Metodológicos do Serviço Social III Profº: Melissa Ferreira Portes
Gislaine Alves de Almeida Vaz
Curitiba, 20 de Setembro de 2010 O Movimento de Reconceituação da América Latina
O presente trabalho tem como objetivo resumir e apontar as principais idéias e
conceitos sobre o Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina. O referencial para a elaboração deste foi extraído do Capítulo 2 do livro “O Serviço Social e o Popular: resgate teórico-metodológico do projeto profissional de ruptura” de autoria de Maria Ozanira da Silva e Silva. O texto também traz como referência as teorias do autor José Paulo Netto. O Movimento Reconceituação surge a partir da década de 60, caracterizando-se pela crítica e contestação ao tradicionalismo profissional e sistema vigente, propondo novas teorias e métodos de aprendizado do Serviço Social, assim como sua aplicação a pratica profissional, tendo como base as categorias da dialética. Não foi um movimento linear, homogêneo, trazendo consigo diferentes tendências, cada qual se adequando conforme seu contexto sócio econômico. Esse movimento marcou a historia da profissão, pois contribuiu para a revisão dos seus pressupostos teórico-metodológicos e instaurou um pluralismo para referência tanto acadêmica como na prática profissional. O Movimento trouxe para os assistentes sociais a identificação e o reconhecimento da existência de duas classes sociais antagônicas sendo impossível continuar afirmando a neutralidade profissional, criou uma nova identidade profissional com ações voltadas voltada às demandas da classe trabalhadora. Dentre as principais propostas desse movimento, estavam adequar as técnicas e métodos à realidade social da America Latina, definir vertentes teóricas como referenciais, questionar a metodologia, produzir conhecimento, assumindo assim sua ação investigativa além de interventiva. Segundo o autor, José Paulo Netto, o movimento é tratado como um processo de renovação do serviço social que assume três direções: a perspectiva modernizadora, a perspectiva de reatualização do conservadorismo e a perspectiva de ruptura, aqui brevemente relatadas: A perspectiva modernizadora é caracterizada pela busca da adequação do serviço social enquanto instrumento de intervenção inserida nas técnicas sociais a serem operacionalizadas. Os assistentes sociais procuram assumir uma posição moderna, tendo como base a manutenção do sistema, inserindo-se na ideologia desenvolvimentista. A perspectiva de reatualização do conservadorismo é caracterizada como uma vertente que recupera os componentes estratificados da herança histórica e conservadora da profissão; inicia-se a proposta de fenomenologia, a qual destaca as dimensões da subjetividade humana. A perspectiva de ruptura possui uma crítica sistemática ao desempenho tradicional e aos seus suportes teóricos, metodológicos e ideológicos. Nesta fase os assistentes sociais começam a desenvolver um intenso processo de discussão interna em busca de um novo perfil profissional que questiona seu vinculo com o bloco no poder e busca uma renovação teórico-metodológica orientada pelo método dialético marxista. Dentro do contexto referencial estudado, nota-se a preocupação dos autores em construir novas alternativas para a prática profissional, denominadas “Teses Configurativas”, aqui sintetizadas: - Esforço de superação do Serviço Social Tradicional: Tese central que busca a ruptura total dos valores tradicionais paternalistas e à busca de novos valores a seres inseridos a partir das necessidades dos setores populares. Através da reflexão em torno da adequação às exigências conjunturais, o Serviço Social adota o método dialético que amplia a concepção da realidade social e passa a negar sua ação individualizada. Os fenômenos sociais passam a ser analisados dentro do seu significado real e em sua relação com a totalidade, numa vertente teórica que busca ir além do aparente, devido à necessidade de uma análise interpretativa da realidade social. - Desvelamento da dimensão político ideológica da profissão e explicação do caráter contraditório de sua prática: O serviço social afirma um compromisso com a classe subalterna, o que sugere uma ação educativa que busca compreender esta classe dentro de um contexto da estrutura dominante utilizando mecanismo que proporcionem a ampliação de direitos para construir uma cidadania plena. A profissão nega então neutralidade e arte para a busca de um Serviço Social comprometido com a realidade que superasse a prática assistencialista do tradicionalismo profissional. -Vinculação da ação profissional com as classes populares e transformação social como horizonte da prática do serviço social: Implica numa prática coletiva, estruturada pela aliança entre o profissional e sua “clientela”, onde as transformações sociais e coletivas norteiam a pratica profissional. Esse novo vínculo indica a transformação social enquanto exigência da própria realidade social, dada a situação de dominação e exploração político-econômica que vive essas classes. - Redefinição do trabalho institucional: A profissão, as instituições, passam a rejeitar a neutralidade da ação, onde a defesa ao sistema vigente bem como suas normas passam a ser questionadas. A articulação entre o Serviço Social a classe trabalhadora, numa troca de saberes e conscientes dos recursos que possuíam, juntamente com os movimentos sociais, o reconhecimento da classe como classe estabelece um vinculo dos trabalhadores com o Estado. - Resgate da Assistência Social como espaço do exercício profissional: No rompimento com o tradicionalismo é que se situa a superação da prática assistencialista. A partir dos anos 80 a assistência social assume uma posição de enfrentamento da questão social despida de qualquer prática de caridade voltando-se ao reconhecimento e exigência aos direitos sociais. O Serviço Social se mostra mais presente e fortalecendo as lutas sociais tornando-se mediador entre confrontos e conquistas. A partir dos textos estudados e de acordo com seus autores, analisa-se que o Movimento de Reconceituação iniciou-se como uma crítica desenvolvida pelos profissionais de Serviço Social, contra o tradicionalismo profissional na década de 60 que se estendeu até inicio dos anos 80. Foi um processo grande importância para a profissão, que se aproximou de autores da tradição marxista e iniciou uma postura crítica diante do capitalismo e também contribuiu decisivamente para o processo de ruptura teórica e prática com a tradição profissional. A reconceituação da ação do Serviço Social teve como objetivo melhor servir a sociedade, orientando a população a tomar consciência dos problemas sociais e assim estabelecer formas de integrar a classe trabalhadora no desenvolvimento social. O Movimento de Reconceituação do Serviço Social não consistiu somente em uma revolução da assistência à transformação, mas sim numa luta constante pela construção de uma sociedade sem exploração e dominação. Mesmo tendo se passado algumas décadas do início no Movimento de Reconceituação, comprova-se que o referido movimento foi amplo, pois até hoje existem desafios à prática profissional que exigem o reconhecimento que é sempre necessário avançar no processo de luta pelos direitos, estar numa constante renovação de métodos para enfrentamento dos novos desafios que emergem constantemente em nossa sociedade.