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PUSSETTI, Chiara. “As razões do coração: entre neurociências


culturais e antropologia das emoções”. RBSE – Revista Brasileira
de Sociologia da Emoção, v. 14, n. 42, p. 23-41, dez. 2015. ISSN:
1676-8965.
ARTIGO
http://www.cchla.ufpb.br/rbse/Index.html

As razões do coração
Entre neurociências culturais e antropologia das emoções

Chiara Pussetti

Recebido em: 01.09.2015


Aceito em: 16.10.2015

Resumo: Este artigo pretende pôr em diálogo a antropologia das emoções com as
contribuições mais recentes das neurociências culturais e afetivas, apresentando portanto
uma abordagem biocultural, que tenha em conta os aspetos socioculturais e os
mecanismos neuronais que controlam as respostas emocionais. A partir das teorias que
consideram o ser humano como um ser incompleto e em continua construção, propomos
uma crítica ao reducionismo biológico e cultural, repensando o conceito de incorporação
do ponto de vista da neuroantropologia. A partir desta leitura biocultural das emoções,
consideraremos alguns processos voluntários de auto-construção na direção de
específicos modelos de humanidade, apresentando o debate bioético ligado ao emprego –
massivo e em continuo crescimento - da psicofarmacologia cosmética na construção
cultural das emoções. Palavras-chave: emoções, neurociências culturais, antropologia,
psicofarmacologia.

Homo Incomplete: o cérebro entre opostas: os biologistas e os constru-


natureza e cultura tivistas sociais.

A
Os primeiros sustentam que as
s últimas décadas vi-
emoções são essências universais, ina-
ram surgir um reno-
tas e geneticamente determinadas: fe-
vado interesse acadê-
nômenos biológicos, passivos e invo-
mico para o tema das emoções em
luntários, respostas instintivas aos
diferentes campos disciplinares, como
estímulos do ambiente, ligados mais à
a antropologia, a filosofia, a sociologia
memória filogenética do que a a-
e a história. O debate atual sobre as
prendizagem individual, independen-
emoções continua porém, tirando
tes portanto da cultura e fora dos inte-
algumas raras exceções, a reproduzir
resses e das possibilidades de com-
dicotomias que têm pro-fundas raízes
preensão dos cientistas sociais. O
históricas na nossa tradi-ção cultural
mundo das emoções e dos sentidos
tais como mente/corpo, razão/emoção
pertenceria completamente, nesta ótica,
e cultura/natureza. Podemos recondu-
por um lado à esfera da biologia, que
zir a maior parte dos estudos que até
se ocupa da estrutura genética do ho-
agora foram produzi-dos sobre as
mem, e pelo outro às disciplinas psico-
emoções a duas escolas de pensamento
lógicas: a estas compete a tarefa de

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estudar “o lado obscuro do homem” As duas autoras, no mesmo volume


(LÉVI-STRAUSS, 1962 , p. 99)1. que constitui possivelmente a referên-
Os construtivistas sociais cia principal do pensamento antropo-
afirmam pelo contrário que as emoções lógico sobre as emoções, chegaram a
dependem da interpretação ou avalia- propor uma concepção das emoções
ção de um estímulo, isto é de um pro- como algo que “pertence à vida social
cesso de atribuição de significado e e não a estados interiores” (1990, p.
valor moral a algo que por si mesmo 10), e que “os antropólogos deverão se
não seria emotígeno. As emoções são esforçar por libertá-las da
portanto, segundo esta perspetiva, mo- psicobiologia” (1990, p. 10, 12). Em
delos de experiência adquiridos, histo- outros trabalhos (PUSSETTI, 2005a,
ricamente situados e estruturados na 2005b, 2011) reconstruí o pensamento
base do sistema de crenças, da ordem sobre as emoções nas ciências sociais a
moral, das normas sociais e da lingua- começar pelo trabalho emblemático de
gem próprias de uma dada sociedade. Franz Boas que já em 1888 afirmava
Neste sentido, as emoções são conside- que “as reações emocionais que perce-
radas como construções sociais, variá- bemos como naturais são realmente de-
veis como qualquer outro fenômeno terminadas pela cultura. Os dados
cultural: por um lado, não faz sentido etnográficos confirmam que não só os
falar de emoções universais, idênticas nossos conhecimentos, mas até as
através das culturas e do tempo; pelo nossas emoções são ligadas à forma da
outro, torna-se possível compreender nossa vida social e a história do nosso
as emoções mesmo sem considerar os grupo de pertença” ([1888] 1940, p.
aspetos biológicos. 635, 636), e portanto “é impossível
Aderindo à perspetiva do cons- determinar a piori quais partes da nos-
trutivismo social das emoções, muitos sa vida mental são comuns à inteira
cientistas sociais proferiram po-rém humanidade e quais devidas à cultura
afirmações bastante discutíveis. O fi- na qual vivemos” ([1888] 1940, p.
lósofo Robert Solomon afirmou por 636). Esta contextualização histórica é
exemplo que “a emoção não é uma importante para perceber por um lado
sensação, mas é essencialmente uma as relações entre Boas, Ruth Benedict e
interpretação” (1984, p. 248) e que “a Margaret Mead e as principais teorias
emoção é só um irredutível produto sobre “modelos”, “estilos”, “tons”,
sociocultural” (1984, p. 37). Na mesma “configurações” emocionais, ou ainda
linha, a antropóloga Benedicte Grima “ethos” e “caráter nacional” da escola
sustentou que “a emoção não é de “cultura e personalidade” (BENE-
biologia, mas é só cultura” (1992, p. DICT, 1934; 1936; BATESON e ME-
6), enquanto Lila Abu-Lughod e Ca- AD, 1942; MEAD, 1953), e pelo outro
therine Lutz proclamaram que “longe as etapas da viragem interpretativa da
de ser entidades psicobiológicas inter- antropologia das emoções, a partir do
nas, as emoções são antes cons-truções trabalho sobre o léxico das emoções
socioculturais, estilos culturais, práti- em Java de Hildred Geertz (1959) e do
cas discursivas e performances sociais Clifford Geertz sobre a pessoa em Bali
culturalmente específicas” (1990, p. 2). (1966) até aos trabalhos de Jean Briggs
(1970) entre os Esquimós Utku, de
1 Robert Levy (1973) sobre a etnopsico-
Se Lévi-Strauss certamente exclui as emoções
do logos das ciências sociais, todavia não o po- logia taitiana, e de Michelle Rosaldo
demos considerar “biologista” na sua com- (1980) sobre as paixões dos Ilongot
preensão da realidade social e cultural, mas nas Filipinas. É este o panorama a par-
antes “universalista”, pelas perspectivas con- tir do qual, nos anos Oitenta, aparecem
ceituais do estruturalismo.

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numerosas monografias dedicadas aos o mínimo interesse para os reais as-


discursos sobre as emoções e à relação pectos biológicos das emoções. Temos
entre estas e a sociedade, entendendo que esperar anos bem mais recentes
as emoções não só como veículos ex- para encontrar os primeiros estudos
pressivos, mas como atos pragmáticos, que põem em diálogo a antropologia
linguagem primária para definir, nego- com as neurociências culturais, para
ciar, refletir e estruturar relações soci- tentar ultrapassar a dicotomia cultura e
ais (ABU-LUGHOD, 1986; BAILEY, natureza e chegar a uma compreensão
1983; LUTZ, 1988; MYERS, 1979, que saiba dar conta da complexidade
1986), modelos de pessoa (FAJANS, do comportamento emocional (SELIG-
1983, 1997; RIESMAN, 1977, 1992; MAN e BROWN, 2010; CAMPBELL
WHITE e KIRKPATRICK, 1985), e GARCIA 2009). Estas contribuições
diferencias de status e caracterizações são interessantes porque, apesar de
de gênero (BAILEY, 1983; APPA- partir de bases epistemológicas e obje-
DURAI, 1985; ABU-LUGHOD, 1986; tivos de pesquisa diferentes, acabam
LUTZ, 1990; OBEYESEKERE, 1990; para confirmar as abordagens interpre-
PANDOLFI, 1991). tativas e construtivistas das emoções e
Muitos pesquisadores critica- resolver o aparente conflito entre social
ram, todavia, esta abordagem, jul- e biológico.
gando-a demasiado distante da experi- São especificidade e plasti-
ência real e subjetiva das emoções: cidade e não natureza e cultura, de a-
pelas palavras de Arnold Epstein, “na cordo com as mais recentes contri-
antro-pologia das emoções fala-se buições das neurociências, a fornecer a
muito do coração, mas é um coração dialética que coordena o desenvolvi-
no qual parece não fluir sangue” (1992, mento do sistema nervoso humano, e
p. 280). Catherine Lutz, influenciada ambas são totalmente dependentes
pela antropologia fenomenológica da- tanto dos genes como do ambiente
queles anos (JACKSON, 1983, 1989, (CHANGEUX, 1985; OCHSNER e
1998; STOLLER, 1989; HOLLAN, LIEBERMAN, 2001; LEDOUX, 2002;
1988, 1992, 1997; LYON, 1995; BLAKEMORE e CHOUDHURY,
INGOLD, 1986), acabou por repensar 2006; LIEBERMAN, 2007; HAN e
as suas próprias afirmações e para NORTHOFF, 2008). Sem especifici-
afirmar que nunca entendeu negar a dade, conceito que designa ao nível
dimensão corpórea e incorporada das ontogenético o processo de desenvol-
emoções ou ocultar os aspetos bioló- vimento invariante do cérebro dentro
gicos (LUTZ e WHITE, 1993 , p. 6). de um ambiente flutuante, o cérebro
São os anos nos quais a noção de não seria capaz de desenvolver no mo-
incorporação (embodiment), proposta mento certo os próprios circuitos neu-
por Csordas (1990, 1994) para indicar rais. Sem plasticidade, isto é as varia-
a interseção do biológico e do social no ções que se desenvolvem como adap-
âmbito da experiência vivida, impõe-se tação a contingências ambientais, o sis-
como possível novo paradigma para a tema nervoso em desenvolvimento não
antro-pologia ou como conceito passe- seria capaz de modular a sua resposta
par-tout para ultrapassar a dicotomia aos aspetos mutáveis do mundo, de
mente/corpo ou natureza/cultura. Ape- forma a criar no cérebro uma repre-
sar de reconhecer que a mente está in- sentação deste mundo e um plano so-
corporada, como bem resume o con- bre como agir e interagir com ele
ceito de “mindful body” de Lock e (GOLLIN, 1981; CHANGEUX, 1983;
Scheper-Hughes (1987), os teóricos do EDELMAN, 1987; MASCIE-TAY-
embodiment todavia não demonstraram LOR e BARRY, 1995; GAZZANI-

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GA, IVRY e MANGUN, 1998; OLI- nais de curto e de longo prazo, que
VERO 1998; ROBERTSON, 1999). podem estar relacionadas a mudanças
Apesar de, já desde o século hormonais, a alterações na densidade e
passado, as neurociências considera- comprimento dos dendritos (a parte de
rem o cérebro como um sistema aberto recepção dos neurônios), à germinação
e mutável, a pesquisa empírica sobre a de axônios (a expansão das termina-
influência que os contextos sociocul- ções nervosas responsáveis pela pro-
turais exercem nos mecanismos neuro- dução de impulsos elétricos), ao au-
biológicos começou só nos últimos mento da atividade sináptica, e a varia-
anos, graças ao desenvolvi-mento das ções meta-bólicas, entre outros fatores
técnicas de neuroimagem. (KOLB e WISHAW, 1998).
A noção de plasticidade ocupa O cérebro plástico é portanto
hoje um lugar central no âmbito das “um órgão culturalmente específico”
neurociências e as experiências con- (CLARK e CHALMERS, 1998), “um
duzidas confirmam que o cérebro hu- cérebro ecológico ou cultural, depen-
mano não é um órgão definiti-vamente dente, para toda a sua vida da relação
formado à nascença, mas antes uma com o ambiente natural, social e
entidade dinâmica, moldada pelo am- cultural” (SHORE, 1996 , p. 3, 5). É
biente e pela experiência individual e porém um cérebro incompleto e não
capaz de criar continuamente novas funcional à nascença, dependente da
configurações. Se antes pensava-se na intervenção da cultura (CHANGEUX,
plasticidade como uma caraterística só 1983; EISENBERG, 1995; NELSON,
dos primeiros meses ou anos da vida e 1996; O’LEARY, 1996; MOUNT-
de determinadas partes do cérebro, os CASTLE, 1998; LALAND et al. 2000;
neurocientistas agora comprovaram JOHNSON, 2001; CROMBY, 2004;
que a plasticidade se aplica a todo o MACHAMER e SYTSMA, 2004,
cérebro e para todo o curso da vida MALABOU, 2008).
(MOUNTCASTLE, 1998; HART e A tese da incompletude onto-
RISLEY, 1995; KITAYAMA, 2000; lógica do homem e da interação pro-
MONTGOMERY et al., 2003; STERN funda da sua biologia com fatores
e CARSTENSEN, 2000). A plasti- culturais e ambientais tem uma longa
cidade incide sobre múltiplos proces- tradição filosófica, que vê entre os seus
sos de função e estrutura cerebral. A- precursores, por quanto distantes his-
lém da influência das expe-riências na toricamente e distintos na formu-lação
plasticidade neuronal e sináptica, nos das suas teorias, “pensadores como
últimos anos descobriu-se que os con- Michel de Montaigne, Johannes Niko-
textos sociais causam também mu- laus Tetens, David Hume, Johann
danças não neuronais, por exemplo nos Gottfried von Herder, Friedrich Niet-
astrócitos, na mielinização e na vas- zsche, St. George Jackson Mivart e
culatura cerebral (GROSSMAN et al. Reinhard Gehlen” (REMOTTI, 2005).
2002; MAGUIRE et al., 2000; Ao contrário dos outros ani-
DRAGANSKI et.al., 2006; DRA- mais, que são geneticamente equipados
GANSKI e MAY, 2008). O cérebro dos instintos necessários para a sua
pode criar conti-nuamente novas sobrevivência e a sua adaptação, o ser
células (neurogênese) e novas cone- humano nos primeiros meses ou anos
xões sinápticas entre os neurônios (si- de vida é um organismo prematuro,
naptogénese), e fortalecer ou enfra- vulnerável e indefeso. Justamente por
quecer as conexões já estabelecidas esta indefinição, representada pela re-
(modulação sináptica). Podem verifi- dundância extrema de seu sistema ner-
car-se alterações nas conexões neuro- voso, no momento do nascimento o

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horizonte das possibilidades da criança sistemático de seleção: o recém-nas-


é imenso: o recém-nascido pode se cido adquire linguagem, gestua-lidade,
adaptar a quase todas as solicitações do sentimentos e percepções sen-soriais
ambiente e qualquer futuro é virtual- próprios da cultura corporal e afectiva
mente possível. Será a educação, que específica do seu grupo. Como conse-
compensa a ausência de orientações quência deste mecanismo de desbaste
genéticas específicas a desbastar este de neurónios e sinapses, aproxima-
imenso campo de possibilidades em damente seis meses depois do nas-
favor de uma relação particular com o cimento só cinquenta por cento des-tas
mundo, da qual a criança irá se apro- células será mantida: um processo
priar segundo a sua história pessoal. chamado de morte celular programada.
Uma das características do Esta dinâmica continuará ao longo de
sistema nervoso que é mais toda a vida, porém as alterações não
surpreendente é o grande número de serão tão dramáticas como nos pri-
células e conexões nervosas existentes meiros anos. Durante o longo período
tanto no córtex cerebral e no cerebelo, de ontogênese pós-natal do sistema
duas áreas que estão envolvidos na nervoso os nervos serão mielinizados,
aprendizagem e na memória. Esta acelerando assim a comunicação, no-
abundância é funcional a um sistema vos neurônios nascerão nas regiões
seletivo, destinado a reduzir as principais do córtex e se criarão novas
possibilidades através da aprendi- conexões sinápticas. O isolamento
zagem. A aprendizagem é, portanto, natural do córtex e as conexões de
um trabalho sistemático de poda, de mielina entre os axónios, necessárias a
desbaste, de redução de possibilidades: permitir uma condução eficiente de
para as neurociências, aprender impulsos eléctricos, não se formarão
significa eliminar. Durante o desenvol- completamente antes dos seis anos de
vimento prénatal, o cérebro fetal pro- vida. Apenas na puberdade podemos
duz cerca de 250.000 células nervosas dizer que a maturação física do cérebro
a cada minuto de cada dia durante todo humano é completa, embora o desen-
o período da gestação. E se esta volvimento neuronal continue ao longo
imagem não surpreendesse o suficien- de toda a vida. Esta combinação de
te, tanta é a densidade de cone-xões nascimento prematuro e desenvolvi-
entre os neurônios que pode-mos mento retardado significa que pelo
imaginar a criação de até 30.000 menos três quartos do cérebro humano
sinapses por segundo por cada centí- irão desenvolver-se fora do útero, em
metro quadrado de superfície cortical relação direta com o ambiente externo.
durante toda a gravidez. A super- As primeiras áreas do cérebro a
produção de neurônios e sinapses ga- alcançar um desenvolvimento com-
rante que uma criança nascida em pleto são o tronco cerebral e o mesen-
qualquer lugar do mundo e em céfalo: as áreas que regulam as funções
praticamente todas as circunstâncias corporais autónomas essenciais à
possíveis, possa criar uma confi- sobrevivência (respiração, digestão,
guração neuronal adequada à sua excreção, termorregulação ). Pensa-se
sobrevivência. que as atividades do recém-nascido
Durante o processo de cresci- sejam controladas principalmente pela
mento, enquanto o ser humano aprende medula espinal e pela parte inferior do
a gerir o mundo à sua roda e a manter tronco encefálico. É possível que seja
relações sociais, algumas conexões ser- parcialmente envolvido também o tála-
ão mantidas e outras eliminadas. A mo, mas em qualquer caso o córtex
educação desempenha um trabalho cerebral desempenha um pequeno

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papel na vida do bebé. O córtex pré- porosidade “períodos críticos os sensí-


frontal, que permite o pensamento abs- veis” (MARKUS e KITAYAMA,
trato, a amígdala e o sistema límbico, 1991, p. 6): o período crítico do cres-
que estão envolvidos na regulação cimento sináptico e da diferenciação da
emocional, são áreas que se desen- estrutura límbica e do córtex pré-fron-
volverão mais tarde (LAUGHLIN, tal que regulam as emoções começa no
1989, 1991; EMDE, 1984; PRIBRAM, final do primeiro ano de vida da
1984; TUCKER e FREDERICK, 1989; criança, e este processo de desen-
HUTTENLOCHER, 1990; JENKINS e volvimento é significativamente influ-
OATLEY, 1996). É por causa disto enciado pela relações sociais e afetivas
que as emoções dos bebês, que ainda com o caregiver primários (SCHORE,
são manifestamente organismos sub- 1994, p. 13; 1998, p. 191). Quando a
corticais, são incontroladas e inde-fin- criança ultrapassa este período de
idas. receptividade particular, que se situa
Se as emoções são reguladas entre mas ou menos os dezoito meses e
por áreas subcorticais, estas são toda- os três anos de vida, não será possível
via integradas e controladas por estru- desenvolver uma emotividade humana
turas corticais que transmitem diretivas com a mesma facilidade. A plastici-
de ação e informações cul-turais (sim- dade do cérebro é, portanto, uma faca
bólicas, semióticas e cog-nitivas) ao de dois gumes: por um lado, oferece a
sistema límbico (SCHORE, 1994, p. possibilidade ao corpo em crescimento
35, 41-42). Através da me-diação do de se adaptar da melhor forma possível
córtex, definido “o cavalo de Tróia das ao ambiente em que se desenvolve;
emoções” (RATNER, 1991, p. 224- pelo outro, também significa que con-
237; SCHORE, 1998, p. 69; ARM- dições adversas do ambiente podem ter
STRONG, 1999, p. 269-270), as info- consequências irreversíveis sobre o seu
rmações culturais penetram no sistema desenvolvimento, segundo a progra-
límbico: é por causa disso que as mação da “especificidade”.
emoções não são reações imediatas a Nos primeiros anos de vida, o
estímulos externos ou a mecanismos cérebro não só é biologicamente prepa-
biológicos internos, mas, pelo contrá- rado acolher as diretivas da experiên-
rio, dependem da aprendizagem in- cia: a sua maturação precisa estas soli-
dividual e da assunção de modelos de citações. Se durante esse período não
comportamento socialmente definidos forem oferecidas estimulações sufici-
(SIEGEL, 1999, p. 122, 131-132; entes a amígdala, o hipocampo e os
ARMSTRONG, 1999). núcleos septais irão atrofiar, os circui-
tos neuronais não se desenvolverão
Homo Emotionale: uma leitura bio-
adequadamente, o crescimento sináp-
cultural das emoções
tico irá parar, e a própria sobrevivência
De acordo com as neuro- de dendritos, axônios e neurônios será
ciências, o comportamento emo-cional colocada em risco.
é gerido e organizado por áreas do cé- A necessidade de estímulo so-
rebro cuja formação e maturação é cial e emocional é tão imperativa que,
completamente pós-natal e que não se nos primeiros anos de vida, as crianças
tornariam funcionais sem a esti- procuram continuamente contato mes-
mulação certa no período adequado mo com mães que os rejeitam vio-
(ROBERTSON, 1999, p. 183; LAZA- lentamente e os maltratam ou abusam
RUS, 1984, p. 230). fisicamente. Os estudos realizados
Os neurocientistas definiram desde 1945 pelo psicanalista infantil
estes momentos muito especiais de René Spitz sobre os efeitos neurofisi-

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ológicos da deprivação afetiva eviden- ressonância magnética permite de-


ciaram que as crianças privadas de monstrar que no primeiro ano de vida
relações emocionais não desenvolvem as interações afetivas são funda-
de forma adequada a ligação entre cór- mentais para o correto desenvol-
tex cerebral e diencéfalo. Esta conexão vimento da estrutura cerebral da cri-
é fundamental para que a criança possa ança (SCHORE, 2000; SABLE, 2008).
desenvolver as capacidades emocionais Neste período o volume total do
que consideramos como tipicamente cérebro aumenta 101% e o volume do
“humanas”. Spitz analisou em particu- cerebelo 240% (KNICKMEYER et al,
lar o comportamento de crianças hospi- 2008): o crescimento da substância
talizadas ou institucionalizadas desde cinzenta ligado à intensa arborização
os primeiros meses de vida em ambi- dendrítica e axonal, bem como ao
entes com insuficiente estimulação aumento da densidade sináptica e o da
social e emocional e observou que a substância branca que constitui esses
deprivação emocional gera distúrbios órgãos depende da qualidade das
evolutivos ao nível afetivo, cognitivo e experiências oferecidas à criança no
linguístico. As crianças em observação meio em que ela vive, tornando-se
apresentavam sintomas múltiplos quais portanto vulnerável aos estímulos
perdas de peso, insônia, incapacidade ambientais e afetivos cuja carência
de comunicação, fragilidade às doen- pode deixar sequelas para o resto da
ças, atraso motor generalizado, inex- vida do indivíduo (OLAZÁBAL e
pressividade facial, incapacidade de YOUNG, 2006; BUSTOS, 2008).
relacionamento emocional, letargia e Em trabalho anteriores (PUS-
anorexia. 37,3% das crianças examina- SETTI, 2005, 2009), apresentei os
das acabaram por morrer dentro do efeitos do isolamento prolongado sobre
primeiro ano de vida. Os que sobrevi- o comportamento emocional, anali-
veram manifestaram graves atrasos do sando alguns casos particular-mente
processo de desenvolvimento, ao ponto emble-máticos de crianças que foram
de não se sustentar de pé, andar ou criadas por animais, ou abandonadas,
falar adequadamente (SPITZ, 1945, ou em situações de isolamento social
1949). extremo nos primeiros anos de vida. A
Confirmam os dados de René expe-riência e a expressão emocional
Spitz, as pesquisas realizadas pelo psi- destas crianças coloca-se aos limites do
quiatria britânico John Bowlby (1953, que consideramos como “comporta-
1977) sobre o quadro clínico originado mento humano”, confirmando que até
pela privação materna. Segundo as mesmo os nossos sentidos e as e-
suas pesquisas, as crianças deprivadas moções mais íntimas revelam o am-
nos primeiros e fundamentais anos de biente social e cultural particular em
vida de estímulos afetivos desenvol- que crescemos. Parece então, como já
vem deficits permanentes semelhantes afirmava nos anos Setenta o antropó-
aos causados pela amigdalectomia. Re- logo Clifford Geertz, que sem o espe-
centemente, as suas conclusões foram lho das palavras e dos comportamentos
confirmadas por observações efetuadas dos outros, sem relações sociais que
com crianças encontradas em orfanatos possam moldar a relação com o mundo
romenos sobrelotados, depois da queda "o comportamento do homem seria
de Ceausescu, em 1989. A maior parte praticamente ingovernável, um mero
das crianças entre os dois e os quatro caos de ações inúteis e emoções em
anos de vida não manifestava emoções, tumulto, a sua experiência seria prati-
não reagia aos estímulos, não camente informe" (GEERTZ, 1987, p.
conseguia nem andar nem falar. A 89).

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O desenvolvimento emocional processo de “interiorização” é extre-


é, portanto, constitucionalmente ligado mamente complexo. A ordem social,
à aprendizagem individual e à as- de fato, nas palavras de Claudia
sunção de padrões de comporta-mento, Strauss, não um “master pro-
estruturas interpretativas e di-retivas de grammer”, assim como a cultura não
ação socialmente com-partilhados, pode ser “loaded in” como se fossemos
mediados pela atividade de áreas computadores (1992, p. 8, 11). A a-
neocorticais e compatíveis com a quisição destes modelos nunca é uma
organização em conexões reticular de replicação pura, como nas digita-
células nervosas (SAARNI, 1993; lizações ou nas transmissões de fax
LEWIS e SAARNI, 1985; RATNER, (1992, p. 1-2): para entender porque as
1989). São precisamente estes pro- pessoas fazem o que fazem, afirma
cessos de avaliação culturalmente Strauss, temos portanto que rejeitar
específicos que, atribuindo valor aos não só o determinismo psicobiológico,
estímulos, torná-los significativos para mas, também, o determinismo socio-
o indvíduo e, consequentemente, emo- cultural (1992, p. 1).
tígeno e que ao mesmo tempo tornam o Assim, em vez de serem re-
indivíduo um ser "emocional". Wil- ceptores passivos das informações do
liam Reddy fala a este respeito de ambiente, os seres humanos são cria-
“emotives” ao mesmo tempo “self-ma- dores ativos de seu próprio mundo. Os
king, self-exploring e self-altering” seres humanos, de fato, continua Ste-
(2001, p.32) ven Rose, constroem continuamente os
Os modelos pelos quais os ambientes materiais e sociais dos quais
indivíduos reduzem a complexidade do eles precisam para se completar (2005,
que sentem, pensam ou percebem em p. 206). De acordo com as neurociên-
cada momento - organizando dina- cias, portanto, o ser humano está cons-
micamente a arquitetura neuronal e tantemente envolvido, como diria Lé-
modificam as conexões sinápticas - são vi-Strauss, em um trabalho de bri-
adquiridos não através de genera- coleur: “a nossa própria biologia nos
lizações explícitas, mas através de transformou em criaturas que constan-
experiências pragmáticas e ações temente recriam os seus ambientes
quotidianas. O cérebro da criança, a- neuropsíquicos e materiais” (ROSE,
firma o neurobiólogo Steven Rose LEWONTIN e KAMIN, 1983, p. 297).
(2005, p. 159), reage às instruções de Contra formas rígidas de determinismo
indivíduos específicos em contextos biológico ou cultural, estes teóricos
locais para aprender a dotar de um propõem uma concepção do construti-
significado os input sensoriais, pas- vismo social que coloca o ser humano
síveis de ser interpretados de múltiplas no centro da cena: uma leitura que es-
formas. Os ambientes nos quais os tabelece uma relação dialética entre o
seres humanos vivem são ambíguos e ser construído (processos antropo-poi-
complexos e, portanto, abertos a éticos) e o se construir a si próprio
interpretações divergentes, e a sua (processos auto-poiéticos). A “capaci-
codificação em categorias distintas e dade divina dos seres humanos”, como
definidas depende da percepção e da a definiu Edmund Leach (1969, p. 90),
avaliação individual. Como as expe- é precisamente a de criar, transformar e
riências de vida podem ser similares, inventar continuamente a sua própria
mas nunca idênticos, e o “ambiente arquitetura neuronal, no entanto, que
cultural” não fornece diretivas co- altera a natureza física, social e cultural
erentes, mas apresenta mensagens con- do mundo (1969, p. 26): é neste sen-
flituosas, ambíguas e transitórias, o tido que Leach afirma que a mente

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humana é “poiética” (1976, p. 5). neurogénese no hipocampo e, portanto,


Também no que diz respeito à experi- os seus correlatos funcionais: cog-
ência emocional, poderíamos dizer que nitivos, emocionais e comportamen-
o homem é entregue a si mesmo e, tais. Por exemplo, o trabalho do neuro-
portanto, condenado, como diria Jean- biólogo Richard Davidson (2001,
Paul Sartre (1965, p. 543), a construir 2004) evidencia como os exercícios ou
os modelos de referência dos quais ele práticas que ele define como “auto-
mesmo será construído. poiéticas”, como a meditação, podem
Ao lado destes processos de alterar a arquitetura neuronal do cére-
construção que ocorrem nos processos bro, reforçando os neurotrans-missores
silencioos da quotidianidade e na envolvidos no bem-estar físico e
autoridade não declarada do hábito e mental.
da convenção, existem também proces-
Homo Faber: intervenções de psi-
sos que pelo contrário interrompem a
cofarmacologia cosmética
normalidade, moldando drasticamente
a personalidade dos indivíduos para Entre as práticas contemporâ-
coincidir com os modelos estéticos e neas destinadas a moldar ou alterar
éticos de humanidade que cada con- conscientemente e de forma rápida as
texto traz consigo. Refiro-me a todos próprias emoções, de particular interes-
aqueles processos que, intro-duzindo se do ponto de vista antropológico
violência, medo, dor física e psi- resulta o emprego autopoiético da
cológica, determinam a ativação do psicofarmacologia cosmética, um
sistema neuroendócrino, que reage à termo cunhado pelo psiquiatra Peter
circulação dos hormonas produzidos Kramer em 1993 no seu best-seller
pelas glândulas suprarrenais: em Listening to Prozac. Com esta ex-
particular, a adrenalina, que interage pressão Kramer estava se referindo, em
com os receptores da amígdala, ponto- particular, ao uso de antidepressivos,
chave do circuito emocional do cérebro particularmente a fluoxetina, um inibi-
e centro da memória emocional, e o dor seletivo da recaptação de sero-
cortisol, que estimula o hipocampo tonina (ISRS ou SSRI), colocada no
potenciando a aprendizagem e au- mercado sob o nome comercial de
mentando a retenção de memórias. Os Prozac, para alterar voluntariamente as
trabalhos de Harvey Whitehouse emoções em pessoas não clinicamente
(2005; WHITEHOUSE e LAIDLAW, deprimidas, ao fim de fabricar pessoas
2004) sobre emoções, hormônios do mais confiantes, relaxadas, felizes,
estresse e memória nos rituais de otimistas e ‘socialmente atrativas’
iniciação são exemplos emblemáticos. (KRAMER, 1993, p. XVI). Estamos
Pertencem a este tipo de intervenções todos bastante familiarizados com o
todas as práticas, físicas, farma- emprego da cirurgia plástica para fins
cológicos ou comportamentais, des- estéticos. A maioria das pessoas que se
tinadas a transformar as emoções das submetem a tais procedimentos não
pessoas de forma rápida para que precisa realmente deles - não têm
coincidam com os ideais da sua própria malformações congénitas e não tive-
comunidade. Os avanços da neuro- ram graves acidentes - mas querem
imagiologia permitem observar os e- melhorar a sua aparência física na di-
feitos de certas práticas sociais, como reção de um ideal estético. Da mes-ma
por exemplo os rituais de iniciação, o forma, o conceito de "psico-
jejum ou a meditação nas estruturas farmacologia cosmética" indica a utili-
cerebrais envolvidas no circuito zação de fármacos para melhorar a
emocional, afetando em particular a própria condição psicológica na ausên-

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cia de psicopatologia. Querem ser mais (AA.VV, 2003). A ideia à base era
extrovertidos e socialmente atraentes, formar desde já indivíduos destinados
mostrar boas performances intelec- ao sucesso escolar, profissional e à
tuais, ser mais focados e rápidos no uma favorável integração social. O
trabalho. poder transformador do Prozac, como
A utilização de extractos de Kramer escreve no seu livro mais
plantas ou enzimas de fungos que famoso, é o de ser uma “pílula da
atuam ao nível sináptico, interagindo felicidade”: se a medicina e a cirurgia
com um ou mais mecanismos res- estética moldam os corpos, os
ponsáveis pela transmissão do sinal de fármacos consentem ter um desem-
nervoso, para estimular ou inibir pro- penho intelectual excecional e per-
cessos cerebrais dedicados a funções mitem às pessoas ser agradáveis e lidar
específicas do comportamento, como com as situações do quotidiano de
as emoções ou as percepções, é cer- forma positiva (RATNER, 2004).
tamente uma das mais antigas práticas Num mundo com exigências
da história humana. Do mesmo modo, cada dia mais altas, torna-se impera-
estes fármacos exercem os seus efeitos tivo - para ser bem sucedidos – satis-
ao nível sináptico, intervindo dire- fazer critérios seletivos de beleza,
tamente no processo de trans-formação desempenho escolar, realização profis-
dos sinais nervosos de elé-tricos em sional e comportamento social. Não só
químicos, isto é interferindo na o corpo torna-se um capital sobre o
interação entre neurotransmissores e qual investir, mas também as nossas
receptores. emoções e capacidades intelectuais
O que torna o caso da psico- têm que ser manipuladas para
farmacologia cosmética particular- progredir na escada social. Alguns
mente interessante é o crescimento ex- autores falaram explicitamente da
ponencial nos últimos dez anos da psicofarmacologia cosmética como de
utilização de medicamentos como an- uma prática de auto-construção,
siolíticos, antidepressivos, hipnóticos e indicando emblematicamente o caso do
estabilizadores do humor em con- Prozac como estratégia de mani-
sumidores sem manifestações clínicas pulação das emoções segundo os
de doença. Em 2002, o mercado mun- modelos culturais e as específicas
dial de Prozac ascendeu a um valor de exigências sociais, políticas e econó-
cerca de 17 bilhões de dólares e se mica (DE GRAZIA, 2000, 2004,
tornou o segundo medicamento mais 2005a, 2005b). Se altos requisitos do
vendido no mundo. As estratégias de sucesso impõem transformações rápi-
marketing da empresa farmacêutica Eli das, todavia a psicofarmacologia
Lilly são fascinantes: em 1997, entrou cosmética (do grego kosmeo, arrumar,
em comércio uma variedade de Prozac embelezar, harmonizar) enquanto
pediátrica com sabor hortelã ou prática de maquiagem emocional, é
morango. Os comprimidos, até em considerada de forma negativa como
versão chiclete, tiveram um enorme um engano ou uma ficção. Se práticas
sucesso, juntamente com a Ritalina, autopoiéticas como a educação, a
para construir crianças serenas, bem meditação ou a oração, são consi-
dispostas, atentas e produtivas na deradas naturais ou até mesmo
escola. Um estudo de dezembro de virtuosas, porque implicam esforço
2003 relata que cerca de 50.000 individual, o atalho que a farmacologia
crianças com menos de 12 anos de oferece é considerado como uma
idade na Inglaterra estavam a ser falsificação, uma manipulação
tratados regularmente com o Prozac artificial da personalidade e, portanto,

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algo moralmente problemático dade, passividade e veracidade


(SPERRY e PROSEN, 1998). da emoção pressupõe uma certa
Em um texto de referência definição de autenticidade: a e-
sobre os problemas bioéticos do uso de moção é verdadeira, naturalmen-
Prozac como prática autopoiética, Carl te verdadeira, mas sobretudo
Elliott e Erik Parens levantam a espontaneamente verdadeira. Es-
questão espinhosa da autenticidade do ta definição de autenticidade ex-
self (ELLIOTT, 1998, p. 182, 186; PA- pressa outra vez a separação di-
RENS, 1998, p. 23). Se os psico- cotômica entre natureza e cultura
fármacos podem transformar as emo- (2001, p. 83).
ções artificialmente regalando uma
Esta ideia do eu como
personalidade melhor, todavia esta não integrado, único e “interno” e das
é uma personalidade real, nem estas emoções como naturais e autênticas
são emoções verdadeiras (ELLIOTT, encontra-se na base das discussões
1998, p. 182). O desconforto de Elliott bioéticas sobre os limites da “manipu-
baseia-se em uma representação do self lação” e da construção da persona-
e das emoções como algo “dado”, e lidade. O debate atual sobre limites e
portanto natural, íntimo, real, genuíno, consequências da manipulação cultu-
autêntico. Na mesma linha de ar- ral das emoções abre questões de ex-
gumentação, Eric Gable e Richard tremo interesse antropológico que
Handler (1998, p. 568), antropólogos indicam futuros percursos de pesquisa.
respectivamente do Mary Washington Até que ponto o homem é livre
College and University of Virginia, de se transformar e construir alterando
escrevem que a cultura euro-americana
farmacologicamente a autenticidade de
perdeu autenticidade. A dimensão da suas emoções? Qual é a diferença do
autenticidade é algo muito interessante ponto de vista ético entre moldar a
no pensamento euramericano e a própria personalidade através do
dialética entre verdade e falsidade, estudo, da meditação, das artes e o uso
espontaneidade e artifício desperta de drogas psicoativas? Podemos con-
debates éticos acesos (CHIANG, siderar o emprego cosmético da psico-
2009). A filosofa Vinciane Despret, farmacologia como uma farsa, uma
que no título de seu livro mais famoso fraude, uma maneira de contornar os
define as ciências ocidentais da psique obstáculos? Se todas as emoções são
como “etnopsicologia da autentici- culturalmente construídas, porque
dade” (2001), argumenta que o fas- julgamos que as intervenções de
cínio com a autenticidade da emoção e “maquiagem” farmacológico dão ori-
da singularidade e estabilidade do self
gem a uma personalidade falsa e não
é uma característica distintiva da nos- autêntico? Porque este “fazer” emo-
sa tradição intelectual: ções é considerado e condenado como
A ideia de um “eu” autêntico ou um “contrafazer”? As questões são
de um núcleo de irracionalidade semelhantes às levantadas pelo uso de
"escondido" ou protegido dentro esteróides e outras sustâncias no cam-
do corpo é uma representação da po de atletismo, como bem de-monstra
emoção que cultivamos na nossa a luta ao doping. Será que o problema
tradição. Esta representação arti- é a ausência de esforço e de sofri-
cula-se muito bem com a mento, de trabalho árduo numa cultura
imaginação que colocam as emo- que valoriza o sacrifício? E mais ainda:
ções nos indivíduos, em vez que quais são os confins entre emprego
nas relações. Nota-se que esta terapêutico e cosmético? Quem é que
relação única entre interiori- tem o poder de traçar a fronteira? Será

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que estamos destinados, como sustenta BATESON Gregory, MEAD Margaret.


o sociólogo Nikolas Rose (1996, 2003, Balinese Character: A Photographic
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Quem propõe os modelos aos quais ment of the adolescent brain: Implica-
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The reasons of the heart: between cultural neuroscience and anthropology of emotions

Abstract: This article intends to present a biocultural approach to emotions through a di-
alogue between anthropology and the latest contributions of cultural and affective neuro-
science, taking into account the socio-cultural aspects and the neural mechanisms that
control emotional responses. From theories that consider the human being as an incom-
plete being always in construction, we propose a critique of biological and cultural re-
ductionism, rethinking the concept of incorporation from the perspective of
neuroanthropology. Through this biocultural approach, we consider some voluntary pro-
cess of self-construction in the direction of specific models of humanity, presenting the

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bioethical debate linked to employment - massive and continued growth – of cosmetic


psychopharmacology in the cultural construction of emotions. Keywords: emotions, cul-
tural neurosciences, anthropology, psychopharmacology

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