um processo relacional, pois dependemos da interação
com o outro para existir, gerando a própria existência da
comunicação.
johan10/iStockphoto.com
Marechal Rondon, patrono das comunicações no Brasil.
Traçando um paralelo, podemos dizer que tal
interação teve início com o desenvolvimento da imprensa
no mundo, entre os séculos XVIII e XIX. As máquinas
rotativas e a litografia entraram em funcionamento, além
da publicidade impressa que havia se desenvolvido
no século XVII. Abria-se, então, um novo olhar para a
comunicação, utilizando a mídia impressa como suporte.
No Brasil, a mídia impressa, no início do século XIX,
despertou o interesse de comerciantes por meio das
publicações do padre José Joaquim Viegas de Menezes,
o qual construiu a primeira oficina tipográfica no país.
Naquele momento, no Rio de Janeiro, existiam cerca
de 20 periódicos impressos – o Correio Braziliense era
um deles. Lançado por Hipólito José da Costa Pereira
Furtado de Mendonça em 1808, é considerado por
muitos pesquisadores o primeiro jornal brasileiro; todavia,
sua distribuição e circulação ainda eram precárias
no período. Nesse contexto, o bonde – outro meio
de comunicação entre territórios – já era um negócio
próspero e lucrativo, porém também não chegava a
regiões remotas. Objetivando facilitar o transporte de
correspondências e a troca de informações, Portugal
criou o Ofício de Correio-Mor do Reino e das costas do
mar, inclusive no Brasil, nomeando assistentes na Bahia
e no Rio de Janeiro. O serviço ainda não era bem-aceito
nem eficaz, mas foi sendo substituído, aos poucos, pelos
tropeiros que tinham uma regularidade e que foram se
tornando, eles próprios, um veículo de comunicação.
Contudo, o processo de integração e comunicação só
se tornou mais eficiente no Brasil com as ferrovias. Para
David Harvey, um dos mais conceituados geógrafos
da atualidade, passamos a caminhar sobre rodas com
a chegada das estradas de ferro. Demos, assim, os
primeiros passos para encurtar distâncias, e o contato
entre as pessoas e as localidades se tornaria mais
próximo; em consequência, as notícias chegavam com
mais agilidade aos centros urbanos.
Simultaneamente ao surgimento dos periódicos,
desenvolviam-se novos suportes de comunicação, como
o telégrafo e o telefone. A vida social também estava em
constante transformação, no Brasil e no mundo. Atento
a essas mudanças comunicacionais e às possibilidades
interacionais que surgiam estava Marechal Rondon,
que, além dos feitos já mencionados, no início do
século XX desbravou mais de 70 mil quilômetros
de sertão brasileiro, explorando fronteiras e abrindo
caminhos para estabelecer a ligação dos que estavam à
margem com as linhas telegráficas.
cjp/iStockphoto.com
Mulher utilizando o telégrafo, no início do século XX.
Juntamente com a telegrafia e a mídia impressa,
movido pelo interesse crescente do público fascinado
pela transmissão da voz, temos o surgimento do rádio.
Essa mídia também passava a ser vista pelo caráter de
modernidade e tecnologia, pois o interesse pela caixinha
de som ultrapassava a fronteira do entretenimento.
Durante décadas, o rádio se transformou, assumindo
10
um papel central no imaginário coletivo e na informação
de massa. Ele preencheu as necessidades de milhões
de pessoas, que passavam a ter a música para restaurar
os ânimos, gente engraçada para animá-las e notícias
para mantê-las informadas.
Jovep305/iStockphoto.com
Modelos antigos de aparelhos de rádio.
Já com o aparecimento da televisão, em 1950,
o rádio começou a assumir um papel marginal e a se
tornar cada vez mais íntimo e individualizado. A TV,
revolucionária, foi um divisor de águas, e, de lá para cá,
tudo começou a se modificar mais rapidamente. Nosso
processo de mudança pela tecnologia deixou o aparelho
de TV cada vez menor, mais leve e com melhor definição.
Tanto a TV quanto o rádio e o telefone ganharam, também,
possibilidades de interatividade, o que já permite aos
consumidores de informação uma maior intervenção
junto às produções. Para o doutor em Comunicação e
Informação Alex Primo, o desenvolvimento dos meios de
comunicação veio oferecer formas de ação e novos tipos
de relacionamentos sociais. Segundo ele, quando se fala
em comunicação mediada por computador e internet,
“a interação passa a dissociar-se, então, do ambiente
físico, estendendo-se no espaço e proporcionando uma
ação à distância”.
Bet_Noire/iStockphoto.com
Não podemos nos esquecer de que todas as
formas de interação se associam às experiências
de reciprocidade entre o ser humano e as diversas
máquinas que nos cercam, como os meios de
comunicação. Pelos novos meios, principalmente
a internet, os indivíduos deixaram de lado a forma
passiva de recepção de informações, presente
nos meios tradicionais, para resgatar o receptor
que se impõe e participa. As práticas humanísticas
antigas transformaram-se em redes ligadas pela
internet, permitindo flexibilidade e, ao mesmo tempo,
complexidade e expressão individualizada em uma
comunicação global e horizontal.
Para o teórico em comunicação André Lemos
e para o sociólogo espanhol Manuel Castells, essa
comunicação global e horizontal é fruto de uma
revolução digital e implica na passagem dos meios de
massa (TV, rádio, imprensa) para formas individualizadas
de produção, difusão e estoque de informação, em uma
sociedade em rede sem fronteira temporal e espacial
na qual o nosso “relacionar” foi sendo redimensionado.
A jornalista e pesquisadora em mídia e educação
Silvana Contijo completa esse raciocínio ao afirmar que
esse “relacionar” traz transformações nos processos
de escrever e ler, de falar e ouvir, de produzir e receber
informações e, em última análise, de pensar.
peterhowell/iStockphoto.com
As antigas barreiras de tempo e espaço,
inicialmente vivenciadas por Marechal Rondon,
foram abolidas graças às novas tecnologias digitais
e à rápida globalização da economia mundial,
segundo o sociólogo Dominique Wolton, firmando
as transformações na esfera da comunicação que
representam a mais importante revolução dos últimos
50 anos da história da humanidade. A visão de Wolton
é a de que há um fluxo crescente de emissores,
mensagens e receptores que se conectam cada vez
11

mais rapidamente e de lugares cada vez mais distantes
entre si. Hoje, vivemos a interconexão de expressões
individualizadas no coletivo das redes sociais on-line, o
que, afirmamos novamente, pela primeira vez permite a
comunicação de um com muitos e de muitos com muitos.
Há que pensar, por fim, em como conviver, interagir e se
relacionar nesse novo ambiente, pois, nas redes sociais
on-line, existe um espaço para a exploração de múltiplas
ações de comunicação.
Assim como Marechal Rondon não imaginava tama-
nha evolução em sua época, seriamos nós capazes de
idealizar como será a comunicação que ainda está por vir?
Vânia Braz de Oliveira é publicitária, jornalista, mestre
e doutora em Comunicação Social pela Universidade
Metodista de São Paulo. Atualmente, é professora
titular da Universidade do Vale do Paraíba. Tem
experiência profissional em Rádio e Televisão
e é pesquisadora do Grupo de Pesquisa em
Comunicação da Univap (LabCom Univap),
atuando em temas como mídia, consumo, redes
sociais on-line, documentário e reportagem.
Arquivo pessoal/Vânia
Braz de Oliveira
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
estabelece competências e habilidades norteadoras
do estudo dos conteúdos exigidos para o Ensino
Médio. Por meio do texto “Comunicação: dos fios
ao mundo on-line”, foram trabalhadas as seguintes
competências e habilidades da área de Ciências
Humanas e suas Tecnologias:
C1 – Compreender os elementos culturais que
constituem as identidades.
H2 – Analisar a produção da memória pelas
sociedades humanas.
C4 – Entender as transformações técnicas e
tecnológicas e seu impacto nos processos de
produção, no desenvolvimento do conhecimento
e na vida social.
H17 – Analisar fatores que explicam o impacto das
novas tecnologias no processo de territorialização
da produção.
H20 – Selecionar argumentos favoráveis ou
contrários às modificações impostas pelas novas
tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
HA C5 – Utilizar os conhecimentos históricos para
compreender e valorizar os fundamentos da
BILI cidadania e da democracia, favorecendo uma
DA atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 – Identificar o papel dos meios de comunicação
DES na construção da vida social.
Matemática e suas Tecnologias
Matemática
TOQUE DO
ESPECIALISTA
POR FERNANDO MANENTI SANTOS
Os números na comunicação
C
ertamente você já se deparou com números, gráficos, tabelas
e outros elementos matemáticos ao ler uma reportagem,
mas, possivelmente não refletiu sobre a importância do
letramento em Matemática para a Comunicação. Primeiramente,
devemos nos lembrar do papel fundamental da ciência dos cálculos
para o avanço científico e para as demais ciências, como um eixo
estruturador que perpassa por elas. A partir dessa perspectiva,
percebemos que não podemos abrir mão da habilidade de se
comunicar matematicamente, seja para tratar de economia, seja
para apresentar ou inferir a respeito de dados acerca da população,
do meio ambiente ou de qualquer outro assunto.
Um exemplo disso esteve em uma reportagem da revista
Fapesp, de 21 de fevereiro desse ano, sobre o desmatamento
na Amazônia*; a matéria alertava os leitores sobre a pro-
ximidade de uma degradação irreversível desse bioma. Ora,
não seria possível noticiar essa informação sem o letramento
em Matemática. Sequer informariam se houve aumento ou
redução do desmatamento nos últimos anos, sem uma consulta
e uma leitura dos dados disponibilizados pelos principais órgãos
de monitoramento ambiental do país, como o Inpe – Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais. Caso a notícia pretendesse
apresentar gráficos, também seria necessária a mobilização de
outros conhecimentos. Sendo assim, a interpretação de tabelas
e o domínio sobre números e medidas são fundamentais para o
profissional que deseja atuar em Comunicação.
Analisemos outra carreira da Comunicação, além do
Jornalismo. Para planejarmos um trabalho publicitário, por
exemplo, são necessárias noções de mercado, economia e
estatística. Desse modo, para lançar determinado produto, um
dos caminhos seria elaborar uma pesquisa de opinião com
futuros consumidores, o que ajudaria na tomada de decisões
e auxiliaria o profissional a ter importantes informações sobre
como veicular e promover tal produto de maneira mais eficiente.
Os exemplos anteriores se encaixam, ainda, em situações
presentes nas carreiras Produção Editorial, Marketing e Rádio e
TV. No entanto, há diversas outras profissões dentro da área de
Comunicação, como Relações Públicas, Biblioteconomia, Cinema
e Vídeo, Produção Cultural, Estudos de Mídia, Arquivologia,
Museologia, Multimídia, Gestão de Informação e Engenharia de
Telecomunicações. Em todas elas, o planejamento, o domínio
numérico e outros conhecimentos matemáticos são essenciais
para o exercício das atividades profissionais. Então, antes
de optar pela Comunicação, pensando somente na área de
Humanas, que tal avaliar suas aptidões no mundo dos cálculos?
*Leia na íntegra: <http://agencia.fapesp.br/desmatamento_na_amazonia_esta_
prestes_a_atingir_limite_irreversivel/27180/>.
12
cofotoisme/iStockphoto.com

E N T R E V I S TA | Carlos Nazareth

Ascom Inatel
CARREIRA:
Engenharia de
Telecomunicações
Carlos Narazeth é vice-diretor do Instituto
Nacional de Telecomunicações – Inatel,
localizado em Santa Rita do Sapucaí,
conhecida como Vale da Eletrônica, no
sul de Minas Gerais – instituição que, em
1965, inaugurou o primeiro curso focado
em Telecomunicações do Brasil. É doutor
em Engenharia Elétrica pela Faculdade de
Engenharia Elétrica e de Computação da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
mestre em Telecomunicações pelo Inatel,
graduado em Engenharia Elétrica com ênfase
em Eletrônica e Telecomunicações pelo Inatel
e técnico em Eletrônica pela Escola Técnica
de Eletrônica (ETE-FMC), em Santa Rita do
Sapucaí. Atua como professor dos cursos
de Engenharia e de Tecnologia do Inatel e
como consultor do Inatel Competence Center
em projetos para empresas nas áreas de
Telecomunicações e Eletrônica.

13
Equipe Leia Agora: Quais devem ser os interesses
de quem pensa em cursar
Telecomunicações? O que é estudado durante a
graduação?
?
Muitas vezes, os alunos do Ensino Médio pensam
que a maior aptidão para um futuro estudante dessa
Engenharia deve ser em Matemática e em Física,
uma vez que essas disciplinas são importantes, pois
abordam os fundamentos básicos que serão utilizados
para desenvolver tecnologias voltadas à comunicação
de pessoas, máquinas e objetos. Contudo, o estudante
de Engenharia de Telecomunicações também deve
ter interesse por tecnologia. Durante a graduação, o
aluno estuda programação de computadores, circuitos,
eletrônica e técnicas empregadas para realizar a
comunicação.
“Devido à necessidade de se
comunicar e de acessar um número
cada vez maior de aplicativos,
o mundo das telecomunicações
está sofrendo uma expansão sem
precedentes.”
Equipe LA: Quais são as áreas de atuação e as
principais possibilidades de especialização para
quem opta por essa carreira?
Atualmente, não ficamos desconectados em momento
algum. Os smartphones estão cada vez mais rápidos
e versáteis, os sinais de internet por fibra óptica e de
TV por satélite chegam a nossas casas, e, além disso,
queremos que a comunicação ocorra em qualquer lugar
e a qualquer momento. Devido à necessidade de se
comunicar e de acessar um número cada vez maior de
aplicativos, o mundo das telecomunicações está sofrendo
uma expansão sem precedentes. Os profissionais dessa
área podem atuar nas companhias telefônicas, nos
fabricantes de equipamentos eletrônicos e nas empresas
que usam as telecomunicações de forma intensa. Hoje
em dia, empresas como Petrobras, Hidrelétrica Furnas,
Companhia Energética de Minas
bancos e muitas outras utilizam as telecomunicações e
contratam profissionais com boa formação nessa área.
Internet das Coisas: a expressão vem do inglês Internet of Things e se refere aos inúmeros objetos do nosso dia a dia que estão conectados à internet, comunicando-se entre si e também
com seu usuário.
Nos próximos anos, duas tecnologias terão grande
Engenharia de destaque: a Internet das Coisas e o 5G (próxima geração
de comunicação móvel). Logo, essas são boas áreas de
especialização. No Brasil, o Inatel é a Instituição de Ciência
e Tecnologia que lidera as pesquisas na área de 5G, tendo
o apoio do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e
Comunicações. Inclusive, realizamos em 2017 a primeira
transmissão 5G do país com tecnologia nacional,
desenvolvida por nossos pesquisadores nos laboratórios
da instituição.
Equipe LA: O engenheiro de telecomunicações
também pode atuar em setores públicos?
O engenheiro de telecomunicações pode trabalhar
em todas as empresas públicas do setor bancário,
de petróleo, em rodovias, na Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel), no Ministério de Ciência,
Tecnologia, Inovação e Comunicações e, ainda,
nos órgãos públicos das cidades, dos estados e da
federação.
Equipe LA: Durante a graduação, o estudante precisa
fazer estágios? Como isso pode contribuir para que
o futuro profissional consiga uma boa qualificação no
mercado de trabalho?
O estudante pode fazer estágio. Por isso, aconselha-
mos que os nossos alunos ganhem experiência ainda
durante a graduação, tanto nas atividades oferecidas
pela faculdade quanto em estágios. Atualmente, con-
vivemos com uma falta de engenheiros de telecomu-
nicações no mercado de trabalho, o que, consequen-
temente, aumenta os valores dos salários e a procura
por profissionais qualificados.
Equipe LA: Como as relações humanas e as atividades
econômicas são afetadas pelas telecomunicações?
As telecomunicações estão presentes em todos os
momentos e ocasiões de nosso dia a dia. Precisamos
das telecomunicações para acessar a internet, utilizar
as redes sociais, viabilizar o atendimento eletrônico e
virtual dos bancos, fazer pagamentos com cartão de
crédito, comprar pela internet, e ainda as utilizamos na
Gerais (Cemig), telemedicina e em muitas outras situações do nosso
cotidiano.
14
 Equipe LA: Ampliar a oferta de serviços das
telecomunicações para todas as pessoas é um
desafio para o engenheiro de telecomunicações?
A expansão do setor de comunicação das teleco-
municações está cada vez mais dependente da
contratação de bons profissionais, que deverão ajudar
a aumentar a cobertura da comunicação móvel,
expandir o acesso de banda larga através de fibras
óticas, popularizar o uso das TVs a cabo e por satélite
e criar condições de acesso em velocidades cada
vez maiores. Essa grande necessidade continua em
expansão e em modernização, aumentando a busca
por engenheiros nessa área.
Equipe LA: Diante do avanço das tecnologias
e, consequentemente, da maneira como nos
comunicamos, o mercado de trabalho exigirá
profissionais cada vez mais capacitados nessa área?
As empresas precisam contar com engenheiros formados
em boas instituições. O profissional que tem uma boa
formação terá um posicionamento de destaque no
mercado, ótimas oportunidades de progressão na carreira
e uma excelente remuneração. Prezamos por formar alunos
com diversas vivências profissionais, como estágios,
monitorias, trabalhos de iniciação científica e tecnológica.
Com parceiros empresariais e com um grande centro de
competência é possível oferecer ao mercado um recém-
formado com experiência. Atividades complementares e
programas de extensão ajudam a formar as competências
e as habilidades técnicas e comportamentais necessárias
para que o profissional possa encarar o mercado de
trabalho com sucesso e boas perspectivas.
jamesteohart/iStockphoto.com
“A necessidade desses
profissionais na sociedade digital
é de grande importância, pois
não há como desfrutar do mundo
virtual sem que exista a troca de
informações e, consequentemente,
as telecomunicações.”
Equipe LA: De que maneira o engenheiro de
telecomunicações exerce um papel importante na
globalização e na integração das economias de
países de todo o mundo?
O papel das telecomunicações em um mundo globalizado
é cada vez maior, e o engenheiro de telecomunicações
deverá criar cada vez mais funcionalidades para as redes
e os sistemas de comunicações. Nesse contexto, a
necessidade desses profissionais na sociedade digital é
de grande importância, pois não há como desfrutar do
mundo virtual sem que exista a troca de informações e,
consequentemente, as telecomunicações.
Equipe LA: Quais os desafios e as perspectivas do
mercado de trabalho para os profissionais da área
nos próximos anos?
O grande desafio para o engenheiro de telecomunicações
é manter-se atualizado, visando desempenhar suas tarefas
com qualidade. Para os profissionais bem preparados em
telecomunicações não faltará emprego nos próximos anos.
Equipe LA: Por que você recomendaria essa carreira?
Recomendo totalmente, pois é uma profissão que pode
viabilizar bons salários e grandes realizações, ainda mais
com a revolução tecnológica que estamos passando
com a Internet das Coisas e a chegada do 5G.
15
 PA R Ê N T E S E

De uma engenhoca de calcular a

ra2studio/Shutterstock.com

uma entidade capaz de “amar”

Po r C l á u d i o Le y r i a

É difícil acreditar que os computadores, laptops e smartphones, com softwares que facilitam
a vida de todo mundo – e que mudaram radicalmente o comportamento da sociedade –
são derivados de inventos tão rústicos. O cinema tem excelentes exemplos de filmes que
mostram a trajetória desses dispositivos dos quais somos tão dependentes, desde quando
eram máquinas enormes ocupando um salão até chegar à quintessenciada inteligência artificial.
Da máquina de calcular de Blaise Pascal, do século XV, até meados do século XX, tudo o que
se projetou em termos de processamento de dados era inerentemente mecânico. Não foi diferente
com a impressionante máquina do matemático britânico Alan Turing, que podemos conhecer bem no
filme O jogo da imitação (2014). Turing se desdobrou para criar uma máquina que conseguia decifrar
as mensagens criptografadas dos nazistas. Sabendo o que os inimigos conversavam entre si, muitos
navios e submarinos da Força Aliada conseguiram se livrar dos torpedos, revidar os ataques e proteger
as embarcações civis. A máquina de Turing foi um protótipo do computador moderno, melhor que
máquinas de outros engenheiros inventadas anos antes e depois.
No começo, os computadores eram restritos a órgãos governamentais, empresas ricas e
universidades renomadas. Nos anos 1970, surgiram os primeiros computadores pessoais. Bill Gates e
Paul Allen, da Microsoft, e Steve Jobs e Steve Wozniak, da Apple, apresentaram-se como os pioneiros
na criação de computadores portáteis e compactos – feitos para você.
Essa aventura de inventividade foi mostrada no filme Jobs (2013), que conta a história dos fundadores
da Apple. Bill Gates é tema de diversos documentários disponíveis na TV e no segmento de streaming,
mas ainda não tem um drama na telona. Porém, Piratas do Vale do Silício, um telefilme lançado em
1999, é a melhor opção para se conhecer, de maneira didática, a genialidade de Gates e seus colegas.
Com o desenvolvimento da internet e o surgimento de uma infinidade de aplicativos para facilitar a
vida das pessoas (e entretê-las), o conceito de inteligência artificial passou a ganhar muita atenção dos
engenheiros. Hoje, convivemos tão bem com os softwares que às vezes nem percebemos a relação
de dependência, tamanha é a interação com os próprios aplicativos. E isso não fica só na brincadeira
de cuidar do animalzinho virtual Pou. O filme Ela (2013) mostra a verossímil história de um homem
solitário, em um futuro próximo, que se apaixona por um sistema operacional criado para fazer
companhia às pessoas. Blade Runner 2049 (2017) acata o mesmo conceito de companhia virtual.
Seria isso uma passividade emocional diante da tecnologia? Qual será o próximo passo? Um
software que decide por você? Isso ele já tenta fazer. Vamos torcer para que, pelo menos, não
aconteça o que vimos nos filmes da série O Exterminador do Futuro, nos quais a inteligência artificial,
no controle absoluto da Internet das Coisas, avalia que a raça humana é nociva e decide... eliminá-la!

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 Mosaico • A G E N D A •
subarashii21/Shutterstock.com

MOSTRA

Cultural
TUDO SOB CONTROLE
Quantas vezes vimos em ficção científica ideias que se
tornaram reais? O escritor Arthur C. Clarke já havia previsto
o satélite artificial antes de o Sputnik ser lançado, em
1957. A série de TV Star trek já exibia aparelhos muito
semelhantes aos celulares e tablets antes de eles
chegarem às nossas mãos. Citando um exemplo mais
atual, o super-herói Homem de Ferro, presente em
filmes da Marvel desde 2008, esnoba o uso de um
sistema integrado de comunicação e controle de
objetos que já ganhou até um nome consolidado:
Internet das Coisas. O sistema atende ao herói
controlando ligações telefônicas, acessos à internet,
equipamentos, veículos, eletrodomésticos e robôs,
além de monitorar a segurança de sua casa, informar
as condições meteorológicas e até sugerir estratégias
de combate. Removendo a fantasia que os filmes
oferecem, é assim que funciona a real Internet das
Coisas. Exemplos: de dentro do carro, uma pessoa
pode usar o celular para ligar seu forno e ter sua lasanha
pronta quando ela chegar em casa; de seu escritório, uma
mãe pode ver em tempo real seu filho na escola. Tudo isso
acontece com ajuda da internet. Para entender melhor o novo
conceito, que extrapola os limites das telas de led, confira o
Ex Africa
até 16 de julho
ONDE: São Paulo (SP).
O Centro Cultural Banco do Brasil exibe obras
de 18 artistas de 8 países africanos. Exemplos
da arte contemporânea da África apresentam
um choque de diversidades culturais geradas
por intercâmbios e processos de aculturações.
Aos artistas se juntam também dois afro-
-brasileiros, Arjan Martins e Dalton Paula.
INFO: <culturabancodobrasil.com.br>.
ON-LINE
A História das Telecomunicações
Permanente
ONDE: Internet.
De uma maneira didática e lúdica, o vídeo utiliza
os recursos da animação para mostrar como
surgiram e se desenvolveram as tecnologias de
telecomunicações, no mundo e no Brasil, desde
a invenção do telégrafo até o aparecimento do
smartphone.
INFO: <www.youtube.com/watch?v=F7KH3oR6Kdo>.
ARTE
Terra em Chamas
até 24 de junho
ONDE: Rio de Janeiro (RJ).
A Caixa Cultural apresenta 51 obras do artista
plástico Vítor Mizael, incluindo desenhos,
pinturas, esculturas e instalações, que propõem
uma reflexão sobre a vida primitiva do homem,
sem culturas que geram oposição e na qual a
interação com a natureza torna a vida plena.
INFO: <www.caixacultural.com.br>.

vídeo "A Internet das coisas, explicada pelo NIC.br" pelo link a seguir:
<www.youtube.com/watch?v=jlkvzcG1UMk>.

Chatô, o rei do Brasil. Direção:
Guilherme Fontes. Brasil, 2015.
Baseado no livro de Fernando
Morais, o filme mostra a biografia de
Assis Chateaubriand, magnata das
comunicações, fundador da rede de
jornais Diários Associados e empresário
que introduziu a televisão no país.
Jacques A. Wainberg. Casa grande e Comissão Rondon
senzala com antena parabólica. Porto O documentário exibido pela TV NBR mostra
Alegre: EDIPUCRS, 2001. a missão do sertanista Cândido Rondon,
que há 100 anos expandiu a rede de linhas
Revendo aspectos sociológicos e
telegráficas na região Norte e se dedicou à
antropológicos brasileiros, o autor
proteção do índio brasileiro.
mostra que o desenvolvimento das
Acesse: <www.youtube.com/watch?v=
telecomunicações no início do século XX
NQ6RqtgXVTI>.
fez florescer um nacionalismo em todo o
país, com busca de identidade às artes e
aos meios de comunicação.

17
EXTRA! Experiência multitelar

Telas estão colocadas entre a gente. Elas intermedeiam nossa experiência com o
mundo e nossas relações com as outras pessoas, servindo de suporte para a troca de
mensagens instantâneas que chegam ao destino quase que na cadência do pensar. As
redes sociais perguntam “no que você está pensando?” e vão acumulando respostas-
-monólogos de olhares para dentro, uma atrás da outra, em um rolar interminável...
continuamos seguindo histórias com filtro que suplicam por coraçõezinhos em sinal
de aprovação. Abreviamos palavras e recorremos a recursos simplistas de carinhas
coloridas para expressar emoções. Cada um olhando para o seu smartphone,
esbarramos-nos sem pedir desculpa pelas ruas. Adiamos o encontro real pela
facilidade do contato remoto. As distâncias se impõem assim entre nós, afastam-nos
uns dos outros, criando abismos, gerando ausências. Falta empatia. Somos uma
reunião de “eus” desconectados, embora estejamos todos on-line, representados
pelo sinal verde da disponibilidade a qualquer momento, basta que algo vibre para ter
a nossa atenção imediata.
Telas dominarão a comunicação no futuro via aparatos mais tecnológicos do que
a capacidade humana – ou a inteligência artificial – possa imaginar e criar e serão
substituídas em frequências reduzidas de tempo por uma novidade ainda mais inovadora
recém-chegada ao mercado, pronta para ser consumida. Os materiais aprimorados
se converterão em produtos ágeis, leves, elegantes, inteligentes. Dados serão
compartilhados para que se tenha uma análise apurada do perfil e do comportamento
de potenciais consumidores. Da engenharia robótica e mecatrônica aos episódios de
seriados de ficção científica, os avanços estão por vir, já a caminho, sem freios. Não há
limites para a potência criativa e as inovações-desejo; o novo sempre vem.
Por Laís Barros Martins

Apesar das telas, um dia, alguém observará que, quanto mais a gente “multitelar”,
mais distantes estaremos de uma conversa e passará a considerar como afetar o outro
com a mensagem. Esse pequeno gesto se alastrará, com energia de contágio irreversível,
disseminando ideias subversivas por aí. A ideia de que é possível acordar e primeiro conferir
como está o dia de céu claro de outono em vez de receber o brilho da luz do celular
exibindo notificações; a ideia de que é possível fazer uma refeição sentindo os sabores e
até revitalizando memórias antigas guardadas em cantinhos não tão frequentados por nós
em vez de marcar um call para otimizar a agenda do escritório na hora do almoço; a ideia
de que uma conversa se faz a partir de trocas que se estabelecem com a presença em
vez de áudios em volume excessivamente alto enviados por aplicativos.
A revolução que estará então em curso nos lembrará da urgência de resgatar um
“nós” enquanto força coletiva capaz de nos ressignificar para além das conexões
virtuais e promover de fato uma comunicação no futuro que considere a conexão
entre o eu e o você. Importarão mais a interação e a colaboração, e aí estará de
novo a beleza. Nessa sequência de tela sobre tela a que estamos expostos, ainda
se há de perceber a carência de estar. “Olá, eu estou bem. E você, como está?”.

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