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Rosa Brı́gida Almeida de Quadros Fernandes

SEBENTA DE MATEMÁTICA

PRIMEIRO ANO DE CURSO TÉCNICO SUPERIOR PROFISSIONAL DA


ESCOLA DE TECNOLOGIA DE TOMAR

Unidade departamental de Matemática e Fı́sica do


Instituto Politécnico de Tomar

Tomar

2018
Conteúdo
1 NOÇÕES DE CÁLCULO ALGÉBRICO E DE CÁLCULO MATRICIAL 3
1.1 Números naturais, inteiros, racionais, irracionais e reais . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Linguagem corrente do dia a dia e linguagem matemática . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Cálculo algébrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3.1 Operações algébricas e suas propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3.2 Simplificação das expressões algébricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.3.3 O número racional e os factores de conversão . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3.4 Proporcionalidade direta e indireta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.4 Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.4.1 Equações lineares com e sem módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.4.2 Sistemas de equações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.4.3 Algebra matricial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.5 EXERCÍCIOS DE NOÇÕES DE CÁLCULO ALGÉBRICO E DE CÁLCULO MATRI-
CIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2 NOÇÕES BÁSICAS DE TRIGONOMETRIA E DE NÚMEROS COMPLEXOS 27


2.1 Definição de ângulo plano, unidades e conversões entre diferentes unidades . . . . 27
2.2 Razões trigonométricas de ângulos agudos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.2.1 Generalidades sobre triângulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.2.2 Triângulo retângulo, notações e teorema de Pitágoras . . . . . . . . . . . . . 29
2.2.3 Definições das razões trigonométricas de ângulos agudos . . . . . . . . . . . 29
2.2.4 Generalização das definições das razões trigonométricas para ângulos não
ângulos agudos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.3 Valores das razões trigonométricas em ângulos particulares . . . . . . . . . . . . . . 31
2.4 O cı́rculo trigonométrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.4.1 Construção do cı́rculo trigonométrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.4.2 Relação fundamental da trigonometria e relações trigonométricas entre razões
de ângulos de diferentes quadradntes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.4.3 Expansões em série do seno e cosseno de um ângulo em radianos . . . . . . . 35
2.5 Resolução de um triângulo arbitrário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.5.1 Lei dos senos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.5.2 Lei dos cossenos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.6 Números Complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.6.1 Introdução história dos números complexos. Simplificação de raı́zes de
números negativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.6.2 Forma algébrica e forma trigonométrica de um número complexo . . . . . . 38
2.6.3 Operações com números complexos. Sua perspetiva geométrica . . . . . . . 41
2.7 EXERCÍCIOS DE TRIGONOMETRIA E DE NÚMEROS COMPLEXOS . . . . . . . . 44

3 INTRODUÇÃO AO CÁLCULO VETORIAL 49


3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.2 Segmentos orientados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.3 Vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.3.1 Tipos de vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.3.2 Vetor unitário ou versor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.4 Vetores e operações elementares com vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

1
3.4.1 Produto de um escalar por um vector . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
3.4.2 Soma de vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.4.3 Diferença de vectores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.4.4 Produto escalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.4.5 Produto vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.5 EXERCÍCIOS DE CÁLCULO VETORIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

4 COMPLEMENTOS SOBRE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 63


4.1 Generalidades sobre funções reais de variável real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.2 Estudo de algumas classes de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.3 Funções algébricas racionais (inteiras e fracionárias) e funções algébricas irracionais 63
4.4 Funções transcendentes: funções trigonométricas; função exponencial e função lo-
garı́tmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.5 Conceito geométrico de derivada e suas aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.6 Conceito geométrico de integral e suas aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.7 EXERCÍCIOS DE FUNÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

5 Bibliografia matemática 65

2
1. NOÇÕES DE CÁLCULO ALGÉBRICO E
DE CÁLCULO MATRICIAL
1.1 Números naturais, inteiros, racionais, irracionais e reais
Platão (séc. V - IV antes de Cristo): ”Os números governam o mundo”
Os matemáticos construı́ram os números negativos, racionais, reais e complexos por sucessivas
generalizações partindo dos inteiros naturais, mas deixaram a Deus a construção dos números
da natureza, os inteiros naturais. Os números naturais (N) surgiram da necessidade de contar:

1 (um), 2 (dois), 3 (três), 4 (quatro), · · · , 1000009 (um milhão e nove), · · · , .

Os números inteiros relativos (Z) apareceram nas operações de contagem e de subtração:

· · · , −9.000.000 (menos nove milhões), · · · , −5.000 (menos cinco mil), · · · , 0 (zero), 1, 2, · · · .

Os números racionais (Q), com a forma: a/b, a e b inteiros, e b não nulo, surgiram da necessidade
de medir e possibilitaram a divisão generalizada de números inteiros:
5.000 0 1
··· , − (menos cinco mil), · · · , (zero), · · · , (um nono), 2, · · · .
1 1 9
Com os números racionais podemos medir quantidades que não contêm um número inteiro da
unidade padrão usada para a respetiva medição. Por exemplo podemos medir um comprimento
nove vezes mais curto que a unidade padrão usada para o medir, comprimento medido = 19 . Com
os números racionais podemos calcular o resultado da divisão de um número inteiro por outro
que não é seu divisor. Esse resultado não será um número inteiro. Por exemplo, se dividirmos 3
bolinhos por 6 meninos, cada menino ficará com o resultado da divisão de três por seis:

3 bolinhos 3 bolinhos 1 bolinho bolinho


= = = 0, 5 lê-se: meio bolinho por menino,
6 meninos 6 meninos 2 menino menino
isto é cada menino ficará com metade de um bolinho. Dois racionais, ba e dc , com b, d , 0, dizem-se
iguais ou equivalentes se e só se os produtos cruzados do numerador de um pelo denominador
do outro forem iguais: a × d = b × c.
Os pitagóricos procuravam explicar todas as coisas por meio dos números. Os números irraci-
onais (I) surgiram da necessidade de expressar o comprimento da hipotenusa de um triângulo
rectângulo, de catetos iguais, por meio de um número que perceberam não ser racional:

√ a
2 , não existe nenhuma fração que seja igual à hipotenusa de um triângulo de lados um.
b
No conjunto dos números reais: R = Q ∪ I, que contém o conjunto dos números racionais e
irracionais, podem definir-se as operações internas: soma, subtracção, multiplicação e divisão
excepto quando a divisão é por zero. A soma, subtracção, multiplicação e divisão (exceptuando
por zero) de dois reais é sempre um número real. O mesmo não contece
√ com a radiaciação, por
exemplo. A raı́z quadrada do real menos um não é um número real: −1 = ±i < R

3
Os primeiros matemáticos desenvolveram conhecimento nas propriedades dos números e nas
figuras geométricas. Um primeiro passo para a abstração aconteceu quando os matemáticos to-
maram a liberdade de substituir os números por letras (ou sı́mbolos) e começaram a operar com
estes. A algebra começara a nascer. A partir daı́ a resolução de problemas particulares deu lugar
a famı́lias de problemas. Faz-se a abstração dos números e raciocina-se com os sı́mbolos obede-
cendo às relações conhecidas entre os números. O raciocı́nio matemático passa a centrar-se nos
sı́mbolos, nas operações e nas relações.

1.2 Linguagem corrente do dia a dia e linguagem matemática


Sempre que se aprende um novo assunto tenta-se estabelecer pontes entre o que se vai aprender
e o que já se conhece. É muito importante que estas pontes fiquem bem cimentadas para que o
aprendiz consiga perceber bem o novo assunto apoiado pelo que já conhece bem. Por esse motivo
e ao longo desta disciplina aparecerão de vez em quando exercı́cios em que se solicita ao aluno
para fazer a ponte entre a linguagem matemática e a linguagem do nosso dia a dia e vice versa.

1.3 Cálculo algébrico


Uma expressão algébrica inclui constantes inteiras, representadas geralmente na análise pelas
primeiras letras do alfabeto: a, b, c, ..., variáveis, representadas geralmente na análise pelas
últimas letras do alfabeto: x, y, z, ..., e as operações algébricas adição, subtração, multiplicação,
divisão e exponenciação por um número racional. Um exemplo de uma expressão algébrica é:
primeiro termo da expressão
z }| { segundo termo da expressão terceiro termo da expressão
z}|{
3 z}|{
4 a x − 2bxyz + c
|{z} |{z} |{z}
constante inteira constante inteira indeterminada variável x

1.3.1 Operações algébricas e suas propriedades


Note que subtrair, no conjunto dos números reais, equivale a somar com o elemento oposto:

x − y = x + (−y).

Por exemplo se quisermos referir-nos a um pastor que tinha 2 ovelhas, perdeu 3 ovelhas no jogo, e
finalmente ficou a dever uma ovelha, poderemos sumariar esta história com a seguinte subtração:

2 ovelhas − 3 ovelhas = -1 ovelha ≡ 2 − 3 = 2 + (−3) = −1.

Dividir, no conjunto dos números reais, equivale a multiplicar com o elemento simétrico:

x 1
=x× .
y y

Por exemplo se quisermos calcular metade de um bolo tanto podemos dividir o bolo por dois
como multiplicar o bolo por 0, 5 que é o inverso de 2:

1 bolo 1
metade do bolo = = × bolo = 0, 5 × bolo.
2 2

4
Como a operação de subtração é a adição pelo oposto e a operação de divisão é a multiplicação
pelo simétrico, quando se fala na operação de adição está-se a incluir a subtração e quando se fala
na operação de multiplicação está-se a incluir a divisão.
As operações algébricas internas de adição (ou subtração), multiplicação (ou divisão) de reais
têm as seguintes propriedades:

propriedade exemplo para a adição exemplo para a multiplicação


comutativa 2+3 = 3+2 4×5 = 5×4
associativa 2 + 3 + 1 = 2 + (3 + 1) = (2 + 3) + 1 2 × 3 × 4 = 2 × (3 × 4) = (2 × 3) × 4
elemento neutro 2+0 = 2 2×1 = 2
elemento simétrico 2 + (−2) = 0 2 × 21 = 1
(oposto)/inverso
Distributiva da × re- 2 × (3 + 4) = (2 × 3) + (2 × 4) a + não é distributiva relat. à ×
lativamente à +(−)

Exercı́cio 1.3.1 Para dois (três) quaisquer números reais, ∀x, y, z ∈ R, exprima as propriedades co-
mutativa, associativa, existência de elemento neutro e de elemento simétrico (inverso) da adição e
multiplicação correspondentes aos exemplos acima tabelados. Exprima também, de forma geral a pro-
priedade distributiva da × relativamente à +(−) em termos gerais.

A Potencia a elevado a n, de notação: an , envolve a base a e o expoente n. No caso particular em


que n é um número natural maior do que 1, a potência an indica a multiplicação da base a por ela
n fatores iguais
mesma tantas vezes quanto indicar o expoente n, isto é: an = a × · · · × a . Se a base a for diferente
| {z }
de zero, esta também pode ser elevada a expoentes negativos. Quando a base a é um real posi-
tivo, é possı́vel definir an para todo o n real e complexo. As funções trigonométricas podem ser
representadas por exponenciais complexas. As seguintes potências simbolizam indeterminações:
00 , 0n , n < 0, ∞0 , 1∞ .
A operação de potenciação por um expoente racional tem as seguintes propriedades, generaliza-
das a partir das propriedades de potenciação de expoente natural:

propriedade exemplo para a potenciação


potência 42 = 4 × 4
potência de potência (42 )3 = (4 × 4)3 = (4 × 4) × (4 × 4) × (4 × 4) = 4(2×3) = 46
Produto de potências com o 24 × 34 = (2 × 2 × 2 × 2) × (3 × 3 × 3 × 3) = (2 × 3)4
mesmo expoente
Produto de potências de mesma 24 × 23 = (2 × 2 × 2 × 2) × (2 × 2 × 2) = 2(4+3) = 27
base
expoente um 21 = 2
expoente zero 20 = 1
expoente menos um (elemento 2−1 = 12
inverso)
3 13
expoente negativo 2(−3) = 2(−1) = ( 12 )3 = 23
1 √
expoente racional inferior a um 2( 5 ) = 5 2
base e e expoente imaginário eix = cos x + i sin x
puro

5
Exercı́cio 1.3.2 Para dois (três) quaisquer números reais, ∀x, y, z ∈ R, e dois quaisquer números racio-
nais: ∀q, r ∈ Q, exprima as propriedades da potenciação por um expoente racional correspondentes aos
exemplos acima tabelados.

Raiz quadrada de um número real


A raiz quadrada de um número real positivo é um exemplo de uma relação binária de conjunto de
+ +
partida: R√0 e conjunto de chegada R, que a cada x ∈ R0 associa y√∈ R.√Se y for uma raiz quadrada
de x (y = x), então o quadrado de y é igual a x: y 2 = y × y = x × x = x. Para x diferente de
zero, existem sempre duas raı́zes quadradas de um qualquer real positivo, a raiz positiva e a raiz
negativa:

y = ± x ⇔ y 2 = x.
Dado, por exemplo, o número real positivo quatro, existem dois reais (dois e menos dois) que ele-
vados ao quadrado são iguais a quatro. Estes dois reais, 2 e -2, são designadas as raı́zes quadradas
de 4:

4 = ±2.

Outras propriedades importantes do conjunto dos números reais

exemplo particular exemplo geral


∀x, y, z ∈ R ∧ ∃n ∈ N
2 ≤ 3∨3 ≥ 2 x ≤ y ∨y ≥ x
2 ≤ 2∧2 ≥ 2 ⇒ 2 = 2 x ≤ y ∧x ≥ y ⇒ x = y
2 ≤ 3 ⇒ 67 + 2 ≤ 67 + 3 x ≤ y ⇒ z+x ≤ z+y
2 ≥ 0∧3 ≥ 0 ⇒ 2×3 ≥ 0 x ≥ 0∧y ≥ 0 ⇒ x×y ≥ 0

Exercı́cio 1.3.3 Para dois (três) quaisquer números reais, ∀x, y, z ∈ R, e um número natural: ∃n ∈ N,
exprima as propriedades das relações de ordem correspondentes aos exemplos acima tabelados.

1.3.2 Simplificação das expressões algébricas


Para calcular ou simplificar ou interpretar uma expressão algébrica é necessário realizar cada uma
das operações incluı́da na expressão, respeitando a prioridade entre elas. Começa-se sempre por
resolver as operações:
1. entre parênteses;
2. a potênciação tem prioridade sobre todas as restantes operações e a multiplicação (ou di-
visão) tem sempre prioridade sobre a adição (ou subtração);
3. no caso de as operações serem adições ou subtrações, ou exclusivamente multiplicações ou
divisões e como estas operações são associativas e têm igual prioridade estas podem ser
resolvidas ou não pela ordem em que aparecem.
4. na adição ou subtração de frações de diferentes denominadores é necessário reduzir ao
mesmo denominador antes de se poderem subtrair ou somar os numeradores das respetivas
frações.

6
1.3.3 O número racional e os factores de conversão
O problema da medida e o número racional
O problema de medir é bem antigo. Segundo Oliveira e Silva (1981), citando o historiador
Heródoto, já há cerca de 4000 anos atrás, o Rei egı́pcio Sesóstris repartia entre o seu povo, ter-
renos rectangulares cultiváveis e tinha medidores que se deslocavam aos terrenos para medir as
respetivas áreas para, subsequentemente, calcular o devido tributo a pagar.
Quando se mede, comparam-se duas grandezas da mesma espécie, ou seja, com a mesma di-
mensão. Compara-se, por exemplo, comprimento com comprimento, área com área, volume com
volume, massa com massa, euros com libras, etc. A grandeza que serve de termo de comparação
no processo de medida é designada de unidade e é escolhida livremente pelo indivı́duo que vai
efectuar a medição. Podemos, por exemplo, medir um qualquer comprimento usando uma uni-
dade com a dimensão de comprimento como é o caso das seguintes unidades: o palmo, o polegar,
o pé, o metro, o centı́metro, o angstron, o ano-luz, o nanómetro e por aı́ adiante. Temos assim,
para cada grandeza, um número infinito de possı́veis unidades.
Embora a escolha da unidade seja arbitrária, devemos escolher a unidade apropriadamente, evi-
tando usar unidades grandes para medir grandezas pequenas e vice-versa. Na prática, não se
escolhe o cêntimo para quantificar a fortuna de um milionário, assim como não se escolhe o
milı́metro quadrado para indicar a área de um terreno agrı́cola. De facto, não seria normal medir
a grossura de um cabelo usando como unidade o quilómetro ou medir a potência de um carro
em watt. A capacidade de um condensador eléctrico mede-se, em geral, em microfarad, a mi-
lionésima parte do farad e a distância no espaço interestelar mede-se em anos-luz.
No processo de medida, a grandeza a medir, G, é comparada com a unidade, u, e do resultado
dessa comparação obtém-se m, a medida na unidade adoptada. A medida é um número adimen-
sional, sem unidade associada, e indica quantas vezes u está contida em G:

grandeza = medida × unidade ⇔ G = m × u.

E se para a mesma grandeza for escolhida outra unidade, u´ em vez de u? A medida obtida terá de
ser necessariamente diferente porque a unidade é diferente ou, pelo contrário, será igual porque
estamos a medir a mesma grandeza? Qual a relação entre a medida, m, obtida na unidade u e a
medida, m´, obtida na unidade u´?
Resposta:

m u0
(
G = m×u 0 0
⇔ m × u = m × u ⇔ =
G = m0 × u 0 m0 u
Se se mudar a unidade de medida, isso vai afetar a medida que se vai obter. Quanto mais pequena
for a unidade, u, escolhida na medição, maior será a medida, m, que se obtém na medição, de tal
modo que o produto ´m × u terá de se manter constante e igual a G. A razão entre as medidas em
unidades diferentes é inversamente proporcional à razão entre as respectivas unidades adoptadas,
isto é, se por exemplo a unidade adoptada duplicar, a correspondente medida diminuirá para
metade (a diminuição na medida é na mesma proporção que o aumento na unidade e vice-versa).
Podemos comparar grandezas da mesma dimensão (da mesma espécie) mesmos que venham ex-
pressas em diferentes unidades. Assim, é correto afirmar acerca das seguintes grandezas com a
dimensão de comprimento: ou ainda para duas grandezas de volume: Para se poderem comparar
duas grandezas da mesma dimensão não se pode simplesmente comparar os valores das respeti-
vas medidas, ignorando a relação entre as unidades usadas em cada uma dessas medidas. Assim,
estaria incorrecto afirmar que 20 cm ¡ 2 m, apesar de 20 ser inferior a 2. O fato é que o centı́metro
é a centésima parte do metro e 20 cm significa vinte centésimas partes do metro:

7
1m 20
20 cm = 20 × 1 cm = 20 × = × 1 m = 0,2 m.
100 100
Para se compararem grandezas, expressas na mesma unidade, basta comparar as respertivas me-
didas nessa unidade. A medida, m, indica quantas vezes a unidade escolhida está contida na
grandeza a medir, ou seja, quantas vez G contém u. Logo, m apenas faz sentido se se indicar u:
G
G = m×u ⇔ m = .
u
É necessário fazer-se uma ressalva para o caso de algumas unidades diferentes mas com o mesmo
nome, uma prática altamente desaconselhável. É o caso, por exemplo, do cúbito egı́pcio (0,5 m),
introduzido 2000 anos antes de Cristo, como a distância do cotovelo até à ponta do dedo médio
do Faraó, e o cúbito pérsico (0,43 m). Outros exemplos são o caso do galão americano e do galão
inglês, do alqueire no Rio Janeiro e do alqueire em São Paulo, entre outros. Medidas diferentes
com o mesmo nome trazem problemas e muita confusão.
Outros problemas podem surgir quando o resultado da medida é expresso indicando apenas a
medida na unidade (m) sem explicitação da unidade (u) adoptada. A perca da sonda climática,
Mars Surveyor ’98 Orbiter, lançada pela Nasa em 11/dezembro/1998, ficou a dever-se a um erro
no cálculo do impulso a transmitir pelos propulsores da sonda para a colocar na orbita correta.
Supostamente, a medida (m) deveria ter sido expressa na unidade u=newton segundo mas na
realidade o programa fornecido pelo fabricante dos propulsores calculava-a em u 0 = libra-força ×
segundo ( howpublished=https://en.wikipedia.org/wiki/Mars_Climate_Orbiter).

Factores de conversão
Para se converter uma determinada medida, escrita numa determinada unidade, para outra di-
ferente unidade é útil a noção de fator de conversão. O fator de conversão é a unidade (ou o
elemento neutro da multiplicação) escrito nas unidades convenientes. A partir da relação entre
duas diferentes unidades facilmente se constrói o fator de conversão. Para o caso do fator de
conversão entre o farad e microfarad tem-se:
× 1061µF
1F 106 µF 1F
1 F = 106 µF ⇔ 6
= 6
⇔ 6 =1
10 µ F 10 µF 10 µF
Determine o fator de conversão entre libra inglesa e euro e calcule o custo de um café (0,65 euros)
em libras usando o fator de conversão. Atenda a que 1 libra = 1,22 euros.
Resolução:

fator de conversão de euro para libra


z }| {
1 libra 0,65 libra
C = 0, 65 euro × 1 = 0, 65 euro × = ' 0,53 libra.
1,22 euros 1,22
Determine a capacidade de um condensador eléctrico de 50 F (cinquenta microfarad) em F (farad)
usando o fator de conversão de F para F. Atenda a que 1F = 106 F.
Resolução:

fator de conversão de µF para F


z }| {
1F 50 µF × 1 F 50 × 1 F
C = 50 µF × 1 = 50 µF × 6
= 6
= 6
= 50 × 10−6 F.
10 µF 10 µF 10

8
A dificuldade que surgiu na medição e que fez surgir o aparecimento dos números fraccionários
foi o facto de só em rarı́ssimas ocasiões, a unidade escolhida estava contida um número inteiro de
vezes na grandeza a medir. Na figura, a grandeza G contém cinco unidades e mais dois décimos
da unidade e mais cerca de metade de um décimo da unidade.

Figura 1.1: A grandeza G não contém um número inteiro de unidades u


G mede cinco unidades mais duas décimas da unidade mais metade de um décimo da unidade:
1
1 20 2 × 1 2 1 100 + 4 + 1 105
G = 5u + 2 × u + 10 = 5 u × + × u+ u = u= u.
10 2 20 10 2 20 20 20

1.3.4 Proporcionalidade direta e indireta


A análise das dependências de uma grandeza é de especial importância para o entendimento da
maior parte das expressões algébricas e funções.

Duas grandezas dizem-se directamente proporcionais se:

• ao aumentarmos (diminuirmos) uma, a outra aumenta (diminui) na mesma proporção;

• a razão entre as duas grandezas é constante, ou seja, dadas as medidas a, a0 , a00 , a000 , da
primeira grandeza e b, b0 , b00 , b000 , da segunda grandeza, temos:

a a0 a00 a000
= = = = ···
b b0 b00 b000
A razão constante
a
k=
b
é chamada de constante de proporcionalidade.
Um exemplo de proporcionalidade direta é o da relação entre o preço a pagar pela carne de vaca
e a massa de carne a adquirir. O custo é diretamente proporcional à massa adquirida e a constante
de proporcionalidade é o custo, em euros, por quilograma de carne de vaca: 7 1euros
kg .

constante de proporcionalidade
z }| {
custo da carne vaca = preço da carne por quilograma × massa de carne vaca

Se tivermos:
7 euros
• 2 kg de carne de vaca, o custo será de: custo de 2 kg = 1 kg × 2 kg = 14 euros, se

9
Caso particular massa de carne adquirida custo da carne adquirida
7 euros 7 euros
1 m1 = 2 kg custo1 = 1 kg × m1 = 1 kg × 2 kg = 14 euros
7 euros 7 euros
2 m2 = 3 kg custo2 = 1 kg × m2 = 1 kg × 3 kg = 21 euros
7 euros 7 euros
3 m3 = 0,5 kg custo3 = 1 kg × m3 = 1 kg × 0,5 kg = 3,5 euros

Tabela 1.1: Tabela de casos particulares da dependência do custo em função da massa

7 euros
• 3 kg, o custo é de: custo de 3 kg = 1 kg × 3 kg = 21 euros , e
7 euros
• 0,5 kg o custo é custo de 0,5 kg = 1 kg × 0,5 kg = 3,5 euros.

Em notação matemática dizer que o custo da carne de vaca, custo, é diretamente proporcional à
massa de carne de vaca adquirida, massa é equivalente à seguinte expressão:

custo ∝ massa.
Se for adquirida mais (menos) carne de vaca o custo da carne será maior (menor) na mesma
proporção. Isto é, por exemplo, o dobro da carne implicará o dobro do custo e um terço da carne
implicará um terço do custo.
Consideremos agora um outro exemplo de proporcionalidade. A distância percorrida por um
carro em cruise-control, distância, é directamente proporcional à rapidez com que o carro viaja,

distância ∝ rapidez,
e também ao intervalo de tempo,

distância ∝ tempo,
isto é:
=1
z }| {
distância ∝ rapidez, tempo ⇒ distância = cte de prop. × rapidez × tempo,
e a constante de proporcionalidade é um . O facto de:
• distância ∝ rapidez implica que considerando um intervalo de tempo fixo (constante), se
um carro A se desloca ao dobro (triplo, metade, etc) da rapidez de um carro B, o carro A
deslocar-se-á duas (três, metade das, etc) vezes mais que o carro B.

• distância ∝ tempo, implica que considerando a rapidez fixa (constante), se um carro A tem o
dobro (triplo, metade, etc) do tempo de um carro B para se deslocar, o carro A deslocar-se-á
duas (três, metade das, etc) vezes mais que o carro B.

rapidez Intervalo de tempo Distância percorrida


60 km
1h 1h 60 km
60 km
1h 1,5 h 90 km (aumenta com o tempo de viagem)
120 km
1h 1,5 h 180 km (aumenta com a rapidez)
120 km
1h 1h 120 km

10
Nos casos de proporcionalidade nem sempre o aumento (diminuição) de uma quantidade implica
o correspondente aumento (diminuição) da quantidade proporcional. Nos casos de proporciona-
lidade inversa, o aumento de uma grandeza implica a diminuição da outra, mas na mesma
proporção. Nesses casos diz-se que as grandezas são inversamente proporcionais. Duas grande-
zas dizem-se inversamente proporcionais se:
• ao aumentarmos (diminuirmos) uma, a outra diminui (aumenta) na mesma proporção;

• o produto entre as duas grandezas é constante, ou seja, dadas as medidas a, a0 , a00 , a000 , da
primeira grandeza e b, b0 , b00 , b000 , da segunda grandeza, temos: a × b = a0 × b0 = a00 × b00 = · · · .
O tempo gasto a percorrer uma determinada distância é inversamente proporcional à rapidez da
pessoa que a percorre:
1
tempo ∝ ,
rapidez
assim, quanto mais (menos) rápido for o corredor, menos (mais) tempo gasta a percorrer uma
determinada distância fixa.
Na generalidade das funções com utilidade prática não são verificadas nem relações de propor-
cionalidade direta nem de proporcionalidade inversa. Tome-se o caso do ordenado diário de um
funcionário de um restaurante:

ordenado diário = ordenado diário fixo + gorjeta diária ⇔ ord(of , gt) = of + gt


em que o ordenado diário fixo é uma constante, por exemplo igual a 50 euros e a gorjeta é variável,
depende de dia para dia. O ordenado fixo diário, of , depende de duas variáveis independentes, o
ordenado fixo diário, of , e a gorjeta diária, gt.
Poderı́amos então analisar cada uma das dependências mantendo a outra fixa:

• o ordenado diário, ord, depende do ordenado fixo diário, of mas como? Se se duplicar o
ordenado fixo diário será que o ordenado diário também duplica? Para responder a este
caso consideremos dois casos gerais. No primeiro caso geral o ordenado fixo é of e a gorjeta
é gt. Neste primeiro caso o ordenado diário é: ord (1) = of + gt. No segundo caso geral o
ordenado fixo é 2 × of e a gorjeta é igual à do primeiro caso geral, gt. Neste segundo caso
o ordenado diário é: ord (2) = 2 × of + gt. Neste segundo caso o ordenado só duplicaria se a
gorjeta também tivesse duplicado mas isso não aconteceu, isto é, ord (2) , 2 × ord (1) . Assim
podemos concluir que o ordenado diário não é diretamente proporcional ao ordenado fixo
embora saibamos que se aumentarmos o ordenado fixo o ordenado diário também aumenta
mas não na mesma proporção.

• o ordenado diário, ord, depende da gorjeta, gt mas como? Se se diminuir a gorjeta três
vezes será que o ordenado diário também diminui três vezes? Para responder a este caso
consideremos dois casos gerais. No primeiro caso geral o ordenado fixo é of e a gorjeta é gt.
Neste primeiro caso o ordenado diário é: ord (1) = of + gt. No segundo caso geral o ordenado
gt
fixo mantém-se constante of e a gorjeta fica três vezes mais pequena, 3 . Neste segundo
gt
caso o ordenado diário é: ord (2) = of + 3 . Neste segundo caso o ordenado só ficaria três
vezes mais baixo se a gorjeta também tivesse reduzido três vezes. Mas isso não aconteceu,
(1)
isto é, ord (2) , ord3 . Assim podemos concluir que o ordenado diário não é diretamente
proporcional à gorjeta embora saibamos que se diminuirmos a gorjeta o ordenado diário
também diminui mas não na mesma proporção.

11
Caso geral ordenado fixo gorjeta ordenado diário

1 of gt ord (1) = of + gt

2 x × of gt ord (2) = x × of + gt , x × ord (1)

Conlusão:

ord não é diretamente proporcional a of

Tabela 1.2: Tabela de estudo da dependência de ord com of (gt mantém-se fixa)

1.4 Matrizes
Uma matriz é um arranjo ordenado de números, sı́mbolos ou expressões, dispostos em linhas e
colunas. Os termos individuais da matriz são designados de elementos da matriz. Costuma-se
representar as matrizes por letras maiusculas e seus elementos pelas letras minusculas corres-
pondentes. Exemplos de matrizes são:

  
 a a
matriz quadrada A, de ordem 2, e elemento geral a = A = [aij ]2×2 =  11 12 

 
 





 a21 a22
  
1 0 0

  

 
 

matriz quadrada diagonal (elementos não principais principal nulos) = C 0 2 0

3×3

  

  

0 3 4

 

  


 0 0 0 
matriz nula de 2 linhas por 3 colunas = 02×3 = 

  


 0 0 0  .
  


 1 0

matriz identidade quadrada de 2 linhas por 2 colunas = I2×2 =  
0 1

 



  



matriz linha de variáveis = A2×1 = −x 2y ;
  
−x




  
matriz coluna de variáveis = B1×3 = 2y 



  

z

  

1.4.1 Equações lineares com e sem módulo


Uma equação matemática é uma espécie de advinha ou pergunta. Em notação matemática, uma
equação contém sempre:

• uma expressão algébrica do lado esquerdo do sinal de igual;

• um sinal de igual;

• uma expressão algébrica do lado direito do sinal de igual;

12
Equação em linguagem matemática Equação em linguagem corrente

3 × v + 4 = 10, v ∈ N Qual o natural, v, cujo triplo adicio-


nado a quatro dá dez?

|x − 4| = 10, x ∈ R Qual o real, x, cuja distância ao


número quatro é dez?
y
3 × x + 4 = 0, x, y ∈ R Quais os reais, x e y, tais que o triplo
de um deles adicionado a um quarto
do outro dá zero?

No total, as expressões algébricas do lado esquerdo e do lado direito de uma equação contêm pelo
menos uma incógnita (quantidade desconhecida).
Considere-se a equação 2x + 4 = 8, em que x ∈ R. Em notação do dia a dia lê-se: Qual o
número real, x, que multiplicado por dois e somado a quatro dá 8? A tabela abaixo exemplifica
três equações lineares de uma só incógnita, de duas incógnitas e uma equação linear incluindo
módulos.

Para se determinar a (ou as) incógnita(s), numa equação, podemos utilizar o método da tentativa
e erro. Por exemplo, para o caso da equação com módulos: |x − 4| = 10, x ∈ R, comecemos por
tentar verificar se x=a é ou não solução da equação:

Se x=0 ⇒ |0 − 4| = 10 ⇔ Se x=0 ⇒ |−4| = 10 ⇔ Se x=0 ⇒ 4 = 10.

Se partirmos da hipótese de x = 0 chegamos a uma afirmação falsa. Então podemos concluir que
o número zero não é solução desta equação. Podemos seguidamente ir tentando:

• Se x=1 ⇒ |1 − 4| = 10 ⇔ Se x=1 ⇒ |−3| = 10 ⇔ Se x=1 ⇒ 3 = 10.

• Se x=2 ⇒ |2 − 4| = 10 ⇔ Se x=2 ⇒ |−2| = 10 ⇔ Se x=2 ⇒ 2 = 10.

• Se x=3 ⇒ |3 − 4| = 10 ⇔ Se x=3 ⇒ |−1| = 10 ⇔ Se x=3 ⇒ 1 = 10.

• Se x=4 ⇒ |4 − 4| = 10 ⇔ Se x=4 ⇒ |0| = 10 ⇔ Se x=4 ⇒ 0 = 10.

• Se x=5...

• Se x=6...

• Se x=7...

• Se x=9...

• Se x=10...

• Se x=11...

• Se x=12...

13
• Se x=13...

• Se x=14 ⇒ |14 − 4| = 10 ⇔ Se x=14 ⇒ |10| = 10 ⇔ Se x=14 ⇒ 10 = 10.

Pelo método da tentativa e erro e após 15 tentativas conseguimos descobrir uma solução, x = 14,
isto é, o número real 14 está à distância 10 do número 4. Haverá outro número na reta real que
também esteja à distância 10 do número 4. Por tentativa e erro conseguiremos verificar que o
número x = −6 também se encontra à distância 10 do número 4:

Se x=-6 ⇒ |−6 − 4| = 10 ⇔ Se x=-6 ⇒ |−10| = 10 ⇔ Se x=-6 ⇒ 10 = 10.


Mas este método de tentativa e erro embora funcione bem, se tivermos já uma ideia por que
domı́nios ou regiões procurar a solução, torna-se ainda assim extremamente moroso. Outro pro-
cesso de chegarmos à solução seria usando o método gráfico.
Para determinar quais os pontos na reta real que estão à distância de seis unidades do número +4
seria necessário:

• representar a reta real com a inclusão do real +4,

Figura 1.2: Reta real incluindo o real positivo +4

• assinalar o real positivo quatro,

Figura 1.3: O real +4 na reta real

• marcar 6 unidades para a direita e esquerda do real +4,

Figura 1.4: A distância entre dois números é sempre um valor positivo

• marcar os números reais à distância 6 do número +4. Estes pontos são a solução da equação:
|x − (+4)| = 6

O processo analı́tico é um outro método de resolver esta equação. Sabemos que os pontos desco-
nhecidos, x, estão à distância seis do real +4:

|x − (+4)| = 6
Logo, a diferença entre x e +4 ou é seis ou é menos seis pois essa é a única maneira de o módulo
dar +6:

14
Figura 1.5: Solução gráfica de |x − (+4)| = 6 ⇔ x = −2 ∨ x = +10

|x − (+4)| = 6 ⇔ x − (+4) = +6 ∨ x − (+4) = −6


Relembre que o módulo da diferença entre os pontos é igual à distância (valor sempre positivo)
entre estes. E assim resolvendo analiticamente estas duas equações lineares obtém-se x:

x − (+4) = −6 ⇔ x − 4 = −6 ⇔ (x − 4) + 4 = (−6) + 4 ⇔ x + (−4 + 4) = −6 + 4 ⇔ x + 0 = −2 ⇔ x = −2

x − (+4) = +6 ⇔ x − 4 = +6 ⇔ (x − 4) + 4 = (+6) + 4 ⇔ x + (−4 + 4) = +6 + 4 ⇔ x + 0 = +10 ⇔ x = 10

Relembre que para resolver uma qualquer equação tudo o que fizer ao membro esquerdo da
equação terá de fazer igual ao membro direito para que a igualdade se mantenha. No caso das
equações anteriores foi necessário somar o real a ambos os membros para que a incógnita x ficasse
isolada no membro esquerdo e assim se obtivesse uma igualdade com a forma:

x = ...

1.4.2 Sistemas de equações


Um sistema de equações lineares (ou sistema linear) é a interseção de duas ou mais equações
lineares envolvendo o mesmo conjunto de variáveis. Por exemplo o sistema:
(
x = 4
y = 2
é um sistema de duas equações a duas incógnitas. A solução de um sistema linear são os valores
das variáveis que satisfazem todas as equações simultaneamente. No exemplo dado anterior-
mente o ponto que pertence simultâneamente às retas x = 4 e y = 2 é o ponto de coordenadas:
x = 4 e y = 2.

Figura 1.6: Interseção das retas x=4 e y=2

Um sistema de equações lineares pode ser possı́vel se admitir pelo menos uma solução e im-
possı́vel se não admitir nenhuma solução. Se o sistema de equações lineares admitir mais do que

15
uma solução, o sistema é possı́vel e indeterminado, e se apenas admitir uma e uma só solução o
sistema é possı́vel e determinado.
Em notação matricial o sistema acima exemplificado toma a forma:

matriz coeficientes matriz variáveis matriz termos independentes


z }| { z}|{ z}|{
( ( ! ! !
x = 4 1x + 0y = 4 1 0 x 4
⇔ ⇔ × = .
y = 2 0x + 1y = 2 0 1 y 2
Para resolver a equação matricial anterior considera-se a matriz ampliada (ou completa) do sis-
tema, constituı́da pela matriz dos coeficientes com uma última coluna igual à matriz dos termos
independentes:
!
1 0 4
.
0 1 2

1.4.3 Algebra matricial


Duas matrizes são iguais se tiverem a mesma ordem e se cada um dos elementos de uma for
igual ao correspondente elemento da outra (iguais elementos homólogos: A = B ⇔ aij = bij , ∀i, j).
Define-se o produto do escalar λ pela matriz A, e denota-se por λ × A, à matriz de ordem igual
à ordem de A cujos elementos se obtêm multiplicando cada elemento de A por λ. Por exemplo,
 
1 2 3
tomando A = 4 5 6:
 
7 8 9
 
   
1 2 3 −1 × 1 −1 × 2 −1 × 3
−1 × A = −1 × 4 5 6 = −1 × 4 −1 × 5 −1 × 6 .
   
7 8 9 −1 × 7 −1 × 8 −1 × 9
   

o produto de escalares por matrizes tem as seguintes propridades:


1. propriedade distributiva da multiplicação de escalar em relação à adição de matrizes: λ ×
(Am×n + Bm×n ) = λ × Am×n + λ × Bm×n
2. propriedade distributiva da multiplicação de matriz em relação à adição de escalares: (λ +
β) × Am×n = λ × Am×n + β × Am×n
3. propriedade associativa da multiplicação escalar e de matrizes: (α ×β)×Am×n = α ×(β ×Am×n )
4. elemento neutro: 1 × Am×n = Am×n
5. elemento absorvente: 0 × Am×n = 0m×n
A adição de duas matrizes é definida desde que estas matrizes tenham o mesmo tamanho (ou
sejam a mesma ordem, isto é, tenham o mesmo número de linhas e o mesmo número de colunas).
O elemento da matriz soma é a soma dos respetivos elementos das matrizes parcela. A matriz
subtracção de A com B é a matriz definida pela soma de A com o elemento simétrico de A com B.
Por exemplo:
       
1 2 3 −1 −2 −3 1 + (−1) 2 + (−2) 3 + (−3) 0 0 0
A + (−1 × A) = 4 5 6 + −4 −5 −6 = 4 + (−4) 5 + (−5) 6 + (−6) = 0 0 0 .
       
7 8 9 −7 −8 −9 7 + (−7) 8 + (−8) 9 + (−9) 0 0 0
       

A adição de matrizes tem as seguintes propridades:

16
1. comutativa: Am×n + Bm×n = Bm×n + Am×n

2. associativa: Am×n + Bm×n + Cm×n = Am×n + (Bm×n + Cm×n ) = (Am×n + Bm×n ) + Cm×n

3. elemento neutro: Am×n + Om×n = Am×n

4. elemento simétrico: Am×n + (−Am×n ) = 0m×n

O produto de uma matriz por outra apenas se pode efetuar se o número de colunas da primeira
matriz for igual ao número de linhas da segunda matriz. A matriz produto tem tantas linhas como
a primeira matriz e tantas colunas como a segunda matriz. Consideremos o exemplo do produto
de uma matriz linha 1 × 4 por uma matriz coluna 4 × 1. Como a primeira matriz tem quatro
colunas e a segunda matriz tem quatro linhas, esse produto pode ser efetuado. O resultado será
uma matriz com o mesmo número de linhas da primeira matriz (neste caso 1 linha) e o mesmo
número colunas da segunda matriz (neste caso 1 coluna), isto é, uma matriz de uma linha e uma
coluna:
 
 x 
   y  1 w
A1×4 × B4×1 = 2 −1 3 21 ×   = 2 × x + (−1) × y + 3 × z + × w = 2x − y + 3z + .
 z  2 2
w
 

Quando se multiplica uma linha por uma coluna, o primeiro elemento da linha multiplica com
o primeiro elemento da coluna, ao resultado desta multiplicação adiciona-se o produto do se-
gundo elemento da linha com o segundo elemento da coluna, ao resultado desta multiplicação
adiciona-se o produto do terceiro elemento da linha com o terceiro elemento da coluna e assim
sucessivamente até terem sido adicionados os produtos de cada elemento da linha com os corres-
pondentes elementos da coluna. Repare que o resultado da multiplicação da matriz linha pela
matriz coluna é um escalar, ou seja, uma matriz de ordem 1 × 1. De forma geral, quando o pro-
duto de uma matriz, A, por outra, B, pode ser efetuado, o elemento da primeira linha, primeira
coluna da matriz produto, c11 , obtêm-se multiplicando a primeira linha da primeira matriz, a1 l ,
pela primeira coluna da segunda matriz, b1 c , repetindo o processo explicado anteriormente para
a multiplicação da matriz linha pela matriz coluna:

 
 a1 l   
c11 = a1 l × b1 c c12 = a1 l × b2 c · · · c1n = a1 l × bn c 
a 
    
A × B = C ⇔  2 l  × b1 c b2 c · · · bn c = 

··· ··· ··· ···  .
 
 · · ·  
c = a × b c = a × b · · · c = a × b

m1 ml 1c m2 ml 2c mn ml nc
am l
 

A multiplicação de matrizes não é comutativa mas tem as seguintes propriedades:

1. associativa: (Am×n × Bn×o ) × Co×p = Am×n × (Bn×o × Co×p )

2. propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição à direita): Am×n × (Bn×o +


Dn×o ) = Am×n × Bn×o + Am×n × Dn×o

3. propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição à esquerda): (Bn×o + Dn×o ) ×


Eo×p = Bn×o × Eo×p + Dn×o × Eo×p

4. λ × (Am×n × Bn×o ) = (λ × (Am×n ) × Bn×o = Am×n × (λ × Bn×o )

5. matriz absorvente: Am×n × 0n×o = 0m×o e 0n×o × Eo×p = 0n×p

17
6. matriz identidade: Am×n × In×n = Am×n e Im×m × Am×n = Am×n
kf actores
z }| {
7. potenciação de expoente inteiro de matriz quadrada: Ak = A × A × · · · × A

8. potenciação de expoente zero: A0n×n = In×n

18
1.5 EXERCÍCIOS DE NOÇÕES DE CÁLCULO ALGÉBRICO E
DE CÁLCULO MATRICIAL
1. (Resolvido) Quando se divide x bolos por y pessoas o resultado dá a fração de bolos que
cabe a cada pessoa.
(a) explicite, em notação matemática, qual o resultado da divisão referida no enunciado.
Resposta: yxpessoas
bolos bolos
= yx pessoa , lê-se x sobre y bolos por pessoa.
(b) o que acontece ao resultado da divisão quando x aumenta? Resposta: Se x aumenta,
aumenta o número de bolos que se quer repartir, logo, vai aumentar o número de bolos
por pessoa, isto é, yx vai aumentar.
(c) o que acontece ao resultado da divisão quando x diminui? Resposta: Se x diminui,
diminui o número de bolos que se quer repartir, logo, vai diminuir o número de bolos
por pessoa, isto é, yx vai diminuir.
(d) o que acontece ao resultado da divisão quando y aumenta? Resposta: Se y aumenta,
aumenta o número de pessoas por quem se vão repartir os bolos, logo, vai diminuir o
número de bolos por pessoa, isto é, yx vai diminuir.
(e) o que acontece ao resultado da divisão quando y diminui? Resposta: Se y diminui,
diminui o número de pessoas por quem se vão repartir os bolos, logo, vai aumentar o
número de bolos por pessoa, isto é, yx vai aumentar.

2. (Resolvido) Explique os fatores dos seguintes produtos e simplifique-os atendendo a que x,


y e z representam números reais:
(a) 3× cm Resposta: três centı́metros é o produto de um número real por unidade de
comprimento e pode representar uma medida de um comprimento.
(b) x×x−1 , em que x é diferente de zero. Resposta: x×x−1 = x× 1x = xx = 1, porque x e x−1 são
elementos inversos, isto é, o seu produto é igual ao elemento neutro da multiplicação.
1
(c) 2 ×x Resposta: metade do número x, também pode ser representado da seguinte forma:
1 −1 1 x
2 × x = 2 × x = x × 2 = 2.
1 1 −1 −1 são elementos inversos.
(d) 3 × 3 Resposta: 3 × 3 = 3 × 3 = 1 porque 3 e 3
(e) 3 × z Resposta: o triplo do número real z.
√ √ √ √
(f) √3 × 3 Resposta: 3 é o número que multiplicado por ele próprio dá três, logo, 3 ×
3 = 3.
3. (Resolvido): Escreva a expressão 2x sob várias formas equivalentes indicando as proprieda-
des usadas. Resposta: 2x = x × 12 = 12 × x = x × 2−1 = 2−1 × x, na primeira igualdade usamos o
facto de que dividir é multiplicar pelo inverso, na segunda igualdade a propriedade comu-
tativa da multiplicação, na terceira usamos a notação de elemento inverso usando a potência
e na quarta novamente a propriedade comutativa.
10 bolos 10 bolos 10 bolos 10 bolos 10 bolos
4. (Resolvido): Determine as seguintes razões: 10 pessoa ; 5 pessoa ; 2 pessoa ; 1 pessoa ; 0,5 pessoa ;
10 bolos 10 bolos
0,01 pessoa ; 0 pessoa .
Sugestão: Vamos pensar (abstrair) que 0,5 pessoas será equivalente a
uma criança que come metade de um adulto e que 0,01 pessoas será uma criança que come
muito pouco, o equivalente a 100 vezes menos que um adulto. Zero pessoas seria o limite
de uma criança que quase não come quase nadinha.

19
5. (Resolvido): Considere a seguinte função: g(h) = 20+3
h . Note que quando se divide por
zero não é bem por zero, é por um número muito, muito próximo zero, por exemplo: 0 =
1, 0 × 10−10 = 0, 0000000001. Quando falamos em infinito estamos a pensar num número
muito, muito grande, maior do que qualquer número a que esteja habituado a lidar, por
exemplo +∞ = +1, 0 × 10+10 = 10000000000.

(a) Como se chama a função (ou variável dependente ou saı́da )? R: Chama-se g.


(b) Como se chama a entrada (ou variável independente ou objeto)? R: Chama-se h
(c) Faça uma tabela de valores (de entradas e saı́das) de g, incluindo g(0), g(23), g(+inf ty),
g(−inf ty) R: g(0) = 20+3 23 +23 20+3 23 20+3
0 = 0 = 0 = +∞; g(23) = 23 = 23 = 1; g(23) = 23 = 23 = 1;
23
20+3 20+3
g(+inf ty) = +inf ty = 0+ ; g(−inf ty) = −inf ty = 0− .

6. (Resolvido): Selecione todas as afirmações verdadeiras:

(a) O número 2 é um número natural. R: verdadeira


(b) O número 2 é um número inteiro positivo. R: verdadeira
(c) O número 2 é um número racional. R: verdadeira
(d) O número 2 é um número é um número irracional. R: falsa
(e) O número 2 é um número real. R: verdadeira

7. (Resolvido): Simplifique a seguinte expressão algébrica indicando as propriedades usadas


em cada passo: 2x × 3×x 2
× y.

1
8. Considere as seguintes frações: 12 , 2
2 e 1
3 de uma tarte com a área de um retângulo de lados
1 cm e 10 cm.

(a) Represente graficamente as frações.


(b) Explique o seu significado usando linguagem comum do dia a dia.
bolo
9. Considere a seguinte afirmação em notação matemática: ”Na festa havia 21 × pessoa .”. Leia
a expressão dada usando linguagem do dia a dia, excluindo os termos: vezes e dividir, ou
equivalentes.

10. Traduza da notação matemática para a linguagem corrente ou vice versa os elementos das
colunas da tabela abaixo:
alı́nea Notação matemática Linguagem corrente Comece as frases com:
Qual é (são) ou
Função
Expressão algébrica
y
a) 2x + 3 , x e y são reais
b) A(b,h)
c) f (y) = y 2 , y é real
d) 3 × v + 4 = 10, v é real
e) |x − 4| = 10, x é real

11. Simplifique e ordene as seguintes expressões numéricas indicando as propriedades que


utilizou:

20
√ √ √
(a) 8 − 3( 12 + 3)

(b) ( 2 + 1)2
(c) − √4 × 12
2

(d) 3 + 5 2

12. Simplifique as seguintes expressões algébricas, indicando o respetivo significado sempre


que possı́vel:

(a) − 25 + 32 − (−2 + 2 × 12 )4 : 6
5
6 metros
(b) 3 segundos ;
10 litros
(c) 2 segundos ;
5 bolinhos
(d) 3 meninos + 23 bolinhos
meninos ;
6 bolinhos
(e) 3 meninos − 1 bolinho
menino ;
5 bolinhos
(f) 3 meninos × 5;
(g)

13. Simplifique ou expanda ou encontre uma outra expressão algébrica equivalente, detalhando
as propriedades utilizadas:

(a) −2[−3(x − 2y) + 4y]


(b) (2x + 3)(x2 − x − 5)
12a2 b
(c) 3ab2
(d) 5 − (x + 2) = 5x
(e) (x − 2)2 − x × x + 4
12a2 b
3ab2
(f) 6ab
3b

Classifique as seguintes igualdades matemáticas, em verdadeira ou falsa. Note que duas


grandezas fı́sicas apenas se podem comparar e (ou) somar e (ou) subtrair se tiverem a mesma
dimensão (duas quantidades têm a mesma dimensão se poderem ser medidas usando a
mesma unidade S.I.).

(a) 3 < m/s2 m.


(b) 3 = m/s2 s.
(c) 3 × m/s 32 = s2 m.
(d) v + 2t = δs, em que v é a velocidade, t o tempo e δs o espaço percorrido.
(e) H = 21 × M, em o H representa 1 homem e M representa uma mulher.

14. Efetue as seguintes conversões utilizando apenas os respetivos fatores de conversão:


g
(a) O ı́ndice de massa corporal de uma crinça de 15 anos é de 1, 9 cm2 . Calcule este ı́ndice
em quilograma por metro ao quadrado. Relembre que #1 kg = 1000 g e que 1 m =
100 cm.

21
(b) A aceleração da gravidade média à superfı́cie da Terra é cerca de 9, 8 sm2 . Calcule esta
aceleração em centı́metros por minuto ao quadrado. Relembre que 1 m = 100 cm e que
1 min = 60 s.
(c) A velocidade média de um carro na aut-estrada é cerca de 100 km
h . Calcule esta veloci-
dade em metros por segundo. Relembre que 1 km = 1000 m e que 1 h = 3600 s.
`
(d) O caudal médio de uma torneira é de cerca de 2 min . Calcule este caudal em metros
cúbicos por segundo. Relembre que 1 m3 = 1000 ` e que 1 min = 60 s.
(e) O preço de uma determinada marca de chocolate por quilograma de massa é de 24 euros
kg .
Calcule o preço do chocolate por cada 100 g. Relembre que 1 kg = 10 hg.
(f) Um determinado ângulo é medido em radianos sendo o seu valor de 2 rad. Calcule o
mesmo ângulo em graus. Relembre que 180° = Πrad.
15. Interprete as seguintes expressões algébricas em termos:
(a) das suas dependências;
(b) do tipo de proporcionalidade direta ou indireta nas respetivas variáveis independentes:

(a) A área de um retângulo de largura ` e altura h é: A = ` × h. Por exemplo, se o retângulo


tiver largura 5 cm e altura 2 cm, a sua área será 5 cm × 2 cm = 5 × 2 × cm × cm = 10cm2 .
(b) O ı́ndice de massa corpural de uma pessoa de massa massa e altura altura é: IMC =
massa
altura2
. Um IMC saudavel deverá estar abaixo dos 25 kg/m2 e acima dos 17 kg/m2 .
(c) A velocidade escalar média de um carro que se desloca ∆x, num intervalo de tempo ∆t,
é vm = ∆x
∆t . Um carro que se desloca 100 km (∆x = 100 km) em 2 horas (∆t = 2 h) tem
100 km 100 km km
uma velocidade média de vm = ∆x∆t = 2 h = 2 h = 50 h
(d) O deslocamento escalar, ∆x, de um carro que se desloca num movimento com aceleração
a, no intervalo de tempo ∆t, é; ∆x = v0 ∆t + 12 a∆t 2 , em que v0 é a velocidade inicial. Um
carro com aceleração de 32 km/h2 e velocidade inicial 50 km/h, no intervalo de tempo um
quarto de hora, 0, 25 h, deslocar-se-á ∆x = 50 km/h × 0, 25 h + 12 × 32 km/h2 × (0, 25 h)2 =
12, 5 km + 16 km
42 2
× h2 = 12, 5 km + 1 km = 13, 5 km.
h
(e) x = 2 × y + z.

16. Cada um dos pontos A, B e C da figura 1.7 obedecem a duas equações, quais são?

Figura 1.7: Volume de lı́quido consumido em função do tempo

17. Atendendo a que o declive de uma reta é uma medida da sua inclinação e calcula-se divi-
dindo a altura (f (t1 ) − f (t0 )) pela base (t1 − t0 ):
f (t1 ) − f (t0 )
declive de uma reta f(t) = ,
t1 − t0
determine o declive das retas das figuras.

22
Figura 1.8: Retas de declive positivo e com unidades

18. Relembre que a equação geral da reta se pode escrever na forma: y = m × x + b, em que m é
o declive da reta (ou tangente do ângulo que a reta faz com a direção paralela ao eixo X), b é
a ordenada na origem, x e y são as variáveis dependentes e independente, respetivamente.

Figura 1.9: Exemplos de retas particulares

19. Escreva as equações das retas que passam pelos pontos:

Figura 1.10: Pontos A, B, C e D no sistema XOY

(a) A e B
(b) A e C

23
(c) A e D
(d) B e C
(e) B e D
(f) C e D

20. Desconhece-se um determinada quantidade inteira, x, mas sabe-se que o quintuplo de x


somado ao número inteiro negativo menos quatro é 21.

(a) Traduza o que se conhece sobre x em notação matemática, escrevendo a equação em x.


(b) Some quatro unidades ao membro esquerdo e direito da equação e simplifique a nova
equação obtida.
(c) Divida por cinco ambos os membros da equação da alı́nea anterior e simplifique a nova
equação obtida.
(d) Que outras afirmações equivalentes se conseguem deduzir, além da que é referida no
enunciado, a partir do que se conhece sobre x?
(e) Verifique se o valor que obtém para x obedece a todas as equações que escreveu em x.

21. Traduza os dados da figura num sistema de equações lineares e determine a expressão da
figura, função das incógnitas deste problema.

Figura 1.11: Problema gráfico com 3 incógnitas

22. Traduza cada um dos seguintes problemas num sistemas de equações lineares e determine
geometricamente a solução.

(a) Quais são as coordenadas, x e y, de um ponto do plano XOY, que pertence às retas r1 e
r2, cada uma com as seguintes caracterı́sticas:
i. r1 é a reta de declive um que passa na origem do sistema retangular de coordenadas
XY;
ii. r2 é a reta horizontal à distância 2 do eixo X e acima deste eixo.
(b) Quais são as coordenadas x e y de um ponto que pertence às retas r1 e r2, cada uma
com as seguintes caracterı́sticas:
i. r1 é a reta de declive um que passa na origem do sistema retangular de coordenadas
XY;
ii. r2 é a reta de declive um e que cruza o eixo Y no ponto de ordenada y=-2.

24
(c) Quais são as coordenadas x e y de um ponto que pertence às retas r1 e r2, cada uma
com as seguintes caracterı́sticas:
i. r1 é a reta de declive um e que cruza o eixo Y no ponto de ordenada y=-3;
ii. r2 é a reta de declive um e que cruza o eixo X no ponto de abcissa x=3.

23. Escreva os seguintes sistemas de equações na forma matricial: A×X = B, em que A é a matriz
dos coeficientes, X é a matriz das variáveis e B é a matriz dos termos independentes.
(
y = x
(a)
y = 2
(
y = x
(b)
y = x−2
(
y = x−3
(c)
2x = 2y + 6

24. Determine a caracterı́stica (número de linhas não nulas ou o número de elementos princi-
pais e não nulos da matriz condensada) da matriz ampliada (matriz dos coeficientes com
uma coluna adicional igual à matriz dos termos independentes) de cada um dos sistemas da
pergunta anterior.

25. No processo de drenagem de um tanque usando duas mangueiras sabe-se que o caudal
` `
de vazamento é de 330 min . Sabe-se que uma mangueira vaza 50 min mais do que a outra.
Quanto drena cada mangueira em separado?

(a) Quantas incógnitas tem este problema e que nome deu a cada uma?
(b) Quantas equações pode retirar do enunciado deste problema e que equações escreveu?
(c) Obtenha a matriz dos coeficientes do sistema e indique a sua ordem (número de linhas
× número de colunas).
(d) Obtenha as matrizes das variáveis e dos termos independentes do sistema e indique as
suas ordens (número de linhas × número de colunas).
(e) Obtenha a matriz ampliada ou completa do sistema.
(f) Resolva o sistema de equações usando o método da substituição (use uma das equações
para escrever uma das incógnitas em função da outra, use essa expressão na outra
equação e obtenha o valor dessa outra incógnita, uma vez conhecendo a outra incógnita
será fácil determinar a primeira incógnita voltando novamente à primeira equação
usada).
(g) Resolva matricialmente o sistema de equações usando o método da condensação (ou
método de eliminação de Gauss) e compare com a resolução do sistema pelo método
da substituição.
(h) Obtenha a caracterı́stica (número de linhas não nulas ou o número de elementos prin-
cipais e não nulos da matriz condensada) da matriz ampliada do sistema (matriz dos
coeficientes com uma coluna adicional igual à matriz dos termos independentes).
(i) Classifique o sistema de equações em possı́vel determinado (uma só solução), indeter-
minado (mais do que uma solução) ou impossı́vel (sem solução).
(j) Obtenha a forma matricial do sistema de equações que escreveu acima.

25
26. Um teste de vinte perguntas é cotado até 100 pontos. O teste consiste em perguntas Ver-
dadeiro e Falso, com 3 pontos cada, e perguntas de múltipla escolha de 11 pontos cada.
Quantas perguntas de múltipla escolha estão no teste?

(a) Quantas incógnitas tem este problema e que nome deu a cada uma?
(b) Quantas equações pode retirar do enunciado deste problema e que equações escreveu?
(c) Obtenha a matriz dos coeficientes do sistema e indique a sua ordem (número de linhas
× número de colunas).
(d) Obtenha as matrizes das variáveis e dos termos independentes do sistema e indique as
suas ordens (número de linhas × número de colunas).
(e) Obtenha a matriz ampliada ou completa do sistema.
(f) Resolva o sistema de equações usando o método da substituição (use uma das equações
para escrever uma das incógnitas em função da outra, use essa expressão na outra
equação e obtenha o valor dessa outra incógnita, uma vez conhecendo a outra incógnita
será fácil determinar a primeira incógnita voltando novamente à primeira equação
usada).
(g) Resolva matricialmente o sistema de equações usando o método da condensação (ou
método de eliminação de Gauss) e compare com a resolução do sistema pelo método
da substituição.
(h) Obtenha a caracterı́stica (número de linhas não nulas ou o número de elementos prin-
cipais e não nulos da matriz condensada) da matriz ampliada do sistema (matriz dos
coeficientes com uma coluna adicional igual à matriz dos termos independentes).
(i) Classifique o sistema de equações em possı́vel determinado (uma só solução), indeter-
minado (mais do que uma solução) ou impossı́vel (sem solução).
(j) Obtenha a forma matricial do sistema de equações que escreveu acima.

26
2. NOÇÕES BÁSICAS DE TRIGONOMETRIA
E DE NÚMEROS COMPLEXOS
2.1 Definição de ângulo plano, unidades e conversões entre di-
ferentes unidades
Ângulo plano (ou simplesmente ângulo) é a região do plano delimitada por duas semirretas com
uma origem em comum, denominada por vértice do ângulo.
O comprimento do arco circular, s, inscrito pelo ângulo θ em radianos, a uma distância unitária
do vertice do ângulo é igual à amplitude do ângulo θ, na unidade adoptada para R, isto é: se R =
1 U ⇒ s = θ( em rad)times1 U.

Exercı́cio 2.1.1 Determine o comprimento do arco de circunferência s, de raio R, inscrito no ângulo


θ = 90° (ver figura 1). Atenda a que 2πrad = 360°.

Resolução Uma vez que o raio do arco é unitário (R = 1), o compri-


mento do arco é igual à amplitude do ângulo em radianos:

2πrad 90° π
s = θ( em rad) × 1 cm = 90° × cm = × 2πrad cm = cm,
360° 360° 2 Figura 2.1: Arco de cir-
cunferência de raio 1 cm
uma vez que rad × cm = cm. Este arco mede, aproximadamente 1,6
cm de comprimento (s ' 1.6 cm) e realmente se comparar visualmente s com R, na figura ??,
facilmente observará que s > R.

Para distâncias arbitrárias, R, tem-se a seguinte relação:

arco = ângulo (em radianos) × raio ⇔ s = R × θ (2.1)

Esta relação 2.1 contitui a equação de definição de ângulo em radianos. Como consequência
desta relação entre arco circular e ângulo em radianos, tem-se que o ângulo, em radianos, é uma
quantidade adimensional, ou de dimensão igual a um. Repare que tanto o arco como o raio são
quantidades com a mesma dimensão:

[s] comprimento
[θ, em rad] = ⇔ dimensão de ângulo em radianos = = 1. (2.2)
[R] comprimento

Embora o ângulo, em radianos, seja uma quantidade adimensional, este tem uma unidade associ-
ada, o radiano como já referido. Outra unidade também frequentemente utilizada para a medida
da amplitude do ângulo é o grau, com a seguinte relação entre ambas as unidades:

2π rad = 360°. (2.3)


Com esta relação entre o radiano e o grau, é possı́vel construir dois fatores de conversão, isto é,
duas frações iguais a um porque o númerador é igual ao denominador. Os fatores de conversão
embora sendo iguais a um, o elemento neutro da divisão, são úteis nas conversões entre diferentes
unidades. As frações 2π rad 360°
360° e 2π rad são fatores de conversão.

27
factor de conversão de graus para rad
z }| {
2π rad
θ(rad) = θ(°) × (2.4)
360°
Exercı́cio 2.1.2 Determine a abertura do cone de emissão de luz do candeeiro LED da figura, em radi-
anos.

Resolução A largura do cone de emissão, como


o seu próprio nome indica, quantifica a região
iluminada pela lâmpada num plano que con-
tenha a própria lâmpada. Para calcular θ em
radianos vamos multiplicar pelo coeficiente de
conversão de graus para radianos:

πrad 80 4 Figura 2.2: Abertura cone de emissão de luz


θ = 80° = 80° × = × π rad = π rad
180° 180 9

2.2 Razões trigonométricas de ângulos agudos


2.2.1 Generalidades sobre triângulos
A soma dos ângulos internos de um qualquer triângulo (α1 , α2 , α3 ) tem 180° de amplitude:

α1 + α2 + α3 = 180°

Qualquer um dos lados de um triângulo (a ou b ou c) é menor que a soma dos outros dois lados,
por exemplo:
a ≤ b+c
e maior que a diferença dos outros dois lados, isto é:

a ≥ b − c.

Figura 2.3: Papel milimétrico

Exercı́cio 2.2.1 No papel quadriculado da figura 5 desenhe dois ou três triângulos diferentes. Meça a
amplitude de todos os ângulos internos e o comprimento de todos os lados e aponte no local respetivo.
Some todos os ângulos de cada um dos triângulos e verifique se a sua soma tem 180° de amplitude. Some
e subtraia dois quaisquer lados de cada um dos triângulos e compare com o outro lado não incluido na
soma.

28
2.2.2 Triângulo retângulo, notações e teorema de Pitágoras
A hipotenusa é o maior lado do triângulo retângulo, ou o lado oposto ao ângulo de 90°. A hipote-
nusa juntamente com o lado adjacente a α definem o ângulo α. Como exemplo, h é a hipotenusa
do triângulo retângulo da figura 2.4.

O lado adjacente ao ângulo α é um dos lados que define α, juntamente com a hipotenusa. Como
exemplo, a é o lado adjacente do ângulo α do triângulo retângulo da figura 2.4.

O lado oposto ao ângulo α é o único lado


que não define α. Também se pode afir-
mar que o lado oposto ao ângulo α é o
lado que se encontra diretamente à ”frente”de
α. Como exemplo, b é o lado oposto do
ângulo α do triângulo retângulo da figura Figura 2.4: Triângulo retângulo
2.4.

Se, por outro lado, quisermos aplicar as definições de lados adjacente e oposto ao ângulo com-
plementar de α, temos que a é o lado oposto do ângulo 90° − α e b é o lado adjacente do ângulo
90° − α do triângulo retângulo da figura 2.4.

Os comprimentos dos lados do triângulo retângulo estão relacionados entre si pelo Teorema de
Pitágoras. Pode-se enunciar o teorema de Pitágoras dizendo que o quadrado do comprimento da
hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos outros dois lados do triângulo retângulo. No caso
do triângulo retângulo da figura 2.4: h2 = a2 + b2 .

2.2.3 Definições das razões trigonométricas de ângulos agudos


O seno de α é uma quantidade adimensional e é definida pela razão entre o lado oposto ao ângulo
α e a hipotenusa:
lado oposto a α
sin(α) = .
hipotenusa
No caso da figura 2.4, e aplicando a definição do seno de α tem-se que

b a h
sin(α) = sin(90° − α) = sin(90°) = = 1.
h h h
O cosseno de α é uma quantidade adimensional e é definida pela razão entre o lado adjacente ao
ângulo α e a hipotenusa:
lado adjacente a α
cos(α) = .
hipotenusa
No caso da figura 2.4, e aplicando a definição do cosseno de α tem-se que

a b 0
cos(α) = cos(90° − α) = cos(90°) = = 0.
h h h
A tangente de α é uma quantidade adimensional e é definida pela razão entre o lado oposto ao
ângulo α e o lado adjacente ao ângulo α:

lado oposto a α
tan(α) = .
lado adjacente a α

29
No caso da figura 2.4, e aplicando a definição de tangente de α tem-se que

b a h
tan(α) = tan(90° − α) = tan(90°) = = .

8
a b 0
A cotangente de α é uma quantidade adimensional e é definida pela razão entre o lado adjacente
ao ângulo α e o lado oposto ao ângulo α:

lado adjacente a α
cot(α) = .
lado oposto a α

No caso da figura 2.4, e aplicando a definição de cotangente de α tem-se que

a b 0
cot(α) = cot(90° − α) = cot(90°) = = 0.
b a h
As razões inversas das razões seno e cosseno de α, respetivamente a cosecante e secante de α, são
também quantidades adimensionais e são definidas, respetivamente pela razão entre a hipotenusa
e o lado oposto ao ângulo α e pela razão entre a hipotenusa e o lado adjacente ao ângulo α:

hipotenusa hipotenusa
csc(α) = e sec(α) = .
lado oposto a α lado adjacente a α

No caso da figura 2.4, e aplicando as definições de cosecante e secante de α tem-se que

h h
csc(α) = sec(α) = .
b a
−−→
O ângulo agudo α, da figura 2.5, é o ângulo que o segmento de reta orientado OP faz com a parte
positiva do eixo X, do sistema ortonormado (s.o.n.). Aplicando as definições das razões seno,
cosseno e tangente e respetivas razões inversas, obtemos as seguintes relações:

y x y
sin(α) = r cos(α) = r tan(α) = x

r r x
csc(α) = y sec(α) = x cot(α) = y

Figura 2.5: Ângulo agudo num s.o.n.


Exercı́cio 2.2.2 Determine o crescimento da razão trigonométrica principal seno para o caso em que o
ponto P pertence ao primeiro quadrante (figura 2.5).

Sugestão: marque três vetores, de origem em O, extremidade P ,


e comprimento r = 10 cm, fazendo os ângulos de 30°, 45° e 60°
com a parte positiva do eixo X. Meça os valores da ordenada, y,
da extremidade dos três vetores representados. Divida a ordenada
pelo comprimento para determinar o seno de cada‘ângulo mar-
cado. Compare as grandezas dos senos e estabeleça uma relação
de ordem entre os três senos. Pode generalizar essa relação de
ordem para o seno de um ângulo pertencente ao primeiro qua-
drante? Justifique.
Figura 2.6: Monotonia do
seno, 1º Q

30
2.2.4 Generalização das definições das razões trigo-
nométricas para ângulos não ângulos agudos
Qualquer que seja a amplitude do ângulo α, a distância, r, do ponto P à origem do sistema orto-
normado, O, é sempre um valor positivo:
r > 0.
Para ângulos de amplitude no intervalo ]90°, 180°[, o sinal da abscissa x passa a ser negativa pois
é medida a partir do eixo Y, perpendiculamente a esse eixo, até ao ponto P, no sentido contrário
ao arbitrado como positivo. Em conclusão, o sinal da abscissa, x, de um ponto à esquerda do eixo
Y é negativo. Já o sinal de y permanece posivivo uma vez que o ponto permanece acima do eixo
X. Assim, o sinal do seno é:
>0
∈]90°,180°[
z}|{
z}|{ y
sin( α )=
r
|{z}
>0

Figura 2.7: Razões trigonométricas para ângulos não agudos

Exercı́cio 2.2.3 Determine o sinal e o crescimento da razão trigonométrica principal cosseno para o
caso em que o ponto P pertence ao primeiro, segundo, terceiro e quarto quadrante (figura 2.7).

2.3 Valores das razões trigonométricas em ângulos particulares


Repare no esquadro 30° − 60° da figura. O ângulo mais
pequeno do esquadro tem amplitude igual a 30°, o se-
gundo maior ângulo tem de amplitude 60° e o maior de
todos os ângulos é o ângulo de 90°. O lado de menor
comprimento deste esquadro é o lado oposto ao menor
ângulo, o ângulo de 30°. O lado de comprimento in-
termédio é oposto ao ângulo intermédio de 60°. A hi- Figura 2.8: Esquadro 30◦ -60◦
potenusa, o maior de todos os lados do esquadro, é o
lado oposto ao maior ângulo, o ângulo de 90°. Curiosamente, o seno do ângulo de 30° (ou π6 rad)
assume um valor especialmente simples:
π 1
sin(30°) = sin( rad) = .
6 2

31
Mas o seno de 30° é, por definição, a razão entre o lado oposto ao ângulo de 30° (o lado menor do
esquadro) e a hipotenusa, isto é:

lado oposto ao ângulo 30° lado menor do esquadro


sin(30°) = = .
hipotenusa hipotenusa

Igualando estes dois resultados obtém-se uma relacão entre o menor lado e a hipotenusa:

1 lado menor do esquadro 1


sin(30°) = sin(30°) ⇔ = ⇔ lado menor = × hipotenusa.
2 hipotenusa 2

Conclui-se assim que num triângulo retângulo que contenha o ângulo de 30°, o menor lado é
metade da hipotenusa. Para verificar se isso acontece , meça a hipotenusa e o lado menor do seu
esquadro 30° − 60° e determine a razão entre ambos. Se essa razão for dois, isso significa que a
hipotenusa é o dobro do lado menor e que a relação se confirma.
O esquadro 45° − 45° é outro tipo de esquadro
que se vende no mercado. Dois dos ângulos
do esquadro são iguais e têm amplitude igual
a 45°, o restante ângulo é o ângulo de 90°. Os
lados de menor comprimento deste esquadro
são os lados opostos aos ângulos de 45°. A hi-
potenusa, o maior de todos os lados do esqua-
dro, é o lado oposto ao maior ângulo, o ângulo
de 90°. Curiosamente, a tangente do ângulo de Figura 2.9: Esquadro 45◦ -45◦
π
45° (ou 4 rad) assume um valor especialmente
simples: tan(45°) = tan(π/4rad) = 1. Mas a tangente de 45° é, por definição, a razão entre o lado
oposto ao ângulo de 45° (um dos lados menores do esquadro) e o lado adjacente ao ângulo de 45°
(o outro lado menor do esquadro), isto é:

lado oposto ao ângulo 45° um dos lados menores do esquadro


tan(45°) = = .
lado adjacente ao ângulo 45° o outro lado menor do esquadro

Igualando estes dois resultados obtém-se uma relacão entre os menores lados do esquadro:

um lado menor do esquadro


tan(45°) = 1 ⇔ = 1 ⇔ um lado menor = 1 × outro lado menor.
outro lado menor do esquadro

Conclui-se assim que num triângulo retângulo que contenha o ângulo de 45°, os dois lados me-
nores são iguais. Para verificar se isso acontece , meça os dois lados menores do seu esquadro
45° − 45° e verifique se a razão é um. Se essa razão for um, isso significa que os dois lados são
iguais e que a relação se confirma.

Exercı́cio 2.3.1 Usando as definições das razões trigonométricas principais e o teorema de Pitágoras
preencha as lacunas na tabela seguinte.

32
O A O
ângulo θ sin(θ) = H cos(θ) = H tan(θ) = A

0° 0
1
30° 2

45° 1
1
60° 2

90° 0

2.4 O cı́rculo trigonométrico


2.4.1 Construção do cı́rculo trigonométrico
Numa folha de papel milimétrico desenhe uma circunferência de raio, R, igual a 10 cm. Marque
o centro da circunferência com a letra O e a partir deste ponto represente um sistema ortonor-
mado de dois eixos X e Y dirigidos para a direia e para cima, respetivamente. Adopte para a sua
unidade principal o comprimento de dez centı́metros, isto é: 1 U = 10 cm. Deste modo o raio da
circunferência desenhada passa a ter comprimento igual a uma unidade: R = 10 cm = 1 U e para
converter um comprimento medido em centı́metros para a nova unidade adoptada basta dividir
por dez. Assim
1U
7.7 cm = 7.7 cm × = 0.77 U.
10 cm
A partir de O, e usando um transferidor, mar-
que um ângulo θ de +40° com a direção po-
sitiva do eixo X. Trace agora um vetor, com a
direção traçada, de origem em O, e extremi-
dade num ponto, P , da circunferência, o ve-
−−→
tor OP . O vetor que traçou tem comprimento
unitário,
−−→ igual ao raio da circunferência, isto é:
OP = R = 1 U.
Para medir o seno e cosseno do ângulo que
marcou concentre-se no triângulo retângulo de
hipotenusa R, com comprimento igual a um,
lado horizontal x, de comprimento igual à abs- Figura 2.10: Cı́rculo trigonométrico
cissa do ponto P e lado vertical y igual à or-
denada do ponto P. Repare que exceptuando a hipotenusa (sempre positiva), a absissa de P e a
ordenada de P podem assumir valores positivos ou negativos, dependendo da posição de P. Como
o P, no esquema que efetuou, está no primeiro quadrante, a abscissa e ordenada de P são ambas
positivas.
Para medir o seno do ângulo de +40° marcado anteriormente, repare que o lado oposto deste
ângulo é igual à ordenada do ponto P, na circunferência, e a hipotenusa é igual a um, o compri-

33
mento do vetor que desenhou. Assim e usando a definição de seno obtém-se:

lado oposto ao ângulo 40° ordenada do ponto P y


sin(40°) = = −−→ = = y.
hipotenusa OP R

Será então de esperar que a altura do ponto P (ordenada y) na unidade


adoptada anteriormente (1 U = 10 cm) nos dê diretamente o valor apro-
ximado do seno do ângulo. Meça então essa ordenada em centı́metros,
divida por 10 cm e ficará com a ordenada na unidade adoptada. Obteve
y ' 6.4 cm = 0.64 U? Se sim esse é o valor que deverá obter da medição
(y = 64 quadrı́culas de um milı́metro) ou

y = 64 mm = 6.4 cm = 0.64 U.

Compare esse valor com o que obtém para o seno de +40° usando a sua
Figura 2.11: Marcação calculadora: sin(40°) ' 0, 643. No caso de se querer medir a tangente
ângulo 40° do mesmo ângulo de +40°,

lado oposto ao ângulo 40°


tan(+40°) = ,
lado adjacente ao ângulo 40°

deve-se escolher um triângulo com um ângulo interno de +40° e cujo lado horizontal seja igual ao
raio da circunferência. Se assim for, a medida da tangente resume-se à medida do lado oposto, no
sistema de unidades adoptado, uma vez que o lado adjacente ao ângulo de +40° é igual à unidade.

Em conclusão, a representação do circulo trigonome-


trico numa folha de papel milimético, juntamente com
um transferidor, constituem um método aproximado
de medição de qualquer razão trigonométrica com uma
presisão de duas casas decimais, no máximo. Com uma
escolha adequada dos lados do triângulo retângulo, que
tem de incluir forçosamente um ângulo interno com a
amplitude angular do argumento da razão em estudo, a
medição da razão trigonométrica em questão resume-se
à medida de um lado desse triângulo. Figura 2.12: Razões trigonométricas no
s.o.n.
Exercı́cio 2.4.1 Use o cı́rculo trigonométrico para explicar o sinal e a variação da função seno de um
ângulo no primeiro quadrante.

2.4.2 Relação fundamental da trigonometria e relações trigonométricas entre


razões de ângulos de diferentes quadradntes
A aplicação do teorema de Pitágoras no caso particular do triângulo retângulo da figura 2.12 de
lado horizontal x, lado vertical y e hipotenusa R = 1 toma a forma da relação fundamental da
trigonometria:
R2 = x2 + y 2 ⇔ 1 = cos2 (θ) + sin2 (θ),
uma vez que x = cos(θ) e y = sin(θ).
Qualquer que seja o ângulo θ, positivo ou negativo, do primeiro, segundo, terceiro ou quarto
quadrante, a soma do quadrado do seno com o quadrado do cosseno é sempre igual a um se o

34
argumento do seno e cosseno for o mesmo ângulo θ. Experimente calcular, usando a sua máquina,
a seguinte expressão: sin2 (11, 93°) + cos2 (11, 93°). Deu exatamente 1? Se sim então a formula
trigonométrica é válida para esse ângulo. Experimente para outros ângulos. E o resultado da
expressão: sin2 (11, 93°)+cos2 (10°)? Também dá um, dá inferior a um ou superior a um? Consegue
justificar o resultado que obteve?
Exercı́cio 2.4.2 Com base no cı́rculo trigonométrico verifique se a seguinte relação é verdadeira :
cos(90° + α) = − sin(α),
para um ângulo α pertencente ao primeiro quadrante
Resolução Com base no circulo trigonométrico da figura 2.13
é possı́vel verificar graficamente que o seno do ângulo α é
positivo e mede-se na vertical, para cima, e o cosseno do
ângulo 90° + α é negativo e mede-se na horizontal, para a es-
querda. No entanto, ambos os comprimentos parecem ter o
mesmo valor absoluto: |cos(90° + α)| = |sin(α)|. Atendendo Figura 2.13: Razões seno e cos-
a que estes têm sinais contrários conclui-se que a relação seno
cos(90° + α) = − sin(α) é verdadeira.

2.4.3 Expansões em série do seno e cosseno de um ângulo em radianos


As expansões em série de Taylor do seno, tangente e cosseno, de um ângulo em radianos, são
muito usadas em quase todos as áreas das ciências sociais e exatas. Assim tem-se que:
desprezáveis para α≤0.2 rad
z }| {
1 1
sin(α) ' α − α 3 + α 5 + · · · , (2.5)
3! 5!
desprezáveis para α≤0.2 rad
z }| {
1 2
tan(α) ' α + α 3 + α 5 + · · · (2.6)
3 15
e
desprezáveis para α≤0.2 rad
z }| {
1 1
cos(α) ' α − α 2 + α 4 + · · · (2.7)
2! 4!

Exercı́cio 2.4.3 Qual o ângulo, α, que uma estrada inclinada com um declive (ou tan(α)) igual a 10%
faz com a direção horizontal?

10
Resolução Repare que tan(α) = 10% ⇔ tan(α) = 100 ⇔ tan(α) =
0, 1. Assim:

180°
tan(α) = 0, 1 ≤ 0, 2 ⇔ α ' tan(α) = 0.1 rad = 0.1 rad × ' 6° Figura 2.14: Sinal de estrada
πrad
inclinada
O ângulo que a estrada faz com a direção horizontal é de apro-
ximadamente 6° e a representação gráfica da inclinação não corresponde, neste caso, ao seu valor
180°
real. A partir do ângulo de 0.2 rad = 0.2 rad × πrad ' 11°, correspondente a um declive de estrada
de 20 %, a tangente do ângulo deixa de ser aproximada ao ângulo respetivo em radianos.

35
2.5 Resolução de um triângulo arbitrário
Para um triângulo não retângulo, deixamos de ter um lado denominado hipotenusa e, sem esta,
os lados adjacente e oposto deixam também de existir.
Para determinar um lado de um qualquer triângulo não
retângulo tem de se conhecer, no mı́nimo, um outro lado
e dois ângulos internos ou, em alternativa, os outros dois
lados e o ângulo interno oposto ao lado que se pretende Figura 2.15: Triângulo de lados a, b e c
determinar.
No primeiro caso usa-se a lei dos senos:

a b c
= = (2.8)
sin(α) sin(β) sin(γ)
e no segundo caso, a lei dos cossenos:

a2 = b2 + c2 − 2 × b × c × cos(α). (2.9)
Percebemos o porquê das denominações pela simples observação das respetivas leis. Na primeira
lei os denominadores de todos os membros contêm a razão seno. Na segunda lei, o último termo
do segundo membro contém um termo contendo a razão cosseno. A lei dos cossenos pode-se
escrever para qualquer um dos lados do triângulo mantendo a simetria de forma.

2.5.1 Lei dos senos


O triângulo não retângulo de lados a, b e c, pode ser decomposto em dois triângulos retângulos
de hipotenusas a e c e um lado comum, a tracejado, o lado oposto aos ângulos internos α e γ.

Das duas igualdades que se podem


escrever para este lado tracejado,
pode obter-se uma relação entre os
lados a e c e os respetivos ângulos
opostos internos α e γ do triângulo
Figura 2.16: Triângulo decomposto em dois
não retângulo. Aplicando a definição
de sin(γ) e de sin(α), obtém-se: lado tracejado = a×sin(γ) = c ×sin(α). Pode-se reescrever a última
igualdade na forma:
a c
a × sin(γ) = c × sin(α) ⇔ = (2.10)
sin(α) sin(γ)

Partindo das duas igualdades que se podem escrever


para o lado comum (a tracejado castanho) aos triângulos
retângulos de hipotenusas a e b, pode novamente obter-
se uma nova relação entre os lados a e b e os respe-
tivos ângulos opostos internos α e β do triângulo não
retângulo.
Aplicando a definição de sin(β) e de sin(α), obtém-se
para o lado tracejado castanho: a × sin(180° − β) = b × Figura 2.17: Triângulo retângulo de
sin(α). Pode-se reescrever a última igualdade na forma: ângulo interno 180° − β

36
a b
a × sin(β) = b × sin(α) ⇔ = (2.11)
sin(α) sin(β)
Juntando as equações (2.10) e (2.11) obtém-se a expressão geral da lei dos senos (2.8)

2.5.2 Lei dos cossenos


Voltando novamente ao triângulo retângulo preenchido a amarelo, da figura 2.17, pode-se aplicar
o teorema de Pitágoras para escrever o lado a em função dos lados a tracejado:

a2 = (b × sin(α))2 + ((b × cos(α) − c)2 ⇔ a2 = b2 × sin2 (α) + b2 × cos2 (α) + c2 − 2 × b × c × cos(α)

E atendendo a relação fundamental da trigonometria a expressão para o lado a simplifica-se e


reduz-se à lei dos cossenos, dada pela equação (2.9).

2.6 Números Complexos


Pelo Teorema fundamental da algebra, se a0 , a1 , . . . , an forem números complexos com an , 0,
então o polinómio:

p(z) = an zn + a( n − 1) z( n − 1) + · · · + a1 z + a0
tem n raı́zes complexas z1 , z2 , . . . , zn em C. Por exemplo o polinómio de grau dois x2 = −1 tem
duas raı́zes complexas: x1 = +i e x2 = −i.
A raı́z quadrada de um número negativo √ é um número complexo (ou imaginário) puro. Por
exemplo, a raı́z quadrada de menos um é: −1 = ±i.
O número complexo, z = x + y i, é
um número no espaço complexo C.
O espaço complexo pode ser identifi-
cado por IR2 . A parte real do com-
plexo é: x = <(z) e a parte ima-
ginária é y = =(z). Os números reais
são números complexos cuja parte
imaginária é zero: z = x + 0i ∈ IR. Figura 2.18: Representação geométrica de z

2.6.1 Introdução história dos números complexos. Simplificação de raı́zes de


números negativos
Os matemáticos construı́ram os números negativos, racionais, reais e complexos por sucessivas
generalizações partindo dos inteiros naturais, mas deixaram a Deus a construção dos números da
natureza, os inteiros naturais.
Os números naturais surgiram da necessidade de contar. Antes do aparecimento dos números
como contava um pastor as suas ovelhas? Associava a cada ovelha uma pedra no seu bolso. Tal
processo corresponde ao processo de estabelecer uma bijecção do conjunto das suas ovelhas sobre
o conjunto das pedras. Deste modo, poderia verificar se se extraviava alguma, comparando o
conjunto das pedras com o conjunto das ovelhas. No caso de possuir um grande número de

37
ovelhas, o pastor poderia associar a cada grupo de dez ovelhas uma pedra maior. O número
natural é o número mais simples, é um inteiro estritamente positivo e é elemento do conjunto dos
números naturais (N). A adição e a multiplicação de números naturais é, necessariamente, um
número natural.
Os números inteiros relativos apareceram nas operações de contagem e de subtração. O conjunto
dos números inteiros, Z, constitui uma extensão natural de N, é um conjunto que contém o
conjunto dos números naturais. O conjunto Z permitiu definir a operação de subtracção (muitas
vezes impossı́vel em N). A adição, subtracção e multiplicação de inteiros é, necessariamente, um
número inteiro.
Os números racionais surgiram da necessidade de medir e para possibilitar a divisão de números
inteiros, por exemplo, podemos dividir 3 bolinhos por 6 meninos. Os números racionais têm a
forma: a/b, a e b inteiros, e b é não nulo. Todos os números decimais (com um número finito
de algarismos decimais depois da vı́rgula) são números racionais mas o recı́proco pode não ser
verdadeiro. Os números racionais contêm os números inteiros, como caso particular em que o de-
nominador da fracção é um. O conjunto dos números racionais Q contém o conjunto dos números
inteiros relativos e constitui uma extensão natural de Z. A soma, subtracção, multiplicação e di-
visão (exceptuando por zero) de dois racionais é sempre um número racional.
Os pitagóricos procuravam explicar todas as coisas por meio dos números. Os números irra-
cionais surgiram da necessidade de expressar o comprimento da hipotenusa de um triângulo
rectângulo, de catetos iguais, por meio de um número que perceberam não ser racional. Demonstra-
se usando o método de redução ao absurdo, que a hipotenusa, a, não pode ser um racional e como
tal não podia ser nem natural, nem inteiro nem fraccionário pois os racionais incluem estas clas-
ses. Se a não é um racional então pertence a uma nova classe de números, os irracionais. O
conjunto dos números irracionais (I) é um subconjunto do conjunto dos números reais (R). I é o
complemento de Q, relativo a R.
No conjunto dos números reais, a soma, subtracção, multiplicação e divisão (exceptuando por
zero) de dois reais é sempre um número real. Embora o quadrado de um número real seja ainda
um número real, o mesmo não acontece com a raı́z quadrada de um número real, por exemplo, a
raı́z quadrada de menos um é um número não real.
Os números complexos contêm os reais como caso particular e são números no espaço a duas
dimensões. No conjunto dos números complexos podem-se definir as operações soma, subtracção,
multiplicação, divisão (excepto por zero) e potenciação por reais.
A raı́z quadrada de um real negativo pode sempre ser decomposta no produto do imaginário, i,
pela raı́z quadrada de um real positivo:
p p √ p √ p p
− |x| = −1 × |x| = −1 × |x| = i 2 × |x| = ±i × |x|. (2.12)

2.6.2 Forma algébrica e forma trigonométrica de um número complexo


Partes real e complexa do número complexo
Como já referido, o número com-
plexo, z ∈ C, pode ser escrito na
forma algébrica. Esta forma inclui a
indicação explicita da parte real do
complexo (x = <(z)) e da parte ima-
ginária (y = =(z)):
z= x + y i. (2.13)
|{z} |{z}
<(z) Figura 2.19: Representações de Z
=(z)

38
problema particular interpretação antigamente atualmente

x + 2 = 1 recebe duas, fica com Não existe x = −1 ∈ Z, -1 repre-


uma, quantas tinha? anti-maça senta a dı́vida de uma
(anti-matéria), maça
x < IN

2×x = 1 o dobro da quanti- Não existe me- x = 12 ∈ Q, 1/2 repre-


dade é um, qual a nos que um, x < senta metade de uma
quantidade? Z maça
√ √
x2 = 2 comprimento da hi- Não existe esse x = 2 ∈ I, 2
potenusa? comprimento, é a hipotenusa do
x<Q triângulo isósceles de
lado unitário


x2 = −1 lado de um quadrado Não exis- x = ± −1 = ±i ∈ C, i é
de área −1? tem areas de o imaginário unitário
quadrados
negativas, x < R

Tabela 2.1: Extensão do conceito de número, do número natural ao complexo

Como exemplo particular podemos decompor o imaginário puro na sua forma algébrica: i =
0 + 1 i.
A forma trigonométrica do número complexo é outra maneira de o escrever, pondo em evidência
o seu módulo e o ângulo que o complexo faz com o eixo real X:

z = |z| × ei×arg (z) = |z| × cos(arg (z)) + i |z| × sin(arg (z)), (2.14)
em que |z| é o módulo do número complexo e arg (z) é o argumento.

Módulo do número complexo


O módulo do número complexo, |z|, é igual ao comprimento do vetor de origem coincidente com
a origem do plano complexo e extremidade no ponto P de coordenadas P (x; y), em que x e y são,
respetivamente, as partes real e imaginária do complexo z.
Para obter o módulo de z aplicamos o teorema
de Pitágoras ao triângulo retângulo de lados x
e y e hipotenusa |z|:
q
|z| = x + y i = x2 + y 2 (2.15)
Da observação da figura 2.20, facilmente se ve- Figura 2.20: Módulo do complexo Z
rifica que o módulo de um complexo é zero se
e só se o complexo for zero: se z = 0 → |z| = 0. Tanto a parte real como a parte imaginária do
complexo z estão compreendidos entre − |z| e + |z|: − |z| ≤ <(z), =(z) ≤ + |z|.

39
Argumento do número complexo

O ângulo que o vetor OP~ faz com o eixo da parte real é designado de argumento do número
complexo e calcula-se a partir da definição de tangente:
y
arg (z) = arctan (2.16)
x

Complexo conjugado
O complexo conjugado, z̄, de um qualquer número complexo, z = x + y i, é o complexo com a
mesma parte real e parte imaginária simétrica:

z̄ = x + y i = x − y i. (2.17)
A operação de conjugação de um complexo
corresponde a uma reflexão relativamente ao
eixo X, como ilustra a figura. Devido a este
facto, o complexo conjugado de um número
complexo z tem o mesmo módulo e o seu ar-
gumento é simétrico: z̄ = |z| e− arg (z) i . Se o
número complexo tiver parte imaginária igual
a zero, isto é, se o complexo for um número
real (no eixo do X), o seu complexo conjugado Figura 2.21: Número complexo e seu conjugado
é o próprio real. A soma de um número complexo, z, com o seu conjugado, z̄, é igual ao dobro
da parte real: z + z̄ = 2 x. Repare que a soma geométrica do complexo z com o seu conjugado, z̄,
é a diagonal do paralelogramo, 2 x, de lados z e z̄. O produto de um número complexo, z, com o
seu conjugado, z̄, é igual ao real de módulo igual ao produto dos módulos e argumento nulo pois:
z × z̄ = |z| × |z| e(arg (z)−arg (z)) i = |z|2 e0 i = |z|2 .

A tabela seguinte exemplifica a operação de conjugação para cinco números complexos particu-
lares:
complexo conjugado

1√+ 2i 1√
− 2i
3 3
−5 i 5i
i −i
1 − 10 i 1 + 10 i

As propriedades do complexo conjugado são:

40
z̄ = z (2.18)
z + w = z̄ + w̄ (2.19)
|z| = |z̄| (2.20)
zz̄ = |z|2 (2.21)
z + z̄ = 2 × <z (2.22)
1 z̄ z̄
= = 2 (2.23)
z z z̄ |z|
(2.24)

2.6.3 Operações com números complexos. Sua perspetiva geométrica


Igualdade de números complexos
Dois números complexos, z1 = a1 +b1 i e z2 = a2 +b2 i, são iguais se as respetivas partes reais forem
iguais e se as respetivas partes imaginárias forem também iguais, isto é:

Se z1 = z2 = então a1 + b1 i = a2 + b2 i ⇔ a1 = a2 ∧ b1 = b2 (2.25)
Por exemplo, os complexos z1 = 1 + 2 i e z2 = 1 − 2 i não são iguais porque as partes imaginárias de
z1 e z2 não são iguais mas sim simétricas: b1 = −b2 .

Adição de números complexos


A soma de dois números complexos, escritos na forma algébrica, obtém-se somando as respeti-
vas partes reais, para se obter a parte real do complexo soma, e somando as respetivas partes
imaginárias, para se obter a parte imaginária do complexo soma. Assim:

z = z1 + z2 = (x1 + y1 i) + (x2 + y2 i) = (x1 + x2 ) + (y1 + y2 ) i. (2.26)


| {z } | {z } | {z } | {z }
z1 z2 <(z1 +z2 ) =(z1 +z2 )

Figura 2.22: Soma de complexos é semelhante à adição vetores

41
Produto de números complexos
O produto de dois números complexos, escritos na forma algébrica, obtém-se aplicando a pro-
priedade distributita da multiplicação em relação à adição e atendendo a que i × i = −1. Assim
tem-se que:

z = z1 × z2 = (x1 + y1 i) × (x2 + y2 i) = x1 x2 + x1 y2 i + y1 x2 i + y1 y2 i 2 = (x1 x2 − y1 y2 ) + i (x1 y2 + x2 y1 ) .


| {z } | {z }
<(z1 ×z2 ) =(z1 ×z2 )
(2.27)

Figura 2.23: Produto de complexos, multiplicando argumentos e somando argumentos


Como aplicação, podemos aplicar esta regra ao cálculo do quadrado de i. Assim:

i × i = (0 + 1 i) × (0 + 1 i) = 0 × 0 + 0 × 1 i + 1 i × 0 + 1 i × 1 i = 12 i 2 = −1. (2.28)
No caso em que os complexos estão escritos na forma trigonometrica, o produto é muito mais
simples de efetuar, atendendo ao uso da propriedade da multiplicação de potências com a mesma
base. Assim:

z = z1 × z2 = (|z1 | ei θ1 ) × (|z2 | ei θ2 ) = |z1 | |z2 | ei (θ1 +θ2 ) . (2.29)


| {z } | {z }
|z| arg z

O complexo que se obtém do produto de dois complexos, tem módulo igual ao produto dos
módulos dos seus fatores e argumento igual à soma dos argumentos dos seus fatores.
Como caso particular considere a multiplicação
de um complexo qualquer pelo imaginário
puro i. O complexo i tem módulo igual a um,
|i| = 1, e argumento igual a 90° = π2 , isto é:
π
i = 1 e 2 i . Logo, multiplicar um complexo z por
i corresponde a multiplicar o módulo do com-
plexo por um e a somar 90° ao argumento do
complexo:

π π
z = z1 × i = (|z1 | ei θ1 ) × (1 e 2 i ) = |z1 | ei (θ1 + 2 ) .
(2.30) Figura 2.24: Potências de i
Assim, o complexo produto, z × i, tem módulo
π
igual ao de z e faz, com este, um ângulo de 90°, no sentido direto: z × i = |z| eθ+ 2 i

42
Obtenha geometricamente i 0 × i = 1 × i, i 2 , i 3 e i 4 .
O produto de um complexo, z = x + y i, pelo seu conjugado, z∗ = x − y i, é igual ao quadrado do
módulo do complexo:

z × z∗ = (x + y i) × (x − y i) = x2 + y 2 . (2.31)
As propriedades da adição e multiplicação de reais extendem-se agora para a adição e multiplicação
de complexos (comutatividade, associatividade, propriedade distributiva da multiplicação relati-
vamente à adição).

Divisão de números complexos


Supondo z1 = x1 + y1 i e z2 = x2 + y2 i, a divisão de z1 por z2 , com z2 , 0 é

z1 x1 + y1 i (x1 + y1 i)(x2 − y2 i) (x1 x2 − y1 y2 ) + (x1 y2 + y1 x2 ) i x1 x2 − y1 y2 x1 y2 + y1 x2


= = = = + i,
z2 x2 + y2 i (x2 + y2 i)(x2 − y2 i) x22 + y22 x22 + y22 x22 + y22
(2.32)
em que se fez uso da propriedade do produto de um complexo pelo seu conjugado (2.31)

43
2.7 EXERCÍCIOS DE TRIGONOMETRIA E DE NÚMEROS COM-
PLEXOS
1. Determine o comprimento do arco de circunferência s, de raio R = 1 cm, inscrito no ângulo
θ = 90°.

2π rad 360°
2. Explique porque as frações 360° e 2π rad são fatores de conversão.

3. Determine a abertura do cone de emissão de luz do candeeiro LED da figura, em radianos


usando dois processos: a regra 3-simples e o fator conversão.

π π π π
4. Converta os seguintes ângulos em graus: 0 rad, 6 rad, 4 rad, 3 rad, 2 rad.

5. No papel quadriculado da figura 5 desenhe dois ou três triângulos diferentes. Meça a am-
plitude de todos os ângulos internos e o comprimento de todos os lados e aponte no local
respetivo. Some todos os ângulos de cada um dos triângulos e verifique se a sua soma tem
180° de amplitude. Some e subtraia dois quaisquer lados de cada um dos triângulos e com-
pare com o outro lado não incluido na soma.

6. Avalie os ângulos agudos das figuras por comparação com os ângulos que já conhece (0°,
30°, 45°, 60° e 90°). Identifique o intervalo a que cada um dos ângulos pertence: ]0°, 30°[,
]30°, 45°[, ]45°, 60°[ and ]60°, 95°[.

44
7. Determine o crescimento da razão trigonométrica principal seno para o caso de ângudos
agudos (pertences ao primeiro quadrante).

8. Determine o sinal e o crescimento das razões trigonométricas principais: seno, cosseno,


tangente e suas inversas, para o caso de ângulos pertences ao primeiro, segundo, terceiro e
quarto quadrantes.

9. Demonstre geometricamente que sin(α) = sin(π − α), sin(α) = − cos( π2 + α), sendo α um
ângulo agudo. Que outras relações pode deduzir geometricamente? Suponha, por exemplo
que α = 10°, 20°, . . . e verifique usando máquina se as relações que provou geometricamente
se comprovam.

10. Obtenha as expressões para o seno, cosseno e tangente dos ângulos α, 90° − α, θ e γ utili-
zando as respetivas definições.

11. Relativamente à figura do triângulo rectângulo representada pode-se afirmar que o lado
adjacente ao ângulo α (lado a) é igual a:

(a) a = h2 + b2

45
h
(b) a = b
b
(c) a = h
sin(α)
(d) a = h
h
(e) a = cos(α)
(f) a = h × cos(α)
π π π
12. Determine o seno, o cosseno e a tangente dos ângulos de 6 rad, 4 rad e 3 rad usando apenas
o circulo trigonométrico.
9
13. Determine o cos(α) e a tan(α) do ângulo agudo α solução da equação: sin(α) = 10 . Usando
apenas o cı́rculo trigonométrico determine o intervalo que contém α de entre os possı́veis:
(a) ]0°, 30°[,
(b) ]30°, 45°[,
(c) ]45°, 60°[ ou
(d) ]60°, 95°[,
π π π
14. Determine o seno, o cosseno e a tangente dos ângulos de 10 rad, 100 rad e 350 rad usando a
máquina de calcular e compare os valores que obteve com os respetivos ângulos.
π
15. Determine a soma do quadrado do seno com o quadrado do cosseno dos ângulos de 10 rad,
π π
100 rad e 350 rad usando a máquina de calcular.

16. Determine o comprimento do vetor v~ da figura, resultado da soma dos vetores de módulos
4 e 2, fazendo, respetivamente, ângulos de 20° e 50° com o eixo orientado
da figura. Calcule
também todos os ângulos internos do triângulo de lados 2, 4 e v~ .

17. Qual o ângulo, α, que uma estrada inclinada com um declive (ou tan(α)) igual a 15% faz
com a direção horizontal?
18. Mostre que x1 = 1 + i e x2 = 2 − i são as duas raı́zes complexas do polinómio de grau dois
x2 − 3x + (3 + i) = 0.

46
19. Represente no plano de Argand os complexos e determine as relações entre estes complexos.

(a) z1 = 1 + 1i
(b) z2 = −1 + 1i
(c) z3 = −1 − 1i
(d) z4 = 1 − 1i

20. Dados os complexos z1 = 3 − 2 i e z2 = −4 + 1 i, efetue, no plano de Argand, as seguintes


operações e obtenha o respetivo resultado:

(a) z1 + z2
(b) z1 − z2
(c) z1 × z2
z1
(d) z2
(e) z1 + z1 e z2 − z2
(f) z1 × z1 e z1 × z2

21. Represente no plano de Argand e escreva na forma trigonométrica:

(a) z1 = 1 + 1i
(b) z2 = 5
(c) z3 = −4i
(d) z4 = −10 + 10i

22. Escreva os complexos z1 , z2 , z3 e z3 , representados no plano de Argand, nas formas algébrica


e trigonométrica.

23. Sejam z1 = 1 + 2i e z1 = a − 2i em que a designa um número real. Determine a de modo a que


z1 × z2 seja um imaginário puro.

24. Represente na forma algébrica:


π
(a) z1 = 2ei 6

47
(b) z2 = 2ei 0
π
(c) z3 = 2ei 2
(d) z1 = 2ei π
√ π
25. Sendo z = 2ei 3 , calcule:

(a) z
(b) −z
(c) z3
(d) z−1
(−z)2
(e)
z4

26. Dado z = −i + √ 2
3−i

(a) Represente z na forma trigonométrica.


(b) Prove que z6 é um número real.
π
27. Dado o complexo ω = 27 ei 2 , determine as raizes da equacao z3 + ω = 0 e represente-as no
plano de Argand.

28. Obtenha as expressões para o seno e cosseno da soma ou subtração de ângulos a partir
do produto de dois números complexos de diferentes argumentos escritos na forma trigo-
nométrica.

48
3. INTRODUÇÃO AO CÁLCULO VETORIAL
3.1 Introdução
O conceito de vetor está relacionado com o conceito de número com direção. A história do desen-
volvimento deste conceito data, muito provavelmente, da antiguidade, uma vez que o movimento
numa determinada direção e ao longo de uma determinada distância, com mapa e bússola, já o in-
corpora necessariamente. Os vetores são essenciais na movimentação espacial, na construção dos
jogos informáticos e, em termos gerais, em todas as ciências fı́sicas. Os vetores são usualmente de-
senhados usando setas e o comprimento da seta representa o módulo do vetor. Os vetores podem
ser usados para representar objetos fı́sicos ou fenómenos.

Figura 3.1: O ”número com direção”associado à movimentação no espaço

A velocidade do vento, por exemplo, é uma quantidade vetorial porque num qualquer determi-
nado local tem direção (vento de nordeste) e magnitude (50 km/h). Tal como a velocidade do
vento, a velocidade de qualquer corpo é representada por um vetor cuja direção representa a
direção do movimento e o comprimento representa a rapidez do movimento. O momento linear
de uma bola de bilhar é também um vetor porque é igual à massa vezes a velocidade. Assim o
momento da bola de bilhar aponta na mesma direção da sua velocidade e o comprimento do ve-
tor momento é igual ao produto da sua massa pela sua rapidez. O vetor momento dos objetos em
movimento é extremamente importante quando se trata de predizer o que vai acontecer no caso
dos choques.

Figura 3.2: Manga de vento

Quando uma bola de bowling é arremessada por um jogador, a direção do seu movimento na pista,
vai depender tanto do impulsionamento do jogador como, também, da direção do movimento do
jogador durante este impulsionamento. As duas direções que influenciam o movimento final
da bola somam-se usando a regra do paralelogramo (regra da soma de dois vetores). Quando
um barco é movimentado por dois rebocadores, o seu movimento resultante depende da soma
vetorial das forças exercidas pelos cabos de cada um dos rebocadores. Num dia com vento, a
direção do movimento de um avião depende não só da direção do vento como também da direção
do movimento do avião relativamente ao vento. A impedância num circuito de corrente alternada
depende da soma vetorial das impedâncias das resistências, dos condensadores e das indutâncias
do circuito.
A representação moderna do vetor no espaço a três dimensões, como um tripleto ordenado de
pontos, é geralmente atribuı́da ao fundador da geometria analı́tica, o filósofo René Descartes.

49
Figura 3.3: Arremesso de uma bola de Bowling

Vimos, no capı́tulo anterior, um outro tipo diferente de vetor, o número complexo. Este encontra-
se numa direção diferente dos escalares reais (os números complexos formam um espaço vetorial
sobre o conjunto dos reais).

3.2 Segmentos orientados


Um segmento orientado é determinado por um par ordenado de pontos, o primeiro (A) chamado
origem do segmento e o segundo (B) chamado extremidade: segmento orientado AB.

Figura 3.4: segmento orientado determinado pelo par ordenado de pontos A, B

O segmento orientado BA é oposto de AB. Um caso particular de um segmento orientado é o


segmento nulo, cuja extremidade coincide com a origem (A=B).

Figura 3.5: segmento orientado determinado pelo par ordenado de pontos B, A

Dois segmentos orientados não nulos têm a mesma direcção se as rectas suportes desses segmen-
tos são paralelas ou coincidentes. Na figura 3.6, os segmentos orientados AB, CD, HG e EF têm
a mesma direção. Só se podem comparar os sentidos de dois segmentos orientados se eles tive-
rem a mesma direcção. Na figura 3.6, os segmentos orientados AB e HG têm sentidos contrários.
Dois Segmentos orientados dizem-se opostos se tiverem sentidos contrários. Dois segmentos ori-
entados são segmentos equipolentes são equipolentes porque têm a mesma direção, o mesmo
sentido e o mesmo comprimento. Dois segmentos nulos são sempre equipolentes. A equipolência
dos segmentos AB e CD, por exemplo, é representada por AB ∼ CD.
Propriedades da Equipolência:

• AB ∼ AB (reflexiva).

• Se AB ∼ CD, CD ∼ AB (simétrica).

• Se AB ∼ CD e CD ∼ EF, AB ∼ EF (transitiva).

• Dado o segmento orientado AB e um ponto C, existe um único ponto D tal que AB ∼ CD.

50
Figura 3.6: Segmentos com a mesma direção (as retas r, s e t são paralelas)

A cada segmento orientado pode-se associar um número real, não negativo, que é o comprimento
do segmento usando por comparação uma unidade de comprimento. A medida do segmento
orientado é o seu comprimento ou seu módulo. O comprimento do segmento AB é indicado
por AB. Os segmentos nulos têm comprimento igual a zero. O comprimento do segmento PQ
representado na figura abaixo é de 5 unidades de comprimento:

P Q = 5 u.c..

Figura 3.7: Segmento orientado PQ de módulo 5 unidades de comprimento

3.3 Vetores
3.3.1 Tipos de vetores
O vector livre é determinado por um segmento orientado e é o conjunto de todos os segmentos
orientados equipolentes a esse segmento orientado. Assim, um mesmo vector é determinado por
uma infinidade de segmentos orientados, chamados representantes desse vector, e todos equipo-
lentes entre si. Assim, um segmento orientado e seus equipolentes determina um só vector. O
−−→
vector v~, determinado por AB e seus equipolentes, da figura 3.6, pode ser indicado por AB ou
−−−→ −−→
CD ou EF ou B − A ou D − C ou F − D ou etc, isto é:
−−→ −−−→ −−→
v~ = AB = B − A = CD = D − C = EF = F − E = · · · .

As caracterı́sticas do vector livre, v~, são as mesmas de qualquer um de seus representantes, isto é:

1. o módulo do vetor v~, indica-se por exemplo por: k~


v k = 50 km/h;

2. a direcção, indica-se por exemplo, pelo ângulo agudo que o vetor faz com a direção Norte-
Sul: ∠(~
v ; N S) = 30°;

3. o sentido, por exemplo, a velocidade do vento, v~, tem o sentido de sul para norte;

51
Exemplos de vetores livres são os vetores unitários que formam de base para a decomposição de
todos os restantes vetores. A variação da velocidade ou a variação de aceleração de um carro
ou outro objeto em movimento são também exemplos de vetores livres. O vetor velocidade do
esquiador, da figura ??, por exemplo, não é um vetor livre uma vez que o seu ponto de aplicação
é sempre representado no centro de massa do corpo cujo movimento estamos a estudar.

Figura 3.8: O ponto de aplicação do vetor velocidade do esquiador acompanha o seu movimento

Dois vectores livres são iguais se e só se:


• tiverem o mesmo módulo,
• a mesma direção e
• o mesmo sentido.
−−→ −−−→ −−→ −−−→
Por exemplo na figura 3.6, o vetor AB é igual ao vetor CD : AB = CD .
Os segmentos nulos, por serem equipolentes entre si, determinam um único vector, chamado
−−→
vector nulo ou vector zero, e que é indicado por: ~0 = AA . O vetor nulo começa e acaba no mesmo
−−→
ponto, isto é, a sua origem coincide com a sua extremidade. Dado um vector v~ = AB , o seu vector
−−−→
oposto de indica-se por −~ v = HG .
O vector aplicado ou ligado além da sua direção, módulo e sentido é caracterizado pelo ponto em
que a sua origem está localizada. O vetor ligado é definido por um só segmento orientado, logo,
a sua origem e extremidade são determinadas pelo segmento orientado que o define. Exemplos
de vetores aplicados são os vetores posição, deslocamento, velocidade, aceleração e força. Se um
drone se desloca de I a J no intervalo de meia hora, o vetor deslocamento nesse intervalo de
tempo, d~1 , tem origem no ponto de partida (ponto I) e extremidade no ponto de chegada (ponto
J) conforme exemplificado na figura.
O vetor deslocamento representado na figura 3.9 tem a sua origem no ponto I e não num outro
qualquer ponto porque o drone partiu do ponto I. Como se pode verificar o vetor deslocamento é
um exemplo de vetor aplicado, a sua origem tem de coincidir com o ponto de partida. Por outro
lado, os vetores velocidade e aceleração do drone acompanham o movimento do drone, isto é, os
seus pontos de aplicação coincidem com o centro de massa do drone em cada instante.
Quaisquer dois vectores são coplanares. É sempre possı́vel definir um plano que contenha es-
ses dois vetores. Três vectores poderão ou não ser coplanares. Os vetores u ~x , u
~y e u
~z não são
coplanares.
Por exemplo, o vetor u ~x , representado a azul na figura 3.10, e o vetor u
~y , a vermelho, definem o
plano (infinito) XOY, a verde. Os vetores u~x e u
~z definem o plano XOZ, representado a azul claro,
e os vetores u
~y e u
~z definem o plano YOZ, representado a laranja.

52
Figura 3.9: Vetor deslocamento d~1 , com origem em I e extremidade em J

Figura 3.10: Vetores unitários segundo X, Y e Z

3.3.2 Vetor unitário ou versor


Um vector é unitário se o seu comprimento ou norma ou módulo for igual a um:

u k = 1.
k~

O versor de um vector não nulo é o vector unitário com a mesma direcção e o mesmo sentido.
Por exemplo, tomemos o vector ~ a, de módulo 3: k~
ak = 3, da figura 3.11. Os vectores u~a e −~
ua são
vectores unitários, pois ambos têm módulo 1. No entanto, embora ambos os versores referidos
tenham a mesma direção do vetor ~a, apenas u
~a tem o mesmo sentido. Portanto, u ~a é o versor de ~
a.

Figura 3.11: Vetor ~


a e seu versor u
~a

Existem três vectores unitários, perpendiculares entre si, que formam a base canónica para todos
os vetores no espaço XYZ, que são dados por: u ~y = ~e2 = jˆ = (0, 1, 0) e u
~x = ~e1 = î = (1, 0, 0), u ~z = ~e3 =
k̂ = (0, 0, 1). Qualquer vetor v~ se pode escrever como uma combinação linear destes três vetores
unitários:

v~ = vx u
~x + vy u
~ y + vz u
~z . (3.1)

53
No plano horizontal, podemos usar as direcões Norte-Sul e Este-Oeste, por exemplo, para des-
crever a velocidade do vento à superfı́cie da Terra. Na figura abaixo vemos os exemplos para os
ventos de Norte e de Sudoeste.

Figura 3.12: Ventos de Norte e de Sudoeste

3.4 Vetores e operações elementares com vetores


3.4.1 Produto de um escalar por um vector
Se v~ é um vetor e c é um número real, definimos a multiplicação de c por v~, como o vetor de
norma (ou comprimento) |c| vezes igual à norma do vetor v~:
kc × v~k = |c| × k~
v k,
a mesma direção do vetor v~ e o mesmo sentido do vetor v~ se c for positivo e de sentido contrário
se c for negativo. Na figura 3.13 são representados 5 vetores horizontais obtidos multiplicando os
escalares 0, 1, -1, 2 e sin(30°) pelo versor u
~x .

Figura 3.13: Vetores horizontais obtidos por multiplicação de escalares pelo unitário segundo X

Repare que para construirmos um vetor com a direção do eixo do X apenas precisamos de multi-
plicar um número real pelo vetor unitário com a direção do eixo X. Assim, um vetor paralelo ao
eixo X, com o comprimento c > 0, e sentido igual ao do eixo X é o produto do vetor unitário com
a direção e sentido do eixo X pelo escalar c:

v~x = c ×~
u , (3.2)
|{z} x
>0
em que o ı́ndice x, no vetor, é uma indicação que este tem a direção do eixo x. O escalar que
multiplica o versor u
~x designa-se por:

componente escalar do vetor v~ na direção do eixo X = vx . (3.3)


Neste caso particular vx = c.
Para construir um vector u~ paralelo a um vector v~, basta tomar u
~ = c × v~, onde c é um escalar não
nulo. Como casos particulares tem-se:

54
Figura 3.14: Vetor com a direção do eixo X e sua componente escalar vx

• Se c = 0 então u
~ será o vector nulo.

• Se 0 < c < 1 então u


~ terá comprimento menor do que v~: k~
u k < k~
vk

• Se c > 1 então u
~ terá comprimento maior do que v~: k~
u k > k~
vk

• Se c < 0 então u
~ terá sentido oposto ao de v~.

Para construir um vector unitário u ~v que tenha a mesma direcção e sentido que um outro vector
v~, basta dividir o vector v~ pelo seu módulo, isto é:

v~
~v =
u . (3.4)
vk
k~
Propriedades do produto de escalar por vector. Quaisquer que sejam k e c escalares, v e w
vectores:

1 × v~ = v~ 1 é o elemento neutro (3.5)


(k × c) × v~ = k × (c × v~) = c × (k × v~ propriedade associativa da multiplicação (3.6)
k × v~ = c × v~ implica que k = ctext, se~ v for não nulo (3.7)
k × (~v + w)
~ = k × v~ + k × w ~ propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição (3.8)
(k + c) × v~ = k × v~ + c × v~ propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição (3.9)

3.4.2 Soma de vetores


A soma de dois vetores é um vetor. No caso particular do deslocamento do drone d~1 , atrás referido
(figura 3.9, o drone parte do ponto I de coordenadas x = +4 km, y = +7 km e termina o seu
percurso no ponto J de coordenadas x = +8 km, y = +1 km. Nada se sabe sobre o modo como o
drone se deslocou. O drone pode ter-se deslocado:

• em linha reta de I a J ou

• inicialmente na horizontal, para a direita de I, até ao ponto de coordenadas (8 km, 7 km) e


depois na vertical, para baixo deste ponto, até ao ponto J ou

• inicialmente na vertical, para baixo, de I até ao ponto de coordenadas (8 km, 1 km) e depois
na horizontal, para a direita, deste ponto até ao ponto J ou

• num outro percurso qualquer mais complicado mas ficando, no final, 4 km à direita de I e 6
km abaixo.

55
Podemos dizer que d~1 se pode decompor na soma de um deslocamento horizontal de 4 km, (com
a direção do eixo X) para a direita, com um deslocamento de 6 km, vertical (com a direção do eixo
Y) para baixo:
d~1 = 4 km u
~x − 6 km u
~y .
Mas podemos também afirmar que:

d~1 = −6 km u
~y + 4 km u
~x .

Figura 3.15: Soma gráfica dos vetores horizontal +4 km u


~x com o vetor vertical −6 km u
~x

Como segundo exemplo, na figura 3.16 temos o deslocamento total de um drone que inicialmente
se desloca de I a J e, em seguida de J a K. O deslocamento total do drone é o vetor com origem no
ponto de partida inicial do drone, ponto I, e extremidade na posição final do drone após os dois
deslocamentos sequenciais, ponto K.
Na soma analı́tica, somam-se as componentes em x de cada vetor com as componentes em y de
cada vetor. A componente X do vetor soma é a soma das componentes X de cada vetor adicionado
e a componente Y do vetor soma é a soma das componentes Y de cada vetor adicionado:

(vx u
~x + vy u
~y ) + (vx u
~ x + vy u
~y ) = (vx + wx ) u
~x + (vy + wy ) u
~y . (3.10)
| {z } | {z }
v~ w
~
Para o caso anteriormente referido dos dois deslocamentos do drone, temos:

d~1 + d~2 = (4 km u
~x − 6 km u
~y ) + (-5 km u
~x + 2 km u
~y ) = (4 km -5 km) u
~x + (−6 km +2 km) u
~y .
| {z } | {z }
-1 km -4 km

Para somar graficamente dois ou mais vetores aplica-se a regra do Polı́gono. Começa-se por
representar o primeiro vetor a somar e na extremidade deste coloca-se a origem do segundo vetor
a somar e assim sucessivamente. O vetor soma tem origem coincidente com a origem do primeiro
vetor e extremidade coincidente com a extremidade do último. A ordem por que se somam os
vetores é arbitrária, isto é, o primeiro, segundo (e por aı́ adiante) vetores a somar são escolhidos
arbitrariamente por de entre os vetores a somar.
Propriedades da soma de vectores:

56
Figura 3.16: O vetor soma, d~1 + d~2 , é o vetor com origem no primeiro vetor e extremidade no
último

Para todos os vectores u


~ e v~ : u~ + v~ = v~ + u
~ Propriedade comutativa (3.11)
Para todos os vectores u
~ , v~ e w
~ :u~ + (~
v + w)
~ = (~ u + v~) + w
~ Propriedade associativa (3.12)
Existe um vector ~0 que para todo vector u ~ se tem: u ~ + ~0 = u
~ Elemento neutro (3.13)
Para cada vector u
~ , existe um vector − u
~ tal que: u u ) = ~0 Elemento oposto
~ + (−~ (3.14)

3.4.3 Diferença de vectores


A diferença entre dois vetores é a soma do primeiro vetor com o vetor simétrico (ou oposto) do
segundo vetor:
~ − v~ = v~ + (−~
u u ).
Na fı́sica é frequente a necessidade de cálculo da diferença entre dois vetores. A variação de
velocidade, ∆~ v , por exemplo, calcula-se através da diferença entre os vetores velocidade final e
velocidade inicial: ∆~ v = v~f inal − v~inicial . O mesmo acontece com a variação da aceleração: ∆~
a=
~ ainicial . A posição de um corpo A relativamente a um corpo B é a diferença entre os vetores
af inal −~
posição de B e de A: ~rAB = ~rB − ~rA . O deslocamento de um corpo entre dois pontos A e B é a
diferença entre a posição de B e a posição de A: ∆~r = ~rB − ~rA .

Figura 3.17: Vetor deslocamento entre A e B: ∆~r = ~rB − ~rA

O processo analı́tico de cálculo da diferença de vetores é o mesmo que é usado na soma de


vetores.
Para o cálculo da diferença gráfica representam-se os dois vetores que se subtraem com a mesma
origem comum. O vetor diferença tem origem na extremidade do segundo vetor e extremidade
coincidente com a extremidade do primeiro vetor.

57
3.4.4 Produto escalar
O produto escalar entre dois vectores v~ = vx u
~x + vy u
~y e w
~ = wx u
~ x + wy u
~y é o escalar (ou número
real) obtido através da soma do produto das componentes escalares em X com o produto das
componentes escalares em Y:
~ = vx × wx + vy × wy .
v~ · w (3.15)
Mas o produto escalar entre os vectores v~ e w
~ pode também calcular-se pelo produto dos módulos
dos vetores e pelo co-seno do ângulo entre estes:

~ = k~
v~ · w ~ × cos(∠(~
v k × kwk v ; w)).
~ (3.16)

Destas duas expressões é possı́vel concluir que o produto escalar entre dois vetores é nulo quando:

• um dos vetores do produto interno (ou os dois) é o vetor nulo ou

• os dois vetores são perpendiculares entre si.

Define-se componente escalar do vetor v~ segundo a direção X (por exemplo), vx , ao produto


escalar deste vetor com o vetor unitário na direção X:

vx = v~ · u
~x . (3.17)

Do mesmo modo se define a componente do vetor numa outra qualquer direção.

O produto escalar entre uma força constante, F, ~ que atua num corpo e o seu deslocamento, ∆~r,
é igual à energia transferida para o corpo por ação da força:

~ · ∆~r = kFk
energia transferida = F ~ × k∆~rk × cos(∠(F;
~ ∆~r)).

No caso particular da força constante, F ~ = −200 N u~x , que atua ao longo do deslocamento de um
caixote, ∆~r = +30 m u ~x , contrário à força aplicada, a energia transferida é negativa, logo, por ação
desta força, é retirada energia ao corpo. Esta energia é então o produto escalar entre a força e o
deslocamento:
~ · ∆~r = kFk
energia transferida = F ~ × k∆~rk × cos(∠(F;
~ ∆~r)) = 200 N × 30 m × cos(180°) = −6000 J,

uma vez que neste caso a força tem uma norma (ou intensidade ou módulo) de 200 newton:
~ = 200 N, o deslocamento tem um módulo de 30 metros: k∆~rk = 30 m e estes dois vetores
kFk
fazem entre si um ângulo de 180 graus.

~
Figura 3.18: Deslocamento de um caixote, ∆~r, sob a ação de uma força constante F

Este produto escalar pode também ser calculado efetuando o produto das componentes escalares
em x:
~ · ∆~r = Fx × ∆x + Fy × ∆y = 200 N × (-30 m) + 0 × 0 = −6000 J,
energia transferida = F

58
~
Figura 3.19: Medida do ângulo definido pelos vetores ∆~r e F

uma vez que nenhum dos vetores tem componente segundo Y.


Note que para se determinar geometricamente o ângulo entre dois vetores é necessário repre-
sentá-los com origem no mesmo ponto e com o transferidor medir o menor ângulo entre estes.
Define-se a norma (ou intensidade ou módulo) de um vetor pela raiz quadrada positiva do pro-
duto escalar do vetor por ele próprio:
√ q p
v k = + v~ · v~ = + k~
k~ v k k~ v k2 .
v k cos(0) = + k~ (3.18)
Como caso particular, poderı́amos calcular a norma do vetor v~ = 30 cm u ~x − 40 cm u
~y . A norma
do vetor v~ é
√ p q
v k = + v~ · v~ = + 30 cm × 30 cm + (−40 cm) × (−40 cm) = + (30 cm)2 + (−40 cm)2 = 50 cm.
k~

Propriedades do produto escalar


Quaisquer que sejam os vectores, v~, ~z e w
~ e k um escalar:

~ =w
v~ · w ~ · v~ (3.19)
2
v~ · v~ = k~
v k k~v k cos(0) = k~ vk (3.20)
v~ · (~z + w)
~ = v~ · ~z + v~ · w
~ (3.21)
(k × v~) · ~z = v~ · (k × ~z) = k × (~
v · ~z) (3.22)
k~v · wk
~ ≤ k~ v k kwk~ desigualdade de Schwarz (3.23)

3.4.5 Produto vetorial


Considere dois vectores, no plano XOY: v~XOY = vx u ~ x + vy u
~y e w
~ XOY = wx u~x + wy u
~y .
O produto vetorial entre os vectores v~XOY e w ~ XOY é o vetor obtido através do produto do vetor
unitário segundo o eixo Z, u
~z , pelo determinante, dois por dois, cuja primeira linha é constituı́da
pelas componentes escalares do primeiro vetor e a segunda linha pelas componentes escalares
do segundo vetor:

vx vy
v~XOY ∧ w ~ XOY = ~z = (vx wy − vy wx ) ×~
×u uz . (3.24)
wx wy | {z }
escalar

É possı́vel assim verificar que o produto vetorial de dois vetores no plano XOY é um vetor per-
pendicular a este plano, logo, um vetor na direção do eixo Z.

59
Figura 3.20: Vetores v~ e w
~ e suas componentes escalares no plano XOY

Como caso particular calculemos o produto vetorial do vetor u ~x = 1 u~x + 0 u


~y com o vetor u
~y =
0u
~x + 1 u
~y :

1 0
u ~y =
~x ∧ u ~z = (1 × 1 − 0 × 0) × u
×u ~z = u
~z .
0 1
O módulo do produto vetorial entre os vectores v~ e w
~ pode também calcular-se pelo produto dos
módulos dos vetores pelo seno do ângulo entre estes:

~ = k~
v ∧ wk
k~ ~ × sin(∠(~
v k × kwk v ; w)).
~ (3.25)

Desta última expressão é possı́vel concluir que o módulo do produto vetorial entre os vectores v~
ew
~ é igual à área do paralelogramo de lados definidos por estes vetores.

Figura 3.21: paralelogramo definido pelos vetores v~ e w


~ e altura k~
v k × sin(∠(~
v ; w))
~

O produto vetorial entre dois vetores é nulo quando:


• um dos vetores do produto vetorial (ou os dois) é o vetor nulo ou

• os dois vetores têm a mesma direção.

Em ambas as situações consideradas anteriormente, o paralelogramo definido por estes dois ve-
tores tem área nula.
Pode-se obter um vetor ~c, perpendicular a dois vetores dados: ~
a = ax u
~x + ay u ~z e ~b = bx u
~y + az u ~x +
~y + bz u
by u a e ~b:
~z , efetuando o produto vetorial entre ~


u~x u
~y u
~z
ay az a a ax ay
a ∧~b = ax ay az = u x z

~c =~ ~x × − u
~y × + u
~z × . (3.26)
by bz bx bz bx by
bx by bz
|{z}
a e ~b
vetor perpendicular a ~

60
Este produto vetorial calcula-se através do cálculo do determinante três por três, que por sua
vez pode ser decomposto na soma de três parcelas contendo o produto de um versor com um
determinante dois por dois.
Em notação matemática, a taxa temporal de variação instantânea ou a derivada em ordem ao
tempo de uma função, f (t), que depende ou não do tempo, é representada (em notação ma-
temática) por:
df
= f 0 (t) (3.27)
dt
Em fı́sica, e para movimentos de rotação, é habitual usar-se uma quantidade designada por mo-
mento angular, relativamente ao ponto A, e escreve-se: `~A . Para se estudar o modo como o mo-
mento angular varia com o tempo calcula-se a taxa temporal de variação instantânea do momento
~
angular, relativamente ao ponto A: ddt `A
. Graças à lei fundamental da rotação, é possı́vel conhecer
a taxa de variação instantânea do momento angular sem ser necessário calcular a derivada em
ordem ao tempo do vetor momento angular. Assim, o produto vetorial entre a posição do ponto
~ aplicada num corpo,
de aplicação da força relativamente a um ponto A, ~rA , e a própria força, F,
é igual à taxa temporal de variação instantânea do momento angular, relativamente ao ponto A,
do corpo que estiver sujeito apenas a essa força:

~A
d` ~ = ~rA ∧ F.
( devida a F) ~ (3.28)
dt

~ pertencem ao plano da roda, `~A é perpendicular


Figura 3.22: Os vetores posição ~rA e força F

No caso da força constante F ~ = −200 N u


~x que atua a 30 cm do ponto A, ~rA = +30 cm u ~y , de uma
bicicleta em rotação. A taxa temporal de variação instantânea do momento angular, relativamente
ao ponto A, devida a F ~ é:

d `~A

~ = ~rA ∧ F
~ = 0 30 cm
( devida a F) ~z = (0×0−30 cm×(−200 N))× u
× u ~z = 6000 cm N u
~z .
dt −200 N 0

Como já era esperado a taxa temporal de variação instantânea do momento angular, relativamente
~ é perpendicular aos vetores vecrA e F
ao ponto A, devida a F, ~ e tem a direção e sentido de `~A .
Propriedades do produto vetorial
Quaisquer que sejam os vectores, v~, ~z e w
~ e k um escalar:

~ = −w
v~ · w ~ ∧ v~ (3.29)
v~ ∧ v~ = ~0 (3.30)
v~ ∧ (~z + w)
~ = v~ ∧ ~z + v~ ∧ w~ (3.31)
(k × v~) ∧ ~z = v~ ∧ (k × ~z) = k × (~
v ∧ ~z) (3.32)

61
3.5 EXERCÍCIOS DE CÁLCULO VETORIAL
1. Considere os vetores unitários com as direções e sentidos do eixo X e Y, respetivamente, u ~x
eu~y , e o vetor ~
a = 3 cm u~x − 4 cm u
~y . Calcule e represente graficamente o vetor sin(30°) × ~
a.
Calcule k sin(30°) × ~ ak com base na sua representação gráfica e no Teorema de Pitágoras
(h2 = a2 + b2 ).
~ de módulo 100 newtons e fazendo um ângulo de 30° com o eixo
2. Considere o vetor força F,
dos Y, como mostra a figura. Este vetor pode-se escrever em função dos vetores unitários
com as direções e sentidos do eixo X e Y, respetivamente, u
~x e u ~=
~x , com a forma geral: F
~x + Fy u
Fx u ~y . Calcule as componentes escalares do vetor F ~ segundo X e Y, Fx e Fy , com
lado oposto ao ângulo
base nas definições das funções trigonométricas seno e co-seno: sin(θ) = hipotenusa e
lado adjacente ao ângulo
cos(θ) = hipotenusa .

Figura 3.23: Força de módulo 100 N fazendo um ângulo de 30° com Y


3. A força resultante que atua num caixote é a soma vetorial de todas as forças que atuam no
corpo. Suponha que um caixote se encontra sujeito a 2 forças: F ~1 = −30 N u ~x + 40 N u
~y e
~
F2 = −30 N u ~x − 60 N u~y . Calcule, analiticamente e graficamente, a força resultante que atua
~R = F
no caixote: F ~1 + F
~2 .

4. O deslocamento de uma bola é igual à diferença vetorial entre a posição final do corpo e a
sua posição inicial:
∆~r = ~rf inal − ~rinicial .
Supondo um corpo que parte da posição inicial ~rinicial = 8 km u ~x − 3 km u
~y e termina o
seu deslocamento na posição final ~rf inal = 3 km u
~x − 5 km u
~y , determine o deslocamento da
bola. Interprete o resultado em termos da direção do deslocamento, isto é, verifique se a
bola desceu ou subiu e se se deslocou para a direita ou para a esquerda.

5. Uma força constante, F~ = −30 N u ~x + 10 N u


~y , atua ao longo do deslocamento de um cai-
xote com velocidade constante, v~ = +30 ms u~x + 4 ms u
~y . A potência transmitida ao caixote é o
produto escalar entre a força e a velocidade:
~ · v~.
potência transmitida = F
Determine a potência transmitida ao caixote.

6. Uma força constante F ~ = −200 N u ~x atua a 30 cm do ponto A, ~rA = +30 cm u ~y , de uma


bicicleta em rotação. A taxa temporal de variação instantânea do momento angular, rela-
tivamente ao ponto A, devida a F, ~ d `~A ( devida a F)
~ é o produto vetorial do vetor ~rA com o
dt
~
vetor F:
d `~A ~ = ~rA ∧ F.
~
( devida a F)
dt
~
Determine d `A ( devida a F).
dt
~

62
4. COMPLEMENTOS SOBRE FUNÇÕES RE-
AIS DE VARIÁVEL REAL
4.1 Generalidades sobre funções reais de variável real
4.2 Estudo de algumas classes de funções
4.3 Funções algébricas racionais (inteiras e fracionárias) e funções
algébricas irracionais
4.4 Funções transcendentes: funções trigonométricas; função ex-
ponencial e função logarı́tmica
4.5 Conceito geométrico de derivada e suas aplicações
4.6 Conceito geométrico de integral e suas aplicações

63
4.7 EXERCÍCIOS DE FUNÇÕES

64
5. Bibliografia matemática
I. LÓGICA PROPOSICIONAL 1.1. Proposições e operadores lógicos sobre proposições; 1.2. Ta-
belas de verdade; 1.3. Propriedades das operações lógicas.
II. NOÇÕES DE CÁLCULO ALGÉBRICO E DE CÁLCULO MATRICIAL 2.1. Cálculo algébrico
2.1.1. Números naturais, inteiros, racionais e reais: conceitos e regras operatórias; 2.1.2. Po-
linómios e simplificação de expressões algébricas; 2.1.3. Equações, inequações, razões, proporções
e percentagens. 2.2. Matrizes 2.2.1. Noções gerais; 2.2.2. Matrizes especiais; 2.2.3. Operações
entre matrizes; 2.2.4. Aplicações das matrizes.
III. NOÇÕES BÁSICAS DE TRIGONOMETRIA E DE NÚMEROS COMPLEXOS 3.1. Trigonome-
tria 3.1.1. Razões trigonométricas de ângulos agudos; 3.1.2. Valores das razões trigonométricas
em ângulos particulares; 3.1.3. O cı́rculo trigonométrico. 3.2. Números Complexos 3.2.1. Introdução
história dos números complexos. Simplificação de raı́zes de números negativos; 3.2.3. Forma
algébrica e forma trigonométrica de um número complexo; 3.2.4. Operações com números com-
plexos. Sua perspetiva geométrica.
IV. INTRODUÇÃO AO CÁLCULO VETORIAL 4.1. Segmentos orientados 4.2. Norma, direção e
sentido 4.3. Vetores e operações elementares com vetores
V. COMPLEMENTOS SOBRE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 5.1. Generalidades so-
bre funções reais de variável real: 5.2. Estudo de algumas classes de funções: 5.2.1. Funções
algébricas racionais (inteiras e fracionárias) e funções algébricas irracionais; 5.2.2. Funções trans-
cendentes: funções trigonométricas; função exponencial e função logarı́tmica; 5.3. Conceito
geométrico de derivada e suas aplicações 5.4. Conceito geométrico de integral e suas aplicações

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