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O Estado e a Religião em Angola

27 de Abril de 2014 Rafael Marques de Morais

A negação do reconhecimento oficial do Islão como uma das confissões religiosas instauradas em
Angola pode criar a ideia de que o Estado angolano é adepto da islamofobia.

Os estereótipos que associam o Islão à imigração ilegal, ao terrorismo e a práticas que


“ ameaçam” a cultura nacional têm sido amplamente difundidos pela comunicação social
angolana, sobretudo por via da divulgação de opiniões emitidas por entidades das esferas política,
institucional e eclesiástica.

Na realidade, a relação entre o poder e a religião, em Angola, desde a independência, foi sempre
marcada pela intolerância política, a ambivalência e a co-optação, tanto de forma combinada como
alternada.

Logo após a celebração da independência, o ateísmo marxista-leninista instaurado no país serviu


de justificação para que as confissões religiosas fossem alvo de perseguição.

No seu estudo sobre as posições políticas dos protestantes, no pós-independência, Benedict


Schubert, descreve a estratégia do MPLA para o controlo das igrejas no período de partido-estado:

“ No seu projecto totalitário, o governo angolano tinha que encontrar uma via para enquadrar as
Igrejas de tal modo dentro do sistema que se eliminava, pela sua inserção, o perigo que elas
representavam por serem as únicas organizações de massa fora da iniciativa e do controlo directo
do Estado” .

Schubert nota que “ tem havido continuidade no propósito da política religiosa das autoridades”
com o objectivo claro de controlar as Igrejas, o que continua a verificar-se na actualidade.
A violência e a co-optação, por si só, não explicam o domínio do MPLA, no poder desde 1975,
sobre as igrejas. A ambivalência sim.

O académico Homi Bhabha argumenta que a ambivalência é uma das estratégias mais eficazes,
quer ao nível de discurso quer do ponto de vista físico, de poder discriminatório. Legitima os
estereótipos “ como forma de conhecimento e identificação que vacila entre o que sempre foi
estabelecido, conhecido, e algo que deve ser repetido com ansiedade” .

• É essa ambivalência que tem permitido, ao poder, o seu domínio político sobre as
lideranças religiosas, através da oferenda de privilégios aos aliados e da exclusão dos que
lhe são hostis. Por sua vez, os representantes das igrejas também são proactivos na
manutenção da ambivalência no relacionamento entre o Estado e as igrejas, em
conformidade com interesses individuais e colectivos do dia.

Historial

1975

• Logo após a independência, a 11 de Novembro, com a instauração do marxismo-leninismo,


todas as confissões religiosas em Angola passaram a exercer as suas actividades sem
reconhecimento oficial, ou seja, à margem da lei.
• A 20 de Novembro, o líder messiânico Simão Toco, líder da Igreja do Nosso Senhor Jesus
Cristo na Terra, escreveu uma carta ao presidente Agostinho Neto, seu amigo e ex-colega,
cujo conteúdo constituiu a primeira grande afronta de uma entidade religiosa ao poder
instalado.

“ Todos os que seguem o camarada presidente Dr. Neto, bem como os que seguem o presidente
Holden Roberto e o Dr. Savimbi, sendo vós os chefes do povo angolano, vão cumprindo as leis de
poderem matar e todos quantos seguem o Simão Toco não podem nem poderão segurar em armas
para matarem os seus irmãos nem tão pouco contribuírem dinheiro para a compra de armas. Mas
sim poderão contribuir em comida para a alimentação do povo (…).”

A Igreja Tocoísta passou a ser perseguida, considerada subversiva e conotada com a FNLA, porque
os seus fiéis provinham sobretudo do Norte de Angola, na altura região de influência do primeiro
movimento de libertação do país. A outra igreja profética, de raiz africana, a Igreja Kimbanguista,
também sofreu perseguições, sobretudo na mesma área geográfica (Uíge, Zaire e Cabinda). Os
seus fiéis eram essencialmente da mesma região e muitas vezes confundidos com os Tocoístas. À
semelhança da Igreja Tocoísta, também era considerada apoiante da FNLA e acreditava-se que
tinha ligações ao regime de Mobutu, no então Zaire, sendo ademais entendida como agente do
imperialismo.
1976

• Um resumo interessante do historial das Testemunhas de Jeová em Angola conta que, a 27


de Maio, o governo orientava publicamente os comités de acção e as organizações de
massas, através de emissões de rádio, para que cumprissem uma vigilância cerrada às
actividades das Testemunhas de Jeová.

“ A Igreja Católica fazia diariamente anúncios pela sua emissora de rádio no sentido de que as
Testemunhas de Jeová eram subversivas” , sublinha a narrativa de Carlos Cadi:

• A Igreja Metodista demarcou, logo em Novembro do mesmo ano, aquele que viria a ser o
modelo de relacionamento entre a igreja e o Estado, privilegiado pelo MPLA. O bispo
Emílio de Carvalho defendeu, nessa altura, “ o serviço cristão para a edificação de uma
sociedade socialista” e prestou, sem equívocos, a sua lealdade ao projecto totalitário da
época. E assim a sua ala escapou às perseguições políticas.

1978

• A 25 de Janeiro, o presidente Agostinho Neto procedeu à extinção da Emissora Católica


de Angola, Rádio Ecclésia, através do Decreto nº 5/78, que a integrou “ no aparelho de
informação e propaganda do MPLA – Partido do Trabalho” . No entanto, através do
Jornal de Angola, a propaganda oficial invocou, como argumento de extinção da Rádio, a
transmissão de mensagens da facção do MPLA descontente com Agostinho Neto, a 27 de
Maio de 1977.

Por sua vez, em sua defesa na altura, os bispos católicos recordaram que, logo após a
independência, “ a Rádio Ecclésia fora obrigada pelo governo a estar ligada à Rádio Nacional,
devendo transmitir a maioria dos seus programas, mesmo os de propaganda ateia” .

Segundo os bispos, “ Em 27 de Maio de 1977, os autores da intentona apoderaram-se da Rádio


Nacional. Por estar ligada a ela, a Rádio Ecclésia transmitiu sem culpa sua o que lhe mandavam
de lá. Quando os responsáveis deram fé, cortaram a ligação. Isso não impedidiu que no dia seguinte
a Rádio Ecclésia fosse ocupada manu militari” .

• A 4 de Fevereiro, em discurso público, o MPLA manifestou publicamente parte da sua


estratégia de separação da Igreja Católica em Angola relativamente à Santa Sé, no
Vaticano.

• No cumprimento de uma directiva do Bureau Político do MPLA – Partido do Trabalho, a


Secretaria de Estado dos Assuntos Sociais emitiu um decreto de confisco dos donativos
enviados a partir do exterior às igrejas e organizações religiosas, e destinados às
populações. O Decreto Executivo nº 26/78 reafirmou, no preâmbulo do documento, a
autorização do MPLA, de 8 de Março de 1978, que permitia às igrejas receber ajuda externa
para apoio às populações. Em resumo, a fome começava a apertar e os problemas sociais a
multiplicarem-se. As igrejas recebiam esse auxílio, o MPLA confiscava-o e as distribuía-
o para seu benefício político.
• O governo sujeitou o reverendo Domingos Alexandre Coxe, da Igreja Kimbanguista, a dois
anos de detenção no Campo de Reeducação da Kibala, sem culpa formada.

1980

• Através do Decreto Executivo 19/80, o Ministério da Justiça ordenou o registo de todas as


igrejas existentes, num prazo de 90 dias.

1987

• Apesar do sistema de partido único, o MPLA promoveu, a 19 de Janeiro de 1987, na Banca


do Militante da Secretaria de Estado da Cultura, a eleição dos novos representantes da
Igreja. Queixas de fraude eleitoral e outros problemas internos agravaram a divisão da
igreja.

• “ O MPLA-Partido do Trabalho orientou o reconhecimento de todas as igrejas e


organizações religiosas existentes da República Popular de Angola” . Com este preâmbulo,
o Ministério da Justiça finalmente legalizou 12 igrejas e organizações religiosas, sete anos
após a ordem de registo.

Através do Decreto Executivo nº 9/87, de 24 de Janeiro, o Ministério da Justiça deu cumprimento


à orientação do MPLA, e reconheceu, por essa ordem, a Igreja Evangélica do Sudoeste de Angola,
a Igreja Evangélica Congregacional de Angola, Igreja Católica, Igreja Metodista Unida, Igreja
Evangélica de Angola, Igreja Evangélica Reformada de Angola, Igreja de Jesus Cristo sobre a
Terra (Kimbanguista), Assembleia de Deus Pentecostal, Igreja Adventista do Sétimo Dia,
Convenção Baptista de Angola e União de Igrejas Evangélicas de Angola.

• Um dos casos mais marcantes da violência política do governo contra as igrejas teve lugar
a 15 de Fevereiro, quando forças militares e de segurança executaram 35 fiéis na Terra
Nova, segundo informação prestada ao Maka Angola por uma alta entidade desta igreja.

1990

• Segundo relato pormenorizado de um membro das Testemunha de Jeová, Carlos Cadi, o


governo mantinha encarcerado, de forma arbitrária, 300 fiéis dessa denominação religiosa,
os quais invocavam a sua neutralidade e se recusavam a participar na guerra.

1991

• O Decreto Executivo Conjunto nº 46/91, do Ministério da Justiça e da então Secretaria de


Estado da Cultura, conformou o processo de reconhecimento das igrejas e organizações
religiosas à Lei Constitucional revista. Com a ampliação dos direitos fundamentais dos
cidadãos, o decreto visava assegurar “ a liberdade e o exercício da religião e de
consciência” .
De acordo com o Decreto (Art. 4º), “ o reconhecimento não pode ser denegado, salvo nos casos
em que as informações prestadas não sejam verdadeiras ou se a doutrina, as normas e o culto de
confissão sejam contrários à ordem pública e ao interesse nacional.

1992

• Durante o ano, o governo reconheceu, através de vários decretos, um total de 29 igrejas,


incluindo três facções da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo “ Tocoístas” , as
Testemunhas de Jeová e a Congregação Cristã de Amizade Afro-Europeia.

• O presidente José Eduardo dos Santos abandonou o ateísmo, casou pela Igreja Católica e
baptizou os seus filhos.

2003

• A 10 de Fevereiro, o governo, pela voz do então ministro da Comunicação Social, Hendrick


Vaal Neto, acusou a Rádio Ecclésia de prática de “ terrorismo de antena” . O governo
manifestou-se agastado com a linha editorial crítica e independente da emissora católica,
na altura.

Em reacção, a Rádio Ecclésia emitiu um comunicado que, de certo modo, resume também a
ambivalência de vários dirigentes que professam crenças religiosas:

“ Ao insurgir-se contra a linha editorial da Rádio Ecclesia e ao chamar terrorista a esta estação,
implicitamente está a chamar terrorista à Igreja Católica de Angola, da qual sua Excelência é
membro, essa Igreja que durante os anos deu mostras de idoneidade, apesar de todos os
constrangimentos.

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