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Ecologia da Floresta

C u r s o d e C a m p o - 2 0 0 2

S e g u n d a E d i ç ã o

Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais - PDBFF


Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA

Jansen Zuanon
Eduardo Venticinque

Novembro - 2002

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 1


Alunos

Ana Maria Ana Paula André Carina

Carolina Eduardo “Guma” Eduardo Flaviana

Flávio Genimar George Josué

Luiz Patricia Paula Sylvia

2 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Vanina Yumi Daniela

Coordenadores Monitores

Jansen Dadão Ocirio “Juruna” Marcelo “Pinguela”

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 3


Avaliação da especificidade entre o galhador e a planta hospedeira ..................................................................... 6
Índice
Relação alométrica de agregados de Leucage sp. (Tetragnathidae) com atributos ambientais e espaciais .................... 9
Avaliaçãoentre
Relações da especificidade entre o galhador
o solo e a profundidade e a planta
da liteira em umahospedeira na Reserva
área de Floresta Adolpho
Tropical Úmida,Ducke,
Manaus, Amazônia Central 612
AM ...................
Relação
Uso alométrica
de poças de agregados
permanentes de Leucage
e temporárias sp. (Tetragnathidae)
por Rivulus com atributos Cyprinodontiformes)
compressus (Osteichthyes; ambientais e espaciais 9
..................... 14
Relações entre
Estrutura o solo e de
da vegetação a profundidade
sub-bosque em da uma
liteira emde
área uma área deseletiva
extração FlorestadeTropical
madeiraÚmida, Manaus,
na Amazônia AM ................
Central 12 17
Uso deda
Efeito poças permanentes
extração seletiva edetemporárias
madeira sobre por aRivulus
estrutura compressus
da vegetação (Osteichthyes;
em uma área Cyprinodontiformes)
da Amazônia Centralna.................
Reserva 19
Florestalda
Comparação A.biomassa
Ducke, Amazônia
e abundância Central 14 entre uma área de floresta preservada e uma com ......................... 22
de lianas
Estrutura daselecionam
Herbívoros vegetação folhasde sub-bosque
compostas? em ......................................................................................................
uma área de extração seletiva de madeira na Amazônia Central 17 24
Efeito da extração
Influência seletiva
da exploração de madeira
madeireira na sobre a estrutura
diversidade da vegetação
e abundância em uma
de aranhas área da Amazônia Central 19
....................................................... 26
Comparação da biomassa
Efeito da extração seletivae deabundância
madeira na decomunidade
lianas entre de uma área de em
formigas floresta preservada
diferentes escalase uma com exploração seletiva28
.....................................
de madeira
Estrutura na Amazônia
das Populações 22
de Três Espécies de Palmeiras em duas áreas Florestais na Amazônia Central ..................... 31
Herbívorosdeselecionam
Densidade plântulas em folhas
áreascompostas?
preservadas24 e sob extração seletiva de madeira na Amazônia Central ..................... 33
Influência
Fatores da exploração
ambientais madeireira
associados na diversidade
à localização das tocas e abundância de aranhas
de bodós Liposarcus pardalis26 (Loricariidae) no ..................... 35
Efeito da extração
Distribuição vertical seletiva de madeira
de Spongilla na comunidade
sp. (Spongillidae, de formigas
Porifera) em área emdediferentes
várzea naescalas 28
Ilha da Marchantaria, ................ 37
Estrutura
Fauna das Populaçõesnas
de Invertebrados deraízes
Três Espécies de Palmeiras
de Eichhornia crassipesem duas áreas Florestais
(Pontederiaceae) na Amazônia
na várzea no períodoCentral 31
de seca ............... 39
Densidadede
Utilização de espécies
plântulasarbóreas
em áreaspor preservadas e sob extração
esponjas (Porifera, seletiva na
Spongillidae) de madeira na Amazônia
várzea: distribuição Central e ................
horizontal 33 41
Fatores ambientais
Influência da topografiaassociados à localizaçãona
e da luminosidade das tocas de bodós
regeneração Liposarcusvegetal
da comunidade pardalisna(Loricariidae)
várzea, Ilha da no.....................
lago Camaleão,43
ilha da Marchantaria
Distribuição de morfotipos 35 de Libellulidae (Odonata: Anisoptera) em uma área aberta e outra fechada .................... 45
Distribuição
Fauna vertical de associada
de invertebrados Spongilla asp. (Spongillidae,
bulbos de Eichhornia Porifera) em área
crassipes (Mart.)de várzea
Solms.na Ilha da Marchantaria,
(Pontederiaceae) Amazônia 48
em ...................
Centralassociada
Ictiofauna 37 a capins flutuantes no lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria, AM ...................................... 51
Fauna de Invertebrados
Distribuição nas raízes (Alligatoridae)
de Caiman crocodilus de Eichhornia crassipes (Pontederiaceae)
no Lago Camaleão, Ilha da na várzea no período
Marchantaria, Amazonas, de seca no ..........
Brasil. Lago 54
Camaleão,
Distribuição de Ilha da Marchantaria,
freqüência de habitatsAM, Brasil.
por aves 39 piscívoras do Lago Camaleão, Ilha da Marchantaria, AM .... 55
aquáticas
Utilização da
Influência de luminosidade
espécies arbóreas por esponjase investimento
no crescimento (Porifera, Spongillidae)
reprodutivonadevárzea: distribuição
Psychotria horizontal
sp. (Rubiaceae) e proximidade58
.....................
ao rio Solimões
Orientação de fixaçãonadas Ilhaesponjas
da Marchantaria,
Spongilla sp.AM.(Spongillidae,
41 Porifera) relacionada à direção do fluxo .................. 59
Influência
Efeito da topografia
de borda e da luminosidade
sobre a composição na regeneração
e abundância de galhasda emcomunidade vegetal na(Polygonaceae)
Symmeria paniculata várzea, Ilha da na Marchantaria,
................. 61
AM
Territorialidad43e interacciones entre hembra-macho en Diastatops cf. emilia (Odonata, Libellulidae) ........................ 63
Distribuição de
Distribuição de Spongilla
morfotipos sp.de(Spongillidae,
Libellulidae (Odonata:
Porifera) em Anisoptera)
gradiente em uma área aberta
de inundação em uma e outra
matafechada
de Igapóda................
Ilha da 64
Marchantaria,
Riqueza e abundância Amazonas, Brasil de plantas
da comunidade 45 em três ambientes de igapó, no arquipélago de ........................... 66
Fauna dos
Efeito de invertebrados
pulsos de inundação associada na amortalidade
bulbos de Eichhornia
de árvores crassipes
em um igapó (Mart.) Solms. (Pontederiaceae)
no Arquipélago em uma área de 69
de ...................................
várzea
Efeito na Amazônia
da coloração Central 48 de Diastatops cf. emilia (Odonata:Libellulidae) no ..................................... 71
no comportamento
Ictiofauna associada
Distribuição de plântulasa capins flutuantes
em relação no lago dona
à planta-mãe Camaleão, Ilha da Marchantaria,
espécie Astrocaryum AM 51
jauari (Arecaceae) ............................... 73
Distribuição
Algunos de Caiman
factores crocodilus
que influyen en el (Alligatoridae)
crecimiento apical no Lago Camaleão,
de plantas jovenes IlhadedaTovomita
Marchantaria, Amazonas,
sp.(Clusiacea) Brasil.
....................54
75
Distribuição
Abrigos de freqüência
de formigas e proteçãode habitats por aves aquáticas
contra herbivoria em Miconia piscívoras do Lago
phanerostila Camaleão, Ilha da
(Melastomataceae) Marchantaria, AM 55
............................... 76
Influência da luminosidade
luz no grau deno crescimento
herbivoria e investimento
em Miconia reprodutivo
cf. phanerostila de Psychotria sp........................................
(Melastomataceae) (Rubiaceae) no sub-bosque de 78
várzea,
A idade foliarrioinfluencia
Solimõesa herbivoria58 em Vismia japurensis (Clusiaceae)? ............................................................ 81
Orientaçãodadesecreção
Eficiência fixação repugnatória
das esponjas de Spongilla
Manaosbia sp. (Spongillidae,
scopulata (Opiliones)Porifera) relacionada
contra predadoresà direção do fluxo
generalistas do Rio
................... 83
Solimões
Aceitação na Ilha da Marchantaria,
de indivíduos alados de Pheidole Amazônia
minutula Central
(Formicidae) 59 por outras colônias em função da ..................... 86
borda sobre
Efeito de borda sobre a herpetofauna
composição ede abundância
serapilheira de em
galhas
umaem Symmeria
floresta paniculata
de terra firme na(Polygonaceae)
Amazônia Central na ................
margem do 88
lago do de
Diversidade Prato, arquipélago
galhas em ambientes de Anavilhanas,
de borda e Amazônia
de interior Central 61
da mata .................................................................. 90
Territorialidad
Estratégia foliare einteracciones
herbivoria em entre
matashembra-macho
de baixio e platô en Diastatops
na Amazônia cf. emilia
Central(Odonata, Libellulidae) 63
..................................................... 92
Distribuição de Spongilla
Efeito das clareiras sp. (Spongillidae,
na de remoção de frutos de Porifera)
palmeira em(Astrocaryum
gradiente de aculeatum)
inundação em emuma matadedeterra
floresta Igapó, Arquipélago95
...................
de Anavilhanas,
Abrigos de formigas eAmazonas.
proteção contra 64 herbivoria em Miconia cf. phanerostila (Melastomataceae) .......................... 98
Riqueza
Frecuenciae abundância da comunidade
de vocalizaciones de guaribadeAlouatta
plantas em três ambientes
seniculus en una Selvade igapó, no arquipélago
de tierra-firme, de Anavilhanas,
Reserva AM 103
......................... 66
Efeito dos pulsosterritorial
Comportamento de inundação na mortalidade
de Chalcopteryx de árvores
scintilans em um igapó no Arquipélago
(Odonata:Polythoridae) de Anavilhanas, AM 106
.................................................... 69
Efeito da coloração
Evidências usadas por nocutias
comportamento
(Dasyproctadeleporina
Diastatops cf. emilia
(Husson, (Odonata:Libellulidae)
1978), Rodentia, Mammalia)nonaArquipelago de
localização ................ 109
Anavilhanas,
Efeito da coloraçãoRio e doNegro,
odor Amazonas
na predação de71 frutos artificiais em uma área de terra firme na Amazônia Central ..... 111
Distribuição
Viver ou morrer:de plântulas
apenas uma em questão
relação àdeplanta-mãe
estratégia?na......................................................................................
espécie Astrocaryum jauari (Arecaceae) em uma área de igapó115 do
Rio Negro
Relações 73
entre morfologia externa e ectoparasitismo em morcegos (Chiroptera, Mammalia) na Amazônia Central ..... 119
Algunos factores
Caracterização que influyen
hierarquica en elde
da bacia crecimiento
drenagem apical de plantas
na Reserva Km 41, jovenes
Manausde AM Tovomita sp.(Clusiacea) en un area 124
...............................................
sometida
Fatores a inundacion
de mortalidade de aguas
de galhas emnegras,
ambientes Arquipelágo
de borda Anavihanas,
e de interior da AMmata .................................................
75 127
Abrigos de formigas
Caracterização e proteção
de ninhos e estágioscontra
de herbivoria
desenvolvimentoem Miconiade vespasphanerostila
(Vespidae: (Melastomataceae)
Polybiinae) de uma área 76 ................. 131
Influência da luz no
Grupos funcionais degrau de herbivoria
artrópodes em Miconia
de serapilheira cf. phanerostila
diferem na campinarana (Melastomataceae) 78
e no platô? ......................................... 135
A idade foliar
Influência influencia aFísicos
de Parâmetros herbivoria em Vismia
na Riqueza japurensis
de Peixes (Clusiaceae)?
em Igarapés de Terra Firme81 na Amazônia Central ................. 138
Eficiência da secreção
História Natural repugnatórialongicornis
de Heteroprhynus de Manaosbia scopulata
(Arachnida, (Opiliones)
Amblypygi) contra predadores generalistas 83
............................................................. 141
Aceitação de indivíduos
Efeito da distribuição alados
de aves nade Pheidole
predação deminutula
lagartas (Formicidae) por outras colônias em função da distancia da 143
artificiais .....................................................................
colônia
Defensa de origem.
biológica en la planta 86 mirmecófita Maieta guianensis: respuesta inmediata al daño foliar, y .................... 146
Efeito de borda sobre
Comportamento a herpetofauna
de Gonatodes humeralis de serapilheira em uma floresta
(Sauria, Gekkonidae) em áreade terra firme.............................................
perturbada na Amazônia Central 88 151
Diversidade de galhas
Riqueza de insetos em ambientes
galhadores e de suasde borda
plantase de interior daem
hospedeiras mata
clareiras 90e áreas de floresta primária ................... 156
Estratégia
Distribución foliar e herbivoria
vertical del área em foliarmatas de baixio
de tres especies e platô na Amazônia
de Philodendron Central una
(Araceae): 92 vision integrada .................... 159

4 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Efeito das clareiras na de remoção de frutos de palmeira (Astrocaryum aculeatum) em floresta de terra firme na
Amazônia central 95
Abrigos de formigas e proteção contra herbivoria em Miconia cf. phanerostila (Melastomataceae) 98
Frecuencia de vocalizaciones de guariba Alouatta seniculus en una Selva de tierra-firme, Reserva Km 41, Amazonía
Central, A M, Brasil. 103
Comportamento territorial de Chalcopteryx scintilans (Odonata:Polythoridae) 106
Evidências usadas por cutias (Dasyprocta leporina (Husson, 1978), Rodentia, Mammalia) na localização de frutos de
tucumã (Astrocaryum aculeatum) em uma floresta de terra firme da Amazônia Central, AM, Brasil 109
Efeito da coloração e do odor na predação de frutos artificiais em uma área de terra firme na Amazônia
Central 111
Viver ou morrer: apenas uma questão de estratégia? 115
Relações entre morfologia externa e ectoparasitismo em morcegos (Chiroptera, Mammalia) na Amazônia
Central 119
Caracterização hierarquica da bacia de drenagem na Reserva Km 41, Manaus AM 124
Fatores de mortalidade de galhas em ambientes de borda e de interior da mata 127
Caracterização de ninhos e estágios de desenvolvimento de vespas (Vespidae: Polybiinae) de uma área de terra firme,
Amazônia Central 131
Grupos funcionais de artrópodes de serapilheira diferem na campinarana e no platô? 135
Influência de Parâmetros Físicos na Riqueza de Peixes em Igarapés de Terra Firme na Amazônia Central 138
História Natural de Heteroprhynus longicornis (Arachnida, Amblypygi) 141
Efeito da distribuição de aves na predação de lagartas artificiais 143
Defensa biológica en la planta mirmecófita Maieta guianensis: respuesta inmediata al daño foliar, y respuesta inducida
a corto y largo plazo por parte de la hormiga Pheidole minutula 146
Comportamento de Gonatodes humeralis (Sauria, Gekkonidae) em área perturbada 151
Riqueza de insetos galhadores e de suas plantas hospedeiras em clareiras e áreas de floresta primária da Amazônia
Central 156
Distribución vertical del área foliar de tres especies de Philodendron (Araceae): una vision integrada a la comunidad
de araceas en un bosque de tierra firme en la Amazonia Brasilera 159

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 5


Avaliação da especificidade entre o galhador e a planta
hospedeira na Reserva Adolpho Ducke, Amazônia
Central
Yumi Oki, Carolina Laura Morales, Luiz Henrique Claro Junior, Sylvia Miscow Mendel, André Faria Mendonça

Introdução porcentagem de famílias de galhas específicas para cada


As galhas são modificações anatômicas da planta subclasse.
causadas por diversos organismos como fungos e insetos,
entre outros (Ribeiro et al., 1999). Estas estruturas evoluíram Resultados
como adaptações às pressões seletivas em ambientes Coletamos um total de 90 amostras de plantas
adversos, permitindo a colonização bem sucedida dos pertencentes a 26 famílias. As galhas foram classificadas
galhadores em seus hospedeiros (Fernandes, 1987). A em 33 morfo-famílias e 103 morfo-espécies (Apêndice 1).
interação galha-hospedeiro geralmente apresenta-se de A proporção de galhas específicas variou entre as subclasses
forma específica, o que pode possibilitar a identificação da de plantas. A subclasse Rosidae apresentou a maior
planta a partir da morfologia da galha produzida (Floate et porcentagem de famílias específicas de galhas, enquanto
al., 1996; Ribeiro et al.,1999). que Monocotyedonae, Asteridae, e Caryophyllidae não
A presença de uma galha de morfologia conhecida em apresentaram especificidade (Tabela 1). No entanto, os
espécies vegetais aparentemente distintas, pode indicar que indivíduos amostrados que pertenciam à mesma espécie
estas são a mesma espécie (Ribeiro et al., 1999). No entanto, vegetal apresentaram a mesma morfo-espécie ou morfo-
a identidade e a especificidade das galhas em relação às gênero de galha (Apêndice 1).
plantas hospedeiras ainda são pouco conhecidas em
ambientes neotropicais. Tabela 1 - Número e porcentagem de morfo-famílias de
O trabalho foi de caráter exploratório com o intuito de galhas específicas a cada subclasse de planta.
avaliar se havia especificidade do galhador em relação à Subclasse Galhas específicas Total de galhas Específicas/Total (%)
Magnoliidae 4 17 23,52
espécie vegetal em uma Reserva Florestal da Amazônia Hamamelidae 1 4 25,00
Caryophyllidae 0 1 0
Central. Dilleniidae 2 9 22,22
Rosidae 24 50 48,00
Asteridae 0 7 0
Monocotyedonae 0 1 0
Métodos
Realizamos este trabalho em várias áreas da Reserva
Adolpho Ducke (INPA), Amazônia Central. A Reserva Discussão
constitui-se de uma área de 100 km2 de mata primária, Os resultados obtidos indicam que a especificidade en-
situada a 26 km da cidade de Manaus (02o 57’S, 59o58’W), tre morfologia externa das galhas e as plantas hospedeiras
composta principalmente por floresta de terra firme. A área não pode ser aplicada em todas as relações desse sistema.
apresenta um relevo ondulado, com variação de 80 m de O maior grau de especificidade foi encontrado em
altitude, temperatura média anual de 26,7°C e precipitação Rosidae, possivelmente por apresentar mais famílias de
média anual de 2.186 mm, com início de chuvas em plantas com galhas. Algumas espécies como Clidemia
novembro (RADAMBRASIL 1978; Ribeiro et al., 1999). bulbosa (Melastomataceae), Clidema novemnervia
No período de 2 horas e meia, coletamos um ramo de (Melastomataceae), Miconia pyrifolia (Melastomataceae),
cada indivíduo de todas as plantas avistado com galhas e Protium strumosum (Burseraceae) e Inga paraensis
um outro ramo sem galha do mesmo. Uma parte da equipe (Mimosoideae) apresentam uma especificidade com uma
identificou as espécies vegetais e outra categorizou as galhas, determinada morfo-espécie de galha. Nesses casos, a
para que a análise não fosse influenciada pelo conhecimento morfologia foi bem evidente e diferenciada em relação aos
prévio do observador em relação à morfologia da galha. outros grupos de galhas coletadas. Segundo Ribeiro et al.
As plantas foram identificadas segundo Ribeiro et al. (1999) na Reserva Adolpho Ducke, algumas morfo-espécies
(1999). As galhas foram classificadas em morfo-famílias de galhas podem ser utilizadas para identificar uma espécie
de acordo com os seguintes critérios morfológicos: vegetal.
localização quanto à lâmina foliar (adaxial e/ou abaxial), A maioria das morfo-famílias de galhas apresentou pouca
forma, coloração, pilosidade e tamanho. ou nenhuma especificidade com as sub-classes de famílias
A partir destes dados relacionamos as subclasses de planta de plantas, evidenciando que a utilização da morfologia
com as morfo-espécies de galhas encontradas, estimando a externa como único parâmetro para determinar a

6 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


especificidade da galha com a planta demonstrou-se Agradecimentos
ineficiente. Outros parâmetros como morfologia interna da Agradecemos ao Michael J. G. Hopkins (Mike) por sua
galha, a identificação do agente indutor, entre outros, orientação durante esse projeto, ao Ociro Pereira (Juruna) e
poderiam ser acrescentados para melhor identificação. ao Marcelo Moreira (Pinguela) pela ajuda no campo e na
A falta de especificidade encontrada em alguns grupos identificação das espécies vegetais.
do sistema galha-planta poderia ser conseqüência de uma
resposta morfológica similar em diferentes grupos à
diferentes agentes galhadores.
Referências bibliográficas
Fernandes, G. W. 1987. Gall forming insects: their
Os nossos resultados não permitem afirmações mais
economic importance and control. Revista Brasileira
seguras, pois o trabalho apresentou algumas limitações: a
de Entomologia 31: 379-398.
sub-amostragem (falta de réplicas) e problemas nas
Floate, K. D., G. W. Fernandes, J. A. Nilsson. 1996.
identificações das espécies vegetais, erro na categorização
Distinguinshing intrapopoulacional categories of plants
dos grupos de galhas e a não identificação do agente
by their insect faunas: galls on rabbitbrush. Oecologia
galhador, podem ter influenciado nos nossos resultados.
105: 221-229.
A partir dos nossos resultados, podemos concluir que a
RADAMBRASIL.1978. Levantamento de recursos
especificidade das galhas com as plantas não ocorre de
naturais. Vol 1-18. Ministério de Minas e Energias.
maneira geral, embora existem algumas sub-classes de
Departamento Nacional de Produção Mineral, Rio de
plantas que apresentam especificidade com algumas
Janeiro, Brasil.
famílias.
Ribeiro, J. E. L., M. J. G. Hopkins, A.Vincentini, C.
Para uma melhor investigação dos nossos dados,
A.Sothers, M.A. da S. Costa, J. M. de Brito, M. A.D.
recomendamos para os próximos estudos uma maior
de Souza, L. H. P. Martins, L. G. Lohmann, P. A. C. L.
amostragem de coletas em determinadas famílias e a
Assunção, E. da C. Pereira, C. F. da Silva, M. R.
utilização de mais parâmetros para as galhas, como por
Mesquita, L. C. Procópio. 1999. Flora da Reserva
exemplo, a identificação do agente indutor.
Ducke. Guia de identificação das plantas vasculares de
Esperamos que o trabalho possa instigar estudos mais
uma floresta de terra-firme na Amazônia Central.
profundos sobre a correlação da galha com as plantas
INPA, Manaus, Brasil.
hospedeiras, contribuindo nas discussões sobre as relações
entre os componentes desse sistema galha-planta.
Grupo 1 - Projeto de Equipe 1
Orientador do projeto: Michael J. G. Hopkins

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 7


Apêndice 1. Correlação das morfo-famílias de galhas com as subclasses de plantas hospedeiras encontradas na Reserva
Adopho Ducke, Amazônia Central, Brasil. O primeiro número da célula indica o gênero e o segundo número indica a
morfo-espécie. As cores amarelas indicam famílias de galhas que se encontram em mais de uma subclasse de planta. As
cores em vermelho indicam a especificidade da família de galhas com a subclasse de planta hospedeira.
Famílias de Galhas

Subclasse Família Gênero Espécie fam fam Fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam2 fam fam fam Fam fam fam fam Fam22
1 2 4 7 12 13 15 19 26 29 32 5 16 23 20 24 25 33 31 18 14 30 7 10 26 21 17 9 3 6
Magnoliidae Annonaceae 5-1
Magnoliidae Lauraceae Aniba sp. 2-1
Magnoliidae Lauraceae Endlicheria macrophylla 1-3
Magnoliidae Lauraceae Mezilaurus duckei 2-1
Magnoliidae Lauraceae Ocotea boisseriana 4-1
Magnoliidae Lauraceae Ocotea sp. 1 1-1
Magnoliidae Lauraceae Ocotea sp. 2 1-1
Magnoliidae Lauraceae Ocotea sp. 3 1-1
Magnoliidae Lauraceae Paraia bracteata 4-1
Magnoliidae Lauraceae Paraia bracteata 1-1
Magnoliidae Simaroubaceae Simaba polyphylla 3-1
Magnoliidae Simaroubaceae Siparuna guianensis 1-1
Magnoliidae Siparunaceae Siparuna cuspidata 1-1
Magnoliidae Siparunaceae Siparuna cuspidata 2-1
Magnoliidae Siparunaceae Siparuna guianensis 1-1
Magnoliidae Siparunaceae 1-1
Magnoliidae Siparunaceae 3-1
Hamamelidae Cecropiaceae Pourouma minor 1-1
Hamamelidae Moraceae 3-1
Hamamelidae Moraceae 2-2
Hamamelidae Moraceae? 3-2
Caryophyllidae Polygonaceae Coccoloba confusa 1-2
Dilleniidae Dilleniaceae 2-1
Dilleniidae Dilleniaceae 3-1
Dilleniidae Dilleniaceae 2-3
Dilleniidae Flacourtiaceae 2-2
Dilleniidae Flacourtiaceae? 1-1
Dilleniidae Myrsinaceae Cibianthus sp. 3-2
Dilleniidae Tiliaceae Lueheopsis rosea 2-4
Dilleniidae Violaceae 1-1
Dilleniidae Violaceae? 1-5
Rosidae Burseraceae Crepidospermum rhoifolium 3-1
Rosidae Burseraceae Crepidospermum rhoifolium 1-6
Rosidae Burseraceae Protium arachouchini 1-1
Rosidae Burseraceae Protium divaricatum 1-1
Rosidae Burseraceae Protium giganteum 2-6
Rosidae Burseraceae Protium Hebetatum 2-2
Rosidae Burseraceae Protium Hebetatum 1-1
Rosidae Burseraceae Protium Hebetatum 1-3
Rosidae Burseraceae Protium Hebetatum 4-1
Rosidae Burseraceae Protium Laxiflorum 1-4
Rosidae Burseraceae Protium Laxiflorum 1-1
Rosidae Burseraceae Protium Pilosum 2-2
Rosidae Burseraceae Protium Pilosum 1-1
Rosidae Burseraceae Protium sp. X 2-1
Rosidae Burseraceae Protium Strumosum 1-1
Rosidae Burseraceae Protium Strumosum 1-1
Rosidae Burseraceae Protium Subserratum? 2-1
Rosidae Burseraceae Protium Tenuifolium 1-1
Rosidae Burseraceae Tetragastris Panamensis 1-1
Rosidae Burseraceae Trattinickia Rhoifolia 2-1
Rosidae Burseraceae 1-1
Rosidae Chrysobalanaceae Couepia Guianensis 1-2
Rosidae Chrysobalanaceae Licania gracilipes 2-1
Rosidae Chrysobalanaceae Licania micrantha 1-3
Rosidae Euphorbiaceae Mabea subsessilis 1-2
Rosidae Euphorbiaceae Mabea subsessilis 2-1
Rosidae Euphorbiaceae 1-1
Rosidae Euphorbiaceae 1-1
Rosidae Leg: Mimosoideae Inga cayenensis 1-4
Rosidae Leg: Mimosoideae Inga cf. Paraensis 2-2
Rosidae Leg: Mimosoideae Inga laterifolia 1-1
Rosidae Leg: Mimosoideae Inga paraensis 1-1
Rosidae Leg: Mimosoideae Inga paraensis 2-2
Rosidae Leg: Mimosoideae Inga thibaudiana 1-1
Rosidae Leg: Mimosoideae Inga umbellifera 1-1
Rosidae Leg: Swartzia ingifolia 1-1
Papilionoideae
Rosidae Leg: Swartzia ingifolia 1-1
Papilionoideae
Rosidae Melastomataceae Clidemia bullosa 1-1
Rosidae Melastomataceae Clidemia novemnervia 1-1
Rosidae Melastomataceae Miconia egensis 1-1
Rosidae Melastomataceae Miconia egensis 1-1
Rosidae Melastomataceae Miconia phanerostila 2-1
Rosidae Melastomataceae Miconia pyrifolia 3-2
Rosidae Melastomataceae Miconia tetraspermoides 1-1
Rosidae Meliaceae 1-1
Rosidae Sapindaceae 2-1
Rosidae Sapindaceae 2-1
Rosidae Sapindaceae 2-1
Rosidae Sapindaceae 1-1
Rosidae Sapindaceae 1-1
Asteridae Acanthaceae Mendoncia Pedunculata 2-1
Asteridae Boraginaceae Cordia 1-1
Asteridae Rubiaceae Palicourea Corymbifera 1-2
Asteridae Rubiaceae Psychotria Astrelantha 1-2
Asteridae Solanaceae 1-1
Asteridae Solanaceae? 1-2

8 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Relação alométrica de agregados de Leucage sp.
(Tetragnathidae) com atributos ambientais e espaciais
Josué Ribeiro da Silva Nunes, Ana Maria Benavides, Ana Paula Carmignotto, Eduardo Vasconcelos

Introdução
Aranhas compreendem uma porção significativa da 7 X=Y
AEH
diversidade de artrópodes e, por serem invertebrados 6
predadores de topo, são componentes muito importantes de
5

Leucage (N)
qualquer ecossistema (Toti, Coyle & Miller, 2000). Existem
atualmente cerca de 37.000 espécies de aranhas conhecidas, 4

distribuídas em 108 famílias (Platnick, 2000). Aranhas das 3


famílias Tetragnathidae, Uloboridae e Araneidae utilizam AEV
2
um padrão orbicular na construção de suas teias. Leucage
sp. é uma aranha tetragnatídea encontrada em igarapés no 1
interior de florestas (Venticinque, com. pess.). Indivíduos 0
desta espécie são encontrados em agregados que apresentam 0 1 2 3 4 5 6 7
Número de camadas
uma conformação estrutural típica, formada por teias
individuais dispostas em camadas que podem ser ordenadas Figura 1. Modelo preditivo para relação entre número de
camadas de teias do agregado e o número de indivíduos
obliquamente em relação ao espelho d‘água. Esta
de Leucage sp.
conformação pode estar relacionada a um aumento na
eficiência do efeito denominado “ricochete”, considerado
uma tática de otimização da captura de presas (Uetz, 1989). Métodos
Comumente, indivíduos de outras espécies podem ser A área de estudo localiza-se na Amazônia Central,
encontrados nestes agregados, como por exemplo, as aranhas Reserva Adolpho Ducke, e situa-se ao norte de Manaus.
pertencentes à família Pholcidae. Esta região apresenta clima quente e úmido, com temperatura
média de 26,7oC e precipitação média em torno de 2.186
Dado que fatores ambientais como a velocidade da
mm (Lovejoy & Bierregard, 1990).
corrente de água, a estrutura da vegetação marginal e fatores
Amostramos um trecho de aproximadamente 200 metros
biológicos, como competidores, a estrutura e o tamanho da ao longo do igarapé Barro Branco, onde detectamos a
teia são limitantes para as comunidades de aranhas e presença de 25 agregados da espécie Leucage sp. Medimos
influenciam na sua distribuição no ambiente (Foelix, 1982), variáveis ambientais e biológicas. Dentre as ambientais,
o objetivo deste estudo foi avaliar a relação entre a medimos a velocidade da corrente de água sob o agregado,
velocidade da água do igarapé e número de aranhas no que foi classificada em 5 categorias: 0-água parada; 1-água
agregado. As variáveis testadas foram: velocidade da água lenta; 2-água com velocidade média; 3-água rápida e 4-
corredeira. As variáveis da arquitetura da teia foram: maior
abaixo do agregado; número de camadas de teias;
e menor largura do agregado em relação ao igarapé;
comprimento e superfície do agregado; e número de aranhas
comprimento do agregado; altura em relação à lâmina d’água
da família Pholcidae. e número de camadas (considerado como o número de teias
Nosso modelo propõe que se a relação entre o número sobrepostas). A presença e o número de indivíduos de outras
de indivíduos de Leucage sp. no agregado for diretamente espécies (Pholcidae) foi anotada, bem como a sobreposição
proporcional ao número de camadas de teias do agregado, entre as teias de Pholcidae e Leucage sp. A sobreposição
então nós teríamos um ótimo do crescimento do agregado. foi dividida em quatro classes (1= 0 a 25%; 2= 25 a 50%;
Se o número de indivíduos aumentar e o número de camadas 3= 50 a 75% e 4= 75% a 100% de sobreposição). A
superfície do agregado foi calculada multiplicando-se a
não, então o agregado apresentará crescimento horizontal;
média da largura no igarapé pelo comprimento do agregado
se o número de camadas aumentar, então o agregado
e os resultados foram expressos em m2. Para facilitar a
apresentará crescimento vertical. Verificaremos neste estudo visualização das diferentes teias e camadas, pulverizamos
qual das duas formas de crescimento é mais vantajosa amido de milho (“Maizena”) sobre as teias dos agregados
(Figura 1). amostrados.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 9


Realizamos análises de regressão linear (a = 0,05) para 20 C
testar a relação entre o número de indivíduos de Leucage
sp. e as variáveis amostradas. O programa estatístico que 15
utilizamos foi o SYSTAT 8.0.

LEUCAGE
10
Resultados
Foram amostrados 25 agregados, sendo que o número
de indivíduos de Leucage sp. variou de 1 a 18 por agregado, 5
com média de 5 indivíduos por agregado.
Encontramos relação positiva entre o número de 0
indivíduos de Leucage sp. e o número de camadas de teia 0 10 20 30
(r2=0,21; N=25; t=0,49; p=0,02) (Fig. 2a), o comprimento PHOLCIDAE
do agregado (r2=0,57; N=25;t=2,33; p<0,001) (Fig. 2b) e o
número de indivíduos de Pholcidae (r2=0,22; N=25; t=2,30; 20
D
p=0,017) (Fig.2c). A velocidade da água, a superfície do
agregado e a sobreposição com as teias de Pholcidae, não 15

Leucage (N)
apresentaram relação linear com o número de indivíduos
de Leucage sp. (Figs. 2d, e e f).
10

A
20 0
0 1 2 3 4 5
Velocidade da corrente (classes)
15
LEUCAGE (N)

10 20 E
5 15
Leucage (N)

0 10
1 2 3 4 5 6 7 8
N. CAMADAS
5

0
0 1 2 3 4 5
Superficie (m2)
B
20
20
F
15
15
Leucage (N)

Leucage (N)

10 10

5 5

0 0
0 100 200 300 0 1 2 3 4 5
Comprimento (cm) Sobreposição

Figura 2.Regressão linear entre: o número de indivíduos de Leucage sp. e a) o número de camadas de teias do
agregado; b) o comprimento do agregado; c) o número de indivíduos da família Pholcidae; d) a velocidade da corrente
de água do igarapé sob o agregado; e) a superfície do agregado e f) a sobreposição com teias de indivíduos
pertencentes à família Pholcidae.

10 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Discussão Leucage sp., mas sua sobreposição não. Essas relações
Os resultados obtidos indicam que os atributos espaciais indicam que os Pholcideos não estão exercendo uma forte
do agregado: comprimento e número de camadas de teias pressão de parasitismo e ainda que podem estar “adequando”
estão relacionados ao número de indivíduos de Leucage sua área de sobreposição de forma que essa permaneça
sp. presentes em cada agrupamento. Considerando que a constante ao longo do crescimento do agregado. Também
dieta desta espécie é composta principalmente por insetos que o número de camadas está relacionado com o número
que emergem da água (Venticinque, 1994), uma possível de Leucage sp., indicando que mesmo de forma sutil e muito
explicação para a forte relação encontrada com o variável, a arquitetura dos agregados influencia o número
comprimento do agregado, seria um aumento na área de de aranhas que este comporta.
captura, já que uma área maior aumentaria a quantidade de
recursos disponíveis, suportando um número maior de Agradecimentos
aranhas no agregado. Por outro lado, uma configuração mais Agradecemos às instituições que nos deram a
complexa do agregado (traduzida pelo número de camadas oportunidade de participar do Curso de Campo Ecologia
de teias encontrado) favoreceria um aumento na eficiência 2002: INPA e SMITHSONIAN INSTITUTION; à
de captura explicado pelo efeito “ricochete” (Uetz 1989). organização do Curso, e à orientação de Eduardo
Adicionalmente, esta complexidade permitiria que as Venticinque (Dadão).
aranhas da espécie Leucage sp. ficassem menos expostas à
predação, já que as vespas, um de seus principais predadores, Referências bibliográficas
encontrariam dificuldades para atravessar o labirinto de teias Foilix, R. F. 1982. Biology of Spiders. Harvard University
(Venticinque, com. pess.). Os resultados, portanto, indicam Press, London, England.
que a expansão vertical é vantajosa para agregados da Lovejoy, T. E. and R. O. Bierregaard. 1990. Central
espécie Leucage sp., que seriam favorecidos em relação à Amazonian Forests and the minimal critical size of
eficiência de captura e proteção. ecossystems project. Pp 60-74 in A. H. Gentry, editor.
A relação entre o número de indivíduos das duas espécies Four Neotropical Rainforest. Yale University Press,
estudadas foi significativa e positiva, indicando que os New Haven, Connecticut, USA.
indivíduos de Leucage sp. parecem ser favorecidos ou não Platinick, N. I. 2000. Estimated spider numbers. Amer.
ser afetados pela presença dos folcídeos. Considerando-se Arachnology 61: 8-9.
ainda a sobreposição entre as teias destes e dos indivíduos Uetz, G. W. 1989. The “ricochete effect” and prey capture
de Leucage sp., propomos que os folcídeos estariam atuando in colonial spider. Oecologia 81: 154-159.
como “inquilinos”, aproveitando-se do arcabouço estrutural Venticinque, E. M.1994. Colonialidade, seleção de micro-
das teias de Leucage sp. habitats e comportamento em aranhas tropicais
Estudos anteriores relacionam a presença de agregados construtoras de teias orbiculares. In: Ecologia da
de Leucage sp. com a presença de áreas com maior Floresta Amazônica, B. Williamson (ed).
velocidade da correnteza nos igarapés (Gonçalves, 1997; Toti, D. S., F. A. Coyle, e J. A. Miller, 2000. A structure
Venticinque, com. pess.). Nossos resultados, no entanto, não inventory of Appalachian grass bald and heath bald
corroboram esta hipótese, dado que não encontramos relação spider assemblages and a test of species richness
entre a velocidade e a presença de agregados. estimator performance. J. Arachnol. 28:329-345.
Área de expansão vertical é maior no sentido ao longo
do igarapé, mas não considerando conjuntamente a largura. GRUPO 2 – Projeto de Equipe 1
O número de Pholcideos está relacionado com o número de Orientador: Eduardo Venticinque

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 11


Relações entre o solo e a profundidade da liteira em
uma área de Floresta Tropical Úmida, Manaus, AM
George Camargo, Flaviana Maluf de Souza, Carina Lima da Silveira, Eduardo Cardoso Teixeira e Vanina Zini Antunes

Introdução as folhas verdes, comparadas com as de solos menos


Os solos da Amazônia possuem baixas concentrações de arenosos, para otimizar a captação de luz. Apesar das folhas
nutrientes. Isto é conseqüência da origem geológica do solo que caem no solo, estas permanecem mais tempo sem serem
(A. Carneiro-Filho, com. pess.), com predominância de decompostas em decorrência dos compostos secundários,
formações antigas (pleistocênicas) que sofrerem que dificultam a ação de fungos e outros decompositores.
intemperismo e lixiviação por longos períodos. Adaptações Relativamente, as florestas amazônicas de platô, que
das florestas a estas condições incluem o acúmulo de apresentam solos argilosos, possuem maior camada de liteira
nutrientes na biomassa vegetal e a rápida dinâmica de devido à maior deciduidade por não necessitarem reter tantas
decomposição e reposição destes nutrientes (Begon et al., folhas, pois o solo tem maior teor de nutrientes, além da
1990). competição entre as raízes nestes ambientes ser menor. As
Caufield (1984) relatou que em um estudo na Amazônia raízes superficiais (‘tapete’ de raízes) das florestas de platô
Venezuelana, três quartos dos nutrientes estavam na tendem a ser mais horizontais e menos espessas. Em
biomassa (plantas vivas e árvores em si), 17% na camada contrapartida, o tapete de raízes em solos arenosos tende a
de húmus e serapilheira e apenas 8% no solo mineral. A ser mais profundo ou espesso e também horizontais, de
liteira constitui um importante elo de ligação entre o ciclo forma a captar os escassos nutrientes que estão sendo
de carbono e a ciclagem de nutrientes, transferindo os lixiviados. Nesta tendência geral, espera-se que em solos
elementos presentes nas plantas para o chão da floresta arenosos, a camada de liteira (raízes mais folhas) seja maior
(Sizer, 1992). Assim, essa camada pode ser considerada uma do que em solos argilosos; quanto maior a camada de raízes,
importante fonte de nutrientes para a floresta, devendo ser mais aproveitada é a liteira e portanto menor a sua espessura.
aproveitada ao máximo pelas raízes. Espera-se que esta A Reserva Adolpho Duke (Manaus, Amazonas)
otimização ocorra quando a espessura e a área da camada contempla uma série de ambientes vegetacionais distintos,
de radículas forem maiores, pois aumentam a superfície de entre eles a floresta de platô, a floresta de vertente, a
absorção de nutrientes pelas plantas. campinarana e a floresta de baixio (Ribeiro et al. 1999),
O perfil dos solos amazônicos pode ser dividido caracterizadas pela topografia, tipos de solo, estrutura e
basicamente em áreas altas, denominadas platô, áreas de composição de espécies. Considerando que a reserva
topografia intermediária, denominadas de vertente, e áreas apresenta os tipos de solos argilosos e arenosos, os objetivos
mais baixas, denominadas de baixio, onde correm os cursos deste trabalho são: (1) verificar se existe correlação entre a
d’água. Nos platôs, os solos são predominantemente camada de folhas e o tapete de raízes presentes na liteira;
argilosos (Latossolo amarelo-álico), sendo arenosos (2) verificar se a camada de folhas, o tapete de raízes e a
(podzóis e areias quartzosas) nas partes mais baixas (Ribeiro liteira como um todo possuem relação com a fração arenosa
et al., 1999). do solo.
Fearnside & Leal-Filho (2001) argumentaram que a
textura é uma das características mais importantes do solo, Métodos
sendo o balanço entre as frações de areia e argila funda- O presente trabalho foi desenvolvido na Reserva Florestal
mental na determinação do crescimento das plantas. Solos Adolpho Ducke (2°55’S, 59°58’O), localizada a 25 km da
muito arenosos em geral são pobres, pois a maior porosidade cidade de Manaus, AM. A temperatura média anual é de
causa perda mais rápida de nutrientes por lixiviação. Além 26,7°C e a precipitação média anual é de 2186 mm
disso, esses solos têm uma baixa capacidade de retenção (RADAMBRASIL 1978, citado por Carnaval et al. 1999).
hídrica, levando as plantas a uma fase de estresse durante Trinta pontos de coleta foram distribuídos aleatoriamente
os períodos de seca. Já as argilas são mais receptivas à ao longo da trilha para o Igarapé Acará. Em cada ponto
agregação de cátions, devido principalmente ao conteúdo registramos as medidas da camada de folhas e do tapete de
de matéria orgânica existente nesses solos. Dessa forma, a raízes, colocando uma régua verticalmente a um perfil aberto
proporção de areia que compõem o solo pode ser tomada com terçado. Em cada ponto também recolhemos uma
como uma medida indireta de sua pobreza de nutrientes. amostra padrão de solo, correspondente ao volume de um
Consequentemente, espera-se existir maior competição coletor universal, que foi acondicionada em um saco plástico
entre as raízes por espaço em solos arenosos. Plantas em para pesagem. As amostras de solo foram pesadas (peso
solos arenosos (p.ex. campinaranas) tendem a produzir úmido) com dinamômetros de 0,5 ou 1 g de precisão,
compostos secundários para evitar herbívoros e retém mais dependendo do tamanho, e posteriormente peneiradas em

12 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


água para separação da fração arenosa. Em seguida, as 10
frações arenosas foram secadas e pesadas. 9
Testamos a correlação entre a camada de folhas e o tapete 8

Liteira (cm)
de raízes através do coeficiente de Pearson. Para avaliar o 7
efeito da fração arenosa na camada de folhas, no tapete de 6
raízes e na liteira como um todo (camada de folhas e tapete 5
de raízes) fizemos regressões lineares. 4
3
Resultados 2
Não houve correlação significativa entre a espessura da 1
camada de folhas e o tapete de raízes (coeficiente de Pearson 0 10 20 30 40 50
r=0,175, Fig. 1), indicando que camadas espessas de folhas Fração de areia (%)
independem da espessura do tapete de raízes.
Figura 3 - Dispersão dos valores da espessura da liteira
(camada de folhas e tapete de raízes) e da fração de
areia na área de estudo.
Camada de folhas (cm)

5,5
5,
4,5 5
3,5
Tapete de raízes (cm)
3,
2,5 4
2,
1,5
1, 3
0,9
0,7
0,5 2
0,4
1, 1,4 1,5 1,6 1,8 2, 2,1 2,5 2,6 3, 3,5 4, 5, 1
Tapete de raízes (cm)
0
0 10 20 30 40 50
Figura 1 – Dispersão dos valores da espessura da camada
Fração de areia (%)
de folhas e do tapete de raízes na área de estudo .
Figura 4 - Dispersão dos valores da espessura do tapete
de raízes e da fração de areia na área de estudo.
As variações da espessura da camada de folhas e da liteira
apresentaram baixa correlação com a fração de areia do solo Discussão
(r 2=0,33, p=0,001, Fig. 2; r2=0,23, p=0,009, Fig. 3, Os resultados indicam que a fração de areia é um fator
respectivamente). A espessura do tapete de raízes não que explica pouco a variação encontrada na espessura da
apresentou relação significativa com a fração de areia do camada de folhas sobre a superfície do solo. Fatores como
solo (r2=0,014, p=0,538, Fig. 4). queda de folhas, pluviosidade e sazonalidade contribuem
diretamente para a espessura da liteira. Basicamente, o vol-
ume de folhas que caem das plantas da comunidade vegetal
6
Camada de folhas (cm)

local e a velocidade da decomposição da camada de folha


5 pelos microorganismos são os fatores determinantes na
quantidade de folhas acumuladas no solo. Estes fatores não
4 foram mensurados no presente estudo e seria necessário
3 medi-los para quantificar, a posteriori a influência indireta
do solo (fração arenosa) sobre a liteira.
2 Plantas que vivem em ambientes pobres em nutrientes
produzem compostos secundários que protegem as suas
1
folhas contra o ataque de insetos herbívoros, o que dificulta
0 a ação de fungos e bactérias sobre as folhas que caem no
0 10 20 30 40 50 solo. Isto levaria a um maior acúmulo de folhas em solos
Fração de areia (%) mais arenosos do que em solos mais ricos em nutrientes,
como aqueles com maior proporção de argila.
Figura 2 - Dispersão dos valores da espessura da camada A argila consegue reter melhor a água, e este fato, aliado
de folhas e da fração de areia na área de estudo. às altas temperaturas características de ambientes tropicais,

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 13


propiciaria um ambiente ideal para a ação de Carnaval, A. C. O. Q., Santos, A. J., Pires, A. S.,
microorganismos sobre a liteira presente em solos mais Andrade, A. C. S. e Pérez, J. M. 1999. Composição e
argilosos. Desta forma, a velocidade de decomposição desta riqueza da fauna aquática do Igarapé Barro Branco
camada neste ambiente parece ser maior, o que levaria a antes e após uma área perturbada. Páginas1-3 in E.
uma diminuição em sua quantidade. Venticinque, M. Hopkins, organizadores, Curso de
Em relação às raízes, os solos com maior proporção de Campo Ecologia da Floresta Amazônica.
areia a alta permeabilidade propiciam lixiviação mais rápida Caufield, C. 1984. In the Rainforest – Report from a
dos nutrientes do que os solos mais argilosos. Devido a este strange, beautiful, imperiled world. Cap.4 – Boundless
fator, seria interessante para as plantas produzir uma malha Fertility. p. 61-81.
de raízes que reteria melhor estes nutrientes que são Fearnside, P. M. e Leal-Filho, N. 2001. Soils and
carregados pelas águas das chuvas ou decompostos na Development in Amazonia. Páginas 291-312, capítulo
camada de liteira. 23, in R. O. Bierregaard Jr., C. Gascon; T. E. Lovejoy,
As relações aqui investigadas refletem em grande parte R. C. G. Mesquita, editores. Lessons from Amazonia –
os processos de ciclagem de nutrientes em florestas tropicais, The Ecology and Conservation of a Fragmented
conhecimento fundamental para o entendimento da dinâmica ForestPart IV Management Guidelines.
das florestas amazônicas. Ribeiro, J. E. L. S., Hopkins, M., Vicentini, A., Sothers,
C. A. , Costa, M. A. S., Brito, J.M., Souza, M. A. D.,
Agradecimentos Martins, L. H. P., Lohmann, L. G., Assunção, P. A. C.
Agradecemos à Profa. Ana Albernaz pela orientação, ao L., Pereira, E. C., Silva, C. F. , Mesquita, M. R. e
monitor Marcelo ‘Pinguela’ pela idéia original e ajuda nos Procópio, L. C. 1999. Flora da Reserva Ducke – Guia
trabalhos de campo e a Ocírio ‘Juruna’ Pereira pelo auxílio de identificação das plantas vasculares de uma floresta
na secagem das amostras de solo. Agradecemos também de terra firme na Amazônia Central. INPA, DFID,
aos organizadores do Curso de Campo – Ecologia da Manaus, AM, Brasil.
Floresta Amazônica/PDBFF, Eduardo ‘Dadão’ Venticinque Sizer, N. C. 1992. The Impact of Edge Formation on
e Jansen Zuanon. Regeneration and Litterfall in a Tropical Rain Forest
Fragment in Amazonia. Universidade de Cambridge,
Cambridge. Doutorado (Tese).244p.
Referências bibliográficas
Begon, M., Harper, J. L. e Townsend, C. R. 1990.
Grupo 3 – Projeto Orientado 1
Ecology- Individuals, Populations and Communities.
Orientadora do projeto: Prof. Ana Albernaz
Blackwell Scientific Publications, Massachussets,
EUA.

Uso de poças permanentes e temporárias por Rivulus


compressus (Osteichthyes; Cyprinodontiformes) na
Reserva Florestal A. Ducke, Amazônia Central
Daniela Chaves Resende, Flávio José Soares Júnior, Paula Machado Pedrosa, Genimar Rebouças Julião, Patricia García Tello

Introdução baixios dos igarapés (Ribeiro et. al 1994), porém, verifica-


Nos igarapés de terra firme da Amazônia, os pulsos de se que também há formação de poças temporárias nestes
inundação são pouco pronunciados, sendo influenciados locais. Estas são formadas somente pela água da chuva e
principalmente pelas chuvas locais. O nível do igarapé pode não apresentam conexão com os igarapés. No entanto, apesar
subir rapidamente após chuvas fortes e pode permanecer do caráter efêmero, apresentam uma riqueza biológica
assim desde que continue chovendo por dias ou semanas considerável, com uma fauna de invertebrados aquáticos e
(Lowe-McConnel, 1987, 1991 apud Bührnheim e anfíbios bem característica (Ebert e Balko, 1987).
Fernandes, 2001). Durante estes pequenos pulsos, ocorre a Os igarapés, em geral, apresentam uma fauna de peixes
inundação da região adjacente a estes igarapés, formando rica e diversificada formada por diversos grupos
poças que podem perdurar por períodos variáveis de tempo. taxonômicos. Entre esses encontram-se duas espécies da
As regiões dos platôs amazônicos apresentam família Rivulidae, composta principalmente por peixes
características de solo e de vegetação bastante distintas dos anuais, com exceção do gênero Rivulus (Buckup, 1999).

14 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Na Amazônia Central, a espécie Rivulus compressus ocorre Komolgorov-Smirnov. Os resultados foram apresentados na
em ambientes marginais de igarapés e poças temporárias, forma de histogramas de distribuição de freqüência de
tanto no baixio quanto no platô. Para que atinjam estas poças comprimento padrão.
temporárias dos platôs, os indivíduos devem migrar
ativamente utilizando “degraus” formados pelo escoamento Resultados
das águas da chuva. Foram coletados 174 indivíduos de Rivulus compressus,
A abundância de recursos alimentares presentes nestas sendo a maioria (60,34%) coletados nas poças da trilha.
poças, além da baixa competição, devem ser fatores Para as poças de floresta a abundância foi muito baixa (tabela
importantes para a manutenção da estratégia utilizada por 1) e, por isso, estes dados não foram utilizados nas análises
esta espécie (J. Zuanon, comunicação pessoal). O processo estatísticas.
de migração para as poças de platô pode representar um
alto risco de predação e um elevado gasto energético. Neste Tabela 1. Número total (N) e comprimento padrão médio
sentido, esperamos que este comportamento seja mais (CPM), mínimo (CPMIN) e máximo (CPMAX) de indivíduos
freqüente em indivíduos adultos, que teriam melhores de indivíduos de Rivulus compressus em cada ambiente de
condições físicas e fisiológicas para realizar a migração. coleta na Reserva Adolpho Ducke, AM.
Neste trabalho, nós testamos a hipótese de que a ocupação
das poças de platô ocorra predominantemente por indivíduos Desvio N
Local CPM CPMIN CPMAX
adultos. Assim, esperamos que a estrutura em comprimento Padrão total
das populações de R. compressus das poças do igarapé seja Trilha 36.6 19 55 7.1 105
diferente da estrutura de poças do platô e que haja uma Igarapé 27.9 18 50 6.6 61
freqüência maior de indivíduos de maior tamanho corporal
Floresta 31.2 26 48 7.0 8
nas poças do platô do que nas poças do Igarapé.

Métodos As populações de duas poças coletadas na trilha tiveram


O trabalho foi realizado na Reserva Florestal Adolpho freqüências de comprimento distintas (poças I e III;
Ducke, Amazônia Central. A área da reserva é de 10.000 Komolgorov-Smirnov; p<0,001; Fig. 1).
ha e compreende quatro tipos principais de vegetação:
Campinarana, Mata de Baixio, Floresta de Platô e Floresta 26

de Vertente. Segundo Lovejoy & Bierregaard (1990), a 24


22
temperatura média anual é de 26,7oC com variações médias a) 20
de 2oC e a pluviosidade é de 2.186 mm/ano, variando entre
Número de indivíduos

18
1.900 e 2.400mm. 16

As poças estudadas foram localizadas em três tipos de 14


12
ambientes: clareiras no interior das florestas de platô, ao 10
longo da trilha do igarapé Acará e às margens do braço 8

secundário do igarapé Barro Branco, próximo da sede da 6


4
Reserva.
2
Definimos nove poças como unidades amostrais, sendo 0
20 25 30 35 40 45 50 55 60
quatro distribuídas na trilha, duas na floresta e três no
Classes de comprimento (mm)
igarapé. Em cada unidade amostral, os peixes foram
capturados com auxílio de peneiras pequenas (0,20 cm, 26
24
malha de 1 x 1mm) e grandes (0,50 cm, malha de 1,5 x b) 22
1,5mm). O esforço de pesca foi padronizado de modo a 20
Número de indivíduos

obter o maior número possível de indivíduos em cada poça. 18


16
Os espécimes foram levados a um ponto de apoio onde,
14
durante a triagem, foram tomadas medidas individuais do 12
comprimento padrão (mm) com o uso de paquímetro e sacos 10

plásticos de contenção. Posteriormente, os espécimes 8


6
coletados foram devolvidos aos seus habitats de origem. 4
Para a classificação dos indivíduos entre jovens e adultos, 2

utilizamos como limite o valor correspondente à metade do 0


20 25 30 35 40 45 50 55 60
maior comprimento padrão observado para os exemplares. Classes de comprimento (mm)
As distribuições de comprimento das populações
Figura 1. Distribuição da freqüência das classes de
dentro das poças de cada ambiente e entre os ambientes comprimento de indivíduos de Rivulus compressus
foram comparadas com o uso do teste não paramétrico de amostrados em poças da trilha do Acará (poça I (a) e
poça III (b)), na Reserva Ducke.
Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 15
A distribuição de freqüência de comprimento foi período de chuvas, indivíduos de Rivulus compressus
semelhante entre as poças próximas ao igarapé colonizam ambientes novos nas vertentes e platôs (O.
(Komolgorov-Smirnov, p<0,05). Pereira, pers. com.), o que fortalece nossa hipótese de
Os indivíduos coletados no platô apresentaram uma maior colonização das poças por migração ativa.
freqüência em torno de 40 mm de comprimento, faixa A presença de populações de R. compressus nas poças
correspondente à idade adulta para a população estudada. de platô, contudo, também seria possível caso as poças não
Para os peixes das poças do igarapé a classe modal foi de tivessem secado completamente durante o período de
30 mm, característica de indivíduos jovens (Fig. 2). estiagem. Considerando que o período de chuvas iniciou-se
cerca de 20 dias antes das nossas coletas, a grande
22
concentração de adultos observada nas populações das poças
20 de platô só poderia ser explicada por uma mortalidade
18 acentuada entre os jovens. Entretanto, se isto fosse verdade,
a) 16 esta população provavelmente não seria viável.
Número de indivíduos

14 Considerando a condição efêmera das poças temporárias,


12 o processo de recolonização desses ambientes deve ser
10
afetado por estratégias específicas e por eventos estocásticos
8
(Hanski in Crawley & Edwards, 1987). Tais eventos podem
6
explicar a diferença observada na variação de comprimento
4
entre duas das populações de poças do platô.
2
A presença de um maior número de adultos nas poças do
0
20 25 30 35 40 45 50 55 60 platô é um forte indício de que, de fato, esta espécie pode
Classes de comprimento (mm) estar usando estes habitats como local de alimentação para
os adultos, o que corroboraria a hipótese proposta por este
trabalho. Além disso, a diminuição destes indivíduos adultos
39
36
no igarapé, mesmo que por um curto período de tempo,
33 pode representar uma estratégia importante de diminuição
b) 30 da competição intraespecífica por alimentos, com os jovens
Número de indivíduos

27
da espécie, principalmente, se considerarmos a baixa
24
21 produtividade observada em igarapés amazônicos.
18
15
12
Agradecimentos
9 Agradecemos ao Ocírio de Souza Pereira (Juruna) pela
6
identificação dos girinos e auxílio nas coletas e ao Marcelo
3
0
(Pinguela) pelo apoio logístico. Ao prof. Jansen Zuanon pela
20 25 30 35 40 45 50 55 60
valiosa orientação.
Classes de comprimento (mm)

Referências Bibliográficas
Figura 2. Distribuição de freqüência das classes de Buckup, P.A. 1999. Sistemática e biogeografia de peixes
comprimento de indivíduos de Rivulus compressus
de riachos. Pág. 91-138 in E.P. Caramaschi, R.
amostrados em poças de igarapé (a) e poças de platô
Mazzoni & P. R. Peres, editores. Ecologia de peixes de
(b), na Reserva Ducke.
riachos. Série Oecologia Brasiliensis, vol. VI. PPGE-
UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil.
Bührnheim, C.M. & C.C. Fernandes. 2001. Low seasonal
Discussão variation of fish assemblages in Amazonian rain forest
A predominância de indivíduos adultos de R. compressus streams. Ichthyolgical Exploration of Freshwaters 12:
nas poças do platô corrobora nossa hipótese inicial de 65-78.
existência de uma diferença na estrutura das populações nos Ebert, T.A. & M.L. Balko. 1987. Temporary pools as
dois ambientes estudados. Entretanto, este resultado não é islands in space and in time: the biota of vernal pools,
conclusivo em relação ao mecanismo de colonização das in San Diego, Southern California, USA. Archiv. für
poças temporárias. Hydrobiologie 110: 101-123.
Uma premissa assumida neste trabalho foi de que as poças Hanski, I. 1987. Colonization of ephemeral habitats. 155-
presentes no platô são ambientes temporários e que a cada 185 in A. J. Gray, M..J. Crawley & P.J. Edwards,
ano os peixe recolonizam estes ambientes ativamente. Um editors. Colonization, Sucession and Stability. 26 th
experimento sobre reprodução de anfíbios anuros realizado Symposium of the British Ecological Society.
com poças artificiais mostrou que, de fato, após o início do Blackwell Scientific Publications, Oxford.

16 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Ribeiro, J.E.L.S., Nelson, B.W., Silva, M.F. da, Martins, Grupo 4 – Projeto de Equipe 1
L.S.S., and M. Hopkins, M. (1994). Reserva Florestal Orientador: Prof. Jansen Zuanon
Ducke: Diversidade e composição da flora vascular.
Acta Amazonica 24: 19-30.

Estrutura da vegetação de sub-bosque em uma área de


extração seletiva de madeira na Amazônia Central
André Mendonça, Carolina Morales, Sylvia Mendel, Luiz Henrique Claro Jr., Yumi Oki

Introdução A cada 1 m deste transecto, por meio de um método


Atividades humanas, como a extração madeireira, podem pontual, amostramos a estratificação do sub-bosque de 0 a
acarretar mudança na estrutura de áreas florestais e levar à 180 cm de altura do solo. As medidas foram tomadas
um incremento na estrutura do sub-bosque, com uma utilizando-se um bastão de dois metros graduado a cada 10
diminuição na densidade das espécies de interior de floresta cm e com diâmetro aproximado de 3 cm. Cada vez que um
e mais sensíveis a distúrbio e um aumento na densidade das ramo ou folha encostava no bastão, a altura era registrada.
espécies pioneiras nas clareiras abertas (Bierregaard et al. A partir destes dados, calculamos as freqüências (número
2001). de vezes que o bastão era tocado por classe de altura/ número
A extração seletiva de madeira é vista como uma total de pontos amostrados) para as classes de altura
alternativa à extração tradicional, pois esta possui um menor definidas em 20 cm.
impacto, em função da seleção de apenas alguns indivíduos Foram elaborados gráficos de distribuição de frequências
para corte, sendo o maior impacto produzida pela abertura com distância e número de toques para determinar a estrutura
de trilhas de arrasto de toras. do sub-bosque em cada ponto de amostragem (Sokal &
Em virtude do impacto decorrente da extração seletiva Rohlf, 1981).
de madeira, o objetivo deste trabalho foi comparar a estrutura Para avaliar a heterogeneidade e a complexidade do sub-
da vegetação de sub-bosque e o efeito de borda entre uma bosque foi feita uma regressão linear entre a distância da
área de extração seletiva de madeira desde 1999, e outra de borda e o coeficiente de variação do número de toques e
preservação permanente. uma relação entre a diferença das médias e desvios padrões
de cada ponto amostral (Sokal & Rohlf, 1981).
Métodos
Desenvolvemos este estudo no compartimento N e na
Resultados
área de preservação permanente da Madereira Mil Tanto na área explorada como na mata, as diferenças no
Itacoatiara Limitada (2o 43’ - 3o 04’ S; 58o 31’ - 58o57’W), perfil vertical da vegetação entre os locais são mais
separadas apenas por uma estrada de terra. A região pronunciadas nos pontos de amostragem mais próximos à
apresenta uma precipitação média anual de 2.200 mm e estrada que nos pontos de amostragem mais internos (Fig.
temperatura média anual de 26oC. O solo é do tipo latossolo 1). Foi observado que na área explorada não existe um
amarelo distrófico argiloso (Rittl , com. pessoal). padrão nas classes de altura ao longo das distâncias,
Comparamos a estrutura vegetacional entre as duas áreas mostrando que as perturbações decorrentes do processo de
a partir de um espaçamento de 10, 30, 50, 70 e 100 m em extração seletiva de madeira criam ambientes diferenciados
relação à borda em cinco transectos perpendiculares à dentro da mata.
estrada, eqüidistantes 50 m. Somente na área preservada Nos pontos de amostragem localizados à distância de
fizemos um espaçamento de 200 m para verificar a estrutura 100 m da borda, tanto na área explorada quanto na de mata
da vegetação, sem a influência do efeito de borda. No final (Fig.1e-j) observamos uma diminuição da diferença entre
de cada espaçamento foi feito um transecto perpendicular as classes de tamanho. A área explorada apresentou um
ao transecto principal, com comprimento de 30 m, aumento na densidade das classes de menor tamanho e uma
direcionado aleatoriamente. maior freqüência média de toques que a área de mata.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 17


Figura 1. Distribuição das freqüências de classes de altura de toques em função da distância em cada ponto de
amostragem em uma área de mata e outra explorada no município de Itacoatiara, Amazônia central.

No interior da mata, as classes de tamanho possuem


densidades mais semelhantes (Fig. 2).

Figura 3. Relação entre o desvio padrão e média do


número de toques dos diferentes sitios de amostragem
em áreas preservadas e de extração seletiva de madeira
Figura 2. Distribuição das freqüências de classes de no município de Itacoatiara, Amazônia central, sendo AE
altura de toques em função da distância nos pontos de = área explorada e M = mata.
amostragem à 200m da borda, em uma área de mata e
outra explorada, no município de Itacoatiara, Amazônia Não foi possível observar um padrão no gradiente do
central.
perfil vertical da vegetação nas duas áreas em relação à
distância da borda. Entretanto, nos pontos à 100 m da borda
localizados na área de exploração e na mata o perfil verti-
A relação entre o desvio padrão e a média do número de cal se apresentou mais homogêneo (Fig.1). Isso também foi
toques mostrou a formação de dois grupos (Fig.3). Também observado nos pontos localizados à 200 m da borda na área
foi verificado que os pontos mais distantes da borda de mata (Fig.2), indicando que a partir de 100 m o efeito da
possuíam menor desvio padrão (DP) que os mais próximos borda se apresenta mais sutil .
à borda, repetindo-se esta tendência para ambas as áreas. O efeito de borda tem sido potencializado com a

18 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


exploração florestal (Primack & Rodrigues, 2001). Segundo da madeira e levantar discussões sobre as conseqüências
esses autores, as áreas exploradas apresentam uma maior deste tipo de atividade sobre a estrutura do sub-bosque .
proporção de borda por área de habitat, em função da
ocorrência das clareiras formadas pela retirada de árvores.
Na área explorada o número de toques por classes de altura
Agradecimento
Gostaríamos de agradecer ao orientador deste estudo,
foi maior, indicando que o sub-bosque desta área é mais
Eduardo Venticinque (Dadão), pela ajuda e paciência. Ao
denso, possivelmente em decorrência da maior entrada de
Marcelo (Pinguela) e ao Ocírio Pereira (Juruna) pela ajuda
luz resultante da derrubada das árvores e da abertura das
no campo e pelo transporte. Ao INPA pelo patrocínio e apoio
trilha de arraste de toras (Fig.1).
ao estudo.
A área de extração e a mata formaram dois grupos, pois
os diferentes pontos de amostragem na área explorada
possuem valores de desvio padrão e médias do número de Referências Bibliográficas
toques mais extremos, sugerindo que o sub-bosque nesta Bierregaard Jr., R. O., C. Gascon, T. E. Lovejoy and R.
área é mais complexo e heterogêneo que as áreas de mata, Mesquita. 2001. Lessons from Amazonia. The ecology
devido às mudanças abioticas resultantes da extração seletiva and conservation of a fragmented forest. Yale Univer-
de madeira, como a mudança da quantidade de luz que chega sity Press. New Haven and London.
ao sub-bosque, possivelmente aumentando a quantidade de Murcia, C. 1995 Edge effects in fragmentated forests:
plântulas e espécies emergentes. Em relação à mata, o ponto implications for conservation. Trends in Ecology and
de amostragem a 70 m da borda apresentou maiores valores Evolution 10, 58-62
de desvio padrão e média que o aproximam do grupo de Rodrigues, E. 1998. Edge effects on the regeneration of
pontos da área explorada, pois este consistia de uma clareira forest fragments in North Parana Tese de Ph.D.
que possuía e consequentemente um sub-bosque mais Harvard University.
complexo. Este resultado reforça a hipótese de que as Primack, R. B. & E. Rodrigues,. 2001. Biologia da
mudanças abióticas decorrentes da abertura de clareiras Conservação. Visualitá Programação visual. Londrina.
aumenta a complexidade do sub-bosque. Sokal, R.R. & Rohlf, ,F.J. 1981. Biometry. second edition.
Podemos concluir que a complexidade e a heterogenidade W. H. Freemam and Company. New York..
da vegetação de sub-bosque entre a área preservada e a área Sterns, S.C. 1982. The emergency of evolutionary and
explorada foi diferente em alguns parâmetros, mostrando community ecology as
que a extração seletiva de madeira acarreta em diferenças experimental sciences. Perspect. Biol. Med., 25:621.
na estrutura do sub-bosque.
O trabalho pode ajudar na avaliação da dinâmica Grupo 1 – Projeto de Equipe 2
funcional de áreas que sofreram a influência da extração Orientador do projeto: Eduardo Venticinque

Efeito da extração seletiva de madeira sobre a estrutura


da vegetação em uma área da Amazônia Central
Ana Maria Benavides, Ana Paula Carmignotto, Eduardo Vasconcelos, Josué Ribeiro da Silva Nunes

Introdução (Laurance 1999). O manejo para extração de madeira de


A Floresta Amazônica engloba 3,65 milhões de km2, o baixo impacto se encaixa como alternativa frente ao corte
que corresponde a 60% do território brasileiro (Higuchi raso e sem planejamento (C. Rittl com. pess.). No entanto,
2001), dos quais 400.000 km2 foram destruídos nos últimos há diversos estudos que apontam como efeitos da extração
20 anos (Anon. 1999). A extração madeireira é um dos seletiva de madeira uma maior abertura do dossel, maior
principais fatores responsáveis pelo cenário atual encontrado densidade na vegetação do subbosque (Mason 1996),
na Amazônia, representando 30% do desmatamento maiores densidades de cipós (Pinard & Putz 1992), além
ocorrido na região. Destes, 80% correspondem a extrações desta atividade influenciar a distribuição e abundância de
ilegais (Muggiati e Gondim 1996). espécies da fauna silvestre (Laurance & Laurance 1996; Rittl
Devido à alarmante taxa de desmatamento que as florestas 1998).
tropicais vem sofrendo, o manejo dos recursos naturais vem Embora estudos já tenham sido realizados, estes
se destacando como uma das alternativas para a mitigação restringem-se a abordar impactos diretos da atividade sobre
dos efeitos de perda e isolamento das áreas florestais a vegetação, e não implicações indiretas destes impactos

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 19


como, por exemplo, efeitos a longo prazo. O presente um dos ambientes estudados (Fig. 1). Os transectos ao longo
trabalho visa avaliar os efeitos da extração seletiva de das trilhas de arraste situaram-se a uma distância de 5 metros
madeira sobre a estrutura da vegetação, comparando-se uma em direção ao interior da mata, devido ao fato destes locais
área preservada e uma área que foi explorada em 1999. encontrarem-se em um estágio primário de sucessão.

Metodologia
Realizamos o presente estudo em um local de extração
de madeira de baixo impacto, a Mil madeireira, situada no
km 227 da rodovia AM-010 (02o43’ a 03o04’S e 58o31’ a
58o57’W). A área apresenta pluviosidade média de 2.200
mm anuais e temperatura média de 26oC.
Visando comparar áreas de floresta preservada e áreas
que sofreram diferentes impactos em relação ao corte
seletivo de madeiras, três ambientes diferentes foram
investigados: 1- área de floresta primária livre de
perturbação; 2- área de floresta onde o corte seletivo foi
realizado em 1999 e 3- trilhas abertas para o arraste de
madeira ao longo da área explorada. Figura 1. Esquema de transectos utilizados para amostrar
Três transectos de 50 metros de comprimento a estrutura da vegetação nas áreas estudadas, na Mil
eqüidistantes 50 metros foram percorridos ao longo de cada Madereira, Itacoatiara, AM.

4 13 7
ÍNDICE DE LUMINOSIDADE

DENSIDADE DE CIPÓS

6
12
DAP MÉDIO (CM)

5
3
11 4

3
10
2 2
9 1

0
1 8 c m t
c m t c m t AMBIENTES
AMBIENTES AMBIENTES

250 6 50
DENSIDADE DE PLÂNTULAS
ALTURA DO FOLHIÇO (CM)
DISTÂNCIA MÉDIA (CM)

5
40
200
4
30
3
150
20
2

100 1
c m t 10
c m t c m t
AMBIENTES
AMBIENTES AMBIENTES

20 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


35 0.9 30

NÚMERO MÉDIO DE EPÍFITAS

DENSIDADE DE PALMEIRAS
DENSIDADE DE ARBUSTOS

0.8
30
0.7
25 0.6 20
0.5
20 0.4

15 0.3
10
0.2
10 0.1
0.0
5 c m t 0
c m t AMBIENTES c m t
AMBIENTES AMBIENTES

Figura 2. Gráficos representando os dados obtidos em cada um dos ambientes estudados para cada variável mensurada.
c- área conservada; m- área no interior da área explorada; t- área próxima às trilhas de arraste ao longo da área
explorada na Mil Madeireira, Itacoatiara, AM.

4 7
ÍNDICE DE LUMIN OSIDADE

DENSIDADE DE CIPÓS

5
3
4

3
2 2

1 0
8 9 10 11 12 13 1 2 3 4
DAP MÉDIO (CM) ÍNDICE DE LUMINOSIDADE

Figura 3. Análises de regressão linear entre o DAP médio (cm) e o índice de luminosidade e entre o índice de
luminosidade e a densidade de cipós.

Para as variáveis que apresentaram diferenças extração de madeiras em floresta tropical na Malásia (Pinard
significativas entre os ambientes estudados realizamos, & Putz 1992 apud Rittl 1998).
posteriormente, análises de regressão linear. O índice de O padrão de luminosidade na Floresta Amazônica vem
luminosidade apresentou relação negativa em relação ao se modificando devido, principalmente, ao efeito da
DAP médio das árvores mais próximas (r2=0,878; P=0,019). atividade madeireira na região (Muggiati & Gondim 1996).
A densidade de cipós, por outro lado, apresentou relação Possivelmente outras mudanças em nível estrutural, como
positiva com índice de luminosidade (r2=0,859 P=0,003) a quantidade de epífitas, palmeiras, arbustos e plântulas não
(Fig. 3). tenham ocorrido e talvez tenham não venham a ocorrer em
um curto período de tempo, ou talvez somente não tenham
Discussão sido observada neste estudo. Muitas destas alterações
Encontramos maior luminosidade na área de extração que estruturais vegetais só podem ser verificadas em períodos
na área preservada e essa parece estar influenciando a longos não podendo ser mensuradas num período de tempo
abundância de cipós e no número de árvores de porte menor curto como por exemplo três anos como observado na área
nos pontos ao longo do transecto. Este padrão foi também de estudo. Além disso o efeito da distância da mata contínua
observado por Laurence (2001) na Amazônia brasileira e (matriz) sobre a estradas de exploração, podem atuar como
Mason (1996) e Mason apud Rittl (1998) em uma floresta tampão, mitigando a curto prazo os danos das alterações
submetida a exploração na Venezuela. Os mesmos padrões causadas pela extração de madeira.
obtidos neste estudo para cipós foram verificados após a Estudos ligados a composição das espécies são

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 21


necessários, pois embora os parâmetros estruturais não ties, Synthesis and implication for Landscape Manage-
apresentassem mudanças, as composições de espécies ment In: Lessons from Amazonia , The Ecology and
podem ser diferentes. conservation of a fragmented forest, Bierregaard, Jr,
R.O.B.; Gascon, C; Lovejoy, T.E.; & Mesquita, R.,
Agradecimentos Yale University Press, New Haven and London.
Agradecemos às instituições que nos deram a Mason, D. 1996. Responses of Venezuelan understory
oportunidade de participar do Curso de Campo Ecologia birds to selective logging, enrichment strips and vine
2002: INPA e SMITHSONIAN INSTITUTION; à cutting. Biotropica, 28 (3): 296-309.
organização do Curso, e à orientação de Ana Luisa Albernaz Muggiati, A. and A. Gondim. As madeireiras. Folha de
Gostaríamos de agradecer ainda a indispensável São Paulo, 16 de setembro de 1996.
assessoria do Marcelo (Pinguela) e Ossírio (Juruna). Pinard, M. A. and F. F. Putz. 1992. Vine infestation of
large remant trees in logged forest in Sabah, Malysisa:
Referências bibliográficas biomechanical facilitation in vine sucession. Journal of
Anon. 1999. Cresce devastação na Amazonia. Jornal do Tropical Forest Science, 6 (3): 302-309.
Brasil, Rio de Janeiro, Brazil, 28 March, p.7. Rittl, C. E. F. 1998. Efeitos da extração seletiva de
Higuchi, N. 2001. Selective logging in the Brazilian madeira sobre a comunidade de pequenos mamíferos
Amazon – its relationship to deforestation and the de uma floresta de terras firme na Amazônia Central.
International Tropical Hardwood Market. In Pp: 335- Dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-
345, Lessons from Amazonia – the ecology and Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais
conservation of a fragmented forest. R.O. Bierregaard do Convênio entre o Instituto Nacional de Pesquisas
Jr.,C. Gascon, T. E. Lovejoy and R. Mesquita (eds.). da Amazônia e a Universidade do Amazonas.
Laurance, W. F. 1999. Introduction and synthesis.
Biological Conservation, 91: 101-107. GRUPO 2 – Projeto Orientado 2
Laurance, W. F. 2001, Fragmentation and plant communi- Orientador: Ana Luisa Albernaz

Comparação da biomassa e abundância de lianas entre


uma área de floresta preservada e uma com exploração
seletiva de madeira na Amazônia
Eduardo Cardoso Teixeira, George Camargo, Flaviana Maluf de Souza, Carina Lima da Silveira, Vanina Zini Antunes

Introdução Além das árvores, as lianas também são afetadas pela


O acelerado desmatamento das florestas tropicais tem extração de madeira. Por questões de segurança e agilidade
como uma de suas principais causas a exploração de madeira no campo, os trabalhadores seccionam as lianas das árvores
na Amazônia brasileira (INPE 1998). Entre 1995 e 1997 selecionadas para o corte evitando que se enrosquem em
foram desmatados na Amazônia cerca de 6 milhões de hect- outras, e que causem desvios na rota de queda das árvores
ares. cortadas,o que pode provocar graves acidentes de trabalho.
A extração de madeira pode causar uma série de impactos Embora recebam pouca atenção dos pesquisadores,
ao ecossistema (INPE 1998), como a redução da biomassa principalmente pelas dificuldades de acesso à copa das
arbórea e um aumento da mortalidade das plantas nas árvores onde ficam situadas (Putz 1984), as lianas têm um
proximidades das áreas de extração (Johns et al. 1996). A papel importante na composição da floresta. Estudos em
exploração madeireira da floresta também pode resultar na florestas tropicais registraram que cerca de 45% das árvores
compactação do solo e na redução da abundância e com diâmetros superiores a 10 cm, têm suas copas ocupadas
diversidade de alguns grupos de animais (Parrotta 2002). por lianas (Putz 1983, 1984). Apesar de representar menos

22 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


de 10% da biomassa total da floresta, quase 40 % das folhas entanto, o número de árvores infestadas pelas lianas entre
da floresta podem ser de lianas (Ogawa et al. 1965 apud os ambientes foi significativamente diferente (t= 2,56, p=
Putz 1984). 0,029, figura 1; vide tabela 1).
As lianas são também uma rica fonte de recursos para a
fauna, além de contribuir como parte da estrutura e da
composição florística, importante para a alta diversidade Tabela 1. Média e desvio padrão do número e da
das florestas tropicais. Por outro lado, as lianas podem biomassa de cipós e do número de árvores infestadas por
representar uma ameaça à sobrevivência das árvores, lianas registrados na área de extração (E) e na área de
exercendo uma forte competição por luz e espaço e causando preservação (P). Número de amostras: 7 parcelas em cada
sua morte (Putz 1984). Por isso, compreender o efeito dos ambiente.
distúrbios sobre essas comunidades pode ser uma estratégia
Número de cipós Biomassa (kg) Número de árvores
para subsidiar a proposição de práticas de manejo e
E 7,14 ± 8,4 1,25 ± 0,66 1,14 ± 1,06
exploração da floresta.
P 10 ± 5,5 1,76 ± 0,37 3,14 ± 1,78
O objetivo deste trabalho foi testar diferenças na
densidade, biomassa de lianas e árvores com presença de

Número de árvores com lianas


lianas em uma área de floresta preservada e uma área com
exploração seletiva de madeira na Amazônia Central. 6
5
Métodos
4
Este estudo foi realizado nas áreas da Mil madeireira
Itacoatiara LTDA. entre os municípios de Silves e 3
Itacoatiara, 230 km a leste de Manaus, Estado do Amazonas
2
(2º43’- 3º04’S e 58º31’- 58º57’O). A temperatura média
anual é de 26ºC, a pluviosidade de 2.200mm/ano e o solo 1
predominante é o latossolo amarelo distrófico argiloso (Rittl,
2002, com. pessoal). A vegetação predominante é de floresta
0
E P
de terra firme. Um setor da madeireira composto de floresta Tratamentos
preservada e outro setor no qual a empresa realizou a Figura 3. Número de árvores com lianas em cada área
extração seletiva de madeira em 1999, separados por uma estudada. E - Área explorada; P - Área preservada.
estrada, foram selecionados para a amostragem de biomassa
de lianas.
Foram estabelecidos sete pontos em cada tratamento, Discussão
distando 10 m entre si. Em cada tratamento foram A ausência de diferenças significativas na biomassa de
estabelecidas 7 parcelas de 15,0 x 15,0 m dispostas a 50 m lianas entre a floresta preservada e a floresta explorada pode
da estrada a fim de minimizar o efeito de borda. ser explicada pela alta variação observada entre as parcelas,
Em cada parcela, foram medidos os diâmetros de lianas sendo esta maior que a variação entre os diferentes
lenhosas com mais de 1 cm de DAP (1,30 m), com ambientes. Isto provavelmente poderia ser corrigido com o
paquímetro (0,1 mm de precisão). Indivíduos arbóreos com aumento do tamanho e do número de unidades amostrais.
mais de 10 cm de diâmetro que estavam suportando as li- O corte e a abertura de clareiras provocam uma maior
anas amostradas foram contados. A biomassa das lianas foi entrada de luz no interior da floresta (Bierregaard el al.
estimada com base na relação alométrica apresentada por 1992), propiciando um ambiente favorável para o
Putz (1983): desenvolvimento de muitas espécies, uma vez que a maioria
das lianas têm preferências por ambientes com muita luz,
B = 10 (0,12 + 0,91*log(área seccional)) se desenvolvendo bem em áreas abertas (Putz 1984).
A queda das árvores e o corte de lianas na exploração
Onde, madeireira poderiam causar uma redução na densidade e
B = Biomassa de lianas (Kg); biomassa de lianas a curto prazo. O menor número de árvores
Área seccional = (p*DAP 2 )/4 (cm 2 ) para ramos encontradas com lianas na área explorada em comparação
aproximadamente cilíndricos ou = (D*d* p)/4 (cm2) para à preservada é uma evidência deste processo. Além disso,
ramos achatados (D=diâmetro maior; d=diâmetro menor). devido ao fato de que a exploração nessa área ocorreu há
Para a análise dos dados, utilizamos o teste t não pareado. apenas 3 anos, esse tempo poderia não ter sido suficiente
para que as lianas se estabelecessem a ponto de recuperar a
Resultados sua estrutura origial.
O número e a biomassa de lianas não foram Estudos da comunidade de lianas (densidade, riqueza,
diferentes entre os tratamentos (t=0,75, p=0,469, figura 1 e biomassa etc.) deveriam ser realizados antes e após a
t= 1,34, p=0,206, respectivamente; vide tabela 1). No extração seletiva de madeira na mesma área, a fim de permitir

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 23


inferências sobre o impacto da exploração e propor Johns, J. S., Barreto, P. e Uhl, C. 1996. Logging damage
estratégias de minimização desses impactos, visando a during planned and unplanned logging operations in
sustentabilidade não só econômica, mas também ecológica
the eastern Amazon. Forest Ecology and Manage-
da floresta.
ment 89: 59-77.
Parrotta, J. A., J. K. Francis, O.H. Knowles. 2002.
Agradecimentos
Harvesting intensity affects forest structure and
Agradecemos ao Carlos Eduardo “Jedi” Rittl pela
orientação e pelo auxílio nos trabalhos de campo à Mil composition in an upland Amazonian Forest. Forest
Madeireira, por permitir a realização do estudo em suas Ecology and Management 169: 243-255.
áreas. Putz, F. E. 1983. Liana biomass and leaf area of a “Tierra
Firme” forest in the Rio Negro Basin, Venezuela.
Referências bibliográficas Biotropica 15(3): 185-189.
Bierregaard, R.O., T. E. Lovejoy, V. Kapos, A. A. dos Putz, F. E. 1984. The Natural History of Lianas on Barro
Santos, R. W. Hutchings. 1992. The biological Colorado Island, Panama. Ecology 65(6): 1713-1724.
dinamics of tropical rainforest fragments. Bioscience
42: 859-866.
INPE. 1998. Desmatamento na Amazônia. Disponível na Grupo 3 – Projeto Orientado 2
internet. Orientador do projeto: Carlos Eduardo Rittl

Herbívoros selecionam folhas compostas?


Genimar Rebouças Julião, Paula Machado Pedrosa, Daniela Chaves Resende, Flavio José Soares Jr., Patricia García Tello

Introdução margem serreada podem aparentar que são folhas


Herbivoria e infecções por patógenos em comunidades previamente atacadas. Assim, um herbívoro evitaria a
naturais podem ocorrer com alta freqüência , chegando a utilização de um recurso aparentemente atacado por outros
reduzir 11% da área foliar produzida anualmente (Coley & herbívoros. Alternativamente, pássaros poderiam ser
Aide 1991). Isto pode interferir no crescimento e na atraídos por este morfotipo de folha que sinalizaria a
reprodução de indivíduos, já que a planta atacada irá desviar presença de herbívoros.
recursos para compensar o dano causado (Janzen 1970, A partir do estudo desenvolvido por Gonsales et al.
Dirzo 1984, Clark & Clark 1985, Dirzo & Miranda 1991). (2002), baseamos nossa hipótese na idéia de que as plantas
Desta forma, as plantas desenvolveram mecanismos de com diferentes tipos morfológicos de folhas (simples,
defesa contra os herbívoros, tanto químicas quanto físicas, composta, palmada, lobada digitada) podem sofrer
sendo a fase jovem da planta a mais susceptível à herbivoria. herbivoria diferenciada. Neste estudo, hipotetizamos que
Como estratégias de defesa, plantas podem apresentar plantas que apresentam folhas compostas seriam menos
metabólitos secundários, crescimento rápido das folhas atacadas que plantas com folhas simples, uma vez que a
jovens, produção sincronizada de folhas (efeito de saciação relação margem/limbo é maior, ocorrendo assim uma
do predador), tricomas, clorofilamento tardio, associação “diluição” da área foliar. Assim, a presença de folíolos numa
com formigas (Coley & Aide 1991) e até morte/suicídio de folha (folha composta) minimiza os danos que poderiam
células e/ou tecidos atacados (Fernandes & Negreiros 2002). ser encontrados em uma única folha (folha simples). A
No entanto, Cornelissen & Fernandes (2001) observaram descontinuidade espacial na folha composta atuaria como
que a concentração de compostos secundários e a taxa de uma barreira à herbivoria.
herbivoria se relacionam fracamente na planta hospedeira
Bauhinia brevipes (Leguminosae), mostrando que outras Metodologia
formas de defesa precisam ser estudadas. Este estudo foi realizado no compartimento “N” da área
Gonsales e colaboradores (2002) notaram que a de produção florestal da Mil Madereira, área onde houve
morfologia foliar de arecáceas poderia atuar, extração seletiva de madeira há três anos. A coleta foi feita
alternativamente, como uma forma de defesa contra na área da borda, em função da maior heterogeneidade e
herbívoros. Determinadas formas de folha associadas a uma maior disponibilidade de espécies para serem utilizadas
defesa induzida (que desencadeia processos de defesa como amostras independentes. Para isso, coletou-se em
química) poderiam sinalizar a presença de compostos vários pontos ao longo da borda, utilizando áreas naturais e
químicos repelentes ou tóxicas. Além disso, folhas com a manejadas. As espécies foram coletadas com podão ou,

24 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


quando acessíveis, com tesoura de poda. Discussão
A coleta ocorreu no início da estação chuvosa (novembro) Não houve diferenças significativas na área consumida
e a unidade amostral utilizada foram folhas das espécies por herbívoros na margem e no limbo da folha. Além disso,
que apresentavam sinais de herbivoria. De cada planta, verificamos que folhas compostas e simples possuem
retiramos ramos suficientes para que pudéssemos selecionar quantidades de herbivoria similares, calculada a partir da
10 folhas atacadas. As folhas foram então selecionadas área foliar. Apesar de esperarmos que as folhas com maior
através de uma tabela de aleatorização e fotografadas com razão entre margem e limbo (folhas compostas)
uma câmara digital. A área foliar total, a área danificada apresentariam menos danos causados por herbivoria, o
total e a área atacada na margem e no interior da folha fo- aumento proporcional de bordas, comparado a superfície
ram medidas através do sofware Adobe Photoshop 6.0. O foliar, parece não conferir maior grau de proteção contra
perímetro de cada folha foi medido manualmente. Após herbivoria.
transformação, através de escala padrão, as áreas foram Coley (1983) avaliou uma série de características
quantificadas em milímetros quadrados. Esta técnica foi defensivas de folhas e, entre elas, a espessura explicou cerca
realizada para 14 espécies de plantas que foram de 70% da variação nas taxas de herbivoria em folhas
identificadas, no mínimo em nível de família. maduras . Uma maior ou menor espessura pode limitar a
Para avaliar o efeito proporcional do tamanho da margem utilização por herbívoros que não possuam aparelhos bucais
das folhas de cada espécie, desconsiderando o efeito da área adequados a utilização do recurso vegetal. Um bioensaio
foliar , estabelecemos uma razão entre os valores de proposto por Ribeiro et al. (1994) demostrou que uma
perímetro e área total da folha. Primeiramente, foi testado espécie de Hemiptera e outra de Homoptera selecionam
se as plantas estudadas eram mais atacadas na margem ou diferentemente discos de folhas de Tabebuia ochracea
no limbo da folha, através de um teste t pareado. (Bignoniaceae). No caso do hemíptero, o fator de seleção
Posteriormente, foi feita uma regressão linear com os dados no alimento foi a distribuição diferencial de folhas pequenas
da razão borda/superfície e a área de herbivoria total. e grandes, enquanto a densidade de tricomas de T. ochracea
Finalmente, testou-se o efeito da razão margem (borda)/ foi o fator de seleção do homóptero. A partir destas
limbo (superfície) sobre a área de herbivoria na margem informações, podemos inferir que a mediação da relação
das folhas. herbívoro-planta através de defesas físicas e químicas é
bastante complexa. Características morfológicas da planta
Resultados podem ter um papel defensivo secundário. No entanto, a
As folhas das espécies estudadas foram igualmente contribuição de cada um dos tipos de defesa química e/ou
atacadas, tanto na margem quanto no limbo (t=1,42;G.L.=12; mecânica pode não ser tão evidente, sendo necessários
p=0,17; Figura 1). Os valores obtidos a partir do teste t estudos mais refinados.
mostraram que não há relação entre a área total de herbivoria As plantas estudadas apresentavam uma série de
e a razão entre margem e limbo (t=0,074; p=0,94; GL=7; características que muito provavelmente também afetam a
R2=0,007). Da mesma forma, não houve relação entre a resistência das plantas à herbivoria, mas que não foram
razão margem/limbo e a área atacada na margem (t=0,053; controladas neste experimento, em função do baixo número
p=0,95; GL=7; R2=0,003). de amostras. Estas características devem ser mais
importantes para a proteção da folha e, com isso, podem ter
obscurecido algum possível efeito do aumento da margem
da folha como defesa nas espécies de folhas compostas.
3000

Referências Bibliográficas
2000
Clark, D.B & D.A. Clark. 1985. Seedling dynamics of a
tropical tree: impacts of herbivory and meristem
1000 damage. Ecology 66: 1884-1892.
Coley, P.D. 1983. Herbivory and defensive characteristics
0
of tree species in a lowland tropical forest. Ecological
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Coley, P.D. & T.M. Aide. 1991. Comparison of herbivory
Limbo Borda and plant defenses in temperate and tropical broad-
leaved forests. pp. 25-49 in P.W Price, T.M.
Lewinsohn, G.W. Fernandes & WW Benson, editors.
Figura 1. Média da área foliar atacada no limbo e na Plant-Animal Interactions: Evolutionary Ecology in
borda (margem) nas espécies vegetais estudadas na Mil Tropical Temperate Regions. John Wiley and Sons,
Madereira, Amazônia Central. New York.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 25


Cornelissen, T.G. & G.W. Fernandes. 2001. Defense, and effectiveness of hypersensitive reaction against
growth and nutrient allocation in the tropical shrub galling herbivores across host taxa. Ecological
Bauhinia brevipes (Leguminosae). Austral Ecology 26: Entomology 26: 46-55.
246-253. Gonsales, E.L.; F.M. Coelho, G.Q. Romero, J.C. Santos,
Dirzo, R. 1984. Herbivory, a phytocentric overview. Pp. M. Uehara-Prado. 2002. Morfologia foliar e
herbivoria: mecanismo de engano para herbívoros? pp
141-165 in R. Dirzo & J. Sarukhan, editors. Perspec-
in Curso “Ecologia da Floresta Amazônica”, INPA/
tives in Plant Population Biology. Sinauer, Sunderland,
Smithsonian, 3 de julho a 3 de agosto de 2002.
MA.
Janzen, D.H. 1970. Herbivores and the number of tree
Dirzo, R. & A. Miranda. 1991. Altered patterns of
species in tropical forest. American Naturalist 104:
herbivory and diversity in the forest understory: A case 501-528.
study of possible consequences of contemporary Ribeiro, S.P.; H.R. Pimenta & G.W. Fernandes. 1994.
defaunation. Pp. 273-287 in in P.W Price, T.M. Herbivory by chewing and sucking insects on
Lewinsohn, G.W. Fernandes & WW Benson, editors. Tabebuia ochraceae. Biotropica 26: 302-307.
Plant-Animal Interactions: Evolutionary Ecology in
Tropical Temperate Regions. John Wiley and Sons, Grupo 4 - Projeto Orientado 2
New York. Orientador: Mike Hopkins
Fernandes, G.W. & D. Negreiros. 2001.The occurrence

Influência da exploração madeireira na diversidade e


abundância de aranhas
Eduardo Vasconcelos, Daniela Chaves Resende, Genimar Rebouças Julião, Paula Machado Pedrosa, Yumi Oki

Introdução A mudança da complexidade e da heterogeneidade na


As espécies de plantas e de animais são freqüentemente estrutura da vegetação em áreas sob exploração madeireira
adaptadas a condições micro-climáticas específicas, tais provavelmente interfere na riqueza e na abundância da fauna
como, níveis de temperatura, de umidade e de luminosidade. de aranhas encontradas na vegetação de sub-bosque. Assim,
Quando uma área de mata é explorada, a abertura de clareiras neste trabalho nos propusemos a responder algumas
modifica drasticamente essas condições, o que pode perguntas: 1. O uso de uma área de mata para a extração
acarretar o desaparecimento local de determinadas espécies seletiva de madeira afeta a riqueza e diversidade de aranhas?
estenobiontes (Primack,1993). 2. A distribuição de abundância entre as espécies é
A extração seletiva de árvores causa um aumento da semelhante em área preservada e área explorada? 3. Caso
intensidade luminosa, no interior da floresta, o que favorece haja um grupo dominante, ele é o mesmo na área explorada
o aumento populacional de espécies de plantas de e na área de preservação?
crescimento rápido e diminui a abundância de espécies
tolerantes a sombra (Chambers, et al., 2001). Tal Métodos
configuração vegetal é importante para distribuição das O estudo foi desenvolvido na área de produção florestal
espécies de fauna em todos os níveis. da Mil Madereira (02° 43 20° 41’S; 58° 31' 58° 57’W), no
Os invertebrados apresentam uma grande importância em compartimento de produção anual (CPA) N e na área de
ecossistemas tropicais, em função de seu grande número de preservação permanente da fazenda. O CPA N é um
espécies, sua maior biomassa e sua maior diversidade em compartimento que foi explorado a cerca de 3 anos estando,
relação a todos os demais grupos de animais (Wilson, 1987). atualmente, em fase de recuperação, fato claramente
As aranhas, por sua vez, são um grupo bastante diversificado percebido pelo adensamento do sub-bosque.
e abundante, que desempenha um importante papel na teia Marcamos 8 transectos de 30 metros, a cerca de 30 metros
trófica, atuando como predadores e, indiretamente, da borda: 4 transectos na área preservada e 4 na área
controlando muitas populações animais, como por exemplo, explorada. Ao longo de cada transecto, 20 indivíduos de
de alguns insetos. Por outro lado, são predadas por uma plantas arbustivas, independentemente da espécie, foram
série de outros grupos de animais, entre eles vespas e tomados aleatoriamente como réplicas. A coleta das aranhas
libélulas (Borror & De Long, 1988). foi realizada através do método de guarda-chuva

26 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


entomológico. A similaridade geral entre as amostras dos dois ambientes
Avaliamos a riqueza em espécies nas duas área estudadas foi de 24,4%. As espécies aparentemente mais abundantes
por meio do cálculo do índice de Jackknife (Krebs,1998), nos dois ambientes são as mesmas. No entanto podemos
que permite a comparação entre as áreas, já que calcula um verificar que a espécie 15, que é relativamente abundante
intervalo de confiança para a estimativa. Para determinarmos na área explorada (3 indivíduos) não foi amostrada na área
os graus de dominância e a similaridade entre os grupos de preservada. A presença de algumas espécies na área
aranhas presentes duas áreas, estimamos os índices de preservada, tais como as espécies 29 e 32, também não pode
equitatividade (Evenness) e de Jaccard (Krebs,1998). Para ser confirmada na área explorada (Figuras 2 e 3).
verificar nossas hipóteses, fizemos um dendrograma através
da distância euclidiana para analisar a similaridade entre as 7

amostras das duas áreas estudadas. Para observar a 6

dominância de espécies em cada área, foram feitos 5

histogramas das áreas, explorada e preservada .


4

Frequência
Resultados 3

29 espécies de aranhas na área explorada e 16 espécies 2

na área de preservação, sendo que destas, 11 espécies fo- 1

ram comuns nos dois ambientes.


0
O cálculo dos índices de equitatividade para os pontos 13 9 11 15 22 34 4 5 7 16 17 19 21 1 2 3 6 8 10 12 14 18 20 23 24 25 26 31 33 29 32

estudados mostrou que, nos dois ambientes, não houve uma Morfoespécies

espécie dominante (Tabela 1; Figuras 2 e 3).


Figura 2. Distribuição da abundância das morfoespécies
de aranhas presentes na área explorada.
Tabela 1. Índices de equitatividade das amostras de
aranhas coletadas em área de extração de madereira (Ei)
e de preservação (Pi) na Madereira Mil. 7

Amostras Índice de Shannon


5

(Equitatividade)
4
Frequência

E1 0.88
3

E2 0.98
2

E3 0.99 1

E4 0.98 0
11 13 9 23 24 6 28 3 4 19 25 29 30 32 1 2 5 7 8 10 12 14 15 16 17 18 20 26 27 33 34
P1 0.94 Morfoespécies

P2 0.98
Figura 3. Distribuição da abundância das morfoespécies
P3 0.95 de aranhas presentes na área preservada.

Discussão
6.5
No workshop promovido pelo projeto BIONTE (1998),
em Manaus, a principal conclusão que se tirou foi de que o
6.0
problema central do manejo florestal do estado do Amazonas
5.5
é que a extração de madeira não é feita de modo sustentável.
5.0 Como conseqüência, há o risco de que, com o tempo, o
4.5 suprimento dos produtos da madeira comece a diminuir no
4.0
mercado e, ao mesmo tempo, de que haja uma séria ameaça
à integridade dos ecossistemas amazônicos.
3.5
Apesar disto, podemos dizer que de acordo com nossos
3.0
resultados, a extração seletiva de madeira não afeta a
2.5 comunidade de aranhas de maneira expressiva. Se a curva
E4 E2 P2 P1 E3 P3 E1
de espécies/área fosse feita não teríamos chegado à
Figura 1. Dendrograma calculado pela Distância estabilização, visto que da primeira à última amostra
Euclidiana entre os pontos amostrados, nas duas áreas morfoespécies ainda não coligidos cairão cairam na
estudadas, baseado nos índices de similaridade. amostragem. Isto indica que é arriscado fazermos qualquer

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 27


afirmação sobre diversidade de espécies nos dois ambientes idéias, discussões e assessoria.
estudados.
Era esperado que os pontos amostrados nas diferentes Referências bibliográficas
áreas (explorada e preservada) fossem agrupados BIONTE. 1998. Biomass and Nutrients in the Environ-
separadamente no dendrograma. Isto não foi observado ment. Final report of the ODA- INPA Collaborative
devido à pouca similaridade entre os pontos amostrados, Project. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia,
inclusive dentro do mesmo ambiente (Figura 1). O que in- Manaus, Brazil.
dica que a diferença observada pode ser devido ao acaso. Borror, D.J. & DeLong, D.M. 1988. Introdução ao
Também esperávamos que houvesse dominância de algumas Estudo dos Insetos. Edgard Blücher, São Paulo, pp.
espécies nos diferentes ambientes, mas os índices de 563.
equitatividade observados não confirmam isso. Isto pode Chambers, J.Q.; Eldin, T.V.; Southon, J. & Higushi, N.
ter ocorrido pelo fato de termos poucos exemplares de cada 2001. The Age Structure in Tropical Forests of Central
espécie, a maioria contando com um único indivíduo Amazonia. in pp 68-77, Bierregaard, R.O. Jr.; Gascon,
coletado. C.; Lovejoy, T.E. & Mesquita, R.C.G. (ed.) The
Podemos concluir que a riqueza e a freqüência de aranhas Ecology and Conservation of a Fragmented Forest.
no sub-bosque foram maiores na área explorada. Uma Yale University Press.
possível explicação é a heterogeneidade do sub-bosque das Krebs, C.J. 1998. Ecological Methodology. Addison
áreas que foram exploradas. Estas possuem uma composição Wesley Longman, Menlo Park, pp. 620.
de arbustos mais diversa, provavelmente, devido à abertura Primack, R.B. 1993. Essentials of Conservation Biology.
de clareiras que resultaram da atividade de corte seletivo, Sinauer Associates Inc., Sunderland, 564 pp.
propiciando maior número de nichos. Wilson, E. O. 1987. The Arboreal ant Fauna of Peruvian
Amazon Forest: a First Assessment. Biotropica 19:
Agradecimentos 245-251.
Agradecemos ao Eduardo Venticinque, Ocírio Pereira
(Juruna) e ao Marcelo Moreira (Pinguela) pela troca de Projeto Livre 1

Efeito da extração seletiva de madeira na comunidade


de formigas em diferentes escalas
Eduardo Cardoso Teixeira, Ana Paula Carmignotto, George Camargo, Josué Ribeiro da Silva Nunes, Patrícia Garcia Tello, Sylvia

Miscow Mendel e Vanina Zini Antunes

Introdução depende da escala espacial na qual as comunidades são


A extração de madeiras é uma das principais atividades amostradas. Em geral, os efeitos dos distúrbios em florestas
antrópicas que têm contribuído para o aumento da taxa de tropicais têm sido estudados em uma grande extensão de
desmatamento na Amazônia (INPE, 1998). Atualmente, escalas espaciais. A questão de como os distúrbios afetam a
algumas madeireiras têm praticado o corte seletivo de diversidade em diferentes escalas espaciais ainda não foi
árvores retirando da floresta apenas espécies de valor investigada para artrópodos (Hamer & Hill, 2000;
econômico. Porém, há poucos estudos sobre o efeito da Guimarães et al., 2001).
extração seletiva sobre comunidades animais (Rittl, 1998). As formigas (Hymenoptera: Formicidae) podem ser
Sabemos, no entanto, que o processo de desmatamento é consideradas como indicadoras de perturbação e de status
responsável pela perda e isolamento de habitats, resultando de conservação de habitats (Holldobler & Wilson, 1990),
no decréscimo da diversidade biológica (Major et al., 1999). pois são organismos sensíveis a alterações na complexidade
A criação de novos hábitats, devido a alterações do ambiente, estrutural do habitat (Santos et al., 1999). Nesse sentido, os
por outro lado, elevam a riqueza de espécies de muitas áreas, objetivos deste trabalho foram avaliar o efeito da extração
permitindo que espécies generalistas estendam suas áreas seletiva de madeira sobre a comunidade de formigas e
de ocupação (Gibb & Hochuli, 2002). analisar como este efeito ocorre em diferentes escalas
A diversidade de espécies dentro de uma paisagem espaciais.

28 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Métodos SYSTAT versão 8.0 e EXCEL foram utilizados para realizar
O estudo foi realizado na área do compartimento ‘N’ a análise de agrupamento e para confecção dos gráficos,
pertencente à Madereira Itacoatiara Limitada (2o43’ - 3o04’ respectivamente.
S; 58o31’ - 58o57’W), que passou por corte seletivo em 1999, Foram registradas 31 morfoespécies de formigas para as
e em uma área de preservação permanente da madeireira quatro parcelas amostradas. As parcelas situadas na área
separada do compartimento ‘N’ por uma estrada de terra. preservada apresentaram um número maior de
A região apresenta precipitação média anual de 2.200 mm morfoespécies (24) quando comparado às áreas exploradas
e temperatura média anual de 26oC. O solo é do tipo latossolo (16). Observando-se a composição morfoespecífica,
amarelo distrófico argiloso (Rittl, com. pessoal). verificamos também que há mais morfoespécies restritas às
Foram montadas duas parcelas com diferentes tamanhos áreas preservadas em relação às exploradas (Figura 2).
de área em cada ambiente de estudo: a mata preservada (P)
e a explorada (E). Cada parcela foi montada à 50 m da borda (%) 60 15
e entre as parcelas de cada habitat estabeleceu-se a distância 50
40
de 100 m. Estas foram constituídas de três quadrados cada, 9
30 7
onde distribuímos 19 pontos conforme mostra a Figura 1.
20
As parcelas progrediam aritmeticamente, uma contendo a 10
outra. A menor era composta por nove pontos equidistantes 0
a cada metro, abrangendo uma área de 4 m2. A parcela P+E P E
intermediária, com nove pontos equidistantes a cada dois Ambientes
metros compreendeu uma área de 16 m2. A área maior, com
Figura 2. Porcentagem relativa do número de
pontos equidistantes a cada quatro metros, tinha área de 64 morfoespécies comuns (P+E) e exclusivas registradas
m2 (Figura 1). Em cada um dos pontos colocamos um pedaço para a área preservada (P) e para a área explorada (E). O
de papel (10,5 x 15 cm) com uma pequena quantidade de número acima das barras indica o número absoluto de
sardinha como isca. As parcelas foram iscadas par a par morfoespécies registrado no respectivo ambiente.
simultaneamente, com um intervalo de 30 min entre os pares.
As amostras foram coletadas após uma hora e meia. Após Comparando-se as duas parcelas amostradas em cada
coletadas, as amostras foram acondicionadas em sacos ambiente, observamos maior heterogeneidade entre as
plásticos. Na base de estudo as amostras foram triadas e os parcelas nas áreas preservadas do que entre as áreas
indivíduos foram fixados em álcool e posteriormente exploradas (Figura 3). O dendrograma de similaridade
identificados a nível de morfoespécies. baseado na composição de morfoespécies entre as parcelas
Com o intuito de verificar a similaridade entre a amostradas corrobora este estudo mostrando uma maior
composição faunística nas diferentes parcelas amostradas, similaridade entre as áreas exploradas do que entre as áreas
construímos um dendrograma utilizando como medida de preservadas (Figura 4).
similaridade a distância euclidiana e como método de
(%) 60 11
agrupamento a UPGMA. Para avaliar o efeito da escala na 50
composição morfoespecífica, fizemos um gráfico com a 40 7
30 6
riqueza e a média do número de espécies de cada parcela,
20
considerando as diferentes áreas estudadas. Os programas 10
0
P1 + P2 P1 P2
Parcelas
(%) 60
50
6
40 5 5
30
20
10
0
E1 + E2 E1 E2
64m2 Parcelas

16m2
Figura 3. Porcentagem relativa do número de
4m2
morfoespécies exclusivas registradas em cada uma das
parcelas na área preservada (P1 e P2) e na área explorada
(E1 e E2) e do número de morfoespécies comuns às
Figura 1. Desenho amostral das parcelas hierárquicas. A parcelas de cada ambiente, separadamente (P1+P2 e
legenda mostra a área delimitada pelos diferentes E1+E2). O número acima das barras indica o número
pontos. absoluto de morfoespécies.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 29


A figura 5 ilustra a variação na riqueza encontrada em Algumas espécies de formigas, inclusive, são utilizadas
cada uma das parcelas em relação à área amostrada. como bioindicadoras para avaliar o grau de perturbação
Observamos que há menor variabilidade nos dados obtidos ambiental (Hölldobler & Wilson, 1990). No presente
para as áreas exploradas do que nos obtidos para as áreas trabalho, porém, encontramos um maior número de espécies
preservadas. Adicionalmente, os dados obtidos nos plotes em áreas preservadas quando comparado ao de áreas que
com maior área de amostragem revelaram maior diferença sofreram extração seletiva de madeira. A menor riqueza
entre os ambientes, e menor variabilidade entre os dados. encontrada nas áreas exploradas pode ser explicada pelo
pouco tempo de reabilitação do ambiente (3 anos), e, ainda,
pela redução no número de espécies vegetais nestas áreas
(Armbrecht & Ulloa-Chacón, 1999; Carvalho &
Vasconcelos, 2002), o que altera o número de microhábitats
a serem ocupados pelas formigas .
O maior número de morfoespécies restritas às áreas
P1 preservadas, provavelmente é decorrência das alterações
causadas pela extração de madeira sobre os microhábitats
da mata explorada. Tais perturbações devem ter efeito sobre
E1 o desaparecimento de determinadas espécies na região.
Segundo Roth & Perfecto (1994) a diminuição no número
de sítios de nidificação, na quantidade de alimento e nas
E2 áreas de forrageamento causam uma redução da diversidade
local de formigas.
A similaridade faunística encontrada entre as duas
P2 parcelas das áreas exploradas e a distância entre estas e as
parcelas das áreas preservadas sugerem que as últimas
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 apresentam um maior número de espécies exclusivas,
Distância Euclidiana ocorrendo pequena sobreposição de espécies entre estas
parcelas. Diferentemente das áreas exploradas, onde há um
maior número de morfoespécies em comum. A pequena
Figura 4. Dendrograma de similaridade baseado na
similaridade faunística pode estar associada a uma maior
composição de morfoespécies de formigas entre as
heterogeneidade ambiental, o que aumenta a disponibilidade
parcelas amostradas. Utilizou-se como medida de
de recursos, proporcionando microhabitats para várias
similaridade a distância Euclidiana com a média de
espécies. Este resultado corrobora a hipótese acima, de que
grupo. P1 e P2= parcelas na área preservada; E1 e E2=
áreas com maior número de microhabitats e,
parcelas na área explorada.
consequentemente, maior heterogeneidade ambiental,
apresentam maior riqueza específica, fato também
comprovado por outros estudos comparativos de
mirmecofauna (Castro & Queiroz, 1987; Soares et al., 1998;
Armbrecht & Ulloa-Chacón, 1999).
Observamos que o efeito da escala parece influenciar o
número de morfoespécies e na diferença dos resultados en-
tre as parcelas, o que já tinha sido constatado no estudo de
Guimarães-Jr et al. (2001). Em áreas pequenas (menores
que 64 m2), a variabilidade encontrada foi grande, não sendo
possível verificar diferenças entre as parcelas. Pelo
Figura 5. Número de morfoespécies (S) registrado em contrário, nas parcelas de 64 m2 há maior concordância en-
cada uma das parcelas amostrada (P1 e P2 – na área tre os dados de cada um dos dois ambientes amostrados,
preservada e E1 e E2 – na área explorada).As linhas revelando diferenças entre eles.
representam as médias de riqueza na área preservada Hamer e Hill (2000) observaram que distúrbios
(pm) e na área explorada (em). antrópicos tiveram efeitos opostos na diversidade de Lepi-
doptera em pequenas e grandes escalas: com o decréscimo
da escala, a probabilidade de que a diversidade aumente
Discussão sob o efeito destes distúrbios é maior. Os mesmos autores
A maioria dos estudos realizados para avaliar o impacto examinaram a relação entre a escala espacial e a diversidade
da ação antrópica sobre a mirmecofauna mostra que a de borboletas em florestas intactas e florestas com retirada
riqueza de espécies é maior em áreas perturbadas do que seletiva de madeira na Indonésia. A riqueza de espécies
em áreas preservadas (Armbrecht & Ulloa-Chacón, 1999). aumentou com a escala espacial nas duas áreas, mas com

30 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


uma taxa significantemente mais rápida na floresta intacta, Hamer, K. C. & J. K. Hill. 2000. Scale-dependent effects
enquanto a equitabilidade entre as espécies aumentou com of habitat disturbance on species richness in Tropical
a escala em florestas intactas mas não em florestas Forests. Conservation Biology 14(5): 1435-1440.
exploradas. Esses dados indicam que os efeitos da Holldobler, B. & E. D. Wilson. 1990. The Ants. Cam-
modificação do hábitat na diversidade de espécies são bridge: Harvard University Press. 732 pp.
fortemente dependentes da escala. Estudos futuros são INPE. 1998. Desmatamento na Amazônia. Disponível na
necessários para comprovar esta análise exploratória Internet.
examinando os efeitos de distúrbio em diferentes escalas Major, R. E., F. J. Christie, G. Gowing, T. J. Ivison. 1999.
espaciais com outros grupos taxonômicos. Age structure and density of red-capped robin popula-
tions vary with habitat size and shape. Journal of
Referências Bibliográficas Applied Ecology 36(6): 901-908.
Armbrecht, I. & P. Ulloa-Chacón. 1999. Rareza y Rittl, C. E. 1998. Efeitos da extração seletiva de
diversidad de hormigas en fragmentos de bosque seco madeira sobre a comunidade de pequenos
colombianos y sus matrices. Biotropica 31(4): 646- mamíferos de uma floresta de terras firme na
653. Amazônia Central. Dissertação de mestrado pelo
Carvalho, K. S. & H. L. Vasconcelos. 2002. Comunidade Programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e
de formigas que nidificam em pequenos galhos da Recursos Naturais do Convênio entre o Instituto
serrapilheira em floresta da Amazônia Central, Brasil. Nacional de Pesquisas da Amazônia e a Universidade
Revista Brasileira de Entomologia 46(2): 115-121. do Amazonas.
Castro, A. G. & M. V. B. Queiroz. 1987. Estrutura e Roth, D. S. & I. Perfecto. 1994. The effects of manage-
organização de uma comunidade de formigas em agro- ment systems on ground-foraging ant diversity in Costa
ecossistema neotropical. Anais da Sociedade Rica. Ecological Applications 4(3): 423-436.
Entomológica do Brasil 16(2): 363-375. Santos, A. J., K. L. Silva & H. F. Cunha. 1999. Efeito de
Gibb, H. & D. F. Hochuli. 2002. Habitat fragmentation in borda sobre formigas na Reserva do km 41 (Amazônia
an urban environment: large and small fragments Central), p. 61-63. In: E. Venticinque & M. Hopkins
support different arthropod assemblages. Biological (orgs.). Curso de Campo de Ecologia da Floresta
Conservation 106: 91-100. Amazônica.
Guimarães-Jr, P. R., J. V. R. Ramos, M. R. Russo, G. Soares, S. M., C. G. S. Marinho, T. M. C. Della Lucia.
Camargo & P. P. Amaral. 2001. Efeito de escala na 1998. Riqueza de espécies de formigas edáficas em
abundância de formigas e na profundidade do folhedo, plantação de eucalipto e em mata secundária nativa.
p. 11-13. In: G. Camargo, S. Y. S. Longo, P. P. Amaral, Revista Brasileira de Zoologia 15(4): 889-898.
M. C. Santos & E. Fischer (orgs.). Curso de Campo
de Ecologia do Pantanal. Projeto Livre- Madeireira MIL.

Estrutura das populações de três espécies de palmeiras


em duas áreas florestais na Amazônia Central
Flávio J. Soares Júnior; Luiz Henrique Claro Júnior; André F. Mendonça e Ocírio “Juruna”

Introdução população ao declínio.


A extração seletiva de madeira leva à formação de Algumas espécies de palmeiras como Astrocaryum
clareiras nas florestas. Estas clareiras que são geralmente sciophilum, Oenocarpus bacaba e Attalea attaleoides são
causadas pela queda das árvores, podem ser ainda resultado amplamente distribuídas pelos sub-bosques dos platôs e
da abertura de trilhas para o arraste de toras e de pátios para vertentes da Amazônia Central e Guianas. Astrocaryum
armazenamento provisório das mesmas. As palmeiras, sciophilum, espécie acaule, apresenta folhas de até 7 m de
principalmente quando estão em suas fases mais jovens, são comprimento, com espinhos pretos, grandes e normalmente
passíveis de sofrer injúrias físicas ou mesmo de não se planos na face abaxial das pinas prateadas. Attalea
adaptarem às novas condições ambientais estabelecidas pelo attaleoides apresenta folhas de até 9 m saindo de um caule
processo exploratório. Nesse sentido, a extração de madeiras subterrâneo, a superfície abaxial do raquis das folhas é
pode levar indivíduos à morte, e consequentemente, a sua colorida em tons pardos, e as pinas são lineares e

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 31


regularmente dispostas em um só plano. Esta espécie tem Resultados
uma arquitetura em funil que acarreta acúmulo de detrito Foram amostrados 327 indivíduos de palmeiras, entre
orgânico entre as bases das folhas. Oenocarpus bacaba é plantas jovens e adultas. Estes, por sua vez, foram
uma espécie que difere das outras pois apresenta um caule distribuídos entre as espécies Astrocaryum sciophilum,
aéreo. Suas folhas apresentam uma bainha parcialmente Oenocarpus bacaba e a Attalea attaleoides que foram
fechada com pinas lineares, agrupadas e dispostas em ângulo representadas por 81, 209 e 27 indivíduos, respectivamente
diferentes (Henderson et al., 1995; Ribeiro et al.,1999). (Figura 2).
O objetivo deste trabalho é avaliar os efeitos da extração
seletiva de madeira sobre a população de palmeiras de sub-
bosque, comparando as abundâncias de Astrocaryum
90 Oenocarpus bacaba
sciophilum, Oenocarpus bacaba e Attalea attaleoides em 80
uma área preservada e outra manejada de floresta de terra 70 Astrocarium sciofilum

No. de indivíduos
60
firme na Amazônia Central. 50 Attalea attaleoides
40
30
Métodos 20
10
O presente estudo foi realizado na propriedade da Mil
0
(Madeireira Itacoatiara Ltda), no município de Itacoatiara t1 t2 t3 t4
explorada preservada
(2o43’ - 3o04’S, 58o31’ - 58o57’W), em novembro de 2002. Local
As médias anuais de temperatura e de precipitação são de
Figura 2. Distribuição de frequências de indivíduos de
26oC e 2.200mm, respectivamente.
três espécies de palmeiras por parcelas de amostragem
Para amostrar as populações das três espécies de
em áreas presentes e explorada na Madeireira Mil.
palmeiras nas duas áreas florestais sob diferentes condições
de preservação (explorada e preservada), foi utilizado o
método de parcelas (Mueller-Dombois & Ellenberg 1974). A distribuição de indivíduos por classe de altura destacou
Para cada uma das áreas foi estabelecida uma parcela de 3 os indivíduos mais jovens como a categoria dominante,
x 50m, denominados T1 e T2 (área explorada) e T3 e T4 independente da espécie analisada. Oenocarpus bacaba, por
(área preservada). exemplo, apresentou 95% de seus indivíduos com altura
Para cada um dos indivíduos amostrados foi estimada a igual ou inferior a um metro para a área preservada e 91%
altura total por meio de uma referência de altura conhecida para a área explorada (Figura 3a). Para a espécie
e medido o diâmetro do caule à altura do solo (DAS) com Astrocaryum sciophilum, a mesma classe reteve 45% da
auxílio de um paquímetro. Para as espécies acaules foram abundância (Figura 3b), enquanto Attalea attaleoides
mensurados os diâmetros dos pecíolos à altura do solo, sendo apresentou um percentual ainda menor (Figura 3c).
os mesmos somados em seguida. 120
A divisão de cada espécie em classes de tamanho foi 100
80
inicialmente baseada no “plot” de Whittaker” (Krebs 1998), 60
40
usualmente aplicado para comunidades. Entretanto, a curva 20
apresentou uma única deflexão (Figura 1) correspondendo 0
0-1,00 1,01- 2,01- >3,00 (a)
a aproximadamente 100 cm de altura. Dessa maneira, 2,00 3,00
manteve-se esta como a primeira classe e criou-se outras 25
(classe-1= menores que 1m; classe 2= de 1 a 1,99m; classe 20

3= de 2 a 2,99; classe 4= 3 ou mais. 15

Foram produzidos histogramas de abundância por 10


5
parcela, por ambiente e por classe de tamanho.
0
700 0-1,00 1,01- 2,01- >3,00 (b)
2,00 3,00
600 25

500 20
Altura (cm )

15
400
10
300
5
200 0
0-1,00 1,01- 2,01- >3,00 (b)
100 2,00 3,00

0
1 15 29 43 57 71 85 99 113 127 141 155 169 183 197
Abundância (n) Figura 3. Abundância de a) Oenocarpus bacaba, b)
Figura 1. Ranqueamento dos indivíduos de Oenocarpus Astrocaryum sciophilum e c) Attalea attaleoides por classe
bacaba por altura. de tamanho (Ap- área protegida; Ae- área explorada).

32 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Todas as três espécies foram mais abundantes na parcela sua extensão, onde se constatou a presença de indivíduos
“T3”, enquanto as abundâncias nas parcelas restantes esmagados por galhos e troncos. O resultado expôs uma
apresentaram-se bastante similares, salvo a espécie condição natural e freqüente em áreas florestais: aberturas
Oenocarpus bacaba cujo número de indivíduos foi mais de clareiras. Entretanto, dado o reduzido número de unidades
similar entre as parcelas “T1” e “T3” (Figura 4). amostrais, esse condição superestimou a perturbação natu-
ral na área preservada, mascarando eventuais diferenças
0-100 entre os tratamentos.
10 101-200 A superioridade numérica nas menores classes de
201-300
5 301-400 tamanho das três espécies de palmeiras não permite fazer
0 inferências quanto à tendência das populações. A principal
(a)
delas está no prognóstico positivo da viabilidade
No. de indivíduos

20 populacional. Era esperado que a extração de madeira


10 produzisse impactos negativos tão fortes e direcionados, a
0 ponto de inviabilizar populações de certas palmeiras.
(b)
Contudo, deve-se ressaltar a forte presença de representantes
100 nas maiores classes de tamanho na área preservada, que não
50 foram registradas nas nossas amostras.
0
T1 T2 T3 T4 (c)
Agradecimentos
Agradecemos ao Jansen Zuanon pelas críticas e
explorada preservada
contribuições ao trabalho.
Locais

Figura 4. Distribuição de indivíduos por classe de Referências bibliográficas


tamanho em cada parcela para: a) Attalea attaleoides, b) Henderson, A., G. Galeano & Bernal. 1995. Field Guide
Astrocaryum sciophilum e Oenocarpus bacaba. to the Palms of the Americas. Princeton Univ. Press:
New Jersey, USA.
Discussão Krebs, C.J. 1999. Ecological Methodology. Addison
Partindo do pressuposto que as palmeiras são Wesley Longman, New York, USA.
representativas de áreas bem estruturadas, por apresentarem Mueller-Dombois, D. & H. Ellenberg. 1974. Aims and
um crescimento lento e que geralmente perecem ao sofrer Methods of Vegetation Ecology. Willey & Sons, New
injúrias nas fases iniciais de vida, era esperada uma marcante York, USA:
diferença na estrutura das populações entre as duas áreas Ribeiro, J.E.L. da S. M.A.D. Hopkins, A. Vicentini, C.A.
de estudo. Entretanto, os resultados encontrados não Solters, M.A. da Costa, J.M. de Brito, M.A.D. de
corroboraram nossa hipótese. Souza, M.R. Mesquita & L.C. Procopio. 1999. Flora
Apesar da maior abundância em uma das parcela “T3”, da Reserva Ducke: Guia de Identificação das Plantas
o mesmo não se repetiu na outra. O motivo provável foi o Vasculares de uma Floresta de Terra Firme na
posicionamento da parcela, que incluiu uma clareira em toda Amazônia Central: INPA/DFID, Manaus, Brasil.

Densidade de plântulas em áreas preservadas e sob


extração seletiva de madeira na Amazônia Central
Flaviana Maluf de Souza, Ana Maria Benavides, Carolina Morales, Carina Lima da Silveira

Introdução espécies, subsidiando tanto a proposição de estratégias de


Uma das grandes discussões sobre a exploração conservação da biodiversidade quanto a elaboração de
madeireira em florestas tropicais diz respeito aos impactos propostas para o manejo comercial da floresta.
sobre o ecossistema a longo-prazo (Parrotta et al., 2002). A Efeitos negativos persistentes na estrutura, dinâmica e
regeneração natural pode ser considerada um dos processos- composição da regeneração podem ser gerados pelo
chave na manutenção da floresta, e a investigação e o processo de extração (Parrotta et al., 2002) tanto pela queda
monitoramento da resposta da regeneração a diferentes tipos das árvores quanto pela retirada das toras da mata. Entre os
e intensidades de distúrbio é imprescindível para que se fatores bióticos e abióticos que influenciam o sucesso da
possa fazer predições sobre a estrutura e composição de germinação e do estabelecimento das plântulas, podemos

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 33


citar a intensidade de luz (Sork,1987), o tipo e a qualidade (melastomatáceas, palmeiras e monocotiledôneas) foram
de serapilheira (Cintra & Horna, 1997) e o grau de altamente variáveis (Figuras 1, 2, 3).
compactação do solo (Hopkins com. pess.). A extração de Não encontramos diferenças significativas para o número
árvores de grande porte, assim como a abertura das trilhas total de plântulas (K-W=0.808; p= 0.688, Figura 1), número
de arraste aumentam a intensidade de luz que chega ao sub- de melastomatáceas (K-W= 4.261, p=0.119), número de
bosque. Tendo em vista a eliminação da serapilheira e a monocotiledôneas (K-W=2.848, P=0.241) e número de
compactação do solo decorrentes da constante circulação palmeiras (K-W=1.439, P=0.487) entre os três ambientes
de tratores e skidders nessas trilhas (Parrotta et al., 2002) é estudados (Figura 2).
de se esperar que o efeito sobre a regeneração seja maior
nesse ambiente quando comparado a áreas exploradas. 600
Por outro lado, diferentes espécies de plantas respondem

Número de plântulas
diferentemente a essas mudanças nos fatores ambientais 500
(Cintra & Horna, 1997). As espécies pioneiras são 400
favorecidas por uma maior disponibilidade de luz e têm
maiores probabilidades de estabelecimento depois de uma 300
remoção do solo. Assim, a investigação da resposta da 200
regeneração a essas mudanças é essencial para que se possa
compreender melhor a dinâmica da floresta e fazer predições 100
da estrutura e da composição florística para fins de manejo. 0
A DA A
O objetivo deste trabalho foi verificar o impacto da RAD VA ILH
O ER TR
extração seletiva de madeira na densidade de plântulas de PL ES
EX PR
um modo geral e de alguns grupos indicadores, três anos Ambiente
após o corte.
Figura 1. Número de plântulas por parcela (n=4) nos três
Métodos ambientes estudados.
O trabalho foi desenvolvido no compartimento “N” da
Mil Madeireira, situada no município de Itacoatiara, AM. 50
Número de plântulas

No compartimento, a área de floresta preservada encontra- 40


se separada da área de extração seletiva de madeira apenas
30
por uma estrada de cerca de 8 m de largura.
20
Quatro parcelas de 3 x 5 m (15 m2) foram instaladas em
três situações: i) nas trilhas de arraste de uma área explorada; 10 Melastomatáceas
Monocotiledôneas
ii) na área explorada, fora das trilhas de arraste; iii) numa 0 Palmeiras
DA D A A
RA VA IL H
área de mata preservada. As parcelas instaladas na área P LO S ER TR
EX P RE
explorada seguiram um delineamento pareado, sendo Ambiente
locadas a apenas 10 m de distância uma da outra (uma na
trilha de arraste, outra fora da trilha) estando assim, Figura 2. Número de plântulas de melastomatáceas,
submetidas a mesma variação local. As trilhas de arraste monocotiledôneas e palmeiras por parcela (n=4), nos três
estavam distantes cerca de 100 m umas das outras e a ambientes estudados.
distância mínima entre as parcelas na área preservada
(distribuídas aleatoriamente) foi de 60 metros. Todas as Discussão
parcelas foram locadas a 50 metros da estrada em direção
A ausência de diferenças significativas na densidade de
ao interior da mata, para minimizar o efeito da borda.
plântulas total e por grupos taxonômicos pode indicar que a
Em cada parcela registramos o número de indivíduos com
extração de baixo impacto não está influenciando a
até 50 cm de altura (que chamaremos de plântulas),
densidade de plântulas. É possível pensar, então, que a
discriminando aqueles pertencentes à família das
extração madeireira de baixo impacto não provoca
melastomatáceas, monocotiledôneas e palmeiras, por serem
mudanças na regeneração da floresta ou que os métodos
as duas primeiras indicadoras de áreas mais abertas e as
utilizados neste estudo não foram os mais adequados para
palmeiras, de áreas mais fechadas. As análises foram feitas
detectá-las. Parece que a composição de espécies de
para o número de plântulas total e para os grupos
plântulas seria mais sensível aos efeitos da extração
separadamente, utilizando-se o teste de Kruskal-Wallis.
madeireira do que a densidade, já que as espécies respondem
diferentemente aos distúrbios (Cintra e Horna 1997). Assim,
Resultados testes com grandes grupos podem mascarar as respostas
Em termos gerais, o número total de plântulas, assim específicas e a detecção de efeitos, como no caso deste
como o número de plântulas de cada grupo taxonômico trabalho.

34 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


A grande variabilidade entre as parcelas e o pequeno Referências bibliográficas
número de amostras enfraquecem as conclusões a partir dos Cintra, R. ; Horna, V. 1997. Seed and seedling survival of
resultados obtidos. Acreditamos que estudos levando em the palm Astrocaryum murumuru and the legume tree
consideração a composição de espécies de plântulas devem Dipteryx micrantha in gaps in Amazonian forest.
ser realizados e associados a um número maior de amostras Journal of Tropical Ecology. 13:257-277.
e por longos períodos, a fim de fazer predições sobre os Sork, V.L. 1987. Effect of predation and light on seedling
efeitos da extração a longo-prazo e direcionar as propostas establishment of Gustavia superba. Ecology, 68: 1341-
de manejo para que se atinja a “sustentabilidade” da floresta. 1350.
Parrotta, J. A.; J. K. Francis; O. H. Knowles 2002.
Agradecimentos Harvesting intensity affects forest structure and
Agradecemos ao Marcelo “Pinguela” pela imprescindível composition in an upland Amazonian Forest. Forest
ajuda nos trabalhos de campo. Ecology and Management 169: 243-255.

Fatores ambientais associados à localização das tocas


de bodós Liposarcus pardalis (Loricariidae) no lago
Camaleão, ilha da Marchantaria
Sylvia Miscow Mendel, George Camargo, Ana Maria Benavides, Daniela Chaves Resende

Introdução
Altura do barranco +
Os loricariídeos, conhecidos por acaris, cascudos ou Densidade de raízes
bodós, são peixes de hábito alimentar detritívoro,
- - -
caracterizados pelo corpo recoberto de placas ósseas, que
formam uma couraça protetora (Ferreira et al. 1998). + Cobertura de capim
+ Número de tocas
Luz
Liposarcus pardalis é um bodó de grande porte, chegando
+
a alcançar cerca de 50 cm de comprimento. O período de
Declividade do barranco
desova desta espécie se inicia no final da estação seca e seu
comportamento consiste em cavar tocas em barrancos para + ou -
depositar seus ovos (Ferreira et al. 1998). Apesar de L.
pardalis ser o loricariídeo de maior importância comercial Figura 1. Modelo conceitual do efeito das variáveis
na bacia do Amazonas (Ferreira et al. 1998), o conhecimento estudadas sobre o número de tocas produzidas por
sobre a biologia deste animal é ainda rudimentar e Liposarcus pardalis nas margens do lago Camaleão, ilha
fragmentário. da Marchantaria. Os sinais associados às setas do modelo
Segundo o modelo conceitual descrito abaixo (Fig. 1), a referem-se aos efeitos positivos (+) ou negativos (-)
seleção de locais para a construção de tocas poderia ser que, hipoteticamente, podem estar sendo causados por
afetada negativamente pela existência de uma densa trama variáveis diretas e indiretas no número de tocas
de raízes que dificultaria a construção dos abrigos. Por sua observadas. As setas que ligam os compartimentos do
vez, a presença de vegetação arbórea diminuiria os processos modelo indicam a direção da influência de uma variável
erosivos, mantendo um barranco mais vertical o que sobre o número de tocas.
facilitaria a construção das tocas, em função de possíveis
limitações de mobilidade dos bodós. No entanto, a cobertura
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar se o
dos barrancos por capins favoreceria a escolha destes locais
comportamento de desova em tocas apresentado por L.
para a construção das tocas, pois serviria de fonte alimentar
pardalis pode ser influenciado por fatores ambientais,
para os bodós, que apresentam hábito alimentar detritívoro.
conforme descrito neste modelo conceitual.
A quantidade de luz incidente e a altura do barranco
poderiam influenciar direta ou indiretamente a localização
das tocas para a desova dos bodós.
Métodos
Este trabalho foi desenvolvido no lago Camaleão, ilha

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 35


10
da Marchantaria, Amazônia Central. Foram feitas 16
parcelas de 10 x 1m, distantes no mínimo 50m uma da

Número de tocas
5
outra, de modo a abranger uma maior amplitude da variação
de quantidade de tocas, observadas ao longo do barranco. 0

Em cada parcela, medimos a declividade do barranco a partir


-5
da superfície da água com o auxílio de um transferidor, a
altura do barranco a dois metros da linha d’água, a -10
-30 -20 -10 0 10 20 30 40
porcentagem de cobertura de capim e a luminosidade com Declividade
o uso de esferodensiômetro. Para testar a influência destas
variáveis sobre a localização das tocas, quantificamos o
Figura 2. Resíduos parciais da regressão entre a
número de tocas presentes no barranco, expostos no período
declividade e o número de tocas de bodós L. pardalis
de seca, até o limite da interface água-terra.
observadas na margem esquerda do lago Camaleão, ilha
As tocas dos bodós foram localizadas visualmente nos
da Marchantaria (N=15; R2=0,74 ß=0,71; t=0,57;
barrancos, a partir de uma inspeção prévia realizada no lago,
p=0,01).
com o auxílio de um barco a motor. Em função do tamanho
das tocas e do conhecimento da fauna de bodós
(Loricariidae) presente no lago (J. Zuanon, com. pess.),
assumimos que as mesmas foram construídas por indivíduos
Altura do barranco + 0.242
da espécie Lipossarcus pardalis. Densidade de raízes
O modelo conceitual descrito anteriormente foi testado - 0.861 - 0.145
por meio de uma análise de caminhos (path analysis) (Krebs, - 0.546
+ 0.05
1999; Scheiner & Gurevitch, 1993). O valor atribuído a cada Cobertura de capim Número de tocas
Luz
seta corresponde ao coeficiente padronizado das regressões - 0.674 + 0.708
lineares simples e múltiplas entre as variáveis. Declividade do barranco

Resultados - 0.333
Os barrancos estudados apresentaram, em média, uma
altura de 1m, com declividade de 40° e 27,5% de Figura 3. Análise de caminhos para as variáveis que
luminosidade. Foi observada uma média de 8,5 tocas em influenciam direta e indiretamente o número de tocas de
cada parcela de 10 m2. A densidade de raízes (N=16; ß=- L. pardalis observadas na margem esquerda do lago
0,14; t=0,61; p=0,55), a cobertura de capim (N=16; ß=0,05; Camaleão, ilha da Marchantaria.
t=0,20; p=0,55) e a luminosidade (N=16; ß=-0,33; t=1,03;
p=0,37) não afetaram o número de tocas presentes nos bar-
verticais elaborados.
rancos. Já a declividade apresentou um efeito positivo sobre
O efeito negativo da luminosidade associado ao efeito
o número de tocas construídas pelos bodós (N=16; ß=0,71;
da altura do barranco e da cobertura de capim indica que
t=0,57; p=0,01; Fig. 2). A proporção da variação total dos
margens mais baixas, por estarem mais expostas à luz (o
dados explicada pelo modelo (R2) foi de 74%.
que propicia o crescimento de capim) não são locais
A luminosidade (N=16; ß=-0,55; t=1,55; p=0,15) e a
adequados para a construção das tocas, talvez, em função
altura do barranco (N=16; ß=0,24; t=0,69; p=0,50), por sua
da já citada limitação física dos bodós.
vez, não afetaram a densidade de raízes presentes no solo,
Da mesma forma, uma grande quantidade de raízes pode
apesar do modelo ter explicado 53% da variação total (Fig.
dificultar a construção das tocas, ao passo que, a trama de
3). Há uma relação negativa entre a altura do barranco e a
raízes das árvores da floresta ripária auxilia na manutenção
luminosidade do lago (N=16; R2=0,69; ß=-0,86; t=-6,33;
da integridade física dos barrancos o que, provavelmente,
p<0,001, Fig. 3), no entanto, a luminosidade teve um efeito
resulta em tocas mais resistentes aos efeitos erosivos da água.
positivo sobre a cobertura de capim do lago (N=16; R2=0,45;
Isso, possivelmente, favorece a permanência das tocas de
ß=0,67; t=3,41; p<0,001, Fig. 3).
um ano para outro, resultando em um acúmulo de tocas
nesses locais.
Discussão Finalmente, a dependência entre o número de tocas
As placas externas presentes no corpo dos membros da observadas e a maior declividade do barranco pode
família Loricariidae, apesar de oferecerem uma proteção representar uma nova estratégia de manejo para esta espécie.
contra predadores, diminuem de forma considerável a A presença da mata de várzea reduz a possibilidade de
manobrabilidade do nado dos indivíduos (Zuanon, J. com. erosão dos solos, mantendo a declividade elevada do bar-
pess.). Assim o efeito positivo da declividade sobre o número ranco em relação à água. Isto deve aumentar a
de tocas produzidas pelos bodós deve estar relacionado à disponibilidade de locais para a construção de tocas,
reduzida capacidade desta espécies em realizar movimentos garantindo a sobrevivência desta espécie.

36 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Agradecimentos Krebs, C.J. 1999. Ecological Methodology. 2nd Ed.
Agradecemos aos nossos orientadores ‘Dadão Addison-Wesley Educational
Vintecinco’ e Jansen ‘Bodozinho Zambeta’ pela idéia origi- Publishers, Inc, USA. 620 p.
nal, entusiasmo e ajuda na coleta e análise de dados. Ao Scheiner, S.M. & Gurevitch, J. 1993. Design and Analysis
piloteiro Mike pela ajuda no deslocamento ao longo do bar- of Ecological Experiments. Chapman & Hall, New
ranco. York. 445 p.

Referências Bibliográficas
Ferreira, E.J.G.; Zuanon, J.A.S. & dos Santos, G.M.
1998. Peixes Comerciais do Médio Amazonas: Região Grupo 5 - Projeto Orientado 3/ Orientação: Jansen
de Santarém, Pará. Edições Ibama. Brasília, DF Zuanon e Eduardo Venticinque

Distribuição vertical de Spongilla sp. (Spongillidae,


Porifera) em área de várzea na Ilha da Marchantaria,
Amazônia Central
George Camargo, Daniela Chaves Resende, Ana Maria Benavides, Sylvia Miscow Mendel

Introdução área superficial que obedece a um gradiente começando pelo


Os poríferos são animais predominantemente marinhos, fuste das árvores, até os ramos mais finos, que apesar de
com algumas espécies viventes em água doce, preferindo, possuírem área descontínua em relação ao fuste, oferecem
na maioria dos casos, águas rasas e transparentes (Barnes, uma área total maior. A textura do substrato pode influenciar
1984). São os animais multicelulares mais primitivos, em o estabelecimento dos Spongillidae, como p.ex., árvores com
termos de níveis de organização celular. Todos seus cascas rugosas ou lisas ou que se soltam facilmente. Todos
membros são sésseis, exigindo um substrato para fixação. esses fatores podem ter efeito direto na distribuição das
Assim, o crescimento e a distribuição destes animais esponjas ao longo os estratos verticais da vegetação.
dependem principalmente da natureza e inclinação do Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi verificar a
substrato, disponibilidade de espaço e velocidade da influência do tempo de inundação na distribuição vertical e
corrente de água (Barnes, 1984). no tamanho das esponjas. Além disso, verificamos a
Os rios da Amazônia Central apresentam pulsos de disponibilidade e a adequação do substrato para a fixação
inundação sazonais e o ciclo das águas modifica a estrutura das esponjas. A predição deste trabalho é de que exista um
da paisagem e influencia a estrutura das florestas (Prance, maior número de esponjas no estrato vertical intermediário,
1979). As esponjas que se desenvolvem sobre as árvores em função de um ajuste das condições favoráveis e
(habitats em uma paisagem tridimensional descontínua) desfavoráveis ao estabelecimento destas, de acordo com o
sujeitas à inundação periódica em sistemas de várzea estão esquema abaixo:
condicionadas a gradientes complexos, que refletem (+) (-) (-) (+)
mudanças simultâneas de fatores ambientais, tais como
Adequação do substrato (continuidade)

oxigênio dissolvido, tempo e intensidade de inundação,


Área disponível p/ fixação

arquitetura arbórea e textura da vegetação. Na coluna d’água,


Tempo de imersão

o oxigênio é mais abundante na zona fótica, onde há maior


Oxigênio

produtividade primária, enquanto que as regiões mais


profundas apresentam níveis mais baixos deste elemento.
O tempo e a intensidade de inundação das esponjas deve
determinar sua distribuição horizontal e vertical,
respectivamente. O substrato é determinante no (+)
(-) (+) (-)
estabelecimento das esponjas, em se tratando de animais
sésseis. Área total disponível, adequação (contínuo ou Figura 1. Esquema do habitat (árvore) indicando o
fragmentado) e textura são características do substrato que possível efeito (positivo ou negativo) dos fatores (setas
possivelmente afetam o estabelecimento e a distribuição das bidirecionais) que podem afetar distribuição vertical e o
esponjas. A adequação do substrato é definida aqui como tamanho das esponjas (pontos marrons).
Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 37
Métodos
Desenvolvemos este estudo numa mata de várzea da
ilha da Marchantaria. Estabelecemos um transecto ao longo
de 60 m de um trecho de mata, paralelo ao rio Solimões
(sentido Leste-Oeste, sem variação no relevo).
Amostramos todas as árvores até a distância de 2 m do
transecto, medindo o perímetro a cerca de 1 m do solo,
altura do fuste e das duas bifurcações seguintes, com o
auxílio de uma haste graduada a intervalos de 0,5 m. As
bifurcações tiveram suas medidas de altura tomadas
seguindo o ramo mais grosso até a terceira bifurcação.
Anotamos o número de esponjas e o tamanho das
aglomerações a cada 0,5 m até a cota máxima da última
inundação (6,6 m), que pôde ser verificada por de marcas
nos troncos das árvores. Dividimos o tamanho dos Figura 2. Ocorrência de esponjas (abundância ponderada
e número de aglomerados) por classe de 0,5 m de altura
aglomerados em quatro categorias: pequeno (1), médio (2),
das árvores amostradas (n = 25) na mata de várzea, ilha
grande (3) e muito grande (4). A textura do substrato
da Marchantaria.
(tronco) foi classificada como rugosa ou lisa.
A relação entre altura da coluna d’água e a freqüência
de ocorrência das esponjas no estrato vertical foi analisada
graficamente por meio de um histograma. Calculamos a 60

50
abundância ponderada multiplicando as freqüências pelas
40
classes de tamanho dos aglomerados de esponjas, como
Abundância de esponjas

30
medida estimada do número de indivíduos. Esta medida 20

representa a melhor estimativa do número real de 10

indivíduos de Spongillidae, pois para um organismo que 0

se desenvolve por brotamento a delimitação dos indivíduos -10

é praticamente impossível. -20

Através de uma análise de covariância (ANCOVA; Zar, -30


1 2 3 4

1984) verificamos o efeito da bifurcação dos troncos sobre Número de bifurcações

o número de esponjas observadas. Figura 3. Média e desvio padrão da abundância de


esponjas ao longo das bifurcações dos troncos das
Resultados árvores estudadas (n=25).
Encontramos 622 aglomerados de esponjas em 25
árvores, que multiplicados pelas frequências das classes
de tamanho resultaram num número estimado de 1130
100

indivíduos. A distribuição da abundância com relação à 90

altura apresentou distribuição normal, com maior número 80


Abundância de esponjas

de aglomerados ocorrendo no intervalo de 3,1 a 3,5 m de 70

altura (Fig. 2), diminuindo à medida que a altura aumenta 60

ou diminui. A abundância ponderada também seguiu o 50

mesmo padrão normal de distribuição vertical (Fig. 2). 40

30
Não houve efeito do número de bifurcações dos ramos
20
na abundância das esponjas (F= 0,49; g.l.=58; p=0,68; Fig.
10
3). As três primeiras bifurcações apresentaram abundância lisa rugosa
Textura da casca
média similares (ca. de 12 aglomerados), enquanto que a
quarta bifurcação continha poucos indivíduos. Figura 4. Abundância média e erro padrão das esponjas
Aparentemente, a abundância das esponjas foi maior em encontradas em árvores com casca de textura lisa (n=8) e
árvores cuja casca apresentava uma textura mais lisa (Fig. rugosa (n=12).
4).
38 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002
Discussão Agradecimentos
A distribuição vertical das esponjas que ocorrem em um Agradecemos a orientação de Jorge Nessimian, desde as
sistema de várzea do rio Solimões parece estar concentrada discussões sobre o desenho experimental até as ‘quase’
acima do nível médio na coluna de inundação. Em todas as conclusões deste projeto. Estamos em débito com Macelo
áreas de inundação nos trópicos existe uma permanente ou ‘Pinguela’ Moreira, que nos ajudou em todas as fases.. À
periódica falta de oxigênio dissolvido na água (hipóxia). O Ocírio ‘Juruna’ Pereira e aos piloteiros da nau ‘San Pietro’
nível de hipóxia depende de vários fatores como a
pela disposição e bom humor nos nossos deslocamentos, e
quantidade de matéria orgânica e a profundidade. As áreas
a todos os colegas e professores do curso de campo –
de várzea próximas a Manaus sofrem periodicamente fortes
períodos de hipóxia por causa do grande aumento da Ecologia da Amazônia/PDBFF – novembro de 2002, que
decomposição de matéria orgânica (Junk, 1997). Muito de alguma forma contribuíram para a realização deste
provavelmente, os níveis de oxigênio e a conseqüente trabalho.
produtividade destes sistemas estão influenciando o
estabelecimento e desenvolvimento das esponjas nos estratos Referências Bibliográficas
mais próximos à superfície da água, onde a disponibilidade Barnes, R.D. 1984. Zoologia dos Invertebrados. 4o
de oxigênio é adequada. Entretanto, estes estratos estão
Edição. Ed. Roca. São Paulo, S.P.
sumetidos a mudanças estacionais do nível de água, o que
Zar, J.H. 1984. Biostatistical Analysis. 2o Edição. Ed.
proporciona maior instabilidade ambiental. Portanto, níveis
médios da coluna d’água em sistemas de várzea devem Prentice Hall, New Jersey.
apresentar condições mais favoráveis para o estabelecimento Junk, W.J. 1997. General aspects of floodplain ecology
e desenvolvimento das esponjas. A adequação do habi- with special reference to Amazonian floodplains. p. 3-
tat (grau de ramificação/bifurcação) não teve relação com a 20. In: Junk, W.J. (Ed.) The Central Amazon Flood-
abundância de esponjas, pois as medidas tomadas plain – Ecology of a Pulsing Systems. Ecological
corresponderam apenas até a terceira bifurcação e esta po- Studies, vol. 126. Springer-Verlag.
dia estar tanto a um metro do solo, quanto a mais de cinco Prance, G.T. 1979. Notes on the vegetation of Amaonia
metros de altura. Entretanto, não acreditamos que a
III. The terminology of Amazonian forest types subject
adequação do habitat, no caso dessas esponjas, seja um fator
to inundation. Brittonia, 34:228 - 251.
primário de influência direta. Outras características do
substrato, tais como textura, que não foram aqui tratadas
em detalhes, deveriam ser investigadas como fatores de Grupo 5 - Projeto Orientado 4
influência indireta. Orientador: Jorge Nessimian

Fauna de invertebrados nas raízes de Eichhornia


crassipes (Pontederiaceae) na várzea no período de seca
no Lago Camaleão, Ilha da Marchantaria, AM, Brasil
Luiz Henrique Claro Jr., Genimar Rebouças Julião, Vanina Zini Antunes , Patricia Garcia Tello, Eduardo Vasconcelos

Introdução Em locais mais profundos há predominância do morfotipo


A vegetação flutuante encontrada nos rios representa um pequeno, por serem mais flutuantes (Josué Nunes, com.
hábitat produtivo, rico em matéria orgânica e perifiton onde pessoal).
pode ser encontrado um conjunto de espécies representativas Bancos de macrófitas são organizados de acordo com a
de um largo espectro de grupos taxonômicos (Junk, 1973). correnteza do rio. Associada a estes bancos de macrófitas
Eichhornia crassipes é uma espécie comum da vegetação existe uma fauna típica que apresenta uma diversidade
flutuante dos rios amazônicos, tem ampla distribuição considerável usando estes locais para desova, forrageamento
geográfica. E. crassiipes reproduz-se por estolões e é perene e abrigo (Junk, 1973). As raízes e rizomas permitem a
(Pott & Pott, 2000). Possui dois morfotipos bem distintos; colonização por várias formas sésseis, alternando espaços
um pequeno com bulbos arredondados e raízes curtas e outro intersticiais de água aberta e providenciando habitats para
grande, com bulbos e raízes alongados. Na época da cheia as formas pelágicas. Desta forma esta zona aquática constitui
a profundidade determina o tamanho e morfotipo da planta. um ambiente muito heterogênio, sustentando uma fauna rica

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 39


e diversa. Desta maneira raízes de E. crassipes grandes Tabela 2. Abundância dos invertebrados encontrados nas
podem abrigar maior número de invertebrados que as raízes raízes de dois morfotipos de E. crassipes na Ilha da
menores nos diferentes bancos de macrófitas. Marchantaria, Amazonas, Brasil.
Neste trabalho procuramos analisar a fauna de
invertebrados associada a raízes de E. crassipes comparando Grupo Taxonômico Raiz pequena Raiz grande
abundância, riqueza, densidade e similaridade entre raízes Mollusca
Gastropoda
de plantas grande e pequeno porte. Ancilidae 11 13
Planorbidae 3 30
Gastropoda sp1 7 11
Métodos Gastropoda sp2 0 5
O trabalho foi desenvolvido em uma área de várzea no Bivalvia 1 12
Anellidae
lago do Camaleão na Ilha da Marchantaria (03º14’ S, 59º57’ Hirudinea 1 1
O) no rio Solimões, a cerca de 15km da confluência com o Crustacea
rio Negro com rio Solimões. A temperatura média anual é Conchostraca 189 428
Ostracoda 2 1
de 26,7ºC e a pluviosidade é de aproximadamente 2186 mm Decapoda
por ano (RADAMBRASIL, 1978). Palaeomonidae 0 13
Insecta
Coletamos 20 amostras de Eichhornia crassipes em 10 Ephemeroptera
bancos de macrófitas, sendo um indivíduo de cada morfotipo Polymitarcidae 6 21
Baetidae 1 1
em cada banco. A escolha dos bancos foi feita de forma que Odonata
no mesmo local houvesse morfotipos grandes e pequenos. Libellulidae 15 33
O material coletado foi acondicionado em sacos plásticos Aeshnidae 1 1
Perilestidae 1 1
e triados em laboratório. As raízes foram lavadas em peneira Coenagrionidae 1 1
com malha de 1mm e os macroinvertebrados presentes fo- Hemiptera
Corixidae 2 2
ram separados e identificados. O volume das raízes foi Naucoridae 1 0
medido com uma proveta de um litro, por meio do volume Belostomatidae 1 1
de água deslocado. Coleoptera
Dytiscidae 1 16
Foi usado o teste t-Student pareado para verificar se a Hydrophilidae 10 9
densidade de invertebrados diferia nos dois tipos de raízes, Noteridae 0 15
Scirtidae 2 2
pequenas e grandes. A similaridade entre as comunidades Tricoptera
nos dois tipos de raízes foi testada com uso do índice de Polycentropodidae 6 2
Morisita. Diptera
Chironomidae 5 4

Resultados
Foram coletados 757 invertebrados pertencentes a 24
famílias distintas (Tabela 1). As raízes grandes apresentaram
Cluster Tree
maior número de invertebrados que as raízes menores com
uma diferença de 489 indivíduos. A família Naucoridae Case 3
Case 17
(Hemiptera) foi exclusiva ao sistema radicular das plantas Case 5
pequenas, enquanto que as raízes grandes das macrófitas Case 8
Case 1
apresentaram 11 famílias exclusivas (Tabela 2). Case 20
Não houve diferença significativa entre a densidade de Case 4
Case 14
invertebrados e os dois tipos de raízes (p=0,88), mostrando Case 2
Case 10
que o número de invertebrados por área de raiz é o mesmo Case 7
entre os tipos de raizes. Os valores de similaridade Case 15
Case 6
encontrado para as amostras indicam que não há uma fauna Case 12
típica de cada um dos morfotipos de E. crassipes (Figura Case 9
Case 18
1). Case 16
Case 13
Case 11
Case 19
Tabela 1. Abundância, riqueza de famílias e densidade
média (invertebrados/litro) nas raízes de E. crassipes no
lago Camaleão, Ilha da Marchantaria, Amazonas, Brasil. 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9
Abundância Riqueza de Famílias Densidade Média
Distances
(invert./l) Figura 1. Dendrograma de similaridade de Morisita da
Raiz 134 13 3.3
pequena fauna de invertebrados associados às raízes de E.
Raiz grande 623 23 3.5
Total 757 24
crassipes, em relação aos locais amostrados (P- pequeno,
G- grande).
40 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002
Discussão O elevado número de taxa associados as raízes
Como era esperado, a abundância de invertebrados foi evidenciam microhabitats diferentes. A fauna de
maior nas raízes grandes porém, sua densidade média foi invertebrados das raízes pode estar sofrendo efeitos de
igual à encontrada nas raízes pequenas, embora a riqueza tamanho e quantidade das raízes secundárias e terciárias,
de famílias tenha sido maior nas raízes grandes. Postulou- densidade de detrito agregado e distância entre os estolões.
se então que o padrão encontrado seja causado pela maior
superfície disponibilidade para colonização nas raízes Agradecimentos
grandes que poderiam suportar um maior número de Agradecemos a Ocírio “Juruna” e ao grupo 8 (Flávio,
organismos. Desta forma a probabilidade de se encontrar Flaviana, Carolina, Ana Paula, Eduardo) pelo auxílio nas
um maior número de taxa aumenta. Uma segunda explicação coletas, Neuza Hamada e Jorge Nessimian pela ajuda nas
seria o aumento na disponibilidade de recursos, representada identificações dos invertebrados.
pelo maior número de indivíduos, o que estaria estimulando
a presença de uma maior riqueza de espécie de algumas Referências Bibliográficas
categorias tróficas nas raízes maiores. Por exemplo uma Junk, W. J. 1973. Investigation on the ecology and
espécie de predador preferencialmente escolheria uma área production-biology of the “floating
de vida onde a abundância e a oferta de recursos é maior, meadows”(Paspalo-Echinochloetum) on the middle
fazendo com que outros taxa diferentes tenham a mesma Amazon. Amazoniana 4: 9-1-2.
escolha, resultando em comunidades mais complexas. Pott, V. J., A. Pott. 2000. Plantas Aquáticas do Pantanal.
O que o dendograma evidencia é que muitas amostras Ed. EMBRAPA. Brasília, DF.
são bem parecidas entre si, mas sem relação com o tamanho RADAM BRASIL. 1978. Levantamento de Recursos
das raízes (P e G). Ou seja, há similaridade, mas não há Naturais. Vols. 1- 18. Ministério de Minas e Energia.
uma fauna típica de comunidades em função do tamanho Departamento Nacional de produção Mineral, Rio de
das raizes. Isso pode ser explicado simplesmente pela Janeiro.
proximidade/ conectividade entre as plantas e/ou bancos
de macrófitas como um efeito do pequeno número de Grupo 6 – Projeto Orientado 3
amostras.

Utilização de espécies arbóreas por esponjas


(Porifera, Spongillidae) na várzea: distribuição
horizontal e proximidade ao rio Solimões na
Ilha da Marchantaria, AM
Vanina Zini Antunes, Luiz Henrique Claro Jr., Genimar Rebouças Julião, Eduardo Vasconcelos e Patricia Garcia Tello

Introdução partículas em suspensão (Worbes et al. 1992).


As florestas inundáveis cobrem cerca de 20% da Bacia Na época de enchente, parte da floresta está parcial ou
Amazônica Brasileira (Junk & Howard-Willians 1984) e as totalmente encoberta pelas águas e diferenças no relevo
várzeas são as mais representativas, tanto em área quanto resultam em variações no nível de água e no tempo de
em fisionomia e estrutura (Prance 1979). inundação. Neste período, os sedimentos vindos do rio
O pulso de inundação sazonal das águas na Amazônia entram, primeiramente nos lagos mais próximos à calha
modifica a paisagem, influenciando as características principal.
estruturais, produtividade da floresta e composição de As esponjas são animais filtradores que se alimentam de
espécies, regulando ainda os padrões das comunidades plâncton e material dissolvido na água. Reproduzem-se
locais (Campos et al. 1996). assexuadamente ou sexuadamente e formam gêmulas como
Estas florestas ocorrem em áreas geologicamente forma de resistência ao período de escassez de água (Barnes
recentes, ricas em sedimentos do período Quaternário, e 1984). As esponjas utilizam troncos e galhos das árvores
são inundadas periodicamente por rios de águas brancas, como um substrato para fixação. O padrão de crescimento
caracterizados por apresentarem grande quantidade de das esponjas é influenciado pela disponibilidade de espaço

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 41


e pelo tipo e velocidade de correntes de água (Barnes 1984). Houve diferença significativa entre o número médio de
Observações pessoais indicam que esponjas são comuns no esponjas por árvore na cota baixa 1 (14,5 colônias) em
rio Solimões. relação à cota alta (5,5 colônias), t = 2,324, p=0,045. As
Nosso objetivo é comparar a abundância de esponjas em cotas baixas 1 e 2 também diferiram significativamente no
áreas submetidas a diferentes períodos de inundação e em número de colônias (14,5 e 60,7 respectivamente), t= -3,617,
relação à distância do rio Solimões. Esperamos encontrar p= 0,006.
um número maior de esponjas nas áreas baixas e próximas
ao rio, devido ao acúmulo de sedimentos. Discussão
A diferença observada no número de esponjas entre a
Métodos cota alta e a baixa 1 foi provavelmente devido ao tempo de
O trabalho foi desenvolvido na várzea, durante o período inundação. Nas cotas baixas a maioria das árvores tem sua
de seca, na Ilha da Marchantaria (03º14’ S, 59º57’ O) no copa parcialmente inundada, o que proporciona uma
rio Solimões, município de Iranduba (AM) a 15km da variedade de substratos, como galhos, folhas e ramos a serem
confluência deste rio com o rio Negro. A temperatura média colonizados. Além disso, as árvores experimentam um maior
anual é de 26,7ºC e a pluviosidade é de aproximadamente período de submersão, oferecendo substrato às esponjas por
2186 mm por ano (RADAMBRASIL 1978). um tempo mais longo.
Foram estudados dois locais, um próximo ao Lago do Apesar das cotas baixas 1 e 2 sofrerem níveis similares
Camaleão em duas cotas, variando de 6 metros de inundação de inundação (cerca de 6 metros) estas possuem uma
na área baixa, que denominamos cota baixa 1, e 3 metros na quantidade diferente de colônias. A cota baixa 2 apresentou
área alta. E outro local próximo ao rio Solimões, submetido um maior número de esponjas, o que pode ser explicado
a 6,5 metros de inundação, que definimos como cota baixa pela maior proximidade ao rio Solimões. Assim, esponjas
2. Em cada local e cota, fizemos dois transectos de 50 metros que se fixam nas árvores em áreas próximas ao rio podem
em cada área e em intervalos de 10 metros identificamos os estar filtrando maior quantidade de nutrientes, o que permite
quatro indivíduos arbóreos mais próximos do transecto. Em sua sobrevivência e crescimento por um período mais longo.
cada árvore verificamos a quantidade de esponjas presente. Outra explicação alternativa seria o fato das esponjas serem
Para testar se havia diferença no número de colônias entre animais sésseis, o que condicionaria a colonização destes
as cotas, utilizamos o teste t-Student. organismos na direção da corrente de água. Desta forma, a
vegetação da cota baixa 2 funcionaria como uma malha que
Resultados retêm a maioria destes organismos, explicando a menor
Foram encontradas 21 espécies de plantas arbóreas freqüência de esponjas nas outras cotas.
utilizadas como suporte pelas esponjas. As espécies com As espécies de árvores Crataeva benthanii e Vitex cymosa
maior freqüência de ocorrência de esponjas foram Crataeva foram utilizadas com maior freqüência como substrato de
benthanii (Capparidaceae) e Vitex cymosa (Verbenaceae) fixação das esponjas. Tal fato poderia ser explicado pelas
(Tabela 1). adaptações ao período de inundação que estas espécies
possuem, dominando assim áreas submetidas a longos
Tabela 1. Espécies arbóreas, número de indivíduos em
períodos de inundação. Contudo, como a composição de
cada cota, indicado entre parênteses, e número de
espécies foi diferente entre as cotas, isso inviabiliza uma
colônias encontradas em cada cota amostrada.
comparação mais precisa entre a relação planta- hospedeiro.
Espécies Número de esponjas e de árvores
Alta Baixa 1 Baixa 2 Além disso, a escala espacial de amostragem deste estudo
Eschweilera (3) 12 - - pode não ser adequada na avaliação dos fatores que afetam
Tiliaceae sp1 (7) 11 - -
a distribuição das esponjas em seus substratos, sendo
Calophyllum brasiliensis(2) 10 - -
Triplaris surinamensis (1) 8 - - necessário estudos mais detalhados.
Astrocaryum jauari (1) 6 - -
Garcinia macrophylla (3) 5 - -
Mollia speciosa (3) 3 - -
Agradecimentos
Gustavia augusta (1) 3 - - Agradecemos ao Leandro Valle Ferreira pela orientação
Xylopia surinamensis (1) 2 - -
Proteaceae (3) 1 - -
no projeto, ao Marcelo Pinguela pela acessoria durante o
Buchenaria oxycarpa (1) - 22 - trabalho e ao Prof. Jorge Nessimian pelas discussões a
Moraceae sp1 (1) - 3 - respeito dos resultados.
Annona hypoglaucea (1) - 0 -
Crataeva benthanii (34) 8 43 381
Vitex cymosa (48) - 60 112 Referências Bibliográficas
Simarouba amara (1) - - 35
Pseudobombax munguba (4) 5 2 25
Barnes, R.D. 1984. Zoologia dos Invertebrados. 4 Edição.
Laetia corymbulova (4) - - 6 Ed. Rocca. São Paulo, SP.
Alchornea castaenifolia (1) - - 6 Campos, M. T. V. A., A. D. de Sousa, C. Morsello, K. A.
Psidium acutangulum (6) - 4 5
Cecropia latiloba (6) 0 0 4
Caro e T. Lomáscolo. 1996. Influência do tempo de
Total (132) 74 134 580 inundação em parâmetros morfométricos de duas

42 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


espécies de Várzea. IV Curso de Campo – Ecologia da RADAMBRASIL, 1978. Levantamento de Recursos
Floresta Amazônica. INPA/Smithsonian Institution/ Naturais. Vols.1-18. Ministério das Minas e Energia.
Unicamp/OTS. 142-145. Departamento Nacional de Produção Mineral, Rio de
Junk & Howard-Williams, 1984. Ecology of aquatic Janeiro.
macrophytes in Amazonia. In: Sioli (ed) The Amazon Worbes; M.H.Klinge; J.D. Revilla & C. Martius. 1992.
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tropical riverand its basin. Monographiae Biologicae. cal distribution of várzea forests in central Amazonia.
Junk, Dordrecht, pp 269-293. Journal of Vegetation Science 3: 553-564.
Prance, G. T. 1979. Notes on the vegetation of Amazonia
III. The terminology of Amazonian forest types subject Grupo 6 PO 4
to inundation. Brittonia 34: 228-251.

Influência da topografia e da luminosidade na


regeneração da comunidade vegetal na várzea, Ilha da
Marchantaria, AM
Paula Machado Pedrosa, Carina Lima da Silveira, André Faria Mendonça, Yumi Oki, Josué Ribeiro da Silva Nunes

Introdução Métodos
O nível da água nas florestas alagáveis da Amazônia Realizamos este estudo em uma várzea na Ilha da
Central, pode flutuar cerca de 14 metros e durar até 270 Marchantaria, município de Iranduba (03º15 S, 60º00W),
dias entre as estações de cheia e vazante (Junk et al. 1989). localizada no Baixo Solimões, a 40 Km da Manaus,
Essa drástica alteração anual do ambiente terrestre para Amazonas (Figura 1).
aquático causam profundo estresse na comunidade vegetal,
resultando em adaptações para sobreviver durante os
períodos de submersão total ou parcial (Junk et al. 1989;
Ferreira & Stohlgren 1999).
Prance (1997) reconhece sete diferentes tipos de florestas
alagáveis na região amazônica. Desses os mais comuns são
as florestas alagáveis por rios de água branca ou preta. As
características dessas florestas diferem devido aos aspectos
geológicos e hidrológicos (Fittkau 1971, apud Ferreira 2000;
Kubtizki 1989).
A variação da topografia nas áreas alagáveis cria
diferentes habitats, que variam quanto a duração da cheia,
tipo de solo, elevação e distância das florestas não alagáveis Figura 1. Desenho esquemático das duas cotas
(Junk et al. 1989; Ferreira, 1997). A duração e topográficas estudadas na várzea da Ilha da
previsibilidade da flutuação do nível da água do rio pode Marchantaria, no período de vazante.
influenciar a riqueza e a composição da comunidade ao longo
de um gradiente de inundação (Ferreira 1997). Montamos 20 parcelas de 2 x 2 m, distantes no mínimo
A distribuição de espécies nas florestas de várzea no oeste 10m entre si, sendo 10 na área mais alta da várzea e 10 na
da Amazônia tem sua variação fortemente relacionada ao área mais baixa da várzea. Em cada área, 5 parcelas foram
movimento da água, erosão e taxas de sedimentação, porque amostradas na sombra e outras 5 no sol. Em cada parcela,
estes efeitos alteram a estrutura da comunidade e a foram quantificadas e identificadas todas as plântulas
estabilidade do habitat (Salo et al., 1986). presentes.
A duração e previsibilidade da flutuação do nível da Utilizamos two-way ANOVA para avaliar se havia
flutuação do nível da água do rio pode influenciar a riqueza diferenças entre a riqueza e abundância de espécies como
e a composição ao longo de um gradiente de inundação variáveis dependentes, em relação a cota e a luminosidade.
(Ferreira, 1997), o objetivo deste trabalho foi avaliar a Afim de testar a variação na composição entre os fatores
influência da inundação e luminosidade na riqueza e analisados, utilizamos uma análise de ordenação de Bray-
abundância de plântulas em uma floresta de várzea. Curtis (coeficiente de distância: coeficiente de Sorensen,

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 43


distância euclidiana). Discussão
A relação entre a riqueza de espécies e a luminosidade já
Resultados eram esperadas pelo fato deste fator seressencial para o
Encontramos um total de 41 espécies, 28 na área alta de desenvolvimento e estabelecimento das plântulas. Parolin
várzea e 15 na área baixa. Das 28 espécies encontradas na (2001) considera a luminosidade um fator preponderante
área alta, 26 são exclusivas desta área. A área baixa para o densenvolvimento de determinadas espécies da
apresentou 13 espécies exclusivas. Várzea.
A riqueza de espécies foi significativamente maior nas Entretanto, a riqueza entre as cotas altitudinais foi muito
áreas com luz (p = 0,023). Os outros fatores testados semelhante, sugerindo que nem sempre a similaridade de
(Riqueza x cota altitudinal (p = 0,33), abundância x riqueza reflete as diferenças na composição vegetal de cada
luminosidade (p = 0,061) e abundância x cota altitudinal (p área. A composição de espécies distintas encontradas nos
= 0,164) não mostraram uma relação significativa. dois locais de amostragem pode estar relacionada com a
Houve uma nítida separação da composição de espécies diferença no tempo de inundação.
de plântulas em relação cota altitudinal, porém não houve Verificamos também, que a luminosidade propicia maior
uma separação nítida em relação a luminosidade (Figuras 2 riqueza em relação as áreas sombreadas, este fator não foi
e 3). Isto mostra que a composição de plântulas é um fator fundamental para a determinação da composição
influenciada pela cota, ou seja, diretamente relacionada ao vegetal das espécies encontradas em cada área estudada.
nível e a duração do pulso de inundação. Como não medimos a intensidade luminosa, não sabemos
se as mesmas espécies estivessem em áreas com maior
luminosidade, este fator seria considerado significativo.
A riqueza reflete a importância dos diferentes ambientes,
pois mesmo quando o número de espécies é igual entre
ambientes, a composição dos mesmos pode ser totalmente
distinta. Como foi observado entre as duas cotas altitudinais.
A diferença na composição encontrada nestas duas áreas
pode estar relacionada com a diferença no tempo de
inundação e na quantidade de sedimentos carreados no
período hidrológico de cheia nos dois ambientes, Ferreira
(2000) estudando florestas de igapó verificou que nas
florestas destes ambientes a riqueza não esta relacionada
aos gradientes de inundação, Campbell et all. (1992)
observou em área de várzea o aumento da riqueza com o
decréscimo do gradiente de inundação no rio Juruá. Na
análise de ordenação foi verificada uma grande dispersão
Figura 2. Ordenação (ordenação Bray-Curtis, baseado em dos grupos por local amostrado. Isto sugere que a existência
distância de sorensen e projeção e resíduos com distância de outras variáveis que podem estar envolvidas neste padrão
euclidiana) das plântulas encontradas em uma área alta e como a dispersão de sementes das espécies amostradas,
baixa da várzea na Ilha da Marchantaria. diferenças no tipo de solo e no grau de intensidade luminosa.
A importância da topografia na criação de diferentes
Axis 2

ambientes na várzea está diretamente relacionada com o


estabelecimento de plântulas e de diferentes espécies.
Diversos autores reforçam que a composição vegetal varia
em diferentes gradientes topográficos e consequentemente
Axis 1
com o Pulso de Inundação, (Ferreira 2000; Ferreira &
Stohlgren 1999; Ferreira & Prance 1998; Wittmann &
Parolin 1999; Parolin & Ferreira 1998; Ferreira 1997;
Ferreira 1998; Parolin 2001; Campbell, Stone & Rosas Jr
Legenda:
alto sombra
1992).
alto sol
baixo sombra
A exploração antrópica nas áreas de várzea interferem
baixo sol
na heterogeneidade da composição vegetal encontradas em
Figura 3. Gráfico de ordenação (ordenação Bray-Curtis, diferentes topografias. Desta forma, o conhecimento sobre
baseado em distância de sorensen e projeção e resíduos a composição das espécies que ocorrem em diferentes
com distância euclidiana) das plântulas encontradas em topografias é importante em projetos de regeneração de áreas
uma área alta e baixa da várzea em uma área aberta desmatadas e pode contribuir para estratégias efetivas de
(exposta ao sol) e uma área fechada (sombreada) na Ilha conservação para este tipo de ecossistema.
da Marchantaria.
44 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002
Agradecimentos Ferreira, L.V., 2000; Effects of flooding duration on
Agradecemos a Leandro Valle Ferreira pela orientação, species richness, floristic composition and forest
ao Marcelo Moreira (Pinguela) pela ajuda no trabalho de structure in river margin habitat in Amazonian black-
campo e nas sugestões e (segundo o Leandro) ao prof. Dr. water floodplain forests: implications for future design
(Deus, o bom!!) Eduardo Venticinque pelos auxílios nas of protected areas, Biodiversity and Conservation, 9:
análises estatísticas. 1-14.
Junk, W.J., P. B. Bayley, R. E. Sparks;1989; The flood
pulse concept in river-floodplain system, p. 110-127.
Referências bibliográficas In D.P. Dodge (editor). Proceedings of the Interna-
Ayres, J.M.C., As matas de Várzeas do Mamiraúa, MCT-
tional Large River Symposium. Can. Spec. Publ. Fish.
CNPq Programa do Tópico Úmido, Sociedade Cívil de
Aquat. Sci. 106.
Mamiraúa, Brasil.
Keel, S.H. & G. T. Prance, 1979; Studies on the vegeta-
Campbell, F.L.S.D.G.; J.L. Stone; A. Rosas Jr.; 1992, A
tion of the black water igapó (Rio Negro, Brazil), Acta
comparison of the phytosociology and dynamics of
Botanica, 9: 645-655.
three floodplain (Várzea) forests of known ages, Rio
Kubtizki, K; 1989; The ecogeografical differetiation of
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Amazonian inundated forests. P1 Sist. Evol. 162: 285-
the Linnean Society, 108: 213-237.
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Ferreira, L.V.; 1997; Is there a difference between the
Parolin, P, 1998; Are there defferences in specific wood
white water floodplain forests (Várzea) and black
gravities between trees in Várzea and Igapó (Central
water floodplain forest (Igapó) in relation to number of
Amazonia)? Ecotrópica, 4: 25-32.
species and density? Revista Brasileira de Ecologia,
Parolin, P, 2001; Morphological and physiological
01: 60-62.
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Ferreira, L.V.; 1998a; Intraspecific variation in Phenology
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in relation to flooding duration in Eschweilera
335.
parviflora (Lecytidaceae) in Central Amazonian
Salo. J., R. Kalliola, I. Hakkinen, Y. Makinen, P.
Forest, An. Acad. Bras. Ci., 70 (3).
Niemelã, M. Puhakka and P. D. Coley. 1986. River
Ferreira, L.V., G. T. Prance; 1998b; Structure and species
Dynamics and the diversity of Amazon lowland forest.
richness of low-diversity floodplain forest on the Rio
Nature 322: 254-258.
tapajós, Eastern Amazonia, Brazil, Biodiversity and
Wittmann, F.; P. Parolin; 1999; Phenology of six tree
Conservation, 7, 585-596.
species from Central Amazonian Várzea, Ecotrópica,
Ferreira, L.V., T. J. Stohlgren; 1999; Effects of river level
5: 51-57.
fluctuation on plant species richness, diversity, and
distribution in a floodplain forest in Central Amazônia,
Grupo 7, Projeto Orientado 3
Oecologia, 120: 582-587.
Orientador do projeto: Leandro Valle Ferreira

Distribuição de morfotipos de Libellulidae (Odonata:


Anisoptera) em uma área aberta e outra fechada da
Ilha da Marchantaria, Amazonas, Brasil
Carina Lima da Silveira, André Faria Mendonça, Yumi Oki, Paula Machado Pedrosa, Josué Ribeiro da Silva Nunes

Introdução tats. Desse modo, o arranjo espacial da distribuição destas


As libélulas são insetos relativamente grandes e de cores espécies será determinado principalmente por características
vistosas que passam boa parte de sua vida voando. Em todos comportamentais e fisiológicas (de Marco & Resende,
os estádios de desenvolvimento são predadores, 2002). A competição por recursos é um fator importante
alimentando-se de diversos insetos e de outros organismos entre os adultos de libélulas em habitats de forrageamento e
(Borror & De Long, 1998). Esses insetos são ectotérmicos esta deve ser maior entre as espécies (de Marco, 1998).
e a seleção de microhabitat é importante para a regulação O tamanho corporal das libélulas é relacionado com a
da temperatura corporal. Nos habitats de forrageamento, a capacidade termorreguladora dos indivíduos. Baseado no
diferença nos mecanismos de termorregulação e comportamento termorregulatório, Corbet (1962) classificou
territorialidade, determinam o uso dos diferentes microhabi- as espécies de Odonata em voadores (que ficam voado a

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 45


maior parte do tempo) e empoleiradores (que permanecem Percorremos, de10 em 10 minutos, um transecto de 30
a maior parte do tempo sobre vários tipos de subtrato). metros em uma trilha que cruzava as duas áreas em estudo.
Machos de empoleiradores são comumente encontrados A temperatura do ambiente foi medida a cada 30 min. em
defendendo territórios próximos a corpos d’água nos quais ambas as áreas.
as fêmeas estão forrageando (de Marco, 1998). Estudos Foram coletadas três espécimes de cada morfoespécie e
recentes sugerem que os Odonata classificados como medidas a espessura do tórax e comprimento da asa ante-
voadores são endotérmicos e podem aumentar sua rior e do abdomen. A partir destes dados, foram realizadas
temperatura corporal pela atividade do músculo da asa e análises de ANCOVA para a relação entre o número de
resfriar pela troca de calor entre tórax e abdome e as batidas indivíduos e a área de coleta e o período de observação,
de suas asas (de Marco, 1998). Regressão Linear e o teste não-paramétrico de Kruskal-
Espécies de pequeno porte são, geralmente, mais Wallis para a diferença de abundância de indivíduos nas
suscetíveis a altas temperaturas. Algumas espécies de duas áreas estudadas. Para analisar os fatores que
pequeno porte não sobrevivem a temperaturas acima de 38°C influenciaram no número de indivíduos por morfotipo,
(de Marco, 1998). De acordo com May (1998), os Odonata devido a ampla variância dentro de cada área, classificamos
podem ser classificados em três grupos em relação a os dados.
habilidade para sobreviver a variações na temperatura do
ambiente: 1) conformadores; 2) heliotérmicos e 3) Resultados
endotérmicos. Estes mecanismos termorregulatórios podem Apenas indivíduos da família Libellulidae, pertencentes
ser divididos em quatro categorias nos animais a 7 morfotipos diferentes, foram encontrados. Estes
ectodérmicos: i) o controle de exposição ao sol por ajustes morfotipos compreendiam 4 espécies, sendo elas:
corporais; ii) seleção de microhabitats; iii) mudanças no Erythrodiplax lativittata, Erythemis vesiculosa, Miathyria
tempo de atividade, e iv) coloração corporal. May (1998) marcella, Erythrodiplax cf. famula. Um dos morfotipos
ainda sugere que espécies diurnas podem mostrar um modelo coletado não foi identificado, pois todos os indivíduos eram
de atividade bimodal para altas temperaturas no período fêmeas.
próximo ao meio do dia. Dois morfótipos, ambos pertencentes a espécie Erythemis
Pode-se observar a distribuição destes organismos no vesiculosa, ocorreram somente na área fechada. O morfotipo
ambiente em relação ao gradiente de temperatura. Áreas maior, pertencente a espécie Erythrodiplax cf. famula, foi
abertas com pouca vegetação arbórea e arbustiva e áreas encontrado somente na área aberta. Observamos, também,
fechadas com dossel denso, são ambientes em que que alguns fatores ambientais, tais como a temperatura do
percebemos o efeito da temperatura na atividade destes ar e o comportamento, podem estar determinando a
insetos. distribuição das espécies.
Neste trabalho, temos como objetivos, avaliar: (1) a A variação do tamanho para o corpo dos morfotipos
distribuição dos morfotipos de libélulas em uma área aberta coletados não foi diferente entre as duas áreas analisadas e
e outra fechada em diferentes horários e temperaturas do em relação as horas observadas no período da manhã (Figura
período matinal; (2) se existe relação do tamanho de libélulas 1). Os indivíduos de tamanhos variados foram distribuídos
com a atividade dos indivíduos em áreas de vegetação aberta regularmente nas duas áreas e no período de observação.
e áreas de vegetação mais densa, em um ambiente de várzea A abundância de indivíduos na área aberta foi maior que
da Amazônia Central. na área fechada (K = 36,0; P = 0,004; g.l. = 1; Figura 2).
Em relação ao período da manhã em que havia atividade de
Metodologia Odonata, uma relação significativa com a abundância de
Realizamos este estudo em uma várzea na Ilha da indivóduos também foi constatada. Na área aberta foram
Marchantaria, município de Iranduba (03º15 S, 60º00W), encontrados mais indivíduos que na área fechada
localizada no Rio Amazonas a 15 km de Manaus, Amazonas. (F[1,9]=44,124; P=0,001; R2=0,845). As abundâncias nas duas
A região caracteriza-se por um clima tropical úmido e áreas diminui em relação ao tempo gradativamente (F[1,9] =
precipitação média anual em torno de 1771 mm (de Souza 4,891; P = 0,054; R2 = 0,0845; Figura 3).
et. al., 1999). A área aberta apresentou uma variação de temperatura
Comparamos a abundância de libélulas entre uma área de 30 a 34 ºC enquanto na área fechada a variação foi de 28
aberta, dominada pelo capim Echinocloa sp. e uma área a 29,5ºC. Sendo assim, a temperatura do ambiente exerceu
fechada dominada por espécies arbóreas. Coletamos influência significativa na abundância dos indivíduos nas
diferentes morfotipos de libélulas que ocorriam nas duas áreas estudadas (F[8,26]=2,468; P=0,039; R2=0,432; Figura
áreas para separá-los em morfotipos, levando em 4). Em períodos de temperatura mais baixa a abundância
consideração características morfológicas mais visíveis para de indivíduos na área fechada era maior e em períodos de
cada tipo, como coloração do tórax, coloração do abdome, temperaturas maiores houve um aumento na abundância de
manchas coloridas nas asas e espessura do abdome. indivíduos na área aberta.

46 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


aberta
fechada
Tamanho dos indivíduos (mm) 31

30

29

28

27

26

25

24
7 8 9 10 11
Hora (período da manhã)
Figura 4. Abundância de indivíduos nas duas áreas,
Figura 1. Tamanho das asas dos indivíduos nas duas
aberta e fechada, na várzea em relação à temperatura do
áreas, aberta e fechada, em relação ao período de
ambiente em diferentes períodos da manhã.
observação (manhã).

90
Discussão
O horário não influenciou na distribuição das libélulas
80
nas duas áreas. Embora esse efeito não tenha sido bem
Abundância de indivíduos

70 pronunciado por dois fatores: A) o tempo de observação (2


60 horas e meia); B) as variações de temperatura oscilaram
50 para menos ao longo da manhã.
A heterogeneidade diferencial das áreas, influenciou a
40
abundância das libélulas. A distribuição das libélulas foi
30 correlacionada com a temperatura. De Marco (1998) sugere
20 que os Odonatas possuem comportamento termoregulador
10 e aquecem seu corpo através da movimentação do músculo
das asas e o resfriam através de trocas de calor na região do
0
aberta fechada tórax-abdomen. A maioria dos morfotipos observados neste
Área estudo apresentou maior abundância com o aumento da
temperatura, sendo que apenas um apresentou relação
Figura 2. Abundância de indivíduos de Libellulidae nas
inversa.
áreas amostradas (área aberta e área fechada).
O tamanho dos indivíduos não foi a variável que
determinou a distribuição na área aberta e na fechada,
provavelmente porque a amplitude do tamanho dos
aberta
fechada morfotipos foi variada. May (1998) mostrou que o
15
coeficiente de condução e a habilidade termorregulatória
em heliotérmicos diminui com o tamanho do corpo. Este
Abundância ordenada

fato sugere que no mesmo grupo fisiológico são esperadas


10 algumas diferenças comportamentais relacionadas ao
tamanho do corpo.
Em geral, os Odonatas organizam-se espacialmente por
5 disputa de território e seleção de microhabitat. Disputas por
espaço para forrageamento são raros entre fliers e perchers.
Esta observação sugere que a cominudade deve ser
considerada como um sistema não-interativo, sem
0
manipulação de recusros ou forte interação competitiva (de
7 8 9 10 11
Hora (período da manhã) Marco, 1998).

Figura 3. Abundância ordenada dos indivíduos de Agradecimentos


Libellulidae em cada área, aberta e fechada, em relação Agradecemos à Profa. Neusa Hamada, pela orientação e
as observações realizadas no período da manhã. auxílio em campo, à colega de curso, Daniela Chaves

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 47


Resende, pela identificação do material coletado e sugestões Odonatologica, 27 (2): 239-248.
na discussão dos resultados e ao Prof. Dr. Eduardo “Dadão” DE MARCO, P. J. & RESENDE, D.C. 2002. Activity
Venticinque, pelo auxílio nas análises estatísticas. patterns and termoregulation in a tropical dragonfly
assemblage. Odonatologica, 30 (2).
Referências Bibliográficas DE SOUZA, M. A. D.; SANTOS, J.; RODRIGUES, B.;
BORROR, D. J. & DELONG, D. M. 1988. Introdução ao SILVA, K.L. & VALDIVIESO, A. 1999. Padrão de
Estudos dos Insetos. Ed. Edgarg Blücher LTDA. São distribuição de Trechalea sp. (Aranae, Trechaleidae)
Paulo, SP, Brasil. sobre troncos de árvores em floresta de várzea na Ilha
CARVALHO, A. L. & CALIL, E. R., 2000. Chaves de da Marchantaria, Amazônia Central. In: E. Venticinque
identificação para as famílias de Odonata (Insecta) & M. Hopkins, 1999. Curso de Campo – Ecologia da
ocorrentes no Brasil, adultos e larvas. Papéis Avulsos Floresta Amazônica, p. 89-91.
de Zool., 41(15): 223-241.
DE MARCO, P. J. 1998. The Amazoniam campina Grupo 7 – Projeto Orientado 4
dragonfly assemblage: patterns in microhabitat use and Orientadora: Prof. Neusa Hamada
behaviour in a foraging habitat (Anisoptera).

Fauna de invertebrados associada a bulbos de


Eichhornia crassipes (Mart.) Solms. (Pontederiaceae)
em uma área de várzea na Amazônia Central
Ana Paula Carmignotto, Flaviana Maluf de Souza, Carolina Laura Morales, Eduardo Cardoso Teixeira, Flávio José Soares Jr.

Introdução resultado dos grandes espaços intersticiais ocupados por ar.


Conhecido como “rio de águas brancas” o Solimões, tal Além de garantir a capacidade de flutuação da planta, esses
qual muitos de seus afluentes, é caracterizado por águas de bulbos são passíveis de abrigar numerosos insetos e outros
ph próximo ao neutro (entre 6 e 7) e uma grande carga de micro-organismos em seus diversos estádios de
sedimentos em suspensão. Apresenta aproximadamente 25 desenvolvimento (N. Hamada, com. pess.).
cm de transparência vertical (J. Zuanon, com pess.). Dentro deste contexto, decidimos caracterizar a fauna
Associada a estas condições físico-químicas, a sazonalidade de invertebrados associada aos bulbos de E. crassipes e
na flutuação do nível das águas garante ao seu entorno uma observar se diferenças na sua forma, bem como seu estado
dinâmica de paisagens que inclui dentre diversas de decomposição, podem influenciar a riqueza e a
fitofisionomias, a várzea. abundância desta fauna.
A várzea apresenta diversas particularidades, atingindo
sua forma plena após a cheia, quando a redução do nível Métodos
d’água deixa aflorar as porções de terra e a cobertura veg- O presente trabalho foi desenvolvido em uma área de
etal associada. Dentre os grupos vegetais mais característicos várzea nas margens do lago do Camaleão, rio Solimões, a
dessa fisionomia, as macrófitas aquáticas, em ilhas ou cerca de 20 km ao sul de Manaus, AM (3o15’S e 59o58’W).
isoladas, constituem ambientes propícios para uma rica fauna Ao longo do lago, amostramos moitas aleatoriamente e
de invertebrados (Moscoso & Sotta 1997). Algumas espécies coletamos 20 indivíduos de Eichhornia crassipes
de macrófitas se destacam pela ampla distribuição pertencentes a dois morfotipos diferentes: indivíduos com
geográfica, como Eichhornia crassipes e E. azurea bulbos pequenos e de formato arredondado (n=10), aqui
(Pontederiaceae) (J. Nunes, dados não publicados). denominados “pequenos”, e indivíduos com bulbos estreitos
Eichhornia crassipes (Mart.) Solms é uma espécie da e alongados (n=10), aqui denominados “grandes”.
família Pontederiaceae, que apresenta ampla distribuição Após a coleta de campo, fizemos a triagem do material
pantropical com 7 gêneros restritos ao ambiente aquático separando os bulbos de cada indivíduo de acordo com o
(Joly 1977). Essa planta, também conhecida como estado físico: bulbos predominantemente íntegros, que
“camalote” ou “mururé” na Amazônia, possui uma expansão chamaremos de “novos”, e bulbos com mais de 50% do
da base do pecíolo, mais evidente nos indivíduos jovens, tecido em decomposição, que chamaremos de “velhos”. Em

48 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


seguida, fizemos a contagem e a identificação dos Entre os bulbos novos e velhos, também observamos
invertebrados presentes dentro de cada bulbo. diferenças na composição faunística. Os taxa Chrysomelidae
Para investigar a existência de diferenças na riqueza e (Coleoptera), Coleoptera não identificados, Polymitarcydae
abundância dos invertebrados entre os diferentes morfotipos (Ephemeroptera), Stratyomiidae (Diptera) e Oligochaeta
e os estados físicos dos bulbos de E. crassipes, fizemos uma somente foram encontrados nos bulbos velhos, assim como
análise de variância (ANOVA de duas vias), testando a para a família Chironomiidae (Diptera), que apresentou
interação entre esses fatores. maior número de indivíduos associado a bulbos velhos
(Figura 3).
Não encontramos diferenças significativas na abundância
Resultados entre os diferentes morfotipos e estados (F = , GL= , P>0,05).
Considerando todos os indivíduos de E. crassipes
Porém, para os valores de riqueza, os resultados foram
amostrados, registramos a presença de 10 taxa diferentes
significativos para a interação entre essas variáveis (F= 5,02;
de invertebrados, dentre os quais apenas Oligochaeta não
GL=1; P=0,031). Em bulbos do morfotipo grande, houve
pertence à classe dos insetos (Figura 1). A família
um maior número de taxa associado a bulbos novos. Por
Chironomiidae (Diptera) foi o taxon mais abundante,
outro lado, nos bulbos do morfotipo pequeno a maior riqueza
representando 56% dos indivíduos amostrados que,
esteve associada a bulbos velhos (Figura 4).
juntamente com Brachycera (Diptera) abrangeram 83% da
amostragem. O restante dos taxa foram menos
representativos (Figura 1). 100
90

Número de indivíduos
80
70
60
50 Novos
40
30 Velhos
20
140 10
0
120
Número de indivíduos

a
ae

ra

e
ae

ae
e
a
e

et
da

da
er
da

ter
ce
iid

id

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100

pt

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ita
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Le

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O
80

m
ry

ra
yd
Ch

ly

St
Ch
H

tro

Po
ou
60
Taxa amostrados
40
20 Figura 3. Número de indivíduos por taxon amostrado nos
0
bulbos de E. crassipes de acordo com o estado físico.
e
ae

ra

eta
ae
ae

ae
e
a
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Ch

St
Ch
H

tro

Po
ou

Taxa amostrados

Figura 1. Número de indivíduos por taxon amostrado nos


bulbos de E. crassipes.

Os taxons de insetos diferiram entre bulbos pequenos e


grandes. Encontramos um grande número de indivíduos de
Brachycera em bulbos do morfotipo grande, mas este taxon
não apareceu em nenhum bulbo do morfotipo pequeno.
Indivíduos da família Dytiscidae (Coleoptera) somente fo-
ram registrados em bulbos do morfotipo pequeno. Além
disso, encontramos maior número de taxa (8) ocorrendo em
bulbos do morfotipo pequeno em relação aos bulbos grandes
(5 taxa) (Figura 2).

80
Número de indivíduos

70
60
50
40 Grandes
30 Pequenos
20
10
0
ae

ra

ra

ae

ae

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Ch

St
Ch
H

tro

Po

Figura 4. Análise de variância (ANOVA) de duas vias do


ou

Taxa amostrados
número de espécies de invertebrados encontrados nos
Figura 2. Número de indivíduos por taxon amostrado nos bulbos e a interação entre os dois morfotipos e estados
bulbos de E. crassipes, de acordo com o morfotipo. físicos.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 49


Tabela 1. Dados da ANOVA de duas vias realizada entre ao fato destes tecidos apresentarem quantidade de recursos
os diferentes morfotipos e estados físicos dos bulbos de semelhantes nos estados novos e velhos, já que são
E. crassipes. constituídos, em grande parte, por ar (N. Hamada, com.
Variável Graus de Valor de F Valor de P pess.). Um outro estudo realizado na mesma área (Ruggiero
liberdade et al. 1998) apresentou maior número de taxa associado a
Morfotipo (pequenos e grandes) 1 0,267 0,608
Estado físico (novos e velhos) 1 1,455 0,236
bulbos velhos, contradizendo os resultados aqui obtidos.
Interação Morfotipo x Estado físico 1 5,020 0,031 No entanto, morfotipos diferentes não foram diferenciados
por Ruggiero et al. (1998), sendo necessário outros trabalhos
para investigar melhor esta questão.
Discussão
A família Chironomiidae (Diptera) é uma das mais
abundantes na região da várzea, apresentando grande Agradecimentos
dominância na maioria das comunidades de insetos aquáticos Agradecemos a orientação da Prof. Neusa Hamada e ao
na Amazônia (N. Hamada com. pess.). No presente estudo apoio do pessoal encarregado da infra-estrutura e
encontramos indivíduos desta família em grande número, organização do curso, entre eles Dadão, Jansen, Pinguela e
em ambos os morfotipos e estados físicos dos bulbos de E. Juruna, sem os quais a realização deste trabalho não seria
crassipes. possível. Agradecemos também ao Prof. Jorge e ao grupo
O tamanho e a forma dos bulbos parecem condicionar a 06, que nos ajudaram na coleta de dados no campo e na
ocorrência de determinadas espécies de invertebrados, já identificação dos invertebrados.
que algumas foram amostradas em apenas um dos
morfotipos. Padrões morfológicos variados podem Referências bibliográficas
incrementar a riqueza de invertebrados, dado que Begon, M., J. L. Harper, and C. R. Townsend. 1990.
proporcionam recursos diferentes (Begon et al. 1990). A Ecology, Individuals, Populations and Communities.
disponibilidade de recursos também está relacionada aos Second edition. Blackwell Scientific Publications.
pulsos de inundação sazonal da região (Koste et al., 1984), Joly, A. B. 1977. Botânica: Iintrodução à Taxonomia
na medida em que os diferentes níveis de água determinam Vegetal. Companhia Editora Nacional.
a freqüência relativa entre os morfotipos pequenos e grandes. Junk, W. J., P. B. Bayley and R. E. Sparks. 1989. The
Morfotipos pequenos são mais abundantes na época da flood pulse concept in river- floodplain systems. Can.
cheia, pois apresentam boa flutuabilidade, e os morfotipos Spec. Publ. Fish. Aquatic. Sci. 106: 110-127.
grandes na época da seca, que são melhores competidores Koste, W., B. Robertson and E. Hardy. 1984. Further
devido à sua maior superfície foliar (J. Nunes, com. pess.). taxonomical studies of the Rotifera from Lago
Esta variação provavelmente acarreta diferenças na riqueza Camaleão (Ilha da Marchantaria, Rio Solimões,
de invertebrados presentes nas macrófitas entre as duas Amazonas, Brazil). Amazoniana 8 (4): 555-576.
estações do ano. Segundo Junk et al. (1989), a variação no Moscoso, D. and E. D. Sotta. 1997. Fauna asociada a
nível da água do rio é o fator físico mais importante de áreas Pistia stratiotes (Araceae) en una várzea amazônica. in
inundáveis, exercendo influência direta sobre suas Páginas 163-165, IV Curso de Ecologia da Floresta
comunidades. Variações sazonais na abundância de Amazônica.
indivíduos de uma espécie de ortóptera já foram observadas Ruggiero, P. G. C., F. N. de Sá, M. A. da Fonseca, R. J.
nesta mesma área, sendo relacionadas aos pulsos de Sawaya and S. R. Baptista. 1998. Fauna de insetos
inundação (Vieira & Adis, 1992). A variação sazonal da aquáticos associada ao aerênquima de Ceratophyllum
fauna associada aos bulbos de E. crassipes, relacionada às pteridoides e Pontederia sp. em uma área de várzea do
frequências dos morfotipos presentes, seria um ponto rio Solimões, AM in Pp 87-88, Ecologia da Floresta
interessante a ser investigado. Amazônica, Curso de Campo – 1998.
A maior riqueza de invertebrados encontrada nos bulbos Vieira, M. de F. and J. Adis. 1992. Abundância e
novos de morfotipos grandes pode ser explicada pelo fato biomassa de Paulinia acuminata (DE GEER, 1773)
dos invertebrados apresentarem preferência por tecidos (Orthoptera: Pauliniidae) em um lago de várzea da
novos, já que estes apresentam tecido denso, provavelmente Amazônia Central. Amazoniana, XII (2): 337-352.
com maior quantidade de recursos. Nos morfotipos
pequenos, no entanto, a variação da riqueza entre os bulbos Grupo 8 – Projeto orientado 3
novos e velhos não foi muito grande, provavelmente devido

50 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Ictiofauna associada a capins flutuantes no lago do
Camaleão, Ilha da Marchantaria, AM
Carolina Laura Morales, Flaviana Maluf de Souza, Ana Paula Carmignotto, Eduardo Cardoso Teixeira e Flávio José Soares Jr.

Introdução identificados e contados. A maior parte dos exemplares fo-


As várzeas são ecossistemas caracterizados por uma ram devolvidos vivos ao meio aquático.
diversidade de meso e micro ambientes, como as florestas Além da identificação taxonômica, as espécies foram
alagadas, os bancos de macrófitas, as costas em barranco, e classificadas em relação à sua alimentação em diferentes
os capins flutuantes, todos eles fortemente influenciados por categorias tróficas. Comparamos as amostras em termos de
uma alta variabilidade sazonal marcada pelos pulsos de composição com uso do Índice de Similaridade de Morisita
inundação (Junk et al., 1989). Entre estes ambientes, os (Krebs, 1989).
capins flutuantes constituem um hábitat muito importante
para a fauna aquática (Poi de Neiff, 1981), servindo tanto Resultados
como abrigo e local para desova, quanto como rica fonte de Coletamos um total de 517 indivíduos, pertencentes a 33
alimento (Junk et al., 1989). espécies, 13 famílias e 5 ordens de peixes (Anexo 1). O
Devido a esta influência do regime hidrográfico, a várzea, número de espécies nas moitas variou entre 12 e 23,
assim como todos os outros ambientes da bacia, apresentam enquanto na praia encontramos apenas oito. A ictiofauna
variações sazonais na estrutura e composição das das moitas apresentou-se dominada por Mesonauta insignis
comunidades a ela associadas. Na seca, a diminuição do (Cichlidae) e Brachyhypopomus spp. (4 espécies,
volume do lago e a redução da estratificação vertical, poderia Hypopomidae, Gymnotiformes), que juntas perfizeram en-
levar a uma sobreposição de nichos, aumentando a tre 54 e 80 % de todos os indivíduos amostrados em cada
competição entre os organismos. Em função dessa alta uma das moitas. Cabe ressaltar que estas 5 espécies não
variabilidade estacional, a existência de uma comunidade foram registradas na amostra de praia (Fig. 1).
característica e estável de micro e meso hábitats dentro das Além de compartilhar as espécies mais abundantes (8 no
várzeas tem sido questionada (Jepsen, 1997). Assim, o total), cada moita apresentou espécies exclusivas, sendo a
objetivo de nosso trabalho foi caracterizar a ictiofauna moita 1 a que apresentou maior número de espécies e maior
associada às moitas de capins flutuantes do Lago do quantidade de espécies exclusivas (Fig. 1).
Camaleão na estação seca, levando em consideração a A praia apresentou os menores índices de similaridade
diversidade taxonômica e funcional. em relação às moitas, indicando uma composição diferente,
enquanto que as moitas apresentaram similaridade muito
Métodos maiores, indicando a existência de uma composição típica
Estudamos a ictiofauna associada a capins no Lago do de espécies (Tab.1).
Camaleão, situado na Ilha da Marchantaria, AM (3o14’S,
59o57’W) no mês de novembro, ainda caracterizado pelo
baixo nível da coluna d’água decorrente da seca pronunciada Tabela 1. Valores de Similaridade (Índice de Morisita)
nos meses de agosto a outubro. para pares de amostras da ictiofauna coletadas em moitas
Para determinar as espécies presentes e as suas de capins-membeca e em praia de lama no lago do
abundâncias, tomamos 3 amostras em moitas de capins Camaleão, AM.
dominadas pelo capim-membeca (Paspalum repens,
Poaceae). Utilizamos como controle uma amostragem Amostras Praia Moita 2 Moita 3
realizada em uma praia de lama, de forma de verificar se a
ictiofauna associada aos capins apresentava uma composição
característica, ou se refletia apenas a composição
ictiofaunistica geral da várzea. Realizamos as coletas com
rede de lance de 3 x 5 m, com tamanho de malha de 6 mm,
garantindo uma baixa seletividade do método de
amostragem em relação aos tamanhos dos peixes. Em cada
local (exceto na praia) a coleta foi feita circundando um As amostras foram formadas principalmente por espécies
banco de capins flutuantes, retirando os capins da rede, de médio e pequeno porte, com uma baixa freqüência de
coletando os peixes e identificando as espécies in situ, juvenis de espécies de grande porte. A maioria dos juvenis
sempre que possível; caso contrário, os peixes foram levados registrados nas moitas pertenceram a espécies de Cichlidae
para a base em sacos plásticos com água, onde foram e Gymnotiformes, habitantes permanentes destes ambientes.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 51


PRAIA
80
70 Discussão
60
50
Os ambientes de várzea apresentam uma alta
N 40
30
variabilidade espacial e temporal (Campbell et al., 1992) e
20
10
contêm uma alta diversidade e biomassa de peixes
0
1 (Crampton, 1996). Nossos resultados demonstraram que,

2
também deste ponto de vista, a ictifauna do Lago do
80
MOITA 3 70 Camaleão não é um sistema homogêneo. Dentro de um
60
50 mesmo lago, diferentes tipos de ambientes, distantes poucos
N 40
30 metros, podem apresentar distintas comunidades de peixes,
20
10 características de cada microhabitat. Tal afirmação é
0
corroborada pela presença de um conjunto de espécies
m

s
1

e
a

2
80 comuns (entre um e dois terços) às amostras de capins
MOITA 2 70
flutuantes. Estas moitas foram dominadas pelas mesmas
60
50
N 40 espécies, em particular, alguns Cichlídeos e Gymnotiformes,
30
20
importantes componentes nas comunidades de peixes de
10
0
várzeas na Bacia Amazônica (Crampton, 1996) e diferentes
das espécies dominantes na praia. Isto acentua a importância
80 dos diferentes microhabitats na composição da diversidade
MOITA 1 70
60 b, característica do sistema de várzea.
50
N 40 Considerando que o índice de similaridade utilizado é
30
20 altamente sensível à contribução das espécies mais
10
0
abundantes (Krebs, 1989), a importância das espécies raras
na diferenciação das comunidades fica subestimada. Assim,
yt us ba us
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uma alta similaridade entre habitats não implica


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neccesariamente em um homogeneidade ictiofaunistica do


Ct ichl yh

i
C rach

mesohabitat. Consequentemente, conservar ambientes


B

Br

dominados por um mesohabitat não seria suficiente para


garantir a preservação das espécies raras e da diversidade
Figura 1. Distribuição de abundância das espécies de
total do sistema (Venticinque, com. pess.).
peixes em moitas de capim- e em praia de lama no Lago
do Camaleão, AM, durante a estação seca. N= Número de As principais espécies encontradas, Mesonauta insignis,
indivíduos. Brachyhypopomus spp. e Cichlasoma amazonarum, típicos
habitantes permanentes dos capins (Zuanon, com. pess), são
A composição das amostras em termos de grupos tróficos
as que mantêm a estrutura da comunidade de peixes destes
representados não apresentou padrões marcantes que
ambientes durante todo o ano. Porém, estudos prévios
permitissem uma diferenciação entre capins e praia. O grupo
mostraram que durante a cheia os bancos de capins são
mais abundante em todas as amostras foi o dos invertívoros,
dominados por peixes de pequeno porte e juvenis de espécies
que apresentou uma abundância relativa maior nas moitas
de capim do que na praia (Fig. 2). de maior porte, indicando que nessa época são utilizados
como locais de alimentação e crescimento por espécies
CA
PI
DE
PI
características de outros ambientes (Zuanon, com. pess.).
DE
Nossos resultados demostraram que na seca estes habitats
HE
ON MOITA 1 ON MOITA 2 são utilizados por espécies residentes, que aparentemente
completam seus ciclos de vida nos capins flutuantes. Esta
IN mudança na composição indica que estes habitats
IN
CA PI CA
PI
desempenham uma função importante durante todo o ano,
DE ON
DE variando sazonalmente entre as espécies.
MO ITA 3 PRAIA A maior proporção de peixes invertívoros encontradas
ON nas moitas em relação à praia reflete a importância da
comunidade vegetal (capins flutuantes e outras plantas
IN
IN
aquáticas) como substrato para a fauna de invertebrados, já
Figura 2. Caracterização trófica dos peixes coletados em
que muitas dessas plantas abrigam insetos tanto em sua
moitas de capins (MOITAS 1, 2 e 3) e em PRAIA do Lago
porção aérea (Carmignotto et al., este volume) quanto nas
do Camaleão, AM. HE= herbívoro; DE= detritívoro; CA=
raízes (Poi de Neiff, 1981, Claro Júnior, este volume),
carnívoro1; PI= piscívoro; ON= onívoro; IN= invertívoro.
1
servindo como uma rica fonte de alimento para esses peixes.
espécies que alimentam-se tanto de peixes como de insetos e outros animais.

52 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Agradecimentos da Marchantaria, AM, Brasil. X Curso de Campo de
Agradecemos aos Professores Jansen Zuanon e Eduardo Ecologia da Floresta Amazônica. INPA, PDBFF.
Venticinque pelo auxílio na coleta e na identificação das Crampton, W.G.R. 1996. Gymnotyform fish: an important
espécies de peixes. component of Amazonian floodplain fish communities.
Journal of Fish Biology 48:298-301.
Jepsen, D.B. 1997. Fish species diversity in sand bank
Referências bibliográficas habitats of a neotropical river. Environmental Biology
Campbell, D. G., J. Stone, and A. Rosas, Jr. 1992. A
of Fishes 49:449-460.
comparison of the phytosociology and dynamics of
Junk,W. J.; P. B. Bayley e R. E. Sparks. 1989. The Flood
three floodplain (Varzea) forests of known ages, Rio
pulse Concept in River-Floodplain Systems. P. 110-
Juruá, western Brazilian Amazon. Botanical Journal of
127. In D. P. Dodge (editor). Proceedings of the
Linnean Society 108: 213-237.
International Large River Symposium. Can. Spec.
Carmignotto, A. P.; F. M. Souza; C. L. Morales; E. C.
Publ. Fish. Aquat. Sci. 106.
Teixeira e F. J. Soares Jr. 2002. Fauna de invertebrados
Krebs, C. J. 1989. Ecological Methodology. University
aquáticos associada a bulbos de Eichhornea crassipes
of British Columbia, Menlo Park, California.
(Mart.) Solms. em uma área de várzea na Amazônia
Poi de Neiff, A 1981. Mesofauna relacionda a la
Central. X Curso de Campo de Ecologia da Floresta
vegetación acuatica en una laguna del valle del Alto
Amazônica. INPA, PDBFF.
Paraná argentino. Ecosur 8: 41-53.
Claro Júnior, L. H.; E. Vasconcelos; G. R. Julião; P. G.
Tello e V. Z. Antunes. 2002. Fauna de invertebrados
nas raízes de Eichhornea crassipes (Pontederiaceae)
Grupo 8 – Projeto Orientado 4
na várzea no período de seca no lago Camaleão, Ilha

Anexo 1. Classificação taxonômica, categoria trófica dos peixes e número de indivíduos coletados em cada amostra no
Lago do Camaleão. M=Moita de capim, P= Praia de lama.
Ordem Família Espécie M1 M2 M3 P Categoria trófica

Synbranchiformes Synbranchidae Synbranchus sp. 2 0 0 0 piscívoro


Siluriformes Auchenipteridae Parauchenipterus galeatus 2 0 8 0 carnívoro
Siluriformes Auchenipteridae Parauchenipterus sp. 0 0 5 1 carnívoro
Siluriformes Doradidae Anadoras grypus 0 0 1 0 invertivoro
Siluriformes Doradidae Doras eigenmanni 0 0 1 0 invertivoro
Perciformes Cichlidae Acarichthys heckelii 0 0 0 21 onívoro
Perciformes Cichlidae Cichlasoma amazonarum 22 4 1 0 invertivoro
Perciformes Cichlidae Crenicichla cincta 1 0 0 1 piscívoro
Perciformes Cichlidae Crenicichla lepidota 2 0 0 0 piscívoro
Perciformes Cichlidae Hypselecara temporalis 3 0 0 0 carnívoro
Perciformes Cichlidae Mesonauta insignis 56 73 39 0 onívoro
Perciformes Cichlidae Pterophyllum scalare 0 3 2 0 invertivoro
Gymnotiformes Hypopomidae Brachyhypopomus brevirostris 4 4 4 0 invertivoro
Gymnotiformes Hypopomidae Brachyhypopomus pinnicaudatus 10 0 0 0 invertivoro
Gymnotiformes Hypopomidae Brachyhypopomus sp1 60 5 32 0 invertivoro
Gymnotiformes Hypopomidae Brachyhypopomus sp2 0 2 0 0 invertivoro
Gymnotiformes Sternopygidae Eigenmannia trilineata 1 0 13 0 invertivoro
Characiformes Anostomidae Rhytiodus microlepis 3 0 0 0 herbívoro
Characiformes Anostomidae Schizodon fasciatus 3 0 0 0 herbívoro
Characiformes Characidae Aphyocharax sp. 0 0 1 0 invertivoro
Characiformes Characidae Ctenobrycon hauxwellianus 11 0 1 0 invertivoro
Characiformes Characidae Gymnocorymbus thayeri 2 0 0 0 invertivoro
Characiformes Characidae Hemigrammus sp. 0 0 0 4 invertivoro
Characiformes Characidae Hyphessobrycon eques 2 2 2 0 Invertivoro
Characiformes Characidae Hyphessobrycon sp. 1 0 0 0 invertivoro
Characiformes Characidae Moenkhausia intermedia 0 1 0 0 invertivoro
Characiformes Characidae Odontostilbe sp1 1 0 0 1 invertivoro
Characiformes Characidae Odontostilbe sp2 0 0 0 33 invertivoro
Characiformes Curimatidae Cyphocarax sp. 14 2 1 19 detritivoro
Characiformes Erythrinidae Hoplias malabaricus 5 3 3 1 piscívoro
Characiformes Lebiasinidae Pyrrhulina sp. 2 0 1 0 invertivoro
Characiformes Prochilodontidae Semaprochilodus insignis 5 0 0 0 detritivoro
Characiformes Serrasalmidae Serrasalmus spiropleura 1 5 4 0 piscívoro

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 53


Distribuição de Caiman crocodilus (Alligatoridae) no
Lago Camaleão, Ilha da Marchantaria, Amazonas, Brasil
Luis Henrique Claro Jr., André Faria Mendonça , Carina Lima da Silveria, Flávio José Soares Jr., Eduardo Vasconcelos

Introdução Resultados
O jacaretinga (Caiman crocodilus) é o crocodiliano mais Durante o censo, observamos 235 jacarés. Destes, 29
comum na região amazônica, sendo amplamente distribuído. permaneciam junto à margem predominantemente florestal,
Entretanto, existem poucas informações sobre sua área de com declive acentuado. Os outros 209 estavam restritos à
vida e preferência de habitat. Esta espécie ocupa diversos margem, a ambientes,tescaracterizados pela predominância
ambientes aquáticos, principalmente pequenos rios, igapós e vegetação graminóide e por uma baixa declividade.
e várzeas (Scott & Limerick, 1983). A abundância de indivíduos de jacaretinga apresentou-
A sua dieta varia de forma ontogenética, sendo esta se relacionado apenas com o tipo de vegetação da margem
quando jovens, é composta principalmente por artrópodes, do lago. A margem com cobertura graminóide apresentou
crustáceos, pequenos anfíbios e peixes (Schmidt et al.,1995). uma abundância maior do que a margem coberta por
Quando adultos, alimentam-se principalmente de animais vegetação florestal (F[1,10]=9.483, P=0.012). Em relação ao
de maior porte, como capivaras, tatus, macacos, grandes declive da margem não foi encontrada uma difenrença
aves (Staton & Dixon 1978 apud Schmidt et al. 1995), significativa no número de jacaretinga(F [1,10]=1.552,
peixes, pequenos répteis e anfíbios. P=0.241) (Figura 1).
Mesmo ocorrendo de forma ampla, está espécie é
territorialista e defende as áreas para termoregulação e
nidificação e caça. O ninho, construído em forma de 60.000

pequenos montes com serrapilheira e sedimentos (areia ou 50.000


N. de indivíduos

argila) no final da estação seca (Schaller & Crawshaw, 1982 40.000


apud Rittl et al. 1997), é um possível determinante da 30.000
preferência dessa espécie por tipos específicos de habitat. 20.000
O objetivo deste trabalho foi determinar os habitats 10.000
preferenciais de Caiman crocodilus em relação à cobertura 0
vegetal e declividade das margens. Floresta plana Floresta Graminóide Graminóide
inclinada plana inclinada
Tipos de Ambientes
Métodos
Figura 1. Número de indivíduos de jacaretinga em
Realizamos um censo para determinar o número de
relação a vegetação e o declive de trechos da margem do
indivíduos de Caiman crocodilus no Lago Camaleão (
Lago Camaleão
3c14’S, 59 c57’S), localizado na ilha da Marchantaria, Baixo
Solimões, a 15 km da confluência com o rio Negro. O Lago
Camaleão possui as margens cobertas por um mosaico que
inclui formações de floresta de várzea e áreas dominadas Discussão
por vegetação graminóide (canaranas e membecas), ambas A maior abundância de indivíduos de Caiman crocodilus
inundadas no período das chuvas. nas margens planas cobertas predominantemente pela
A coleta dos dados foi realizada por meio de observações vegetação graminóide faz corroborar com a nossa
a partir de um barco, navegando no centro do lago, entre expectativa quanto ao habitat preferencial para esta espécie
20:40 e 22:30 h. Para a localização dos jacarés utilizou-se que seria caracterizado, fundamentalmente pela presença
lanternas com o facho de luz direcionado para as margens. de uma estrutura mais complexa, propícia para implantação
O número de indivíduos foi contabilizado em sete repetições de sítios de nidificação.
de 5 minutos cada, com velocidade constante de 10 km/h, Associado a combinações entre os distintos tipos de
totalizando aproximadamente 5,8 km de trajeto. As margens cobertura vegetal e da inclinação da margem, outros fatores
foram caracterizadas quanto à cobertura vegetal (áreas podem participar influenciando a distribuição desigual dos
florestais ou vegetação graminóide) e por declividade indivíduos de jacaretinga: disponibilidade de alimento e
(inclinado ou plano). abrigo para os grupos mais jovens. Dessa forma, a presença
Analisamos as diferenças entre a densidade dos de ilhas de macrofitas, comumente observadas ao longo das
indivíduos nos diferentes tipos de margem e coberura veg- margens do lago, poderia representar um fator de agregação
etal por meio de uma ANOVA fatorial. para populações desta espécie pela oferta de abrigo e

54 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


alimento (peixes e invertebrados associados a bancos de Messias, M. R., C. A. Ramos, E. M. Vieira, L. C.
plantas aquáticas) (Messias et al. 1994). Schaiesre & M. Gordo, 1994. Dispersão de
Os jacarés distribuiram-se principalmente em ambientes vertebrados por ilhas de macrófitas flutuantes no baixo
de baixa declividade e cobertos por capim. A baixa ocupação Rio Solimões. Ecologia da Floresta Amazônica – OTS/
dos barrancos com floresta provavelmente deve-se à UNICAMP. p. 293-295.
dificuldade de acesso e pequena incidência de luz solar direta
Rittl, C. E.; P.Eterovick; J. Aparicio, & D.Tirira, 1997.
(sombra das árvores).
Preferência de habitat de jacaretinga (Caiman
crocodilus) em várzea e igapó. Curso de campo
Agradecimentos ecologia da floresta amazônica. INPA/ Smithsonian
O grupo “Seu Creysson” agradecem ao Juruna pelo
Institutuion/ UNICAMP/OTS p. 171-174
relógio , animação e paciência ao percorrer o Lago Camaleão
Schmidt, B.; C. Baider; D. Bersch, G. C. Kristosch & S.
no meio da noite, ao prof. Carlos “Tachi” Fonseca, pela
Neckel, 1995 Alguns componentes da dieta do jacaré
ajuda nas análises estatísticas e ao Jansen Zuanon pelas
correções do manuscrito. Caiman crocodilus (Alligatoridae) no lago de Janauari
na Amazônia Central. Curso de campo Ecologia da
Referências bibliográficas Floresta Amazônica. INPA/Smithsonian Institutuion /
Constança, S. P., S. P. Camilo-Alves, E. M. J. Costa, M. UNICAMP/OTS. p.291-293
C. Santos, R. de Q. Portela, H. F. Paulino Neto & M. Scott, N. J. & S. Limerick, 1983. Reptiles and Amphib-
B. Silva, 2001. Dieta de jacarés (Caiman crocodilus ians. Costa Rican Natural History. Edited by Daniel H.
yacare) juvenis em baías do pantanal do Miranda/ Janzen. p.351-425.
Abobral. Ecologia do Pantanal – Curso de Campo
2001, Campo Grande, MS, p. 53-56. Projeto Livre 2

Distribuição de freqüência de habitats por aves


aquáticas piscívoras do Lago Camaleão, Ilha da
Marchantaria, AM
Josué Ribeiro da Silva Nunes, Yumi Oki, Ana P. Carmignotto, Patrícia G. Tello, Flaviana Maluf de Souza e Vanina Zini Antunes

Introdução variam muito entre as espécies.


O Brasil possui cerca de 1590 espécies de aves As aves aquáticas podem ser agrupadas em diferentes
distribuídas em 86 famílias e 23 ordens, o que representa categorias de acordo com a dieta e a estratégia de
55,3% das espécies da América do Sul (Sick 1984). A forrageamento: insetívoras, malacófagas, herbívoras,
Amazônia possui cerca de 930 espécies, das quais 409 (44%) onívoras, piscívoras, entre outras. Neste trabalho trataremos
são endêmicas. Esta diversidade encontra-se distribuída ao do grupo de aves piscívoras. Dentre estas, há grande
longo de vários tipos de habitats, muitas espécies de aves variedade no comportamento de forrageio, alguns grupos
encontradas nas florestas úmidas são específicas dos nichos realizam a pesca ativa através do mergulho (biguás e
observados neste ambiente (Stotz et al. 1992). Um grupo biguatingas), outros pescam por espreita, como garças e
bem característico é o formado pelas aves que ocupam os maguaris. As garças porém, podem unir-se às cegonhas (Ja-
ambientes aquáticos. biru mycteria e Mycteria americana) e caçar ativamente
A maioria das aves aquáticas vive à beira de águas em bandos cercando os cardumes de peixes. Aves que
estagnadas, nas margens de lagoas. É comum observar realizam este tipo de forrageamento são chamadas
biguás (Phalacrocorax brasilianus), garças (Casmerodius “vadeadeiras”. Uma outra forma de pescar é a dos
albus, Egreta thula), tuiuius (Jabiru mycteria), marrecas “sentinelas”, onde os indivíduos empoleiram-se em galhos
(Dendrocygna spp. Amazonetta), saracuras (Aramides spp) sobre a água esperando o momento oportuno para capturar
e maguaris (Ardea cocoi) nestes ambientes (Sick 1984). a presa (martim-pescador). Algumas, ainda, capturam suas
Outras, como os martins-pescadores (Ceryle spp. e presas usando as garras, tal como o gavião-belo (Bussarelus
Cloroceryle spp.) e trinta-réis (Sterna spp.), ocorrem tanto nigricolis). As gaivotas sobrevoam as lagoas e rios e quando
em áreas de água estagnada como de água corrente (Sick avistam a presa descem para capturá-la, (Sick 1984).
1984). Isso porque as dietas e estratégias de forrageamento Os padrões de uso de habitat, forrageamento e interações

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 55


80
sociais entre espécies são fundamentais para composição, 70
estrutura e dinâmica da avifauna tropical (Terborgh 1979, 60

Abundância
50
Fitzpatrick 1980). O objetivo deste trabalho foi caracterizar 40
através da localização visual das espécies de aves aquáticas 30
20
e das possíveis estratégias de forrageamento das mesmas 10
no lago Camaleão, o habitat das aves piscívoras em uma 0

torquata

Ardea cocoi
Anhinga
anhinga

Egretta thula
Phalacrocorax

Butorides

Casmerodius

Bussarelus
Ceryle
área de várzea na época de estiagem.

superciliaris

striatus

nigricolis
olivaceus

Sterna

albus
Métodos
Foram realizadas observações de aves aquáticas
piscívoras no Lago do Camaleão, na Ilha da Marchantaria, Figura 1. Abundância total de aves piscívoras observadas
município de Iranduba (3o14’S e 59o57’W), a 20 km ao sul no Lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria, AM.
de Manaus, AM. Durante as observações foi registrado o
número de indivíduos de todas as espécies piscívoras
avistadas, associações com qualquer outra espécie e o
ambiente por elas utilizado, como descrito abaixo. 12 Mata Lago Margem Vôo
10
Mata – aves que encontravam-se na floresta situada ao

avistamentos
8
longo da margem do lago. Nestes casos, registrou-se também 6
4
se as aves estavam em poleiros e galhadas, e a que altura se 2
encontravam do solo; 0

Lago – aves que encontravam-se dentro do lago. Neste

Egretta thula
torquata

Anhinga
anhinga
Butorides

Ardea cocoi

Bussarelus
Casmerodius
Phalacrocorax

superciliaris

striatus

Cerile

nigricolis
olivaceus

Sterna

albus
caso, medimos a profundidade da água do lago onde elas se
encontravam;
Margem – aves que se encontravam no solo margeando
Figura 2. Distribuição das espécies de aves por local de
o lago, podendo ainda estar sobre macrófitas aquáticas;
avistamento, no Lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria,
Vôo – aves que forrageiam em pleno vôo.
AM.
Realizamos um total de 3 horas de observação (das 6:30
às 9:30) no período matutino, no dia 15 de novembro de
Tabela 1. Riqueza e caracterização dos habitats de aves
2002.As observações foram realizadas com auxílio de
binóculos e a olho nú. aquáticas no Lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria,
AM. Entre parênteses são apresentados valores médios
em metros e os desvios das medidas de altura para a
Resultados mata e de profundidade para o lago.
Foram realizados 72 avistamentos, num total de 158
indivíduos pertencentes a 9 espécies e 7 famílias Espécie Nome
comum
Avistamentos Mata Lago Margem Vôo Macrófitas Puleiro Galhada Outras
espécies

(Accipitridae, Alcedinidae, Anhingidae, Ardeidae, Laridae Phalacrocorax


brasilianus
Biguá 17 5 (11,8 12 (2,0
± 5,5) ± 0,6)
0 0 0 1 0 2

Sterna Gaivota 9 0 0 3 6 0 0 0 1
e Phalacrocoracidae). A espécie mais abundante foi o biguá superciliaris
Butorides striatus Socózinho 10 1 0 9 0 4 1 2 1

(P. olivaceus), sendo seguida pela gaivota (S. superciliaris). Cerile torquata Martim
pescador
9 8 (4,2
± 1,6)
0 1 0 0 1 0 2

Anhinga anhinga Biguatinga 7 5 (14,0 1 1 0 0 1 0 0


(Figura 1). Ardea cocoi Maguari 7
± 4,2)
2 (12,0 0 5 (0,30 ± 0 2 0 0 1
Observamos um número maior de indivíduos em Egretta thula Garça 6
e 3,0)
0 0
0,11)
5 1 0 0 0 2
pequena
determinados ambientes para oito espécies registradas, com Casmerodius
albus
Garça
grande
3 0 0 3 (0,12 ± 0
0,35)
0 0 0 2

exceção de Bussarelus nigricolis que foi avistado apenas Bussarelus


nigricolis
Gavião
belo
2 1 (5) 0 0 1 0 0 0 1

duas vezes (Figura 2). As três espécies da família Ardeidae


(A. cocoi, E. thula e C. albus) foram encontradas em maior
número na margem, a profundidades de no máximo 30 cm Discussão
(Tabela 1). Biguás (Phalacrocorax brasilianus) e A fauna de piscívoros observada foi composta por
biguatingas (Anhinga anhinga) foram registrados em espécies comuns, que apresentam ampla distribuição
forrageio a profundidades em torno de 2,0 m e descansando geográfica (Sick 1989) registradas para a área de estudopor
sobre a vegetação, a alturas em torno de 12,0 m. Cerile Petermann (1992) sendo que sete coincidem com as
torquata esteve associado à vegetação na margem, utilizando observadas neste estudo (Phalacrocorax brasilianus, Sterna
alturas em torno de 5,0 m. Butorides striatus foi encontrado superciliaris, Butorides striatus, Cerile torquata, Ardea
em maior número na margem, muitas vezes em locais com cocoi, Egretta thula e Casmerodius albus). As gaivotas
presença de macrófitas, puleiros e galhadas. A gaivota (Phaetusa simplexa e Rynchops niger) não foram avistadas
(Sterna superciliaris) foi avistada forrageando em pleno vôo, em nosso estudo e Anhinga anhinga e Bussarelus nigricolis
sendo encontrada nas margens quando em descanso. não foram avistadas por Petermann (1992).

56 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


A diferença de uso habitats observada, provavelmente sua dieta alimentar (Sick 1984). A maioria dos indivíduos
está relacionada à estratégia de forrageamento de cada foram observados na margem do lago, caminhando e
espécie. Indivíduos de Phalacrocorax brasilianus (biguá) parando, o que corrobora o hábito de caçador por espreita
são exímios mergulhadores, pescam sozinhos, em casais ou, documentado para a espécie. É a maior ave piscívora da
às vezes, em bandos de até duzentos indivíduos, cercando área estudada.
as presas para obter maior sucesso na captura (Sick 1989). Egretta thula (garça pequena) é freqüentemente
A maioria dos avistamentos de P. brasilianus foram obtidos observada forrageando junto à Casmerodius albus (garça
na água, onde, em bando pequenos (3 a 5 indivíduos) grande) e ambas alimentam-se, entre outros itens, de peixe.
capturavam peixes. A profundidade média de 2,0 m, No presente estudo Egretta thula foi encontrada, na maioria
encontrada no presente estudo, confirma o comportamento das vezes, sozinha (90%). A associação entre estas espécies
de caçadora ativa de maiores profundidades. Foi observado não foi observada por nós, onde apenas dois avistamentos
ainda que esta espécie sempre estava em grupos (Sick 1989). constataram a presença concomitante das duas espécies.
P. brasilianus também foi a espécie mais abundante no Bussarelus nigricolis (gavião belo) possui unhas
estudo realizado por Petermann (1992) neste mesmo lago. pontiagudas e recurvas, que auxiliam na captura de peixes,
Indivíduos de Sterna superciliaris (gaivota) são onívoros, que caçam ativamente voando e mergulhando sobre a água.
sobrevoam e descem para capturar peixes que nadam a pouca No presente estudo, um dos registros foi de um animal
profundidade. Sobrevoam os corpos d’água patrulhando em voando, provavelmente forrageando, e o outro sobre a
busca de presas (Sick 1984). A maioria dos indivíduos vegetação, em um período de provável descanso.
avistados (67%) no presente estudo estavam, provavelmente, Os resultados obtidos apontam uso de habitats e táticas
patrulhando o lago em busca de oportunidade para capturar alimentares diferentes para as espécies de aves piscívoras.
presas. Isto indica que a distribuição espacial pode estar relacionada
Indivíduos de Butorides striatus (socozinho), embora ao comportamento e estratégias de forrageamento das aves
alimentem-se de peixes, consomem também insetos, do Lago do Camaleão. A especificidade de habitat
moluscos, caranguejos, anfíbios e répteis, e pescam apresentada por estas espécies torna-as bastante vulneráveis
predominantemente sozinhos (Sick 1984). Neste estudo, a a perturbações ambientais, aumentando a importância da
maioria dos indivíduos (90%) desta espécie encontrava-se preservação desses ambientes aquáticos.
no local de forrageamento, ou seja, percorrendo a margem
do lago, sempre solitários. Agradecimentos
Indivíduos de Ceryle torquata (martim-pescador) Agradecemos a Ocírio Juruna por ter pilotado a voadeira,
alimentam-se de artrópodes, mas pescam de poleiros em auxiliado a localizar as aves e pela sua disposição em acordar
diferentes alturas, de onde arremetem-se sobre a presa (Sick mais cedo. Ao curso pela oportunidade de estudar e aprender
1984). Esta espécie também desenvolveu comportamento mais sobre este bioma brasileiro.
típico quanto ao forrageamento na área de estudo,
permanecendo empoleirada na vegetação marginal. Segundo
Petermann (1992), esta espécie é comum na área durante
Referências Bibliográficas
Fitzpatrick, J. W. 1981. Search strategies of tyrant
todo ano (seca e cheia).
flycatchers. Animal Behavior 29: 810-821.
Indivíduos de Anhinga anhinga (biguatinga) permanecem
Petermann, P. 1992. The birds. In: The Central Amazon
por entre a galharia onde esperam insetos, são exímios
Floodplain, Ecology of a Pulsing System, Editor
mergulhadores, perseguindo ativamente as presas (peixes),
Wolfgang J. Junk, 527p.
os quais são ingeridos somente fora da água (Sick 1984).
Sick, H. 1984a. Ornitologia Brasileira, Vol. 1 3a ed.
Existe ainda, relatos de pesca em grupo (Sick 1989). Embora
Editora UnB, Brasília, 481p.
Petermann (1992) não tenha observado este comportamento
Sick, H. 1984b. Ornitologia Brasileira, Vol. 2 3a ed.
na região, isto foi confirmado neste estudo. Esta espécie
Editora UnB, Brasília, 827p.
comportou-se de maneira diferenciada na área de estudo,
Stotz, D. F.; R. O. Bierregard; M. Cohn-Haft; P.
pois na maioria das vezes estava empoleirada em árvores
Petermann; J. Smith; A. Whittaker & S. V. Wilson.
altas de onde provavelmente não avistaria a presa. Vários
1992. The status of North American migrants in
motivos poderiam explicar este comportamento, desde a
Central Amazonian Brazil. Condor 94: 608-621.
possibilidade de já haverem forrageado, até o fato de estarem
Terbough J. 1980. Causes of tropical species diversity.
esperando melhor condições ambientais para realizar as
Acta 17 Congr. Int. Ornitol. Berlin, pp 955-961.
capturas.
Indivíduos de Ardea cocoi (maguari) geralmente
Projeto Livre 2.
forrageiam sozinhos e são generalistas, incluindo peixes em

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 57


Influência da luminosidade no crescimento e
investimento reprodutivo de Psychotria sp. (Rubiaceae)
no sub-bosque de várzea, rio Solimões
Genimar Rebouças Julião, Carolina Laura Morales, Paula Machado Pedrosa, Eduardo Cardoso Teixeira e George Camargo

Introdução amostrados aleatoriamente em uma área de 1 ha, registrando-


Os grandes rios amazônicos sofrem pulsos de inundação se a intensidade luminosa incidente com um
bastante pronunciados, cuja duração é variável, podendo esferodensiômetro, a altura total, a altura da primeira
chegar até 270 dias por ano. Porém, estes períodos são bem bifurcação e o número de inflorescências por indivíduo. O
previsíveis, o que permite a adaptação de espécies animais número total de flores foi estimado por meio do número de
e vegetais a este tipo de variação (Junk 1997). A duração inflorescências por indivíduo multiplicado pela média de
do período inundável em uma dada área depende da distância flores por inflorescência, a qual foi obtida a partir de três
do rio e da altitude em relação ao mesmo. Quanto mais amostras de cada indivíduo, tomadas ao acaso. Além disso,
próxima do rio e mais baixa for a área, mais tempo foi avaliado o número médio de folhas produzidas após a
permanecerá alagada (Junk 1997). A integração destas última enchente. No campo, foi possível distinguir as folhas
variáveis ambientais determinam aspectos biológicos das que foram submersas daquelas produzidas após a cheia, pois
espécies de planta que habitam regiões alagáveis, folhas novas apresentam coloração em tons mais claros e
principalmente aquelas que não são carreadas pelas águas e ausência de sedimentos na superfície do limbo e nos ramos.
por isso necessitam criar estratégias para se adaptar a A influência da luz no número de flores e de folhas novas
situações inóspitas. foi avaliada utilizando regressões lineares simples, enquanto
A época de cheia pode ser considerada um período de que as relações entre as variáveis medidas na planta foram
estresse para as plantas, principalmente para aquelas que avaliadas utilizando correlações simples.
permanecem totalmente encobertas. Dessa forma, muitas Resultados
espécies retardam, ou mesmo cessam seu crescimento du- Todos os indivíduos amostrados de Psychotria sp.
rante o pico da cheia, produzindo novas folhas e frutos no apresentaram botões florais, flores abertas e frutos imaturos.
fim da vazante ou no início do período de cheia (L.V. A altura média dos indivíduos foi de 2,24±0,60 m, enquanto
Ferreira, com. pessoal). Além de fatores locais e sazonais, o número de inflorescências variou de 2 a 150 (Tabela 1). O
a luminosidade que atravessa aberturas no dossel pode número total de flores produzidas por indivíduo não se
influenciar, numa escala mais refinada, o desenvolvimento relacionou significativamente com a luminosidade (r2 =
de plantas. 0,032; p > 0,05; n = 20). A luminosidade também não
O nosso objetivo foi testar se o grau de luminosidade apresentou relação significativa com o número de folhas
influencia o investimento reprodutivo e a produção de folhas jovens, produzidas após a estação cheia (r2 = 0.016, p >
de Psychotria sp., partindo da premissa de que na cheia a 0,05, n = 20). Além disso, não foram observadas relações
planta cessa o seu crescimento e, consequentemente, o seu entre a altura da planta e o número de flores, nem no número
potencial reprodutivo, como o número de flores e frutos de ramos e o número de flores produzidas (Tabela 2).
produzidos. Desta forma, esperamos encontrar plantas que
produzam um maior número de flores e folhas em áreas do Tabela 1. Valores mínimos, máximos e médios da altura
sub-bosque que apresentam maiores níveis de iluminação, total e de ramificação, número de inflorescências,
uma vez que durante o período de cheia, as plantas retardam número médio de flores por inflorescência e o número
seu crescimento e na vazante, supomos que a luminosidade médio de folhas por ramo de Psychotria sp.
seja o principal fator na retomada do crescimento de Valores Altura (m) Ramificação (m) Inflorescências Flores Folhas

Psychotria sp. Mínimos 1,32 0,01 2,00 32,00 5

Máximos 3,44 1,96 150,00 109,00 19

2,24 ±0,603 0,63 ± 0,53 61,25 ± 22,69 9,65 ± 3,42


Métodos Médios 43,35± 37,35

O estudo foi desenvolvido na área de várzea próxima ao


lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria, no Rio Solimões. Tabela 2. Correlações de Pearson entre as variáveis
A área de coleta apresentava uma cota de inundação medidas na planta Psychotria sp., na ilha da
relativamente baixa, sem variações altimétricas no terreno, Marchantaria.
que provavelmente era inundado tardiamente e emergia no Coeficiente de Pearson R Coeficiente de Pearson r

início da vazante. Altura x ramificação 0,37 Número de folhas x número de flores 0,10
Altura x número de flores 0,014 Número de ramos x número de flores 0,08
Vinte indivíduos de Psychotria sp. (Rubiaceae) foram

58 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Discussão hidrocóricos durante a enchente.
O suprimento de luz em uma área é o mais importante Além disso, observamos que as plantas em campo tinham
recurso ambiental requerido por plantas em crescimento. arquiteturas distintas e muitos indivíduos apresentavam
Plantas situadas sob copas de árvores possuem mecanismos várias ramificações, algumas muito próximas ao solo. Tais
fisiológicos e morfológicos para contornar a restrição de ramificações podem decorrer do impacto físico causado pela
luz (Harper 1977). Indivíduos de Psychotria sp. foram cheia. Dessa forma, indivíduos de baixa estatura, poderiam
encontrados em sub-bosques, crescendo em diferentes níveis produzir muitos ramos laterais e inflorescências, sendo
de luminosidade. No entanto, os valores de crescimento necessárias outras formas de avaliar a idade da planta,
vegetativo e do estágio reprodutivo obtidos neste estudo incidência de luz e sua influência no crescimento e floração
não apresentaram relações com os níveis de luminosidade. de Psychotria sp.
É possível que Psychotria sp. seja uma espécie
completamente adaptada à vida no sub-bosque pouco Agradecimentos
iluminado das matas de várzea, sendo pouco influenciada Agradecemos ao Professor Leandro Valle Ferreira pela
pela iluminação incidindo diretamente sobre os indivíduos. sugestão do projeto, ao Ocírio Juruna Pereira e Marcelo
Devemos também considerar que o método empregado para Pin Moreira pelo apoio de sempre.
estimar o grau de luminosidade, o uso de um
esferodensiômetro, pode não ter sido eficiente para medir a Referências Bibliográficas
quantidade de luz que efetivamente incidia sobre as plantas. Harper, J.L. 1977. Population Biology of Plants. Aca-
O pulso anual de inundação pode ser um dos fatores demic Press, London, pp. 892.
determinantes do crescimento e floração de Psychotria sp., Junk, W.J. 1997. The Central Amazon Floodplain:
pois através de observações em campo verificamos que a Ecology of a Pulsing System. Springer-Verlag, Berlin,
maioria dos indivíduos estavam florescendo pp. 525.
sincronicamente, exceto indivíduos muito jovens. Supomos
que a sincronia seja uma estratégia reprodutiva dos Projeto Livre 2 - Ilha da Marchantaria
indivíduos para garantir a dispersão de seus frutos

Orientação de fixação das esponjas Spongilla sp.


(Spongillidae, Porifera) relacionada à direção do fluxo
do Rio Solimões na Ilha da Marchantaria, Amazônia
Central
Ana Maria Benavides, Daniela Chaves Resende, Sylvia Miscow Mendel

Introdução (Barnes, 1984).


Poríferos são animais pluricelulares que têm a O objetivo deste trabalho foi testar duas hipóteses: i)
necessidade de um substrato para fixação. Toda a fisiologia investigar se o fluxo da correnteza do rio Solimões influencia
de uma esponja é extremamente dependente da corrente a orientação das esponjas que se fixam nos troncos das
d’água que flui através do corpo, que traz consigo oxigênio, árvores de uma mata de várzea e ii) se a competição por
recursos e remove detritos (Barnes, 1984). espaço afeta a distribuição das esponjas em relação às
As esponjas de água doce que ocorrem em sistemas de diferentes faces das árvores (Norte, Sul, Leste, Oeste).
várzea na Amazônia Central se desenvolvem em uma A predição para a primeira hipótese é de que a fixação
paisagem tridimensional onde são submetidas a gradientes das esponjas ocorra, principalmente, na face oeste dos
ambientais tanto verticais (por exemplo, concentração de troncos, em resposta à orientação do fluxo d’água do rio,
oxigênio) (Camargo et al. 2002) como horizontais que se dá no sentido oeste-leste. Para a segunda hipótese,
(velocidade e direção da correnteza do rio). acreditamos que as esponjas que alcançam a árvore primeiro
Assim, seu padrão de crescimento é, em grande parte, ocupem preferencialmente a face oeste das árvores, seguindo
uma resposta adaptativa à disponibilidade de espaço, à o fluxo do rio. Desta forma, estas esponjas tornam-se maiores
inclinação do substrato e à velocidade da corrente da água que as demais em virtude de um maior espaço disponível

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 59


para colonização. As esponjas, que chegam posteriormente,
se concentram nas outras faces, em função da falta de espaço
na face oeste, resultando em menores taxas de crescimento.

Métodos
Desenvolvemos este estudo numa mata de várzea da ilha
da Marchantaria, localizada no rio Solimões, Amazônia
Central, no mês de novembro de 2002 (final da época seca).
Estabelecemos dois transectos de 15m ao longo de um trecho
de mata, distantes 20 m entre si, ambos no sentido oeste-
leste. Em cada transecto, amostramos aleatoriamente oito
árvores, onde contamos todas as esponjas avistadas e
medimos o perímetro à altura do peito (PAP).
Anotamos a face do tronco (norte, sul, leste, oeste) na
qual cada esponja estava fixa. Classificamos as Figura 2. Freqüência de ocorrência das aglomerações de
aglomerações de esponjas em três classes de tamanho: esponjas nas diferentes classes de tamanho, nos quatro
grande (mais de quatro esponjas), média (duas a três sentidos cardeais, na mata de várzea, Ilha da
esponjas) e pequena (uma esponja). Marchantaria. Colunas pretas mostram a distribuição dos
Para avaliar a freqüência de distribuição das esponjas grupos pequenos; hachuradas dos grupos médios e
nos quatro pontos cardeais foi realizado um teste qui- branco dos grupo grandes.
quadrado (Zar, 1984). A distribuição esperada foi estimada
como 25% das esponjas ocupando cada uma das faces dos
trocos. Discussão
Nosso estudo mostra um claro efeito da direção da
Resultados correnteza do rio Solimões sobre a orientação de fixação
O número de agregados de esponjas presentes nas 18 das esponjas que se desenvolvem nas árvores do sistema de
árvores amostradas foi de 188, totalizando cerca de 352 várzea local, já que estas se estabelecem com maior
indivíduos. Os agregados se distribuíram em três categorias freqüência na face oeste. Esponjas que se estabelecem nesta
de tamanho sendo, 31 de tamanho grande, 57 de tamanho face a favor da correnteza, talvez tenham acesso mais fácil
médio e 100 de tamanho pequeno. a recursos que vêm com a correnteza. Existem duas possíveis
Houve efeito da direção cardeal na distribuição de explicações para tal localização de fixação: i) há uma
ocorrência de esponjas (c2= 193; g.l.3; p < 0,001) e as diferença na chance de estabelecimento de uma esponja entre
esponjas ocorreram com maior freqüência na face oeste dos as diversas faces das árvores, sendo a face oeste a de maior
troncos (Fig. 1). acessibilidade ou ii) se alguma das faces representa um habi-
No entanto, a avaliação da ocorrência das esponjas de tat onde os recursos são menos disponíveis (por estarem
diferentes tamanhos nos quatro sentidos mostrou que contrários ao fluxo d’água), é possível também que um
aglomerados de esponjas de tamanhos médio e grande fenômeno de mortalidade diferencial esteja modulando o
ocorreram principalmente na face oeste dos troncos, padrão de distribuição encontrado.
enquanto as aglomerações menores ocorreram mais A chance de estabelecimento de uma gêmula em uma
freqüentemente na face sul (Fig. 2). planta deve depender das condições específicas do local e
do número de esponjas já estabelecidas. A abundância de
esponjas no local é relativamente alta e, além disso, há uma
concentração da distribuição destas a uma altura de 2,5 a
3,5 metros (Camargo et al., 2002). Assim, a competição
por espaço (substrato para fixação) pode ser um fator
limitante ao desenvolvimento das esponjas. Sendo assim, a
segregação dos tamanhos dos agregados de esponjas nas
diferentes faces das árvores indica que as esponjas têm um
êxito maior na face oeste, apresentando, por isto, esponjas
maiores que as demais faces. Confirmando esta idéia,
observamos que a face sul apresentou uma maior quantidade
de agregados pequenos. Isto mostra que, aparentemente, na
falta de espaço na face oeste, estas esponjas se fixam nas
Figura 1. Freqüência de ocorrência de esponjas nos demais faces, talvez menos propícias ao seu
quatro sentidos cardeais, em mata de várzea na Ilha da desenvolvimento. Assim, é razoável supor que a maior
Marchantaria.
60 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002
concentração de esponjas pequenas na face sul seja uma with special reference to Amazonian floodplains.
resposta à competição ou uma estratégia para aproveitar o pages 3-20. in Junk, W.J. (Ed.) The Central Amazon
espaço restante disponível, já que a face oeste já está ocupada Floodplain – Ecology of a Pulsing Systems. Ecological
por indivíduos maiores. Studies, vol. 126. Springer-Verlag.
Zar, J. H. 1984. Biostatistical Analysis. 2o Edição. Ed.
Referências Bibliográficas Prentice Hall, New Jersey.
Barnes, R. D. 1984. Zoologia dos Invertebrados. 4o
Edição. Ed. Roca. São Paulo, S.P. Agradecimentos
Camargo, J., D. C. Resende, A. M. Benavides, & S. M. Agradecemos às várias sugestões do professor Jorge
Mendel. 2002. Distribuição vertical de Spongilla sp. Nessimian e ao querido Marcelo ‘Pinguela’, que esteve
(Spongillidae, Porifera) em uma área de várzea na ilha sempre pronto a nos ajudar. Ao Juruna, pelo bom humor e
da Marchantaria, Amazônia Central. Curso de Campo pela água gelada, naqueles momentos mais certos.
da Floresta Amazônica.
Junk, W. J. 1997. General aspects of floodplain ecology Projeto livre 2

Efeito de borda sobre a composição e abundância de


galhas em Symmeria paniculata (Polygonaceae) na
margem do lago do Prato, arquipélago de Anavilhanas,
Amazônia Central
Sylvia Miscow Mendel, Daniela Chaves Resende, Ana Maria Benavides, George Camargo

Introdução desenvolvimento dos insetos associados à vegetação de


Galhas são tumores vegetais causados por diversos borda (Cappuccino & Martin, 1997).
organismos como fungos, nematódeos, bactérias, vírus e Symmeria paniculata é uma espécie arbustiva que ocorre
insetos. Dentre eles, os insetos são os mais abundantes (G. principalmente em habitats de borda da vegetação de ilhas
Wilson, com. pess.). Os principais fatores que influenciam e margens do rio Negro, na zona de contato entre os sistemas
a diversidade e distribuição de insetos galhadores são: terrestre e aquático. Observações casuais indicam que, além
inimigos naturais (parasitos, patógenos, predadores), da reprodução sexual há também grande investimento na
diversidade de plantas hospedeiras, resistência de plantas, propagação clonal. Na época de cheia da Amazônia suas
características físicas e climáticas do habitat e distúrbios folhas podem ficar submersas a cerca de 5 m de
antrópicos (Fernandes, 1987; Fernandes & Price, 1988). profundidade, e mesmo assim, estão prontas para fazer a
Muitos estudos têm tentado estabelecer padrões fotossíntese assim que emergem (Oliveira & Daly, 2001).
relacionados à diversidade e à ocorrência de insetos Symmeria paniculata ocorre em abundância ao longo da
galhadores a vários fatores físicos, climáticos e biológicos. margem do lago do Prato, arquipélago de Anavilhanas,
Um fator de grande importância para esta interação inseto- Amazônia Central. A abundância dos indivíduos desta
planta, principalmente em manchas naturais de vegetação, espécie é fortemente influenciada pela disponibilidade de
é o efeito de borda (Chen et al., 1992). Todavia, apenas um luz, havendo um decréscimo nas situações de sombreamento.
estudo foi realizado com este intuito, utilizando como Observamos que cinco tipos distintos de galhas de insetos
modelo insetos galhadores (Julião, 1999), apesar da alta ocorrem em S. paniculata no lago do Prato. Desta forma,
diversidade de insetos galhadores (e.g. Fernandes & Price, este sistema oferece uma excelente oportunidade para testar
1988) o efeito de borda, utilizando-se de insetos galhadores como
O habitat de borda de fragmentos florestais geralmente é modelo de estudo.
caracterizado por uma maior luminosidade, alta mortalidade Os objetivos deste estudo foram testar a hipótese do efeito
de árvores, aumento da queda de folhas e de rebrotamento de borda sobre a composição e abundância de galhas em
(Lovejoy et al., 1986) e melhor qualidade nutricional das Symmeria paniculata e verificar se a riqueza e a abundância
plantas para os herbívoros (Hart & Horwitz, 1991). A ação de galhas está relacionada à abundância da planta.
destes efeitos favorece um aumento nas taxas de

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 61


Métodos 1400

Desenvolvemos este trabalho em uma mata da margem 1200

do Lago do Prato, arquipélago de Anavilhanas, rio Negro,


1000
Amazônia Central, Brasil.
Para avaliar o efeito de borda sobre a abundância e 800

riqueza de insetos galhadores em Symmeria paniculata, 600


fizemos 7 transectos de 14 m, perpendiculares ao lago,
400
equidistantes 20 m. A cada 2 m do transecto estabelecemos
parcelas de 2 x 2 m, perfazendo um total de 7 parcelas por 200

transecto. Em cada parcela, estimamos a abundância de 0


Symmeria paniculata, considerando cada ramete como um 0 1 2 3 4 5 6 7

indivíduo. Amostramos aleatoriamente cinco ramos dentro Distância do lago (m)

de cada parcela para posterior contagem e identificação das Figura 1. Relação entre a abundância da galha de
galhas. Parcelas nas quais não havia nenhum indivíduo da morfotipo IV e a distância do lago do prato, arquipélago
planta hospedeira foram desconsideradas nas análises. de Anavilhanas.
Os ramos coletados foram etiquetados, armazenados em
sacos plásticos e levados para o laboratório onde, de cada Tabela I. Análises de regressão múltipla entre a distância
saco, selecionamos ao acaso 20 folhas, para as quais do lago do Prato e a abundância de S. paniculata com a
determinamos a riqueza e abundância de galhas. As galhas abundância dos morfotipos de galha (N=43).
foram divididas em cinco morfotipos distintos, baseado na Morfotipo de Relação R2 B t P
forma e cor (Fernandes & Price, 1988). galha
A relação entre a abundância de Symmeria paniculata, I Distância do lago 0,06 5,86 1,04 0,30
distância do lago e abundância e riqueza de galhas foi Abundância de planta 0,06 8,73 1,69 0.10
verificada com uso de regressão múltipla (Zar, 1984). hospedeira
II Distância do lago 0,07 -1,07 0,35 0,72
Abundância de planta 0,07 5,54 1,23 0,23
Resultados hospedeira
Do total das 56 parcelas delineadas, 13 delas localizadas III Distância do lago 0,00 4,42 0,22 0,82
a mais de 10 metros da borda da mata, não continham Abundância de planta 0,00 6,58 0,16 0,87
espécimes da planta hospedeira. Quantificamos um total de hospedeira
9934 galhas, sendo 2580 do morfotipo I, 1492 do morfotipo IV Distância do lago 0,17 -57,3 2,53 0,01
II, 667 do morfotipo III, 4835 do IV e 360 do V. Todas Abundância de planta 0,17 -3,46 0,10 0,91

galhas são induzidas por espécies ainda não descritas de hospedeira

Cecidomyiidae (Diptera). Das 820 folhas analisadas, 404 V Distância do lago 0,06 2,00 1,49 0,14
Abundância de planta 0,06 2,99 1,30 0,19
(49,30 %) apresentaram algum tipo de galha associada.
hospedeira
Considerando apenas as folhas coletadas na parcela mais
próxima ao lago, obtivemos um total de 160 folhas, das quais
118 (83,75 %) apresentaram galhas. Na parcela mais interna Discussão
à mata, localizada a 14m da margem do lago, 51,77% de Não detectamos a ocorrência do efeito de borda sobre a
um total de 60 folhas coletadas, mostraram-se infectadas composição e abundância de galhas em Symmeria
por galhas. paniculata no lago do Prato. Esta ausência de relação pode
Não houve relação da abundância (gl.=40; t=1,29; ser devida ao fato de que para as galhas o que realmente
R2=0,08; P=0,20) e da riqueza total (g.l.=40; t=1,95; importa sejam as diferenças entre os indivíduos da população
R2=0,13; P=0,058) de galhas com a distância da margem da planta hospedeira e não sua posição em relação à borda.
do lago. A abundância (g.l.=40; t=0,27; R2=0,13; P=0,78) Entretanto, não podemos excluir a hipótese de que o
e a riqueza de galhas (g.l.=40; t=0,17; R2=0,13; P=0,51) tamanho da mancha de vegetação na ilha seja muito
também não foram influenciadas pela abundância de plantas reduzido, resultando em uma diluição dos efeitos
hospedeiras. característicos de uma borda. Ou seja, mesmo com o
O morfotipo IV de galha apresentou um decréscimo da decréscimo da abundância da planta hospedeira da borda
abundância com a distância do lago (Fig. 1). Todavia, a para o interior, é possível que para os insetos galhadores
variação na abundância desta galha não foi influenciada pela não haja um gradiente efetivo de luminosidade, umidade
abundância da planta hospedeira (Tab. I). Nos demais ou temperatura em direção ao interior da mata.
morfotipos de galhas não houve relação da abundância com Em relação ao decréscimo da abundância do morfotipo
a distância do lago ou mesmo com a abundância da planta de galha IV para o interior da mata, acreditamos que possa
hospedeira (Tab. I). estar havendo algum processo de mortalidade diferencial.

62 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


É possível que este galhador possa ser competitivamente tests. In: Habitat structure: the physical arrangement of
inferior aos demais ou apresente uma baixa tolerância à objects in space. Ed. Bell, S. S., McCoy, E. D.,
sombra, não sendo capaz de sobreviver e se estabelecer na Mushinsky, H. R. Chapman and Hall. London. Pp. 47-
planta hospedeira quando esta se encontra no interior da 65.
mata. Julião, G. R. 1999. Comunidade de insetos galhadores em
ambiente florestal naturalmente fragmentado, no
Referências Bibliográficas Pantanal Sul-Mato-Grossense. Dissertação de
Cappuccino, N. & M. A. Martin. 1997. The birch tube- Mestrado, Programa de Pós-graduação em Ecologia e
marker Acrobasis betulella in a fragmented habitat: the Conservação. Universidade Federal de Mato Grosso
importance of patch isolation and edges. Oecologia do Sul. Campo Grande, MS.
110: 69-76. Lovejoy, T. E., R. O. Bierregaard Jr., A. B. Rylands, J. R.
Chen, J., J. F. Franklin & T. A. Spies. 1992. Vegetation Malcom, C. E. Quintela, L. H. Harper, K. S. Brown Jr.,
responses to edge environments in old-growth douglas- A. H. Powell, G. V. N. Powell, H. O. R. Schubart & M.
fir forests. Ecological Applications 2: 387-396.
B. Hays. 1986. Edge and other effects of isolation on
Fernandes, G. W. 1987. Gall forming insects: their
Amazon forest fragments. Pages 257-285 in Soulé, M.
economic importance and control. Revista Brasileira
E. editor. Conservation biology: the science of scarcity
de Entomologia 31: 379-398.
Fernandes, G. W. & P. W. Price. 1988. Biogeographical and diversity. Sunderland, Massachussetts.
gradients in galling species richness: tests of hypoth- Zar, J. H. 1984. Biostatistical Analysis. Second Edition.
eses. Oecologia 76: 161-167. Prentice Hall, New Jersey.
Hart, D. D. & R. J. Horwitz. 1991. Habitat diversity and
the species-area relationship: alternative models and Grupo 5 - Projeto Orientado 5

Territorialidad e interacciones entre hembra-macho en


Diastatops cf. emilia (Odonata, Libellulidae)
Patricia Garcia Tello, Luiz Henrique Claro Jr., Eduardo Vasconcelos, Genimar Rebouças Julião, Vanina Zini Antunes

Introducción son, en general, empoleiradores, pero no todos son


Varias espécies de animales, tanto vertebrados como territorialistas.
invertebrados, defienden su território para monopolizar Observaciones preliminares realizadas en el archipielago
recursos, tales como alimento o sítios de reproducción de Anavilhanas (Amazonia Central) sugieren que Diastatops
(Krebs & Davies, 1978). Algunas otras especies defenden cf. emilia (Libellulidae) pueden ser territorialistas. Una
territórios unicamente para utilizarlo como sitios de caracteristica de los machos de esta especie es que tienen
exposición ya que no compiten por los recursos (Pinheiro, pigmentaciones rojas en las alas y son comunmente
1990). El comportamiento territorial se caracteriza cuando encontrados sobre poleiros naturales próximos a aguas. El
un macho es encontrado regularmente en un área restringida objetivo de este trabajo fue investigar si los machos de
y esta área es patrullada y defendida contra otros indivíduos. Diastatops cf. emilia son territorialistas y si el tamaño de
Cuando los territórios son utilizados unicamente para território así como la proximidade del lago interfieren en la
exibición los ataques son direcionados preferencialmente a atractividad del macho hacia la hembra.
machos co-específicos (Krebs & Davies, 1978).
Los Odonata son insetos cuyas ninfas se desenvolven en Métodos
medio acuatico, si embargo los adultos utilizán habitats El área de estudio fue la margen del lago del Prato, que
próximos al agua (Borror & De Long, 1988). Las libelulas se encuentra en el Arquipélago de Anavilhanas, Amazonia
pueden ser divididos en dos grupos: voladores (que son los Central. Nuestro estudio fue realizado en el período de secas
que pasan la mayor parte del tiempo volando) y (noviembre del 2002) entre las 8:00 y 11:00 h. Las muestras
empoleiradores (que son los que pasan la mayor parte del comportamentales fueron del tipo “animal focal” y cada
tiempo perchando dentro de su territorio) (Cobert, 1962). macho de Diastatops cf. emilia fue observado por un periodo
Hay que señalar que los indivíduos de la família Libellulidae de 10 min. Durante el periodo de muestreo fueron registrados

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 63


el número de combates (inter e intra-especificos) entre ma- El tamaño del territorio parece tener influencia con el
chos, el número de visitas de hembras al territorio y número número de hembras que visitan el territorio de los machos.
de cópulas. Esto puede ser explicado por la preferencia de las hembras
El tamaño del territorio fue medido multiplicando el área hacia machos mas vigorosos y con capacidad de defender
cuadrada que estaba siendo utilizada por los machos. La un territorio grande. La oportunidad del macho defensor
determinación del perimetro fue obtenida por un para copular aumentaria con el número de hembras que
mapeamiento de los poleiros de cada macho. Por último se visitan el territorio. Todavia no encontramos una relación
midio tambien la distancia del territorio al margen del lago. significativa entre el tamaño de territorio y número de copu-
El número de interacciones entre machos, número de visitas las. Como los machos emplean mucho tiempo el la defensa
de hembras y el número de copulas fueron correlacionados de sus territorios, el número de interacciones probablemente
con el area del territorio y la distancia de este hacia el lago es reduzido.
a traves de pruebas de correlación de Spearman. Se esperaria que los machos defendieran su territorio
con un recurso atractivo para las hembras, como sitios de
Resultados oviposición. Sin embargo esto no sucede con los machos de
Diastatops cf. emilia que unicamente defienden su territorio
Observamos en el margen del lago del Prato trece
para hacieren exposiciones. atraer a la hembra.
individuos, dentro de estos el 92,3% fueron encontrados
Probablemente no vale la pena defender un recurso como
en un área restringida de 9,8 ± 8,0 m2. Fueron observadas
el agua del lago que es altamente disponible en su habitat.
oito disputas entre machos, el 87,5% fueron intra-
específicas. Las hembras fueron observadas 11 veces
visitando el territorio de los machos y en cinco casos
Agradecimientos
Agradecemos a Glauco por las sugerencias y orientación
copulando.
brindada, las cuales nos ayudaron a realizar este trabajo.
El número de visitas de hembras fue positivamente
correlacionado con el área del territorio (rs=0,579; p<0,05).
El número de copulas (rs=0,512) y el número de peleas in-
Referencias Bibliográficas
Barror, D.J. & D.M. Delong, 1988. Introdução ao Estudo
tra-especificas (rs=0,035) no fueron correlacionadas con el
dos insectos, Ed. Edgard Blücher LTDA, 68 pp.
área del território (p>0,05 para ambos). Ninguno de los
Cobert, P. S. 1962. Biology of Dragonflies. Witherby,
parametros de comportamiento tubieron correlación con la
London.
distancia del territorio hacia el agua.
Krebs, J. R. & Davies, N. B. 1978. Behavioral Ecology:
an Evolutionary Approach. Blackwell, Oxford.
Discución Pinheiro, C. E. G. 1991. Territorial hilltopping behavior
Los resultados encontrados sugieren que los machos de of three swallowtail
Diastatops cf. emilia presentan comportamiento territorial. butterflies (Lepidoptera, Papilionidae) in western Brazil.
Aparentemente los territórios defendidos son utilizados Journal of Research on the Lepidoptera, 29:134-
como arena de exibición para las hembras, ya que todos los 142.
combates observados fueron entre machos de la misma
espécie. Grupo 6 – Projeto Orientado 5

Distribuição de Spongilla sp. (Spongillidae, Porifera)


em gradiente de inundação em uma mata de Igapó,
Arquipélago de Anavilhanas, Amazonas
Josué Ribeiro da Silva Nunes, Yumi Oki, Carina Lima da Silveira, André Faria Mendonça e Paula Machado Pedrosa

Introdução O pulso de inundação exerce papel fundamental na


Os igapós são caracterizados por sofrerem alagações biologia dos organismos que habitam ambientes
periódicas por rios de água preta e clara e estão localizados sazonalmente alagáveis, tais como várzea e igapó. A
em solos argilosos e arenosos. Na vazante é comum concentração de nutrientes nesses ambientes está relacionada
encontrar praias de areia com árvores, as quais na enchente à geologia dos terrenos e as modificações antrópicas ao
são inundadas (Pires & Prance 1985). longo do curso dos rios (Junk et al. 1989).
64 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002
As esponjas das áreas inundáveis da Amazônia estão Resultados
distribuídas verticalmente no tronco de árvores que sofrem Encontramos um total de 473 indivíduos de esponjas
inundações periódicas com as cheias dos rios. Na época de distribuídos nas 24 plantas observadas nos quatro transectos.
seca é possível observar o padrão de distribuição destas Verificamos que a maior concentração de esponjas ocorreu
esponjas e tentar relacioná-lo com fatores abióticos. Esses nas classes mais baixas (entre 0-0,5; 0,5-1m) das árvores
animais sesséis apresentam uma fisiologia dependente de medidas. As árvores que se encontravam em cotas mais
correntes de água, pois esta fornece oxigênio, alimentos, baixas, apresentaram uma distribuição de esponjas mais
remove os detritos e propicia a reprodução (Barnes, 1984). homogênea ao longo do tronco, enquanto que em cotas mais
A maioria das esponjas são marinhas e apenas 150 altas estas localizavam-se predominantemente na base do
espécies são de água doce. Embora não existam muitas tronco (Figura 2).
espécies de água doce, ainda são poucos os estudos a respeito
da biologia e distribuição desses organismos, principalmente
em ambiente de igapó. O nosso objetivo foi avaliar o efeito
15
da inundação na distribuição de Spongilla sp. (cauxi) em 10
diferentes cotas altitudinais no Igapó.

Métodos
Realizamos este estudo no igapó do Lago Prato, situado 10 5
na Estação Ecológica de Anavilhanas (02º47’S, 60º 48’W)
localizada no Rio Negro, Amazonas, Brasil. Nesta
localidade, o nível d’água apresenta uma oscilação média
de 8 m entre os períodos de cheia e vazante (Walker 1995).
Realizamos quatro transectos de 100m cada, partindo da 5
margem do lago do Prato (Arquipélago de Anavilhanas) em
direção ao interior da mata, com um espaçamento de 50m.
A cada 20m marcamos um ponto (uma árvore) onde
avaliamos com o auxílio de uma estaca graduada de 0,5 em
0,5 m, (total de 3m), o número de esponjas em cada classe
0
0 1 2 3 4 5 6
de altura (0 a 0,5m; 0,5 a 1m; 1 a 1,5m; 1,5 a 2m; 2 a 2,5m
e 2,5 a 3m).
Para avaliarmos a altura máxima do nível da água em Figura 2. Distribuição de esponjas sobre o tronco de
cada cota de relevo, medimos a altura da última inundação árvores de igapó, segundo as cotas de inundação e a
nas árvores da floresta (3m). Do barco, estendemos uma altura de fixação nas árvores.
régua, que foi visualizada por um observador no alto do
barranco, resultando assim na altura do barranco (9,7m),
este valor foi somado à marca da água nas árvores, resultando Discussão
na altura máxima do nível da água para a área no período A permanência das esponjas em classes mais baixas
de inundação (12,7m). A extensão média da ilha foi de 125m provavelmente garante maior sobrevivência em ambientes
(transversalmente). Usando estes valores, calculamos a que apresentem diferentes níveis de inundação, pois estas
altura do nível da água para cada cota, usando o teorema de poderão ficar maior tempo submersas. Isto deve ser
Pitágoras (Figura 1). especialmente vantajoso em ambientes de água preta, que
são pobres em nutrientes, permitindo que esses animais
filtradores tenham maior tempo para alimentar-se, crescer
Nível máximo da água e reproduzir.
Comparando com os resultados obtidos na várzea
(Camargo et al., neste volume) observamos uma zonação
B 125 diferencial desses animais. No experimento da várzea, a
m
12,7m

a
maioria das esponjas estavam dispostas na zona
r
intermediária das árvores (2,5-3,5m), enquanto nossos
9,7m

r
a 20m resultados mostram que as esponjas concentram-se na zona
n
basal (0 -1m). Estas diferenças podem estar relacionadas
c
o com as mudanças nas características fisicas e químicas da
água, como sedimentação, oxigênio dissolvido, nutrientes,
Nível da água do lago na estiagem
turbidez e condutividade, entre os dois ambientes.
Figura 1. Desenho esquemático usado para calcular o Segundo Nessimian (com. pess. 2002), a espécie
nível da água em todas as cotas estudadas. encontrada no ambiente de várzea por Camargo et al. (neste

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 65


volume) parece ser a mesma encontrada no igapó. Se Mendel. 2002. Distribuição vertical de Spongilla sp.
confirmada essa informação, após análises taxonômicas, (Spongillidae, Porifera) em área de várzea na Ilha da
poderemos afirmar que o tipo de água tem influência no Marchantaria, Amazônia Central.
padrão de distribuição desses organismos. Assim, este Junk, W. J., P. B. Bayley & R. E. Sparks. 1989. The flood
trabalho fornece subsídios para que mais estudos sejam pulse concept in river-floodplain system, p. 110-127.
realizados a respeito dos efeitos dos pulsos de inundação In D.P. Dodge (editor). Proceedings of the Interna-
com diferentes organismos, como as esponjas, nas áreas de tional Large River Symposium. Can. Spec. Publ. Fish.
várzea e igapó. Aquat. Sci. 106.
Pires, J. M. & G. T. Prance. 1985. Key environment s
Agradecimentos Amazônia. J. e. Treherne Ed. 136-127p.
Agradecemos ao Jorge Nessimian pela orientação e pelo Walker, I. 1995. Amazonian Stream and small rivers. Pp
belíssimo projeto de estudo. Ao Dadão, ao Jansen e ao 167-193. In Tundisi, J. G., C. E. M. Bicudo & T.
Pinguela pelas valiosas sugestões e assessoria. Matsumura Tundisi (eds.) Limnology in Brazil.
Brazilian Academy of Science – Brazilian Limnologi-
cal Society, Brazil.
Referências bibliográficas
Barnes, R. D. 1994. Zoologia dos invertebrados, 4a ed, ed.
Projeto orientado 5 – Grupo 7
Roca, pp. 1179.
Orientador: Jorge Nessimian
Camargo, G, D. C., A. M. Resende, S. M. Benavides.

Riqueza e abundância da comunidade de plantas em


três ambientes de igapó, no arquipélago de
Anavilhanas, AM
Ana Paula Carmignotto, Flaviana Maluf de Souza, Carolina Laura Morales, Eduardo Cardoso Teixeira, Flávio José Soares Jr.

Introdução como a luminosidade, também atuam em áreas de igapó.


Em ambientes inundáveis, como as florestas de igapó da Em áreas abertas e de clareiras no interior da floresta, por
Amazônia Central, os pulsos de inundação desempenham exemplo, espécies heliófitas podem ser favorecidas,
papel fundamental na estruturação das comunidades consequentemente modificando a estrutura da comunidade
vegetais. Para enfrentar os longos períodos de inundação, local (Sanford et al. 1986). Com o intuito de verificar
as espécies habitantes deste ecossistema desenvolveram uma mudanças na estrutura da vegetação, este estudo teve como
série de adaptações. As espécies de vegetação lenhosa, por objetivo avaliar a influência das variáveis tempo de
exemplo, apresentam dormência cambial e queda de folhas inundação e luminosidade na composição e abundância de
durante a fase aquática como estratégias para tolerar a plantas em uma área de floresta de igapó.
inundação (Junk & Piedade 1997).
A distribuição das espécies vegetais nesses ambientes Métodos
pode ser influenciada por diversos fatores, dentre eles, um
O presente estudo foi realizado em uma área de floresta
dos mais importantes é a duração da fase aquática. Locais
de igapó nas margens do Lago do Prato, no arquipélago de
mais baixos e sujeitos a longos períodos de inundação (até
Anavilhanas, AM. A fisionomia predominante na área
9 meses) apresentam uma composição florística típica,
estudada é o “paliteiro”, e caracteriza-se por apresentar uma
dominada por poucas espécies altamente adaptadas a essa
extensa área coberta por arroz selvagem (Oriza perenis),
condição. Por outro lado, cheias excepcionalmente
sujeita anualmente à inundação. Há ainda alguns arbustos e
pronunciadas e duradouras podem levar à morte muitas
poucos indivíduos arbóreos isolados, além de alguns troncos
árvores, produzindo paisagens dominadas por troncos
de árvores mortas ainda em pé, decorrentes de uma grande
mortos conhecidas como “paliteiros”.
enchente ocorrida em 1953. Avançando no sentido lago-
Segundo Junk & Piedade (1997), a composição específica
interior, há uma área de mata onde predominam espécies
varia de acordo com o regime de inundação.
arbóreas e em seu interior, algumas clareiras.
Adicionalmente, outras variáveis que também regulam a
Com o intuito de avaliar o efeito do tempo de inundação
estrutura da comunidade de plantas em áreas de terra firme,
66 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002
e da luminosidade sobre a composição da vegetação, três A análise de variância revelou diferenças significativas
ambientes foram escolhidos: 1- área aberta de paliteiro na riqueza entre os três ambientes estudados (g.l.=2; F=19,5;
próxima ao lago (A), sujeita a maior intensidade de luz e p=0,001) (Fig. 2). A riqueza de espécies da área aberta foi
tempo de inundação; 2- área de mata (M), onde a incidência maior do que a da mata (Tukey, p=0,009) e da clareira
de luz no sub-bosque é menor, assim como o tempo de (Tukey, p=0,001). Porém, entre a mata e a clareira, a riqueza
inundação; e 3- área de clareira no interior da mata (C), não diferiu (p=0,121). Apenas três espécies foram comuns
onde o tempo de inundação assemelha-se ao da mata, e a aos três ambientes (Figura 3).
luminosidade à área aberta. A amostragem foi feita em
quatro parcelas de 5 x 5 m (25 m2) em cada ambiente, onde
contamos e identificamos todos os indivíduos arbustivos e 15
arbóreos com altura igual ou inferior a 2 m.
Usamos o índice de Jaccard (ISj) para avaliar a
similaridade da composição florística entre os ambientes 10

Riqueza
estudados. Diferenças na riqueza e abundância entre os
ambientes foram avaliadas por meio de análise de variância
(ANOVA) e comparação múltipla de Tukey.
5

Resultados
Foram amostrados 430 indivíduos pertencentes a 15 0
famílias, 25 gêneros e 25 espécies. Na área aberta A C M
encontramos nove espécies (99 indivíduos), enquanto que Ambiente
na mata e na clareira encontramos 17 espécies (125 e 206
indivíduos, respectivamente); (Figura 1). A similaridade
Figura 2. Número de espécies registradas em cada um
foi de 0,54 entre a mata e a clareira, e de 0,30 entre a área
dos ambientes estudados: (A) Área aberta, (C) Clareira e
aberta e a clareira. A área aberta e a mata foram as áreas
(M) Mata.
menos similares entre si (ISJ = 0,13).

70
60
50 Mata Área
40
N
30
aberta
20 3
10 5 0
0
3
m
a

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20
10
0 2
Myrciaria dubia

Alchornea

Buchenavia

Hevea spruceana

Allamanda

Tabernaemontana

Swartzia sericea

Terminalia

Rubiaceae 2

Rubiaceae
Alibertia edulis

Machaerium
Ilex inundata

70 Clareira
60
50
N 40
30
20 Figura 3. Número de espécies exclusivas e comuns aos
10 ambientes estudados.
0
m
a

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A

As abundâncias de plantas também foram diferentes en-


M

mo

Sw

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He

lla

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ac
Bu

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n

M
or

tre os ambientes estudados (F=4,858; g.l=2; p=0,037) (Fig.


be
ch

Ta
Al

4). Porém, a diferença somente foi significativa entre a área


Figura 1. Distribuição de abundância para cada espécie aberta e a clareira (Tukey, p=0,037), não havendo diferença
amostrada em três ambientes de uma ilha do Arquipélago entre a abundância para os demais (Tukey, p=0,755 entre a
de Anavilhanas, AM. N= número de indivíduos por área aberta e a mata; Tukey, p=0,113 entre a clareira e a
espécie. mata).

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 67


70 face com o lago, e a clareira a área mais distante. A
inundação pode exercer uma influência na sobrevivência
60
das plantas, na medida em que um menor número de
50
Abundância

indivíduos consegue se estabelecer e colonizar a área mais


40 próxima ao lago.
A similaridade, tanto na riqueza quanto na abundância
30 de indivíduos de até 2 m de altura entre a área de mata e a
20 clareira pode ser explicada pelo fato de que estas áreas
encontram-se apenas em estágios de desenvolvimento
10
diferentes, sendo a mata um mosaico de clareiras em
0 diferentes estágios de sucessão (Withmore 1978).
A C M
Ambiente A composição florística constitui uma importante fonte
de informações sobre a composição futura da comunidade
Figura 4. Número de indivíduos registrados em cada um
vegetal, e aliada a variáveis estruturais e a estudos de
dos ambientes estudados.
dinâmica, podem fornecer informações valiosas sobre o
estado de equilíbrio dessas comunidades (Debski et al.
Discussão
2000). A investigação dos fatores que determinam as
As diferenças encontradas na riqueza e abundância de
diferenças na estrutura e composição de comunidades tão
plantas arbóreas e arbustivas refletem a heterogeneidade
próximas espacialmente, porém distintas floristicamente,
fisionômica da área de estudo. Este fato vem reforçar uma
deve ser investigada para possibilitar uma melhor
das hipóteses que explica a alta riqueza de espécies
compreensão do funcionamento e da dinâmica de
encontrada nas florestas tropicais, que seria determinada,
comunidades.
em parte, por uma alta diversidade de fatores presentes em
uma pequena escala, compondo uma estrutura de mosaicos
ambientais (Ricklefs 1977; Sanford Jr. et al. 1986; Molofsky Agradecimentos
& Augspurger 1992). Agradecemos ao INPA e Smithsonian Institution pela
A menor similaridade na composição florística entre a oportunidade de participar deste curso e aos organizadores
área aberta e a mata, assim como o menor número de pela iniciativa, infra-estrutura e apoio durante todo o curso.
espécies registrado na área aberta pode ser decorrente das Agrademos também ao Mike, que pilotou o barco durante
condições ambientais extremas daquele ambiente. A área nossa ida ao campo, ao Marcelo “Pinguela” que nos ajudou
aberta, cuja cobertura predominante é o arroz selvagem na coleta de dados e identificação do material coletado,
Oriza perenis, parece ser influenciada pelo maior tempo de juntamente com o Leandro que além disso nos orientou
inundação, por ser uma área mais baixa. Além disso, as durante este projeto.
plantas ficam expostas a altos níveis de luminosidade, o
que levaria a uma alta seletividade e a um reduzido número Referências Bibliográficas
de espécies que estariam adaptadas a essas condições. Debski, I. D., F. R. P. Burslem & D. Lamb 2000. Eco-
O baixo número de espécies comuns aos três ambientes logical processes maintaining differential tree species
reflete as particularidades de cada habitat. Além do tempo distributions in an Australian subtropical rain forest:
de inundação, o solo e a pobreza de nutrientes na área mais implications for models of species coexistence.
próxima à água devem ser fatores limitantes ao Journal of Tropical Ecology, 16:387-415.
desenvolvimento das plantas (J. Zuanon, com. pess.). Uma Molofsky, J. & C. K. Augspurger 1992. The effect of leaf
das explicações para as diferenças observadas entre a mata litter on early seedling establishment in a tropical
e a área aberta, pode ser a dificuldade de recolonização da forest. Ecology, 73(1):68-77.
área do paliteiro pela vegetação adjacente. A mortalidade Ricklefs, R. E. 1977. Environmental heterogeneity and
generalizada das árvores naquele local deve ter resultado plant species diversity: a hypothesis. American
na intemperização e perda de parte do solo e da camada de Naturalist, 111:376-381.
matéria orgânica associada, restando apenas um solo Sanford Jr, R. L., H. E. Braker, & G. S. Hartshorn 1986.
extremamente pobre e encharcado. Isso revela a fragilidade Canopy openings in a primary neotropical lowland
da floresta de igapó em relação aos impactos ambientais forest. Journal of Tropical Ecology, 2:277-282.
produzidos pelo desmatamento, sejam de origem antrópica Whitmore, T. C. 1978. Gaps in the forest canopy. In Pp
ou não. 639-655, P. B. Tomlinson & M. H. Zimmerman
Analogamente, podemos inferir que as diferenças na (Editores). Tropical trees as living systems. London:
abundância entre a área aberta e a clareira também são Cambridge University Press.
decorrentes, ao menos em parte, da influência da água.
Espacialmente, essas áreas localizam-se em pontos extremos Grupo 08 Projeto Orientado 05
em relação à distância do lago, sendo a área aberta a inter- Orientador: Leandro

68 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Efeito dos pulsos de inundação na mortalidade de
árvores em um igapó no Arquipélago de
Anavilhanas, AM
Carina Lima da Silveira, Flávio José Soares Jr., André Faria Mendonça, Vanina Zini Antunes e Paula Machado Pedrosa

Introdução justificar a dinâmica vegetacional dos igapós.


Florestas de igapó possuem maior diversidade de espécies Com base nestas informações, procuramos testar a
vegetais que as florestas de várzea (Junk, 1997), mesmo influência das diferentes cotas de inundação, caracterizadas
estando ambos os ambientes sob similar pressão de por tempos e intensidades diferentes de submersão, na
inundação. Os limites de uma comunidade de plantas no mortalidade das árvores em três área de igapó.
igapó podem estar associados com os tipos de solo
predominantes no ambiente, a exemplo da composição Métodos
florística, distintamente estabelecidas sobre solos arenosos Realizamos o estudo em três ilhas nas imediações do Lago
e ou argilosos. Essa diferenciação pode ser observada entre do Prato, na Estação Ecológica do Arquipélago de
o leito do rio, onde o solo é arenoso e pobre em nutrientes, Anavilhanas, no Rio Negro (03º05’S; 59º59W), situado a
e o platô, que a uma certa distância da margem, apresenta aproximadamente 90 km a noroeste de Manaus, Amazonas.
um teor de argila de até 50% (Worbes, 1986 in Junk, 1997). O gradiente promovido pelo pulso de inundação pode
Em solos arenosos e argilosos ocorre uma outra ser distinguido principalmente por carcterísticas floristicas
diferenciação na comunidade vegetal de acordo com o tempo e estruturais. A primeira cota era marcada pela mono
de inundação: cota baixa, com uma inundação com mais de dominância de uma espécie do gênero Simeria
150 dias; cota média, com pulso de inundação entre 75 e (Polygonaceae) com arquitetura relativamente homogênea
150 dias; e cota alta, com um período de inundação menor entre si. A segunda e terceira cota não evidenciavam
que três meses (Junk, 1997). diferenças representativas na estrutura, entretanto foi,
O padrão de distribuição das espécies nos igapós pode também, utilizado de relevo (platô e declive) para diferencia-
ser parcialmente explicado por meio da biologia reprodutiva las. No geral, a formação vegetal estabelecida na segunda e
e da tolerância das plantas à inundação (Junk, 1997). terceira cota pode ser caracterizada como uma formação
Entretanto, exceto por algumas espécies de ocorrências mais florestal.
amplas, os processos de substituição de táxons (sucessão) e Para cada um das três ilhas fizemos três parcelas de 10 x
de modificação estrutural e fisionômica da cobertura veg- 20 metros em diferentes cotas de inundação, objetivando
etal demonstram serem específicos para cada cota do atingir a unidade estrutural mínima da comunidade que
gradiente de inundação. Gradiente este, que se apresenta caracteriza estes ambientes. Em cada uma das parcelas foi
com transições marcadas e graduais (Junk, 1997). contado o número de indivíduos arbóreos e arbustivos vi-
Pelo fato da luminosidade encontrar menor resistência vos e mortos, sem a identificação das espécies, com altura
à penetração na água negra que na água branca, as folhas de igual ou superior a 1,30 metros.
algumas espécies de igapó continuam a fotossintetizar com Analisamos o número de indivíduos mortos em relação
o mínimo de luz disponível. Este fato, associado com a maior aos diferentes ambientes (cota baixa, média e alta) com uma
oxigenação que ocorre nestes sítios, permite que algumas análise de variância (ANOVA).
espécies tolerem com mais eficiência a inundação,
propiciando o estabelecimento de árvores nas cotas mais Resultados
baixas. Contamos 831 indivíduos, sendo que 166 deles
Mesmo sendo estrategicamente adaptadas as condições apresentavam-se mortos e em pé. A relação de indivíduos
extremas de estresse hídrico, qualquer variação no tempo, vivos e mortos entre amostragens e, dentro de cada
período ou intensidade dos pulsos de inundação, poderia amostragem, por unidade amostral exibe pequenas
resultar em respostas sucessionais da vegetação a curto e diferenças que variam entre 24% de mortas para a cota
médio prazo. Assim, o aumento na proporção de indivíduos média, 20% para a cota baixa e 16% para a cota alta (Tabela
mortos com conseqüente seleção adaptativa para os grupos 1). Os resultados não evidenciam diferenças representativas
vegetais, propensos a iniciar a recolonização, podem explicar na densidade de indivíduos mortos e vivos entre as cotas de
a presença de maiores níveis de mortalidade e também todas as amostragens (Tabela 2).

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 69


Tabela 1. Número de plantas vivas (Pv) e mortas (Pm) e a maior exposição ao estresse hídrico ao qual as cotas mais
porcentagem de mortas por ilha e cota. baixas estão submetidas, nos parece ser o mais evidente.
Ilha Cota Pv Pm Total Mortas (%) Contudo, o resultado caracterizou as três cotas e as três
1 Baixa 50
32
25
11
75
43
33,33
25,58
ilhas como ambientes relativamente homogêneos quanto ao
Média
Alta 85 11 96 11,46 número de indivíduos mortos e vivos. A justificativa para
2 Baixa 131 22 153 14,38
Média 51 15 66 22,73 tal resultado pode estar no método amostral, que pode ter
Alta 46 13 59 22,03
3 Baixa 44 12 56 21,43 superestimado o número de árvores vivas, ainda ilesas de
Média
Alta
96
130
31
26
127
156
24,41
16,67
períodos mais intensos de inundação (Prieto et al., 2001).
Total 665 166 831 Além disso, a flora de cada cota, extremamente adaptada as
condições de alagamento, apresentam chances diferentes de
Entre as cotas de inundação analisadas não foi encontrada sobrevivência, sendo esta máxima para seus respectivos
diferença significativa no número de árvores mortas ambientes.
presentes (F [2,6]=0,771, P=0,504, R 2=0,204), ou seja, Outros estudos de mesma abordagem foram
independente da profundidade ou do tempo de inundação, desenvolvidos no igapó do Arquipélago de Anavilhanas,
as comunidades vegetais aparentam reagir de forma distinta sem no entanto abordarem a proporção de indivíduos vivos
para atingirem um objetivo comum. por mortos ou mesmo em relação a área amostrada. Além
Em outra análise realizada a fisionomia da ilha três, um disso, os métodos utilizados para a amostragem, “vizinho
“paliteiro” que apresentava uma paisagem diferente das mais próximo” (Prieto et al., 2001) e “contagem de mortos”
demais, com dominância de indivíduos arbóreos mortos, (Del val et al., 1998), e o período do desenvolvimento destes
foi levada em consideração. Esta variação na paisagem foi trabalhos (período da cheia), inviabilizam comparações com
resultado de uma enchente de longa duração ocorrida entre o presente estudo.
1953 e 1955, o que submeteu a vegetação a uma condição
anômala e intensa, mas restrita a uma determinada cota alti- Agradecimentos
tudinal. Para tornar as amostragens comparáveis, a cota mais Agradecemos ao Ademir Guerreiro pelo auxílio nos
baixa do “paliteiro” não foi amostrada, já que essa não se trabalhos em campo e por nos conduzir até as ilhas.
repetia nas demais áreas. O resultado, similar ao encontrado “Agradecemos também ao pulso de inundacão por nos ter
na comparação entre as cotas, não apresentou diferenças permitido enxergar a verdadeira fitofisionomia sobre os
significativas entre as ilhas (F[2,6]=0,099, P=0,907, R2=0,032) depósitos sedimentares (areio-argilosos) do arquipélago de
(Tabela 2). Anavilhanas”.

Tabela 2. Densidade (indivíduos/m2) de plantas vivas e Referências Bibliográficas


mortas nas três cotas das três ilhas. Del Val, E.; M. A. Fonseca; S. Fáveri; R.H. Toppa & A.
Ambiente Vivas Mortas Total Gomes-Filho. 1998. Largos periodos de inundacíon y
su relacíon con la mortalidad de árboles en lagos del
Baixa 0,38 0,10 0,47 Archipélago de Anavilhanas. Livro do Curso de
Média 0,30 0,10 0,39 Campo Ecologia da Floresta Amazônica. INPA/
PDBFF, Manaus, AM.
Alta 0,44 0,08 0,52 Junk, W. & M. Worbes. 1997. The forest ecosystem of the
floodplains. páginas 223-249. In: Junk, W. J. (ed). The
Central Amazon Floodplain. Spinger Verlag.
Discussão Heindeberg, New York
Mesmo partindo do pressuposto que as espécies de cada Prieto, E.; C. McCain; F. Oliveira; M. R. Darrigo & N.
cota estão aptas a sobreviver as condições estabelecidas Olifiers. 2001. Efeitos da inundação na mortalidade
pelos pulsos de inundação, esperávamos encontrar das árvores adultas de uma floresta de igapó no
diferenças representativas quanto a proporção de indivíduos Arquipélago das Anavilhanas, AM. Curso de Campo
vivos e mortos entre as três cotas de inundação. Dentre os Ecologia da Floresta Amazônica. INPA/PDBFF,
argumentos em que nos baseamos para criar tal expectativa, Manaus, AM.

70 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Efeito da coloração no comportamento de Diastatops cf.
emilia (Odonata:Libellulidae) no Arquipelago de
Anavilhanas, Rio Negro, Amazonas
Daniela Chaves Resende, Eduardo Vasconcelos, Luiz Henrique Claro Junior, Genimar Rebouças Julião, Sylvia Miscow Mendel

Introdução tamanho da mancha na base das asas dos machos de D. cf.


Durante a fase reprodutiva, machos de Libellulidae emilia afeta a atratividade para as fêmeas e ii) se o tamanho
competem por fêmeas, em geral através da defesa de da mancha seria um tipo de sinalização entre os machos,
territórios, cuja qualidade vai afetar as chances de afetando a assimetria entre os indivíduos e a capacidade de
acasalamento (Harvey & Corbet, 1985) e as chances de um macho manter seu território.
sobrevivência da prole (Wildermuth, 1994). A defesa de
territórios pode ser, ainda, uma estratégia para diminuir a
competição intraespecífica (Clausnitzer, 1996).
Métodos
Como as fêmeas aparecem muito raramente nos corpos O experimento foi realizado no Lago do Prato, no
d’água, o período total de defesa territorial pode ser muito arquipélago de Anavilhanas (03º05’S, 59º59’W), município
importante para o sucesso reprodutivo de machos de de Novo Airão, Amazonas.
Odonata (Clausnitzer, 1996). Uma vez que o custo Sete indivíduos machos de Diastatops cf. emilia foram
energético com disputas territoriais pode reduzir o período capturados e tiveram suas asas marcadas, usando uma caneta
total permanecido no território, a estratégia ideal para o de retroprojetor preta. As marcas foram feitas nas asas em
comportamento de agressividade exibido por machos de dois grupos de machos: i) um grupo controle (C – três
Odonata pode não ser um padrão de comportamento fixo indivíduos), onde não modificamos as manchas vermelhas
(Clausnitzer, 1996). das asas, apenas sobrepondo a região preta da asa, para que
É esperado, então, que as disputas por territórios entre efeitos do cheiro da tinta ou da manipulação do animal
machos de Odonata envolvam o reconhecimento de algum pudessem ser equalizados e ii) um grupo tratamento (T -
tipo de assimetria entre os adversários, como por exemplo, quatro indivíduos), onde diminuímos o tamanho da mancha
diferenças no tamanho de corpo, de reservas de gordura ou, vermelha das asas, aumentando a proporção de preto com a
simplesmente, da residência (Waage, 1988). O caneta.
reconhecimento do macho mais forte, antes de uma disputa Após as marcações, soltamos os animais e marcamos a
que envolva um contato físico, diminui as chances de injúria localização de territórios onde foram capturados. Depois
e os prejuízos do macho perdedor. Assim, disputas mais de uma hora, observamos o comportamento e as interações,
intensas entre intrusos e residentes só são esperadas se o com outros machos e com fêmeas, dos machos marcados e
intruso for forte o suficiente para sobrepor-se à vantagem de outros machos não marcados (N – três indivíduos) com
do residente ou se o valor do recurso disputado for muito o uso do método de animal focal, no qual o comportamento
alto (Waage, 1988). de um indivíduo é acompanhado durante um período de
Na família Libellulidae, em geral, os machos apresentam tempo. Neste estudo o comportamento foi observado du-
uma coloração conspícua nas asas ou manchas coloridas rante 10 minutos.
bastante evidentes (Carvalho & Calil, 2000). Os machos de
Diastatops cf. emilia, por exemplo, possuem asas de Resultados
coloração preta que se tornam muito evidentes em função Todos os machos marcados voltaram à mesma área onde
de manchas vermelhas na base. As fêmeas também foram capturados e, aparentemente, a marcação não alterou
apresentam asas pretas, mas sem qualquer mancha, tornando seu comportamento. Entretanto, logo após a marcação,
sua coloração mais discreta. iniciou-se uma forte chuva que fez com que as libélulas
Esse tipo de dimorfismo sexual, onde os machos são voassem para o interior da mata. Após o fim da chuva, vários
muito mais atrativos visualmente do que as fêmeas pode indivíduos retornaram e houve uma atividade intensa de
estar associado a um comportamento de exibição (“dis- fêmeas. Entre os machos que retornaram, três estavam
play”), onde ser um macho mais vistoso poderia ser um marcados, sendo dois do grupo tratamento e um do grupo
indício de apresentar uma maior adaptabilidade, ou seja, a controle.
fêmea selecionaria machos de coloração mais atrativa na Após o retorno, somente dois dos machos marcados (um
tentativa de aumentar seu sucesso reprodutivo (Trivers, do grupo controle e um do grupo tratamento) tiveram
1985). interações com machos e fêmeas, o que parece estar ligado
Os objetivos deste trabalho foram: i) verificar se o somente à posição de seus territórios, já que outros

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 71


indivíduos não marcados também não interagiram. reconquistá-lo e iii) perda de parte de suas reservas de
O número de disputas entre os machos não foi diferente gordura, o que poderia afetar disputas territoriais futuras
entre os machos marcados e não marcados (Tab. 1). (Marden & Waage, 1990).
Entretanto, apesar de não termos quantificado as disputas Assim, é possível que o tamanho da mancha seja um
territoriais entre o macho do grupo tratamento e machos indício do vigor do macho, o que a priori caracterizaria
não marcados de diferentes grupos experimentais, estas uma assimetria entre machos com manchas diferentes. Essa
parecem ter sido mais demoradas. Em um caso, um macho assimetria, por sua vez, pode ser importante para o
do grupo tratamento entrou no território de um macho estabelecimento de uma hierarquia na organização dos
controle e perdeu a cópula para o macho não marcado. territórios e, em condições normais, pode ajudar a evitar
Somente o macho do grupo controle e um macho não danos e injúrias para ambos machos, resultantes de disputas
marcado conseguiram copular (Tab. 1). longas.

Tabela 1. Descrição dos comportamentos dos machos de


D. cf. emilia observados no lago do Prato, arquipélago de
Referências Bibliográficas
Carvalho, A. L. & Kalil, E. R. 2000. Chave de
Anavilhanas, Novo Airão, AM.
Identificação para as Famílias de Odonata (Insecta)
Macho Grupo Número de fêmeas Número de cópulas Número de disputas
no territórios territoriais Ocorrentes no Brasil, Adultos e Larvas.
1 Tratamento 0 0 0
Clausnitzer, V. 1996. Territoriality in Notiothemis
2 Tratamento 3 1 5
1 Controle 0 0 0 robertsi Fraser (Anisoptera: Libellulidae).
1 Não marcado 0 0 0
Odonatologica, 25(4):335-345.
2 Não marcado 1 1 3
3 Não marcado 0 0 0 Cobert, P. S. 1983. A Biology of Dragonflies. E W.
Classey, Faringdon, xvi+247pp
Harvey, I. F. & Corbet, P. S. 1985. Territorial behaviour
of larvae enhances mating success of male dragonflies.
Discussão Animal Behaviour, 33:561-565.
Os resultados deste experimento não podem ser Marden, J. H. & Waage, J. K. 1990. Escalated damselfly
considerados conclusivos, em função do baixo número de territorial contests are energetic wars of attrition.
recapturas que obtivemos. Entretanto, a partir deles podemos Animal Behaviour, 39:954-959.
obter algumas diretrizes. A marcação utilizada parece não Trivers, R. 1985. Social Evolucion. The Benjamin/
ter afetado o comportamento dos machos e se mostrou uma Cumming. California.
metodologia muito fácil e eficaz para estudos de Waage, J. K. 1988. Confusion over residency and the
comportamento desta espécie.
escalation of damselfly territorial disputes. Animal
A mancha vermelha pode ser uma característica atrativa
Behaviour, 36:586-595.
para as fêmeas, no entanto não conseguimos detectar isto,
Wildermuth, H. 1994. Reproductive behaviour of
já que outros machos não marcados também não obtiveram
Diastatops intensa Montgomery (Anisoptera:
sucesso no acasalamento. Entretanto, machos com manchas
Libellulidae). Odonatologica, 23(2):183-191.
reduzidas aparentemente tiveram maior dificuldade em de-
fender seus territórios, o que pode ser um indício de que a
mancha funcionaria como sinalização entre os machos. Agradecimentos
Há vários custos diretos e indiretos resultantes das Ao Glauco Machado pela sugestão do trabalho e pelas
disputas entre machos pelos territórios: i) perda de valiosas discussões sobre teorias de seleção e
oportunidades de acasalamento enquanto os machos estão comportamento animal e a toda equipe do San Pietro, pela
envolvidos em disputas prolongadas; ii) perda do território simpatia com que executaram suas tarefas.
para um terceiro macho, também durante disputas longas e
a conseqüente necessidade de uma nova disputa para Projeto Livre 3

72 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Distribuição de plântulas em relação à planta-mãe na
espécie Astrocaryum jauari (Arecaceae) em uma área
de igapó do Rio Negro
Carolina Laura Morales, Flaviana Maluf de Souza e Ana Paula Carmignotto

Introdução alagada cerca de quatro meses ao ano (Junk 1997).


A distribuição de plântulas na floresta tem uma Consequentemente, o sub-bosque é composto quase que
importância fundamental para a distribuição das populações exclusivamente de indivíduos juvenis de espécies de árvores
e, portanto, para a estrutura da comunidade de árvores. A resistentes à inundação, com uma baixa abundância de
germinação de sementes e posterior estabelecimento de espécies arbustivas. Em uma superfície de cerca de 3 ha,
plântulas dependem de fatores locais como a presença de identificamos vários indivíduos adultos de Astrocaryum
luz e água. Este estabelecimento apresenta uma distribuição jauari. Traçamos quatro transectos formando ângulos de
espacial em relação à planta mãe, que é influenciada por 90o entre eles a partir do tronco de cada indivíduo amostrado.
diversos fatores, como a altura da planta mãe, o declive do Foram amostrados cinco indivíduos de A. jauari, totalizando
relevo (Denslow 1980), assim como o tipo de dispersão (por 20 transectos. Cada transecto possuía 15 metros de
exemplo anemocoria, hidrocoria e zoocoria) e a presença comprimento desde o tronco do indivíduo, e dois de largura.
de predadores de sementes (Bustamante & Simonetti 2000). Os transectos foram dispostos de tal forma que dois deles
A dinâmica da chuva de sementes determina que a densidade ficaram perpendiculares à linha de água, enquanto que os
de sementes decresce quanto maior a distância da planta outros dois ficaram paralelos a ela. Em cada transecto
mãe. Isto gera uma curva de densidade do tipo leptocúrtica registramos o número de plântulas de até 50 cm de altura, e
e assimétrica, com um pico de densidade de plântulas a distância destas em relação a planta mãe.
próximo à planta mãe, e uma diminuição monotônica em A distribuição de plântulas em cada transecto foi avaliada
relação à distância da mesma (Willson 1992). Porém, graficamente por meio de histogramas de freqüências.
segundo o modelo de Janzen-Connell, existe uma predação Obtivemos uma distribuição total de plântulas para os
diferencial das sementes em relação à distância da planta transectos perpendiculares à água (isto é, somando as
mãe, que é dependente da densidade. Assim, essa é maior distribuições dos dois transectos perpendiculares dos cinco
próximo à planta mãe, fazendo com que o pico da indivíduos amostrados), e para os transectos paralelos.
distribuição situe-se a uma posição mais distante desta Testamos se estas distribuições eram estatisticamente
(Janzen 1970). A distribuição final de plântulas seria um diferentes utilizando o teste de Kolmogorov-Smirnov (Zar,
balanço entre estes dois fatores. Este modelo geraria 1984).
isolíneas anulares de densidade de plântulas, tendo a planta
mãe como centro. Porém, outras variáveis ambientais Resultados
poderiam modificar esta distribuição. Nas florestas alagadas Contamos um total de 1230 plântulas de Astrocaryum
(igapós), os pulsos anuais de inundação podem modificar a jauari. Não detectamos diferenças evidentes durante a
distribuição original produzida pela chuva de sementes e a inspeção gráfica dos padrões de distribuição de plântulas
simetria da distribuição das plântulas em relação ao pro- entre os transectos com orientação distinta, nem entre os
genitor, deixando linhas de sementes paralelas à margem indivíduos. A distribuição total das plântulas tanto nos
do rio ou lago quando baixa a cota de água. Neste sentido, transectos perpendiculares à água, quanto nos transectos
o objetivo do nosso trabalho foi caracterizar a distribuição paralelos, assemelha-se a uma curva leptocúrtica, com um
e densidade de plântulas de Astrocaryum jauari em torno máximo de plântulas próximo à planta mãe, diminuindo de
da planta mãe em uma floresta de igapó e avaliar a influência forma exponencial à medida que a distância para a planta
dos picos de inundação na distribuição de plântulas. mãe aumenta (Fig.1). A curva dos transectos perpendiculares
à água apresentou uma tendência bimodal, com um leve
Métodos pico a 11 metros da planta mãe. Entretanto, a distribuição
Realizamos este trabalho em uma área de floresta alagada agrupada das plântulas nos transectos paralelos à água não
situada na margem do Lago do Prato, no arquipélago de diferiu significativamente da distribuição dos transectos
Anavilhanas, AM. Esta área permanece completamente perpendiculares à margem (K=0,312; p=0,342; g.l.=15).

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 73


140 distribuição das plântulas, já que a taxa de predação parece
120
ser bem baixa nestas áreas. Essa suposta baixa taxa de
predação pode ser devido, provavelmente, ao fato do
100 ambiente permanecer muito tempo alagado, apresentando
N de plântulas

80 um número reduzido de predadores de sementes em função


das condições adversas deste tipo de ambiente. Outro estudo
60 desenvolvido em um ambiente não submetido a um regime
40 de alagamento como o do igapó, corrobora esta baixa
influência dos predadores de sementes na distribuição das
20 plantas em relação ao progenitor (Bustamante & Simonetti
0 2000). No presente estudo, apesar da água não ter
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 apresentado um efeito direto na distribuição das plântulas,
250 esta parece influenciar na estrutura da floresta, na medida
em que determina a presença de espécies resistentes aos
200 diferentes períodos de alagamento sazonal.
N de plântulas

150
Agradecimentos
100 Agradecemos ao INPA e Smithsonian Institution pela
realização do curso, ao Juruna pela ajuda no campo, ao
50
Jansen pela ajuda com as análises estatísticas e a todos que
0
colaboraram para o bom andamento do curso.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Distancia da planta mãe (m) Referências bibliográficas
Figura 1. Distribuição de freqüência de plântulas em Bustamante, R. & J.A. Simonetti. 2000. Seed predation
relação à distância da planta mãe em transectos and seedling recruitment in plants: the effect of the
perpendiculares (a), e em transectos paralelos à linha da distance between parents. Plant Ecology 147: 173-183.
água (b) (n=1230 plântulas). Denslow, J. S. 1980. Notes on the seedling ecology of a
large-seeded species of Bombacaceae. Biotropica 12:
220-222
Discussão Janzen, D. H.1970. Herbivores and the number of tree
As características do microhabitat no qual uma plântula species in tropical forest. American Naturalist, 104:
germina são fundamentais para o processo de manutenção 501-529.
das populações de plantas, já que elas determinam, em parte, Junk, W. J. 1997. General aspects of floodplain ecology
a probabilidade de sobrevivência dos indivíduos. As with special references to amazonian floodplains. Pp
plântulas de A. jauari apresentaram uma distribuição do tipo 3-22. In W. J. Junk (ed.). The Central Amazon
leptocúrtica com um pico de densidade próximo à planta
Floodplain – ecology of a pulsing system. Ecological
mãe. A segunda moda na distribuição de freqüência dos
Studies, 126. Springer. 525 pp.
transectos perpendiculares à água provavelmente reflete o
Willson, M. F. 1992. The ecology of seed dispersal. In:
aporte da chuva de sementes de um outra palmeira,
Fenner, M. (ed). The Ecology of regeneration in plant
localizada a 13 metros de um dos indivíduos amostrados. A
communities. C.A.B. International. Wallingford.
distribuição encontrada indica que a predação de sementes
não deve constituir um fator importante influenciando as Zar, J. H. 1984. Bioestatistical Analysis. 2nd edition.
probabilidades de germinação das sementes localizadas a Prentice Hall, New Jersey. 718 pp.
distintas distâncias da planta mãe. Na escala do microhabi-
tat, a chuva de sementes parece ser o fator que determina a Projeto livre 3

74 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Algunos factores que influyen en el crecimiento apical
de plantas jovenes de Tovomita sp.(Clusiacea) en un
area sometida a inundacion de aguas negras,
Arquipelágo Anavihanas, AM
Ana Maria Benavides, Patricia García Tello, Josué R. da Silva Nunes, Eduardo Cardoso Teixeira, Yumi Oki y George Camargo

Introducción cicatriz más reciente, número de hojas jovenes, altura total,


distancia minima del indivíduo joven y adulto coespecificos
El crecimiento de las plantas está influenciado por
e intensidad luminica estimada en tres categorias: baja, me-
diferentes tipos de factores: factores endogenos, los cuales
dia y alta.
estan determinados genéticamente e independíentemente de
Se realizaron analisis de caminos entre las variables
condiciones externas, y factores exogenos, que están
atravez de regresion multiple y regresiones parciales fueron
determinados por la influencia del ambiente (Morsello et.
realizados para las variables que tiene influencia indirecta
al. 1996).
sobre el crecimiento apical.
La fluctuacion cíclica del agua ocasiona una serie de
impactos físicos y biológicos en los sistemas inundables;
esta fluctuación constituye un factor de regulación Resultados
determinante en los padrones de estas poblaciones de estas El crecimiento apical presento una relación baja y no
areas inundables, como fenologia, migración, periodo significativa con el tamaño de las plantas, plantas pequeñas
reproductivo y crecimiento(Morsello et. al. 1996; Junk et. presentaron tanto crecimientos altos como bajos (Fig. 1).
al. 1989). El número de hojas fué constante por internodo, dos hojas.
La mayoria de las plantas que se desarrollan en sistemas La distancia de plantas jovenes y adultas parece tener
sometidos a pulsos de inundacion de aguas negras,igapó, um efecto, mas no a un nivel significativo; cuanto mayor la
en los períodos de inundación, tienen un crecimento distancia de los árboles adultos y jovenes coespecificos el
reducido, actividad fotosintética disminuída y tasas de crecimiento apical tiende a ser mayor (Fig. 2).
germinacion nula (Parolin, 2001). En el período de seca las Las plantas que crecieron en ambientes mas sombreados
plantas invierten en su desarrollo y reproducción; y cambios presentaron una tendencia a crecer menos que las plantas
en metabolismo y germinación de algunas especie se ha que crecieron en ambientes de luminosidad media, sin em-
asociado a diferencias en las condiciónes hídricas (Junk, bargo las plantas que crecierón en ambientes con alta
1989; Parolin, 2001). luminosidad presentaron variaciones mayores de
El objetivo de este trabajo fué analizar si el crecimiento crecimiento apical (r2=0.504, p<0.05, n=30, Fig. 2).
apical de plantas jovenes en Tovomita sp. se ve influenciado
por relaciones entre individuos y por luminosidad.

Métodos
El estudio se llevo a cabo en una floresta inundada (igapó)
localizada en la Estación Ecológica de Anavilhanas,
adyacente a Rio Negro, 100 km de Manaus (03 05’S, 59
59’W), durante el mes de noviembre (final de la epoca
seca).
Algunas plantas presentan características morfológicas
que permiten estimar la edad de crecimiento, tal es el caso
de Tovomita sp., (Clusiaceae) en la cual presenta cicatrices
de crecimiento y estas están relacionadas con las épocas de
inundacion. Seleccionamos aleatoriamente 30 indivíduos de Figura 1. Fluxograma de crecimiento apical con distintas
porte pequeños asumidos como plantas jovenes de Tomovita variables que afectarnel crecimiento de Tomovita sp. Los
sp, localizados en un mismo nivel topográfico y con una valores representan el coeficiente patronizado de
distancia minima entre si de 5 m. regresion multiple para las relaciones directas y los
Para cada individuo, evaluamos los siguientes valores de las regresiones parciales para los relaciones
parámetros: crecimento apical, como una longitud de la indirectas.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 75


envueltos en este resultado: 1) sombreamiento de las plantas
adultas hacia las plantas jovenes diminuyen su crecimento;
2) las plantas adultas comparten recursos com las plantulas
e interfieren en su desarrollo. (Harper, 1977).
A partir de este resultado, podemos concluir que la luz
interfiere en el desarrollo de Tomovita sp, y diferentes
factores abióticos y bióticos interacionan mas en menor
medida.

Agradecimientos
Agradecemos a Leandro Ferreira y a Eduardo Venticinque
por las sugerencias y discusiones.

Referencias bibliográficas
Harper, J. L. 1977. Population Biology of plants. Aca-
demic Press. London. 892 p.
Figura 2. Relación del crecimiento apical con respecto a Junk, W., P. B. Bayley and R. E. Sparks. 1989. The flood
la luminocidad de Tomovita sp. Variación da la pulse concept in river-floodplain systems. In D. P.
luminosidad 1=baja, 2=Media, 3=alta, en un ambiente Dodge (ed.) Proceedings of the International Larger
inundable. River Symposium. Can. Spec. Publ. Fish. Aqua. Sci.
106:110-127.
Larcher, W. 1986. Ecofisiologia vegetal. EPU. São Paulo.
Discusión 319 p.
La intensidad lumínica fue el factor que presentó mayor Morsello, C.; A. D. de Souza; K. A. Caro; M. T. V. A.
relación con el crecimiento apical de las plantas jovenes de Campos & T. Lomäscolo; 1996, Padrão de
Tovomita sp. independientemente de factores intra- crescimento em Iriartella setigera e Geonoma
especificos. La intensidad luminosa es uno de los factores maxima, Iv curso de campo, Ecologia da Floresta
esenciales para várias actividades fisiológicas como la Amazonica, INPA/Smithsonian Institution/Unicamp/
fotosíntesis. Esta dependencia hacia la luz puede determinar OTS, 347p.
diferencias en las tasas de crecimiento de poblaciónes. Parolin, P. 2001. Morphological and physiological
(Larcher, 1986). adjustments to waterlogging and drought in seedlings
Además de esto, la distancia de las plantas adultas y of Amazonian floodplain trees. Oecologia 128:326-
jovenes parece estar influyendo levemente en el tamaño da 335.
plantas de Tovomita sp. y consecutivamente también un
crecimento apical. Probablemente, dos factores están Grupo 3 - Projeto Livre 3

Abrigos de formigas e proteção contra herbivoria em


Miconia phanerostila (Melastomataceae)
Flaviana Maluf de Souza, Genimar Rebouças Julião, Josué Ribeiro da Silva Nunes, Carolina Laura Morales

Introdução Algumas espécies de Melastomataceae não


Diversas espécies de plantas da família Melastomataceae apresentam domáceas, possuindo porém, um abrigo de
são mirmecófitas, apresentando domáceas que são estruturas cartão construído por formigas que estruturalmente se
utilizadas por algumas espécies de formigas como locais assemelham a uma domácea, podendo ser encontrados tanto
para formação de colônias (Hölldobler & Wilson, 1990). nas folhas quanto nos ramos. Uma das espécies que
Numa relação de mutualismo, as formigas que utilizam as apresentam esses abrigos é Miconia phanerostila, uma
domáceas conferem às plantas hospedeiras uma certa planta comum em áreas abertas da Amazônia Central, cuja
proteção contra o ataque de herbívoros (Janzen, 1966; associação se dá com formigas do gênero Crematogaster
Fonseca, 1991; Agrawal, 1998). sp (Myrmicinae). Analogamente ao que ocorre com as

76 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


domáceas verdadeiras, seria esperado que a presença das Para as análises da freqüência de ataque das formigas
formigas nesses abrigos poderia conferir às plantas de M. em plantas com e sem abrigos realizamos um teste de qui-
phanerostila algum nível de proteção contra o ataque de quadrado e para as análises do tempo de detecção do cupim
herbívoros. utilizamos o teste t pareado. A herbivoria nas plantas com e
Partindo dessa sugestão, o objetivo deste trabalho foi sem abrigos foi comparada através do teste de Wilcoxon.
testar se as plantas de M. phanerostila com abrigos de
Crematogaster sp. seriam protegidas contra os herbívoros. Resultados
As hipóteses seriam as seguintes: i) a freqüência de ataque Quatro espécies de plantas apresentaram abrigos
das formigas contra os herbívoros é maior em plantas com construídos por formigas: Miconia phanerostila, Miconia
abrigos, ii) o tempo de detecção dos herbívoros pelas sp. (Melastomataceae), Vismia sp. (Clusiaceae) e uma
formigas é menor em plantas com abrigos e iii) a herbivoria espécie não identificada de Rubiaceae. Analisando-se o
é menor em plantas com abrigos. conteúdo interno dos abrigos, encontramos, além das
formigas, vários homópteros. A única espécie de formiga
Métodos presente nos abrigos foi Crematogaster sp.(Mirmicinae).
Realizamos o estudo na reserva do Km 41 pertencente Em nove das 13 plantas com abrigos houve ataque dos
ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais cupins, enquanto nas plantas sem abrigo o número de cupins
(INPA/Smithsonian), a cerca de 80 Km ao norte de Manaus atacados foi de apenas quatro. Entretanto, a freqüência de
(2°30’S e 60°00’O). Conduzimos o experimento na estrada ataque das formigas contra o cupim não diferiu
de acesso à reserva, uma vez que M. phanerostila ocorre estatisticamente (c2=2,46; g.l.=1; p=0,117). O tempo de
preferencialmente em áreas abertas e expostas à luz, sendo detecção do cupim também não diferiu entre plantas com e
encontrada em baixa densidade no interior da floresta. O sem abrigos (t=-1,611; g.l.=12; p=0,133). As médias dos
experimento foi realizado de maneira pareada, de forma que tempos de detecção foram de 122,3 ±104 s (amplitude 5-
sempre utilizamos pares de plantas próximas, numa distância 290 s) nas plantas com abrigos e 119,3±66 s (amplitude 43-
máxima de 10 m entre indivíduos. O par era composto por 205 s) nas plantas sem abrigos. As medianas dos índices de
uma planta com abrigo (experimental) e outra sem abrigo herbivoria em plantas com e sem abrigos foram 1,5 e 1,7,
(controle), na qual o mesmo procedimento foi repetido. Os respectivamente, não havendo diferenças entre ambos
pares de plantas foram selecionados ao longo da estrada, (Z=0,196; g.l.=12; p=0,844).
sempre procurando considerar as mesmas condições tanto
de estrutura e tamanho da planta quanto de incidência de Discussão
luz. No total, realizamos o experimento em 13 pares de A ausência de diferenças nos padrões de ataque e
plantas. detecção de herbívoros pelas formigas associadas aos
Utilizamos cupins coletados nas proximidades do abrigos, assim como os índices de herbivoria semelhantes
alojamento da reserva como presa padrão para entre plantas com e sem abrigos indicam que a presença
determinarmos a freqüência e o tempo de detecção pelas dessa estrutura não confere aos indivíduos de M.
formigas. Os cupins foram colados vivos (a cerca de 5 cm phanerostila uma proteção efetiva contra herbivoria. Esses
da inserção do pecíolo de M. phanerostila, sempre na resultados diferem da nossa expectativa inicial e sugerem
margem da folha) com cola branca e com o dorso voltado que o abrigo construído por Crematogaster sp. em
para a folha. indivíduos de M. phanerostila não são funcionalmente
Após a colagem do cupim, cronometramos o tempo de análogos às domáceas presentes em outras melastomatáceas.
detecção do cupim pelas formigas, considerando para tal o Homópteros foram encontrados em todos os abrigos e a
primeiro contato feito entre os dois. O tempo de observação presença desses organismos tem uma implicação importante
foi de no máximo 5 minutos e se após esse tempo não na interação entre as formigas e a planta. Os homópteros
houvesse contato entre a formiga e o cupim, registrávamos são fitófagos e, em geral, sugam o floema excretando uma
a não-detecção do herbívoro simulado. solução rica em carboidratos da qual as formigas se
Estimamos o índice de herbivoria de acordo com o alimentam (Del-Claro & Oliveira 2000). Assim, como uma
método proposto por Dirzo & Dominguez (1995), forma de assegurar essa rica fonte de alimento, as formigas
observando as 10 folhas apicais de cada planta. Em alguns construiriam os abrigos, exercendo uma importante função
casos o número de folhas presentes nos arbustos era infe- de proteção das ninfas de homópteros contra seus inimigos
rior a 10 (7-9) e nesses casos o índice foi calculado usando naturais (Del-Claro & Oliveira, 2000).
apenas o número de folhas disponível. Como conseqüência da agregação de homópteros nas
Ao longo da estrada, coletamos algumas folhas de regiões de maior produtividade de seiva na planta, como o
espécies variadas para identificação das espécies de plantas meristema apical (Del-Claro & Oliveira, 2000) e a nervura
nas quais também ocorriam abrigos. Além disso, coletamos principal, os abrigos de formigas em M. phanerostila são
abrigos e trouxemos para o laboratório para a inspeção do encontrados prioritariamente nessas regiões. É provável que
seu conteúdo. as formigas concentrem suas atividades nesses mesmos

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 77


locais, dispendendo a maior parte do tempo ordenhando os plant. Ecology 79:2100-2112.
homópteros e pouco tempo forrageando sobre a superfície Del-Claro, K. e P. S. Oliveira 2000. Conditional out-
foliar. Diferentemente do que ocorre em plantas com comes in a neotropical treehopper-ant association:
nectários extraflorais distribuídos por toda a folha, como temporal and species-specific variation in ant protec-
por exemplo em algumas espécies de Inga (Mimosaceae),
tion and homopteran fecundity. Oecologia 124:156-
em M. phanerostila as formigas caminhariam menos pela
165.
planta, diminuindo a probabilidade de encontro com um
herbívoro e exercendo assim, pouca atividade de proteção. Dirzo, R. e C. Dominguez 1995. Plant-hervbivore
A concentração das formigas em função da presença de interactions in Mesoamerican tropical dry forests.
homópteros e suprimento alimentar pode ser o principal Páginas 304-325 in: S. H. Bullock, H. A. Mooney e E.
componente da associação entre as formigas e M. Medina (editores). Seasonally Dry Tropical Forests.
phanerostila, sugerindo que essa relação talvez não seja Cambridge University Press.
mutualística. Os homópteros teriam uma relação de Fonseca, C. R. 1991. Interação entre Tachigalia
parasitismo com a planta e as formigas, uma relação de myrmecophila Ducke (Caesalpiniaceae) e formigas
mutualismo com os homópteros, porém não conferindo
associadas. Tese de Mestrado, Universidade Estadual
nenhum tipo proteção à planta.
de Campinas, Campinas, SP.
Hölldobler, B. e E. O. Wilson. 1990. The Ants. Harvard
Agradecimentos
University Press, USA.
Agradecemos ao Glauco pela orientação, atenção e pela
clareza com que nos ensinou a conduzir um bom Janzen, D. H. 1966. Coevolution of mutualism between
experimento. ants and acacias in Central America. Evolution,
20:249-275.
Referências bibliográficas
Agrawal, A. A. 1998. Leaf damage and associated cues Grupo 9 - Projeto Orientado 9
induce aggresive ant recruitment in a neotropical ant- Orientação: Glauco Machado

Influência da luz no grau de herbivoria em


Miconia cf. phanerostila (Melastomataceae)
Genimar Rebouças Julião, Carolina Laura Morales, Flaviana Maluf de Souza, Josué Ribeiro da Silva Nunes

Introdução incorporação de biomassa (Kobe et al. 1995). Coley (1983)


As mudanças causadas nas características físicas de um observou que o potencial de crescimento é negativamente
ambiente devido à fragmentação da paisagem podem afetar correlacionado com defesas quantitativas, tanto em plantas
diretamente a estrutura de florestas, principalmente a criação que crescem no sub-bosque de florestas, tolerantes ao
de bordas (Chen et al. 1992). Os efeitos de borda num sombreamento, quanto em pioneiras. Assim, plantas com
fragmento florestal podem ser (i) abióticos, ocorrendo diferentes estratégias de crescimento investiriam
alterações nas condições ambientais que resultam da diferencialmente em defesas contra herbívoros, e
proximidade de uma matriz estruturalmente diferente; (ii) consequentemente, sofreriam diferentes níveis de herbivoria.
biológicos diretos, que envolvem mudanças na abundância Observações em campo indicam que indivíduos de
e distribuição de espécies como conseqüência direta das Miconia cf. phanerostila são encontrados tanto em
condições físicas próximas a borda, como por exemplo, ambientes ensolarados ao longo da rodovia ZF3, quanto no
dessecação dos organismos e crescimento de plantas; (iii) interior da floresta da Reserva do km 41. Danos foliares
biológicos indiretos, que geram alterações nas interações também foram visíveis em ambos ambientes, oferecendo a
entre espécies, tais como predação, competição, parasitismo, oportunidade de testar se as plantas que crescem em áreas
herbivoria, e polinização e dispersão de sementes mediadas com maior luminosidade, como bordas de vegetação,
por animais (Murcia 1995). apresentam maior crescimento e melhor qualidade
As plantas situadas em ambientes de alta luminosidade, nutricional, em consequentemente possuem maiores níveis
como as espécies pioneiras, apresentam um crescimento de herbivoria (Courtney & Courtney 1982). Dessa forma,
rápido, investindo a maior parte dos recursos para os objetivos deste estudo foram examinar se i) a altura, ii) o

78 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


crescimento dos entrenós e iii) os níveis de herbivoria dos 90
indivíduos de Miconia cf. phanerostila diferem entre 80
ambientes sombreados e ensolarados.
70

ALTURA
60
Métodos
50
O presente trabalho foi desenvolvido na reserva do km
41 do PDBFF (Projeto dinâmica Biológica de Fragmentos 40
Florestais – INPA/Smithsonian Institution), a cerca de 90 30
km ao norte de Manaus (02Ú26’S e 059Ú46’O). 20
As coletas foram feitas em duas áreas: ao longo da estrada 10
de acesso à Reserva (ambiente ensolarado) e no sub-bosque 4 3 2 1 0 1 2 3 4
da floresta (ambiente sombreado). Em cada ambiente, fo- Borda Floresta
INDIVÍDUOS
ram amostrados 10 indivíduos de Miconia cf. phanerostila
que tiveram medidos a altura, o comprimento dos dois
últimos entrenós (distais) e contados o número de entrenós Figura 1. Distribuição da alturas dos indivíduos de
de toda planta. Os entrenós de uma planta podem ser usados Miconia cf. phanerostila nos dois ambientes estudados.
como unidades padrão de crescimento, fornecendo uma
estimativa do crescimento do indivíduo num dado período
de tempo. Além disso, em cada indivíduo, as seis folhas O número de entrenós foi semelhante entre os indivíduos
mais próximas ao ápice tiveram seu comprimento e largura do sub-bosque e da borda da floresta, mas o comprimento
medidos e o Índice de Herbivoria (Dirzo & Domingues dos entrenós distais foi maior na clareira (N=20; t = 3,894;
1995) estimado. Este índice foi baseado na seguinte tabela p = 0,002; Figura 2). Dessa forma, pudemos verificar que
de Área Foliar Consumida: os indivíduos possuem o mesmo número de unidades de
crescimento em ambos ambientes, e estas diferem em
IH AFC (%) tamanho, ocorrendo entrenós mais compridos na borda,
0 0 enquanto no interior de floresta os indivíduos tem menor
1 1-6 estatura, e por isso, entrenós mais curtos.
2 6-12
3 12-25
4 25-50
Tamanhos dos entrenós distais

5 > 50 30

E calculado através da fórmula: IH = (ni x i)/ nt , onde: 20


IH= Índice de herbivoria por planta;
ni = número de folhas por categoria de Área Foliar
Consumida (AFC) 10
i = categoria de AFC
nt = número total de folhas por planta
0
8 7 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8
Para analisar as diferenças entre a altura e crescimento
Borda Floresta
dos entrenós dos indivíduos de M. cf. phanerostila na borda
e no interior da floresta utilizamos um teste t não-pareado,
enquanto diferenças entre os índices de herbivoria das Figura 2. Distribuição dos valores de comprimento dos
plantas localizadas na borda e na clareira foram analisadas dois últimos entrenós dos indivíduos de Miconia cf.
com o uso de um teste não paramétrico (Mann-Withney). phanerostila nos dois ambientes estudados.

Resultados O sub-bosque da floresta apresentou maiores índices de


A altura dos indivíduos de Miconia cf. phanerostila foi herbivoria (U = 4,5; p = 0,001; N=120) tendo sido verificada
maior na borda do que no interior da floresta (N=20; t = uma relação forte e negativa entre a largura e comprimento
4,028; p = 0,001; Figura 1). Além disso, foi possível detectar das folhas e o índice de herbivoria obtido deste ambiente,
em campo diferentes ecótipos de M. cf. phanerostila, observando-se ainda, uma maior amplitude de variação nesta
ocorrendo no ambiente ensolarado, com folhas mais largas área. Contrariamente, o comprimento e largura das folhas
e coloração mais clara, enquanto as folhas de plantas do da borda apresentaram uma relação fraca e positiva com o
interior da floresta eram mais alongadas, tinham tons mais índice de herbivoria, sendo que os valores apresentaram-se
escuros. menores e mais agrupados (Figura 3).

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 79


5 os níveis de herbivoria. A planta M. cf. phanerostila é
considerada uma espécie pioneira e provavelmente investe
Índice de Herbivoria

4 menos em defesas que as espécies persistentes (Coley 1983).


As condições abióticas do ambiente borda (luz,
3 temperatura e umidade) interferem nas condições bióticas
como crescimento de plantas, abundância e distribuição de
2 espécies e relações entre organismos, como a herbivoria
(Murcia 1995).
1 Os herbívoros associados a M. cf. phanerostila podem
diferir entre os ambientes, em termos de espécies e
0 abundância. Silva (1999) observou a tendência de certas
Borda Floresta espécies de formiga ocorrerem preferencialmente na borda
e outras no interior da floresta de terra firme na Reserva
Figura 3. Índice de herbívora dos indivíduos de Miconia Florestal do km 41. Além disso, ambientes mais
cf. phanerostila nos dois ambientes estudados. sombreados, como o interior da floresta, oferecem menos
riscos de dessecação de herbívoros, principalmente insetos
(Borror & DeLong 1964).
Discussão Assim, essas características estão direta ou indiretamente
O ambiente de borda é geralmente caracterizado pelo envolvidas nos padrões de crescimento e herbivoria
incremento da incidência de luz, que pode promover o encontrados em Miconia cf. phanerostila na borda e no in-
crescimento e a melhoria na qualidade nutricional de plantas terior de floresta. Estudos futuros que ampliem as
e consequentemente levar a um aumento nas taxas de abordagens na investigação do efeito de borda sobre os
desenvolvimento de insetos (Hart & Horwitz 1991, organismos e como cada fator, biótico ou abiótico, afeta as
Cappuccino & Martin 1997). Neste estudo, a estrada de interações e processos ecológicos são necessários e o
acesso à Reserva do km 41 possibilitou avaliar efeitos de presente sistema mostra-se adequado para tais fins.
borda e suas conseqüências biológicas numa interação
planta-herbívoros. Agradecimentos
Os indivíduos de Miconia cf. phanerostila apresentaram Agradecemos ao Marcelo Moreira pelo auxílio na
maior altura e comprimento dos entrenós distais no ambiente identificação da planta objeto de estudo e nas coletas de
de borda, indicando que este ambiente propicia melhores campo, a Yumi Oki pelas sugestões e revisões deste
condições para o crescimento da planta. No entanto, ao manuscrito e aos colegas e professores do curso pela
contrário do esperado, os níveis de herbivoria foram mais contínua alegria.
altos no sub-bosque, ambiente onde os indivíduos
apresentavam taxas de crescimento visivelmente reduzidas.
Referências bibliográficas
Messias & Schiesari (1994) avaliaram a herbivoria em
Agrawal, A.A. & M.T. Rutter. 1998. Dynamic anti-
clareiras e sub-bosque na mesma área de estudo, e
herbivore defence in ant-plants: the role of induced
similarmente constataram maiores índices de herbivoria no
responses. Oikos 83: 227-236.
sub-bosque.
Borror, J.D. & D.M. DeLong. 1964. Introdução ao estudo
Algumas características inerentes a planta Miconia cf.
dos insetos. Editora Edgard Blücher, São Paulo, Brasil.
phanerostila, aos herbívoros associados e aos ambientes
Cappuccino, N. & M.A. Martin. 1997. The birch tube-
sombreados e iluminados podem ser os principais fatores a
marker Acrobasis betulella in a fragmented habitat: the
determinar os padrões obtidos neste estudo.
importance of patch isolation and edges. Oecologia
A plasticidade fenotípica observada em M. cf.
110: 69-76.
phanerostila, provavelmente causada pela variação na
Chen, J.; J.F. Franklin & T.A. Spies. 1992. Vegetation
disponibilidade de luz, parece ser um componente
responses to edge environments in old-growth douglas-
importante nos níveis de herbivoria observados nos dois
fir forest. Ecological Application 2: 387-396.
ambientes amostrados. Além disso, variações na presença e
Coley, P.D. 1983. Herbivory and defensive characteristcs
quantidade de compostos secundários entre os ecótipos,
of tree species in a lowland tropical forest. Ecological
podem estar influenciando tais níveis de herbivoria (Agrawal
Monographs 53: 209-233.
1998). Num experimento, folhas que se desenvolveram em
Courtney, S.P. & S. Courtney. 1982. The “edge-effect” in
ambientes com pouca luz, apresentaram menor produção
butterfly oviposition: causality in Anthocharis
de defesas quantitativas, como o tanino (Oki 2000). Feeny
cardamines and related species. Ecological Entomol-
(1970) observou que diferentes concentrações de tanino
ogy 7: 131-137.
estavam relacionadas a diferentes taxas de herbivoria.
Dirzo, R. & C. Dominguez. 1995. Plant-herbivore
Quanto maior a concentração deste composto, menor eram
interactions in Mesoamerican tropical dry forests. pp.

80 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


304-325, in S.H. Bullock, H.A. Mooney & E. Medina, região de Manaus, Amazonas. Pp. 120-124 in Curso
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University Press. Murcia, C. 1995. Edge effects in fragmented forests:
Feeny, P. 1970. Seasonal changes in oak leaf tannins implications for conservation. Trends in Evolution and
nutrients as a cause of spring feeding by winter month Ecology 10: 58-62.
catterpillar. Ecology 51: 565-587. Oki, Y. 2000. Hervoria foliar por lepidópteros em
Hart, D.D. & R.J. Horwitz.1991. Habitat diversity and the Byrsonima intermedia (Malpighiaceae) na Reserva de
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SP. USP, Ribeirão Preto.
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nent of shade tolerance. Ecological Applications 5: Amazônica”, INPA/Smithsonian, Manaus, AM.
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Messias, M.R & L.C. Schiesari. 1994. Composição dos
tipos de danos associados a herbivoria em áreas de Grupo 9 – Projeto Orientado 7
clareira e sub-bosque numa mata de terra firme na Orientador: Geraldo Wilson Fernandes

A idade foliar influencia a herbivoria em


Vismia japurensis (Clusiaceae)?
Yumi Oki, Paula M. Pedrosa, Eduardo Vasconcelos, Ana Paula Carmignotto e George Camargo

Introdução Métodos
A herbivoria pode ser definida como o dano sofrido por As coletas foram realizadas num trecho de 500 m na
uma planta, que pode ser causada por um vasto grupo de floresta de terra firme da Reserva Biológica do km 41,
organismos, dos quais os insetos são os principais. O grau inserida no “Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos
de danos encontrados em plantas está associado à sua Florestais” (INPA/PDBFF), localizada a 70 km ao norte de
distribuição, fenologia, e às suas características físicas, como Manaus, Amazônia Central. Amostramos indivíduos de
pilosidade, dureza e espinhos, e químicas, como as Vismia japurensis ao longo da borda da mata e na beira da
substâncias secundárias que podem ser tóxicas ou repelentes estrada (ZF-3). Escolhemos esta espécie por ser uma espécie
(Edwards & Wratten 1981). Algumas dessas defesas foram pioneira e freqüentemente encontrada neste tipo de
adquiridas ao longo da evolução como uma forma de ambiente.
transpor as pressões ambientais, como a predação causada Coletamos o maior ramo de cada planta. Na base de
por herbívoros, parasitismo por outras plantas, infestação pesquisa do projeto verificamos a porcentagem de herbivoria
por fungos, entre outros fatores (Rhoades 1983). através da categorização das porcentagens de dano por folha
A herbivoria varia entre espécies, entre indivíduos e (ver Dirzo & Dominguez 1995) (Tabela 1). Em cada
também no mesmo indivíduo, como por exemplo entre folhas indivíduo verificamos apenas um par de folhas da mesma
de idades diferentes (Coley 1983; Harbone 1993). Em geral, idade, sendo escolhida uma planta ao acaso para a
as folhas novas são mais ricas em nutrientes e apresentam observação de cada par de folha, considerando-se que cada
menor dureza e menor quantidade de substâncias par pertencia a categorias de idades diferentes. O primeiro
secundárias quantitativas como os taninos condensados, par de folhas encontrado no ápice do ramo foi considerado
desta maneira tornando-se mais atraentes aos herbívoros do jovem, enquanto os pares seguintes foram considerados
que as folhas maduras (Coley 1983). adultos, aumentado a idade do par de folhas à medida que
Baseado neste postulado, os nossos objetivos foram seguíamos o ramo em direção à base do ramo. Usamos um
avaliar se as taxas de herbivoria em Vismia japurensis variam par de folhas de cada indivíduo para manter as amostras
de acordo com a idade das folhas ou do tempo de exposição independentes.
da folha.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 81


Tabela 1. Categoria de danos para avaliação do índice de
herbivoria (Dirzo & Dominguez 1995).

Categoria de dano % de herbivoria


0 0
1 1a6
2 6 a 12
3 12 a 25
4 25 a 50
5 50 a 100

O índice de herbivoria foi calculado por idade foliar


usando a seguinte fórmula:
Figura 1. Distribuição de categoria por número de
plantas amostradas em cada uma das categorias de idade
foliar (N=9 por idade foliar).
Onde: IH= índice de herbivoria; ni= número de folhas
da categoria; i= valor da categoria de danos; N= número
total folhas em cada idade

Para observar se existe preferência alimentar entre folhas


novas e maduras, realizamos um teste utilizando gafanhotos
como modelo. Os gafanhotos são herbívoros generalistas
bem conhecidos e utilizados amplamente em bioensaios.
Foram coletados 7 gafanhotos e deixados em jejum por 10
horas. Inserimos um gafanhoto em um pote de 250 cm³ com
dois discos foliares de aproximadamente 4 cm², sendo um
disco extraído de uma folha nova (idade 1) e outro de uma
folha madura (idade 4). Após duas, quatro e seis horas
avaliamos a ocorrência de herbivoria nos mesmos.
Utilizamos o teste Kruskal Wallis para compararmos as
taxas de herbivoria entre as diferentes categorias de idade
das folhas, e a correlação de Spearman para observar a
relação entre o índice de herbivoria e as diferentes categorias Figura 2. Índice de herbivoria apresentado em cada
de idade foliar (tempo). categoria de idade foliar em Vismia japurensis.

Resultados Discussão
Amostramos um total de 36 indivíduos de Vismia As taxas de herbivoria foram similar entre as classes de
japurensis. Não houve diferença entre as taxas de herbivoria idades foliares, demonstrando que a nossa hipótese inicial
em relação a idade foliar (U=2,222, g.l.=3, p=0,528, Figura não foi corroborada. É provável que por ser uma espécie
1). pioneira, V. japurensis invista menos em defesas
O índice de herbivoria apresentou uma correlação quantitativas do que as plantas persistentes (Coley 1983),
negativa baixa com a idade das folhas (rSpearman= -0,21). As desta maneira, não apresentando diferenças nos padrões de
folhas do terceiro par (tempo 3) foram as que sofreram maior herbivoria entre as folhas de diferentes idades.
herbivoria (Figura 2). Como o nosso modelo de bioensaio não apresentou respostas
Os gafanhotos atacaram folhas em apenas três casos. Um relevantes (n=3), não houve possibilidade de confirmar se
gafanhoto consumiu apenas parte da folha jovem. Os outros os gafanhotos apresentaram preferência entre folhas novas
gafanhotos apresentaram herbivoria apenas nas folhas e maduras. Esta ausência de resposta (não ingestão das
maduras. Os gafanhotos só começaram a se alimentar após folhas) pelos gafanhotos pode estar relacionada a problemas
seis horas do alimento ser oferecido, parando de se alimentar experimentais como estresse, ou ser devido à não
após uma hora. palatabilidade da planta.

82 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


O tempo de exposição das folhas não influenciou as taxas Referências bibliográficas
de herbivoria, uma vez que a folha na idade 4 não foi a mais Coley, P. D. 1983. Herbivory and defensive characteris-
predada e sim as folhas da idade 3. É possível que as folhas tics of tree species in a lowland tropical forest.
na idade 3, quando jovens, tenham enfrentado um pico de
Ecological Monographs 53: 209-233.
abundância de seus herbívoros, sofrendo maior herbivoria
Dirzo, R. & C. Dominguez. 1995. Plant-herbivore
e consequentemente, permanecendo como registro tempo-
interactions in Mesoamerican tropical dry forests. In:
ral mesmo após a sua expansão. No entanto, não podemos
desconsiderar a possibilidade que a maior predação nas S. H. Bullock, H. A. Mooney & E. Medina (eds).
folhas da idade 3 pode ser ao acaso, uma vez que não foram Seasonally Dry tropical Forests. Cambridge University
realizados acompanhamentos anteriores da herbivoria du- Press, pp. 304-325.
rante o desenvolvimento foliar nessas folhas, e nem da Edwards, P. J. & D. Stephen. 1981. Ecologia das
abundância de seus herbívoros. interações entre insetos e plantas. Coleção Temas de
Em resumo, não encontramos relação entre herbivoria e biologia 27. EPU, São Paulo, Brasil, 71 p.
idade foliar e observamos que o tempo de exposição das Harbone, J. B. 1993. Introduction to ecology biochemis-
folhas não influenciou os resultados obtidos.
try. Academic Press, Londres, England, 318 p.
Rhoades, D. F. 1983. Herbivore population dynamics and
Agradecimentos plant chemistry. In: Denno, R.F. & Mc Clure, M.S.
Agradecemos a orientação de Selvino Neckel e a todos
(eds). Variable plants and herbivores in natural and
os professores e alunos do curso de campo Ecologia da
managed systems. Academic Press, New York, United
Floresta Amazônica pelas sugestões, discussões e convívio
agradável durante todos esses dias de curso. Aos States, 155-220.
coordenadores do curso Jansen e Dadão, por tudo e mais
um pouco que nos proporcionaram. Em especial à Amazônia Grupo 10 - Projeto Orientado 6
por incitar ainda mais nossa grande paixão. Orientador: Selvino Neckel

Eficiência da secreção repugnatória de Manaosbia


scopulata (Opiliones) contra predadores generalistas
Eduardo Gomes Vasconcelos, Ana Paula Carmignotto, George Camargo, Paula M. Pedrosa e Yumi Oki

Introdução substâncias quando perturbadas. Algumas espécies, como


Os opiliões (Opiliones) são invertebrados solitários e por exemplo Discocyrtus montanus e Eugyndes sp., não
vágeis, facilmente reconhecíveis pelo corpo oval compacto liberam secreção mesmo quando manipuladas (Machado &
e as pernas extremamente finas e longas (Borror & De Long Vasconcelos 1998).
1988). A maioria das espécies alimenta-se de insetos vivos Apesar de vários trabalhos especularem sobre a função
e mortos, e algumas espécies também comem frutos defensiva da secreção repugnatória dos opiliões (revisão
(Machado & Pizo 2000). Indivíduos pertencentes a esta em Holmberg 1983), nenhum estudo testou
ordem apresentam respostas comportamentais experimentalmente a eficiência dessa substância como
características frente a ataques de predadores. As estratégias estratégia defensiva em opiliões. Nesse sentido, o presente
de defesa freqüentemente observadas são: tentativa de fuga, estudo teve como objetivo testar se a substância liberada
tanatose e liberação de substâncias repugnatórias (Machado pela glândula repugnatória do opilião Manaosbia scopulata
et al. 2000). (Laniatores: Manaosbiidae) tem eficiência contra predadores
A secreção repugnatória dos opiliões é liberada através generalistas.
de um par de glândulas situado sobre o segundo par de
pernas e apresenta cheiro forte e desagradável (Machado & Métodos
Vasconcelos 1998). O uso da secreção repugnatória é, Realizamos o trabalho numa floresta de terra firme da
provavelmente, a tática de defesa mais comum empregada Amazônia Central, na Reserva Biológica do km 41 (02°24’S;
pelos membros da subordem Laniatores (Holmberg 1983). 59°52’W), localizada na vicinal ZF-3, da rodovia BR-174,
No entanto, nem todas as espécies do grupo liberam estas a 80 km ao norte de Manaus. O clima da região é classificado

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 83


como Am no sistema de Köepen: clima tropical úmido de entre o número de indivíduos recrutados entre os dois grupos
monções com precipitação excessiva e ocorrência de 1 a 2 experimentais e o tempo foi significativa (Tabela 1). Foi
meses de baixa precipitação. A pluviosidade média anual possível perceber uma maior diferença entre os números de
na região é de 2200 mm, sendo que os meses mais chuvosos indivíduos recrutados para os dois grupos experimentais a
(entre outubro a junho) apresentam cerca de 300 mm cada partir de 6 min (Figura 1). O tempo do primeiro contato no
(RADAMBRASIL 1978). papel tratado com secreção variou de 2 a 12 min, ao contrário
Escolhemos Manaosbia scopulata para realizar os do controle no qual o contato ocorreu geralmente em menos
experimentos propostos por ser uma espécie de opilião que de 1 min.
apresenta uma alta produção de secreção repugnatória. Esta
substância foi extraída das glândulas de cinco indivíduos
com auxílio de um capilar. A secreção de cada indivíduo Tabela 1. ANOVA de medidas repetidas realizada entre o
foi diluída em 200 ml de água para possibilitar a realização número de indivíduos de Crematogaster sp. recrutados no
de um maior número de réplicas para os experimentos. controle de solução açucarada (C) e no tratamento (T) de
Os predadores escolhidos como modelo para o solução açucarada + secreção repugnatória do opilião
experimento foram o anfíbio Atelopus espumarius (Bu- Manaosbia scapulata ao longo de 10 min.
fonidae; 8 indivíduos) e a formiga Crematogaster sp.
S.Q. g.l M.Q. F P
(Myrmicinae, 4 colônias). Os sapos ficaram 24 h em jejum
Grupos (C e T) 168,100 1 168,100 2,062 0,201
antes do experimento. Para cada sapo oferecemos um cupim
Erro 489,100 6 81,517
e imediatamente a ingestão após injetamos na boca dos
Tempo 740,100 4 185,025 16,037 0,000
indivíduos 50 ml da substância previamente diluída
(tratamento; n = 4) ou 50 ul de água (controle; n = 4). Em Tempo x Grupo 179,400 4 44,850 3,887 0,014

seguida, avaliamos o comportamento dos indivíduos por 3 Erro 276,900 24 11,538

min, observando se os sapos regurgitaram ou não o cupim,


o tempo da regurgitação e se o sapo apresentava reações de
rejeição ao alimento. 30
Para o bioensaio com formigas, colocamos na entrada
Número de indivíduos

25
de cada colônia dois pedaços de papel de filtro de
aproximadamente 6 cm² distanciados 1 cm entre si. Em um 20
C
desses pedaços colocamos 100 ul e solução açucarada 15
T
(controle) e no outro, 100 ul da solução açucarada misturada
10
à secreção. O registro para cada um dos pedaços de papel
filtro se iniciou no primeiro contato das formigas e teve 5
duração de 10 min. A cada 2 min foi registrado o número 0
de formigas que estavam em contato com os pedaços de 0 2 4 6 8 10
papel. O resultado deste experimento foi analisado através Tempo (minutos)
de uma ANOVA de medidas repetidas. Calculamos um
Figura 1. Número de indivíduos de Crematogaster sp. que
índice de visitação somando-se o número total de indivíduos
visitaram o controle de solução açucarada (C) e o
que visitaram cada pedaço de papel filtro e dividindo-o pelo
tratamento (T) de solução açucarada + secreção
tempo total de amostragem (número de indivíduos por
repugnatória do opilião Manaosbia scopulata ao longo de
minuto). O resultado do índice de visitação foi analisado
10 minutos.
através de um teste t pareado.

O índice de visitação não apresentou diferenças


Resultados
significativas entre o número de indivíduos que visitaram o
Todos os indivíduos de Atelopus spumarius apresentaram
controle e o tratamento nas quatro colônias testadas (t=
comportamento de aversão frente à ingestão dos cupins
1,244; df= 3; p= 0,302) (Tabela 2) .
juntamente com a secreção repugnatória. Nesses casos, após
a ingestão do cupim os animais abriram e fecharam a boca
e os olhos repetidamente, apresentando contorções corporais Tabela 2. Número de indivíduos de Crematogaster sp. por
e locomovendo-se constantemente. O comportamento dos minuto que visitaram o controle e o tratamento para
indivíduos no grupo controle foi totalmente diferente, sem cada uma das colônias testadas.
nenhuma reação de rejeição. Em todos os casos o cupim foi
ingerido e os sapos permaneceram imóveis, sem contrações COLÔNIAS CONTROLE TRATAMENTO
1 7,9 0,6
corporais. Nenhum indivíduo nos dois grupos experimentais
2 2,9 1,9
regurgitou o alimento oferecido. 3 4,3 4,1
No experimento realizado com as formigas, a interação 4 2,2 2,1

84 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Discussão eficiência da secreção contra outros tipos de predadores
O presente estudo é a primeira abordagem experimental como aranhas, aves e mamíferos devem ser testada
sobre a eficiência da secreção repugnatória de opilião con- experimentalmente.
tra predadores. Nossos resultados sugerem que a secreção
de Manaosbia scopulata é capaz de repelir formigas, um Agradecimentos
importante grupo de predadores em florestas tropicais Gostaríamos de agradecer ao INPA/PDBFF pela
(Hölldobler & Wilson 1990). Os sapos testados também oportunidade de realização deste trabalho, ao Dr. Glauco
apresentaram uma evidente reação de aversão à secreção Machado pela idéia e incentivo, ao Dr. Jansen e ao Ocírio
mas, ao contrário do que era esperado, não regurgitaram o Pereira pela ajuda na coleta dos animais para o experimento.
alimento oferecido juntamente com a secreção. Uma possível
explicação para tal resultado é que o tamanho corporal e a Referências bibliográficas
resistência física da presa oferecida (cupim) diferem em Borror, D. J. & D. M. DeLong. 1988. Introdução ao
relação aos opiliões, que são animais mais resistentes e Estudo dos Insetos. Editora Edgard Blücher, LTDA.
apresentam o corpo envolvido por espículas, podendo ser Duffiield, R.M., Olubajo, O., Wheeler, J.W. & Shear,
mais facilmente regurgitados (G. Machado, com. pess.). W.A., 1981. Alkyphenols in the defensive secretion of
Outra possibilidade foi a alta diluição da secreção, que pode the Neartic opilionid, Stygnomma spinifera (Arach-
ter minimizado a reação aversiva desenvolvida pelos nida: Opiliones). Journal of Chemical Ecology, 7, 445-
anfíbios. Além disso, nesta espécie de anfíbio não se sabe 452.
se a reação de regurgitar é uma reação normal de aversão. Holmberg, R.G., N.P.D. Angerilli & J.L. Lacasse. 1984.
Há registros fragmentários de que a secreção liberada Overwintering aggregation of Leiobunum paessleri in
pelos opiliões detêm predadores, entre eles as formigas caves and mines (Arachnida, Opiliones). Journal of
(Duffield et al. 1981). É provável que o atraso temporal em Arachnology, 12:195-204.
relação ao primeiro contato na solução tratamento quando Machado, G. & C. H. F. Vasconcelos. 1998. Multi-species
comparado à solução controle esteja relacionado à rejeição aggregations in Neotropical harvestmen (Opiliones,
das formigas. Além disso, verificamos um maior Gonyleptidae). Journal of Arachnology 26: 389-391.
recrutamento das formigas que visitaram a solução controle Machado, G & M A. Pizo. 2000. The use of fruits by the
ao longo do tempo. O menor recrutamento de indivíduos de Neotropical harvestman Neosadocus variabilis
Crematogaster sp., como conseqüência da secreção (Opiliones, Laniatores, Gonyleptidae).Journal of
repugnatória, oferece suporte adicional da eficiência dessa Arachnology 28: 357-360.
substância na repulsão de formigas. É possível que para Machado, G.; R. L. G. Raimundo & P. S. Oliveira. 2000.
subjugar um opilião do porte de M. scopulata seja necessário Daily activity schedule, gregariousness, and defensive
um número elevado de formigas. No entanto, a curva de behavior in the Neotropical harvestman Goniosoma
recrutamento de indivíduos no grupo tratamento se estabiliza longipes (Opiliones: Gonyleptidae). Journal of Natural
em cerca de 5 indivíduos após 8 minutos. Ao contrário, no History 34: 587-596.
grupo controle o número de formigas recrutadas continua RADAMBRASIL. 1978. Levantamento de Recursos
aumentando ao longo de todo o experimento, alcançando Naturais, vol. 1-18. Ministério de Minas e Energia,
até 20 indivíduos. Departamento de Produção Mineral, Rio de Janeiro.
Podemos concluir que existe um efeito defensivo da
secreção repugnatória liberada por M. scopulata contra Grupo 10 Projeto Orientado 7
predadores generalistas. No futuro, investigações sobre a Orientador: Glauco Machado

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 85


Aceitação de indivíduos alados de Pheidole minutula
(Formicidae) por outras colônias em função da
distancia da colônia de origem
Flávio José Soares Jr., André Mendonça, Patrícia Garcia Tello, Sylvia Miscow Mendel, Vanina Zini Antunes

Introdução A distribuição dos indivíduos de M. guianensis ocorre


Colônias de insetos sociais são composta por operárias, em manchas, próximas aos igarapés. Segundo Vasconcelos
soldados e rainha. Em formigas, o número de rainhas por (1993), a estrutura populacional das colônias de P. minutula,
colônia pode variar de uma (monoginia) a várias (poliginia) cujos indivíduos alados têm capacidade limitada de
por colônias (Hölldobler & Wilson, 1990). Em se tratanto dispersão, favorece as plântulas que se estabelecem
de colônias hospedeiras de mirmecófitas, poliginia é a próximas às matrizes, pois as mesmas passam a ter maiores
condição predominante e supostamente, aumenta a chance chances de serem colonizadas por rainhas após o vôo
de sobrevivência da colônia (Wilson, 1971), que na ausência nupcial. Dessa maneira, a chance de uma determinada
de uma reprodutora, tem na fertilidade das demais a garantia colônia ser colonizada por rainhas diminui com a distância
de manutenção da estrutura genética do grupo (Fonseca, das novas plantas em relação aquela da população. A
com. pessoal). conseqüência desse fato, é o isolamento ao qual grupos de
A organização social poligínica pode ocorrer por mirmecófitas são submetidas, resultando em restrição ao
recrutamento de novas rainhas, tolerância à presença das fluxo gênico a pequenas populações e obviamente,
fêmeas reprodutivas, filhas da rainha, ou por fusão de propiciando aumento na heterogeneidade gênica entre as
colônias (Hölldobler & Wilson, 1990). Destas alternativas populações (estruturação gênica).
podem surgir combinações ou mesmo outras formas de Nosso objetivo foi a) testar a aceitação de indivíduos
estabelecimento de poliginia, mas, iniciar uma colônia com alados de Pheidole minutula por outras colônias a diferentes
mais de uma rainha não significa que a mesma se manterá distâncias; b) investigar a agressividade das formigas
poligínica até a maturidade. operárias e/ou soldados à presença dos alados introduzidos.
Colônias poligínicas, normalmente, são conflitantes mas,
como exceção à regra, existem poliginias harmônicas, a Métodos
exemplo do Pheidole, que apesar de pouco conhecida, sabe- O trabalho foi realizado em um trecho de Floresta de
se que forma colônias com diversas rainhas em convivência Terra Firme da Reserva do km 41 (59º43’40" O 2º24’26"
harmônica (Wilson, 1971). S) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais,
Mirmecofitismo, um dos objetos de nossa investigação, localizada a aproximadamente 90 km ao norte de Manaus,
é um termo que define a relação de plantas que vivem em Amazônia, Brasil.
constante mutualismo com colônias de formigas (Hölldobler Trabalhamos em dois baixios ao longo da trilha J da
& Wilson, 1990). Entretanto, segundo Fonseca reserva, distantes 500m um do outro. Do interior das
(comunicação pessoal), o mesmo termo mirmecófita é usado domáceas dos indivíduos de Maieta guianensis encontrados,
para definir as plantas que possuem estruturas morfológicas retiramos, com o auxílio de uma pinça entomológica, um
especializadas conhecidas como domáceas, para abrigar mínimo de três formigas aladas Pheidole minutula,
colônias de formigas. Nesta interação, a formiga retribui independente do sexo.
com proteção contra herbivoria e limpeza da superfície fo- Realizamos três transplantes com as formigas retiradas.
liar a otimizando a produção primária da mesma. No primeiro transplante, considerado como controle,
Mirmecofitismo é conhecido em vários gêneros de colocamos a formiga em uma folha da planta de origem. O
plantas da América do Sul, como em Maieta primeiro e o segundo tratamento consistiram em transplantes
(Melastomataceae), cujas domáceas assemelham-se a bolsa das formigas para uma planta localizada a, no máximo, 10m
localizadas próximas ao pecíolo. Maieta guianensis é um e a aproximadamente 500m , respectivamente, da planta de
pequeno arbusto de ocorrência nas Florestas Ombrófilas da origem.
Amazônia (Benson, 1985) que produz domáceas com dois As variáveis observadas foram a aceitação ou rejeição
compartimentos, um para a colônia e outro para detritos. da formiga transplantada pela colônia da planta hospedeira
Suas folhas possuem tricomas que se estendem até os ramos, em relação à formiga transplantada e a forma com que as
de forma que os indivíduos de Pheidole minutula não operárias e ou soldados receberam o alado (com
encontram dificuldades em se locomover , como também agressividade ou não). Os critérios estabelecidos para se
fazem uso destas estruturas para levar vantagens sobre os considerar um alado como aceito ou rejeitado foram o tempo
invasores (Hölldobler, 1990). de observação (30 minutos e o experimento era refeito) e se

86 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


o alado entrava ou não na domácea.
Para avaliar a agressividade da colônia em relação ao
intruso e o efeito da distância sobre o aceite ou rejeição do
mesmo, fizemos testes G (Zar, 1984) para o total de formigas
transplantadas e separadamente, para machos e fêmeas.

Resultados
Realizamos um total de 39 transplantes, sendo três ma-
chos e nove fêmeas no controle, cinco machos e oito fêmeas
no transplante a 10m e quatro machos e dez fêmeas nos
transplantes a 500m.
Figura 2. Número total de indivíduos alados aceitos pela
A variável “agressividade” das operárias e soldados ao
distância da colônia original.
alado introduzido, foi acrescentada na expectativa de
delinear melhor as afinidades existentes entre as colônias.
Nossas observações em campo, evidenciaram que o alado
ocasionalmente encontrava alternativas para sobrepujar o a)
ataque das operárias e soldados. Assim, a reação insistente
e agressiva das operárias em repelir o alado invasor foi 1,5
contabilizada como alternativa à opção entrada ou não nas

aceitos
domáceas Alados 1,0
O teste “G” para a relação de agressividade das operárias,
destacando a maior agressividade nos transplantes à 500 m
e a menor no controle (Figura 1), comparando observado e
esperado (G=20,995, gl=2, p<0,001), apresentou-se
significativa, enquanto para as classes controle e 500 metros,
os valores apareceram em razão inversa.
O sucesso dos transplantes ocorridos nas plantas controle
(100% de aceitação) não se repetiu em nenhuma das duas
classes seguintes (10 e 500m). As proporções de indivíduos
aceitos nessas duas categorias foram de 61,5% e 69%,
respectivamente (Fig 2).
Quando o grupo de alados foi tratado como grupos
distintos (machos e fêmeas) a proporção de aceitação foi
semelhante entre o grupo controle e as demais.(Fig 3).

Agressões

Figura 3. Número de indivíduos alados aceitos pela


14
distância da colônia original, sendo (a) machos e (b)
12
fêmeas. As barras escuras correspondem ao número de
Alados agredidos

10 alados observado e as barras claras correspondem ao


8 número de alados esperado.
6
4
A análise, a partir de então, ressaltou uma condição simi-
2
lar à anterior tanto no grupo controle quanto nos grupos a
0
10 e 500m. Para o último grupo a reação agressiva foi
0 10 500
verificada para 100% dos transplantes, o que não impediu
Distância (m ) que 35% dos alados transplantados conseguissem alcançar
a domácea.
Figura 1. Número de alados agredidos por operárias e
A comparação entre os valores obtidos e os valores
soldados das colônias transplantadas as diversas
esperados para o conjunto de alados apresentou uma
distâncias.
diferença significativa (G=14,223, gl=2, p=0,001). Para os
dados individualizados de machos e fêmeas, salvo a classe

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 87


intermediária (10m), as demais foram diferentes. ocupação de um grupo de colônias geneticamente afins se
As observações de campo evidenciaram diferenças en- restringiria a um raio inferior a 10m.
tre os tratamentos controle, 10 metros e 500 metros.
Entretanto, as diferenças encontradas entre os tratamentos Agradecimentos
10 e 500m não foram significativas, tendo por base a entrada Agradecemos às populações de Maeta guianensis por
ou não do alado nas domáceas. Este resultado contraria nossa nos permitir trabalhar em suas domáceas e às colônias de
expectativa incial que supunha diferenças quanto à formigas por nos deixar entrar em seus lares sem questionar
proporção de aceites entre 10 e 500m, sendo o menor nesta as nossas intenções (como se elas tivessem opção).
última classe. O fundamento para esta expectativa está na Agradecemos também ao prof. Carlos Fonseca (Tachi) pela
distribuição em manchas das populações de Maieta orientação e paciência (muita paciência), ao INPA pelo
guianensis, onde ocorrem grupos de colônias geneticamente financiamento e oportunidade de trabalho.
afins. Estas manchas, cujos limites se restringem ao tamanho
das populações de M. guianensis, estabeleceriam com o Referências Bibliográficas
passar dos ciclos reprodutivos a melhor estruturação Benson, W. W. 1985. Amazon ant-plants. in: Prance, G.
genética do grupo. and T. Lovejoy, Eds., Amazonia, pages 239-266.
A análise entre aceitação e distância sugere que os grupos Pergamon Press, Elmsford, NY.
de indivíduos de M. guianensis de uma mesma população, Hölldobler, B. & E. O. Wilson. 1990.The Ants. Harvard
já que ocorreu aceitação dos alados por parte da colônia em University Press,
uma proporção similar nos transplantes a 10 e 500m. Quando Vasconcelos, H. L. 1993. Ant colonization of Maieta
conflitamos a recepção agressiva das operárias com a guianensis seedlings, an Amazon ant-plant. Oecologia
distância dos alados em relação às colônias, observamos 95: 439-443.
que a rejeição é tão grande a 10 quanto a 500m, independente Wilson, E. O. 1971. The Insects Societies. The Belknap
do sucesso posterior em ocupar a domácea. Essa situação Press of Harvard University Press Cambridge, Massa-
poderia ser um indicativo de que a área limite para a chusetts and London, England.

Efeito de borda sobre a herpetofauna de serapilheira


em uma floresta de terra firme na Amazônia Central
André Faria Mendonça, Flávio José Soares Júnior, Patricia García Tello , Sylvia Miscow Mendel, Vanina Zini Antunes

Introdução Desta forma, podem ser especialmente úteis como


A fragmentação de uma floresta contínua resulta no indicadores da integridade geral de um ecossistema.
aumento considerável da sua quantidade de borda, fazendo A riqueza de espécies e abundância de anfíbios e répteis
com que o interior da mata seja exposto a mudanças podem ser correlacionadas a caracterísicas do habitat como
microclimáticas drásticas como aumento da luminosidade, umidade e espessura da serapilheira (e. g. Fauth et al. 1989).
temperatura, exposição ao vento, decréscimo da umidade, Se mudanças no tamanho da área e vegetação alteram estas
dentre outros (Soulé, 1986). Embora numerosos características, sendo que haveria um aumento na
estudos tenham examinado os efeitos da fragmentação de serapilheira na borda do fragmento devido ao aumento da
habitats sobre pássaros e mamíferos (Andren, 1994), sabe- abundância de espécies pioneiras, lianas e galhos caídos no
se muito pouco sobre outros taxa de vertebrados sob este solo, esperaríamos mudanças correspondentes na riqueza e
aspecto. Apesar disso, alguns autores têm sugerido que abundância das espécies de herpetofauna.
anfíbios e répteis são particularmente sensíveis aos efeitos Sendo assim, os objetivos deste trabalho foram avaliar
da fragmentação (Bradford et al.1993). as mudanças nas condições abióticas (temperatura, umidade
Os anfíbios, por apresentarem uma forte fidelidade local do ar e espessura da serapilheira) em ambientes de borda e
e uma limitada capacidade de dispersão (Sinsch, 1990), interior de floresta, e relacioná-las a possíveis alterações na
dependem de regimes de umidade que podem ser alterados abundância e composição da herpetofauna local.Métodos
pela fragmentação. Além disso, têm um ciclo de vida Este trabalho foi realizado em uma área de terra firme ao
bifásico, vivendo a larva e o adulto em habitats separados. longo da estrada de acesso à Reserva do km 41 (59º43’40"

88 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


O e 2º24’26" S) do Projeto Dinâmica Biológica de 82
Fragmento Florestais, localizada a 80 km ao norte de 80

umidade relativa (%)


Manaus, AM, Brasil. 78

Com o auxílio de uma tela de nylon, usada para evitar à 76

fuga dos anfíbios e repteis, fizemos um total de 12 parcelas 74

de 3 x 3m, distribuídas alternadamente em seis pares em 72

cada lado da estrada. Cada par amostral consistia de uma 70

68
parcela na borda da mata e outra a 50m desta. 7:50-8:10 8:45-9:10 9:45-10:00 10:20-10:40 11:07-11:20 11:38-12:00
Em cada parcela, fizemos uma varredura manual pelo horário de observações
folhiço da área total da parcela à procura de répteis e
anfíbios, sendo que não utilizamos um tempo determinado Figura 2. Variação da umidade relativa do ar em
para essa amostragem. diferentes horários do dia nos diferentes pares amostrais
Em cada ponto de amostragem foram mensuradas as ( Borda Interior ).
variáveis microclimáticas como temperatura e umidade
relativa do ar, a espessura da serapilheira e anotado o horário
de coleta. 14

espessura da serrapilheira (cm)


Analisamos as variáveis microclimáticas nos pares 12

amostrais com um teste t pareado para determinar se havia 10

uma diferença significativa na riqueza e abundância entre a 8

borda e o interior da mata. 6

Resultados
Foram encontrados dois Bufo tiphonius, em diferentes
parcelas no interior e cinco Coleodactylus amazonicus em
diferentes parcelas (três na borda e dois no interior da mata).
Sendo que em apenas uma parcela foram registrados dois
indivíduos (um B. tiphonius e um C. amazonicus). Figura 3. Variação da espessura da serapilheira nos
Observamos que a temperatura no interior da floresta e diferentes pares amostrais (barra negra = borda e barra
na borda aumentou ao longo da manhã, entretanto a variação cinza = interior).
entre os dois locais não foi significativa (t = 1,581; df = 5; p
= 0,175) (Fig.1). Discussão
Devido ao pequeno número de indivíduos não foi possível
fazer uma análise estatística, entretanto relacionamos os
28,5
resultados com as características ambientais mensuradas.
temperatura do ar (0C)

28,0
27,5
27,0
A semelhança da temperatura nos dois ambientes indica
26,5 que a distância de 50m não é suficiente para ter diferença
26,0
25,5 entre a borda e o interior da floresta e pode ter contribuído
para uma maior dispersão de répteis de folhiço, que
necessitam de calor para termorregular. Isso também pode
ter contribuído para a ocorrência de C. amazonicus tanto na
borda como no interior.
Figura 1. Variação da temperatura em diferentes horários A ocorrência dos anfíbios só no interior pode ter sido
do dia nos diferentes pares. amostrais ( Borda Interior ). determinada pela umidade, pois esse grupo é dependente
de locais mais úmidos, mesmo no caso dos bufonideos que
são o grupo de anfíbios mais tolerantes a valores mais baixos
Na maioria dos pares amostrais a a umidade relativa do de umidade relativa do ar. Sendo assim, esse grupo pode
ar apresentou-se mais alta no interior da floresta, entretanto ser usado como um indicador de qualidade da floresta ou
essa diferença não foi significativa (t = 1,048 ; df = 5 ; p = de fragmentos de floresta, pois em locais onde os ambientes
0,343) (Fig.2). florestais estão mais degradados, existe uma maior
Em relação a espessura da serapilheira não foi observado permeabilidade aos fatores ambientais externos.
um diferença significativa entre a borda e o interior da Mesmo não tendo havido diferenças na espessura da
floresta (t = 0,210 ; df = 5 ; p = 0,842), sendo que houve serapilheira, a qualidade e composição desta podem ser
uma maior diferença entre os pares amostrais (Fig 3). fatores determinantes na distribuição das espécies que vivem
neste tipo de habitat, o que resta ser estudado com mais
detalhe.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 89


Agradecimentos Kings Canyon National Parks, California. Conserva-
Agradecemos ao Selvino pela orientação e ao INPA pela tion Biology, 7: 882-888.
oportunidade e pelo financiamento. Marsh, D. M. & P. B. Pearman, 1997. Effects of habitat
fragmentation on the abundance of two species of
Referências Bibliográficas Leptodactylid frogs in an Andean Montane Forest.
Andren, H. 1994. Effects of habitat fragmentation on Conservation Biology, 11: 1323-1328.
birds and mammals in landscapes with different Sinsch, U. 1990. Migration and orientation in anuran
proportions of suitable habitat. Oikos, 71: 355-366. amphibians. Ethology, Ecology & Evolution, 2: 65-79.
Bradford, D. F., F. Tabatai & D. M. Graber. 1993. Soulé, M. E. 1986. Conservation Biology. The science of
Isolation of remaining populations of the native frog. scarcity and diversity. Sinauer Associates, Inc.
Rana muscosa, by introduced fishes in Sequoia and Publishers. Sunderland, Massachusetts.

Diversidade de galhas em ambientes de


borda e de interior da mata
Daniela Chaves Resende, Eduardo Cardoso Teixeira, Ana Maria Benavides, Luiz Henrique Claro Júnior, Carina Lima da Silveira,

Introdução defesas das plantas contra a herbivoria e dessecação, nos


O efeito da fragmentação de habitats sobre a composição ambientes xéricos, já que controlam todo o aparato
de espécies tem sido amplamente estudado (Bierregaard-Jr fisiológico da planta (Fernandes et al, 1995, Gonçalves-
& Stouffer, 1997, Brown-Jr & Hutchings, 1997, Goosem, Alvim & Fernandes, 2001a).
1997). Em ambientes de borda e de mata os fatores que Estudos pontuais realizados na Amazônia Central
atuam sobre as espécies são, principalmente, os gradientes indicam a existência de uma alta diversidade de galhas neste
de umidade e de temperatura (Laurance, 1997). No interior ambiente (Mendes et al., este volume). Assim, o objetivo
da mata, geralmente, a temperatura é mais amena e a deste estudo foi comparar a riqueza de galhas entre um
umidade mais elevada. Por sua vez, nas bordas de mata, a ambiente de mata e um de borda na Amazônia Central.
entrada de luz é muito acentuada, o que afeta diretamente a
temperatura ambiente e a umidade local, modificando de Métodos
forma considerável os microhabitats (Laurance, 1997). O trabalho foi desenvolvido na Reserva do Km 41 (2o
Galhas são tumores vegetais causados por diversos 24’S 59o 44’W), localizada a 80 km ao norte de Manaus,
organismos como fungos, nematódeos, bactérias, vírus e, AM, durante o mês de novembro de 2002. A reserva é
principalmente, insetos. Os principais fatores que constituída por uma área de 10.000 ha de floresta de terra
determinam a diversidade e a distribuição dos agentes firme, pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de
galhadores são: os inimigos naturais, a diversidade e a Fragmentos Florestais (PDBFF, INPA/Smithsonian). A
história da planta hospedeira, a resistência da planta, as temperatura média anual é de 26,7o C e a precipitação anual
características físicas e climáticas do habitat, os distúrbios é de aproximadamente 2300 mm (Lovejoy & Bierregaard
antrópicos e, sob o ponto de vista de gradientes 1990).
biogeográficos, a altitude, a latitude, a temperatura e a Para o levantamento da riqueza de galhas, quatro
umidade (Fernandes & Price, 1988). coletores percorreram um transecto de 1 Km, cada um, nos
Os galhadores são ecológica e taxonomicamente ambientes-alvo (mata e borda), distantes 100 metros entre
diversificados (Fernandes & Price, 1988) e, além disso, si. Como borda, foi utilizada a vegetação imediatamente na
apresentam interações específicas com suas plantas interface entre a mata e a estrada de acesso à reserva. O
hospedeiras. Vários estudos indicam uma maior riqueza de esforço amostral foi padronizado em 1hora/transecto/
galhas em ambientes xéricos comparados com os ambientes ambiente.
mésicos (Fernandes et al., 1995, Fernandes et al., 2002, Todas as galhas avistadas nas plantas, até uma altura de
Gonçalves-Alvim & Fernandes, 2001b, Price et al., 1998). 2 metros, ao longo de cada transecto foram coletadas e
Este padrão de diversidade tem sido explicado, acondicionadas em saco plástico para posterior
principalmente, pela mortalidade diferencial dos organismos identificação. Em laboratório, foram determinados alguns
galhadores entre estes dois ambientes. Aparentemente, os caracteres importantes para a identificação das
agentes galhadores utilizam a seu favor o aumento das morfoespécies de galhas: presença/ausência de pêlos, cor,

90 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


forma e morfoespécie da planta hospedeira. 70

Para análise dos dados foi utilizada a riqueza de espécies 60

de galhas de cada ambiente e foi calculado o teste de


50
Wilcoxon. As coletas realizadas por cada coletor em cada

Distância Euclidiana
ambiente (mata e borda) foram consideradas amostras 40

pareadas, para evitar diferenças na habilidade de 30

reconhecimento e coleta de galhas de cada um.


20
Para a análise da similaridade da composição de espécies
entre os ambientes e entre cada parcela amostral, foi 10

produzido um dendrograma baseado na Distância Euclidiana 0

e feito o UPGMA como método de agrupamento (Krebs, M1 M2 M3 M4 B1 B2 B3 B4

1998). Figura 2. Dendrograma de similaridade baseado na


composição de espécies registrada em cada uma das
Resultados parcelas amostradas, na reserva do Km 41, Amazônia
Foram registradas um total de 71 morfoespécies de Central. M1, M2 e M3 indicam parcelas no interior da
galhas, sendo que destas, 45 (63,4%) foram amostradas na mata e B1, B2, B3 e B4, área de borda.
borda e 26 (35,2%) na mata. A borda foi mais rica em
de galhas (Fernandes & Price, 1992, Fernandes et al., 1995).
espécies do que o interior da mata (N= 4; z= 1,82; p= 0,03;
Esta maior riqueza de galhas em habitats secos pode estar
Fig. 1).
relacionado a diversos mecanismos ecológicos e processos
24 evolutivos que moldam as relações entre o ambiente, o
galhador e a planta (Gonçalves-Alvim & Fernandes, 2001b).
20
Estudos recentes indicam que insetos galhadores sofrem
maiores pressões seletivas exercidas por inimigos naturais
Riqueza de galhas

16

e por resistência de plantas em ambientes úmidos, quando


12
comparados a ambientes secos (Fernandes et al, 1995,
8 Gonçalves-Alvim & Fernandes, 2001a).
Além disso, a composição e a riqueza específica de galhas
4
estão diretamente relacionadas com a composição e a riqueza
0 florística do ambiente (Fernandes, 1992). A maior densidade
Borda Mata
de espécies vegetais encontrada em ambientes de borda de
Habitat
mata, talvez, seja outro importante fator que estaria elevando
Figura 1. Riqueza de espécies de galhas registrada por a riqueza de espécies de galhadores nesses ambientes. Tal
transecto nos ambientes de clareira e de mata, na reserva hipótese não pôde ser testada pelo nosso estudo, pois o
do Km 41, Amazônia Central. As barras mostram os método de coleta estabelecido não nos permitiu estimar a
valores máximo e mínimo para cada ambiente e as caixas densidade de plantas em cada ambiente. No entanto, o
representam os percentis. método de transectos padronizado por tempo nos
possibilitou fazer uma melhor caracterização da comunidade
O dendrograma de similaridade, baseado na composição de galhadores presentes em cada local.
de morfoespécies de galhas dos ambientes amostrados (Fig. A distinção das comunidades de galhas de ambientes
2), indica uma maior similaridade entre as parcelas de cada secos e úmidos assinala o potencial de utilização das galhas
ambiente do que entre os ambientes de mata e borda, como organismos indicadores de diversidade e qualidade
demonstrando que a comunidade de galhadores que do habitat (Fernandes et al., 1995). Assim, é de crucial
compõem tais ambientes são muito distintas. importância que futuros estudos de avaliação da riqueza de
galhadores de ambientes de mata contemplem o dossel, já
Discussão que é possível que a maior concentração de galhas na mata
Nosso estudo registrou uma maior riqueza de galhas na esteja na copa das árvores.
borda da mata, caracterizado como um ambiente mais
exposto à ação da radiação solar e à dessecação, do que no Referências Bibliográficas
interior da mata, ambiente mais úmido. Este padrão de Bierregaard-Jr, R. O. & P. C. Stouffer. 1997. Understory
riqueza de espécies galhadores é semelhantes ao registrado birds and dynamic habitat mosaics in Amazonian
em outros locais (Fernandes et al., 1995, Fernandes et al., rainforest, p. 138-155. In: W. F. Laurance & R. O.
2002, Price et al., 1998). Habitats mais estressados Bierregaard-Jr (eds.).b 1997. Tropical forest remnants.
nutricional e higrotermicamente, tanto em ambientes Ecology, management, and conservation of fragmented
tropicais quanto em temperados, são mais ricos em espécies communities. Chicago: The University of Chicago

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 91


Press. Biodiversity of galling insects: historical, community
Brown-Jr, K. S. & R. W. Hutchings. 1997. Disturbance, and habitat effects in four neotropical savannas.
fragmentation,and the dynamics of diversity in Biodiversity and Conservation (in press).
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Laurance & R. O. Bierregaard-Jr (eds.).b 1997. roads, highways, and powerline clearings on move-
Tropical forest remnants. Ecology, management, and ments and mortality of rainforest vertebrates, p. 241-
conservation of fragmented communities. Chicago: 255. In: W. F. Laurance & R. O. Bierregaard-Jr
The University of Chicago Press. (eds.).b 1997. Tropical forest remnants. Ecology,
Fernandes, G.W. 1992. Plant family size and age effects management, and conservation of fragmented commu-
on insular gall-forming species richness. Global nities. Chicago: The University of Chicago Press.
Ecology and Biogeography Letters 2: 71-74. Mendel, S. M., D.C. Resende, A. M. Benavides &
Fernandes, G. W., A. S. Paula, R. Loyola-Jr. 1995. G.Camargo. Este volume. Efeito de borda sobre a
Distribuição deferencial de insetos galhadores entre composição e abundância de galhas em Symmeria
hábitats e seu possível uso como bioindicadores. Vida paniculata (Polygonaceae) na margem do lago do
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20. O. Bierregaard-Jr (eds.).b 1997. Tropical forest
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Lombardi, A. S. Paula, R. Loyola-Jr. & T. G. fragmented communities. Chicago: The University of
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Fernandes, G. W, T. G. Cornelissen, R. M. S. Isaias & A. ecosystems project, p. 60-74. In: A. H. Gentry (ed.).
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diferentes fisionomias do cerrado em Minas Gerais,
Brasil. Revista Brasileira de Zoologia 18(supl. 1): 289- Projeto orientado 6 /Grupo 12
305.
Gonçalves-Alvim, S. J. & G. W. Fernandes. 2001. Orientador: Geraldo W. Fernandes.

Estratégia foliar e herbivoria em matas de baixio e


platô na Amazônia Central
Luiz Henrique Claro Junior, Carina Lima da Silveira, Daniela Chaves Resende, Eduardo Cardoso Teixeira, Ana Maria Benavides

Introdução ao meio abiótico e iii) a pressão de herbívoros (Fonseca et


A grande diversidade de formas foliares existentes nas al. 2000).
comunidades vegetais refletem a variedade de estratégias A altura em que as folhas estão expostas está fortemente
adaptativas resultante de diversas pressões seletivas. As relacionadas à competição por luz, sendo dependente da
plantas, de modo geral, enfrentam pelo menos três grandes disponibilidade de recursos, tais como, água e nutrientes
pressões: i) a competição com outras plantas pela luz (Richards 1979). Além disto, o tamanho e a forma das folhas
disponível para a realização da fotossíntese, ii) a adequação estão relacionados à eficiência de troca gasosa de água e de

92 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


dióxido carbônico que em última instância determinam Tabela I. Classes utilizadas para avaliar o nível de
eficiência fotossintética. Como exemplo, plantas de floresta herbivoria das folhas, baseado em Dirzo e Dominguez
apresentam, em geral, folhas maiores e mais finas do que (1995).
plantas características de ambientes xéricos, que apresentam
Classe de Área foliar consumida (%)
folhas menores e mais coriáceas (Fonseca et al. 2000). Da
mesma forma, plantas que evoluem em ambientes ricos em herbivoria
nutrientes também apresentam maior área foliar do que 0 0
plantas que evoluem em ambientes mais pobres (Fonseca et
1 1–6
al. 2000).
Segundo Coley (1983), herbivoria em comunidades 2 6 – 12
naturais pode ser alta, reduzindo o crescimento e a 3 12 – 25
reprodução das plantas, e influenciando no resultado
4 25 – 50
competitivo dos indivíduos e na composição da comunidade.
A distribuição de defesas entre espécies e tecidos vegetais 5 50 - 100
reflete, ecologicamente e evolutivamente, na dinâmica dos
herbívoros. Várias características físicas, químicas e
nutricionais da folha podem ser medidos e correlacionados Para avaliarmos se havia diferença, em relação às
aos níveis de herbivoria e história de vida da planta (Coley estratégias como comprimento, largura, espessura e no nível
1983), porém, pouco se sabe como as folhas, através de de herbivoria, entre os dois ambientes usamos análises de
estratégias adaptativas, tem refletido defesa contra variância (ANOVA). Usamos uma análise de covariância
herbívoros. (ANCOVA) para testar se a adoção de diferentes estratégias
Nosso objetivo neste trabalho foi: (a) comparar as foliares afetaram o nível de herbivoria nas plantas. Em todas
estratégias foliares entre o sub-bosque de matas de platô e as análises, cada folha coletada foi considerada uma amostra
de matas de baixo, numa região da Amazônia Central e (b) independente.
testar se a adoção de diferentes estratégias tem
conseqüências para a herbivoria foliar. Nós testamos duas Resultados
hipóteses: i) a de que folhas na mata de igarapé são menores, A largura das folhas foi a estratégia que apresentou-se
mais finas e menos espessas, uma vez que a comunidade diferentemente nos dois ambiente estudados (F[1,317]=12,84,
deste ambiente seria constituída principalmente de espécies p<0,001; R2=0,93; Fig. 1). As folhas da mata da borda do
de crescimento rápido e ii) a hipótese de que a estratégia de igarapé são 1,23 vezes mais largas que as folhas da mata de
crescimento rápido torna as plantas mais suscetíveis à platô. Em relação a espessura e comprimento das folhas,
herbivoria. não foi encontrada diferença significativa destas
características nos dois ambientes estudados (F[1,317]=0.20,
Métodos p=0.65; R 2 =0,17 e F [1,317] =3,27, p=0,07, R 2 =0,73
Este trabalho foi realizado na Reserva do km 41 respectivamente).
localizada a cerca de 80 km a NE de Manaus (AM), nas
coordenadas 020 24’S e 590 44’W, Amazônia Central, em
uma mata de terra firme. As altitudes variam entre 50-150m
acima do nível do mar e a temperatura média é de 26,70C
5.8
com médias anual é de 2,186 mm, sendo março e abril os
5.6
meses mais chuvosos com cerca de 300 mm cada e o período
5.4
Largura da Folha (cm)

mais seco entre julho e setembro. O solo predominante é o


5.2
latossolo amarelo (Lovejoy & Bierregaard 1990).
5.0
Nossas amostragens foram divididas em quatro blocos.
4.8
Dentro de cada bloco foram estudados dois tipos de
4.6
ambientes: um caracterizado por uma mata de platô e e outro
4.4
por mata de borda de igarapé. Em cada ambiente foi traçado
4.2
um transecto de 20 metros onde, a cada 50 cm, uma folha à
4.0
altura de um metro foi coletada. Igarapé Platô
Para avaliarmos a estratégia foliar medimos o Ambiente
comprimento, a largura e a espessura das folhas. Para
determinarmos o nível de herbivoria realizamos uma Figura 1. Largura das folhas encontradas no ambiente de
estimativa visual da área foliar consumida e utilizamos as igarapé e platô, na Reserva do Km 41, Amazônia Central.
classes de porcentagem de herbivoria de acordo com Dirzo Os quadrados representam a média e as barras mostram o
e Dominguez (1995; Tab. I). erro padrão.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 93


O nível de herbivoria sobre as folhas coletadas não foi contradiz o padrão esperado pela literatura (Fonseca et al.
diferente nos dois ambientes estudados (F[1,317]=0.20; 2000). Esta diferença talvez tenha sido constatada pelo fato
F=0,07; p=0,78; R2=0,07). No entanto, houve uma interação dos igarapés desta região serem muito encaixados na mata,
significativa entre o efeito da largura da folha e os ambientes o que deve dificultar, consideravelmente, a entrada de luz
estudados sobre o nível de herbivoria apresentado pelas nestes ambientes.
folhas (Tab. II). A relação entre a largura da folha e o nível O fato da relação entre a largura da folha e nível de
de herbivoria é mais acentuada para a mata de platô do que herbivoria ter sido mais acentuado na mata de platô do que
para a mata de igarapé (Fig. 2). na mata de igarapé pode indicar, por exemplo, uma distinção
na composição de espécies de herbívoros entre os dois
ambientes. Uma vez que, na mata de platô as folhas são
5 freqüentemente mais finas, é possível que a fauna
4 Platô
característica deste ambiente selecione as folhas mais largas,
fazendo com que a pressão de herbivoria seja distinta em
Classe de herbivoria

3 função da largura.
2
Igarapé Agradecimentos
1
Agradecemos ao prof. Carlos “Tachi” Fonseca pela
0 orientação e por nos mostrar, em tão pouco tempo, algumas
0 2 4 6 8 10 12 14 16
das maravilhas da Floresta Amazônica.
Largura da folha (cm)
Referências
Figura 2. Largura da folha em relação ao nível de
Coley, P. D. 1983. Herbivory and defensive characteris-
herbivoria nos dois ambientes estudados, na reserva do
Km 41, Amazônia Central. tics of tree species in a Lowland Tropical forest.
Ecological Monographs, 53(2): 209-233.
Crawley, M. J. (ed.). 1997. Plant Ecology. Blackwell
Tabela II. Resultado da análise de covariância avaliando
Science, Oxford.
o efeito da largura das folhas sobre a herbivoria nos dois
ambientes estudados na reserva do Km 41, Amazônia Dirzo, R. & C. Domingues. 1995. Plant-animal interac-
Central. tions in Mesoamerican tropical dry forests. In: E.
Bullock Medina & H. Mooney (eds.). Seasonally Dry
Variáveis G.L. F P R2 Tropical Forests. Cambridge University Press,
Ambiente 315 1,87 0,17 0,05 Cambridge.
Largura da folha 315 27,53 <0,001 0,77 Fonseca, C. R. ; J. M. Overton; B. Collins & M. Westoby.
Ambiente*Largura da folha 315 4,78 0,03 0,15 2000. Shifts in trait combinations along rainfall and
phosphorus gradients. Journal of Ecology, 88: 964-
Discussão 977.
A disponibilidade de recursos, como luz, nutrientes e Lovejoy, T. E. & R. O. Bierregaard. 1990. Central
umidade, é um dos fatores de maior influência sobre a amazonian forests and the minimal critical size of
riqueza de espécies e de estratégias adaptativas encontradas ecosystems project, p. 60-74. In: A. H. Gentry (ed.).
em comunidades vegetais (Crawley 1997). A disponibilidade Four Neotropical Rainforests. New Haven: Yale
destes recursos varia de acordo com o ambiente no qual a University Press.
planta vive, o que, por sua vez, se refletirá na estratégia Ribeiro, J. E. L. da S. 1999. Flora da Reserva Ducke:
foliar adotada pela mesma (Fonseca et al. 2000). Guia de Identificação das Plantas Vasculares de uma
Os ambientes de platô são localizados em áreas mais altas Floresta de Terra Firme na Amazônia Central. INPS/
e apresentam, de forma geral, um solo pobre em nutrientes. DFID. Manaus. AM.
As matas de baixio estão localizadas ao longo dos igarapés Richards, P. W. 1979. The Tropical Rain Forest. 450 p.
apresentando, em relação ao platô, um solo mais encharcado Syndics of the Cambridge University Press. London.
e com maior acúmulo de sedimentos (Ribeiro et al. 1999).
A largura das folhas foi maior no baixio, o que, a princípio Orientador: Carlos Fonseca

94 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Efeito das clareiras na de remoção de frutos de
palmeira (Astrocaryum aculeatum) em floresta de terra
firme na Amazônia central
André Faria Mendonça

Introdução predação de outras espécies de mamíferos (roedores e


A formação de clareiras naturais em florestas tropicais marsupiais) por torna-los mais visíveis aos predadores. Essa
devido à queda de árvores é um dos fatores responsáveis diferença pode ser determinada pela idade da clareira e
pela alta diversidade biológica encontrada nessa região consequentemente pelo estado sucessional que se encontra.
(Cintra & Horma 1997), pois aumentam o espectro de nichos Devido as mudanças ambientais decorrentes da formação
de regeneração (Fleming 1978 apud Schupp 1988). de clareiras e consequentes mudanças na taxa de remoção
Uma das consequências imediatas da formação de e/ou predação de frutos e sementes por mamíferos, o objetivo
clareiras é a maior entrada de luz, essa mudança favorece o desse estudo se fundamenta na premissa que há diferença
estabelecimento das espécies pioneiras e lianas (Uhl 1988), na taxa de remoção de frutos nas clareiras em relação à áreas
pois em áreas de floresta intacta possivelmente a luz é um de floresta intacta.
dos fatores limitantes para o estabelecimento de plântulas.
As clareiras podem estar em diferentes estágios sucessionais, Métodos
sendo que cada estágio anterior cria condições bióticas e O estudo foi realizado na reserva 1501 (km 41) da ZF-3
abióticas que possibilitam o estabelecimento de novas na Fazenda Esteio, situada a cerca de 70km ao norte de
espécies e que são características de um estágio sucessional Manaus (2o24’26" - 2o25’31"S e 59o43’40" - 59o45’50"W)
seguinte (Rose 2000). no Distrito Agropecuário da Suframa, na área do Projeto
Estudos realizados nas regiões tropicais indicaram que Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF)
uma grande porcentagem das sementes e frutos produzidos (Oliveira, 1997 apud Gomes, 1997). Possui uma
são predados (Sork 1987; Uhl 1987; Holl & Lulow 1997). pluviosidade média anual de 2200 mm e temperatura média
Sendo que os principais agentes dispersores ou predadores de 26,70C, a vegetação é composta principalmente por
de frutos e sementes não as aves, artrópodes e os mamíferos, floretas de terra firme (Rankin-de-Merona et al., 1992 apud
neste grupo, os morcegos são um dos principais dispersores Gomes, 1997).
e os roedores são os principais predadores e dispersores de O desenho amostral consistiu de 20 pares amostrais, que
sementes e frutos em florestas tropicais (Schupp 1988; For- consistiam de uma pequena clareira com cerca de um ano
de formação, onde o sub-bosque ainda não está estruturado
get 1993; Terborgh et al. 1993; Whittaker & Turner 1994;
e não existem muitos detritos (troncos e galhos) cobrindo o
Asquith et al. 1997; Cintra & Horna 1997; Holl &Lulow
solo e uma área de floresta intacta distantes 50 m entre si,
1997), entretanto a dispersão por grandes e médios
totalizando 40 parcelas.
mamíferos, como porcos-do-mato, ungulados
Em cada uma das áreas foi feito uma parcela de 50x50
(Bodmer,1991) tem sido subestimada (Terborgh et al. 1993).
cm, onde a serapilheira foi retirada e o solo foi revolvido e
Com a formação de uma clareira, vários habitats e
nivelado com auxílio de um rastelo para registro de pegadas.
refúgios são destruídos, acarretando em uma diminuição na
Nestas parcelas foram colocados cinco frutos de tucumã
comunidade de mamíferos que utilizam esse local, entre estes (Astrocaryum aculeatum) como isca. Os pares amostrais
estão os dispersores ou predadores de sementes, acarretando foram vistoriados diariamente e foram registrados o número
mudanças nas taxas de retiradas de sementes na clareira de frutos retirados e os vestígios (pegadas e restos de cascas
(Asquith et al. 1997). e frutos) das espécies de mamíferos que retiraram os frutos.
Hartshorn (1978) sugeriu que a taxa de predação de Um fruto foi considerado removido quando este foi
sementes em clareiras é menor devido ao isolamento destas levado da parcela ou quando este era parcialmente ou
em relação aos indivíduos adultos, tornando estas mais totalmente consumido no local pelos mamíferos. Os frutos
difíceis de ser detectadas pelos mamíferos. Entretanto, a danificados por artrópodos, geralmente formigas, foram
formação de clareiras pode aumentar a abundância de desconsiderados da análise e substituído por outro
algumas espécies de mamíferos devido a presença de Para analisar a diferença entre as clareiras e as área de
serapilheira e troncos caídos (refúgio), onde estas podem floresta intacta em relação ao número de frutos retirados foi
evitar a predação (Rodd & Test 1968 apud Schupp 1988; usado um teste de Wilcoxon, pois os dados não possuíam
Schupp 1988; Samper 1992 apud Notman et al. 1996; uma distribuição normal e as parcelas foram dispostas em
Notman et al. 1996). Por outro lado, pode aumentar a pares .

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 95


Resultados também observado por Hartshorn (1978), possivelmente
Os resultados não mostraram uma diferença significativa devido ao tipo de clareira estudada no presente estudo, que
na remoção de frutos entre as áreas de clareiras e de floresta eram caracterizadas por não possuir um sub-bosque
intacta (Z = 1,24, df = 19, p = 0,21). A porcentagem de desenvolvido e por não haver uma grande quantidade de
remoção de frutos e de parcelas com remoção nos dois detritos sobre o solo (refúgio) A ausência de refúgios pode
ambientes, é mostrada abaixo. (Tabela 1). afetar de forma negativa a abundância de mamíferos
predadores ou dispersores de frutos nesses ambientes,
tornando-os mais vulneráveis ao ataque de predadores.
Tabela 1. Porcentagem do número de frutos retirados e As parcelas foram classificadas pelo número de frutos
de parcelas que tiveram frutos removidos por ambiente. retirados e observou-se que as parcelas com 100% de
remoção foram mais abundantes (Fig. 2), possivelmente
Ambientes porque as visitantes eram mamíferos de porte médio como
Clareira Floresta paca (A. paca) e/ou cutia (D. leporina), Esses animais
Remoção de frutos (%) 30 39 possuem o hábito de levar vários frutos de uma vez ou voltar
várias vezes durante a noite para retirar mais frutos. No caso
Parcelas com remoção (%) 40 55 de pequenos mamíferos, a retirada é feita ao longo de várias
noite. Isso mostra um padrão na forma de retirada dos frutos,
sendo que no primeiro caso os frutos são levados inteiros e
no segundo caso, normalmente eles são roídos na parcela
As parcelas foram divididas em classes de números de
deixando a semente. Nas parcelas onde havia remoção de
frutos retirados para mostrar um padrão de remoção pelas
poucos frutos por noite eram observados restos de frutos
espécies de mamíferos (Tabela 2), sendo que a taxa de
roídos com pequenas marcas de incisivos, enquanto nas
reposição de frutos por danos causados por formigas foi de
parcelas com 100% de remoção foram as parcelas onde fo-
2%.
ram registradas as pegadas de paca e cutia, confirmando
Tabela 2. Número de parcelas em relação ao número de esse padrão de remoção.
A utilização do substrato natural para registrar as pegadas
frutos retirados por ambiente.
das espécies que removiam os frutos não mostrou bons
Número de frutos Ambientes resultados, pois na maioria das parcelas o solo era argiloso
retirados Clareira Floresta e possuía uma alta granulação, atrapalhando o registro das
0 12 9 pegadas, consequentemente esse método só se mostrou
1 2 3 adequado para espécies maiores como pacas e cutias.
2 0 1 Recomenda-se que em estudos posteriores utilizem areia
3 1 0 como substrato.
4 1 1
A remoção de sementes em áreas de clareiras tem uma
importância fundamental, pois isso vai determinar como será
5 4 6
a recolonização desta área. O conhecimento desses fatores
Total 20 20
pode ser fundamental para entender os processos de
Utilizando as pegadas e os restos de frutos deixados nas regeneração de clareiras antrópicas.
parcelas foi possível identificar algumas espécies de
mamíferos que retiraram os frutos, como cutia (Dasyprocta Agradecimentos
leporina), paca (Agouti paca) e roedores de pequeno porte, Gostaria de agradecer aos coordenadores desse curso
possivelmente Proechimys spp segundo Spironello (1999). (Jansen e Dadão) e ao Juruna, que apesar de não entenderem
muito de futebol, sempre foram presentes tanto nas horas
Discussão sérias como nas horas de forrós, bregas e festas em geral e
As taxas de dispersão e predação de sementes são fatores de extrema relevância para o bom andamento do processo,
importante atuando nos processos de regeneração e além mostrar de forma completa o que é um pedaço da
mecanismos de perpetuação da biodiversidade (Janzen Amazônia. Também gostaria de agradecer aos professores
1970). A formação de clareiras também é um importante convidados que foram ótimos.
mecanismo de aumento da biodiversidade em florestas (Rose Em relação à esse estudo gostaria de agradecer ao George
2000). Portanto, é importante determinar como o evento de Camargo ( Palmeiras SEGUNDA DIVISÃO!!!!) que ajudou
formação de uma clareira pode influenciar na taxa de no trabalho de campo, além de tecer comentários sempre
remoção de frutos. pertinentes durante as caminhadas.
Mesmo não havendo diferenças significativas, foi Ao Luiz e ao Flávio (Véio) que são ótimos amigos,
observado que houve uma menor taxa de retirada nas mesmo sendo meio estranhos,
clareiras do que em áreas de dossel contínuo (Fig. 1), isso À Janilce pelos “por quês???” e a Sylvia “mala” pela

96 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


eterna animação, com exceção das palestras onde sempre Jansen, D H, 1970. Herbivores and the number of tree
estava ZZZZZZZ..... species in tropical forests. American Naturalist 104:
À Flaviana, Daniela e Carol pelos forrós maravilhos e 501-528.
bem acoxadinhos e pelo “esqueletos com esqueletos” Malcolm, J R, 1997. Biomass and diversity of small
À Carina pela conversa e por tentar proteger as plantinhas mammals in amazonian forest fragments, pp. 207-221.
na minha frente in Laurance, W F & Bierregaard Jr, R O (eds) Tropical
Ao Josué “Rabo de porco” pela paciência com as forest remnants: Ecology, management, and conserva-
brincadeiras tion of fragmented communities Chicago Univ. Press,
Ao Marcelo “Pinguela” por ser um ótimo monitor e amigo
Chicago, EUA.
para todas as horas.
Notman, E; Gorchov, D L & Cornejo, F, 1996. Effects of
À Paula por ser tão pragmática como legal e ter um ótimo
distance, aggregation, and habitat on levels of seed
gosto musical
predation of two mammals - dispersed neotropical rain
Ao Paulo que sempre foi muito engraçado e muito sábio.
forest tree species. Oecologia 106: 221-227.
Ao Eduardo, Genimar, Ana Maria, Ana Paula, Guma,
Patrícia eYumi pelos ótimos momentos durante esse um mês. Rood, J P & Test, F H, 1968. Ecology of spiny rat
E ao INPA pela possibilidade de realizar um curso de Heteromys anomatus, at Rancho Grande, Venezuela.
campo desse nível. American Naturalist 79: 89-102 apud Schupp, E W,
Por último, agradeço as estrelas, as palmeiras e ao igarapé 1988. Seed and early seedling predation in forest
do km 41. understory and in treefall gaps. Oikos 51: 71-78.
Rose, S A, 2000. Seeds, seedlings and gaps – size
Referências Bibliográficas matters: A study in the tropical rain forest of Guyana.
Asquith, N M; Wright, S J & Class, M J, 1997. Does pp. 4. Tropenbos – Guyana Programe.
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78(3): 941-946. Harvard University, Cambrigde apud Notman, E;
Bodmer, R E, 1991. Strategies of seed dispersal and seed Gorchov, D L & Cornejo, F, 1996. Effects of distance,
predation in Amazonian ungulates. Biotropica 23: 255- aggregation, and habitat on levels of seed predation of
261. two mammals - dispersed neotropical rain forest tree
Cintra, R & Horna, V, 1997. Seed and seedling survival of species. Oecologia 106: 221-227.
the palm Astrocaryum murumuru and the tree Dipteryx Schupp, E W, 1988. Seed and early seedling predation in
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Connel, J H, 1971. On the role of natural enemies in seedling establishment in Gustavia superba. Ecology
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459-468. 167-181.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 97


Abrigos de formigas e proteção contra herbivoria em
Miconia cf. phanerostila (Melastomataceae)
Flaviana Maluf de Souza

Introdução herbívoros deve ser a mesma em folhas com e sem abrigos


Uma grande quantidade de evidências dá suporte à idéia na mesma planta e iii) a herbivoria deve ser menor em plantas
de que, nas regiões tropicais, muitas formigas podem prover com abrigos.
benefícios às plantas às quais estão associadas (Benson
1985). Uma das mais estreitas associações entre plantas e Métodos
formigas é o mirmecofitismo, no qual a planta apresenta Realizei este estudo na reserva do Km 41, pertencente
domáceas, que são estruturas altamente especializadas e ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais
utilizadas por algumas espécies de formigas como locais (INPA/Smithsonian), a cerca de 70 Km ao norte de Manaus
para o estabelecimento de colônias (Hölldobler & Wilson (2°30’S; 60°00’O). Conduzi o experimento ao longo da ZF-
1990). Numa relação de mutualismo, as formigas que 3, estrada de acesso à reserva, onde percorri 5,5 km
utilizam as domáceas conferem às plantas hospedeiras selecionando pares de plantas de Miconia cf. phanerostila
proteção contra o ataque de herbívoros (Janzen 1966; Risch (Fig. 1A) com características semelhantes em relação ao
& Rickson 1981; Fonseca 1991; Agrawal 1998). tamanho e condições de luminosidade, sempre com a menor
Na Amazônia, a família Melastomataceae é a que possui distância possível entre indivíduos, de maneira que o
o maior número de gêneros (5) de plantas mirmecófitas experimento tivesse um delineamento pareado.
(Benson 1985). Nessa região, mesmo em espécies não- Examinei as plantas cuidadosamente, registrando a
mirmecófitas podem ser encontradas centenas de espécies existência ou não de abrigos para obter a freqüência de
de formigas generalistas nidificando ou forrageando sobre ocorrência dos mesmos nas plantas. De maneira geral, como
a planta (Benson 1985). Algumas dessas formigas podem a inspeção causava uma certa perturbação e alterava a
ser prejudiciais às plantas (como as formigas cortadeiras), atividade das formigas, as plantas foram marcadas e o
enquanto outras podem cuidar de lagartas e homópteros experimento realizado no dia seguinte ou após nova
sugadores, construindo abrigos protetores para a ordenha inspeção, dessa vez sem perturbar a atividade das formigas.
de uma secreção açucarada produzida por esses organismos, O experimento foi realizado considerando três grupos
em especial coccídeos e membracídeos (Benson 1985). experimentais: em uma planta com abrigos, realizei o
Esses abrigos, estruturalmente semelhantes às domáceas, experimento em folhas com abrigos (tratamento) e folhas
podem ser encontrados em algumas espécies de sem abrigos (controle 1). Procurei sempre selecionar a folha
Melastomataceae, tanto nas folhas quanto no caule. Uma com o abrigo maior e melhor estruturado (às vezes os abrigos
das espécies que apresentam esses abrigos é Miconia cf. estavam abertos, ou ainda em formação, ou eram muito
phanerostila, uma planta comum em áreas abertas da pequenos), selecionando na mesma planta uma folha com
Amazônia Central (Ribeiro et al. 1999), cuja associação se características semelhantes à da folha com o abrigo (idade,
dá principalmente com formigas do gênero Crematogaster tamanho e posição). Além de plantas com abrigos, realizei
sp. (Myrmicinae). também o experimento em plantas sem abrigos (controle
Analogamente ao que ocorre com as domáceas 2), selecionando para isso uma folha semelhante ao par
verdadeiras, seria esperado que a presença das formigas nos correspondente com abrigo. Ao todo, utilizei 30 pares de
abrigos poderia conferir às plantas de M. cf. phanerostila plantas.
algum nível de proteção contra o ataque de herbívoros, A primeira etapa do experimento consistiu em observar,
conforme hipotetizado por alguns autores (Benson 1985). durante um minuto, o número de formigas (e identificar
Assim, os abrigos de formigas observados nas folhas dessa morfoespécies ou espécies, sempre que possível)
planta poderiam representar estruturas precursoras das forrageando sobre as folhas selecionadas. Dividi a folha
domáceas verdadeiras, indicando um possível caminho virtualmente em três partes no sentido base-ápice (reportados
evolutivo para o surgimento das mirmecófitas amazônicas de agora em diante como “terço proximal”, “terço mediano”
(Benson 1985). e “terço distal”), partindo da hipótese de que as formigas
Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi testar se construtoras de abrigos forrageariam principalmente a região
indivíduos de M. cf. phanerostila portadores de abrigos de próxima da base da folha, onde se localizam os abrigos.
formigas seriam protegidos contra os herbívoros. As Além das espécies de formigas forrageando sobre as folhas
hipóteses seriam as seguintes: i) a freqüência de ataque de utilizadas no experimento, também registrei as espécies que
formigas contra herbívoros deve ser maior em plantas com se encontravam em outras folhas ou no caule para uma
abrigos, ii) a freqüência de ataque de formigas contra os descrição qualitativa, coletando as formigas para

98 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


identificação em laboratório. lo. Do total de 111 plantas observadas, 21 (18,9%) possuíam
Para determinar a freqüência e o tempo de detecção de abrigos grandes e outras 13 (11,7%) apresentaram abrigos
possíveis herbívoros pelas formigas utilizei cupins (Isoptera) pequenos ou ainda mal-formados, provavelmente em
como presas experimentais. A utilização de iscas de cupins construção (Fig. 1B).
em experimentos de campo para avaliar padrões de predação
de formigas tem sido descrita como um método bastante
eficiente e funcional (Oliveira et al. 1987). Os cupins fo-
ram colados dorsalmente (vivos) com cola branca na região
central da folha, simultaneamente no caso das folhas com e
sem abrigos. Após a colagem do cupim, cronometrei o tempo
de detecção do cupim pelas formigas, considerando para
tal o primeiro contato feito entre os dois. O tempo de
observação foi de no máximo 5 minutos; após esse tempo,
caso não houvesse contato entre a formiga e o cupim,
considerei o herbívoro simulado como não-detectado e
encerrei o experimento. Realizei os experimentos sempre
das 9:00h. às 16:00h., horário de maior atividade das
formigas.
Após cada teste, estimei o índice de herbivoria de uma
média de 10 folhas, a partir de uma adaptação do método
proposto por Dirzo & Dominguez (1995), segundo as A
seguintes classes e respectivas porcentagens de herbivoria:
classe 0=0-1%;classe 1=2-5%; classe 2=5-10%; classe
3=10-15%; classe 4=15-20%;classe 5=20-30%; classe
6=30-50%; classe 7=50-100%. O índice de herbivoria foi
estimado a partir da seguinte equação:

IH =
∑n i
∗i
N
onde, IH = Índice de herbivoria; ni = número de folhas
na classe i; i = classe; N = número total de folhas.
Para as análises da freqüência de ataque das
formigas em folhas e plantas com e sem abrigos realizei um
teste de Qui-quadrado. Para comparar o forrageamento de B
formigas tanto entre folhas/plantas quanto na mesma planta
(entre as diferentes regiões da folha) utilizei um teste de
Friedman. O grau de herbivoria entre as folhas e plantas
com e sem abrigo foi comparado através do teste t. Para a
comparação do número total de formigas forrageando sobre
as folhas utilizei o teste de Wilcoxon.

Resultados
Ocorrência de abrigos de formigas em Miconia cf.
phanerostila
No trecho que percorri ao longo da estrada observei que
tanto as plantas quanto a presença de abrigos ocorriam em
manchas. Assim, ao longo de certos trechos da estrada era
comum não encontrar nenhuma planta de M. cf. C
phanerostila, assim como encontrar um aglomerado de
plantas com ou sem abrigos.
A maioria das plantas examinadas para a realização do Figura 1. (A) Arvoreta de Miconia cf. phanerostila; (B)
experimento (69,4%) não apresentou abrigos, o que Detalhe de um abrigo em construção na face inferior da
dificultou um pouco as buscas de plantas com características folha; (C) Formigas (Azteca sp.) atacando o cupim usado
semelhantes para o pareamento, porém, sem comprometê- como isca no experimento.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 99


Comunidade de formigas associada a Miconia cf. Tabela 1. Espécies de formigas observadas forrageando e
phanerostila atacando os cupins em plantas de Miconia cf.
Durante a realização dos experimentos observei apenas phanerostila com e sem abrigos.
duas espécies de formigas diretamente associadas a M. cf. Forragearam Atacaram
phanerostila, isto é, responsáveis pela construção e Espécie Com Sem Com Sem
utilização dos abrigos: Crematogaster sp. (Myrmicinae) e abrigos abrigos abrigos abrigos
Azteca sp. (Dolichoderinae). Entre essas espécies, Camponotus sp. 1 1 x x x x
Camponotus sp. 2 1 x x
Crematogaster sp. foi a mais freqüente, tendo sido
Formicinae sp. 1 x x
encontrada em 27 (90%) das 30 plantas usadas nos Gigantiops sp. 1 x
experimentos. A espécie Azteca sp. foi encontrada em quatro Pseudomyrmex sp. 1 2 x x x
plantas (13,3%). Apenas uma vez registrei as duas espécies Pseudomyrmex sp. 2 2 x
Pseudomyrmex sp. 3 2 x
de formigas na mesma planta. É interessante notar que essas
Pheidole sp. 3 x x
duas espécies apresentam comportamentos bastante Myrmicinae sp. 2 3 x
distintos, sendo Azteca sp. muito mais agressiva do que Cephalotes sp. 3 x x x
Crematogaster sp. No caso de Azteca sp., em três das quatro Ectatomma sp. 4 x
Dolichoderus sp. 5 x
plantas em que foi encontrada o cupim foi detectado (Fig.
Morfoespécie 1 x
1C). Já no caso de Crematogaster sp., a freqüência de Morfoespécie 2 x x
ataques foi bastante inferior (cinco de 27 plantas analisadas). Morfoespécie 3 x x
Independentemente da existência dos abrigos, também Morfoespécie 4 x x
Morfoespécie 5 x x
observei Crematogaster sp. forrageando em plantas sem
Morfoespécie 6 x x
abrigos, embora o mesmo não tenha ocorrido com Azteca Morfoespécie 7 x
sp.
1 – Formicinae; 2 – Pseudomyrmicinae; 3 – Myrmicinae; 4 – Ponerinae.; 5 - Dolichoderinae
Além das espécies construtoras de abrigos, observei 19
espécies forrageando sobre plantas com e sem abrigos, e
que, por sua vez, também detectaram os cupins (Tab. 1). As Tabela 2. Porcentagem de folhas de Miconia cf.
análises que seguem foram realizadas separadamente para phanerostila onde houve ataque de formigas contra os
esses dois grupos: espécies construtoras e não construtoras cupins.
de abrigos. Grupo experimental Construtoras (%) Não-construtoras (%) Todas (%)
Folhas com abrigo 23,3 26,7 43,3
Folhas sem abrigo 6,7 10,0 13,3
Espécies construtoras de abrigos
Plantas sem abrigo 10,0 20,0 26,7
A freqüência de ataques de formigas construtoras de
abrigos contra os cupins colocados nas folhas de M. cf.
phanerostila não diferiu entre os grupos experimentais
(c2=4,038; g.l.=2; p=0,133; n=30, Tab. 2). Entretanto, o
8
forrageamento das formigas foi diferente ao longo da folha
(Friedman, c2=23,431; g.l.=8; p=0,003; n=30). A diferença
foi observada apenas em folhas com abrigos, sendo o 6

forrageamento maior no terço proximal (Fig. 2, Tab. 3).


No entanto, considerando o número total de formigas 4

em cada folha, não houve diferença significativa entre os


grupos experimentais (Friedman, c2=4,667; g.l.=2; p=0,097; 2

n=30).
0

Espécies não-construtoras de abrigos FS1 FS2 FS3 FC1 FC2 FC3 PS1 PS2 PS3

A freqüência de ataque das formigas não-construtoras


de abrigos não diferiu entre os grupos experimentais Figura 2. Valores mínimos, máximos e mediana do
(c2=2,756; g.l.=2; p=0,252; n=30, Tab. 2). O padrão de número de formigas construtoras de abrigos forrageando
forrageamento foi semelhante ao observado para as espécies sobre folhas de Miconia cf. phanerostila. FS = Folhas sem
construtoras de abrigos, diferindo entre o terço proximal e abrigo; FC = Folhas com abrigo; PS = Plantas sem abrigo.
as demais regiões da folha nas folhas com abrigos (c2=2,756; Os números seguintes às letras representam os locais de
g.l.=2; p=0,252; n=30, Fig. 3, Tab. 3). Nas folhas sem forrageamento nas folhas (1 = terço proximal; 2 = terço
abrigos, houve diferença apenas entre os terços proximal e mediano; 3 = terço distal).
mediano das folhas (Tab. 3). Assim como observado para
as formigas construtoras, o número total de formigas
forrageando não diferiu entre os grupos experimentais
(Friedman, c2=0,844; g.l.=2; p=0,656; n=30).

100 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Tabela 3. Comparação do forrageamento de formigas Herbivoria
construtoras e não-construtoras de abrigos em folhas de Dentro de uma mesma planta (folhas com e sem abrigos),
Miconia cf. phanerostila entre os grupos experimentais. o índice de herbivoria não diferiu (t=-1,852; g.l.=29;
FC = Folhas com abrigo; FS = Folhas sem abrigo; PS = p=0,074; n=30). Porém, o índice de herbivoria foi cerca de
Plantas sem abrigo. Os números seguintes às letras 30% maior em plantas sem abrigos quando comparado a
representam os locais de forrageamento nas folhas (1 = plantas com abrigos (t=-2,481; g.l.=29; p=0,019; n=30,
terço proximal; 2 = terço mediano; 3 = terço distal). Figura 4).

Grupo Construtoras Não-construtoras


experimental χ2 p χ2 p
2,6
FC1 x FC2 8,000 0,005 * 7,000 0,008*
FC1 x FC3 5,444 0,020 8,000 0,005* 2,2

FS1 x FS2 0,333 0,564 4,000 0,045*


1,8
FS1 x FS3 0,333 0,564 2,667 0,102

Índice de herbivoria
PS1 x PS2 0,333 0,564 3,000 0,083
1,4
PS1 x PS3 0,333 0,564 2,667 0,102
* Valores significativos a 95% de confiança. 1,0

0,6

Análise geral 0,2


Com Sem
Considerando o conjunto de espécies de formigas Presença de abrigos
presentes nas folhas e plantas observadas, sem distinção
entre construtoras e não-construtoras de abrigos, a freqüência Figura 4. Índice de herbivoria em plantas de Miconia cf.
de ataques contra os cupins diferiu significativamente entre phanerostila com e sem abrigos de formigas. A caixa
os grupos experimentais (c2=6,757; g.l.=2; p=0,034; n=30). maior contém 50% das observações, a caixa menor
As diferenças foram constatadas somente entre as folhas representa a mediana e as barras representam a ampli-
com e sem abrigos na mesma planta (c2=6,648; g.l.=1; tude dos dados.
p=0,010; n=30, Tab. 2). Considerando a planta como um
todo (somando-se os ataques registrados nas folhas com e Discussão
sem abrigos), a porcentagem de cupins atacados foi de 28,3% De maneira geral, os resultados sugerem que as formigas
nas plantas com abrigos e 26,7% nas plantas sem abrigos associadas aos abrigos em plantas de Miconia cf.
(c2=0,028; g.l.=1; p=0,868; n=30, Tab. 2), não havendo phanerostila não são as responsáveis pelo menor grau de
diferenças significativas. O número total de formigas herbivoria registrado nas plantas com abrigos. Isto difere
forrageando sobre as plantas também não diferiu entre as das hipóteses iniciais de que, analogamente ao que ocorre
plantas com e sem abrigos (Z=1,851; g.l.=2; p=0,178; n=30). em plantas mirmecófitas, haveria uma relação mutualística
entre as formigas e a planta hospedeira, na qual as formigas
4,5 construtoras de abrigos protegeriam-na de possíveis
herbívoros em troca de local para abrigo.
3,5 Segundo as minhas expectativas, a freqüência de ataque
das formigas construtoras de ninhos seria maior em plantas
Número de formigas

2,5 com abrigos, não diferindo entre folhas com e sem abrigos
na mesma planta, supondo que haveria uma função de
1,5 proteção generalizada para toda a planta. Porém, nem a
freqüência de ataque nem o número total de formigas
0,5 forrageando sobre a planta diferiram entre folhas ou plantas
com e sem abrigos, fazendo supor que outros fatores devem
-0,5
FS1 FS2 FS3 FC1 FC2 FC3 PS1 PS2 PS3
ser os responsáveis pela maior herbivoria constatada em
Grupos experimentais plantas sem abrigos. A baixa freqüência de plantas
encontradas com abrigos também permite inferir que a
Figura 3. Valores mínimos, máximos e mediana do relação entre a planta e a formiga pode ser facultativa ou
número de formigas não construtoras de abrigos oportunista (Beattie 1985, apud Vasconcelos & Davidson
forrageando sobre folhas de Miconia cf. phanerostila. FS = 2000).
Folhas sem abrigo; FC = Folhas com abrigo; PS = Planta É fato porém, que as escalas de tempo da ocorrência
sem abrigo. Os números seguintes às letras representam desses dois processos (ataque e proteção contra herbívoros)
os locais de forrageamento nas folhas (1 = terço proxi- são diferentes, o que poderia mascarar a detecção de uma
mal; 2 = terço mediano; 3 = terço distal). relação de causa e efeito. Essas diferenças nas escalas de

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 101


avaliação dos processos em pesquisas científicas são, apesar espécies construtoras de ninhos, mostrando que não há
de equivocadas, bastante comuns, principalmente por realmente uma especificidade na ação de proteção à planta.
limitações nas possibilidades de condução de estudos de As formigas oportunistas forrageiam sobre as folhas em
longo prazo (Kobe 1999). Assim, muitas vezes tenta-se grande número procurando presas (Hölldobler & Wilson
correlacionar eventos presentes (no caso, ataque de 1990) e, eventualmente, agem contra possíveis herbívoros,
formigas) com respostas que ocorrem numa outra escala com a mesma freqüência e às vezes mais efetivamente do
temporal (herbivoria acumulada). De qualquer modo, é que as espécies construtoras de abrigos. Em todos os
preciso discutir esses aspectos de maneira a tentar experimentos realizados, poucas vezes indivíduos de
compreender quais os fatores associados aos processos e as Crematogaster sp. recrutaram outras formigas e retiraram o
escalas em que estariam ocorrendo possíveis interações. cupim da folha, sendo esse procedimento muito mais comum
O padrão de forrageamento observado nas folhas com entre as Azteca sp. e as Pseudomyrmex sp. (observações
abrigos também dá suporte à idéia de que a relação de pessoais). A riqueza de espécies de formigas observadas
proteção da planta pela formiga não é forte. As formigas forrageando sobre M. cf. phanerostila deve estar associada
adotam homópteros para garantir uma fonte segura de ao tamanho das plantas (Vasconcelos & Davidson 2000) ou
alimento (Wilson 1971), construindo abrigos e exercendo à maior disponibilidade de recursos alimentares (secreção
uma importante função de proteção das ninfas contra seus dos homópteros) nas folhas com abrigos.
inimigos naturais (Del-Claro & Oliveira 2000). Esses A ocorrência esporádica de Crematogaster sp. em plantas
organismos são fitófagos (Borror & De Long 1969) e, em mirmecófitas verdadeiras sugere que essa espécie de formiga
geral, sugam o floema e excretam uma solução rica em é, na maioria dos casos, uma colonizadora tardia e
carboidratos da qual as formigas se alimentam (Del-Claro desempenha um papel menor na evolução das mirmecófitas
& Oliveira 2000). Como conseqüência da agregação de amazônicas (Benson 1985). Assim, os abrigos de formigas
homópteros nas regiões de maior produtividade de seiva na em M.cf. phanerostila, diferentemente do que se imaginava,
planta, como o meristema apical e a nervura principal não são estruturas funcionalmente análogas e não podem
(Benson 1985; Del-Claro & Oliveira 2000), os abrigos de ser consideradas precursoras na evolução das domáceas.
formigas em M. cf. phanerostila são encontrados
predominantemente nessas regiões. O maior forrageamento Agradecimentos
registrado nessa região da folha (terço proximal) indica que À dupla dinâmica, Dadão e Jansen, pela brilhante idéia e
as formigas concentram suas atividades nesses locais, coragem de realizar esta segunda edição do curso, nos
dispendendo a maior parte do tempo ordenhando os proporcionando um mês inesquecível nesta terra de gigantes.
homópteros e pouco tempo forrageando sobre a superfície Obrigada também pela overdose de conhecimento e de boas
foliar. Diferentemente do que ocorre em plantas com idéias, e pelo bom exemplo de como estudar e bem viver na
nectários extraflorais distribuídos por toda a folha, como “tropical rain forest”. Ao Glauco, por me contagiar com
em algumas espécies de Inga (Mimosaceae), em M. cf. seu entusiasmo, despertando em mim o interesse pelos
phanerostila as formigas caminham menos pela planta pequenos seres móveis. Também pela ajuda “play” que deu
(notadamente Crematogaster sp.), diminuindo a no projeto (muitos dez reais + o dinheiro do busão) e por
probabilidade de encontro com um herbívoro e exercendo compartilhar comigo as horas sob o sol na observação das
assim, pouca atividade de proteção. formigas. Ao Jansen, pela sua fundamental ajuda e agradável
A concentração das formigas em função da presença de companhia nos últimos dias de coleta, fazendo com que
homópteros e suprimento alimentar pode ser o principal conseguíssemos atingir a meta do cabalístico “n=30”. Ao
componente da associação entre as formigas e M. cf. Paulo De Marco, pela sua doçura e pela clareza com que
phanerostila, sugerindo que essa relação não é mutualística. me ensinou estatística, e obviamente, pelo computador, que
Assim, parece que os homópteros têm uma relação de usei como se fosse meu. Ao Marcelo “Pinguela”, amigo
parasitismo com a planta, e as formigas, uma relação de pica-pau, por sua alegria e disposição de sempre ajudar. Ao
mutualismo com os homópteros, não conferindo proteção Juruna, por toda a força durante os projetos, e pela paciência
efetiva à planta. com que sempre respondeu à incansável pergunta: “que
A espécie de formiga mais freqüentemente associada aos espécie é essa?”. A todo o pessoal da organização do curso,
ninhos em M. cf. phanerostila (Crematogaster sp.) não por fazer tudo funcionar bem, e a São Pedro, que deu uma
apresenta um comportamento muito agressivo (Benson forcinha para fazer com que tudo (e todos) mofassem menos.
1985), em oposição ao comportamento da espécie menos A todos os professores do curso, por tanta informação e
comum (Azteca sp.). Desse modo, também pareceria pouco boas discussões, além é claro pelas risadas, piadas, sambas,
vantajoso para a planta desenvolver um sistema bregas e etc. Por fim, a toda a galera do curso, pelo convívio
especializado para abrigar as Crematogaster sp., já que sua infinitamente agradável e pela alegria, em especial à Sylvia,
eficiência de ataque contra herbívoros é baixa. “Vanilla”, Ana Paula e Paula pelo alto-astral, e aos meninos
Outras espécies oportunistas encontradas nas plantas de George, André e Luís, pelos deliciosos bregas e forrós.
M. cf. phanerostila atuaram de maneira semelhante às Depois do banho no Negro e do jaraqui, só me restará voltar.

102 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


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University Press, USA. Cambridge, Inglaterra.

Frecuencia de vocalizaciones de guariba Alouatta


seniculus en una Selva de tierra-firme, Reserva Km 41,
Amazonía Central, AM, Brasil
Patricia García Tello

Introducción especies comparten la característica de emitir potentes


Las vocalizaciones de los primates tienen diversas vocalizaciones que se pueden escuchar a centenares de
funciones que permiten una comunicación efectiva a metros. El género Alouatta pertenece a la subfamilia
distancia. Estos llamados tienen comúnmente patrones Allouatinae, familia Cebidae, está representado por seis
estereotipados y repetidos (Cherry 1957; Marler 1973). especies y su rango de distribución va desde el estado de
Estas vocalizaciones son parte de una conducta natural de Veracruz México, hasta el norte de Argentina. Son
estos animales, se ha interpretado a las vocalizaciones como encontrados en selvas humedas de la Amazonia y América
una delimitación del territorio y probablemente para evitar central.(Eisenberg; 1989). Los guariba, Alouatta seniculus,
enfrentamientos agresivos entre grupos. Los animales usan tienen como habitat la floresta tropical del Norte del rio
esta vocalización generalmente temprano en la mañana Amazonas y oeste del rio Madera (Neves 1985).
cuando los gradientes de temperatura dentro y encima de la Estas vocalizaciones tan peculiares son producidas
selva crean condiciones óptimas para dar un alcance largo gracias a que poseen el hueso hioide muy desarrollado en
de la prolongación del sonido en el dosel bajo (Waser & relación a otras especies de primates (Schön Ybarra 1986).
Waser 1977, Marler et.al; 19977; Wiley 1978; Whitehead Este hueso actúa como una camara de resonancia cuando
1987). estos primates producen sus caracteristicos llamados y es
Entre primates Neotropicales el genero con mas grande en los machos que en las hembras (Crockett &
vocalizaciones mas prominentes es Alouatta spp, todas estas Einsenberg 1987). Las vocalizaciones las podemos

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 103


diferenciar por rugidos y ladridos. Los rugidos son para tener sitios que permitieran tener una referencia de la
vocalizaciones prolongadas y los ladridos son dirección en la cual estaban gritando los guaribas y mayor
vocalizaciones cortas y repetidas, ambas se escuchan a percepción del sonido. Para tomar estas direcciones use una
grandes distancias ( Di Pierro 2001). brujula y tomé los grados en dirección a las vocalizaciones
Sekulic & Chivers (1985) analizaron el promedio de esto para saber si se trataba del mismo grupo o era grupo
duración de las vocalizaciones individuales de Alouatta diferente. Los datos que se tomaron en el momento que se
seniculus y A. palliata. Encontraron que el promedio de escuchaban estas vocalizaciones son: fecha, hora inicial,
duración de A. palliata fue de 3.5 segundos y el intervalo hora final de la vocalización y dirección.
entre llamados fue de 20 segundos, mientras que en A.
seniculus el promedio fue de 19 segundos y el intervalo de Resultados
3 segundos. Tambien encontraron que durante los coros de Los resultados obtenidos muestran que podemos observar
la mañana el total de duración de las vocalizaciones en A. que hay dos picos de eventos de vocalización uno en la
seniculus fue 10 veces mayor que en A. palliata. mañana, (4 a 6 a.m.) y otro por la tarde (15 a 17). horas.
El objetivo de este trabajo es tratar de conocer la Ahunque hay que señalar que la frecuencia con la que gritan
frecuencia de vocalizaciones a lo largo del día, en guariba los guaribas es mayor en la mañana (fig.1). Por otro lado
A. seniculus . En A. pigra se sabe que cuando un grupo con los datos obtenidos tambien podemos diferenciar los
emite vocalizaciónes, este recibe respuesta por otros grupos. grupos existentes en el área o por lo menos los que se
esto se ha interpretado como una delimitación de territorio pudieron registrer en este estudio, com respecto a los eventos
y probablemente también para evitar enfrentamientos de vocalización entre grupos observamos que no varia
agresivos con otros grupos. En A. seniculus no se ha mucho (ver tabla 1). La tabla unicamente muestra las horas
estudiado este patrón, por lo que es importante llevarlo a en las que se escucho gritar a los grupos, los grupos fueron
cabo. determinados tomando en cuenta las direcciones a las que
se encontraban, se tomó como grupo uno el que se
Métodos encontraba de 160º a 180º y el grupo dos el que se encontraba
Realicé este estudio en la Reserva Km 41, del Proyecto en dirección de 275º a 290º.
Dinamica Biológica de Fragmentos Forestales (PDBFF)
TIEMPO DE DURACIÓN (minutos)

localizada a 70 km al. Noroeste de la ciudad de Manaus 12


(2°24’S; 55° 44’W). La temperatura media anual es de 27°C
10
y una precipitación aproximada de 2300 mm anual
(Radambrasil, 1978). El clíma en la estación científica es 8
clasificado según el sistema de Köppen (1936) como: clíma
húmedo de monzón, (Nee 1995). 6
La vegetación al rededor de la estación es selva de tierra
4
firme original con una heterogeneidad de paisajes como
consecuencia de variaciones topográficas. La floresta de 2
“platô”, úbicada en áreas altas presenta dosel alto (35-40m),
0
se caracteriza por una alta biomasa y subbosque dominado 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
por palmeras acaules. La floresta de “vertiente”: localizado HORA
en áreas colinosas y disectadas, presenta un dosel medio Figura 1. Duración de vocalización de guariba, hora en la
(25-35m) y vegetación de transición. La floresta de “baixio”, que vocalizaron contra tiempo de duración(minutos).
localizada en las planicies aluviales a lo largo de igarapés
(quebradas de aguas negras), presenta un dosel medio (20- Tabla 1. Muestra la hora a la que se registro la
35m) y se caracteriza por la abundancia de palmeras como vocalización, los eventos por vocalización y los grupos.
Oenocarpus bataua y Mauritia flexuosa (Ribeiro et Hora eventos de voc. Eventos por grupo 1 Eventos por gurpo 2
al.1999). 0/2 3 3 0
2/4 3 2 1
Los bosques de la reserva, son considerados uno de las 4/6 10 10 12
áreas con mayor riqueza arborea con cerca de 1300 especies 6/8 13 2 0

en al menos 64 familias (Bruna 2001). 8/10 1 0 0


10/12 3 2 0
Registré las vocalizaciones de los guaribas por medio 12/14 0 0 0
del método de observación contina escuchadas a lo largo 14/16 4 0 4

del día, durante seis dias consecutivos, las observaciones se 16/18 4 0 4


18/20 0 0 0
hicierón en intervalos fijos de dos horas por la mañana (4 a 20/22 0 0 0
6) y dos horas por la tarde (17 a 19) horas, sin dejar de 22/24 0 0 0

registrar las vocalizaciones igualmente ditribuidas a lo largo


Total 41 19 21
del día y de la noche fuera de este horario. Evalué el área Media 1,58 1,75

104 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Discución compañeritos del curso que me avisaban cuando escuchaban
Crockett & Eiserberg (1987) mencionan que una posible algún grupo gritar, especialmente a Vanina que se tomaba
funcion de las vocalizaciones de Alouatta es proveer el tiempo de ir a despertarme cuando yo no los escuchaba,
información acerca de la composición del grupo que gracias a todos.
generalmente se integra por macho, hembra y crias ahunque
en ocasiones podemos observar mas de un macho en el Referencias Bibliográficas
mismo grupo. Es por esto que la presencia de un número Di Pierro, A.M. 2001. Patrones de vocalización del mono
relativamente grande de machos revelado por las saraguato maya (Alouatta pigra) en la selva
vocalizaciones puede disuadir a los machos de otros grupos Lacandona. Tesis de licenciatura, Universidad
de intentar invadir su territorio. Estos autores sugieren Michoacana de San Nicolas de Hidalgo. Michoacán,
también que la frecuencia con la que ocurren estos llamados México.
generalmente es mayor al amanecer. Sin embargo la Cherry, C. 1957. On human comunication. New York:
detección de otros grupos de monos puede estimular las Wiley.
vocalizaciones a cualquier hora del día. Mencionan también Crockett, C.M. 1998. Conservation biology of Genus
que los llamados durante el día son dados en el contexto de Alouatta. International Jornal of Primatology 2: 549-
interacciones entre tropas vecinas, con áreas de acción que 578.
se sobrelapan parcialmente. Crockett, C.M. y J.F. Eissenberg. 1987. Howlers: varia-
Se supone que los guaribas tambien gritan para delimitar tions in groups size and demography. p. 54-68 in:
territorio, este supuesto puede ser la causa por la cual (Smuts, B.B, D.L. Cheney, R.M. Seyfarth, R.W.
observamos mayor vocalizacion por la mañana. Otro Wrangham y T.T. Struhsaker, eds.) Primate societies.
supuesto puede ser para avisar a los demas miembros del University of Chicago Press. Chicago.
grupo la presencia de algun depredador tanto diurno como Eisenberg, J.F. 1989. Mammals of the Neotropics. p. 252-
nocturno. 253. University of Chicago Press. Chicago and
Nuestros resultados muestra un pico de vocalización por London.
la tarde, el cual se puede asociar a que la actividad que estan Marler, P. 1973. A comparison of vocalizations of red-
realizando en ese momento es que estan defendiendo un tailer monkeys and blue monkeys, Cercophitecus
recurso o para indicar los sitios que van a útilizar como ascanius and C. mitis in Uganda. Z. Tierpsychology
dormitorios (Neves,1985). 33: 223-247.
Este estudio fue unicamente para tratar de conocer la Neves, A.M. 1985. Alguns aspectos da ecologia de
frecuencia de vocalizaciones de los guaribas (Alouatta Alouatta seniculus em reserva isolada na Amazônia
seniculus), se encontro el mismo patrón obsevado por Di Central. Dissertacão de Mestrado, Universidade de
Pierro (2001) en el género A. pigra, sin embargo no fué São Paulo, Ribeirão Preto.
posible hacer la comparación entre grupos debido a que en Schön Ybarra, M.A. 1986. Loud calls of adult male red
este estudio se obtuvieron muy pocos resultados en cuanto howling monkeys Alouatta seniculus. Folia
a los grupos. Primatologica 47: 204-216
Se recomienda ampliar este estudio tratando de localizar Waser, P.M. & M.S. Waser. 1977. Experimental studies of
los grupos para registrar los patrones de actividad primate vocalization: spelizations for long-distance
(vocalizaciones) y conocer mejor cuales son las causas de propagation. Z. Tierpsychology 43:239-263
esta conducta. Whitehead, J.M. 1987. Vocally mediated reciprocity
between neighbouring groups of mantlet howling
Agradecimientos monkeys, Alouatta palliata . Animal Behevior 35:
Antes que nada quiero agradecer a Proyecto Dinamica 1615-1627
Biológica de Fragmentos Florestas (INPA) por darme la Wiley, R.H. & D.G. Richard. 1978. Physical constraints
oportunidad de compartir esta experiencia, a Juruna por su on acoustic communication in the atmosphere:
compañia en la busqueda de los grupos, a Wilson y Paulo implications for the evolution of animal vocalizations.
por sus comentarios y sujerencias y por último a mis Behavioral Ecology and Sociobiology 3: 69-94.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 105


Comportamento territorial de Chalcopteryx scintilans
(Odonata:Polythoridae)
Daniela Chaves Resende

Introdução presença de luz.


O comportamento reprodutivo da ordem Odonata pode O objetivo deste trabalho foi realizar uma descrição do
ser classificado em dois sistemas básicos: i) um sistema com comportamento de defesa territorial de C. scintilans e
defesa de um recurso, geralmente, necessário para a fêmea determinar: i) se os machos são residentes, ou seja, se
colocar seus ovos ou ii) um sistema sem defesa de um recurso defendem o mesmo território dia após dia, ii) quais
(Battin 1993). Os sistemas baseados na defesa de recursos características ambientais estão associadas aos territórios
podem ainda ser subdivididos em: i) limitação do recurso, defendidos, iii) se há disputas territoriais ou algum tipo de
onde os recursos tornam os encontros entre machos e fêmeas interação agonística entre os machos e iv) se os machos
previsíveis, mas os machos não conseguem monopolizá-lo utilizam algum tipo de sinalização entre eles durante a
e ii) controle do recurso, no qual alguns machos conseguem permanência no território.
monopolizar os recursos, em geral através da defesa de um
território, aumentando as chances de cópula (Battin 1993). Métodos
O grau de residência ou o comportamento do macho de Realizei este estudo em um igarapé na Reserva do Km
defender o mesmo território dia após dia pode ser bastante 41, região da Amazônia Central (020 24’S; 590 44’O). A
diversificado, variando entre espécies ou dentro de uma reserva se localiza a cerca de 70 km a nordeste de Manaus
mesma espécie, em função de variáveis como idade ou (AM) em uma mata de terra firme. As altitudes variam en-
tamanho corporal (Stoks 2000). tre 50 e 150m acima do nível do mar e o solo predominante
A família Polythoridae é considerada grupo irmão da é o latossolo amarelo (Lovejoy & Bierregaard 1990). A
família Calopterygidae (Resh & Solom 1984). A despeito temperatura média é de 26,70C e a pluviosidade é de no
do fato de Polythoridae ser uma família pouco conhecida, mínimo 300 mm nos meses mais secos.
muitas espécies de Calopterygidae já tiveram seu Durante quatro dias eu acompanhei 15 sítios onde foram
comportamento bastante estudado. O comportamento terri- encontrados machos de C. scintilans e estudei o
torial destas espécies envolve, em geral, vôos elaborados e comportamento de defesa de territórios, no horário entre
exibições que sinalizam algum tipo de assimetria entre os 10:00 e 14:00 h. Capturei e individualizei 34 machos, através
machos (Waage 1988). Esse tipo de sinalização pode de um número de identificação na asa feito com caneta de
envolver algum tipo de coloração diferenciada entre ma- retroprojetor, anotando em planilha o local onde cada ma-
chos ou apenas comportamentos de exibição dentro dos cho foi capturado. Nos dias seguintes, monitorei os 15 locais
territórios. Machos de Calopteryx maculata, por exemplo, de estudo, registrando os machos recapturados e o local da
quando mais magros apresentam uma coloração diferente recaptura, com exceção do último dia quando concentrei
de machos mais bem nutridos e esta coloração está minhas observações em um único ponto na tentativa de
diretamente relacionada à capacidade do macho de manter observar algum evento de cópula.
um território (Fitztephens & Getty 2000). Observei o comportamento da espécie durante a defesa
Principalmente nos sistemas baseados no controle dos de territórios foi observado através do método “animal fo-
recursos, onde as interações agonísticas entre machos cal” (Altmann 1974), no qual a unidade amostral é a
tendem a ser muito freqüentes, a sinalização pode assumir seqüência de comportamentos realizada por um indivíduo
um papel importante na resolução de conflitos entre ma- durante um período de tempo de observação, neste caso, 20
chos competidores (Hurd & Ydenberg 1996). Ela deve ser minutos. Posteriormente, computei o tempo total gasto em
uma estratégia evolutivamente estável em função da cada comportamento.
vantagem mútua dos dois contestantes em minimizar o Classifique os comportamentos em:
desgaste e as injúrias resultantes de disputas territoriais - exibições: quando o macho, pousado, abaixava as
(Johnstone & Norris 1993). asas exibindo a coloração interna metálica das asas
Chalcopteryx scintilans (Polythoridae) é uma espécie posteriores;
associada a regiões de mata contínua, comum na região da - patrulha: vôo em torno da área ao redor do poleiro
Amazônia Central (De Marco com. pess.). É uma espécie utilizado pelo macho;
de tamanho corporal pequeno, com coloração críptica, - interação: interação entre os machos coespecíficos;
exceto pelas asas. Machos e fêmeas apresentam coloração Caracterizei o território defendido por cada um dos ma-
preta no tórax e abdômen. A face inferior das asa posteriores chos observados registrando: i) o número de machos e
também é preta, enquanto a face superior apresenta uma fêmeas presentes e iii) a presença de luz, folhiço, areia,
coloração acobreada bastante conspícua, principalmente na troncos de árvores caídos na água e de vegetação dentro do
106 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002
sítio de defesa (Bromeliaceae e Rapateaceae). Discriminei Tabela II. Características ambientais observadas nos
a presença de troncos e de vegetação em função da sítios de defesa de territórios de machos de C. scintilans
possibilidade de serem usados como um substrato para e probabilidade de persistência do macho no território
postura dos ovos. Essas características descritas foram (N=22). O valores entre parênteses se referem à
associadas à persistência do macho no território, ou seja, se porcentagem de persistência.
o macho permaneceu no território durante os 20 minutos de
Características dos territórios Número de machos que permaneceram no território
observação de comportamento. Ausência Presença
Para avaliar as características associadas aos territórios Tronco 1 (25) 16 (94,1)
Folhiço 2 (66.7) 15 (83,3)
defendidos pelos machos realizei testes exatos de Fisher, Areia 10 (76,9) 7 (87.5)
analisando a relação entre a persistência do macho e cada Luz 3 (100) 14 (77.8)

uma das variáveis estudadas. Para testar se os machos Bromeliaceae 14 (82) 3 (75)
Rapateaceae 5 (62.5) 12 (92.3)
defendem territórios e se as exibições são um tipo de
sinalização entre machos realizei análises de regressão en-
tre o tempo gasto com disputas e patrulha dos territórios e o O comportamento de defesa de territórios dos machos
número de machos no sítio e entre o número de exibições desta espécie consiste de uma série de manobras de vôos,
realizadas pelos machos e o número de machos no sítio. onde um macho se posiciona na frente dos outros e flexiona
as asas posteriores amplamente para baixo exibindo a
Resultados coloração interna acobreada. Durante as interações um
Os machos de Chalcopteryx scintilans são residentes. macho permanece tentando deslocar o outro para trás e este
Do total de 34 machos marcados, recapturei 17. Dentre estes, comportamento gera um movimento de vai-e-vem contínuo.
apenas dois mudaram de sítio de defesa de território (Tab. Estes vôos podiam ocorrer a poucos centímetros da lâmina
I). Os sítios de defesa de territórios distavam em média 10,4 d’água ou a cerca de 3 m de altura. Observei um total de 52
m, apresentando uma amplitude de 3,5 a 22 m. A abundância interações e elas foram bastante diversificadas envolvendo
de fêmeas nesta espécie parece ser muito baixa e observei de 2 a 4 machos e com duração média de 21 s (DP= 126,9 s;
uma única fêmea em um sítio de defesa de territórios. A amplitude = 2 a 780 s).
distribuição dos machos ao longo dos sítios de defesa de O tempo gasto pelos machos nas interações agressivas
territórios não foi uniforme, variando de um a cinco foi maior a medida que o número de machos presentes nos
indivíduos. sítios aumentou (F1,20=7,59; p=0,01, R2=0,28; Fig. 1). Já a
proporção de tempo gasto em patrulha dos territórios não
foi afetada pelo aumento do número de machos nos sítios
Tabela I. Resumo dos dados de captura e recaptura de de defesa de territórios (F1,20=0,10; p=0,75, R2=0,005). O
machos de Chalcopterys scintilans na Reserva do Km 41 número de exibições realizadas pelos machos não foi
durante cinco dias de estudo. Considerei que um influenciado pelo número de machos presentes nos sítios
indivíduo permaneceu no território quando ele foi de defesa de territórios (F1,20=0,04; p=0,84, R2=0,002).
recapturado no mesmo sítio da observação anterior. *Os
dados do dia 28/11/02 se referem a apenas um sítio de
defesa territorial.
Proporção de tempo gasto nas interações

0.6

Data Número de Número de recapturas Indivíduos que permaneceram


capturas (intervalo de dias desde a captura) no mesmo sítio
24/11/02 13 - - 0.4

25/11/02 7 4 (1) 4
26/11/02 12 2 (1); 3(2) 3
27/11/02 3 2 (1); 6 (2); 5(3) 13 0.2
28/11/02* 0 1(2); 2 (3) 3

0.0

A presença de troncos de árvores caídos foi importante 0 1 2 3 4 5

Número de machos
para a persistência dos machos em seus territórios (Teste
exato de Fisher ; c2=10,03; N=22; p=0,01; Tab. II). As
Figura 1. Relação entre a proporção de tempo gasto nas
demais características analisadas, como presença de folhiço
interações entre os machos de Chalcopeteryx scintilans e
(Teste exato de Fisher; c2=0,46; N=22; p=0,48), presença
o número de machos coespecíficos presentes nos sítios.
de areia (Teste exato de Fisher; c2=0,36; N=22; p=1,00),
presença de luz (Teste exato de Fisher; c2=0,82; N=22;
p=1,00), presença de bromélias (Teste exato de Fisher; Discussão
c2=0,11; N=22; p=0,98) e presença de Rapateaceae (Teste Disputas territoriais são freqüentemente vencidas pelos
exato de Fisher; c2=2,85; N=22; p=0,25) não influenciaram machos que apresentam um “potencial de retenção do
a persistência do macho no território (Tab. II). recurso” (PRR) mais elevado (Mesterton-Gibbons et al.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 107


1996). O PRR pode estar diretamente relacionado ao uma observação interessante é o fato dos machos defenderem
tamanho corporal, à quantidade de gordura estocada, à os territórios mesmo antes da luz incidir sobre os sítios de
habilidade de luta ou de manutenção do território ou ainda, defesa.
à existência de residência prévia entre os machos O custo energético com disputas territoriais pode reduzir
contestantes. Assimetrias nestas características assumem um o período total de permanência no território (Clausnitzer
papel determinante na resposta das disputas territoriais 1996) e, consequentemente, o sucesso reprodutivo do ma-
(Mesterton-Gibbons et al. 1996). cho (Stoks 2000). Assim, parece bastante provável a
A alta taxa de recaptura dos machos de Chalcopteryx evolução de um comportamento de disputa territorial mais
scintilans durante os cinco dias de estudo e a permanência ritualizada, com pouco ou nenhum contato físico entre os
nos mesmos sítios da maioria dos machos recapturados in- contestantes, como a observada para C. scintilans,
dica que esta espécie deve apresentar um alto grau de principalmente, quando consideramos um cenário onde as
residência. Uma vez que territórios podem ser definidos fêmeas aparecem tão raramente nos corpos d’água.
como uma área qualquer defendida (Corbet 1962), o
aumento da agressividade com o aumento de número de Agradecimentos
machos presentes nos sítios de defesa sugere também que É impossível deixar de agradecer a todos que trabalharam
esta espécie apresenta um comportamento tipicamente ter- na organização e execução do curso Ecologia da Floresta
ritorial. Amazônica, em especial, ao Jansen e ao Dadão, pela
Uma vez que em um mesmo sítio de defesa, oportunidade de estar aqui participando. Obrigada a todos
freqüentemente, ocorreram dois ou mais machos defend- os professores pelas inúmeras discussões e aos meus colegas
endo territórios, a residência prévia pode não representar de curso, por tornarem estes dias tão agradáveis. Devo
uma assimetria nas disputas territoriais desta espécie já que também ao meu orientador, Paulo e ao Jansen a escolha de
todos estes machos devem se comportar como residentes e uma espécie tão interessante para realizar meu projeto.
isto pode ser uma das justificativas para a ocorrência de
interações tão longas. Além disso, é possível que as
exibições nos territórios e, talvez, a coloração nas asas não
Referências Bibliográficas
Altmann, J. 1974. Observational study of behavior:
estejam fornecendo informações prévias sobre o PRR dos
sampling methods. Behaviour, 49: 227-267.
machos, o que também aumentaria o tempo gasto nas
Battin, T. J. 1993. The odonate mating system, commu-
interações agonísticas.
nication, and sexual selection: a review. Bolletin of
A coloração conspícua das asas e as exibições talvez
Zoologie, 60: 353-360.
estejam mais relacionados à atração de fêmeas aos sítios
Clausnitzer, V. 1996. Territoriality in Notiothemis robertsi
defendidos. Mesmo para espécies como Calopteryx
Fraser (Anisoptera: Libellulidae). Odonatologica,
maculata, cujos machos controlam todos os sítios de
25(4): 335-345.
oviposição disponíveis, 89% das fêmeas conseguem colocar
Corbet, P. S. 1962. A Biology of Dragonflies. Witherby,
seus ovos sem copular com o macho residente, através da
London. 247p.
sincronização no período de desova (Fincke 1997). Assim,
Fincke, O. M. 1997. Conflict resolution in the Odonata:
mesmo fêmeas de espécies territoriais são livres para
implications for understanding female mating patterns
escolher parceiros, independente do sítio de oviposição, o
and female choice. Biological Journal of the Linnean
que aumentaria a seleção sexual sobre o macho (Fincke
Society, 60: 201-220.
1997) e tornaria bastante provável a evolução de
Fitztephens, D.M. & T. Getty. 2000. Colour, fat and social
características e comportamentos que pudessem informar a
status in male damselfly Calopteryx maculata. Animal
qualidade dos machos.
Behaviour, 60: 451-455.
A forte relação observada entre os sítios de defesa de
Harvey, I. F. & P. S. Corbet. 1985. Territorial behaviour
territórios e a presença de troncos caídos no igarapé pode
of larvae enhances mating success of male dragonflies.
justificar, pelo menos em parte, a relação desta espécie com
Animal Behaviour, 33: 561-565.
a mata. Apesar de nenhuma postura de ovos ter sido
Hurd, P.L. & R. C. Ydenberg. 1996. Calculating the ESS
observada, observações anteriores sugerem que a presença
leve of information transfer in aggressive communica-
de troncos nos territórios seja uma característica importante
tion. Evolutionary Ecology, 10: 221-232.
pois poderiam estar sendo usados como sítios de oviposição
Jonhstone, R.A. & K. Norris. 1993. Badges of status and
pelas fêmeas (De Marco com. pess.).
the cost of aggression. Behavioural Ecology and
A entrada de luz nos sítios de defesa pode ter ocorrido
Sociobiology, 32: 127-134.
em momentos em que eu não estava presente no local, já
Mesterton-Gibbons, M.; J. H. Marden & L. A. Dugatkin.
que pela metodologia utilizada eu permanecia apenas alguns
1996. On Wars of Attrition Without Assessment.
minutos por dia em cada sítio. Assim, é possível que esta
Journal of Theoretical Biology, 181: 65-83.
metodologia possa apresentar uma falha na avaliação da
Resh, V. H. & J. O. Solem. 1984. Phylogenetic Relation-
entrada de luz nos territórios. De qualquer forma, caso a
ships and Evolutionaty Adaptations of Aquatic Insects.
incidência de luz direta seja uma característica importante,

108 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


P. 66-75. In: Merritt, R. W. & K. W. Cummins (eds.). and body size in males of a scrambling damselfly.
An Introdution to the Aquatic Insects of North Animal Behaviour, 59: 339-348.
America. Kendall/Hunt Publishing Company. Waage, J. K. 1988. Confusion over residency and the
Dubuque, Iowa. escalation of damselfly territorial disputes. Animal
Stoks, R. 2000. Components of lifetime mating success Behaviour, 36: 586-595.

Evidências usadas por cutias (Dasyprocta leporina


(Husson, 1978), Rodentia, Mammalia) na localização
de frutos de tucumã (Astrocaryum aculeatum) em uma
floresta de terra firme da Amazônia Central, AM, Brasil
Vanina Zini Antunes

Introdução taxa de atividade dos roedores é alta (Sabatier 1985).


A distribuição geográfica de Dasyprocta abrange Dasyprocta fuliginosa pode realizar pequenas migrações
América Central e América do Sul, possui 7 espécies estacionais que coincidem com as épocas de frutificação de
(Emmons & Feer 1997) que, em geral, não são simpátricas algumas espécies vegetais (Tapia 1998 apud Tirira 1999).
(Eisenberg 1989). Dasyprocta leporina é endêmica da As sementes raramente são enterradas embaixo da planta
Amazônia, está distribuída no norte da Venezuela, Guianas de origem, pois as cutias costumam carregá-las para várias
e Brasil, norte do rio Amazonas e leste do rio Negro direções e distâncias, que variam de 22,4m a 50 m (Smythe
(Emmons & Feer 1997). 1978, Forget 1990, Spironello 1999), normalmente dentro
As cutias podem ser vistas em toda a floresta, da sua área de vida (Murie 1977). Hallwachs (1986)
principalmente em áreas com sub-bosque denso, em volta observou sementes a 150m da planta-mãe. Ao enterrar as
de troncos grandes, perto de igarapés e áreas alagadas sementes, uma a uma, as cutias fazem buracos de 2 a 8
(Emmons & Feer 1997). Elas são terrestres e diurnas, têm centímetros de profundidade, fechados com terra aplainada
seu período ativo entre 6 e 18 horas. Passam a maior parte pelas patas dianteiras e cobertos com folhas ou gravetos
do dia forrageando e, uma pequena parte descansando, no (Smythe 1978). As sementes podem ser desenterradas em
próprio local de alimentação ou no ninho, caso a fêmea esteja alguns dias ou após oito meses, durante a época de escassez
com filhotes (Smythe 1978). São territoriais e o macho tende de frutos. É comum que outra cutia desenterre a semente,
a acompanhar a fêmea, descansando perto dela ou carregue e enterre de novo, dispersão secundária. Assim,
patrulhando o território, que tem uma área de 1 a 2 hect- uma única semente pode ser transportada diversas vezes, se
ares. distanciando ainda mais da planta-mãe, o que pode ser um
A cutia encontra comida pelo olfato, mas é atraída benefício para a planta.
também pelo barulho dos frutos que caem das árvores ou As sementes enterradas podem ser encontradas pelo
de outras cotias se alimentando (Smythe 1978). Costuma cheiro delas ou do animal que as enterrou ou por meio de
seguir grupos de macacos (Ateles, Allouata), pegando os pistas visuais: solo remexido (Smythe 1978) árvores, troncos
frutos que eles derrubam no chão (Smythe 1978). caídos, raízes expostas e lianas (Forget 1990), as sementes
Frutos e sementes são os itens principais de sua dieta, normalmente são enterradas junto a esses locais.
mas elas comem também folhas, fungos, flores e insetos em Meu objetivo neste trabalho foi verificar se o odor do
períodos de escassez de frutos (Hallwachs 1986). Nestes fruto tem maior influência que pistas visuais na localização
períodos podem forragear em outros territórios e tendem a de frutos enterrados por cutias num período de escassez de
aumentar o período de atividade (Smythe 1978). frutos.
Durante períodos de abundância de recursos, em épocas
de chuva, as cutias enterram (Morris 1962) e transportam Métodos
muitas sementes e frutos, que, posteriormente, servem como Desenvolvi este trabalho entre os dias 24 e 29 de
principal fonte de alimento em períodos de escassez (Smythe novembro de 2002, em uma floresta de terra firme na
1978). Na Amazônia, a estação chuvosa é o período de Reserva do Km 41 (2°24’ S, 59°44’ O), uma área de mata
frutificação de espécies vegetais com sementes grandes e a contínua do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 109


Florestais (PDBFF/ INPA), localizada a 80 km ao norte de A freqüência de pontos remexidos foi diferente entre os
Manaus. A temperatura média anual da região é de 26,7°C grupos experimentais (G = 6,43; g.l.= 2; p= 0,04). A partir
e a precipitação é de 2200mm anuais (RADAMBRASIL deste resultado fiz um teste de contraste e encontrei diferença
1978), mas em época de seca, de junho a dezembro, a significativa entre controle x (tratamento 1 + tratamento 2)
precipitação é de 100 a 150 mm mensais (Gascon & (G = 6,43; g.l.= 1; p= 0,01). Entre os tratamentos, a
Bierregaard 2001). freqüência de perturbação do solo, remexido ou não, foi
Fiz dois tratamentos e um controle que foram distribuídos igual.
em três transectos paralelos de 600m, distantes 200m entre
si, abrangendo uma área de 24 hectares. Em cada transecto Discussão
marquei 30 pontos distantes 20m, alternando os lados ao
Como o experimento foi realizado em época de escassez
longo da trilha e distribuí os tratamentos e controle
de frutos eu esperava um número maior de amostras dos
sistematicamente. Os pontos foram feitos a 5 metros de um
grupos experimentais remexidos. Jorge (2002) observou,
Astrocaryum sciopholium na base de árvores ou perto de
logo após o período de frutificação de Astrocaryum
troncos caídos e raízes expostas. Utilizei frutos de tucumã
sciopholium, uma remoção, por cutias, de 35% de tucumãs
(Astrocaryum aculeatum) e plantas de Astrocaryum
enterrados próximos à base dessas plantas. No presente
sciopholium, simulando ser a planta-mãe, pois o trabalho
trabalho, a taxa de remoção foi menor (20%) provavelmente
foi feito em época de escassez de frutos.
Como controle, fiz um buraco de 8 cm de profundidade devido à distância do período de frutificação de
onde enterrei um tucumã, o buraco foi fechado e coberto Astrocaryum, o que pode ter interferido na memória da cutia
com folhiço. No ponto seguinte foi colocado o primeiro associada aos locais de forrageamento.
tratamento, para pista visual: um buraco igual ao do controle A baixa freqüência de perturbação dos tratamentos 1 e 2
porém, vazio. E por último, o segundo tratamento, para odor: indicam que evidências visuais e olfativas separadamente
furei o solo com um termômetro de solo, 10 cm de podem não ser eficientes para a localização de estoques de
profundidade, e injetei 5 ml de uma solução concentrada de comida por cutias.
tucumã. O experimento ficou montado por 120 h. Teoricamente, os dois tratamentos têm efeito em escalas
Como a ocorrência dos eventos foi baixa, utilizei o teste diferentes. Numa escala espacial, a pista visual é,
G para ver se havia diferença na freqüência de pontos primeiramente, mais forte. A cutia pode escolher um local
remexidos entre o controle e os tratamentos odor e pista para cavar onde o solo já tenha sido remexido, pois a chance
visual. Fiz um teste de contraste, a posteriori, para ver em de encontrar semente enterrada é alta.
qual grupo a diferença nas freqüências estava concentrada, Numa escala temporal, estímulos odoríferos devem ser
o controle ou os tratamentos juntos. mais eficientes. Murie (1977) observou que pista olfativa
serve como estímulo maior que pista visual na localização
Resultados de ceva enterrada. Pistas visuais são mais eficientes quando
O controle teve 20% de remoção e os tratamentos, 3,33% a semente foi recentemente enterrada porém, a longo prazo,
cada (Tabela 1). Dos 6 pontos remexidos do controle, quatro o cheiro do fruto é a pista mais marcante, pois as evidências
estavam sem fruto nem vestígio, um sem fruto mas com visuais são alteradas com o tempo, assim como o cheiro da
raspas no local e um com a semente limpa que foi enterrada cutia que enterrou o fruto ou semente (Murie 1977). Mesmo
pela cutia no mesmo buraco. No ponto com tratamento 1 meus grupos experimentais sendo recentes, o tratamento para
(pista visual) o animal escavou 5 cm e, no ponto com pistas visuais não se destacou em relação ao tratamento para
tratamento 2 (odor), escavou 3 cm. pistas olfativas.
Meus resultados confirmam o hábito que as cutias têm
Tabela 1. Pontos remexidos e não remexidos. Controle,
de comer um pouco em um local e carregar a comida para
buraco com tucumã; Tratamento 1, buraco vazio e
outro (Smythe 1978). E, assim como também descrito por
Tratamento 2, solução de tucumã injetada.
Smythe (1978), observei que ao encontrar um fruto com
Não remexido Remexido Total polpa carnosa, como tucumã, as cutias comem a polpa e
Controle 24 6 30 enterram a semente para posterior consumo. Este
80% 20% procedimento evita a competição com outros mamíferos,
Tratamento 1 29 1 30 como paca e coati, que não têm esse hábito de estocagem
(pista visual)
espalhada (“scatterhoarding”) de sementes.
As sementes que não são desenterradas estão protegidas
96,67% 3,33%
de predadores e o processo de germinação é acelerado,
Tratamento 2 29 1 30
devido às ótimas condições (Forget, 1990). As cutias são,
(odor) portanto, eficientes dispersores das plantas as quais elas se
96,67% 3,33% alimentam (Smythe, 1978), fato também observado na área
Total 82 8 90 de estudo (Spironello 1999).

110 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Agradecimentos Fleming, T. H. (eds.), Frugivores and seed dispersal.
Agradeço ao Glauco Machado por ter me ajudado a Dr W. Junk Publishers, Dordrecht.
definir meu desenho amostral, ao Carlos Fonseca pela Jorge, M. A. L. S. P. 2002. Padrões de remoção de
sugestão de como fazer o tratamento para odor e ao Juruna sementes enterradas de tucumã (Astrocaryum
pela ajuda fundamental para montar o experimento. aculeatum, Arecaceae) em uma floresta de terra firme
Agradeço o Paulo de Marco e Daniela Chaves Resende pela da Amazônia Central. Livro do Curso de Campo
paciência e apoio estatístico. Valeu turma do curso, pela Ecologia da Floresta Amazônica, INPA.
amizade e momentos maravilhosos que passamos juntos. Morris, D. 1962. The behaviour of the green acouchi
Um agradecimento especial para Dadão e Jansen por (Myoprocta pratti) with special reference to
continuarem firme e fortes na coordenação do curso e para scatterhoarding. Zoological Society of London
o Marcelo “Pinguela” por ter estado sempre de bom humor. Proceedings 139 (4): 701-733.
Agradecimento imprescindível à minha amiga Sylvia ela é Murie, J.O. 1977. Cues used for cache-finding by agoutis
a responsável por eu estar aqui. (Dasyprocta punctata). Journal of Mammalogy 58: 95-
96.
Referências Bibliográficas RADAMBRASIL. 1978. Levantamento de recursos
Eisenberg, J. F. 1989. Mammals of the Neotropics – The naturais, vol. 1-18. Ministério das Minas e Energia,
Northern Neotropics, vol. 1. The University of Departamento de Produção Mineral, Rio de Janeiro.
Chicago Press, Chicago, EUA. Sabatier, D. 1985. Saisonnalité et déterminisme du pic de
Emmons, L. H. & F. Feer. 1997. Neotropical Rainforest fructification en forêt guyanaise. Revue d´Ecologie
Mammals – A Field Guide. 2ed. The University of (Terre et vie) 40: 289-320.
Chicago Press, Chicago, EUA. Smythe, N. 1978. The natural history of the Central
Forget, P.M. 1990. Seed-dispersal of Vouacapoua American Agouti (Dasyprocta punctata). Smithsonian
americana (Caesalpiniaceae) by caviomorph rodents Contributions to Zoology 257: 1-52.
in French Guiana. J. Trop Ecol 6: 459-468. Spironello, W. R. 1999. The Sapotaceae community
Gascon, C. & R. O. Bierregaard Jr. 2001. The Biologi- ecology in a Central Amazonian forest: effects of seed
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Site, Experimental Design, and Research Activity Pp University of Cambridge, Cambridge, U.K.
31-46. In: Bierregaard Jr., R. O.; Gascon, C.; Lovejoy, Tapia, M. 1998. Manejo de mamíferos amazónicos en
T. E. & Mesquita R. C. G. (eds) Lessons from cautiverio y semicautiverio en el Centro Experimental
Amazonia: the ecology and conservation of frag- Fátima. Pp. 155-198 In: D. Tirira, D. S. (ed.),
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Hallwachs, W. 1986. Agoutis (Dasyprocta punctata): The Biodiversidade y Ambiente. Pontificia Universidad
Inheritors of Guapinol (Hymenaea courbaril: Católica del Ecuador. Publicación Especial 2, Quito,
Leguminosae). Pp. 285-304. In: Estrada, A. & Equador.

Efeito da coloração e do odor na predação de frutos


artificiais em uma área de terra firme na Amazônia
Central
Ana Paula Carmignotto

Introdução A capacidade de sobrevivência das espécies de plantas


A estrutura das comunidades vegetais é regulada por está relacionada ao poder de dispersão de sementes e
diversos fatores. Variáveis físicas como temperatura, encontro de local favorável para germinação da mesma. Em
umidade, propriedades do solo, relevo, e bióticas, que locais próximos da planta mãe ocorre alta taxa de
envolvem relações de predação e competição entre as mortalidade de sementes e plântulas devido, num primeiro
espécies, atuam em conjunto e desempenham papel funda- momento, à maior suscetibilidade ao ataque de herbívoros
mental na sobrevivência e distribuição espacial das espécies e patógenos e, posteriormente, à maior competição por
na comunidade (Begon et al. 1990). espaço e nutrientes (Janzen 1970). As plantas, então, são

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 111


dependentes de seus agentes dispersores na medida em que mais aguçado, porém não possuem boa definição para cores,
estes definem o local de estabelecimento da semente (Cintra principalmente entre as espécies de hábito noturno (Kubitzki
& Horna 1997). Por outro lado, locais muito distantes da 1985). O presente estudo tem como objetivo testar o efeito
planta mãe podem não apresentar características físicas destas duas variáveis na taxa de predação de frutos e
favoráveis. A sobrevivência de sementes e plântulas, no relacioná-las a diferentes grupos de predadores.
entanto, nem sempre aumenta em relação à distância da
planta mãe, como proposto por Janzen e Connell Métodos
(Bustamante & Simonetti 2000). O trabalho foi realizado numa área de floresta de terra
Em florestas tropicais, a síndrome de dispersão firme na Amazônia Central, na Reserva do Km 41 (02°24’S;
freqüentemente encontrada é a zoocórica, onde os frutos 59°52’W), que faz parte do Projeto Dinâmica Biológica de
são consumidos e posteriormente dispersados por animais Fragmentos Florestais (PDBFF), pertencente ao INPA
(Gentry 1991). Há três tipos de dispersão por zoocoria: a (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia) em convênio
endozoocoria, onde os animais consomem os frutos e com Smithsonian Institution. A reserva localiza-se a 70 km
defecam ou regurgitam as sementes; a sinzoocoria, onde os ao norte de Manaus, no km 41 da estrada vicinal ZF-3, da
animais enterram as sementes; e a ectozoocoria, onde os rodovia BR-174, que liga Manaus a Boa Vista. O clima da
animais carregam os frutos e sementes. região é o tropical úmido de monções com precipitação
Geralmente as espécies de plantas enfrentam elevadas excessiva e ocorrência de 1 a 2 meses de baixa precipitação
taxas de predação, sendo este mais um fator que afeta os (classificado como Am no sistema de Köppen)
padrões de estabelecimento das plântulas e, (RADAMBRASIL 1978). A temperatura média na região é
consequentemente, da população adulta, apresentando de 26oC e a pluviosidade anual média de 2200 mm, sendo
importantes conseqüências demográficas na distribuição e que os meses chuvosos (entre dezembro a maio) apresentam
abundância das espécies (Freitas 1998). Apesar da alta taxa cerca de 300 mm mensais e os secos (entre junho a
de predação sobre os frutos, a pequena porcentagem que novembro), em torno de 100 a 150 mm (Gascon &
sofre dispersão é responsável pelo recrutamento e Bierregaard 2001). A área encontra-se inserida no domínio
manutenção da população de várias espécies (Glanz et al. de floresta tropical úmida, sendo a vegetação caracterizada
1985), sendo a intensidade de predação regulada pela por apresentar um dossel alto, em torno de 35 m de altura e
abundância de frutos e densidade de predadores (Sork 1987). emergentes de até 55 m, e predominância das famílias
Daí o grande número de estratégias apresentadas pelas Sapotaceae, Chrysobalanaceae, Lecythidaceae,
plantas, onde os frutos necessitam ser atrativos para espécies Myristicaceae e Burseraceae (Laurance 2001). A região
consumidoras-dispersoras, e também apresentar defesas apresenta terrenos em declive recortados pelo sistema
contra predadores. aluvial, com altitude variando entre 80 a 100 m acima do
Morcegos, aves, roedores e macacos são os dispersores nível do mar. Os solos aí presentes são pobres em nutrientes
mais importantes encontrados na Amazônia (Kubitzki 1985). e classificados como latossolos amarelos (Freitas 1998).
O tamanho, coloração, odor, consistência, quantidade e Frutos artificiais de formato circular e 2 cm de diâmetro
qualidade nutricional dos frutos estão entre as principais foram confeccionados à base de argila, com o intuito de
características que irão regular a taxa de predação destes padronizar o efeito da cor e do odor, além de minimizar
grupos animais (Kubitzki 1985). Uma relação uma possível habituação ou saciação dos predadores devido
freqüentemente encontrada em estudos de frugivoria é a do à oferta de recursos nos pontos de amostragem. A coloração
tamanho do fruto com o tipo de consumidor. Frutos grandes dos frutos foi feita à base de tinta guache vermelha, visto
são geralmente predados ou dispersados por animais de que esta é uma cor comum na floresta (Smythe et al. 1985);
maior porte (Howe 1989). Outros trabalhos relacionam a o odor foi simulado a partir de extrato de baunilha. Para
presença de tecido resistente envolvendo a semente, ou de evitar que o odor da tinta guache influenciasse no
compostos químicos como defesa contra predação (Howe experimento, os frutos “sem coloração” foram pintados com
1985). Há ainda dados a respeito da interação entre estes tinta marrom.
fatores, resultando em casos específicos de predação e Dois frutos foram colocados em cada ponto de
dispersão (Holl & Lulow 1997). Por exemplo, frutos grandes amostragem, sorteando-se um dos quatro tratamentos em
e com odor atraem animais generalistas, como os mamíferos cada ponto. Os tratamentos foram: - frutos vermelhos com
de grande porte (Howe 1985). extrato de baunilha (com cor/com odor); - frutos vermelhos
Poucos estudos, no entanto, verificaram o efeito direto sem extrato de baunilha (com cor/sem odor); - frutos marrons
da coloração e do odor dos frutos, ou da interação entre com extrato de baunilha (sem cor/com odor) e – frutos
estes fatores sobre a taxa de remoção e/ou predação pelos marrons sem extrato de baunilha (sem cor/sem odor). No
diferentes grupos de consumidores. Acredita-se que estas total foram colocados 80 conjuntos de iscas (160 frutos)
variáveis estejam relacionadas, principalmente, à atração separados 25 metros entre si, de forma a minimizar a
de animais de características sensoriais diferentes. As aves, dependência entre as amostras de cada tratamento. Os pontos
por exemplo, apresentam olfato pouco desenvolvido mas foram espalhados ao longo de transectos de mais ou menos
uma ótima visão, e os mamíferos têm o olfato como o sentido 1 km de distância, paralelos entre si, em uma área de platô.
112 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002
Os frutos foram vistoriados pela manhã durante três dias (c2=11,66; g.l.=3; p=0,008). Utilizando-se somente as aves
consecutivos, registrando-se casos de remoção e marcas como grupo de predadores, o resultado obtido foi semelhante
deixadas pelos animais, considerados aqui como indícios (interação: c2=0,01, g.l.=1, p=0,924; efeito do odor: c2=2,65,
de predação. Todas as marcas foram registradas e os frutos g.l.=2, p=0,266; efeito da presença de cor: c2=10,96, g.l.=3,
remodelados e repostos no mesmo ponto de amostragem. p=0,012).
Um índice de predação foi estimado dividindo-se o
número de registros de predação obtidos pelo esforço Discussão
empregado, que no presente estudo foi de 240 pontos (80 A maior taxa de predação dos frutos artificiais pelas aves
pontos durante 3 dias) e foi expresso em porcentagem. O encontrada neste estudo pode ser explicada, a princípio, pelo
efeito da cor, do odor e da interação entre estas variáveis tamanho do fruto, que limitou o grupo de consumidores.
sobre a taxa total de predação foram avaliados com modelos Segundo Holl & Lulow (1997), predadores de menor porte
log-lineares, utilizando o c2 da máxima verossimilhança. Nas preferem frutos menores, sendo comum frutos pequenos a
análises considerou-se apenas um registro (ausência ou médios (entre 2 a 5 cm) na dieta das aves (Pineschi 1990).
presença de predação) em cada ponto de amostragem. Baseado nas síndromes de dispersão zoocóricas descritas,
Posteriormente esta mesma análise estatística foi realizada esperava-se que as aves fossem atraídas pelos frutos
para investigar a preferência das aves, único grupo com coloridos, e os mamíferos pelos frutos com odor. Os
número de registros suficiente (n>10) para ser testado (Zar resultados obtidos, no entanto, não apoiam esta hipótese,
1984). dado que houve apenas efeito da coloração sobre a taxa de
predação, e não do odor. A baixa densidade de pequenos
Resultados mamíferos não voadores registrada para a área de estudo
No total foram obtidos 50 registros de predação durante (Malcolm 1991) pode ter sido um dos fatores determinantes
os três dias de amostragem, tendo havido um único caso de da pequena taxa de predação apresentada por este grupo.
remoção. O índice de predação foi de 20,8%. As diferentes No entanto, os roedores foram os principais consumidores
marcas foram identificadas como pertencentes a três grupos de frutos e sementes de Sapotaceae em um estudo de
de predadores: répteis, aves e mamíferos. Frutos que predação realizado na área de estudo (W. Spironello 1999).
apresentaram sulcos em forma de “V”, em forma de letra Acredito que o odor de baunilha utilizado pode ter
“U” invertida ou riscos pronunciados em várias direções interferido no resultado, dado que este odor não é comum
foram considerados predados por aves; os que apresentaram na natureza, podendo não atuar como um atrativo para os
marcas de incisivos e sulcos profundos na direção da pequenos mamíferos, que são, geralmente, atraídos por
mordida, chegando a arrancar pedaços, foram considerados estímulos olfativos. Ao contrário, a cor vermelha é
predados por roedores; e o único que apresentou sulcos tri- freqüentemente encontrada na natureza. É provável que
angulares profundos foi considerado predado por jabuti resultados diferentes pudessem ter sido obtidos utilizando-
(Geochelone sp., Testudinidae) que predou um fruto se frutos disponíveis na natureza.
vermelho e sem odor. As aves foram o grupo de predadores O resultado aqui obtido pode ter sido influenciado ainda
mais abundantes (Tabela 1). Marcas deixadas nos frutos pelo pouco tempo de exposição dos frutos, além da
pelos insetos não foram consideradas, porém, observou-se sazonalidade da região. Padrões diferentes de predação
alta taxa de consumo por este grupo, principalmente por podem aparecer ao longo das diferentes estações do ano,
formigas. principalmente devido às variações na quantidade e
qualidade dos recursos disponíveis na floresta (Cintra &
Tabela 1. Número de registros total e separado por grupo Horna 1997).
de predadores obtido durante o período de estudo. Cc/co Ao contrário do esperado, o tratamento com cor e odor
= com cor/com odor, Cc/so = com cor/sem odor, Sc/co = não apresentou taxa de predação superior aos outros
sem cor/com odor e Sc/so = sem cor/sem odor. Entre tratamentos. Novamente este resultado pode ser explicado
parênteses encontra-se a porcentagem dos registros. pela baixa taxa de predação por roedores. O forte efeito da
Tratamento Aves Roedores Répteis Remoção Total coloração do fruto como atrativo para aves, porém, já havia
Cc/co 16 (36%) 02 (50%) 18 (36%) sido documentado (Kubitzki 1985, Motta Jr & Lombardi
Cc/so 17 (39%) 01 (100%) 18 (36%)
1990). Estes dados corroboram a síndrome de dispersão
Sc/co 07 (16%) 01 (25%) 08 (16%)
Sc/so 04 (9%) 01 (25%) 01 (100%) 06 (12%) descrita na literatura, onde frutos dispersados por aves
Total 44 (88%) 04 (8%) 01 (2%) 01 (2%) 50 (100%) (ornitocoria) apresentam tamanho pequeno e coloração
conspícua (Van der Pijl 1982).
No presente estudo, apesar do pequeno número de frutos
Não encontrei diferença no efeito da interação da
predados por mamíferos, parece haver uma tendência de
coloração e do odor (c2=0,18; g.l.=1; p=0,674), nem em
maior predação em relação aos frutos com odor, fato já
relação ao efeito da variável odor (c2=2,12; g.l.=2; p=0,346)
citado em outros trabalhos (Smythe et al. 1985, Whittaker
sobre a taxa de predação dos frutos artificiais. Porém, houve
& Turner 1994). Há trabalhos, no entanto, que relatam a
uma maior taxa de predação sobre os frutos vermelhos

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 113


ocorrência de frutos pequenos, de coloração conspícua e & L. R. Heaney. 1985. Seasonal food use and demo-
com odor, sendo dispersados tanto por aves como por graphic trends in Sciurus granatensis. Pp. 239-252 In
morcegos, indicando uma sobreposição de síndromes de Leigh Jr., E. G.; A. S. Rand & D. M. Windsor (eds.).
dispersão. Isto demonstra que mais estudos experimentais The ecology of a tropical forest. Smithsonian Institu-
são necessários para testar a preferência de animais tion Press. Washington, D. C. 468 p.
frugívoros, com o intuito de compreender-se as complexas Holl, K. D. & M. E. Lulow. 1997. Effects of species,
relações entre dispersão e predação. habitat, and distance from edge on post-dispersal seed
predation in a tropical rainforest. Biotropica, 29(4):
Agradecimentos 459-468.
Agradeço ao INPA e Smthsonian Institution pela Howe, H. F. 1985. Fruit production and animal activity in
oportunidade de participar deste curso de campo, sendo uma two tropical tress. Pp. 189-200 In Leigh Jr., E. G.; A.
experiência muito enriquecedora. Agradeço especialmente S. Rand & D. M. Windsor (eds.). The ecology of a
aos organizadores do curso, Jansen e Dadão pelo cuidado e tropical forest. Smithsonian Institution Press. Washing-
atenção durante todo o curso, sempre dispostos a ajudar e ton, D. C. 468 p.
despertar o interesse nos alunos. Aos professores Howe, H. F. 1989. Scatter-and clump-dispersal and
colaboradores, Mike, Ana, Arnaldo, Carlos Jedi, Leandro, seedling demography: hypothesis and implications.
Jorge, Neusa, Glauco, Selvino, Carlos Tachi, Geraldinho, Oecologia, 79: 417-426.
Wilson e Paulo pelas orientações e discussões dos trabalhos Janzen, D. H. 1970. Herbivores and the number of tree
de campo e análises estatísticas. Ao monitor Marcelo species in tropical forest. American Naturalist, 104:
Ursinho Pinguela, que não poupou esforços para ajudar a 501-528.
todos. Ao Juruna, também sempre pronto para o serviço. A Kubitzki, K. 1985. The dispersal of forest plants. Pp. 192-
todos os alunos do curso 2002 que dividiram os momentos 206 In Prance, G. T. & T. E. Lovejoy (eds.). Key
de angústia, cansaço e felicidade. Às pérolas que nos environments Amazonia. Pergamon Press. Oxford,
ajudaram a sempre seguir em frente sorrindo. Enfim, a todos New York, Toronto, Sydney and Frankfurt. 442 p.
que tornaram este curso possível e maravilhosamente Laurance, W. F. 2001. The hyper-diverse flora of the
interessante e divertido! Central Amazon: an overview. Pp. 47-53 In
Bierregaard Jr, R. O.; C.Gascon; T. E. Lovejoy & R.
C. G. Mesquita (eds.). Lessons from Amazonia: the
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114 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


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Viver ou morrer: apenas uma questão de estratégia?


Carina Lima da Silveira

Introdução botânicos, em simples ou compostas, são justificadas pelas


Em comunidades vegetais, a grande diversidade de pressões exercidas pelo ambiente e pelos organismos
formas foliares existentes refletem, principalmente, uma diretamente relacionados à vegetação. Sendo assim, uma
variedade de estratégias adaptativas, ocasionadas por estratégia possível consiste no re-direcionamento de recursos
diversas pressões seletivas do ambiente. A competição por anteriormente dispensados a determinadas funções, para um
luz para os processos fotossintéticos, a adequação às melhor aproveitados em outras. Um exemplo dessa resposta
mudança abióticas e a ação de herbívoros são os principais às pressões, seria o recorte da lâmina foliar a partir da
tipos de pressão exercida sobre as plantas e que influenciam margem, onde os compostos translocados chegam de forma
diretamente na sua sobrevivência (Fonseca et al. 2000). precária. Da necessidade de tornar a superfície foliar mais
Considerando a disponibilidade de água como um fator efetiva nos processos fotossintéticos, estes recortes da borda
limitante no ambiente, pode-se notar em comunidades atingiram seu pico nas folhas bicompostas, onde a perda de
vegetais, estratégias relacionadas à altura da planta e um folíolo não causa tantos danos à planta como o faria
dimensões como espessura e largura foliar (Richards, 1979). uma folha inteira (Givinish, 1988 apud Fonseca et al. 2000).
A altura da planta e o comprimento da lâmina foliar estão Na maioria das espécies de plantas tropicais, folhas
fortemente relacionados à competição por luz e trocas jovens sofrem mais danos por herbívoros e patógenos do
gasosas, respectivamente, e ambas são dependentes da que folhas maduras. Isto é particularmente marcado em
disponibilidade de recursos como água e nutrientes (Fonseca espécies de ambientes sombreados, onde as taxas de danos
et al. 2000). em folhas jovens aumentam vinte vezes mais em relação às
A espessura foliar pode responder tanto a fatores abióticos folhas maduras (Coley, 1996). Segundo Coley (1983),
como bióticos, a exemplo da pressão exercida por herbivoria em comunidades naturais pode ser alta, reduzindo
herbívoros. Neste caso, a planta tende a alocar mais carbono o crescimento e a reprodução das plantas, e influenciando
no espaçamento da folha em locais mais pobres em recursos, no resultado competitivo dos indivíduos e na composição
já que nestes locais o custo do dano ou perda de uma folha da comunidade. A distribuição de defesas entre espécies e
é superior àquele de locais mais ricos (Richards 1979; tecidos vegetais é refletida, ecologicamente e
Fonseca et al. 2000). A largura da folha está relacionada evolutivamente, na ação dos herbívoros. Várias
com as trocas gasosas realizadas na superfície foliar. Quanto características físicas, químicas e nutricionais da folha
maior for esta medida, mais espessa será a camada adjacente podem ser medidas e correlacionados aos níveis de
de ar na superfície foliar, dificultando o transporte do vapor herbivoria e história de vida da planta (Coley, 1983), porém,
d’água, como a resistência à troca de dióxido de carbono pouco se sabe como as folhas, através de estratégias
(Larcher, 1986; Fonseca et al. 2000). adaptativas, refletem algum tipo de defesa contra herbívoros.
Segundo Fonseca et al. (2000), plantas características Na maior parte das florestas tropicais, as árvores caídas
de áreas mais secas apresentam folhas menores, mais criam aberturas no dossel que alteram sensivelmente as
espessas e coriáceas do que folhas de espécies de áreas mais condições microclimáticas e a fitofisionomia local. Assim,
úmidas. Da mesma forma, plantas típicas de ambientes ricos com os processos sucessionais subseqüentes, a
em nutrientes também apresentam maior área foliar do que heterogeneidade estabelecida nas comunidades vegetais
plantas de ambientes mais pobres. levam à formação de amplos mosaicos vegetacionais
As modificações da lâmina foliar, nos mais diversos taxa (Schupp, 1988).

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 115


Em uma análise descritiva torna-se possível encontrar Taxa de Herbivoria Área Foliar Consumida (%)
similaridades entre as condições climáticas de áreas secas e 0 0
as de uma clareira, independente de suas dimensões e forma, 1 1-6
e a partir de então, inferir sobre as homologias existentes
2 6-12
entre a cobertura vegetal das duas paisagens. Excluindo
qualquer interferência pedológica, as condições inóspitas 3 12-25
criadas com a abertura das clareiras poderiam induzir 4 25-50
respostas morfológicas nas folhas das plantas presentes. Em
5 > 50
relação a essas adaptações, espera-se que ocorram diferenças
morfológicas, principalmente na estrutura das folhas.
Partindo do pressuposto de que em diferentes ambientes, Com a AFC, calculei o índice de herbivoria (IH) , usando
com diferentes pressões bióticas e abióticas, as espécies a seguinte fórmula: IH = S(ni x i) / nt, onde i é o número da
apresentarão estratégias adaptativas específicas para cada classe, ni é o número de folhas naquela classe e nt
ambiente, tenho como objetivo neste trabalho investigar e corresponde ao número total de folhas da espécie (Brilhante,
comparar os tipos de estratégias adaptativas dominantes nas 1997).
folhas de espécies vegetais em áreas de clareira e de floresta. Para cada uma das áreas de clareira e de floresta, calculei
o valor médio das variáveis medidas nas 20 folhas,
Métodos possibilitando a comparação entre os dois ambientes. Para
Realizei este estudo na Reserva do Km 41 (2º 24‘S e 59º verificar como cada uma das variáveis se comporta e
52‘O), do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos compará-las entre os dois ambientes, utilizei um teste t.
Florestais (INPA/Smithsonian Intitution), localizada a cerca
de 70 km NNE de Manaus, AM, na estrada vicinal ZF-3, da Resultados
rodovia BR-174 (Rittl, 1997). A reserva caracteriza-se por A porcentagem média de cobertura vegetal nas áreas
uma formação de Floresta de Terra Firme florestais foi de 90,73% enquanto que nas clareiras esta
(Pires & Prance, 1985). O dossel é rico em espécies, porcentagem foi de 63,80%, sendo significativamente
sendo dominado por representantes das famílias Sapotaceae, diferentes entre si (t = 2,562, g.l.= 9, p = 0,03; Fig. 1). As
Lecythidacae, Leguminosae e Burseraceae (Prance, 1990; áreas de clareira escolhidas apresentaram uma variação na
Rankin-de-Merona et al. apud Jergolinski, 1997). Nos cobertura vegetal sete vezes maior entre si do que as áreas
baixios, ocorre uma mata de composição diferenciada da de floresta. Este resultado mostra que o grau de luminosidade
mata de platô, sendo o componente arbóreo representado aumenta cerca de 30% na área em que uma clareira foi
por Leguminosae, Myristicaceae, Sapotaceae, Meliacae, produzida.
Palmae e Euphorbiaceae (Porto et. al. 1976).
Amostrei dez clareiras e dez áreas de floresta, colocando
paralelamente em cada área, um transecto de dez metros.
Neste espaço, coletei, a cada cinqüenta centímetros, uma
Cobert. do dossel (%)

folha do indivíduo que estivesse mais próximo deste ponto, 120


com, no mínimo, um metro de altura, totalizando vinte folhas
por transecto. 80
Para medir a porcentagem de cobertura do dossel de cada
40
área, utilizei um esferodensiômetro, fazendo medições nos
pontos 0, 5 e 10 metros do transecto. Após isso, cada valor 0
foi multiplicado por 1.04, conforme instruções do clareira floresta
equipamento para correção dos valores. Para as análises,
Ambiente
utilizei a porcentagem média da cobertura do dossel para
cada área.
De cada folha coletada, medi a largura específica, definida Figura 1. Porcentagem média de cobertura vegetal em
pelo diâmetro do maior circulo que pode ser projetado na áreas de clareira e de floresta amostradas, na Reserva do
área foliar, independente da sua forma (Fonseca et al. 2000), Km 41, Amazônia Central. As colunas representam os
o comprimento da lâmina foliar, a espessura foliar e o valores médios e as barras o desvio padrão da média.
comprimento do pecíolo. Além destas medidas, classifiquei
cada folha em relação à presença ou ausência de pêlos, a
margem (lisa ou recortada) e a forma (simples ou composta). A largura específica da folha foi a única variável foliar
Para determinar o grau de herbivoria utilizei uma que se comportou de forma significativamente diferente nos
estimativa visual da Área Foliar Consumida (AFC), dois ambientes (t = 2,563, g.l. = 13,251, p = 0,023; Fig. 2).
utilizando as seguintes categorias propostas por Dirzo Nas clareiras as folhas são duas vezes maios largars que nas
(1984): áreas florestais.

116 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


baseia-se no fato de que durante a queda de uma árvore
Largura da folha (cm) 8 emergente ou do dossel, outras do mesmo porte ou inferior,
6 cedem à ação mecânica da árvore em queda. Com isso,
árvores dos estratos inferiores, de ambientes sombreados,
4
têm na abertura do dossel a oportunidade de constituírem o
2 estrato dominante. Assim, estas, plantas de folhas mais largas
0 definiriam as características foliares da nova comunidade
clareira floresta ali instalada. Existem algumas evidências de que a rápida
expansão reduz o dano total sofrido nas folhas jovens, e as
Ambientes
taxas de expansão foliar entre as espécies são drasticamente
Figura 2. Largura média das folhas em áreas de clareira e diferentes (Coley 1996). Porém, para corroborar esta
de floresta, na Reserva do Km 41, Amazônia Central. As inferência, teria sido necessário que as espécies de
colunas representam os valores médios e as barras o crescimento rápido presentes nas áreas estudadas, que
desvio padrão da média. expandiriam suas folhas a fim de realizar mais fotossíntese,
fossem identificadas.
Em relação às demais variáveis, tamanho da lâmina fo- Outra possível explicação para o padrão encontrado, seria
liar, espessura foliar, presença ou ausência de pêlos nas que as espécies presentes nas clareiras, já estavam
folhas, borda da folha, comprimento do pecíolo e taxa de estabelecidas na área antes de ocorrer o evento que produziu
herbivoria, não encontrei diferenças significativas entre os a clareira. Por possuírem um maior grau de tolerância às
dois ambientes (Tabela 1). mudanças bióticas e abióticas do ambiente, simplesmente
permaneceram na área e aumentaram largura específica de
Tabela 1. Resultados do teste t para as variáveis suas folhas para fotossintetizar mais.
medidas. X = média; DP = desvio padrão; g.l. = graus de Eu esperava encontrar um maior número de plantas que
liberdade; p = probabilidade possuíssem folhas compostas nas clareiras. Entretanto os
resultados mostraram que, para esta variável, não há
Variável Clareira (X±DP) Floresta (X±DP) t g.l. p
diferença entre clareiras e áreas de floresta. Isto está
Tamanho da lâmina foliar 17,594 ± 2,809 18,709 ± 5,353 0,583 13 0,568
Espessura foliar 0,346 ± 0,061 0,321 ± 0,035 1,117 14 0,282
relacionado à composição florística, muito similar em ambas
Presença de pêlos 0,892 ± 0,116 0,950 ± 0,041 1,486 11 0,164 as formações, já que pertenceram a um mesmo contínuo e
Borda foliar 0,818 ± 0,135 0,805 ± 0,076 0,270 14 0,790
compartilham de uma mesma unidade florística, que se
Forma da folha 0,613 ± 0,147 0,595 ± 0,152 0,268 17 0,791
Comprimento do pecíolo 2,02 ± 0,862 1,864 ± 1,326 0,876 15 0,394
manteve mesmo após um distúrbio.
Taxa de herbivoria 1,185 ± 0,204 1,095 ± 0,283 0,815 16 0,426 Estudos comparando áreas com diferentes fisionomias
vegetacionais foram realizados e mostraram diferenças em
relação à presença e quantidade de determinadas estruturas
Discussão acessórias, como tricomas, grau de lignificação foliar,
As diferenças na alocação de biomassa entre espécies distribuição de estômatos e espessura foliar. Estas estruturas
vegetais são, também, o resultado de diferenças na (i) são indispensáveis para que as plantas consigam se
biomassa inicial, (iii) taxa intrínseca de crescimento relativo estabelecer e suportar as condições bióticas e abióticas
e (iii) na disponibilidade de recursos (Mooney et al. 1995), extremas determinadas pelo ambiente.
sendo este último considerado um dos fatores que mais Contudo, ao comparar áreas florestais fechadas e
influenciam a diversidade de estratégias adaptativas clareiras, mesmo com as diferenças na insolação, umidade
encontradas em comunidades vegetais (Crawley 1997). A relativa do ar e do solo e seleção de herbívoros, entre outras
disponibilidade de recursos, como luz e umidade, varia de variáveis, as diferenças não foram evidentes a ponto de
acordo com a paisagem, refletindo-se nas estratégias foliares extrapolar em modificações adaptativas em comuns em áreas
adotadas pelas plantas (Fonseca et al. 2000). Alguns estudos oligotróficas ou xeromórficas, para um formação de história
têm indicado que em clareiras, a maioria das espécies tão recente como as clareiras.
vegetais mostram um crescimento proporcional ao aumento
dos recursos disponíveis na área (Steege et al. 2000). Agradecimentos
Mesmo esperando que folhas de áreas mais secas fossem
Ao meu gorducho, Rodrigo “Diti”, e às minhas
menores e mais espessas do que folhas de áreas mais úmidas,
pimentinhas, Bruna e Nathália, pela paciência e orações
não foi esta a estratégia encontrada nos ambientes estudados.
durante todos estes dias de saudade. Aos meus pais, Cesar e
A largura específica da folha nas áreas de clareira foi maior
Glades, pelo incentivo e carinho de sempre. Ao chefinho,
que nas áreas florestais.
Carlos Fonseca, por todos os ensinamentos, amizade e por
Esta maior largura foliar das áreas de clareiras, pode ser
ter participado do curso durante alguns dias sempre com a
resultado da rápida expansão e endurecimento precoce das
constante alegria que o acompanha. A todos os
folhas, minimizando o período em que são mais vulneráveis
pesquisadores com quem tive a oportunidade de desenvolver
a herbívoros (Coley 1996). Outra abordagem possível,
projetos: Ana Albernaz, Carlos “Jedi” Rittl, Neusa Hamada,
Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 117
Leandro “boca larga” Ferreira, Jorge Nessimian, Geraldinho trecho de Floresta de Terra firme. pp:202-208. In: C.
e Paulo De Marco. Ao Dadão e ao Jansen, pela oportunidade A. Lima (org.) Curso de campo “Ecologia da Floresta
de participar deste curso e dividir alegrias, conhecimentos Amazônica” INPA/ Smithsonian Institution/OTS/
e momentos inesquecíveis. Ao Juruna e ao Pinguela, pelo UNICAMP, Manaus, AM.
apoio, companhia e alegria constantes, mesmo às 5 da Larcher, W. 1986. Ecofisiologia Vegetal. Ed. Pedagógica
manhã. Ao Flávio, pela ajuda na redação deste relatório, e Universitária ltda. São Paulo, BR, 329 p.
suas dicas “fito-fito-fito-ecológicas” e a alegria de todas as Meinzer, F. C., G. Goldstein, P. Jackson, N. M. Holbrook,
horas. À toda a Floresta Amazônia, por sua beleza, mistérios M. V. Gutiérrez, J. Cavelier, 1995. Enviromental and
e rios maravilhosos para mergulhar. E, enfim, a todos os physiological regulation of transpiration in tropical
colegas de curso (Ana Maria, Ana Paula, André, Carolina, forest gap species : the influence of boundary layer and
Daniela, Eduardo “gaúcho”, Eduardo “guma”, Flávio, hydraulic properties. Oecologia 101: 514-522.
Flaviana, Genimar, Geiorge, Josué, Luiz, Patricia, Paula, Mooney, H. A., K. Fichtner & E. D. Schulze 1995.
Sylvia, Vanina e Yumi), pelas inesquecíveis risadas, disputas Growth, photosynthesis and storage of carbohydrates
por computadores, festas, muito brega e, com certeza, and nitrogen in Phascolus lunatu in relation to
grandes amizades. resource avaiability.. Oecologia 104: 17-23.
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Projeto individual

118 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Relações entre morfologia externa e ectoparasitismo
em morcegos (Chiroptera, Mammalia) na Amazônia
Central
George Camargo

Introdução Graciolli & Rui 2001). Ectoparasitos podem prejudicar


Os morcegos formam o grupo de mamíferos com a seriamente a saúde dos morcegos (Overal 1980), mas o
segunda maior diversidade de espécies encontrada nos significado e a intensidade desta relação ainda permanecem
neotrópicos (Findley 1993, Nowak 1994, Voss & Emmons sem resposta. Quanto a relação entre parasitismo e seleção
1996, Tirira 1999) com quase mil espécies, perdendo apenas sexual em morcegos, espera-se que outro fator, p. ex.
para os roedores. Esses animais ocupam os mais variados simetria, seja determinante, pois esses animais não são
nichos ecológicos, que aliado ao fato de muitas espécies visualmente orientados sendo incapazes de selecionar
serem dispersoras de sementes e polinizadoras efetivas de diferentes cores e outros ornamentos sexuais como as aves
várias plantas, confere ao grupo a maior valência ecológica em geral.
dentre os mamíferos (Findley 1993). Portanto, constituem Este trabalho tem o objetivo de descrever a riqueza e
elementos fundamentais no equilíbrio dinâmico dos abundância de ectoparasitos em algumas espécies de
ecossistemas naturais. morcegos da Amazônia Central. Além disso, as seguintes
Os processos que regulam as populações animais podem questões foram investigadas: (1) a prevalência (sensu Bush
ser decorrentes de diversos fatores, como competição, et al. 1997 apud Graciolli & Rui 2001) de ectoparasitos nas
predação, parasitismo e condições abióticas. Entretanto, espécies de morcegos capturadas; (2) a intensidade de
estabelecer qual deles é o mais importante na regulação infestação entre indivíduos de uma mesma espécie de
populacional não é simples. morcego e se há distinção sexual pelo ectoparasito. Também
O parasitismo pode ter um papel determinante na pretendeu-se testar se as medidas de simetria, peso,
regulação de algumas populações. Hudson e colaboradores comprimento do pêlo e área da asa dos morcegos estão
(1991) demonstraram que os parasitos são a causa das relacionados com a riqueza e abundância de ectoparasitos
flutuações cíclicas em populações do galo silvestre inglês presentes.
Lagopus lagopus scotinus. Parasitismo também pode A hipótese central é que morcegos com maior assimetria
exercer forte pressão sobre a seleção sexual em aves (Møller entre o lados do corpo (diferença entre o comprimento dos
1991, Johnson & Boyce 1991). Fêmeas preferem machos antebraços e área das asas) apresentam maior carga
com carga parasitária menor (Johnson & Boyce 1991) e parasitária, assumindo que animais voadores, mais
ornamentos sexuais secundários maiores (Møller 1991). simétricos seriam mais aptos, i.e., apresentariam maior valor
Segundo a hipótese de Hamilton & Zuk (1982), os caracteres adaptativo (fitness) e portanto seriam mais hábeis em evitar
sexuais secundários (caudas longas e cores) indicariam uma ou retirar eventuais infestações por ectoparastitas.
resistência de machos contra parasitos e/ou doenças.
Ectoparasitos reduzem drasticamente a aptidão de aves Métodos
quando ocorrem em grande número ou quando servem como O estudo foi realizado na Reserva do Km 41 (02o24’S,
hospedeiros intermediários para patógenos (Clayton 1991). 59 52’O), pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de
o

Entretanto, na maioria dos casos os ectoparasitos ocorrem Fragmentos Florestais (Instituto Nacional de Pesquisas da
em pequenas populações, com pouco ou nenhum efeito sobre Amazônia/Smithsonian Institution), localizada na estrada
a saúde ou valor adaptativo (fitness) dos hospedeiros. Essas ZF3, uma via vicinal da BR174, ca. de 70 Km de Manaus,
populações em baixa abundância podem ser o resultado da Amazonas.
coevolução hospedeiro-parasito (Clayton 1991). As A vegetação da reserva é de floresta tropical úmida com
interações parasito-hospedeiro, que freqüentemente altura média de 35 m de altura e sub-bosque dominado por
mostram uma evidência circunstancial de co-adaptação, são palmeiras acaules (Pires & Prance 1985). A mata está situada
ideais para testar coevolução, pois incluem uma das mais em terra firme (terreno não alagável) com altitudes variando
íntimas associações conhecidas entre organismos (Price de 50 a 125 m sobre nível do mar. O clima é quente e úmido
1980, Rollinson & Anderson 1985, Proctor & Owens 2000). com temperatura média anual de 26,7oC (RADAMBRASIL
Estudos sobre parasitismo em morcegos ainda são 1978). A precipitação média anual é de 2200 mm, com pico
escassos e limitam-se a uma breve discussão da ocorrência de chuvas entre os meses de março e abril e diminuição
e biologia das espécies de parasitos (veja Coimbra Jr. et al. marcada entre julho e setembro (Lovejoy & Bierregaard
1984, Santos 1990, Autino et al. 1998, Graciolli et al. 1999, 1990). A reserva possui mil hectares, cuja área total está

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 119


dividida em um sistema de trilhas ortogonais formando indivíduos de Artibeus obscurus, M. crenulatum, G.
quadrados de 1 ha. soricina e um dos C. castanea também não estavam
Os morcegos foram capturados com redes de neblina infestados por ectoparasitos.
(‘mist-nets’) de 6,0 x 2,5 m e de 12,0 x 2,5 m, montadas ao
longo de trilhas, estradas e igarapés, de 23 a 27 de novembro Tabela 1. Registro de ocorrência (em abundância) de
de 2002. Em cada noite de coleta foram montadas em média ectoparasitos por espécie de morcegos capturados na
seis redes, que eram abertas ao anoitecer (1800h) e fechadas Reserva do Km 41. Ectoparasitos estão definidos como
por volta das 2200 ou 2300h, dependendo do número de morfo-espécies na primeira coluna. As espécies de
capturas. morcegos estão representados nas demais colunas, como
Para cada morcego capturado foram tomados os seguintes segue: Ac: Anoura caudifer; Aj: Artibeus jamaicensis; Al:
dados: espécie, peso (em gramas), sexo e estágio Artibeus lituratus; Cb: Carollia brevicauda; Cc: Carollia
reprodutivo, comprimento do antebraço esquerdo e direito castanea; Cp: Carollia perspicillata; Lc: Lasiurus cinereus;
e do pêlo, área da asa esquerda e direita e vigor do animal. Pe: Phyllostomus elongatus; Rp: Rhinophylla pumilio; Tb:
O peso foi obtido através de dinamômetro (PesolaÒ) com Tonatia bidens e Ts: Tonatia silvicola.
precisão de 0,5 g. Os comprimentos do antebraço e do pêlo Ectoparasitos Ac Aj Al Cb Cc Cp Lc Pe Rp Tb Ts
foram tomados com paquímetro de 0,1 mm de precisão. A Streblidae
Morfo-espécie 1 1 0 0 6 0 4 0 8 0 0 4
área da asa foi obtida esticando cada uma delas sobre uma Morfo-espécie 2 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0
folha de papel milimetrado e contornando-a com um lápis Morfo-espécie 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0
Morfo-espécie 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 8 0
e, posteriormente, estimada em centímetros cúbicos. O vigor Morfo-espécie 5 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0
Morfo-espécie 6 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0
do animal foi caracterizado em três categorias de aparência: Morfo-espécie 7 0 0 0 14 0 0 0 0 0 0 0
(1) ruim, o animal se apresentava muito machucado; (2) Morfo-espécie 8 0 1 0 0 0 0 4 0 1 0 0
Morfo-espécie 9 0 0 9 0 0 0 0 0 0 0 0
normal, o animal apresentava aspecto geral bom, com Acari
algumas ou pequenas escoriações ou feridas e (3) bom, ani- Morfo-espécie 10 0 0 0 2 0 0 0 0 1 0 0

mal com pelagem brilhante, densa e uniforme, sem


escoriações de qualquer natureza.
Os ectoparasitos foram retirados por catação manual, com O díptero morfo-espécie 1 prevaleceu em cinco das 11
auxílio de pinça. As amostras foram individualizadas por espécies de morcegos infestadas (Tab. 1). A morfo-espécie
hospedeiro e devidamente etiquetadas para posterior 8 foi encontrada em Artibeus jamaicensis, Rhinophylla
morfotipagem. pumilio (Phyllostomidae) e em Lasiurus cinereus
As relações entre as variáveis independentes (peso, (Vespertilionidae). As morfo-espécies 3 e 4 foram
comprimento do pêlo, assimetria entre o comprimento dos encontradas apenas em Tonatia bidens, enquanto que a
antebraços e área das asas) e a riqueza e abundância de morfo-espécie 5 foi detectada apenas em Carollia
ectoparasitos foram analisadas por meio de regressões brevicauda, na qual também foi encontrada com
lineares simples. exclusividade a morfo-espécie 7 em abundância (14
indivíduos). A morfo-espécie 9 foi encontrada apenas em
Artibeus lituratus. A morfo-espécie 7 foi a mais abundante
(14 indivíduos), ocorrendo em um único indivíduo de C.
Resultados brevicauda. A morfo-espécie 9, encontrada apenas em
Foram capturados 29 morcegos pertencentes a 14 Artibeus lituratus, apresentou abundância relativamente alta,
espécies, de duas famílias, Phyllostomidae (13 espécies) e com nove indivíduos. As morfo-espécies 1 e 4, também
Vespertilionidae (uma espécie). Carollia brevicauda (12 apresentaram abundâncias relativamente altas (oito
indivíduos) foi a espécie mais freqüente, seguida das indivíduos) em Phyllostomus elongatus e Tonatia bidens,
espécies congenéricas C. perspicillata e C. castanea, ambas sendo a última exclusiva a este hospedeiro.
com dois indivíduos capturados. Tonatia bidens e Artibeus A maior riqueza de ectoparasitos foi encontrada em
lituratus também foram representadas por dois indivíduos Carollia brevicauda, na qual seis das dez morfo-espécies
cada. As outras nove espécies (Anoura caudifer, Artibeus de ectoparasitos foram coletadas (Tab. 1). Em apenas um
jamaicensis, A. obscurus, Glossophaga soricina, Lasiurus dos dois indivíduos capturados de Tonatia bidens foram
cinereus, Mimon crenulatum, Phyllostomus elongatus, encontradas três morfo-espécies de ectoparasitos (Tab. 1),
Rhinophylla pumilio e Tonatia silvicola) foram o outro estava isento de ectoparasitos.
representadas por apenas um indivíduo cada. O peso (R2=0.000, t= -0.043, g.l.=16, p=0.996) e o
Foram encontradas dez morfo-espécies de ectoparasitos comprimento do pêlo (R2=0.002, t=0.203, g.l.=17, p=0.841,
nos exemplares capturados, sendo nove delas pertencentes Fig. 1) dos indivíduos não estiveram relacionados com uma
à ordem Diptera (Streblidae) e um ácaro (Tab. 1). Pouco maior riqueza de morfo-espécies de ectoparasitos. As
mais de 30% dos morcegos não apresentaram infestação medidas de assimetria entre antebraços (R2=0.000, t= -0.011,
por nenhum ectoparasito. Dos 12 indivíduos capturados de g.l.=19, p=0.991, Fig. 2) e área das asas (R2=0.011, t= -
C. brevicauda, cinco não apresentaram infestação. Os 0.463, g.l.=19, p=0.648, Fig. 3) também não se relacionaram

120 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


3.5 3.5

Riqueza de ectoparasitos

Riqueza de ectoparasitos
A B
3.0 3.0
2.5 2.5
2.0 2.0
1.5 1.5
1.0 1.0
0.5 0.5
0 5 10 15 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
Comprimento do pêlo (mm) Assimetria entre antebraços (mm)

C D
Abundânc ia de ectoparasitos

20 E F
15

10

0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
Assimetria entre antebraços (mm)

Figura 1. Relações entre as variáveis morfométricas: (a) comprimento do pêlo dos indivíduos (b) assimetria do
antebraço (diferença entre o antebraço direito e esquerdo de cada indivíduo); (c) assimetria da área da asa (diferença
entre a área da asa direita e esquerda) e a riqueza de ectoparasitos. Relações entre (d) o peso (e) a assimetria dos
antebraços e (f) a assimetria das áreas das asas de cada indivíduo e a abundância de ectoparasitos encontrada em cada
um deles.

significativamente com a riqueza de ectoparasitos. Dos doze indivíduos de Carollia brevicauda, oito eram
O peso dos indivíduos (R2=0.001, t=0.111, g.l.=16, machos, dos quais três não estavam infectados. Das quatro
p=0.913, Fig. 4) e o comprimento do pêlo (R2=0.031, t= - fêmeas capturadas desta espécie, apenas uma não apresentou
0.738, g.l.=17, p=0.47) não têm relação com o número de ectoparasitos.
ectoparasitos presentes. As medidas de assimetria entre
antebraços (R2=0.01, t= -0.447, g.l.=19, p=0.66, Fig. 5) e Discussão
área das asas (R2=0.04, t= -0.278, g.l.=19, p=0.784, Fig. 6) A especificidade e a prevalência de algumas espécies de
também não tiveram efeito sobre a abundância de ectoparasitos em morcegos hospedeiros está bem relatada
ectoparasitos. em alguns trabalhos realizados em regiões temperadas (e.g.
Quanto ao vigor dos animais, dos 29 indivíduos Overal 1980, Deunff et al. 1990). Na Espanha, Estrada-Peña
capturados, sete apresentavam-se normais. Dois indivíduos e colaboradores (1989) relataram a distribuição e a
de aparência normal não continham ectoparasitos. Os outros prevalência de ácaros em espécies de morcegos nativos.
22 animais tinham aparência absolutamente saudável. Nesses estudos, a maior parte das capturas de morcegos

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 121


foram feitas em cavernas e habitações, onde co-habitavam relações significativas entre caracteres morfométricos de
várias espécies de morcegos. Assim, como os próprios morcegos hospedeiros e riqueza de ectoparasitas no Pantanal
autores advertem, as relações de especificidade entre Sul-Matogrossense. Cabe ressaltar, que essas relações devem
parasito-hospedeiro permanecem pouco conhecidas, ser investigadas dentro de um mesmo táxon de morcego, a
principalmente no que se refere aos morcegos como priori, antes de estabelecer padrões de distribuição da
hospedeiros e a influência do parasitismo em suas comunidade de ectoparasitos dentre os morcegos
populações. No presente trabalho as relações de hospedeiros.
especificidade entre parasito e hospedeiro não puderam ser Assim, se fazem necessários estudos direcionados a re-
verificadas por causa do baixo número de indivíduos sponder questões sobre as comunidades de ectoparasitos,
capturados de cada espécie. Entretanto, vale mencionar a utilizando-se das características e comportamento de seus
suposta especificidade entre T. bidens e as morfo-espécies hospedeiros. Embora alguns parasitólogos discordem, cada
de Strebilídeos 3 e 4, entre C. brevicauda e as morfo-espécies morcego pode ser considerado uma unidade amostral, pois
5 e 7 e entre A. lituratus e a morfo-espécie 9. representa um habitat completo para certos ectoparasitos
Relações de especificidade entre parasitos e hospedeiros (Bush et al. 1997 apud Graciolli & Rui 2001). Apesar dos
são estabelecidas através de compatibilidades fisiológicas, resultados pouco conclusivos do presente estudo, o peso do
ecológicas e comportametais (Overal 1980). A hospedeiro, o comprimento do pêlo e área da asa das
especificidade de ectoparasitas em hospedeiros poucas vezes espécies, além das características morfológicas, eco-
foi estudada no nível de comunidades. Exceção é o trabalho fisiológicas e comportamentais das espécies de morcegos
de Gettinger & Ernest (1995) no qual se investigou a merecem ser profundamente investigadas, pois podem
comunidade de ecoparasitos em pequenos mamíferos não- determinar a presença (riqueza e abundância) ou ausência
voadores no cerrado brasileiro. Entretanto, muitas destas de espécies de ectoparasitas e estes, podem atuar como
relações não são específicas. Overal (1980) afirma que agentes importantes na regulação das populações de
ectoparasitos dípteros são freqüentemente não-específicos, morcegos hospedeiros.
ocorrendo em diversas espécies de morcegos. A capacidade
de vôo desses ectoparasitos permite que eles explorem e Agradecimentos
mudem de hospedeiros, conforme suas necessidades de Em primeiro lugar gostaria de agradecer e parabenizar à
alimentação e abrigo (Overal 1980). dupla genial, que veio diretamente da tela do Cartoon Net-
Não realizei testes com o vigor dos animais por estes work para a coordenação do curso de campo: Ecologia da
apresentarem apenas duas categorias de aparência, sendo Floresta Amazônica (PDBFF): Dadão ‘Pink’ (Eduardo
que dois deles, que continham algumas escoriações Venticinque) & Jansen ‘Cérebro’ Zuanon; agradeço à vocês
(aparência normal) não estavam infectados. A preferência dois desde a minha seleção para o curso até os dias
por machos ou fêmeas dentro de uma mesma espécie e a descontraídos de muitas risadas e também pelos dias de
prevalência dos diversos táxon de parasito também não fo- cobrança de relatórios, igualmente descontraídos. Ao grande
ram testadas devido ao baixo número de amostras e incansável Ocírio ‘Juruna’ Pereira e ao amigo André Faria
(indivíduos) por espécie. Mendonça agradeço por me ajudarem na coleta de dados e
A inexistência de relações entre variáveis morfológicas pela companhia valiosa em diversos momentos. Ao amigo
e a riqueza e abundância de ectoparasitos também poderiam Marcelo ‘Pinguela’ Moreira por estar sempre alerta quanto
ser explicadas pelo (a): (1) o número de amostras não foi ao apoio logístico, pelas idéias e sugestões e pelas boas
suficiente para detectar um possível efeito, (2) baixa acuracia risadas durante todo o curso. A todo pessoal de apoio, Srta.
nas medidas de área de asa, estimadas com um erro Maria do Carmo, Sr. José Jorge, Raimundo Nonato, Júnior,
considerável devido ao fato de serem tomadas com o ani- Sr. Ari e as demais pessoas do staff que sequer fiquei sabendo
mal vivo e estes se moverem freqüentemente, expandindo e o nome. Aos revisores deste manuscrito Jansen Zuanon,
retraindo as asas, (3) certa dificuldade de coletar a totalidade Glauco Machado e Paulo De Marco, muito obrigado pelas
de ectoparasitos presentes (veja Proctor & Owens 2000), dicas e sugestões. A amiga Paula Pedrosa pela disposição
considerando também que estes desenvolveram mecanismos em me ajudar com os gráficos do Systat. Por fim, a todos os
para evitar a dizimação de suas populações que a auto- ilustríssimos professores que participaram do curso e a todos
limpeza (grooming) de seus hospedeiros provoca (Clayton os novos amigos e amigas, pela proeza de convivermos em
1991) e (4) possibilidade de não haver relação alguma en- harmonia, mesmo que confinados, durante os trinta dias do
tre as variáveis estudadas, como mostram os resultados aqui curso.
obtidos.
As outras variáveis (peso, comprimento do pêlo e a
diferença entre as medidas dos antebraços esquerdo e
Referências Bibliográficas
Autino, A.G., Claps, G.L. & Bertolini, M.P. 1998.
direito) também foram pouco elucidativas. Assim, refutei
Primeiros registros de insectos ectoparasitos (Diptera,
minha hipótese de que a maior assimetria entre os lados do
Streblidae) de murciélagos de Parque Nacional Iguazú,
corpo dos hospedeiros promoveria maior carga parasitária.
Misiones, Argentina. Revta. bras. Ent., 42(1/2): 59-63.
Teixeira e colaboradores (2001) também não encontraram

122 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


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Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 123


Caracterização hierarquica da bacia de drenagem na
Reserva Km 41, Manaus AM
Flávio José Soares Júnior

Introdução dos igarapés, enquanto nas cabeceiras, onde o depósito


A Bacia Amazônica, com mais de dois bilhões de anos, primário deve ser maior, espera-se que a fragmentação e
é uma enorme depressão originada a partir de uma bacia decomposição sejam relativamente menores.
intercratônica da plantaforma brasiliana e por depósitos Além da distribuição e fragmentação do folhiço
sedimentares e magmáticos posteriores ao pré-cambriano depositado nos leitos, também características físicas
(Putzer 1984), que se estendem até o presente período. A relacionadas à ordem do igarapé devem ter relação com a
paisagem predominante é de uma extensa planície onde a entrada dos mesmos. Assim, os descritores que melhor
Bacia Amazônica alterna seus amplos depósitos definiriam a estrutura de um curso d‘água, (profundidade, a
sedimentares com afloramentos graníticos vestigiais da largura e a vazão) deveriam atingir seus valores máximos
rocha matriz. Desses afloramentos, os três arcos geológicos nos corpos d‘água de ordens superiores. A velocidade do
que delimitam os terços inferior, médio e superior do rio fluxo de água, por sua vez, está condicionada por numerosos
Amazonas (Purús, Gurupá e Iquitos) são responsáveis fatores que independem da posição hierárquica do igarapé,
diretos por parte das condições mesoclimáticas, topográficas mas que influenciam diretamente na vazão.
e hidrológicas da região central da Amazônia (Putzer 1984). O presente estudo objetivou caracterizar os igarapés da
O clima, por sua vez, associado com as características Reserva Florestal do Km 41 quanto a ordem e testar se os
de relevo e hidrografia, propiciam o estabelecimento de uma fatores profundidade, largura, vazão e tipo de depósito do
vegetação principalmente florestal úmida, com padrões de leito do igarapés, além da velocidade da água, definiriam
distribuição definidos também pelas redes de drenagem as diferenças entre os eles, sob a perspectiva da Teoria do
formadas por igarapés de pequenas dimensões. Rio Contínuo”.
Salati & Marques (1984) relatam a importância das
árvores na interceptação de até 25% da precipitação. Esta Métodos
água geralmente evapora antes de alcançar o solo, e, Área de estudo
juntamente com o percentual de água que se perde por A Reserva Florestal do Km 41 está localizada a
evapotranspiração, constituem uma perda representativa de aproximadamente 90 km NNE de Manaus - AM, entre as
água no sistema (Salati & Marques 1984). coordenadas 2o24’26" – 2o25’31" S, 59o43’40" – 59o45’50"
Obviamente, é de se esperar que ocorram variações nestes W e em altitudes variando de 50 a 125 m (Oliveira 1997).
percentuais de interceptação e de evapotranspiração, O clima local é classificado como Am (clima tropical
mediante alterações na estrutura da cobertura vegetal, tais úmido de monções com precipitação excessiva e ocorrência
como, formação de clareiras, aberturas de estradas ou mesmo de 1-2 meses de baixa precipitação) no sistema de Köppen.
em condições naturais como pontos de deciduidade no A média de temperaturas para Manaus é de 26,7o C, com
dossel ou em vegetação ciliar. Esta última situação pode flutuações de 2 o C (Anon. 1978, apud Lovejoy &
propiciar às cabeceiras dos igarapés uma entrada maior de Bierregaard 1990). A precipitação média é de 2.200 mm/
energia solar e sedimentos (Beaumont 1975). ano, com uma estação chuvosa de dezembro a maio e uma
Um conceito que se baseia também neste sistema de fluxo estação seca de junho a novembro (Fisch et al. 1998).
de energia, “O Rio Contínuo”, aborda entre outros pontos, A vegetação dominante é a Floresta de Terra Firme, com
a relação de depósito primário de compostos orgânicos e o ocorrência de Matas de Baixio onde correm os igarapés.
seu carreamento ao longo dos contínuos das malhas de Estas Matas de Baixio ocorrem sobre solos encharcados,
drenagem (Vanotte et al. 1980 apud Botero 1999). Nesta arenosos, lixiviados e pobres em nutrientes (Oliveira 1997).
abordagem, a hierarquia dos riachos ou igarapés,
condicionada por características exclusivamente Metodologia
arquiteturais (Horton 1945; Strahler 1954, 1957; apud Beau- Foram alocadas 43 unidades amostrais em 25 igarapés,
mont 1975), tenderia a apresentar resíduos mais em uma área aproximada de 220 hectares. O número e a
fragmentados a medida que se subiria na escala hierarquica localização das unidades amostrais em cada igarapé foram

124 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


definidas tomando por base a heterogeneidade arquitetônica 400 (a)
do mesmo ao longo de seu curso. Em cada ponto amostral

Largura (cm)
300
foram feitas medidas de largura e profundidade do leito,
velocidade da água (para o cálculo de vazão - área do leito 200
do igarapé em cm2 x velocidade em cm/seg.) e número de 100
interseções. Esta última, uma medida do grau de
0
fragmentação do folhiço acumulado no leito dos rios, foi
1 2 3
feita colocando uma régua sobre uma amostra de folhiço e
ordem
contabilizando os pontos em que cada parte das folhas tocam
a régua. O depósito nos leitos foi também observado e 60 (b)

profundidade (cm)
classificado em dois tipos: areia ou folhiço. 50
As medidas de largura dos igarapés foram divididas em 40
10 partes iguais, o que resultou em nove pontos onde foram 30
tomadas medidas de profundidade, a partir das quais se 20
estabeleceu a área seccional dos igarapés. 10
A classificação dos igarapés quanto à ordem foi realizada 0
com auxílio de um mapa e conforme a proposta de Horton 1 2 3
(1945), modificado por Strahler (1954, 1957) apud Beau- ordem
mont 1975). Assim, todas as nascentes foram consideradas
200000 (c)
igarapés de primeira ordem, estes por sua vez ao se unirem
vazao (cm3/s)

formaram os de segunda ordem. Os de terceira ordem são 150000


formados pela união de dois de segunda ordem, e assim
100000
sucessivamente.
A relação entre as variáveis mensuradas e a variável 50000
resposta (ordem dos igarapés) foi testada por meio de uma 0
Análise de Variância (ANOVA). 1 2 3
ordem
Resultados
Figura 1. Médias e desvio padrão para as variáveis a)
A classificação dos igarapés dentro da Reserva Florestal
largura, b)profundidade e c) vazão de igarapés de 1o, 2o e
do Km 41 relaciona 14 riachos de primeira ordem, seis de 3o ordem na Reserva do Km 41.
segunda ordem (sendo três deles segmentos de um mesmo
contínuo) e cinco de terceira ordem, sendo todos parte de p<0,01, R2=0,486) também distinguiram os igarapés de
uma mesma microbacia de drenagem. cabeceira em relação aos demais (Figuras 1b, 1c).
A largura média encontrada para os igarapés foi de 155 A variável que estabelece o grau de fragmentação do
cm, e a profundidade foi de 17,3 cm. A velocidade média substrato não apresentou significância na relação com a
do fluxo de água foi de 23,7 m3/s11. ordem dos igarapés (F[2,36]=0,255, p=0,776, R2=0,014),
As observações de campo evidenciaram a presença de sendo observado durante as idas à campo, a ausência de
igarapés secos, enquanto que outros, com relativo fluxo de qualquer padrão quanto à posição na hierarquia dos igarapés.
água, não estavam relacionados no mesmo mapa. A largura A velocidade de correnteza também não apresentou relação
de alguns igarapés de primeira ordem tinham as suas margens significativa com a ordem (F [2,36] =0,255, p=0,776,
muito afastadas, formando amplos charcos, com poças e R2=0,014).
pequenos filetes de água corrente isolando porções de terra Mesmo não sendo a proporção de folhiço e sim o seu
e de vegetação. O inverso ocorria com a profundidade, que grau de fragmentação que melhor caracterizaria os estados
em certos trechos de igarapés de primeira ordem, atingiam de cada igarapé, foram analisadas as proporções desse
mais de um metro. componente para reforçar as inferências embasadas pelas
Entretanto, tomando por base os pontos mais outras variáveis. Assim, as duas variáveis restantes, cuja
característicos de cada trecho, a variável que melhor relação deveria estar particularmente relacionada com a
explicou a “ordem” dos igarapés foi a largura (F[2,36]=22,354, Teoria do Rio Contínuo, não apresentaram relação
p<0,01, R2=0,554) (Figura 1a). As variáveis profundidade significativa. A proporção do substrato do leito dos igarapés
(F[2,36]=21,845, p<0,01, R2=0,548) e vazão (F[2,36]=17,031, de primeira a terceira ordem coberta por areia (Figura 2a)

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 125


mesmo não apresentando um alto valor de probabilidade, A relação significativa entre a largura, profundidade,
não responderam à caracterização por ordem dos braços da vazão e a ordem dos igarapés (variáveis altamente
bacia de drenagem desta malha hidrológica (F[2,36]=2,127, correlacionadas), corrobora o fato dos igarapés de terceira
ordem serem estruturalmente adequados para comportarem
p=0,060, R2=0,014). Uma condição similar foi encontrada
um maior volume de água, já que estes canalizam o fluxo
para a proporção de folhiço no substrato entre as três ordens
de águas dos igarapés a montante. O mesmo ocorre com os
de igarapés (Figura 2b) que também não apresentou igarapés de segunda ordem quando comparados aos de
diferenças significativas (F[2,36]=1.531, p=0.188, R2=0.014). primeira ordem.
O grau de fragmentação do folhiço acumulado, não
8 (A) corresponde ao predito pela Teoria do Rio Contínuo, onde
esperávamos materiais mais fragmentados nas porções finais
6
areia total

dos igarapés e principalmente naqueles de maior ordem.


4 Em oposição a essa hipótese, seria lógico imaginar que por
drenarem áreas maiores e receber maiores quantidades de
2
material orgânico oriundo da floresta adjacente, as porções
0 finais dos igarapés de 3o ordem deveriam estar recebendo
1 2 3 um adicional de folhiço a ser somado àquele carreado pelo
ordem fluxo dos rios desde as suas nascentes.
Por fim, a velocidade média da água, não pareceu
4
corresponder com fidelidade à vazão, já que a mesma variava
3 muito ao longo do próprio igarapé. Isso nos leva a acreditar
(B)
folhico

que esta não é uma boa variável para predições sobre ordens
2 de rios. Talvez, a utilização de equipamentos mais refinados
de medida, e de uma metodologia que preveja as variações
1
de velocidade nas porções mais turbulentas dos igarapés
0 possa sanar este problema e levar a resultados mais
1 2 3 confiáveis.
ordem
Agradecimentos
Agradeço a ajuda dos professores Jansen e Paulo, na
Figura 2. Proporção de a) areia e de b)folhiço acumulado
busca por uma hipótese a ser trabalhada junto aos igarapés,
no leito dos igarapés.
e a todos os professores envolvidos neste “super curso”; ao
Marcelo e ao Juruna pelo constante apoio; ao Luiz, grande
Discussão companheiro no sofrimento de campo e nas análises e
Definidas as características físicas e estruturais dos discussões sobre estes 30 dias de curso; à Carina, por ter
igarapés que compõem a microbacia de drenagem da me orientado nas análise estatísticas dos dados e em sua
Reserva do Km 41, torna-se possível avaliar a importância interpretação; aos CD’s da Paula e Sylvia que me salvaram
relativa de cada igarapé dentro conjunto do sistema da eminente loucura em ter de escutar “brega e forró” por
hidrológico, ao invés de caracterizá-los de forma simplista tanto tempo e, a todos os meus novos amigos (André (Su-
como o fazem desde 1945, a partir da iniciativa de Horton per Kid - Um amigo para o resto da vida, eu espero), George,
(citado por Beaumont 1975). Esta crítica somente reforça a Josué, Mestre Eduardo, Guma, Ana Paula, Carolina, Patrícia,
de Chorley (1969 apud Beaumont 1975), que acreditava na Vanina, Yumi, Daniela, Genimar, Ana Maria, Flaviana) que
inadequação do método por este não seguir as regras básicas espero rever em breve.
de adição e multiplicação algébrica, ignorando o fato que Por fim, agradeço a Deus por estar cuidando daqueles
muitos igarapés de segunda ordem comportam volumes que tanto amo (Mãe, Pai, Letícia, Lívia, Laurinha (minha
muito acima dos seus vizinhos de mesma ordem, bastando flor de mel) e a Ana Paula) enquanto estou longe.
que esse receba como afluente, vários igarapés de primeira Obrigado.
ordem.
Conforme esperado, igarapés de maior magnitude Referências bibliográficas
(terceira ordem) estão propensos a receberem uma Beaumont, P. 1975. Hidrology In: River ecology: studies
quantidade maior de energia e biomassa, também pelo maior in ecology. Editor: Whitton, B.A. University of
afastamento de suas margens, o que resulta em menor California Press. Los Angeles, USA.
cobertura do dossel, deixando-o exposto à ação dos fatores Botero, J. I. S. 1999. Aplicação do conceito de rio
físicos climáticos, gerando consequentemente uma maior contínuo em igarapés de primeira, segunda e terceira
produtividade primária no sistema aquático. ordem na bacia do Rio Urubu. Ecologia da Floresta

126 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


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um sistema universal. IBGE, Rio de Janeiro, Brasil.
do componente arbóreo de uma floresta de terra firme

Fatores de mortalidade de galhas em ambientes de


borda e de interior da mata
Eduardo Cardoso Teixeira

Introdução como, por exemplo, as galhas (Resende et al. este volume).


A destruição de hábitats é uma das maiores ameaças à Galhas são tumores vegetais causados por diversos
biodiversidade e a principal causa da crise de extinção atual organismos como fungos, nematódeos, bactérias, vírus e,
(Wilcox & Murphy 1985, Wilson 1997, Joly & Bicudo principalmente, insetos. As galhas têm recebido especial
1999). Adicionalmente, a fragmentação de ecossistemas em atenção por parte dos pesquisadores, devido às suas
paisagens intensivamente cultivadas e com pouca cobertura qualidades como potenciais indicadores de diversidade e
florestal remanescente torna-se ameaça ainda maior às perturbação de habitats (Fernandes et al. 1995). Fernandes
espécies que ocupam essas áreas (Morellato 1992, & Price (1988) ressaltam alguns atributos como riqueza,
Rosenberg et al. 1997). abundância, especialização, facilidade de amostragem e
Muitos estudos têm sido realizados com o intuito de associação estreita com outras espécies, principalmente, com
verificar os efeitos da fragmentação e da destruição de habi- suas plantas hospedeiras, que contribuem para que estes
tats sobre a fauna. É consenso entre os pesquisadores que a organismos sejam considerados uma importante ferramenta
principal conseqüência desses impactos é o declínio tanto em estudos de monitoramento e avaliação de impactos
no número como na diversidade das espécies mais sensíveis ambientais.
e/ou o aumento da riqueza daquelas mais oportunistas, além Latitude, altitude, temperatura e umidade são fatores que
de profundas mudanças na estrutura e funcionamento dos fortemente influenciam a diversidade e a distribuição dos
ecossistemas alterados (Goodman 1987, Murcia 1995, Hill agentes galhadores (Fernandes & Price 1988). Vários
et al. 1999). estudos indicam uma maior riqueza de galhas em ambientes
Um dos principais fatores que alteram o funcionamento mais secos e expostos à luz solar do que em ambientes mais
dos ecossistemas florestais é o efeito de borda (Bierregaard sombreados e úmidos (Fernandes et al. 1995, Fernandes et
et al. 1992). Sob este efeito, o interior do sub-bosque é al. 2002, Gonçalves-Alvim & Fernandes 2001b, Price et
exposto a condições microclimáticas drasticamente al. 1998). A mortalidade diferencial de galhas registrada
diferentes, que incluem mudanças na temperatura, aumento nesses ambientes tem sido apontada como o principal
na insolação, menor umidade relativa e maior exposição ao mecanismo ecológico responsável por este padrão de riqueza
vento (Bierregaard et al. 1992, Laurance 1997). Essas (Fernandes et al 1995, Fernandes et al. 2000, Gonçalves-
mudanças nos fatores abióticos da borda para o interior da Alvim & Fernandes 2001a). De uma forma geral, a
mata (Laurance 1997) afetam a composição e a riqueza de mortalidade dos organismos galhadores é maior em
vários organismos (Pavón et al. 1999, Santos et al. 1999), ambientes úmidos do que em ambientes secos (Fernandes

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 127


et al. 2002). morfologia da galha como um preditor da espécie (Fernandes
Os principais fatores responsáveis pela mortalidade das & Price 1992, Fernandes et al. 2002). Os principais
galhas são as doenças causadas por fungos, o parasitismo, a caracteres analisados são a presença/ausência de pêlos, a
predação e a hipersensitividade das plantas (Fernandes et cor, a forma e a morfoespécie da planta hospedeira. Neste
al. 2000, Fernandes & Negreiros 2001, Fernandes et al. estudo optou-se em seguir tal método de identificação.
2002). A porcentagem de ocorrência destes fatores varia de Para análise dos fatores de mortalidade, dissequei todas
acordo com o ambiente no qual as galhas estão presentes. as galhas coletadas. Os fatores analisados foram o
Por exemplo, Fernandes & Price (1992) demonstraram em parasitoidismo, a predação dos tecidos da galha e/ou da larva
estudo anterior que em ambientes xéricos as porcentagens do galhador, doenças causadas por fungos e a reação de
de parasitismo e de doenças provocadas por fungos em hipersensibilidade (HR) da planta em relação ao agente
galhas foram significativamente maiores do que em galhador (Fernandes et al. 2000, Fernandes & Negreiros
ambientes mésicos. Por outro lado, neste último as galhas 2001). Utilizei a categoria “outros” nos casos em que não
foram mais predadas do que no primeiro. foi possível determinar o fator responsável pela morte da
Apesar de alguns trabalhos indicarem a existência de uma galha.
alta diversidade de galhas na Amazônia (Mendes et al. este Para análise dos dados utilizei as diferentes freqüências
volume, Resende et al. este volume), poucos são os estudos de ocorrência dos fatores de mortalidade de galhas
realizados com esses organismos na região (vide, por registradas nos dois ambientes estudados por meio do teste
exemplo, Mendes et al. este volume). Desta forma, é de de Mann-Withiney (Zar 1999).
fundamental importância a realização de estudos que
procurem elucidar os processos e mecanismos que Resultados
influenciam os padrões de riqueza de galhas na Amazônia, Coletei 2087 galhas, sendo 867 indivíduos registrados
de forma a viabilizar futuros trabalhos de monitoramento e no interior da mata (MT) e 1220 no ambiente de borda (BD).
avaliação de impactos ambientais com base nesses Entre as parcelas amostrais, foi registrada uma grande
organismos. variação do número de indivíduos de galhas observados nos
Assim, o objetivo deste estudo foi comparar a riqueza e dois ambientes (MT= 12 – 183; BD= 14 – 654 galhas).
os principais fatores de mortalidade de galhas entre um Identifiquei 45 morfoespécies de galhas, sendo 22 na mata
ambiente de mata e um de borda na Amazônia Central. e 28 na borda. Apenas 2 morfoespécies de galhas foram
Espera-se que a porcentagem de mortalidade das galhas seja registradas em ambos ambientes.
maior no interior da mata do que na borda. Além disso, A freqüência de mortalidade total foi maior na mata (±
provavelmente, na borda as galhas devem ser mais predadas 55 %) do que na borda (± 28 %) (Tab. 1, Fig. 1). Em relação
e parasitadas do que na mata, onde as doenças causadas por aos fatores de mortalidade, tanto no MT como no BD, a
fungos devem ocorrer com maior freqüência. hipersensitividade das plantas contra o galhador foi a princi-
pal causa de morte das galhas (Fig. 2). Não encontrei
Métodos diferenças entre as freqüências de ocorrência dos fatores de
Desenvolvi o trabalho na Reserva do Km 41 (2o 24’S mortalidade dos galhadores na borda e no interior da mata
59o 44’W), localizada a 70 km ao norte de Manaus, AM, (Tab. 1).
durante o mês de novembro de 2002. A reserva é constituída A hipersensitividade das plantas em relação aos
por uma área contínua de floresta de terra firme, pertencente galhadores foi o mais importante fator de mortalidade das
ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais galhas tanto na borda (± 50% da causa de morte) como no
(PDBFF, INPA/Smithsonian). A temperatura média anual é interior da mata (± 60%). As doenças fúngicas, a predação
de 26,7o C e a precipitação anual é de aproximadamente e o parasitoidismo foram maiores no ambiente de borda do
2200 mm (Lovejoy & Bierregaard 1990). Os ambientes- que na borda. Estes também foram responsáveis pela morte
alvo deste estudo foram a borda (BD) e o interior da mata das galhas, mas de forma menos intensa do que a reação de
(MT). Como ambiente de borda, foi utilizada a estrada de hipersensitividade (Fig. 2).
acesso à reserva.
Para a coleta das galhas, delimitei dois transectos de 1 Tabela 1. Média e desvio padrão das porcentagens de
km em cada ambiente de estudo. Ao longo de cada transecto ocorrência dos diferentes fatores das galhas no interior e
demarquei, aleatoriamente, cinco parcelas de 2 x 5 m. No na borda da mata. Valores do teste de Mann-Whitiney
total, amostrei 16 parcelas por ambiente. Coletei todas as (U).
galhas avistadas nas plantas presentes no interior das
Mata Borda U P
parcelas, até uma altura de 2 metros, as quais foram Fungo 8,1 ± 12,98 4,5 ± 14,37 2,83 0,09
acondicionadas em sacos plásticos para posterior Parasitoidismo 3,4 ± 10,09 3,7 ± 10,94 0,47 0,49
identificação. Em laboratório, identifiquei as galhas em Predação 8,6 ± 14,45 5,3 ± 9,84 0,57 0,45
Hipersensibilidade 21,5 ± 34,08 13,4 ± 30,62 1,95 0,16
morfoespécies. Dado que a identificação das espécies de Outros 0,0 ± 0,0 0,6 ± 2,64 1,41 0,23
insetos galhadores é difícil, muitos trabalhos utilizam a Mortalidade geral 41,6 ± 34,06 27,6 ± 34,73 3,85 0,05

128 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


60 488 este estudo, pois os fungos mataram mais galhas na borda
50 do que na mata. Além disso, a autora citada levanta a
40 possibilidade de que este fato seja uma conseqüência do
330 maior número e riqueza de insetos presentes neste tipo de
(%)

30
20 ambiente (Fowler et al. 1993, Didham 1997), pois os
10 mesmos podem atuar como vetores de infecções permitindo
0 a penetração e a ação de fungos através dos danos que
MT BD causam nas folhas. Esta maior abundância de insetos na
Mortalidade borda também poderia explicar porque, em relação ao inte-
rior da mata, neste ambiente ocorreu uma maior freqüência
Figura 1. Mortalidade (%) das galhas registradas no de galhas predadas e parasitadas.
interior da mata (MT) e na borda (BD). Os números acima A reação de hipersensitividade é um importante tipo de
das barras indicam os valores absolutos de mortalidade defesa induzida das plantas em relação ao ataque de
de galhas em cada ambiente. organismos galhadores (Fernandes 1990, 1998). Esta reação
foi recentemente descrita como o mais importante
mecanismo de resistência de plantas contra insetos
70
285
herbívoros que possuem uma íntima associação com a sua
60 planta hospedeira, como por exemplo, os galhadores
158
50
(Fernandes 1992). Entretanto, esta reação têm sido
113
(%)

40
137 negligenciada como importante fator de mortalidade em
30
20 49 estudos populacionais de insetos herbívoros (veja Fernandes
42 1990, Price et al. 1990).
10 24 25 15
0
0 A riqueza semelhante de espécies registrada na mata e
HS FG PD PR OT na borda foi provavelmente um reflexo do método de
Fatores de mortalidade amostragem aplicado neste estudo. Em trabalho realizado
recentemente nos mesmos locais, no qual o esforço de
Figura 2. Porcentagens dos fatores de mortalidade (%)
amostragem foi padronizado em horas/ambiente, a riqueza
das galhas registradas no interior (barra escura) e na
de espécies na borda foi maior do que aquela registrada no
borda (barra clara) da mata: hipersensibilidade (HS),
interior da mata (Resende et al. este volume).
doenças causadas por fungos (FG), predação (PD),
Organismos galhadores possuem uma forte associação
parasitoidismo (PR) e outros (OT). Números acima das
com as suas plantas hospedeiras (Fernandes 1992). Desta
barras indicam os valores absolutos dos respectivos
forma, a distribuição das espécies vegetais ao longo de um
fatores nos dois ambientes (c2= 18,86; GL=3; P< 0,001).
ambiente influencia a distribuição das espécies de galhadores
presentes no mesmo. No decorrer da realização deste
Discussão trabalho, observei que, em grande parte, as galhas estavam
Este trabalho demonstrou que o mecanismo que produz distribuídas em manchas de indivíduos, de acordo com as
a abundância diferencial (Fernandes et al. 1995, Gonçalves- espécies de plantas nas quais as mesmas ocorriam.
Alvim & Fernandes 2001a, Fernandes et al. 2002) de insetos Por sua vez, a composição de espécies do MT e do BD
galhadores em ambientes de borda e interior de floresta é a diferiu muito, refletindo as particularidades de cada hábitat.
maior porcentagem de mortalidade destes organismos na Fernandes & Price (1988, 1991) propõem que, a longo
mata (vide Fig. 1). Este resultado é corroborado por estudos prazo, as taxas diferenciais de mortalidade entre ambientes
realizados em outros locais, onde a abundância e a riqueza xéricos e úmidos têm levado a uma especiação e a uma maior
de galhas foram maiores em ambientes xéricos do que em irradiação dos insetos galhadores em ambientes mais secos
ambientes mésicos (Fernandes et al. 1995, Gonçalves-Alvim e expostos à luz solar. Tais processos podem explicar esta
& Fernandes 2001a, Fernandes et al. 2002, Price et al. 1998). composição particular de galhas registrada em cada
A borda da mata é um ambiente mais exposto à ação da ambiente estudado, o que também é influenciado pela
radiação solar e à dessecação do que o interior da mata. composição e pela riqueza florística desses ambientes
Modificações na disponibilidade de nutrientes e/ou água (Fernandes 1992).
alteram os balanços hormonais e fisiológicos das plantas, o Por fim, a distinção das comunidades de galhas de
que as torna mais suscetíveis ao ataque de herbívoros ambientes secos e úmidos assinala o potencial de utilização
(Fernandes 1992) e à ação dos organismos galhadores das mesmas como organismos indicadores de diversidade e
(Fernandes & Price 1992). qualidade do habitat (Fernandes et al. 1995, Resende et al.
Pavón (1999) em seu estudo registrou uma maior este volume). No entanto, são necessários mais estudos que
incidência de fungos sobre as folhas de plantas presentes na busquem elucidar a relação existente entre as espécies
borda do que no interior da mata. Este resultado corrobora galhadoras e o ambiente.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 129


Agradecimentos galling herbivores across host taxa. Ecological
Agradeço aos colegas Paula M. Pedrosa, Flávio J. Soares Entomology 26: 46-55.
Júnior, Genimar B. Julião, Ana Paula Carmingnotto, Daniela Fernandes, G. W. & P. W. Price. 1988. Biogeographical
C. Resende, Carina L. da Silveira, Luiz H. C. Júnior, George gradients in galling species richness. Oecologia 76:
Camargo, Carolina L. Morales, Flaviana M. de Souza, 161-167.
Vanina Z. Antunes, Sylvia M. Mendel, Eduardo V. “Guma”, Fernandes, G. W. & P. W. Price. 1992. The adaptive
André F. Mendonça, pela amizade e pelo convívio; significance of insect gall distribution: survivorship of
especialmente aos colegas Josué P. da Silva Nunes, Yumi species in xeric and mesic habitats. Oecologia 90: 14-
Oki, Ana Maria Benavides, Patrícia G. Tello, pela amizade, 20.
pelos bate-papos e por todas as lições aprendidas; aos Fernandes, G. W., R. C. Araújo, S. C. Araújo, J. A.
professores “Dadão”, Jansen, Glauco, Wilson, Paulo, Jorge, Lombardi, A. S. Paula, R. Loyola-Jr. & T. G.
Arnaldo, Ana, “Boca Larga”, Neusa, Michel, Carlos, pela Cornelissen. 2002. Insects galls from savanna and
ajuda e pela orientação dos trabalhos; ao professor rocky fields of the Jequitinhonha Valley, Minas Gerais,
“Geraldinho”, pelas idéias e pelo auxílio no projeto indi- Brazil. Naturalia 26: 39-49.
vidual; ao Juruna e ao Marcelo “Pinguela” pelo apoio e pelos Fernandes, G. W, T. G. Cornelissen, R. M. S. Isaias & A.
ensinamentos de cada dia; ao “Jorjão”, “Jade”, ao pessoal F. Lara. 2000. Plants fight gall formation: hypersensi-
do barco. Enfim, a todos agradeço a convivência, o tivity. Ciência e Cultura Journal of the Brazilian
coleguismo, a aprendizagem e os dias de novembro de 2002, Association for the Advancement of Science 52(1): 49-
que serão eternamente lembrados. A Deus por mais esta 54.
oportunidade de vida. Fowler, H. G., C. A. Silva & E. M. Venticinque. 1993.
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130 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


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Floresta Amazônica. Janeiro: Nova Fronteira. 657 pp.

Caracterização de ninhos e estágios de


desenvolvimento de vespas (Vespidae: Polybiinae) de
uma área de terra firme, Amazônia Central
Sylvia Miscow Mendel

Introdução uma casta de soldados e as operárias são aladas (Barnes,


A eussocialidade em insetos pode ser definida por três 1984).
características comuns: as operárias de uma colônia As espécies que constroem ninhos o fazem por
cooperam no cuidado com a prole da casta reprodutiva; há enxameagem ou sociotomia, isto é, uma parte da população
divisão de tarefas entre as castas da colônia e ocorre desloca-se para outro local, fundando um novo ninho. A
sobreposição de pelo menos duas gerações (Wilson, 1971). estrutura do ninho pode variar, com ninhos expostos ou
As vespas constituem um grupo muito diverso em encobertos, constituídos de favos verticais ou horizontais
morfologia e comportamento (Morato, 1993), sendo a (Fig. 1a) (Borror & De Long, 1984).
eussocialidade quase exclusiva da família Vespidae. Dentre O crescimento populacional dos membros da colônia dos
as sete subfamílias que representam os vespídeos, os polybiíneos é exponencial, sendo que, sob condições ideais,
Polybiinae constituem a maioria das vespas eussociais da a colônia pode crescer até 20 ou mais adultos, os quais
América do Sul e da África (Borror & De Long, 1984). ocupam um ninho que atinge até 200 células (Fig.1b). Mas
As vespas desenvolvem-se por metarmofose completa somente uma minoria das colônias atinge este estágio, e
(desenvolvimento holometábulo), apresentando quatro aquelas que o fazem logo entram em um período de declínio
estágios distintos: ovo, larva, pupa e adulto (Barnes, 1984). e dispersão dos indivíduos (Wilson, 1971). O motivo pelo
O polimorfismo é pouco desenvolvido em vespas, não há qual as colônias entram em declínio ainda não é bem

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 131


conhecido, mas deve haver um limite máximo de uma injeção de éter. Os animais foram fixados em álcool
crescimento, relacionado a estágios avançados de 70% e acondicionados em frascos separados de acordo com
desenvolvimento da colônia, que seja suportável pelo o ninho e estágio.
tamanho do ninho. Após abrir cada ninho, fiz uma triagem separando os
O objetivo deste trabalho foi caracterizar os estágios de estágios de desenvolvimento de acordo com coloração,
desenvolvimento dos ninhos de uma espécie de vespa tamanho e morfologia das partes do corpo como cabeça,
(Polybiinae) da Amazônia Central e relacionar o grau de tórax e abdome. Quando os ninhos apresentavam duas
desenvolvimento do ninho ao seu tamanho. camadas de células, uma sobre a outra, a contagem dos
indivíduos e as medidas eram feitas para o ninho como um
todo.
Medi, com o auxílio de ocular micrométrica montada
A em lupa estereoscópica, pelo menos quatro indivíduos de
cada estágio em cada ninho. Tais medidas foram agrupadas
entre os ninhos para uma melhor caracterização da variação
de tamanho dos estágios de desenvolvimento da espécie.
Num primeiro momento, fiz uma classificação com base
em 10 estádios de desenvolvimento: ovo, três morfotipos
de larva, cinco de pupa e adultos (machos e fêmeas). No
entanto, para fins de cálculo os morfotipos das larvas e pu-
pas foram agrupados em um único estágio cada.
Assumindo que os ninhos têm uma forma elíptica, medi
a altura, o maior e o menor comprimento de cada um para
calcular seus respectivos volumes, a partir da seguinte
fórmula:
volume = 4/3 p [(a + b + c)/ 3]3 ,
onde a = metade do comprimento do maior eixo da elipse
(mm); b = metade da largura (mm) da elipse; c = metade da
B altura da elipse (mm).
Os ninhos foram comparados através da proporção de
ocorrência do número de indivíduos observado em cada
estágio. Para avaliar se o número total de indivíduos, assim
como a proporção de ovos e de adultos comportados pela
colônia estão relacionados ao volume do ninho, utilizei o
método de regressão linear simples (Zar, 1984). Da mesma
forma, unindo as classes de desenvolvimento anteriores à
fase adulta, calculei a razão entre imaturos e adultos e
verifiquei sua relação com o volume do ninho.

Resultados
Obtive um total de oito ninhos da mesma espécie de
Figura 1(A).Vista geral do ninho de vespa (Vespidae: vespa, sendo a maioria encontrada na face abaxial de folhas
Polybiinae) estudado neste trabalho. (B) Corte transver- de palmeiras (Arecaceae) tanto na área de baixio como em
sal do ninho, mostrando células com ovos e larvas. terra firme. Os ninhos foram enumerados de 1 a 8 de acordo
Métodos com uma ordem crescente de volume (Tab.1). Os ninhos 7
e 8 eram constituídos de duas camadas de células
sobrepostas, sendo a superior um pouco menor que a infe-
Este trabalho foi realizado em uma área de terra firme na
rior, dando a aparência de uma estrutura em pirâmide.
Reserva do Km 41 (59º43’40" O; 2º24’26" S) do Projeto
Os estágios de desenvolvimento foram caracterizados da
Dinâmica Biológica de Fragmento Florestais, localizada a
seguinte forma:
70 km ao norte de Manaus, AM. Durante um período de
1) Ovos: estrutura em forma de gota com, no máximo,
três dias, percorri áreas de baixio, da estrada e da trilha KK
1mm de comprimento, inserida pelo ápice
7 da reserva à procura de ninhos de vespa que pertencessem
perpendicularmente à parede da célula do ninho. Havia
à uma mesma espécie. Os ninhos encontrados eram
sempre um único ovo por célula. A posição dos ovos no
cuidadosamente envoltos em um saco plástico junto com a
ninho variou de periférica nos ninhos maiores (5 - 8),
folha onde estavam fixados. No laboratório, os animais fo-
ocupando apenas as faixas de células mais externas, a mais
ram sacrificados no interior do saco plástico por meio de

132 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


central nos ninhos menores (2 - 4). O ninho 1 não apresentou relação entre a proporção de ovos (F(1,6)=0,051; p=0,828;
ovos. É importante ressaltar que nos ninhos menores os ovos R2=0,08) e a proporção de adultos (F(1,6) =0,128; p=0,732;
estavam distribuídos por um maior número de células, sendo R2=0,021) e o volume do ninho, assim como para a razão
observados também, embora em menor quantidade, nas entre imaturos e adultos e o volume do ninho (F(1,6) =0,242;
células localizadas entre as centrais e as periféricas. P=0,640; R2=0,039).
2) Larvas: de uma forma geral, a localização das larvas
no ninho variou das células intermediárias, em maior
quantidade, às mais centrais, por entre as pupas, Tabela 1. Ninhos de vespa (Polybiinae) encontrados na
independentemente do tamanho do ninho. As larvas 1 são área da Reserva do Km 41, em ordem crescente de
ovais, com o intestino já aparente, envoltas por uma fina volume (cm3), com o número de indivíduos
cutícula branca. O tamanho dessas larvas variou de 1,0 a correspondente a cada estágio de desenvolvimento.
5,5 mm (n = 32). As larvas 2 diferem do morfotipo anterior Ninhos Ovos Larvas Pupas Fêmeas Machos Total Volume
0 1 5 11 0 17
por apresentarem uma cutícula mais espessa, tornando o 1 63,28
2 27 15 2 35 0 79 88,39
intestino menos evidente, e pelo tamanho, que varia de 3,0
3 32 47 0 60 45 184 91,26
a 7,0 mm (n= 32). As larvas 3 são vermiformes e brancas, 17 9 56 69 0 151
4 91,39
com o corpo dividido em 10 segmentos, mas sem 5 13 60 150 50 0 273 103,19
diferenciação quanto às partes do corpo. Seu tamanho variou 6 13 12 10 113 0 148 112,02
de 5,2 a 8,0 mm (n = 32). 7 12 59 255 143 0 469 114,22
3) Pupas: em geral, as pupas ocupavam a parte mais cen- 8 47 85 57 329 0 518 117,08
tral do ninho, estendendo-se
às células localizadas entre as centrais e as periféricas.
Estavam todas envoltas por um casulo. As pupas 1 são muito 1,0

semelhantes às larvas 3, porém apresentam a cabeça já


definida, mas ainda sem olhos. O tamanho variou de 4,0 a 0,8

9,0 mm (n = 32). As pupas 2 apresentam cabeça, tórax e


abdome diferenciados. Também possuem olhos, botões das 0,6

asas e pernas desenvolvidas. A variação total de tamanho


deste estágio foi de 7,0 a 10,0 mm (n= 33). As pupas 3 são 0,4

mais pigmentadas que as anteriores, apresentando uma


coloração mais escura e asas desenvolvidas. São adultos 0,2
Fêmeas

pré-emersão, com o tamanho variando de 7,0 a 9,5 mm (n= Machos


Pupas
34). 0,0
Larvas
Ovos
1 2 3 4 5 6 7 8
4) Fêmeas adultas: a coloração geral é preta, apresentando Ninhos
manchas amarelas tanto na cabeça como no tórax e abdome. Figura 2. Proporção de ocorrência de indivíduos nos
As antenas são ligeiramente clavadas. O tamanho variou de estágios de desenvolvimento de cada ninho de vespa
7,5 a 10 mm (n=37). Não há nenhuma diferenciação (Polybiinae) encontrado na área da Reserva do Km 41,
morfológica entre os indivíduos estudados, dificultando a Amazônia Central.
identificação de uma possível rainha. Todos os indivíduos
deste estágio abandonaram o ninho quando expostos ao éter.
5) Machos Adultos: são marrons, com antenas filiformes,
alados e não apresentam mandíbula. São bem menores que
as fêmeas, com tamanho variando de 2,0 a 4,0 mm (n=33).
600
Os indivíduos deste estágio encontravam-se no interior do
ninho, mais precisamente dentro das células, mesmo após a 500
injeção de éter.
400
Não houve um padrão na distribuição de ocorrência dos
indivíduos nas classes de desenvolvimento entre ninhos (Fig. 300
2). O ninho 8, de maior volume, foi o que apresentou o
200
maior número de indivíduos, em oposição ao menor (1),
que, por sua vez, não continha ovos (Tab. 1; Fig. 2). O ninho 100
3 foi o único que abrigava machos e não tinha pupas (Tab.
1; Fig. 2). Vale a pena salientar o fato de que as larvas deste 0
55 65 75 85 95 105 115 125
ninho apresentaram tamanho máximo de 2mm. Volume dos ninhos (mm )
3

O número total de indivíduos total de cada ninho está Figura 3. Regressão linear entre o número total de
positivamente relacionado ao seu volume (F(1,6) =11,251; indivíduos e o volume dos ninhos (mm3) encontrados na
p=0,010; R2=0,651; Fig. 3). Contrariamente, não houve área da Reserva do Km 41, Amazônia Central.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 133


Discussão função de dois aspectos: 1) o baixo número de indivíduos
O maior número de indivíduos encontrado no ninho de aumenta as chances de extinção da colônia; 2) deve haver
maior volume sugere que a construção do ninho acompanha um número mínimo de indivíduos na colônia para que a
o crescimento da colônia de vespas, fazendo com que todas sociotomia seja um mecanismo viável de replicação.
as células do ninho estejam sempre ocupadas. Realmente, O desenvolvimento assincrônico observado entre os
nos ninhos que amostrei, não observei células vazias. Assim, ninhos da vespa estudada confere grande vantagem à
é possível que o espaço seja fator determinante no população. Como as colônias parecem ser iniciadas em
crescimento da colônia. A relação positiva entre o número qualquer época do ano e em qualquer momento, uma
de indivíduos total e o volume dos ninhos oferece suporte a população local pode conter colônias em todos estágios de
esta suposição. Ou ainda, existe a possibilidade de que o desenvolvimento. Isto faz com que diante de um evento
ninho cresça de acordo com a quantidade de recursos estocástico, como por exemplo, uma seca pronunciada,
disponíveis e não seja controlado por fenômenos densidade- somente alguns indivíduos de determinados estágios sejam
dependentes. exterminados por serem mais sensíveis ao evento, enquanto
O tamanho reduzido das larvas encontradas no ninho 3, outros permanecem na população por suportarem melhor
pode estar relacionado a um maior investimento atual em alterações nas condições iniciais. Tais características
machos por parte da colônia. Isto pode estar refletindo uma garantem a permanência e sucesso da população sob diversas
fase reprodutiva particular desta colônia, visto que esta foi condições ambientais.
a única que continha machos. As colônias parecem investir
independentemente na produção exclusiva de machos ou Agradecimentos
de fêmeas. A local disponibilidade de recursos local pode Agradeço enormemente ao Juruna e ao ursinho Pinguela
ter grande influência na determinação do sexo dos indivíduos pela coragem e bravura na atividade árdua e perigosa de
produzidos. Em situações de abundância de recursos deve coletar os ninhos das tão temidas cabas. Agradeço também
haver uma maior produção de fêmeas, já que o custo para ao Thiago, Vanina e Amanda pela ajuda na contagem dos
alimentá-las é maior do que o dos machos. As fêmeas adultas inúmeros indivíduos encontrados no ninhos e aos profs.
encontradas junto aos machos no ninho 3 certamente Glauco, Jansen e Paulo De Marco pelas discussões e análises
pertencem a outra coorte e, provavelmente, têm a função de dos dados, que me permitiram conhecer alguma coisa sobre
alimentá-los. a tão fascinante organização social das vespas.
A ausência de um padrão na distribuição de ocorrência À parte, gostaria de agradecer ao Dadão pela pessoa
dos indivíduos nos estágios classes de desenvolvimento, simples e maravilhosa que é. Sem dúvida, um exemplo a
assim como a falta de relação entre a proporção de ovos, de ser seguido.
adultos e a razão entre imaturos e adultos com o volume Este curso ficará para sempre na minha memória.
dos ninhos indica um desenvolvimento assincrônico dos
ninhos na população. O processo de sociotomia que Referências Bibliográficas
caracteriza a reprodução dos polybiíneos pode explicar tal Barnes, R. D. 1984. Zoologia dos Invertebrados. 4o
assincronia. A sociotomia ocorre quando um grupo de
Edição. Ed. Roca. São Paulo, S.P.
operárias e uma ou mais rainhas virgens voam a partir do
Borror, D.J. & D. M. De Long, 1988. Introdução ao
ninho original, copulam, se estabelecem em um novo local
Estudo dos Insetos. Editora Edgard Blucher LTDA.
e constroem um ninho. A partir daí, as subordinadas
São Paulo, SP, Brasil.
dedicam-se à construção do ninho e cuidam da prole (Wil-
Morato, E. F. 1993. Efeitos da fragmentação florestal
son, 1971). O momento da sociotomia talvez seja
determinado por uma interação entre o tamanho da colônia sobre vespas e abelhas solitárias em uma área da
e a abundância de recursos. Assim, se em um determinado Amazônia Central. Dissertação de Mestrado.
momento uma colônia começa a estagnar numericamente Universidade Federal de Viçosa, MG, Brasil.
por falta de recursos, a sociotomia ocorre uma forma de Wilson, E. O. 1971. The Insect Societies. The Belknap
aliviar a demanda local pelo recurso e, ao mesmo tempo, Press of Harvard University Press Cambridge, Massa-
garantir a sobrevivência da linhagem no ambiente. chusetts, and London, England.
Além disso, a fase inicial da colônia também é de funda- Zar, J. H. 1984. Biostatistical Analysis. Second Edition.
mental importância no seu processo de estabelecimento, em Prentice Hall, New Jersey.

134 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Grupos funcionais de artrópodes de serapilheira
diferem na campinarana e no platô?
Paula Machado Pedrosa

Introdução Reserva do Km 41, PDBFF, localizada a aproximadamente


A floresta amazônica possui uma diversidade de 70 km a noroeste de Manaus, Amazônia Central. A altitude
ambientes muito ampla e mesmo dentro da floresta de terra do local varia entre 50 e 150 m acima do nível do mar. A
firme pode-se diferenciar várias fisionomias (Ribeiro et al. precipitação anual é cerca de 2.200 mm e a temperatura
1999). O que caracteriza estas variações são os tipos de média é de 26ºC. O solo pode variar desde argiloso até
solo e o relevo, principalmente. As campinaranas são arenoso, dependendo da formação do local.
caracterizadas por solos arenosos, grande acúmulo de Duas áreas de terra firme com diferentes formações
serapilheira, poucas árvores de grande porte, dossel entre florestais foram amostradas: uma de platô e outra de
15 e 25 m, alta penetração de luz, sub-bosque denso de campinarana. As amostragens foram realizadas com
arvoretas e arbustos e menor biomassa e diversidade de armadilhas de queda (pitfall traps) confeccionadas com
espécies (Ribeiro et al. 1999). As florestas de platô possuem copos plásticos descartáveis de 500 ml, preenchidas com
solos mais argilosos e bem drenados, encontram-se em áreas 250 ml de uma mistura de água e detergente. Ambas as áreas
mais altas, dossel de 35 a 40 m com árvores emergentes, possuíam 30 armadilhas distribuídas em seis transectos
sub-bosque com muitas palmeiras e maior biomassa (Ribeiro espaçados 20 m entre si. Em cada transecto foram colocadas
et al. 1999). cinco armadilhas de 10 em 10 m. As armadilhas ficaram
Segundo Pianka (1983) quanto maior a diversidade abertas durante 36 horas em cada local.
estrutural do ambiente, maior é a diversidade de espécies. A profundidade da serapilheira e luminosidade, foram
Os artrópodes constituem o componente mais diverso dos medidas nos 30 pontos de amostragem. Para medir a
ecossistemas terrestres e correspondem a cerca de 50% das profundidade da serapilheira usou-se um espeto de madeira,
espécies animais conhecidas, a maioria das quais encontra- que foi inserido no ponto mais próximo à armadilha que
se no solo (Wilson 1988). Os artrópodes terrestres são de não tivesse sido remexido e foi anotado quantas folhas fo-
importância básica nas cadeias tróficas e, por isso, são ram perfuradas pelo espeto. Para medir a luminosidade foi
cruciais no funcionamento dos ecossistemas (Greenberg & utilizado um luxímetro. Em cada um dos 30 pontos o
McGrane 1996). Além disso, ocupam uma grande variedade medidor foi colocado no solo, o mais próximo possível de
de nichos e microhabitats funcionais. Por isso esta fauna cada armadilha, e esperou-se que o marcador estabilizasse
deveria ser importante na escolha, conservação e manejo para anotar o resultado. Deve-se considerar que as medições
de unidades de conservação (Kremen. 1993). de luminosidade foram feitas no mesmo horário nas duas
As comunidades de artrópodes diferem de acordo com áreas, em dias diferentes, mas com condições meteorológicas
as características microclimáticas de cada local, pois muitas similares. As medições na área de platô foram feitas em
espécies selecionam habitats (Borror & DeLong 1981). dois horários diferentes do dia, porém acredito que isso não
Neste trabalho testei a hipótese de que os artrópodes de tenha afetado os resultados.
serapilheira , divididos em grupos funcionais, diferem em A comunidade de artrópodes de solo foi dividida, em
abundância nos dois locais estudados, campinarana e platô, três grupos funcionais: decompositores, predadores e
ambientes distintos em relação a algumas variáveis fitófagos. No grupo dos decompositores foram incluídos
ambientais. As variáveis ambientais testadas foram exemplares das seguintes ordens: Orthoptera, Thysanura,
profundidade da serapilheira e luminosidade. Esperava que Blattodea, Isoptera, Collembola e Diplopoda. No grupo dos
os decompositores fossem mais abundantes no platô, onde predadores foram incluídos representantes das ordens
a luminosidade é menor e a camada de serapilheira também, Chilopoda, Araneae e Hymenoptera (Formicidae). No grupo
justamente por causa da ação dos decompositores. Esperava dos fitófagos foram incluídos somente os Homoptera.
também que os predadores não apresentassem diferenças Exemplares das ordens Diptera, Coleoptera, Mecoptera e
entre os ambientes com as variáveis que foram testadas e Acari não foram incluídos nas análises por apresentarem
que os fitófagos fossem mais abundantes da campinarana, hábitos alimentares muito variáveis ou por não se
onde há mais recursos alimentares (arbustos e arvoretas) alimentarem na serapilheira.
no estrato inferior. A análise da freqüência de ocorrência dos grupos
funcionais de artrópodes de solo em cada local foi realizada
por meio de um teste t para os predadores e um teste não
Métodos paramétrico de Kruskal-Wallis para os decompositores, pois
O estudo foi realizado em uma floresta de terra firme na
estes últimos apresentavam variância muito heterogênea. O

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 135


grupo dos fitófagos não foi analisado estatísticamente pois
não havia indivíduos suficientes para análise. Um teste t
também foi utilizado para comparar os fatores ambientais A
(profundidade da serapilheira e luminosidade) entre os dois
ambientes. Para testar a relação entre as variáveis ambientais
e a abundância de decompositores e predadores foi utilizada
uma regressão múltipla com o modelo: abundância de
predadores (ou decompositores) = constante + profundidade
da serapilheira + luminosidade.

Resultados
Foram registradas no total 4 classes de artrópodes: In-
secta (10 ordens), Chilopoda (uma ordem), Diplopoda (uma
ordem) e Arachnida (2 ordens).(Tabela 1).

Tabela 1. Grupos taxonômicos, grupo funcional e


abundância relativa (%) de artrópodes de serapilheira
amostrados nos ambientes de platô e campinarana na
Reserva do Km 41, Amazônia Central B
Grupo taxonômico Grupo funcional Abundância relativa
Platô Campinarana
Insecta
Blattodea Decompositores 5,1 3,4
Coleoptera Não definido 2,2 2,1
Collembola Decompositores 0 0,7
Diptera Não definido 6,2 7,6
Homoptera Fitófago 0,5 4,1
Hymenoptera Predadores 46,6 56,25
Ìsoptera Decompositores 2,2 0,7
Mecoptera Não definido 0 0,7
Orthoptera Decompositores 21,9 12,5
Thysanura Decompositores 9,5 0,7
Chilopoda Predadores 0 0,7
Diplopoda Decompositores 0 0,7
Arachnida
Araneae Predadores 5,1 8,33
Acari Não definido 0,5 0,7

As somas podem não totalizar 100%, pois alguns Figura 1. Abundância de artrópodes predadores (A) e
indivíduos coletados não puderam ser identificados em decompositores (B) em ambientes de campinarana (c) e
ordem. A grande abundância de Hymenoptera pode ser ao platô (p).
explicada pela alta captura de formigas e algumas vespas.
A família Ponerinae foi a mais representativa, constituída
principalmente por formigas errantes, talvez este seja o Não houve relação entre a abundância de artrópodes
motivo por que elas foram bem coletadas. A ordem Diptera predadores e fatores ambientais analisados (luminosidade
foi representada por moscas e carapanãs. Entre os Ortho- e profundidade da serapilheira; F=0,038; R 2=0,001;
ptera, os grilos foram os mais capturados. p=0,963; Figura 2 A e B) Já para os artrópodes
Observei que a maior diferença entre os dois ambientes decompositores a relação foi significativa (F=3,173; R2=0,1;
foi em relação a abundância de Homoptera e Thysanura. O p=0,049), no entanto nota-se que esta foi muito fraca. O
primeiro grupo foi bem mais abundante na campinarana fator que mais influenciou a abundância desse grupo foi a
(aproximadamente 90% dos indivíduos foram encontrados luminosidade, regressão múltipla,p=0,057. (Figura 3 A e
neste ambiente), enquanto que o segundo grupo foi mais B).
abundante no platô (aproximadamente 95% dos indivíduos Não houve relação entre a abundância de artrópodes
coletados encontravam-se neste local). predadores e fatores ambientais analisados (luminosidade
A luminosidade (t=3,251; gl=58; p<0,009) e a e profundidade da serapilheira; F=0,038; R 2=0,001;
profundidade da serapilheira (t=2,717; gl=58; p<0,002) p=0,963; Figura 2 A e B) Já para os artrópodes
foram maiores na campinarana do que no platô. decompositores a relação foi significativa (F=3,173; R2=0,1;
Entretanto, a abundância de artrópodes predadores e p=0,049), no entanto nota-se que esta foi muito fraca. O
decompositores não diferem entre os ambientes ( fator que mais influenciou a abundância desse grupo foi a
predadores: t=-0,025; gl=58; p=0,98; decompositores: luminosidade, regressão múltipla,p=0,057. (Figura 3 A e
U=331,5; N=30; p=0,069) (Figura 1 A e B) B).

136 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


A
A

B B

Figura 3. Resíduos parciais da regressão múltipla entre


Figura 1. Abundância de artrópodes predadores (A) e artrópodes decompositores e a luminosidade (A) e a
decompositores (B) em ambientes de campinarana (c) e profundidade do serapilheira (B). Ambientes: c =
ao platô (p). campinarana; p = platô.

Discussão
A A composição de espécies e a estrutura da comunidade
de artrópodes de serapilheira são dependentes de vários
fatores, entre os quais o tipo de formação vegetal, o solo, o
clima local e a diversidade de microhabitats (Schowalter &
Sabin.1991). Neste estudo o enfoque foi dado à
profundidade da serapilheira e à luminosidade, pois supus
que estas eram duas variáveis importantes na estruturação
da comunidade e dos grupos funcionais.
Das hipóteses testadas, observou-se que o grupo dos
predadores respondeu da forma prevista, ou seja, não houve
diferença significativa na sua abundância entre os ambientes
estudados. Isto era esperado porque a presença de
B
artrópodes predadores não deve estar diretamente
relacionada à luminosidade ou à profundidade da
serapilheira, mas sim à disponibilidade de presas, a qual
deve ser semelhante no platô e na campinarana. Os
decompositores também comportaram-se da forma prevista
pela hipótese. Este grupo apresentou diferença entre os dois
ambientes. No ambiente com menor luminosidade, os
artrópodes decompositores foram mais abundantes. Isto era
esperado pois a taxa de decomposição em ambientes de platô
Figura 2. Resíduos parciais da regressão múltipla entre é maior que em campinaranas. No entanto a luminosidade
artrópodes predadores e a luminosidade (A) e a não está diretamente relacionada a taxa de decomposição.
profundidade da serapilheira (B). Ambientes: c = Em relação aos fitófagos, era esperado que sua
campinarana; p=platô. abundância fosse maior na área de campinarana, pois nessas

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 137


o sub-bosque é mais denso, propiciando mais recursos para Referências Bibliográficas
alimentação. Como o número de indivíduos fitófagos Borror, D.J. & D.M.DeLong 1981. Uma Introdução ao
amostrados foi muito baixo não pude fazer uma análise Estudo dos Insetos Ed.Edgard Blucher LTDA.653 p.
estatística, porém observei que na campinarana estes foram
Greenberg, C.H. & A. McGrane. 1996. A comporision of
mais capturados do que no platô.
relative abundance and biomass of ground-dwelling
Nas análises feitas neste trabalho, algumas ordens de
arthropods under different forest managment practices.
insetos tiveram que ser retiradas, pois não foi possível
Forest Ecology and Managment. 89: 31- 41.
identificar seus hábitos alimentares (por exemplo dos Co-
Kremen, C., R.K. Colwell. T.L. Erwin,., D.D. Murphy,
leoptera). Se estes indivíduos tivessem sido incluídos, os
R.F. Noss. & M.A. Sanjayan.1993 Terrestrial arthro-
resultados poderiam ter sido mais conclusivos. Também não
poder ser feita uma análise da composição específica da pod assemblages: their use in conservation planning.
comunidade, o que poderia ter fornecido resultados mais Conservation Biology. 7 (4): 796-808.
precisos sobre eventuais diferenças entre os dois ambientes. Pianka, E.R. 1983. Evolutionary Ecology. Harper & Row,
New York, 356 p..
Ribeiro, J.E.L.S., M.J.G. Hopkins, A.Vicentini, C.A.S.
Agradecimentos
Sothers, M.A. Costa, J.M. Brito, M.A D. Souza, L.H.P.
Gostaria de agradecer ao Pinguela, Juruna, Glauco, Ana
Martins, L.G. Lohmann, P.A C.L. Assunção, E.C.
Paula, Yumi e Guma (que até se perdeu para me ajudar)
Pereira, C.F. Silva, M.R. Mesquita, & L.C.
pelo grande e necessário auxílio no campo. Ao Glauco
novamente pelo troca de idéias e concepção do trabalho. Procópio.1999. Flora da Reserva Ducke: Guia de
Ao Dadão pela lapidação das idéias, ajuda estatística e Identificação das Plantas Vasculares de Uma Floresta
salvação do meu arquivo final. Ao Paulo pela ajuda de Terra Firme na Amazonia Central. Ed.DFID- INPA.
estatística e boas risadas. Ao Jansen por várias coisas. Aos Schowalter, T.D. & T.E. Sabin. 1991. Serapilheira
outros professores que estavam no curso, que não tiveram microarthropods responses to the canopy herbivory,
colaboração direta, mas que foram de grande importancia. season and decomposition in serrapilheirabags in a
A turma de apoio (Jorge, Raimundo e todos os outros que regenerating conifer ecosystem in Western Oregon.
não lembro o nome). A toda turma que teve um astral muito Biol. Fertil.Soils. 11: 93-96.
bom no andamento do curso. E à pessoa que esteve sempre Wilson, E.O. 1988. The Current State of Biological
comigo em pensamento. Se esqueci de alguém pode se Diversity. In Biodiversity (E.O. Wilson, ed) pp3-18.
considerar automáticamente agradecida. Washington DC: National Academy Press.

Influência de parâmetros físicos na riqueza de peixes


em igarapés de terra firme na Amazônia Central
Luiz Henrique Claro Junior

Introdução pede a entrada de luz e a produção primária por fitoplâncton,


O conceito de rio contínuo (Vannote et al.1980), propõe e suas águas são relativamente frias e sem muita variação
que ao longo de um ecossistema lótico existem diferentes diária e anual da temperatura (24o ± 1oC) (Fittkau 1967).
aspectos estruturais físicos e biológicos. Estas diferentes Em igarapés de cabeceiras (de 1a a 3a ordem) a fauna de
estruturas no ambiente podem determinar a presença ou peixes pode ser determinada por condições ambientais
ausência de algumas espécies de organismos adaptados locais. A diversidade de microhabitats é provavelmente o
ecofisiologicamente a essas condições. Para invertebrados fator que condiciona a ocorrência de conjuntos de espécies
aquáticos, características físico-químicas e biológicas no espaço limitado proporcionado pelo curso dos pequenos
particulares determinam diferenças na diversidade de fauna igarapés.
ao longo de um gradiente de um rio (Walker & Henderson Estudos anteriores em três igarapés de terra firme
1996). registraram uma riqueza de 35 espécies de peixes e no
Os igarapés apresentam água pobre em nutrientes e sais igarapé do Km 41 foram encontrados 22 espécies
minerais que fazem com que o pH seja baixo, por volta de pertencentes a quatro ordens: Characiformes, Siluriformes,
4,5 (Fittkau 1967). A cobertura vegetal nos igarapés im- Gymnotiformes e Perciformes. Characiformes foi o grupo

138 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


dominante tanto em espécies como em abundância Tabela 1. Lista de espécies de peixes observadas nos
(Bührheim & Cox-Fernandes 2001). igarapés de terra firme da Reserva Km 41, Manaus AM.
Este estudo tem como objetivo identificar características
físicas de igarapés de terra firme que influenciem na riqueza Ordem, Família e Espécie
Characiformes
de espécies de peixes.
Characidae
Hemigrammus aff. ocellifer
Métodos Bryconops inpai
O presente estudo realizei em uma microbacia Hyphessobrycon cf. melazonatus
hidrográfica completamente inseridas em área de floresta Hyphesobrycon cf. heterorhabdus
de terra firme, localizada na Reserva Km 41 (2o25’S e Iguanodectes variatus
59o48’O) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmento Erythrinidae
Florestal (INPA/Smithsonian) Manaus, Amazonas. A Erythrinus erythrinus
precipitação e temperatura médias anuais são de 2.127 mm Lebiasinidae
e 27,2oC, respectivamente. Pyrrhulina brevis
Entre os dias 24 e 28 de novembro de 2002, amostrei 14 Nannostomus marginatus
igarapés de 1a ordem, 6 de 2a ordem e 5 de 3a ordem, os Copella nigrofasciata
quais foram caracterizados quanto a aspectos físicos Perciformes
teoricamente relacionados com a fauna de peixes. Cichlidae
Todos os igarapés da microbacia caracterizei tomando Aequidens pallidus
as seguintes medidas: largura total (em um ponto aleatório), Apistogramma steindachneri
profundidade máxima (no ponto de medida da largura), tipo Crenicichla sp.
de margem (erosional ou deposicional), velocidade da
correnteza (medida pelo tempo que um flutuador gastar para Tabela 2. Parâmetros físicos e biológicos dos igarapés
percorrer uma distância de 1 m), vazão (área seccional do estudados na Reserva Km 41, Amazonas, Brasil
igarapé* velocidade), tipo de substrato (areia, tronco,
Ordem Número Riqueza Largura Profundidade Velocidade Vazão
folhiço, raiz) e ordem (1a, 2a ou 3a).
(n. espécies) (cm) max. (cm) (cm/s) (cm3/s)
A riqueza de espécies de peixes estimei por meio de 1 14 0- 4 40- 200 2- 13,5 0- 294 0- 9.833
observação direta, tanto a partir das margens quanto sub- 2 6 1- 6 80- 280 6- 40 7,78- 39,31 5.117- 77.142
aquática, em um trecho de 20 metros durante 15 minutos. 3 5 3- 7 180- 320 14- 58 14,6- 24,8 23.712- 183.349

Os peixes observados foram caracterizados em espécies e


morfoespécies, com posterior verificação da identidade
taxonômica de cada uma a partir de registros pré-existentes Tabela 3. Valores de correlação de Pearson entre
de ocorrência de espécies na área de estudo. variáveis físicas medidas em igarapés de terra firme do
A partir das medidas físicas dos igarapés realizei uma Km 41 (* - valor de significância a nível de 5%).
análise de correlação para identificar variáveis auto- Largura Profundidade Velocidade
correlacionadas e então selecionar aquelas com significância Profundidade 0,797* -
Velocidade -0,171 -0,137 -
ecológica mais evidente para a fauna de peixes. Em seguida Vazão 0,761* 0,894* 0,123*
conduzi uma análise de regressão múltipla para identificar
qual das características ambientais influenciam mais A profundidade foi o único parâmetro físico que
fortemente a riqueza de espécies de peixes nos igarapés da influenciou significativamente a riqueza de espécies de
Reserva Km 41. peixes nos igarapés da microbacia estudada (Fig. 1). O tipo
de margem, composição do fundo e velocidade da correnteza
Resultados não foram significativamente relacionados com o número
Observei a presença de 12 espécies de peixes, de espécies de peixes (Tab. 4).
pertencentes a quatro famílias e duas ordens, em 39 pontos
de amostragem (Tab. 1). A menor e maior riqueza de
Tabela 4. Resultados de análise de regressão múltipla
espécies foram 0 e 7, respectivamente (Tab. 2). A largura,
entre a riqueza de espécies e fatores físicos de igarapés
profundidade e ordem dos igarapés foram correlacionadas
de terra firme da Reserva km 41, Manaus, AM (N= 39; r2 =
entre si, e a profundidade foi o parâmetro selecionado para
0,454).
inclusão em nosso modelo de regressão múltipla, por ser a
mais informativa do ponto de vista da fauna de peixes. Coeficiente Coeficiente gl. F P
padrão
Velocidade da correnteza e vazão também foram Profundidade 0,078 0,626 1 12,01 0,002
Margem 0,000 0,000 2 1,00 0,379
correlacionadas, e então, somente a velocidade foi incluída Velocidade -0,003 -0,084 1 0,335 0,567
no modelo final de regressão (Tab. 3). Substrato 0,000 0,000 5 1,33 0,277

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 139


8 apresentarem um maior volume de água, geralmente correm
7 sob dossel mais aberto, fazendo com que nestes locais ocorra
maior incidência de luz, proporcionando o estabelecimento
Rique za (n. e s pé cie s )

6
de espécies algívoras (J. Zuanon, com. pess.). Como citado
5
anteriormente, um maior número de espécies proporciona
4 maiores interações ecológicas. Somente em igarapés de 2a
3 e 3 a ordem foram encontrados peixes carnívoros e
2 piscívoros, corroborando a hipótese do rio contínuo, que
1
prediz que quanto maior a dimensão do ambiente, maiores
serão as interações ecológicas nestes locais.
0
0 20 40 60 80 Peixes maiores e espécies de maior porte somente
Profundidade (cm)
ocorreram em igarapés mais profundos e largos. Este tipo
de estrutura de comunidade não é notada em igarapés de 1a
ordem, onde encontram-se como espécies dominantes
Figura 1. Regressão linear entre riqueza de espécies e pequenos characideos e lebiasinídeos.
profundidade de igarapés de terra firme na Reserva Km Era esperado que o tipo de substrato e de margem
41, Amazonas, Brasil. tivessem influência na riqueza de espécies de peixes em
igarapés. Diferentes tipos de substrato e margem poderiam
Discussão proporcionar maior quantidade de abrigos e locais de
forrageio. É possivel que espécies de habitos criptobióticos
Segundo a teoria do rio contínuo (Vanotte et al. 1980), à
não tenham sido registradas pelo método de observação
medida que segue o ambiente lótico, ou riacho, o número
direta e a partir das margens, resultando em um subestimativa
de interações inter-específicas aumenta também. Algumas
de riqueza de espécies locais e atrapalhando as análises. O
características se modificam ao longo de um gradiente lon-
folhiço, por exemplo, é um substrato rico em abrigos que
gitudinal, por exemplo a quantidade de luz que entra no
são utilizados por pequenos peixes de difícil visualização.
sistema aumenta, proporcionando uma produção primária
Nestes locais a melhor opção seria realizar coletas mais
autóctone importante em rios maiores. A qualidade e a
efetivas, com redes e peneiras, ou despender um tempo maior
quantidade de material em suspensão também difere ao
de observações subaquáticas (Rincón, 1999).
longo do sistema onde nos rios maiores existe uma grande
A velocidade da correnteza é reconhecida como um
quantidade de nutrientes e material particulado fino,
parâmetro-chave de habitats aquáticos (Rincón, 1999),
enquanto nos rios menores ocorre o início do processo de
porém não teve influência na riqueza de espécies de peixes
fragmentação e decomposição de folhas e troncos. Estas
nos igarapés estudados. Este parâmetro pode ser crucial para
mudanças nas características do sistema proporcionam a
o estabelecimento de algumas espécies, pois o custo
adição e a substituição de muitas espécies de peixes
metabólico para natação aumenta exponencialmente com a
resultando em comunidades ícticas progressivamente mais
velocidade da água. Portanto, era esperado que em locais
complexas. Assim, os igarapés são sistemas heterotróficos
de maior correnteza fossem encontradas espécies com
que modificam-se até constituírem sistemas autotróficos nos
características morfológicas e/ou comportamentais
corpos d’água maiores.
especializadas, o que não ocorreu. É possível que a baixa
Neste estudo, a profundidade e a largura dos igarapés
freqüência e extensão desse tipo de habitat em riachos de
estiveram correlacionadas e tiveram grande influência na
cabeceiras não permita o estabelecimento de conjuntos de
riqueza de espécies de peixes. Ambientes mais profundos
espécies estritamente reofílicas típicas de rios maior porte.
proporcionam a existência de diferentes meso-habitats em
As características que determinam a ocorrência de
um mesmo trecho do rio, fazendo com que conjuntos de
espécies dos grandes rios são completamente diferentes das
peixes que ocupam diferentes estratos de profundidade
consideradas importantes nos igarapés de cabeceiras. Em
possam se estabelecer, aumentando a riqueza local de
rios, parâmetros físico-químicos da água e sazonalidade são
espécies. A maior largura em igarapés pode funcionar de
mais importantes, ao passo que nos igarapés os parâmetros
modo semelhante à profundidade, pois em um mesmo trecho
físicos ou morfológicos do local são mais marcantes para a
do riacho a maior amplitude na largura faz com que
ocorrência de determinadas espécies de peixes.
diferentes espécies possam partilhar o espaço do igarapé
Assim concluo que quanto maior a largura e a
em seu plano horizontal. Assim, a distinção mais clara en-
profundidade do igarapé, maior é o número de espécies
tre áreas de margem e de canal possibilita a ocorrência de
estabelecidas e que o tipo de substrato, margem e correnteza
guildas tróficas diferenciadas, resultando em relações
apresentam influência relativamente reduzida sobre a
tróficas mais complexas. Porém se ambas espécies forem
riqueza de peixes em igarapés de cabeceiras de áreas de
da mesma guilda trófica a competição por locais de forrageio
terra firme na Amazônia Central. Interações bióticas
pode ocorrer (Rincón, 1999).
possivelmente consistem fatores importantes na estruturação
Igarapés maiores, como os de 3 a ordem, além de
dos conjuntos de espécies de peixes de igarapés.

140 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Agradecimentos Fittkau, E.J. 1967. On the Ecology of Amazonian Rain-
Agradeço ao Flávio J. Soares Jr. pela grande ajuda e Forest Streams. Atas do Simpósio sobre a Biota
coragem nas coletas de campo, Carina L. da Silveira e Amazônica. 3:97-108
Glauco Machado pela ajuda nas análises estatísticas, Paulo Rincón, P.A. 1999. Uso de Microhabitat em Peixes de
De Marco pelo auxílio nos cálculos e críticas, Eduardo Riacho: Métodos e Perpectivas. In: Ecologia de Peixes
Venticinque pelas críticas e comentários no manuscrito e de Riachos. Caramaschi, E.P.; R, Mazzoni and Pere-
finalmente agradeço ao Jansen Zuanon pela orientação na Neto, P.R.
discussão dos resultados e críticas indispensáveis para a Vannote, R.L.; W.G. Minshall, W.G. Cummins, R.J.
finalização deste trabalho. Sendel & E.C. Cushing. 1980. The river continuum
concept. Can. J. Fish Aquat. Sci. 37: 130-137
Walker, I; & P.A. Henderson, 1996. Ecophysiological
Referências Bibliográficas aspects of amazoniam black water litterbank fish
Bührnheim, C.M.; C. Cox-Fernandes. 2001. Low seasonal
communities. In: Physiology and Biochemestry of fish
variation of fish assemblages in Amazonian rain forest
of Amazon. Edited by A.L. Val; V.M.F. Almeida-Val
streams. Ichthyol. Explor. Freshwaters. 12:65-78
and D.J. Randall.

História Natural de Heteroprhynus longicornis


(Arachnida, Amblypygi)
Eduardo G. Vasconcelos

Introdução Métodos
Estudos comportamentais e ecológicos são cada vez mais No período de 23 à 27 de novembro foram realizadas
utilizados como base de dados na sugestão de hipóteses observaçõesl em dois períodos, tarde (14:00-18:00) e noite
filogenéticas . Além disso características da história natu- (19:00-1:00). O estudo foi realizado na Reserva do Km 41
ral de qualquer grupo quando abordados dentro de uma ótica (INPA), aproximadamente 80 km de Manaus (2o 30’., 59o
filogenética podem mostrar padrões importantes para se
52’ O). As observações foram realizadas em três sítios,
compreender melhor o processo evolutivo implícito na
escolhidos por apresentarem uma grande quantidade de
história do grupo. Dessa forma, estudos sobre história natu-
troncos de árvores caídos, que são usualmente utilizados
ral dos grupos têm um papel significativo nas pesquisas
evolutivas. como abrigos diurnos (obs. pess.).
Os amblipígios são animais de hábitos noturnos que Todos os locais onde foram encontrados amblipígios fo-
ocorrem em regiões tropicais e semi-tropicais (Barnes, ram marcados com uma fita colorida. Os indivíduos, quando
1984). Os trabalhos que tratam de aspectos do possível, foram coletados, marcados com tinta para
comportamento do grupo se referem basicamente à sua aeromodelismo, numa combinação de cores individual e,
biologia reprodutiva (Weygoldt, 1972). Relatos sobre outras em seguida, soltos no mesmo local de captura. Foram
características da história natural das espécies do grupo são tomadas duas medidas dos indivíduos coletados: largura e
muito escassos. comprimento do cefalotórax. As medidas foram tiradas com
Heteroprhynus longicornis é uma espécie de grande porte
paquímetro de precisão de 0,05 mm. Os exemplares foram
muito comum na região amazônica. Assim como a maioria
agrupados em três categorias: macho, fêmea e juvenil. A
das espécies da ordem pouco se sabe sobre aspectos de seu
comportamento. As perguntas que guiaram este estudo fo- freqüência de recaptura foi anotada a partir da primeira
ram: (1) H. longicornis é uma espécie com fidelidade por captura. O perímetro de atividade dos indivíduos foi
abrigos? (2) Qual o perímetro de atividade dos indivíduos? estimado

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 141


Tabela 1. Freqüência de recapturas para os indivíduos de rante o dia, provavelmente, estes jovens se abrigavam no
H. longicornis marcados durante o período de estudo, na lado inferior da raiz. Apenas um dos exemplares jovens
Reserva do Km 41, Amazônia Central. NE: não marcados foi encontrado em um oco de tronco, e um dos
encontrado; NV: não visitado; N: noite; D: dia. indivíduos foi achado sob tronco podre. Nove dos vinte
Indivíduos Dias
indivíduos foram recapturados no mesmo local de marcação.
23 24 25 26 27 O período de atividade se iniciou por volta das 18:00 h.
1 1a. captura NE NE NV NV Neste período os amblipígios começaram a sair dos abrigos
2 1a. captura N D/N NV NV
3 1a. captura ND D/N NV NV
e migrar para a superfície dos troncos onde se situavam os
4 1a. captura N D/N NE NE abrigos. Foram encontrados indivíduos numa altura de até
5 1a captura NE NE NE NE 30 cm acima do nível do chão. O perímetro de atividade
6 1a captura D NE NE
7 1a. captura NE NE NE
dos animais foi muito pequeno (cerca de 20 cm de raio).
8 1a. captura N NE NE Durante o período de observação nenhum tipo de interação
9 1a. captura NE NE NE foi observada.
10 1a. captura N NE NE
11 1a. captura N N NE
12 1a captura N NE NE Discussão
13 1a captura NE NE NE
14 1a. captura NE NE NE Os resultados mostram que adultos de Heterophrynus
15 1a. captura N NE NE longicornis apresentam fidelidade por abrigo, visto a
16 1a. captura NE proporção de recaptura (n=9). Além disso em muitos casos
17 1a. captura NE
18 1a. captura NE o abrigo não representa apenas um esconderijo diurno, mas
19 1a captura NE também o hábitat permanente desses indivíduos.
20 1a captura *D/ Provavelmente esta permanência no abrigo somente é
N
encontrada em abrigos grandes, onde os animais possam
suprir sua necessidade por presas.
Do total de 22 indivíduos foi encontrada uma proporção
Aparentemente os indivíduos jovens apresentam
de 44,9% de machos, 13,6% de fêmeas e 36,4% de juvenis.
estratégia diferente dos adultos. O fato dos juvenis não
Os tipos mais comuns de abrigos utilizados pelos indivíduos
serem encontrados em abrigos tão característicos quanto os
foram troncos ocos caídos no chão da floresta, os
dos adultos, associado à baixa taxa de recaptura destes,
amblipígios ficam no interior do oco, sempre no teto do
parece apontar que eles têm uma maior movimentação no
abrigo. Troncos grandes (maiores do que 2 m) abrigaram
ambiente e que não necessariamente permanecem num
mais do que um indivíduo adulto, em dois destes troncos
mesmo local.
foram encontrados dois adultos. Buracos sob as raízes de
O presente trabalho contemplou muito pouco dos
árvores também foi um tipo de sítio muito comum utilizado
aspectos da historia natural de H. longicornis, outros estudos
por H. longicornis. Três indivíduos observados foram
que busquem revelar mais dado são necessários.
encontrados durante a noite no interior do abrigo.
Alguns juvenis (n=2) foram marcados próximos às tocas
de indivíduos adultos e muitos dos jovens, não capturados, Bibliografia
também foram observados dentro de ocos de troncos onde Barnes, R. D. 1984. Zoologia dos Invertebrados. 4a. ed.
se abrigavam espécimes adultos. No interior da mata é muito Rocca. São Paulo.
comum árvores grandes caírem, por perderem sustentação Weygoldt, P. 1972. Geisselskorpiones und Geisselspinnen
no chão, deixando sua raiz completamente exposta. Quatro (Uropygi und Amblypygi). Z. des Kolner Zoo, 15(3):
juvenis foram marcados, a noite, numa destas raízes, du- 95-107.

142 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Efeito da distribuição de aves na
predação de lagartas artificiais
Yumi Oki

Introdução
A predação pode ser considerada um tipo interação que 1501 (Km 41) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmento
envolve a captura de um organismo vivo (presa) para o florestais localizadas a 70 km ao norte de Manaus,
consumo de um outro (predador). Amazonas (02º25 ‘S 59°50’ W), com altitudes, variando
Em alguns grupos de herbívoros como larvas de entre 50-125 m acima do nível do mar. A Reserva apresenta
lepidópteros, a predação exerce uma forte pressão seletiva 1000 ha cobertos por uma floresta densa contínua de terra
na regulação populacional (Stamp & Wilkens 1993). Pode- firme (Oliveira 1997). A borda nesse ambiente apresenta
se afirmar que o comportamento e a abundância de seus uma vegetação de dossel mais baixa, uma complexidade
principais predadores (pássaros, vespas, formigas, entre menor e heterogeneidade maior que o interior (Laurance
outros) podem interferir na abundância das lagartas e estas 2001).
nos danos de plantas (Montlor & Bernays 1993). Alguns Os modelos artificiais de lagartas foram feitos utilizando
fatores como o clima, habitat do predador, a complexidade massa de modelar. O tamanho do modelo apresentava cerca
e heterogenidade da vegetação podem alterar a eficiência de 0,4 cm de diâmetro e 4,0 cm de comprimento (n= 408
da relação predador-presa (Andrade 1995). lagartas).
As aves, por exemplo, apresentam na borda dos ambientes Utilizei quatro parcelas do lado esquerdo e quatro
florestais uma riqueza e abundância menor que no interior. parcelas do lado direito da estrada ZF-3 (Figura 1),
Em mata de terra firme na Amazonia Central, algumas originalmente construídos para avaliar se a estrada servia
espécies como Trogon rufus, Cyanocompsa cyanoides, como uma barreira entre as aves, e se a distância da margem
Galbula albirostris, ocorrem somente na borda e outras da estrada ao interior alterava a distribuição delas (Laurance
como Pipra pipra, Schiffornis turdinus, Dendrocincla 2001). As mesmas parcelas foram utilizadas com a
fuligunosas, somente no interior da floresta. finalidade de comparar os resultados da predação dos
O tamanho das estradas que cortam a Floresta Amazônica modelos de lagartas com a distribuição de aves nestes
podem ser uma barreira para algumas espécies de aves, como ambientes.
as de correição. A presença de borda em cada lado da estrada Cada parcela contém três transectos nas distâncias 10,
potencializa ainda mais este efeito de impedimento em aves 70 e 170 metros da estrada. Em cada transecto foram
insetívoras. Desta maneira, a estrada pode levar a uma distribuídos 17 modelos artificiais de lagartas, uma em cada
alteração da distribuição das aves entre os seus lados indivíduo de planta (n=16), independente da espécie,
(Laurance 2001). distanciados 4,5 metros entre si. As lagartas artificiais fo-
Para testar esse efeito de borda, este trabalho teve como ram fixadas nas folhas que estavam entre 1,20 a 1,40 metros
objetivo verificar, utilizando modelos de lagartas artificiais de altura do solo, utilizando uma cola instantânea da marca
(Andrade 1997; Andrade & Benson 1996; Vidalenc 1999), “Super bonder”. Posteriormente, colocamos graxa nos
se há diferenças nas taxas de predação de lagartas em relação ramos de nove dessas plantas com os modelo, sorteadas
ao tipo de ambiente (borda, interior, lado esquerdo e direito aleatoriamente.Examinei a presença ou ausência das lagartas
da estrada) em uma mata de terra firme na Amazônia Cen- e categorizei as marcas de ataque por aves, formigas, vespas
tral. e outros (figura 2), 48 horas após a colocação dos modelos.
As hipóteses testadas foram: 1) A predação de lagartas Utilizei uma ANOVA de medidas repetidas para testar
artificiais é maior no interior que a área de borda; 2) A as variações na predação entre os lados da estrada, entre a
diferença de composição de aves entre o interior e borda e distância dos transectos e entre os tratamentos (com e sem
entre os lados da estrada afetam a predação por lagartas. graxa), e uma ANOVA de dois fatores para testar a diferença
na predação entre os grupos taxonômicos e distância da
Métodos estrada. A utilização dos testes estatísticos foram de acordo
O trabalho foi realizado em novembro de 2002 na Reserva com Zar (1984).

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 143


Norte (lado esquerdo) Sul (lado direito) 0,8
0,7
0,6

predação (%)
0,5
0,4
0,3 SYMBOL
0,2 CD
CE
0,1 SD
0,0 SE
0 50 100 150
Distância da estrada (m)

Figura 3. Porcentagem de predação nos ramos com e sem


graxa, nos transectos a 10m da estrada, 70 m da borda e
130 m da borda, do lado esquerdo e direito da estrada.
CD= ramo com graxa no lado direito, CE= ramo com graxa
no lado esquerdo, SD= ramo sem graxa no lado direito,
SD= ramo sem graxa no lado esquerdo.

As aves foram o grupo que mais predou as lagartas


Figura 1. Desenho esquemático da localização das artificiais, cerca de 32,4% (F=45,44, gl=2, p< 0,001, figura
parcelas utilizados no experimento. 4). É importante ressaltar que o ataque por aves ocorreu na
cabeça de todos modelos (figura 2). A porcentagem média
de predação em formiga foi de 4,7 % e das vespas de 5,2 %.
Não houve diferença de predação dos grupos por transecto
(F= 0,052, gl=4, p=0,995).

GRUPO
formigas
aves
vespas
0,7
0,6
predação (%)

0,5
0,4
0,3
0,2
Figura 2. Desenho esquemático das principais marcas de 0,1
predação em modelos artificiais de lagartas.
0,0
0 50 100 150
Distância da estrada (m)
Resultados
Encontrei 172 modelos de lagartas predadas (42%) após
Figura 4. Porcentagem de predação por grupo (formigas,
48 horas. A predação total encontrada não diferenciou en-
aves e vespas) entre os transectos a 10 m, 70 m e 130 m
tre os lados estrada (F=0,193, gl= 1, p=0,666, figura 3); a de distância da estrada ZF-3.
média de predação do lado direito foi de 33,5% e do lado
esquerdo foi de 32,5%. Da mesma forma, não encontrei
Na predação por aves não houve diferença entre o lado
diferença de predação entre os transectos e os lados (F=0,02,
direito (sul) e esquerdo (norte) (F=0,1933, gl=1, p=0,666,
gl=2, p=0,98) e entre os tratamentos (com graxa e sem graxa) figura 5), assim como em relação a interação entre transectos
e os lados (F=0,662, gl=1, p=0,426). O perfil de predação e lados (F=0,02, gl=2, p=0,980), entre tratamentos e lados
dos tratamentos e transectos não apresentou diferença (F=0,662, gl=1, p=0,426) e entre tratamento e transecto
(F=0,228, gl= 2, p=0,798). (F=0,228, gl= 2, p=0,798).

144 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


0,8 de predação por esse grupo. É provável que alguns grupos
0,7 de organismos apresentam uma distribuição heterogênea,
0,6
predação (%)

se concentrando em algumas áreas que apresentam mais


0,5
0,4
recursos, melhores condições de sobrevivência e
0,3 reprodução. Como analisei a borda e o interior, de forma
0,2 LADO
uniforme, desconsiderando esses fatores, é provável que eles
0,1 D tenham influenciado nas respostas de predação encontrados
0,0 E neste estudo. Outros estudos são necessários, levando em
0 50 100 150 consideração a heterogeniedade dos fatores entre as bordas
Distância da estrada (m)
e/ou interiores em um fragmento para confirmar ou refutar
o resultado encontrado nesse trabalho.
Figura 5. Porcentagem de predação por aves do lado Considerando que as larvas artificiais podem subestimar
direito (D) e esquerdo (E) em ramos com graxa (c) e sem as taxas de ataques reais, pode-se concluir que a predação
graxa (s) nos transectos a 10 m da estrada (1), 70 m da encontrada na Reserva Km 41 é alta, sendo similar entre a
borda (2) e 130 m da borda (3). borda e o interior, e os lados da estrada. A taxa de predação
de 21% por dia é representativa, principalmente quando é
acumulativa. Portanto, as aves representam um grupo
A predação por formigas não foi diferente entre os lados importante no controle da abundância de lagartas, grupo
e os transectos (F=0,598, gl=2, p=0,559). A predação por exclusivamente herbívoro, no início da estação chuvosa na
vespas também não foi diferente entre os lados e os área de estudo.
transectos (F=3,17, gl=2, p= 0,06).
Agradecimentos
Discussão Agradeço ao Paulo, ao Carlos, ao Geraldo Fernandes,
Os resultados deste estudo indicam que a predação dos ao Glauco, ao Jansen, ao Dadão pelas altas discussões du-
modelos de lagartas foi bastante alta, mesmo considerando rante o processo de elaboração desse projeto, análises das
um período curto de amostragem (48 horas), influenciando estatísticas, dos resultados ausentes e limitantes e pela
na abundância de lagartas da área no início da estação companhia extrovertida e bem humorada. Agradeço ao
chuvosa; a maior parte das marcas encontradas foram de Selvino, Pinguela, Juruna, Josué, Eduardo (gaúcho), a
aves. Um estudo anterior, na estação seca, demonstrou 44% Patrícia (mexicana) e a Vanina pelo forte apoio braçal,
das predações por artrópodos e menos de 1% por aves pernal e é claro, motivador para a realização desse trabalho
(Andrade 1997). Andrade discute que a predação seria de forma descontraída e muito amiga. Um obrigada a cada
maior na estação chuvosa, uma vez que nos estudos um dos participantes pela companhia harmoniosa e pela
realizados na Mata Atlântica com o mesmo procedimento, ajuda em inúmeros momentos durante este curso de campo.
a taxa de ataque durante a época das chuvas foi de 50%. No Termino este último trabalho de campo, sorrindo e enviando
entanto neste estudo, a predação no início da estação chuvosa beijos aos novos amigos que fiz aqui e certamente
foi próxima da seca, porém por grupos diferentes de encontrarei na minha encruzilhada.
predadores. É provável que abundância diferenciada de
grupos de organismos nas estações mantenha o equilíbrio
populacional das larvas de lepidópteros. No entanto, para
Referências bibliográficas
uma melhor interpretação dessas respostas de predação, seria Andrade, I. 1997. Variações espaciais na ação de
importante avaliar a disponibilidade de lagartas na estação predadores de larvas de Lepidoptera: uma abordagem
seca e na chuvosa. experimental. In C. A. Lima (eds.). Curso de Campo -
A predação não foi diferente entre a borda e o interior Ecologia da Floresta Amazônica. INPA, Amazonas.
da mata, contrapondo com os resultados encontrados no Andrade, I. & W. W. Benson. 1996. Attacks on imitation
trabalho de Andrade (1997). Alguns fatores, como a caterpillars reveal predation patterns in a tropical
disponibilidade de recursos para os predadores e abundância forest. Bulletin of the Ecological Society of America:
de espécies de aves generalistas nesses ambientes nessa Annual Meeting. Providence, Rhode Island, USA.
época do ano, provavelmente expliquem os resultados Laurance, S. G. W. 2001. The effects of roads and their
encontrados. Observações preliminares de ataque desses edges on the movement patterns and community
modelos de lagartas poderiam ajudar a definir os predadores composition of understorey rainforest birds in central
mais abundantes. Amazonia, Brazil. Thesis of doctor of Philosophy of
A comparação dos lados que separam a estrada não The University of New England, Australia.
apresentaram predação diferenciada, mesmo por aves. A Montlor, C. B. & E. A. Bernays. 1993. Invertebrate
diferença de riqueza e abundância de algumas espécies de predators and caterpillar foraging. In N. E. Stamp & T.
aves, entre os lados da estrada e entre o interior e a borda, M. Casey (eds). Caterpillars: ecological and evolution-
encontradas por Laurance (2001) não refletiram na taxas ary constraints on foraging. Chapman & Hall, New

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 145


York, USA. artificias (de diferentes cores de Lepidoptera) em uma
Oliveira, A. A. 1997. Diversidade, estrutura e dinâmica floresta Amazônica. In E. Venticinque & M. Hopkins.
do componente arbóreo de uma floresta de terra firme Curso de Campo - Ecologia da Floresta Amazônica.
de Manaus, Amazonas. Tese de doutorado, USP, São INPA, Amazonas.
Paulo. Zar, J. H. 1984. Biostatiscal Analysis. Prentice Hall, New
Vidalenc, D. 1999. Pressão de pressão sobre larvas Jersey, United States of America.

Defensa biológica en la planta mirmecófita Maieta


guianensis: respuesta inmediata al daño foliar, y
respuesta inducida a corto y largo plazo por parte de la
hormiga Pheidole minutula
Carolina Laura Morales

Introducción diferencial, “defendiendo” la hoja supuestamente atacada;


La asociación entre plantas myrmecófitas y hormigas ha 2) un daño previo, es una señal reconocida por las hormigas,
sido postulada como un mutualismo en el cual la planta que genera una respuesta más eficaz frente a un daño foliar,
ofrece alimento o refugio a las hormigas, recibiendo como en hojas previamente dañadas.
recompensa protección frente a eventuales herbívoros
(Hölldobler & Willson 1990). La eficiencia de las hormigas, Métodos
como defensa “biológica” contra herbívoros ha sido Area de estudio y organismos
comprobada en varias de estas asociaciones planta-hormiga Este trabajo fue llevado a cabo en la reserva Km 41, del
(Schupp 1986, Vasconcelos 1991). Particularmente en Proyecto de Dinámica Biológica de Fragmentos Forestales
Maieta guianensis Aubl. (Melastomataceae), las hormigas (PDBFF/INPA/Smithsonian Institution), situada
ofrecen una protección efectiva contra los herbívoros aproximadamente 70 km al norte de Manaus, Amazonia
(Vasconcelos 1991). Central. La reserva comprende 1000 ha de selva tropical no
Un sistema de defensa tan efectivo permite especular que alterada, con un dosel arboreo de entre 30 y 40 metros de
los mutualistas involucrados deben haber desarrollado altura. Esta area se caracteriza por una alta diversidad flo-
mecanismos que permitan un rápido reconocimiento, ral (hasta 1000 especies arboreas de dosel) y un sotobosque
detección y respuesta de defensa, ante un eventual ataque dominado por palmeras. El clima es clasificado como tropi-
por un herbívoro. Si las hormigas mutualistas son un análogo cal húmedo (Holdrige 1967), con uma estación lluviosa entre
“biológico”de los compuestos secundarios de defensa, como diciembre y junio (Junk & Furch 1985). Una descripción
propuso Janzen (1966), es de esperar que tengan, detallada del area se encuentra en Lovejoy & Bierregaard
analogamente, la capacidad de desarrollar una respuesta (1990). Los muestreos fueron realizados en el mes de
inducida frente al daño foliar (Agrawal 1998). Esto es, noviembre de 2002, al final de la estación seca.
plantas u hojas que hayan experimentado un ataque por un Maieta guianensis es un pequeño arbusto mirmecófito
herbívoro, deberían tener una respuesta inducida más (es decir, presenta domacios, según Benson, 1985) de amplia
efectiva ante un nuevo ataque, que plantas sin “experiencia distribución en la cuenca amazónica (Benson 1985) y muy
previa”. Un daño foliar previo, por ejemplo, puede ser una abundante en el area de estudio (Vasconcelos 1993). Esta
señal importante para una respuesta eficaz por parte de las especie presenta asociaciones mutualistas con dos especies
hormigas, ocasionando un reclutamiento más rápido o más de hormigas, Pheidole minutula Mayr (Formicidae) y
numeroso al sitio que está siendo atacado (Agraval 1998). Crematogaster sp. (Vasconcelos 1993), estando la primera
En este trabajo me propongo poner a prueba las siguientes especie presente en el 95% de los individuos (Vasconcelos
hipótesis: 1) Las hormigas Pheidole minutula, mutualistas 1991). Las hojas son muy dimórficas, y sólo la hoja mayor
de Maieta guianensis son capaces de reconocer un daño de cada verticilo posee um domacio que alberga hormigas.
foliar, de otro tipo de disturbios y de responder en forma Vasconcelos (1991) demostró que la remoción experimen-

146 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


tal de colonias de P. minutula en ejemplares adultos, seleccioné cuatro hojas de una misma rama, situadas en
aumentaba sus niveles de herbivoría y mortalidad. Las verticilos adyacentes, comenzando desde el verticilo más
colonias de P. minutula están compuestas por diferentes apical. Luego de registrar el número inicial de hormigas
castas, entre ellas las obreras y soldados parecen tener patrullando la hoja, realicé un corte en la lámina foliar de
distintas funciones en el sistema de defensa de la colonia cada hoja, similar al descrito en el experimento 1.
(Benson 1985). Posteriormente apliqué un segundo corte en cada hoja, a
distintos intervalos de tiempo desde el primer corte: 5, 10,
Respuesta inmediata al daño foliar 15 y 30 minutos. Dentro de cada planta asigné los distintos
Experimento 1. A fin de evaluar la respuesta inmediata tratamientos a cada hoja en forma aleatoria. Como vari-
de las hormigas ante un eventual ataque por herbívoro, able respuesta, registré el tiempo transcurrido entre el
realicé el siguiente experimento: En 20 individuos de M. segundo daño foliar y la detección del daño por parte de la
guianensis, escogí en cada individuo dos hojas, similares primer hormiga (considerando detección como el contacto
en tamaño, edad foliar y nivel de herbivoría (estimación de la hormiga con la zona dañada).
visual), ubicadas en ramas distantes dentro de la planta. En
una de las hojas, realicé un corte triangular de ca.1 cm2 con Respuesta inducida a corto plazo a nivel de la planta
una tijera, imitando el efecto de un ataque por herbívoro, en Experimento 4. En este experimento, me propuse evaluar
adelante “daño foliar”. En la otra hoja, realicé una si al respuesta a corto plazo se manifiesta a nivel del
manipulación semejante, utilizando una pinza enlugar de individuo o a nivel de la hoja por comparación con el
una tijera, (y sin danãr el tejido foliar), siguiendo la experimento 3. Para ello seguí el mismo procedimiento que
metodología propuesta por Christianini et al. (2001), a fin en el experimento anterior, pero aplicando un solo
de controlar por el efecto de la manipulación (en adelante tratamiento por planta, es decir en cada individuo (n=40)
“manipulación”). Previamente, registré la especie, número escogí una sola hoja, en la cual se aplicó aleatoriamente
y tipo (obrera o soldado) de hormigas patrullando la lamina uno de los tratamientos descritos en el experimento 3.
foliar. Inmediatamente después de realizar los tratamientos,
realicé censos en intervalos de un minuto, y por lapso de 15 Analisis estadísticos
minutos, considerando como número de hormigas en el Comparé el efecto de los tratamientos en el número de
tiempo cero, al número de hormigas presentes antes de hormigas y número de soldados reclutados (experimentos
aplicar el tratamiento. Los tratamientos fueron asignados 1 y 2) por medio de ANOVA de medidas repetidas,
en forma aleatoria a las hojas de una planta, en hojas considerando los intervalos de un minuto, desde el tiempo
escogidas a priori (ver más arriba) y realizados cero hasta 15 minutos, como medidas repetidas. Dado que
simultaneamente en ambas hojas del mismo individuo. De en un gran número de intervalos temporales, la frecuencia
un total de 20 individuos en los cuales realicé este de soldados fué cero, para la variable “número de soldados”
experimento, 19 estaban colonizados por P. miutula, estando solo consideré el intervalo temporal entre 5 y 10 minutos,
el individuo restante ocupado por Crematogaster sp. (este es decir 6 observaciones. Los números mínimos y máximos
individuo fue eliminado de los analisis). de hormigas por tratamiento, se compararon por medio de
test t pareado. El tiempo de detección del daño por las
Respuesta inducida a largo plazo hormigas en relación al tiempo trasncurrido entre el primer
Experimento 2. Con este experimento pretendi evaluar y segundo daño (experimentos 3 y 4) fue analizado por
si existe algún tipo de respuesta diferencial en hojas que ya medio de ANOVA de dos factores, considerando el efecto
tuvieron una “experiencia de herbivoría” en relación con de tiempo (5’, 10’, 15’ y 30’), la escala del experimento
hojas que no sufrieron herbivoría previa. Luego de (planta vs. hoja) y la interacción entre ambos factores.
transcurridas 27 horas desde la aplicación de los tratamientos Debido a la falta de homogeneidad de varianza entre las
“daño foliar” y “manipulación” (experimento 1), realicé un escalas de experimento, debida a la inclusión de
nuevo corte en las hojas escogidas, similar al descrito en el observaciones de hojas en las el daño que no fue detectado,
experimento 1, esta vez en las dos hojas, es decir, en la que por las hormigas, la variable respuesta fué transformada
habia sido previamente dañada y en la que habia sido (ranking), antes de realizar los analisis. A estas
previamente manipulada. Adicionalmente, apliqué el mismo observaciones, les asigné un tiempo de detección de 300’,
tratamiento en una tercera hoja, que no recibió ningun aproximadamente 1,5 veces el tiempo máximo registrado.
tratamiento el dia anterior, a fin de testar si la manipulación Todos los análisis siguieron procedimientos estandard en
previa per se tiene algun efecto en la respuesta a un daño Zar (1984).
foliar. El intervalo temporal entre el experimento 1 y 2 se
extendió a 27 horas, debido a que una lluvia de ca. 3 horas Resultados
durante el segundo día atrasó la ejecución del experimento. Respuesta inmediata al daño foliar
En la mayoría de las plantas muestreadas, habia hormigas
Respuesta inducida a corto plazo a nivel de la hoja obreras patrullando las hojas antes de iniciar el experimento
Experimento 3. En 10 individuos de M. guianensis, (Figura 1), pero ningun soldado se observó en esta situación.
Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 147
El número inicial de hormigas en las hojas en las que se Sumando el número de soldados a lo largo de todo el
aplicó el tratamiento “daño foliar”, se corelacionó intervalo temporal, las hojas que sufrieron daño foliar
positivamente con el numero inicial de hormigas en la hoja reclutaron en promedio 3,4 veces mayor número de soldados
“manipulada” de la misma planta (r = 0,82, P <0,001). En que las hojas manipuladas (t = 2,854, g.l = 29,2, P = 0,008).
las hojas dañadas, el número máximo de hormigas reclutado,
estuvo positivamente relacionado con el número inicial de Respuesta inducida a largo plazo
hormigas (r2 = 0,37, F = 10,02, P = 0,006), mientras que en El número de hormigas reclutadas dentro de los 15
las hojas manipuladas, esta regresión no resultó significativa minutos posteriores al daño foliar, no varió
(r2 = 0,19, F = 3,997, P = 0,062). significativamente entre hojas que habian sufrido daño fo-
El análisis de homosedasticidad de varianza reveló que liar 27 h antes, hojas que habian sido manipuladas, y hojas
en el intervalo de tiempo de uno a cinco minutos, las no manipuladas previamente (Tab. 2a). Al igual que en el
varianzas no fueron homogeneas entre los tratamientos análisis de respuesta inmediata, hubo un efecto significativo
(Prueba de Levene, P < 0,05 en los cinco casos) para la del tiempo transcurrido desde la aplicacion del daño y el
variable respuesta “número de hormigas”. Se observa que número de hormigas reclutados. En las hojas que fueron
en ese intervalo temporal en las hojas que sufrieron daño dañadas el primer día, no encontré diferencias en el número
foliar la varianza es mayor que en las hojas manipuladas de hormigas reclutadas luego del primer daño en relación
(Fig.1a). Por tal motivo, el analisis de varianza de medidas con el numero reclutado luego del corte realizado 27 h
repetidas solo fué realizado para el tiempo cero, y para el después (Tab. 2b). Tampoco hubo diferencias en las plantas
intervalo entre 6 y 15 minutos. Encontré efecto de con manipulación previa, en los niveles de reclutamiento
tratamiento, asi como de tiempo, y de interacción entre luego del daño foliar, en relación con los niveles de
ambos factores en el número de hormigas reclutados (Tab. reclutamiento luego de la manipulacion (Tab. 2c, Fig. 1a y
1a). La interacción puede ser explicada en parte, por que el b).
número de hormigas en el tiempo cero es similar en ambos
tratamientos, y en parte porque los ángulos de la curva de
reclutamiento son diferentes entre los tratamientos, 20 A
indicando una mayor velocidad de reclutamiento en hojas Manipulación

dañadas que en hojas manipuladas (Fig. 1a). 16

12
Tabla 1. Resultado del análisis de varianza de medidas
repetidas para evaluar el efecto del tratamiento (daño 8

foliar vs. manipulación) y tiempo en el número de


hormigas (a) y soldados (b) de P. minutula reclutados en 4

las hojas de M. guianensis. Ver en el texto, detalles sobre


los intervalos temporales considerados en cada análisis. 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Fuente de variación G.l. F P Tiempo (min)

a) N de hormigas
Tratamiento 1 6,670 0,014 20
daño foliar
Tiempo
Tiempo x Tratamiento
10
10
12,000
3,260
<0,001
0,005
B
16

b) N de soldados
12
Tratamiento 1 8,150 0,007
Tiempo 5 0,866 0,505
8
Tiempo x Tratamiento 5 2,039 0,075

Las hojas que sufrieron daño foliar reclutaron mayor 0


número de hormigas, y en menor tiempo, que las hojas que 0 1 2 3 4 5 6 7 8
Tiempo (min.)
9 10 11 12 13 14 15

solo fueron manipuladas. El número máximo de hormigas


reclutadas en hojas dañadas fue 70% mayor que en hojas Figura 1. a) Número (Media ± DE) de hormigas P.
manipuladas (17,6 ± 8,7 hormigas/ hoja, en hojas dañadas minutula reclutadas en hojas de M. guianensis con daño
vs. 10,16 ± 6,1 en hojas manipuladas; t = 3,66, g.l.= 18, P = foliar, y en hojas manipuladas (sin daño foliar), durante
0,002), no pudiendo ser explicada esta diferencia por el los 15 minutos posteriores a la aplicación del
número inicial de hormigas (3,8 ± 3,1 vs. 4,316 ± 3,8; t = tratamiento (N= 19). b) Número (Media ± DE) de
0,952, g.l.= 18, P = 0,354). También encontré efecto del hormigas reclutadas en hojas dañadas y manipuladas 27
tratamiento en el número de soldados reclutados durante el h antes, durante los 15 minutos posteriores a la
pico de reclutamiento, o sea entre 5 y 10 minutos (Tab. 1b). aplicación de un daño foliar.

148 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Sin embargo, el efecto siginificativo de la interacción Tabla 3. ANOVA para los efectos de tiempo entre el
Día x Tiempo, en las hojas dañadas (Tab. 2b) refleja que si primer y segundo daño (5, 10, 15 y 30 minutos) y escala
bien en términos numéricos no hubo diferencia entre el de experimentación (individuo y hoja), en el tiempo de
primer y segundo día, la hormigas reclutaron más detección del segundo daño por parte de P. minutula en
rapidamente en el segundo día. En hojas con daño previo, hojas de M. guianensis.
los mayores niveles de reclutamiento durante el primer día
Fuente de variación F G. l. P
se registraron entre los 5 y 10 minutos (Fig. 1a), mientras
Tiempo 3,77 3 0,015
que durante el segundo día, éstos ocurrieron entre los dos y
Escala de experimentación 2,94 1 0,933
cinco minutos (Fig. 1b).
Interacción Tiempo x Escala 0,26 3 0,854

Tabla 2. Resultado del análisis de varianza de medidas


repetidas para evaluar : a) el efecto del tratamiento A Planta
previo (daño foliar vs. manipulación) y tiempo (de cero a
62
15 minutos) en el número de hormigas P. minutula
reclutadas en hojas de M. guianensis; b) el efecto de día 53
(día 1 vs. 2) y tiempo dentro de hojas que recibieron

Tiempo (seg.)
daño foliar previo; y c) en hojas que recibieron 44
manipulación previa .
35
Fuente de variación F G.l. P

a) Daño previo vs. Manipulación previa


26
Tratamiento 0,87 2 0,429
Tiempo 17,68 15 <0,001 17
1 2 3 4
Tiempo x Tratamiento 0,83 30 0,725 Intervalo temporal

b) Hojas con daño previo


Día 0,06 1 0,801
Tiempo 10,32 15 <0,001
B Hoja
Día x Tiempo 1,81 15 0,031

c) Hojas con manipualción previa 64


Día 2,56 1 0,122
Tiempo 9,35 15 <0,001 56
Día x Tiempo 4,03 15 <0,001
Tiempo (seg.)

48

40
Respuesta inducida a corto plazo
Independientemente del tiempo trasncurrido desde el 32
daño previo, el tiempo de detección del daño fue 24
inversamente proporcional al número de hormigas
16
patrullando la hoja al realizar el daño (r2=0,208; F = 7,63, 1 2 3 4
Intervalo temporal
P= 0,01). Encontré efecto de tiempo transcurrido entre el
primer y segundo daño foliar (Tab. 3) en el tiempo de Figura 3. Tiempo de detección del daño foliar en hojas
detección del segundo daño. En las hojas en que trasncurrió que recibieron un daño previo a distintos intervalos de
30 minutos desde el daño previo, las hormigas tardaron tiempo, 1=5’, 2=10’, 3=15 y 4= 30’, en experimentos
significativamente más que en detectar el daño (Fig. 3). Por realizados escala de hoja (a) y de planta (b).
el contrario, no encontré efecto de escala de experimentación
(a nivel individuo o planta) ni interacción entre ambos distintos tipos de perturbaciones en la hoja, y responder en
factores, indicando que la respuesta no está afectada por la forma diferencial, asumiendo una actitud de defensa en caso
escala de experimentación, observandose en ambos de daño foliar. Esta actitud se manifestó en un mayor número
experimentos el mismo patrón (Fig. 3). de hormigas, un menor tiempo de reclutamiento, así como
Discusión un mayor reclutamiento de soldados en hojas dañadas, los
Las hormigas de la especie Pheidole minutula ejercen cuales no patrullaron la hoja antes del daño, confirmando
una protección efectiva contra herbívoros en Maieta que esta casta tiene una función específica en la defensa,
guianensis (Benson 1985, Vasconcelos 1991). El presente como fué postulado por Benson (1985). El reconocimiento
trabajo demostró que las hormigas son capaces de reconocer del daño foliar indica que estímulos físicos o químicos

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 149


pueden estar involucrados en el reconocimiento de la varía en función de la escala temporal (de minutos a horas).
herbivoría (Christianini 2001). Señales asociados a daño Los resultados de algunos experimentos demuestran que
foliar estuvieron asociadas a un mayor reclutamiento de P. existe una respuesta inducida a corto plazo, siendo mayor
minutula en M. poepigii (Christianini 2001), y de Azteca el tiempo de detección de daño 30 minutos después del
sp. en Cecropia obtusifolia (Agrawal 1998), sugiriendo que primer daño. Esto también esta relacionado con el número
este tipo de estímulo puede estar difundido en plantas de hormigas patrullando en el momento de realización del
mirmecófitas no emparentadas filogeneticamente segundo daño (Fig.1a y 3). La ausencia de efecto de escala
(Christianini 2001). de experimentación demuestra que la respuesta inducida a
La capacidad de reconocer un ataque por un herbívoro corto plazo se produce a escala de la hoja, no estando esta
de otro tipo de perturbaciones en la hoja o planta (por respuesta sesgada por el diseño experimental. Por otra parte,
ejemplo, producidas por el viento, o la caída de una hoja o se mostró que a largo plazo, la respuesta inducida no se
rama), podría tener consecuencias benéficas para ambos manifiesta en un mayor número de hormigas reclutadas, sino
mutualistas. Para la planta, asegura una defensa más efectiva en un menor tiempo para alcanzar el número máximo de
y un menor tiempo de exposición ante un herbívoro. Para reclutamiento (Tab. 2 b). No obstante, la ausencia de
las hormigas, esto permitiría “ahorrar” recursos asignados diferencias en la respuesta entre hojas que recibieron distinto
a la busqueda de alimento (lo que desde el punto de vista de tratamiento previo, no sustenta la hipotesis de que la
la planta equivaldría a defensa), haciendo despliegue de un respuesta inducida es a nivel de la hoja. La falta de un con-
mecansimo de forraje (y por lo tanto, de defensa) más trol externo (es decir, un tratamiento de daño foliar sin daño
sofisticado (a través de la intervención de soldados, por previo en individuos independientes, durante el segundo
ejemplo), sólo en casos en que señales como un daño foliar, día) impide obtener conclusiones definitvas en relación a la
indiquen presencia de un herbívoro. Según Benson (1985) escala de la respuesta. Por este motivo, los resultados de
los soldados solo salen de los domacios para ayudar en el este experimento en particular deben interpretarse con cau-
forrajeo de presas mayores, lo cual podría sugerir que esta tela, ya que es posible que esta diferencia observada entre
señal de daño foliar, podría ser reconocida por las hormigas los dos días, no sea atribuible al daño o manipulación pre-
como presencia de una presa potencial. via, y pueda ser explicada por las diferencias climáticas entre
El “patrullaje preventivo” que realizan las obreras, parece los dos días de experimentación, que puedan afectar el
tener un papel crucial en este sistema de defensa y detección comportamiento de las hormigas.
de herbívoros. En todos los experimentos realizados, tanto
el número máximo de hormigas reclutados, como el tiempo
de detección del daño, se relacionó con el número de Agradecimientos
hormigas patrullando la hoja antes de ocurrido el daño. Esta Al INPA (PDBFF/Smitshonian Institution) por financiar
relación entre actividad de patrullaje y eficiencia en la mi participación en el Curso de Campo Ecología de la
respuesta anti-herbivoro, también fue observado en C. Floresta Amazónica, Nov.2002. A Dadão, Paulo, Jansen,
obtusifola (Agrawal 1998), sugiriendo que este tipo de Carlos y Glauco por sugerencias y aportes durante el diseño
estrategia puede estar generalizada en asociaciones plantas- del experimento y el analisis de datos de este proyecto en
hormiga. Probablemente, las ventajas que este sistema de particular. A todo el equipo de profesores y colaboradores
patrullaje acarrea tanto para la planta como para las del curso de campo, en particular a Jansen, Dadao, Carlos,
hormigas, quizá explique la evolución y el mantenimiento Glauco, Paulo, Mike, Geraldinho, Juruna y Pinguela, por
de este comportamiento en distintos linajes, y justifique el su paciencia, su entusiasmo y, sobre todo, por compartir
costo energético que debe implicar para la colonia asignar con nosotros no solo sus conocimientos y experiencia, sino
en forma permanente un promedio de dos o tres hormigas también su calidad y calidez humana. A Jansen y Dadão,
por hoja, exclusivamente para actividades de patrullaje. Este por el coraje de llevar adelante esta proeza, y por permitirme
comportamiento permanente en casi todas las hojas con particpar de ella. Al maravilloso grupo de compañeros de
domacios (obs. pers.) es llevado a cabo tanto de día como curso, por este mes inolvidable en Amazonas. A la dosis
de noche, si bien en menor intensidad durante la noche diaria de brega y goiabada, por la inspiración.
(Vasconcelos 1991, Christianini 2001) lo cual podría
garantizar que los eventuales herbívoros puedan ser Referencias bibliográficas
detectados y repelidos antes de provocar daños significativos Agrawal, A. A. 1998. Leaf damage and associated cues
(Christianini 2001). Dado que los principales herbívoros induce aggresive ant recruitment in a neotropical ant-
en hojas de M. guianensis son orugas (Benson 1985), parece plant. Ecology 79: 2100-2112.
razonable que las hormigas mantengan “guardias nocturnas”, Benson, W. W. 1985. Amazon ant-plants. Pp. 239-266 in
ya que este es el momento en que las orugas forrajean más G.T. Prance & T.E. Lovejoy, editors.Amazonia.
activamente, para evitar la predación por aves (E. M. Pergamon Press, Oxford, U.K.
Venticinque, com. pers.). Christianini, A. V. 1995. Respostas a herbívoros
En relación a la respuesta inducida en hojas previamente simulados na mirmecófita Maieta poepigii
dañadas, este trabajo demostró que este tipo de respuesta (Melastomataceae): Pheidole minutula Mayr
150 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002
(Formicidae) é que era formiga de verdade!. Pages ecosystem project. Pages 60-71 In A. H. Gentry. ed.
90-94 in. J. Zuanonn & E. Venticinque eds. Curso de Four Neotropical Rain forests. Yale University Press,
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Christianini, A. V., A. Lamberts, A. J. C. Aguiar, K. Krebs, C. J. 1999. Ecological Methodology. Adduson
Ferreira & T. Timo 2001. Reações anti-herbívoros da Wesley Publishers.
formiga Pheidole minutula Mayr (Formicidae, Marne de Costa C., V. Minte, F. R. Costa & L. A. Costa
Myrmicinae) em uma planta mirmecófita, Maieta 1995. Comunidade de mirmecofitas e nivel de
guianensis Aubl. (Melastomataceae). Pp. 73-75 In herbivoria em uma floresa de terra firme de Amazonia
Zuanonn J. & E. Venticinque eds. Curso de Campo Central. Pp. 159-167 in R. Cintra ed. Curso de Campo
Ecología da Floresta Amazónica, Manaus. Ecología da Floresta Amazónica, Manaus.
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Lovejoy, T. E. & R. O. Bierregaard 1991. Central Zar, J. H. 1984. Biostatistical Analysis, Prentice Hall,
Amazonian Forests and the minimal critical size of NewJersey, USA.

Comportamento de Gonatodes humeralis (Sauria,


Gekkonidae) em área perturbada
Josué Ribeiro da Silva Nunes

Introdução
Na Amazônia os lagartos ocupam diversos ambientes gênero Gonatodes, distribuídas ao longo de toda a bacia
naturais, tais como florestas de terra firme, matas de várzea amazônica (Ávila-Pires 1995). Gonatodes humeralis é o
e igapó, margens de grandes rios e de pequenos igarapés, geconídio amazonico com distribuição mais ampla, podendo
bem como ambientes perturbados naturalmente ou pela ação ocorrer em simpatria com outras espécies do gênero (Ávila-
antrópica como clareiras (Oda 1998; Beebe 1994; Pires 1995).
Hoogmoed 1973; Vanzolini 1968; O’Shea 1989; Duellman Gonatodes humeralis é um pequeno lagarto diurno e
1989, 1990; Martins 1991, Crump 1971, Dixon e Sioni 1975; umbrófilo (41mm de comprimento rostro-cloacal). Nunes
Cunha et al. 1985; Vitt et al. 1997). Os microhabitats onde (1984) observou atividade da espécie no período
estes animais podem ser encontrados são: o solo, galerias compreendido entre 7:00 e 17:00h. Possui coloração críptica
no subsolo, em meio a serapilheira, troncos caídos e e acentuado dimorfismo sexual: os machos são mais
vegetação, desde a base até a copa (Oda 1998). coloridos, apresentando coloração castanho- escuro com
A família Gekkonidae é composta por diversas espécies faixas amarelas bem definidas, partindo do focinho até o
arborícolas em todo o mundo, porém na Amazônia, existem pescoço, as fêmeas possuem coloração mais clara e menos
poucas espécies dessa família que ocupam o estrato verti- vistosa que a dos machos, com manchas castanho-escuro
cal (Ávila-Pires 1995). Dentre essas estão as espécies do (Vanzolini 1972; Ávila-Pires 1995) Fig. 1.

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 151


Os dados foram obtidos através da procura ativa nos
A B troncos, canos de PVC, vigas, calhas, serapilheira, estes
locais foram vasculhados, minuciosamente a procura dos
indivíduos, que quando localizados foram em alguns casos
capturados para realizar biometria e marcação, o substrato
também recebia uma marcação com fita colorida e número
da área, para facilitar a observação posterior que ocorreu
de hora em hora durante o período de atividade da espécie.

Sede da Reserva do Km 41
PDBFF 4 26 24 z
z7 8 z z
z
3 z 6 z5
z
Banheiro
Refeitório 25
z2 z
9z
1z
18
16 21z z 19
z 23 z
z
10
z
12 11
z
z

Dormitórios
Laboratório
Figura 1. a) macho e b) fêmea de Gonatodes humeralis, 17
z
com marcas para identificação em campo. 14
z
20
z
Banheiro
13
z 15z 22 N
z

Vive geralmente sobre troncos de árvore que apresente Trilha

DAP entre 20 e 40cm e a altura média de 70cm do solo, Figura 2. Localização dos substratos utilizados por
sendo raramente observado a alturas superiores a 1,5m Gonatodes humeralis na área da Reserva do Km 41 do
(Nunes 1984; Vitt et al. 1997; O’Shea 1989; Vanzolini projeto PDBFF. Os números representam os substratos
1986). onde foram observados os indivíduos e os círculos as
Segundo Oda (1998) Gonatodes humeralis ocupa troncos supostas áreas de vida de grupos de indivíduos da
de diâmetros variados, o que pode definir está escolha é a espécie.
disponibilidade de abrigo e área de forrageio. Seguindo essa
premissa, busquei verificar se troncos maiores (DAP) são Variáveis ambientais
usados com mais freqüência por Gonatodes humeralis pois Observei algumas características dos substratos utilizados
são potenciais áreas de forrageio e abrigo. Outros fatores por Gonatodes humeralis tais como, se o dossel das árvores,
de seleção de microhabitat citados por Oda (1998) são aa contatavam com outras próximas, o DAP (Diâmetro a Altura
quantidade de serapilheira e rugosidade do tronco, que do Peito) dos troncos que abrigavam os indivíduos, foi
podem servir de área de forrageio e refúgio contra medido com uso de fita métrica de 20m, a altura da
predadores. Com base nestas informações resolvi verificar serapilheira, em torno das árvores, com o uso de régua de
se a presença de serapilheira e rugosidade, são importantes acrílico de 30cm que foi introduzida na serapilheira até que
para a abundância da espécie. Este trabalho teve ainda como não penetrasse mais.
objetivo descrever o comportamento de cópula, alimentar e A incidência solar sobre o tronco foi medida visualmente,
de territorialidade da espécie. no local onde o indivíduo se encontrava a rugosidade do
tronco, através do uso de papel sulfite e giz de cera, que era
Métodos pintado sobre o tronco e depois dividido em classes (1 liso,
Área de estudo 2 médio e 3 rugoso), na classe 1 foram identificados
Este estudo foi realizado na base da Reserva do Km 41 substratos de superfície lisa tais como, canos de PVC e
do PDBFF (20 24’S; 590 44’O) que pode ser descrita como árvores de caule liso, na classe dois foram incluídas árvores
uma área de aproximadamente 100m 2 , onde estão de casca com espessura média e na classe 3 as árvores com
localizados o laboratório, os alojamentos, banheiros, cozinha casca mais grossa, os substratos habitados pelos indivíduos
e refeitório, a floresta em volta é uma área de mata contínua, estudados foram divididos em classes de altura, em metros,
situada a 70 Km de Manaus, apresentando precipitação anual 1 (0-0,5), 2 (0,5-1), 3 (1-1,5), 4 (1,5-2), 5 (2-2,5), 6 (2,5-3),
de 2100mm, com estação chuvosa de novembro a maio e 7 (3-3,5), 8 (3,5-4), foi verificada a presença de epífitas e
seca entre junho e outubro (Lovejoy & Bierregard 1990) liquens, e a temperatura ambiental, usando termômetro de
(Fig. 2). O trabalho de campo foi conduzido entre os dias mercúrio. Para verificar a área de deslocamento dos
25 a 28 de novembro de 2002 as observações indivíduos, foram marcados com bandeiras, todos os pontos
comportamentais foram realizadas das 6:00 às 18:00h onde estes foram avistados, distante de sua área original,
perfazendo um total de 48h de observações. posteriormente estes pontos for medidos, com auxílio de

152 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


trena de 20m. em média 1,99m2 (N=6) amplitude de 0,93 à 4,35m.
O DAP dos substratos utilizados variou de 12 a 137cm
Variáveis biológicas apresentando uma amplitude acentuada.
Foi realizado um senso através de contagem direta dos O DAP não apresentou correlação com o número de
indivíduos nas árvores, identificando-se machos, fêmeas e indivíduos (R=0,281; P>0,05, N=52), número de machos
jovens. Considerou-se como residentes aqueles que (R=0,052, P>0,05, N=15), número de fêmeas (R=0,135,
permaneceram no mesmo substrato, durante um ciclo diário P>0,05, N=30) e número de jovens (R=0,246, P>0,05, N=7).
de observação. Alguns indivíduos foram capturados, A quantidade de serapilheira também não apresentou
medidos com uso de paquímetro (comprimento rostro- correlação com o número de indivíduos (R=-0,111, P>0,05,
cloacaL CRC), pesados (pesola 10g) e marcados com tintas N=52), de machos (R=-0,080, P>0,05, N=15), de fêmeas
de aeromodelismo de diversas cores. Cada indivíduo era (R=-0,098, P>0,05, N=30) ou de jovens (R=0,173, P>0,05,
marcado no pescoço ou no dorso, com uma única cor, apenas N=7). As classes de rugosidade dos troncos também não
variando ao formato da marcação. Durante as observações apresentaram correlação com número de indivíduos (R=-
foram registrados aspectos comportamentais dos indivíduos 0,181, P>0,05, N=52), de machos (R=-0,153, P>0,05,
tais como: corte, acasalamento, forrageamento e encontros N=15) de fêmeas (R=-0,223, P>0,05, N=30) ou de jovens
agonísticos. Os dados de DAP, serapilheira e rugosidade (R=0,067, P>0,05, N=7). O substrato mais utilizado foi
foram analisados por meio de correlação de Pearson. árvore embora G. humeralis tenha sido observado vivendo
em paredes, calhas e vigas, densidade de dois indivíduos
Resultados por substrato em média.
Utilização de microhabitats
Foram registrados 52 indivíduos da espécie distribuídos Forrageamento
entre estes, dos animais observados 7 eram jovens, 15 ma- Os indivíduos foram avistados forrageando em troncos,
chos e 30 fêmeas, destes 11 fêmeas, 9 machos e 3 jovens, galhos, serapilheira, solo, paredes, em bromélias, nas árvores
totalizando 23 indivíduos foram marcados para facilitar as onde residiam ou noutras próximas à esta. A alimentação
observações comportamentais (Tab. 1). foi observada uma vez quando uma das fêmea encontrou
Cada substrato apresentou em média uma ou duas fêmeas cupins, rapidamente aproximou-se e começou a alimentar-
e às vezes jovens, os machos residiam em um ambiente e se destes. A freqüência de alimentação foi de cerca de nove
através da copa visitava outras árvores com as quais esta se cupins por minutos, sendo que em nenhuma das vezes
conectava, para copular com as fêmeas. Foi observado que engoliu soldados, apenas operárias Zuanon (com. pess.)
em alguns casos as mesmas fêmeas podiam ser visitadas registrou esta espécies alimentando-se de pequenos
por diferentes machos quando estas encontravam-se em ortópteros.
substratos que não apresentavam machos residentes. Quando
as copas não se conectavam, mas o substrato em que a fêmea Comportamento territorial
se encontrava era próximo, o macho caminhava pelo solo O comportamento mais comumente observado foi o de
até a mesma para copular. Embora os machos visitassem as um macho permanecer num substrato e ser visitado pelas
fêmeas em diversos pontos próximos aos seus supostos fêmeas. Machos de G. humeralis apresentaram
territórios, algumas fêmeas também visitaram outros comportamento territorialista, com relação ao substrato que
substratos. Nos 26 substratos monitorados, pareceu haver ocupavam, tendo sido observado apenas uma vez a presença
formação de agregados, podendo estes ser constituídos por de dois machos ao mesmo tempo num mesmo substrato.
mais de um macho, mas nunca num mesmo substrato (Figura Nesta observação, um macho menor (CRC 3,49cm) invadiu
2). o território de outro macho (CRC 3,75cm) quando o macho
Após as 18:00h os lagartos cessavam as atividades e se residente identificou-o desceu pelo tronco rapidamente e
recolhiam em bromélias, na serapilheira ou em reentrâncias quando se aproximaram ambos começaram a balançar a
no tronco, para o pernoite. Durante todo o período de cauda e andar em círculos até que o macho residente atacou
observação os indivíduos foram avistados quase que o intruso e começaram a morder-se. Após cinco minutos o
exclusivamente no lado do tronco que estava sombreado, macho residente subiu até a copa da árvore e passou para
tendo sido registrada maior movimentação no final da manhã outra árvore, onde permaneceu até o final das observações.
e início da tarde. O outro macho apoderou-se do território e começou a
A altura em que os indivíduos foram avistados variou de perseguir a fêmea que habitava a árvore. Durante as
0 a 4m, sendo esta a área de atividade vertical da espécie. observações, no entanto, ainda não havia ocorrido a cópula,
Dentro da classe de rugosidade, a mais usada foi a mais já que a fêmea não permitia que o novo macho a segurasse.
rugosa (53%) a classe menos usada como substrato foi a
intermediária (19%) e a mais lisa apresentou 28% de uso. Reprodução
Machos apresentaram área média de vida de 3,05m2 Foram registradas duas cópulas envolvendo diferentes
(N=9) com amplitude de 0,86 a 5,33m, fêmeas afastam-se pares de indivíduos. Enquanto o par se aproximava (vindo
de posições opostas) o macho ficava com o corpo enrijecido,

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 153


inclusive a cauda, então balançava o corpo para cima e para Oda (1998) e Vitt et al. (1997) observaram G humeralis
baixo, com a região gular expandida e exibindo a coloração quase que exclusivamente em troncos, mas neste estudo foi
ventral. A fêmea por sua vez, levantava a cauda e comum observar a espécie nos mais diferentes habitats.
posicionava-se perpendicularmente ao macho e neste Os machos deslocam-se mais que as fêmeas, enquanto
momento o macho subia sobre ela, segurando-a com as que as fêmeas parecem deslocar-se quase exclusivamente
pernas anteriores, dando inicio à cópula que durou em média para forragear.
17min. Durante a cópula a fêmea passava a cauda pelo corpo O forrageamento da espécie não foi observado com
do macho, e caminhava algumas vezes levando-o em suas freqüência e não foi encontrado na literatura informações
costas. Depois de terminada a cópula, ambos separavam-se sobre este comportamento. A espécie parece ser generalista
e ficavam alguns minutos juntos antes de afastar-se. quanto a artrópodes em geral, o que pode ser confirmado
pela grande quantidade de locais de forrageamento utilizados
Discussão pela espécie.
G. humeralis foi mais freqüente em substratos mais O comportamento territorialista de Gonatodes humeralis
rugosos, segundo Oda (1998) isto pode ser devido ao fato parece estar mais relacionado à defesa de uma área de
de poderem locomover-se de forma mais rápida neste forrageamento que da acesso exclusivo a fêmeas a pois
substrato. Acredito que o principal motivo para este algumas dessas foram observadas visitando mais de um
resultado foi a disponibilidade de substrato pois apesar de macho.
habitarem mais locais rugosos, vivem de um modo geral Gonatodes humeralis demonstrou comportamento
em toda a área. territorialista, não permitindo presença de outro macho no
Segundo Nunes (1984) e Vitt et al. (1997), esta espécie mesmo substrato. A área de forrageamento não foi restrita a
vive sobre troncos com DAP variando de 20 a 40cm. Ma- um único substrato, mas ás vezes a vários locais próximos.
chos foram comumente avistados em altitudes superiores à Um macho pode visitar de uma a várias fêmeas por dia as
das fêmeas e estas à dos jovens, este mesmo padrão foi fêmeas às vezes podem copular com mais de um macho.
observado por Oda (1998). Lagartos são animais que Tamanho parece não ser um fator importante para o acesso
dependem da temperatura ambiental para aquecer-se, dos machos a um número maior de fêmeas.
aumentando sua movimentação nos períodos mais quentes Aparentemente G. humeralis adapta-se muito bem a áreas
do dia o pico de atividade da espécie esteve restrita ao final degredadas, sendo abundante nas mesmas. Os principais
da manhã e início da tarde, períodos em que a temperatura fatores que parecem influenciar a distribuição de G.
era mais elevada. O fato de os animais estarem sempre do humeralis são a presença de outro macho a distância dos
lado sombreado do substrato pode estar ligado a defesa agregados de indivíduos e a conectividade da copa das
contra predação, porque no lado iluminado ficaria em árvores utilizadas como territórios.
evidência.
Oda (1998) e Nunes (1984) observaram DAP de 33,08 e Agradecimentos
30 respectivamente em mata secundária, este autor cita ao Gostaria imensamente de agradecer em primeiro lugar a
fato de ser muito comum este tipo de média para o DAP em Deus, que nos abençoou em nossa estada na Floresta,
áreas alteradas, Vitt et al. (1997) observaram DAP médio livrando-nos de qualquer mal grave que pudesse nos
de 60,6cm estudando áreas de florestas primárias habitadas sobrevir, MUITO OBRIGADO! Aos nossos orientadores,
por esta espécie e este também parece ser um padrão, Jansen, Dadão, Ana, Arnaldo, Mike, Carlos, Leandro,
provavelmente devido à maior idade das árvores em florestas Neusa, Jorge, Tachi, Paulo, Geraldinho, Glauco, Wilson,
primárias. Selvino, vocês são realmente muito bons. Ao Juruna e ao
As variáveis serapilheira e rugosidade do substrato Pinguela pelos Helps em todas as situações, até nas mais
embora tenham tido grande amplitude não se mostraram inusitadas. Ao Jorge e ao Raimundo, pelas deliciosas
boas preditoras do número de indivíduos em cada tipo de refeições, e a todos os outros que tão carinhosamente
substrato. Oda (1998) observou que este lagarto prefere cuidaram de nossas refeições. A turma, Yumi, Ana Maria,
habitar árvores com serapilheira de baixa espessura, pois Patrícia e Dudu gaúcho, vocês são especiais e eternos em
isso facilitaria o deslocamento, além de evitar serpentes, minha vida. A toda a galera, por todos os momentos, valeu
seus principais predadores (Dixon & Soini 1975; Martins mesmo. A caixa de primeiros socorros, porque sem ela não
1991; Ávila-Pires 1995). Neste estudo, os substratos teria sido possível. E enfim a minha vida Paula que
utilizados apresentaram quantidades variáveis de concordou que eu viesse mesmo com tão pouco tempo jun-
serapilheira. tos, você é tudo para mim e em mim.
Oda (1998) observou maior densidade de Gonatodes
humeralis em áreas perturbadas e este fato confirmou-se Referências bibliográficas
neste estudo, pois em observações adicionais realizadas na Ávila-Pires, T.C.S. 1995 Lizards of brasilian Amazonia
floresta nos arredores da área de estudo a espécie não foi (Retilia: Squamata). Zoology. 299: 1-706.
observada. Beebe, W. 1994 Field notes on the lizards of Kartabo,

154 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


British Guyana, and Caripito, Venezuela. Part. 1. forest fragments and the minimun critical size of
Gekkonidae. Zoology 29: 145-160 ecosystem project. Pp 60-71. In: A.H. Gentry (ed.).
Crump, M.L., 1971 Quantitative analysis of the ecologi- Four Neotropical Rain Forests, Yale University Press.
cal distribution of a tropical herpetofauna Paper New Haven.
Musseum of Natural History from University of Martins M. 1991 The lizards of Balbina, Central
Kansas 3: 1-62. Amazonia, Brazil: a qualitative analysis of resource
Cunha, O.R., F.P. Nascimento & T.C.S. Ávila-Pires 1985 utilization. Studies on the Neotropical Fauna Environ-
Os répteis da área de Carajás, Pará, Brasil (Testudines ment 26: 179-190.
e Squamata). Publicações Avulsas do Museu Paraense Nunes, VS. 1984 Ciclo de atividade e utilização do
Emílio Goeldi 40: 9-92. habitat por Gonatodes humeralis (Sauria, Gekkonidae)
Dixon, J.R. & P. Sioni 1975 The Reptiles of the Upper em Manaus, Amazonas. Papéis Avulsos do
Amazon Basin, Iquitos Region, Peru. Milwaukee Departamento de Zoologia 35: 147-152.
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Duellman, W.E. 1989 Tropical herpetofaunal communi- populacional da lagartixa, Gonatodes humeralis
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Surinam IV. The lizards and amphisbbaenians of variation among populations of the gekkonid lizard
Surinam. Biogeographica 4: 1-419. Gonatodes humeralis in the Amazon Basin. Copeia
Lovejoy, T. E. & R. Bierregard 1990 Central amazonian 1997 :32-43.

Tabela I. Ocorrência de indivíduos de Gonatodes humeralis na área do acampamento da Reserva do Km 41 PDBFF, por
tipo de substrato.
o
Número de Substrato DAP Epífitas nos Liquens nos Serapilheira na base N de ind. nos Rugosidade dos
substrato substrato substrato dos substratos substratos substratos

01 Árvore 31 sim sim 3 2 2


02 Árvore 35 sim não 7 3 2
03 Árvore 47 sim não 0 2 3
04 Árvore 45 sim não 0 2 3
05 Árvore 23,5 sim não 13 1 3
06 Árvore 46 sim sim 0 2 3
07 Árvore 137 sim não 0 3 2
08 Árvore 27 sim não 21 3 3
09 Árvore 20 sim não 0 1 3
10 Árvore 33 sim não 25 2 3
11 Árvore 16 sim não 2 1 1
12 Árvore 17 sim não 0 2 1
13 Árvore 64 sim não 16 2 2
14 Árvore 85 sim não 0 1 3
15 Árvore 15 não não 29 2 3
16 Árvore 28 sim sim 28 2 3
17 Árvore 23 sim não 0 2 3
18 Cano 29,8 não não 0 2 1
19 Madeira 32 não não 0 3 1
20 Madeira 21 não não 0 4 2
21 Árvore 48 não não 5 2 3
22 Árvore 21 não não 16 1 3
23 Árvore 12 não não 0 1 1
24 Árvore 24 sim não 8 1 3
25 Madeira 28 não não 0 3 1
26 Madeira 120 não não 0 2 1

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 155


Riqueza de insetos galhadores e de suas plantas
hospedeiras em clareiras e áreas de floresta primária da
Amazônia Central
Genimar Rebouças Julião

Introdução sobrevivência em habitats úmidos, em comparação com


As florestas tropicais úmidas podem ser vistas como uma habitats xéricos. Os fatores que determinam esses níveis de
comunidade homogênea numa escala temporal e espacial sobrevivência estão associados às altas taxas de parasitismo
ampla (Richards 1979). No entanto, numa escala menor, e predação em ambientes úmidos. Além disso, ambientes
percebe-se que estas florestas encontram-se em um xéricos proporcionariam um nicho relativamente livre de
equilíbrio dinâmico. Estudos têm mostrado que o dossel da doenças e inimigos naturais (principalmente parasitóides e
floresta é regularmente aberto pela queda de árvores ou herbívoros que comeriam a galha; Fernandes & Price 1992).
grandes galhos. Este processo gera clareiras e uma nova Baseado nessas informações, este estudo teve por objetivos
vegetação se desenvolve, podendo eventualmente cerrar a testar a hipótese de que insetos galhadores são mais
clareira. O dossel de uma floresta é, consequentemente, freqüentes em habitats que possuem maior incidência de
um mosaico de copas de árvores de diferentes alturas e luz, temperatura mais elevada e menor umidade. Além disso,
estruturalmente heterogêneo. Assim, clareiras são testou-se o efeito do tamanho da clareira sobre o número de
responsáveis pelo contínuo processo de regeneração das galhadores. Dessa forma, espera-se que clareiras acumulem
florestas tropicais úmidas, tendo fundamental importância uma maior riqueza de insetos galhadores em comparação
nos mecanismos que regulam a dinâmica de populações, às áreas de floresta adjacentes.
como o recrutamento, crescimento e sobrevivência (van der
Meer 1995). Além disso, este tipo de distúrbio natural Métodos
auxilia no estabelecimento e crescimento da maioria das Desenvolvi o estudo na Reserva do Km 41 do PDBFF
espécies de árvores, na produção de habitats para espécies (Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais –
que demandam alta luminosidade, na promoção de altas INPA/Smithsonian Institution), a cerca de 70 km ao norte
taxas de crescimento e na redução da dominância de espécies de Manaus (02°26’S e 059°46’O).
competitivamente superiores (Rose 2000). Realizei coletas de insetos galhadores em plantas de sub-
A dinâmica das florestas tropicais permite distinguir dois bosque de 10 clareiras e 10 áreas de floresta primária
tipos de história de vida nas comunidades vegetais. As áreas adjacentes às clareiras. Em cada área de clareira, amostrei
de clareira são geralmente colonizadas por espécies nos pontos equivalentes ao centro e aos quatro pontos
pioneiras, dependendo do tamanho da abertura do dossel cardeais (cinco pontos ao todo), utilizando a orientação da
(Foster & Brokaw 1982). Tais espécies são caracterizadas maior largura e comprimento da clareira. Na área de floresta,
pelo crescimento rápido, distribuição agrupada e maior amostrei cinco pontos, sendo quatro deles paralelos aos
investimento em crescimento em detrimento de defesas pontos da clareira e um deles escolhido ao acaso. No ponto
custosas e específicas contra herbívoros. Por outro lado, amostral, examinei as plantas por seis minutos e aquelas
espécies persistentes que colonizam o sub-bosque que apresentavam galhas de insetos eram coletadas e
sombreado, caracterizam-se pelo crescimento lento, alta acondicionadas em sacos plásticos para posterior
concentração de compostos fenólicos e têm dispersão por identificação.
todo o sub-bosque, sendo facilmente localizadas por insetos Comparei a riqueza de galhas entre clareiras e áreas de
herbívoros (Coley 1982). floresta adjacentes por meio do teste t Student e utilizei
Essas diferentes características ocasionam taxas regressões simples para avaliar o efeito da área da clareira
diferenciais de herbivoria em áreas de clareira e sub-bosque, na riqueza de insetos galhadores e de plantas hospedeiras.
e Coley (1982) observou que espécies presentes nas clareiras Avaliei a similaridade entre as áreas de clareira e de floresta
eram mais atacadas por herbívoros, em comparação àquelas por meio de um agrupamento baseado em distância
de sub-bosque. A diversidade de insetos galhadores está Euclidiana simples e com método de ligação por médias
geralmente associada à esclerofilia da vegetação, não ponderadas.
disponibilidade de nutrientes, estabilidade e previsibilidade
do recurso, e principalmente às condições abióticas do meio, Resultados
como altas temperaturas e baixos níveis de umidade Coletei 46 morfoespécies de galhas de insetos nas
(Fernandes & Price 1988, 1991, Price et al. 1998). Os insetos clareiras e 34 nas áreas de floresta, associadas a 64 espécies
formadores de galhas têm baixas probabilidades de de planta hospedeiras, distribuídas em 28 famílias botânicas.

156 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


As famílias Burseraceae, Mimosoideae, Papilionoideae e (gl = 1-8; F = 10,22; p = 0,013) da variação no número de
Sapotaceae acumularam o maior número de morfoespécies morfoespécies de galhas na clareira, enquanto na floresta
de galhas (Tab. 1). esse percentual foi de 88% (df = 1-8; F= 63,21;p < 0,001).

Tabela 1. Número de espécies de plantas hospedeiras e


morfoespécies de galhas amostradas por famílias 10
botânicas.

Número de morfoespécies
9
Famílias de Plantas Espécies de Morfoespécies
Hospedeiras planta de galhas 8
Burseraceae 7 8
Mimosoideae 7 8
7
Papilionoideae 6 7 6
Sapotaceae 5 6
Sapindaceae 3 3 5
Rubiaceae 3 3
Bignoniaceae 3 3 4
Annonaceae 2 2
Melastomataceae 2 2 3
Lauraceae 2 2
Hippocrateaceae 2 2 2
Cecropiaceae 2 2
Lecythidaceae 2 2 1
Violaceae 2 2 0 100 200 300 400
Elaeocarpaceae 2 2 Área da clareira
Dilleniaceae 2 2
Caesalpinioideae 1 1
Ochnaceae 1 1 Figura 1. Número de morfoespécies de galhas em
Moraceae 1 1 clareiras de diferentes tamanhos.
Celastraceae 1 1
Myrsinaceae 1 1
Connaraceae 1 1 A maioria dos locais amostrados não mostraram qualquer
Apocynaceae 1 1
Bombacaceae 1 1 padrão de similaridade quanto as morfoespécies de galhas
Monimiaceae 1 1 e espécies de plantas. Na figura 2 observa-se que em
Chrysobalanaceae 1 1
Myristicaceae 1 1 qualquer nível de ligação não se encontra agrupamentos bem
Myrtaceae 1 1 estabelecidos, e a clareira 1 (c1) apresenta a maior
dissimilaridade no grupo.
O número médio de morfotipos de galhas na clareira foi
4,3 (d.p.= 2,4) e na floresta 3,4 (d.p.= 1,4). Apesar da maior
3,5
riqueza de insetos galhadores na clareira, estes valores não
diferiram estatisticamente da área de floresta (t = 1,49; p = 3,0

0.17, Tab. 2).


2,5
Tabela 2. Número de morfoespécies de galhas e de
espécies de plantas amostradas em ambientes de clareira 2,0
e de floresta. Área das clareiras em metros quadrados.
Ambiente Morfoespécies Espécies de Área Ambiente Morfoespécies Espécies de 1,5

de galhas plantas (m2) de galhas plantas

Clareira 1 9 9 356,1 Floresta 1 4 4


1,0
c7 c5 c4 f7 4 f1 f6 f2 f8 f3 f9 f5 f10 c10 c9 c8 c6 c3 c1
Clareira 2 6 5 117,8 Floresta 2 3 3
Pontos amostrados
Clareira 3 3 3 151,7 Floresta 3 3 3

Clareira 4 6 6 110,2 Floresta 4 4 4 Figura 2. Dendrograma de similaridade das espécies de


Clareira 5 6 6 84,9 Floresta 5 2 2 plantas hospedeiras em função da ocorrência de
Clareira 6 2 2 102,9 Floresta 6 3 3 morfoespécies de galhas em áreas de clareira (c) e de
Clareira 7 7 7 74,6 Floresta 7 7 6
floresta (f). Baseado na Distância Euclidiana Simples e no
Clareira 8 2 2 64,3 Floresta 8 2
3 Método de Ligação por Médias Não Ponderadas.
Clareira 9 2 2 44,2 Floresta 9 3 2

Clareira 10 3 2 25,5 Floresta 10 2


2
Discussão
A área das clareiras influenciou significativamente o O regime de distúrbios naturais em florestas tropicais
número de morfoespécies de galhas hospedeiras (r2= 0,42; úmidas é considerado o principal fator de manutenção da
gl= 1-8; F= 5,70; p<0,05; Fig. 1) e de espécies de plantas diversidade de espécies de árvores (Rose 2000). A maioria
hospedeiras (r2= 0,45; gl= 1-8; F= 6,62; p<0,05). O número dos estudos em clareiras tem verificado uma maior
de espécies de plantas afetou diretamente o número de galhas diversidade vegetal neste ambiente, em comparação ao sub-
observado nos dois habitats estudados, tendo explicado 56% bosque da floresta (van der Meer 1995), embora Hubbel

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 157


(1990) enumere argumentos discordantes. Agradecimentos
Neste estudo observei que ambientes de clareira e sub- Agradeço imensamente ao Marcelo Moreira e Ocírio
bosque não diferem quanto a riqueza de insetos galhadores. Pereira, pelo companheirismo, pela força, pelo alto astral
O mesmo fato foi observado com relação a riqueza de cupins, constante. A Yumi Oki e Pin pela bondade e beleza no
que provavelmente tiveram sua diversidade associada ao coração. Ao Josué pelo auxílio na confecção deste trabalho.
estágio sucessional de decomposição do substrato e não ao Ao Jansen e Dadão pelas sugestões e correções. Agradeço
tamanho da clareira e quantidade de biomassa disponível a todos colegas deste curso.
no solo (Fadini et al. 1996). Dessa forma, é possível que os
estágios sucessionais das clareiras constituam um fator
preponderante na dificuldade de visualização de um padrão
Referências bibliográficas
Coley, P.D. 1982. Rates of Herbivory on Different
de diversidade de galhadores, e que as clareiras sejam
Tropical Trees. Pp 123-132 in E.G. Leigh Jr, A.S.
constituídas por espécies vegetais do sub-bosque da floresta
Rand & D.M. Windsor (editors), “The Ecology of a
e não por pioneiras. Além disso, é importante ressaltar que
Tropical Forest: Seasonal Rhythms and Long-term
as clareiras utilizadas neste estudo podem ter dimensões
Changes Smithsonian Institution Press, Washington,
que não permitem a entrada de luz em quantidade e qualidade
D.C.
adequada para o estabelecimento de uma fauna rica de
Fadini, M.A.M. ; R.C. Cordeiro & C.S. Seixas. 1996.
galhadores. Faria (1994) inferiu, através de coletas de
Riqueza de cupins em clareira e floresta contínua. Pp
folhiço, que a maior diversidade de insetos galhadores estaria
244-246 in IV Curso de Campo “Ecologia da Floresta
concentrada no dossel da floresta, onde ocorrem as maiores
Amazônica”, INPA/Smithsonian Institution/ Unicamp/
taxas de insolação, menor umidade e maior abundância de
OTS, Manaus, AM.
tecidos meristemáticos nas plantas.
Faria, M.L. de. 1994. Riqueza de insetos galhadores em
Clareiras são facilmente detectadas numa floresta tropi-
diferentes áreas da Amazônia Central. pp 482-487 in
cal por meio dos altos níveis de luminosidade atingindo o
Curso de Campo “Ecologia da Floresta Amazônica”,
solo da floresta. No entanto, é muito difícil determinar o
OTS/Unicamp, Manaus, AM.
limite físico de uma clareira, especialmente clareiras mais
Fernandes G.W. & Price, P.W. 1988. Biogeographical
antigas. Em geral, a densidade da vegetação decresce
gradients in galling species richness: test of hypoth-
gradualmente da floresta fechada e sem distúrbios, em
eses. Oecologia 76: 161-167.
direção ao centro da clareira. A altura do dossel é
Fernandes, G.W. & Price, P.W. (1991). Comparisons of
freqüentemente utilizada para determinar as bordas da
tropical and temperate galling species richness: the
clareira, sendo 2 metros a altura limítrofe da vegetação (van
role of environmental harshness and plant nutrient
der Meer 1995). Neste estudo verifiquei que a área da
status. p.91-116 in: Price P.W., Lewinsohn T.M.,
clareira explicou cerca de 42% da variação na riqueza de
Fernandes G.W., Benson W.W. (eds) Plant-animal
insetos galhadores, indicando que além do estágio
interactions: evolutionary ecology in tropical and
sucessional, o tamanho da clareira pode afetar a riqueza e
temperate regions,. John Wiley, New York.
abundância de insetos herbívoros.
Fernandes, G.W. & Price, P.W. (1992). The adaptive
Observei um grande número de famílias e espécies
significance of insect gall distribution: survivorship of
vegetais atacadas por insetos galhadores, quando comparado
species in xeric and mesic habitats. Oecologia 90:14-
a estudos realizados em outros tipos de vegetação, que fo-
20.
ram mais intensamente amostrados. No Pantanal do
Foster, R.B. & N.V.L. 1982. Structure and History of the
Miranda-Abobral foram realizadas cerca de 54 horas de
Vegetation of Barro Colorado Island. pp 67-81 in E.G.
coleta de insetos galhadores e suas plantas hospedeiras,
Leigh Jr, A.S. Rand & D.M. Windsor (editors), “The
sendo registradas 133 morfoespécies de galhas em 75
Ecology of a Tropical Forest: Seasonal Rhythms and
espécies de plantas (Julião 2002). Neste estudo observei 64
Long-term Changes Smithsonian Institution Press,
morfoespécies de galhas com um esforço amostral de 10
Washington, D.C.
horas. Além disso, observei que cerca de 43% das famílias
Julião G.R., Amaral M.E.C. & Fernandes G.W. (2002a).
de plantas hospedeiras foram atacadas por uma determinada
Galhas de insetos e suas plantas hospedeiras do
morfoespécie de galha.
Pantanal sul-mato-grossense. Naturalia (in press).
Dessa forma, mostram-se necessários estudos mais
Price P.W., Fernandes G.W., Lara A.C.F., Brawn J.,
aprofundados que avaliem a diversidade de galhas com
Barrios H., Wright M.G., Ribeiro S.P. & Rothcliff N.
relação aos estágios sucessionais de uma clareira. Além
1998. Global patterns in local number of insect galling
disso, a investigação da fauna de insetos galhadores
species. Journal of Biogeography 25: 581-591.
associados a copas de árvores podem proporcionar
Richards, P.W. 1979. The Tropical Rain Forest: An
elementos esclarecedores a respeito dos padrões de
Ecological Study. Cambridge University Press,
distribuição destes organismos e de seus fatores causais.
Cambridge.

158 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Rose, S.A. 2000. Seeds,seedling and gaps-size matters: A van der Meer, P.J. 1995. Canopy dynamics of a tropical
study in the tropical rain forest of Guyana. Tropenbos- rain forest in French Guiana. PhD thesis, Wageningen
Guyana Programme, Georgetown, Guyana. Agricultural University, The Netherlands, 149 pp.

Distribución vertical del área foliar de tres especies de


Philodendron (Araceae): una vision integrada a la
comunidad de araceas en un bosque de tierra firme en
la Amazonia Brasilera
Ana Maria Benavides Duque

Introducción hasta conseguir trepar y desarrollarse verticalmente


Se reconoce como epífitas aquellas plantas autótrofas que generalmente sobre un árbol. Estas son las denominadas
germinan sobre otra planta y desarrolla la totalidad o parte hemiepífitas primarias. Otras comienzan su vida como
de su ciclo de vida sin tener contacto con el suelo (Krees epífitas verdaderas y se reconvierte a un hábíio hemiepífito
1986). Esta definición permite considerar como epífitas a por la producción de raíces largas y pendulares que entran
plantas con hábito de crecimiento holoepífito (epífitas en contacto con el suelo. Estas se reconocen como
verdaderas) y hemiepífito (con contacto con el suelo en hemiepífitas secundarias (Croat 1988).
alguna momento de su ciclo de vida). La plasticidad morfológica de algunas especies de Philo-
La comunidad epífita,, es un importante componente dendron se refleja en la heteroblastia tanto de sus hojas como
estructural de los bosques tropicales (Rosemberg & tallo. La heteroblastia se ha asociado generalmente a
Kimberlyn 1999; Nieder et al. 1999; 2001) y contribuye diferencias en las fases de crecimiento. No obstante, la
significatívamente con su diversidad (Gentry & Dodson disponibilidad de luz parece ser el factor más importante
1987a), alcanzando en muchos casos, a representar cerca para la planta presentar este cambio morfológico (Ray 1987,
del 25% de la flora de un país o una región (Moller-Jorgensen citado por Croat 1988), de alli que algunas especies
& León-Janez 1999; Nieder et al. 2001). presenten la capacidad de cambiar su morfológia foliar de
La característica de las epífitas de habitar en un paisaje acuerdo a las condiciones ambientales independiente de su
tridimensional discontinuo (Bennet 1986), las somete a edad (Croat 1988).
gradientes complejos que reflejan cambios simultáneos de En la Amazonia, Philodendron se ha descrito como un
factores ambientales tales como temperatura, radiación, elemento altamente abundante y conspícuo de en los
humedad y precipitación (Wolf 1993). No obstante a esta primeros estratos del bosque (Croat 1988; Nieder et al. 2000;
complejidad de factores que interactúan y que afectan el Leimbeck & Balslev 2001), donde las condiciones
establecimiento de las epífitas sobre los hospederos se han ambientales han sido descritas como más estables y
revelado interesantes patrones de estratificación vertical por homogeneas (Parker 1995). Esta condición de Philoden-
especies o grupos taxonómicos (Johansson 1974; ter Steege dron de desarrollarse en los primeros estratos donde la
& Cornelissen 1989; Wolf 1993; Nieder et al. 2000; Rudolph competencia por espacio y luz entre individuos y entre
et al. 1998). Muchas veces este arreglo espacial nos puede especies se estaria llevando a cabo se podría estar reflejando
indicar mecanismos fisiológicos, reproductivos y mecánicos en la amplitud de sus formas de vida y en diferencias en su
de adaptación así como interacciones espaciales entre y estrategias foliares en un gradiente vertical tanto dentro de
dentro de las poblaciones de epífitas. individuos de una misma especie como entre diferentes
Philodendron, perteneciente a la familia de las araceas, especies.
monocotiledóneas reconocidas por su alta diversidad de El objetivo de este estudio fue determinar si el área fo-
especies en los bosques tropicales (Gentry & Dodson 1987), liar, como un indicativo de estrategia foliar, de tres especies
presenta una marcada tendencia hacia las formas de Philodendron com variaciones en el habíto hemiepífito,
hemiepífitas (Croat 1988). Unos de los aspectos ecológicos presenta una distribución vertical diferencial en un bosque
más interesantes del género es su diversidad de formas de de tierra firme en la Amazonía Brasilera.
vida y la plasticidad morfológica dentro de los individuos y
las especies. Un individuo puede comenzar su ciclo de vida Metodología
como plántula terrestre y crecer en condiciones de oscuridad Área de estudio

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 159


El estudio se llevo a cabo en la Amazonia Central individuos diferentes, partiendo del concepto de “ramets”
Brasilera en la estación científica Km 41 de INPA-PDBF (2 como unidad funcional independiente y efectiva (Harper
°19’- 2° 26’S y 5° 48’- 60° 05’ O), con una altitud entre 50 1977).
y 150m s.n.m. El clíma en la estación científica es clasificado
según el sistema de Köppen (1936) como: clíma húmedo Análisis de los resultados
de monzón, con una temperatura media de 26 °C y una Análisis de correlaciones de Pearson se realizaron para
precipitación anual de 2220 mm (Nee 1995). testar la relación entre el área foliar y la longitud del peciolo
La vegetación al rededor de la estación es floresta de para cada una de las especies. Analisis de varianza con
tierra firme original con una heterogeneidad de paisajes medidas repetidas se efectuaron para determinar la
como consecuencia de variaciones topográficas. La floresta interacción de la posicion de la hoja y las especies.
de “platô”, úbicada en áreas altas, presenta dosel alto (35- Regresiones lineales se efectuaron entre la altura y el área
40m), se caracteriza por una alta biomasa y subbosque foliar para cada una de las especies.
dominado por palmeras acaules. La floresta de “vertente”,
localizadoa en áreas colinosas y disectadas, presenta un Resultados
dosel medio (25-35m) y vegetación de transición. La floresta Distribución vertical de la comunidad de araceas
de “baixio”, localizada en las planicies aluviales a lo largo Un total de 52 indivíduos pertenecientes a 11 especies
de igarapés (quebradas de aguas negras), presenta un dosel de araceas fueron registrados en 24 árboles en un área de
medio (20-30m) y se caracteriza por la abundancia de “baixio”. Se encontraron tres géneros: Anthurium (una
palmeras como Oenocarpus bataua y Mauritia flexuosa especie), Heteropsis (una especie) y Philodendron, (nueve
(Ribeiro et al.1999). Los bosques de la reserva, son especies). Las especies de Philodendron representaron el
considerados uno de las áreas con mayor riqueza arborea 94% de los indivíduos encontrados y la especie más
con cerca de 1300 especies en al menos 64 familias (Bruna abundante fue P. fragantissimum con 21 indivíduos. El
2001). Cerca de 40 araceas epífitas ocurren en área cercana número máximo de epífitas por árbol fue de cuatro y en
y de estas 23 pertenecen al género Philodendron (Ribeiro promedio se encontraron 1,3 indivíduos. El 72% de los
et al.1999). indivíduos y ocho especies se localizaron bajo los 5m, tres
especies (8% de los individuos) entre los 5 y los 10m, cinco
Muestreo de la vegetación especies (18% de los indivíduos) entre 10 a 15m y una
Se realizaron dos transectos de 300 m los cuales fueron especie se úbico sobre los 15 m (Grafica 1).
úbicados uno en floresta de “platô” y uno en “baixio”. En el
transecto de “baixio” se muestrearon P. megalophyllum una
hemiepífita secundaria asociada a jardines de hormigas y P.
barrosoanum una hemipífita primaria. En el trasecto de 20
“platô” se muestreó P. fragantissimum una hemipífita
primaria con una marcada heteroblastia y frecuente en el
área de estudio. Las especies fueron identificadas con ayuda
de claves taxonómica y con la guia de campo Flora da
15
Reserva Ducke (Ribeiro et al.1999).
Altura (m)

Se estratificó verticalmente la altura así: de 0-2, 2-4, 4-6


y 6-10m. Se muestrearon cinco indivíduos de cada especie 10
por estrato vertical. Los indivíduos fueron seleccionados
de forma aleatoria y con una distancia mínima entre si de
10m.
Para cada indivíduo se colectaron tres hojas, una en cada 5
categoria por altura, baja, media y alta. Se registró la altura
de cada hoja con respecto al suelo y medidas del largo y
ancho de las hojas, asi como la longitud del peciolo fueron
realizadas. A partir del largo y ancho se estimo el área fo- 0 i i r
um sis oa nt ne ae ph od ur os
liar aproximada. t h uri erop rros raga insig linn galo latyp ulch rruc
t a f e e
Adicionalmente en el transecto del “baixio” fueron An He P. b P. P. P. . m P. p P. p P. v
P
seleccionados 24 árboles (CAP>30cm), localizados Especie
aleatoriamente y con una distancia mínima entre si de 10 m,
se muestreo toda la comunidad de araceas epífitas con el Figura 1. Distribución vertical de araceas epífitas que
fin de determinar su estratificación vertical. En cada árbol ocurrieron en 24 árboles en una floresta de “baxio”,
todas las araceas visibles desde el suelo fueron registradas Amazonia Brasilera.
y la altura de la última hoja fue estimada. Plantas que no
estaban conectadas una con otra fueron tratadas como

160 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Distribución foliar
Discusión
El área foliar y la longitud del peciolo presentó una
La distribución vertical de la comunidad de araceas, en
correlación alta para las tres especies estudiadas, P.
general y de Philodendron, en particular, se concentró en
fragantiissimum (r=0,80, p=0,001), P. megalopyllum
los primeros 5 m del sotobosque, com una excepción
(r=0,72, p=0,001) y P. barrosoanum (r=0,801, p=0,001).
importante por parte de P. megalophyllum que fue mas
Al comparar entre las especies el área foliar en cada una
frecuente en estratos superiores; confirmando el precepto
de las categorias bajas, media y altas se encontraron
de la distribución vertical reportado para araceas en la
diferencias (F=5,038 p=0,01). Asi tambien, cada especie
Amazonia (Leimbeck & Balslev 2001, Nieder et al. 2000).
vario su área foliar en relacion a la posición que esta ocupaba
El área foliar varió tanto entre entre las especies y entre
con respecto a las otras (F=0,003 p=0,003) y no se encontro
las diferentes clases de altura de las hojas en un gradiente
una interacción de la especie sobre el área foliar en las
vertical, apoyando la hipótesis inicial de la estratificación
diferentes ubicación de las hojas (F=0,131 p=0,130) (figura
vertical de las estrategias foliares. La idea de la planta como
2).
una población de partes donde el efecto del estres puede ser
El área foliar varió con relación a la altura a la que se
localizado en una área y afectar diferencialmente los
encontraban las folias de P. fragantiissium (R2=0,13, F=7,97
compartimientos moduares de esta es un concepto que
p=0,007) y P. megalopyllum (R2=0,14, F=8,14 p=0,005);
emergió como respuesta considerada mas útil para entender
no asi para P. barrosoanum (R 2 =0,04, F=2,38
la dinámica de poblaciones. De allí, que el crecimiento to-
p=0,128)(figura 3).
tal de la planta es integrado por la actividad de sus partes
independientemente y variaciones en la intensidad lumínica,
duración, calidad, dirección y angulo de incidencia sobre
1400

P. fragantissimum
los indivíduos afectan diferencialmte los compartimeintos
1200
P. megalophyllum
P. barrosoanum de la planta (Harper 1977). Por tanto cada hoja de Philo-
1000
dendron existe en su regimen propio de variables
ambientales.
800 La tendencia similar de incrementar el área foliar en
600
relacion a las hojas que se localizaban mas bajas en P.
megalopylum, P. fragantissimum y P. barrosoanum. y el
400 patrón encontrado para P. megalopyllum y P. fragantissimum
Area foliar

de incrementar su área foliar con la altura revela estrategias


(cm 2 )

200
foliares similares. Revelando por tanto que el patrón
0
0 presentado puede estar permeado de forma directa por la
200 400 600 800 1000
Altura (m) ontogenia y filogenia de las plantas estudiadas y de forma
indirecta por la heteroblastia caracteristica de algunas
Figura 2. Área foliar por las diferentes clases de altura de
especies de Philodendron (Croat 1988). Por otro lado,
las hojas para tres especies de Philodendron.
evidencia que las especies estan sometidas a presiones
ambientales similares, mas que a presiones por competencia
entre individuos de otras especies y de la misma especie de
650 araceas debido a la baja frecuencia de individuos
encontrados por árbol en este estudio. No obstante, es
550
importante subrayar que la altura solo explico un máximo
450
del 14% de la variación que presentaban P. fragantissimum
y un 12% para P. megalophylum, revelando por tanto que la
350 mayor parte de la varición en la estratificación foliar no es
explicada por la altura.
Area foliar ( cm2)

250
De allí, que es importante considerar otros factores que
150
estarian interactuando en la estratificación tanto de los
individuos como en el área foliar. La alta sinuosidad
50 microambiental y estructural de los bosques de tierra firme
bajo medio alto
de la Amazonia crea una complejidad de gradientes
ambientales que podria estar modulando de forma diferencial
esta estratificación no solo de la comunidad de araceas, sino
Figura 3. Variación del área foliar en realción con la tambien de la comunidad de epífitas. Por tanto, es necesario
altura para indivíduos de P. fragantissimum (circulos desarrollar en el futuro estudios de estratificación vertical
negros), P. megalopyllum (circulos blancos) y P. que abarquen esta alta sinuosidad estructural de los bosques
barrosoanum (cuadrados). y estudios puntuales sobre aspectos morfológicos y de la

Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 161


biología de las especies para comprender los procesos que klimatologie, Teil IC. Verlag von Gebrüder
subyacen a los patrones observados Bornstraeger, Berlin.
Kress, J.W. 1986. The systematic distribution of vascular
Agradecimientos epiphytes: an update. Selbyana 9: 2-22.
Este estudio fue llevado a cabo gracias a el apoyo Leimbeck R.M. & H., Balslev 2001. Species richness and
otorgado por el Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos abundance of epiphytic Araceae on adjacent floodplain
Florestais (PDBFF) y INPA/Smithsonian dentro del Curso and upland forest in Amazonian Ecuador. Biodiversity
de Campo de Ecologia da Floresta Amazônica. and Conservation 10:1579-1593.
Agradecimiento en especial a Carlos Fonseca orientador en Moller-Jorgensen; P S., León-Janez (eds). 1999 Cata-
la idea original del proyecto libre, a Paulo De Marco en la logue of the vascular plants of Ecuador. Missouri
orientacion del análisis númerico, a Glauco Machado por Botanical Garden Press. St. Luis Missouri.
sus sugerencias y comentarios, a Patricia Tello, Josué Ribeiro Nee, 1995 Flora prelimiar do projeto dinâmica biológica
da Silva Nunes y Marcelo “Pinguela” por la colaboración de fragmentos florestais (PDBF). New York Bat. Gard.
en la fase de campo. Muito obrigada por la valiosa e INPA/Smithsonian. Manaus.
orientacion de Dadão y Janzen a lo largo del curso. Además Nieder, J. & G., Zotz, 1998. Methods of analyzing the
un abazo a todo el equipo que integro y acompaño durante structure and dynamics of vascular epiphyte communi-
todo el proceso en especial a Juruna y a Pinguela. Y los que ties. Ecotropica 4: 33-39.
no podian faltar, un abrazo de corazón para todos y cada Nieder, J.; S., Engwald,; w., Barthlott 1999. Patterns of
uno de los compañeros que integraron el Curso de Campo Neotropical epiphyte diversity. Selbyana 20(1): 66-75.
2002. Nieder, J.; S., Engwald,; M., Klawun,; W., Barthlott,
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162 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002


Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 163

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