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RESUMO
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo delinear uma análise da proteção estatal ao
consumidor nas relações de consumo, positivada pelo Código de Defesa do Consumidor, e a
*
Artigo apresentado ao Grupo de Trabalho “Valores de consumo e Valores Institucionais”, coordenado pelo
Prof. Dr. Gilvan Luiz Hansen (UFF), do 1º Seminário Nacional Interdisciplinar de Pesquisa do Consumidor,
realizado na CDL Niterói em 13 ago 2015.
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Bacharel em Direito pela Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB. Mestranda no Programa de Pós
Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense – UFF.
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Bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense – UFF. Mestrando no Programa de Pós
Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense – UFF.
vulnerabilidade deste, tendo a oferta, publicidade e propaganda como mecanismos de
potencialização.
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Já se percebia a preocupação em garantir-se a proteção no que concernia à segurança, à saúde e a qualidade
de serviços prestados. Havia uma disposição no código de Hamurabi (235º) que dizia que o construtor de barcos
era obrigado a refazê-lo no caso de defeito estrutural, uma clara intenção de proteger as relações de compra e
venda da época.
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O qual trata de crimes contra a economia popular.
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Lei de Usura.
Mas no ano de 1990, com a Lei 8.078/90, o direito do consumidor ganhou uma
nova perspectiva, não porque foi normatizado apenas, mas pelo fato de que a relação de
consumo passou a ser orientada por novos princípios fundamentais.
Mas existem certas dinâmicas vividas pelo consumidor que ainda o deixam
exposto, desprotegido nessa relação de consumo e, por ser um fenômeno relativamente novo,
considerando sua recente consolidação na nossa história, ele não conta com uma proteção
eficaz do direito positivado.
Essas dinâmicas são muito bem captadas por Zygmunt Bauman, que dedica uma
boa parte da sua produção em explicar a transformação de uma sociedade de produtores para
uma sociedade de consumidores (1998) e a fluidez das relações humanas, dentro das quais o
mundo sólido foi se transformando em líquido. (2001, p. 12)
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Pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte de massa, bem como das mídias eletrônicas, o
capital não mais precisa se fixar em determinada localidade e territórios para se reproduzir ou expandir. Na
chamada modernidade industrial, o capitalismo se enraizava duradouramente em sua relação com a força de
trabalho. O capital necessitava fisicamente de um lugar para a construção de suas plantas industriais, galpões,
instalação e renovação de máquinas, acomodação de sua força de trabalho, de mercado consumidor. Tinha de
administrar, gerenciar, disseminar e potencializar as práticas produtivas e comerciais e, ainda, lidar com as
tensões entre capital e trabalho. Tais tensões, inclusive, denotavam a própria interdependência entre essas duas
forças, de modo que, para haver riqueza, era necessariamente preciso de pessoas que povoassem e contribuíssem
com sua força de trabalho no território em que ela é produzida. Essa dinâmica sofreu uma sensível modificação
da sua estrutura. Os fenômenos de desenvolvimento citados acima propiciaram um mundo em que é
perfeitamente possível a desvinculação, ou nas palavras de Zygmunt Bauman, um desengajamento do capital em
relação ao trabalho (BAUMAN, 1999). Hoje o capital se move na velocidade do sinal eletrônico e se desprende
da necessidade do trabalho, ou pelo menos dos mesmos moldes a que estava preso. Existe uma reorganização
produtiva, na qual, com grande desenvolvimento da tecnologia, as máquinas se transformam nas próprias
ferramentas, podendo ser, a qualquer tempo, reprogramáveis. Isto significa que elas não precisam produzir
sempre as mesmas coisas, mas darem origem a novas mercadorias, fazendo com que a esteira de produção não
seja mais fixa, mas móvel. Nesta estrutura habilidosamente ágil, os trabalhadores não fazem mais parte do antigo
modelo que tinha como pilar as longas carreiras e a identificação do empregado e a instituição para o qual
trabalha.
O “derretimento dos sólidos”, traço permanente da modernidade, adquiriu,
portanto, um novo sentido, e, mais que tudo, foi redirecionado a um novo
alvo, e um dos principais efeitos desse redirecionamento foi a dissolução das
forças que poderiam ter mantido a questão da ordem e do sistema na agenda
política. Os sólidos que estão para ser lançados no cadinho e os que estão
derretendo neste momento, o momento da modernidade fluida, são os elos
que entrelaçam as escolhas individuais em projetos e ações coletivas – os
padrões de comunicação e coordenação entre as políticas de vida conduzidas
individualmente, de um lado, e as ações políticas de coletividades humanas,
de outro. (BAUMAN, 2001, p. 12)
Como dito anteriormente, hoje vive-se uma época de fragilidade dos laços
humanos, da erosão da lealdade, do senso de compromisso mútuo. E essa dinâmica tem
implicações na própria ordem social. Pode-se notar como é sintomático o retraimento da
política, o esfriamento nas relações entre as pessoas, isolamento do homem. E esse fenômeno
pode ter como uma das causas exatamente a rapidez cada vez mais desproporcional com que o
mundo se movimenta, o que faz com que características como a lealdade, a confiança, o
compromisso mútuo não consigam se consolidar, pois o tempo é primordial para que isso
aconteça. Em outras palavras, é cada vez mais escassa a existência de vínculos duradouros e
referências estáveis.
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Para melhor entendimento dessa caracterização, ver: BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida.
Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.
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Em sua obra A ética protestante e o espírito do Capitalismo, Max Weber realiza um encadeamento de
circunstâncias as quais se pode atribuir o surgimento do capitalismo, fazendo uma análise que toma
por base as doutrinas religiosas protestantes de salvação, como o calvinismo, sendo o tempo é um
conceito essencial nesse modelo weberiano. Segundo sua análise, “a máquina do tempo que
propulsiona a ética protestante é a gratificação postergada no presente em nome das metas de longo
prazo. Assim, o tempo no capitalismo moderno seguia a lógica incutida pela ética calvinista:
planejamento a longo prazo, relações de trabalho duradouras, construção de carreiras por um longo
percurso, objetivando, sempre, recompensas futuras, dentro de um sistema que privilegiava a
estabilidade e durabilidade. O tempo racionalizado com base da postergação do gozo afetava
profundamente a vida subjetiva. A nova página do capitalismo moderno, como analisada por Sennett
(2006), inaugura uma nova ética de vida. A gratificação postergada sai de cena, e o imediatismo,
curtos prazos, gozo imediato passam a incorporar a vida das pessoas, os tornando “desenjaulados”.
Entende-se, então, que a herança do protestantismo ascético teria se perdido no tempo, na mudança da
forma como o indivíduo interage com o tempo racionalizado, e a lógica derivada da predestinação
teria cedido lugar ao agorismo, imediatismo, efemeridade e, como caracteriza Bauman(2001),
fluidez.
A liquefação da sociedade capitalista, observada por Bauman (2001), possibilitou
a flexibilização das relações, que se tornaram flutuantes, descartáveis e efêmeras, no que diz
respeito não só as relações intersubjetivas, mas na relação consumidor e objeto a ser
consumido.
O consumidor, ávido por se adequar socialmente, ser aceito, bem visto, e por
usufruir dos benefícios que isso confere, tende a seguir a moda e a tendência definida pelo
marketing, as quais mudam, constantemente. Assim, ainda que o objeto de consumo em
questão esteja perfeitamente apto para utilização, o consumidor passa a entendê-lo como
defasado, ultrapassado e, por que não, “brega”. Esse sentimento de inadequação e
humilhação, de não pertencimento, induz o consumidor a uma nova aquisição, ainda que
funcionalmente desnecessária, pois não há perda do valor econômico, e sim social.
Uma vez que trata o consumidor, ser humano, enquanto objeto do ciclo de
consumo, que deve ser adestrado, sem considerar os danos que disso podem advir,
manipulando levianamente o indivíduo com o fim exclusivo de fazê-lo consumir, o
fornecedor o transforma em meio para obter sua finalidade, estabelecendo uma relação de
comodificação (BAUMAN, 2007, p. 152).
Mas, embora Habermas veja a diferenciação entre as estruturas das esferas pública
e privada como essenciais para o caráter da modernidade, em vez de aceitar a distinção
simples entre público e privado como a única capaz de explicitar a dinâmica moderna, ele
propõe uma distinção paralela: no interior das sociedades modernas complexas, há uma
diferença entre dois níveis estruturais, quais sejam, o sistema e o mundo da vida.
De um lado, a ação no mundo moderno é coordenada por sistemas que funcionam
de acordo com a racionalidade com respeito a fins. O melhor exemplo disso é o mercado. Para
Habermas, a ação racional com respeito a fins, corresponde ao conceito de trabalho,
encontrado em Karl Marx. A racionalidade é, neste caso, instrumental, na medida em que está
se buscando os meios para se efetivar o controle ou dominação da natureza. De outro lado, as
ações sociais são coordenadas, em primeiro lugar, por normas e valores comunicativamente
estabelecidos e mediados pelos fins e sentidos socialmente definidos, que tanto se originam da
trama do mundo da vida como também a constituem, em último caso.
Isto quer dizer que, no mundo da vida, tem-se como regra ações coordenadas cujo
padrão é a ação comunicativa e não a ação racional com respeito a fins (instrumental). A ação
visada aqui não é o trabalho, mas a interação com outras pessoas. Isto envolve uma
racionalidade substantiva, uma preocupação com a validez ou a correção das normas e valores
vigentes no grupo como resultado de um consenso social.
CONCLUSÃO
São estas, práticas comerciais que enxergam o consumidor como objeto e não
como sujeito, com o vistas para a finalidade lucrativa. Diante da tensão entre o que se tem
como realidade fática e o que se tem como dever ser, surge a necessidade de se vislumbrar
possibilidades que venham minimizar esses reflexos. E essa é uma construção que deve ser
enxergada não apenas pela luz da legalidade, mas também como uma construção feita a partir
de um outro lócus, o mundo da vida.
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Antônio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; Bessa, Leonardo Roscoe
Bessa. Manual de Direito do Consumidor 2. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2009.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 10. ed. São Paulo: Livraria
Pioneira Editora, 1996.