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Saúde Mental
Introdução
O Homem do Chapéu
Trabalhar com saúde mental é estar disponível para receber do outro aquilo que
mais lhe causa sofrimento: a eclosão psicótica, o uso prejudicial de drogas, o
adoecimento infantil, os processos depressivos severos, os ataques de pânico e
ansiedade, as dores, delírios, alucinações etc.
Contextualização Histórica
As aulas desta disciplina foram elaboradas trazendo a prática dos serviços de saúde
mental articuladas com a história da loucura e suas formas de tratamento desde o
século XVIII, buscando mostrar que nossas práticas são efeitos de determinadas
concepções de sujeito e de mundo. Assim, demos visibilidade para:
A invenção do diagnóstico em saúde mental e suas mudanças radicais desde
o nascimento da psiquiatria com Pinel. A partir dessa contextualização
observamos que a construção diagnóstica atual é efeito de um cenário de
disputas científicas, onde um paradigma mais voltado para manuais de
classificações (DSM) sai vencedor. E que na contramão desse processo de
automatização do diagnóstico, os norteadores da Atenção Psicossocial nos
ajudam a utilizar o diagnóstico em favor do projeto terapêutico dos pacientes, no
lugar de reduzi-los a um código ou sigla.
Escutar o desabafo das pessoas, por ser uma atitude recorrente no senso comum, é
uma ferramenta comumente desqualificada pelos profissionais. Entretanto, a escuta
qualificada aponta para a diferença entre ouvir automaticamente e ofertar um
espaço de fala no qual os pacientes se sintam valorizados.
O acolhimento se refere então, além da maneira de lidar com todos os pacientes dos
serviços, ao modo de organização da equipe para receber quem chega pela primeira
vez. Implica então em assumir nos serviços, enquanto equipe, uma postura capaz de
escutar, incluir e dar “respostas adequadas” aos usuários e seus familiares.
Respostas adequadas não significam soluções imediatas ou fornecer tudo o que o
paciente está pedindo. Significa ter a capacidade de orientar a pessoa, esclarecer o
papel daquele serviço, encaminhá-la para outro equipamento caso não seja ali o
local adequado de tratamento.
Isso exige profissionais que se apropriem de seu processo de trabalho, que
conheçam seu território. Respostas como “Estamos sem médico”, “Não é aqui”,
“Estamos sem vaga” são os exemplos mais corriqueiros e mais graves de respostas
inadequadas. O acolhimento aponta para a necessidade de respeitar quem chega e
oferecer alguma coisa, que seja uma informação ou um copo d´água. Assim,
acolher:
Trata-se, portanto, de um dispositivo de intervenção que
possibilita analisar o processo de trabalho em saúde com
foco nas relações e que pressupõe a mudança das relações
entre os profissionais, destes com os usuários, e sua rede
social, por meio de parâmetros técnicos, éticos,
humanitários e de solidariedade, reconhecendo o usuário
como sujeito e como participante ativo no processo de
produção da saúde. É um dispositivo para a formação de
vínculo e a prática de cuidado entre o profissional e o
usuário, que pode ampliar o acesso das pessoas aos
serviços e às ações de saúde, como um dispositivo de
cuidado e de organização do processo de trabalho da
equipe. A equipe deve, no seu dia a dia de trabalho,
experimentar formas de acolher de modo que possa ir
ajustando à realidade de cada local. Através do processo de
acolhimento torna-se possível identificar e compreender as
variadas demandas, problemas e necessidades de saúde das
pessoas para intervir e dar respostas concretas aos usuários,
bem como para apoiar e acionar os diferentes pontos da
rede de serviços de saúde, das redes sociais e comunitárias,
na perspectiva do cuidado integral. (Projeto Caminhos do
Cuidado, Ministério da Saúde, 2013, p. 54)
Vínculo
Vincular se refere àquilo que conecta, liga as pessoas. Na saúde mental, tanto
profissionais quanto usuários, percebendo ou não, depositam expectativas diversas
uns sobre os outros - o vínculo é justamente essa circulação de afetos entre as
pessoas. Ele depende de uma relação de mão dupla, isto é, requer receptividade de
ambas as partes.
O profissional deve buscar tal receptividade no paciente através de seu acolhimento,
de uma forma humanizada e verdadeira de estar com ele. Isso significa não desistir
dos pacientes com a justificativa de que eles não são receptivos, não se vinculam, ou
que são resistentes. Ao contrário das relações familiares que se esgotam, ou do
próprio paciente que, cansado de sua condição, desiste do tratamento, desiste da
vida, os profissionais precisam acreditar no tratamento.
Uma vez que a própria relação entre o profissional e o usuário está em constante
transformação, o vínculo tem diferentes modulações e pode se fortalecer ou se
fragilizar em diferentes contextos. Nas situações de urgência e emergência, a
qualidade do vínculo faz toda a diferença na escolha das estratégias de intervenção
adotadas. Um paciente com bom vínculo com a equipe ou com seu técnico de
referência tem menos chances de ser internado, por exemplo. O vínculo é decisivo
na relação de cuidado com os usuários, pois facilita a construção da autonomia, a
corresponsabilização e o compartilhamento de ações terapêuticas, com potência para
reduzir o sofrimento e melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Essa ferramenta indica também a questão da reciprocidade. Tal como dito na aula,
para que haja reciprocidade nas relações é necessário haver compartilhamento de
poder. Historicamente, a pessoa em sofrimento psíquico tem seu poder de decisão,
escolha, e até de fala, cerceado, seja pela experiência do sofrimento, seja pelas
pessoas e instituições ao redor. Nesse sentido, ter uma relação de confiança onde é
verdadeiramente acolhida por profissionais que são sua referência, faz toda a
diferença no tratamento. Assim, o vínculo:
Muitas vezes a parte mais difícil do trabalho em saúde mental não é lidar com os
sintomas, delírios, com as crises, mas sim alcançar um ponto em que o usuário
entenda o papel do tratamento em sua vida e saia de uma posição de objeto - “Eu só
venho aqui porque o médico mandou”, “Eu sou assim porque tenho uma doença,
não há saída”. A condição de objeto, entretanto, não é “culpa” do usuário,
historicamente foi o lugar que as práticas e saberes científicos lhe designaram,
delegando o poder sobre seu tratamento e sua vida a determinados profissionais.
Assim, romper a lógica manicomial não é só receber o paciente em um serviço extra-
hospitalar, mas junto com ele transformar aquele espaço em algo que faça sentido
para o paciente, em algo no qual ele se reconheça.
Articulações em rede
É amparada pela lei 10.216/2001, conquista de uma luta social que durou 12
anos;
Significa a mudança do modelo de tratamento: no lugar do isolamento, o convívio
na família e na comunidade;
O atendimento é feito em CAPS - Centros de Atenção Psicossocial -, Residências
Terapêuticas, Ambulatórios, Hospitais Gerais, Centros de Convivência;
As internações, quando necessárias, são feitas em hospitais gerais ou nos
CAPS/24 horas. Os hospitais psiquiátricos de grande porte vão sendo
progressivamente substituídos.
O que acontece é que os CAPS, não raro, perdem seu caráter de se voltarem para a
comunidade, de fazerem a gestão das demandas do território, as articulações
intersetoriais necessárias, e se voltam para dentro de si mesmos, se limitando ao
tratamento pontual dos usuários.
O Serviço Residencial Terapêutico (SRT) - residência terapêutica ou
simplesmente “moradia” – são casas localizadas no espaço urbano, com a finalidade
de viabilizarem a autonomia de pessoas que passaram a vida inteira em hospitais
psiquiátricos e não têm mais vínculos familiares ou com o próprio território. Mas
também são disponíveis para pessoas “não-institucionalizadas”, desde que com
transtornos mentais graves. O número de moradores varia entre 1 indivíduo até um
grupo de 8 pessoas. As casas contam com suporte profissional, há equipes da saúde
mental responsáveis em auxiliar os moradores na gestão da casa e em trabalhar
para sua reinserção social no território, bem como sua maior autonomia. A
articulação com outros serviços da rede de saúde mental, como o CAPS, é essencial
para que as moradias sejam de fato moradias, de onde as pessoas saem para fazer
atividades, fazer o tratamento etc. Senão, haverá a reprodução da lógica do hospital
psiquiátrico:
Em geral são voltados para pacientes com quadros menos graves, sem necessidade
de tratamento intensivo, e que têm algum apoio sociofamiliar. Mas diante do excesso
de demandas em saúde mental nos territórios, devem oferecer suporte aos CAPS.
Assim, também podem receber demandas mais complexas.
Assim, a mudança do modelo de atenção à saúde mental dentro do SUS aponta para
a mudança na concepção e na forma de como deve se dar o cuidado: o mais
próximo da rede familiar, social e cultural do paciente, para que seja possível a
retomada de sua história de vida e de seu processo de adoecimento.
Como dito nas aulas, a dificuldade maior na saúde mental não é a eclosão psicótica,
as crises, estados caóticos dos pacientes, mas a falta de recursos que temos para
lidar com isso. Recursos já instituídos em leis, diretrizes, portarias, mas que seguem
burocratizados, com dificuldade de serem internalizados na cultura, no modo da
sociedade em encarar a loucura de outra forma, como algo que faz parte da vida.
Rede Socioassistencial
Os pacientes com sofrimento psíquico circulam por essas redes, desconhecendo suas
limitações e pontos cegos de diálogo. Cabe aos gestores e profissionais da Saúde
tratarem a intersetorialidade de modo mais concreto e eficiente, para respeitarem
a cidadania e os direitos do público que atendem.
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Referências Bibliográficas:
https://acompanhamentoterapeutico.com/2009/06/23/politica-nacional-de-saude-
mental/ acesso em Maio de 2016.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt3088_23_12_2011_rep.html
http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_nasf.php