Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
EDUCAÇÃO editora .
segmento
N EURO C I Ê N C I A P S I C O L O G I A P E D A G O G I A
A CIÊNCIA D O
APRENDIZADO
I Simpósio I n t e r n a c i o n a l d e Neurociências,
Saúde M e n t a l e Educação - C E P P
P r o f i s s i o n a i s r e n o m a d o s d e várias U n i v e r s i d a d e s N a c i o n a i s e I n t e r n a c i o n a i s
estarão r e u n i d o s p a r a d i a l o g a r s o b r e os c o n c e i t o s e p e s q u i s a s d e relevância d a a t u a l i d a d e
n a s áreas d e P s i c o p e d a g o g i a , Neurociências, Saúde M e n t a l e Educação.
De 5 a 8 d e j u l h o d e 2 0 1 2 - SãoPaulo
Faça sua inscrição com antecedência e pague parcelado no boleto ou no cartão de crédito.
M a i s i n f o r m a ç õ e s , p r o g r a m a ç ã o e inscrições n o s i t e :
www.eventoabppunifesp.com.br
Si g a - n o s : w w w . f a c e b o o k . c o m / a b p p u n i f e s p
Local do evento:
UNIP - Campus Paraíso - Rua Vergueiro, 1211 - Paraíso - São Paulo - SP (entre as estações do metro Vergueiro e Paraíso)
FRONTEIRAS NEUROMITOS
0 sábio equilíbrio entre Os impactos perigosos
entusiasmo e ceticismo das falsas ideias
Por Uta F r i t h ( R o y a i S o c i e t y ) P o r B r u n o d e l i a C h i e s a * (OCDE)
PERCURSOS CONVERGÊNCIAS
Uma pequena história A construção social
da arte de ensinar do cérebro
Por R e n a t o P o m p e u Por F e r n a n d o L o u z a d a
CONTEXTO CURRÍCULOS
BRASILEIRO A ciência do cérebro faz
O cérebro na sala de aula falta aos pedagogos?
Por F r a n c e s J o n e s Por F r a n c e s J o n e s
#
O E C D (2007), OECD, U n d e r s t a n d i n g t h e B r a i n : T h e Birth o f a L e a m i n g Science, OECD PubLishing.http://dx.doi.org/10.1787/9789264029132-4-en
_ditora
segmento
o d a s a b e r t u r a s d o s a r t i g o s d e s t a edição
u A CIÊNCIA D O A P R E N D I Z A D O
O N O M E É C O N T R O V E R T I D O , A O M E N O S N O B R A S I L . Não se trata ainda de u m a n o v a disciplina, a r g u m e n t a m alguns, e n q u a n t o
o u t r o s v e e m ameaçados os saberes específicos de seu c a m p o de atuação e reagem defensivamente. M a s o fato é que u m número crescente de
profissionais interessados e m discutir o alcance das descobertas sobre o f u n c i o n a m e n t o d o cérebro n o ensino t e m se a g l u t i n a d o ao redor d o
que os Estados U n i d o s e vários países da E u r o p a c h a m a m de ciência da m e n t e , cérebro e educação, o u neurociência educacional.
O grande potencial do trabalho c o n j u n t o de psicólogos, neurocientistas e educadores parece quase inquestionável, m a s ainda assim
u m a b o a dose de cautela tornou-se essencial desde que o prefixo n e u r o e x t r a p o l o u para territórios antes inimagináveis e " b o m para o cé-
rebro" v i r o u etiqueta nos mais diversos produtos. Pesquisadores da R o y a i Society de Londres, que assinam o t e x t o da página 8, a p o n t a m
as o p o r t u n i d a d e s e desafios para a educação diante da perspectiva de u m f u t u r o próximo e m que a prática educacional seja t r a n s f o r m a d a
pela ciência. E defendem a promoção de u m diálogo contínuo entre neurocientistas e profissionais de várias áreas para a construção de u m a
l i n g u a g e m c o m u m e bases sólidas para levar a neurociência até a sala de aula.
A discussão é fértil também n o Brasil. C o m o r e p o r t a Frances Jones n a página 2 6 , de N o r t e a S u l há projetos acenando c o m u m a signi-
ficativa contribuição n a v i d a de m i l h a r e s de crianças. E também n a de educadores, que já p o d e m se beneficiar de c o n h e c i m e n t o s biológicos
sobre o aprendizado, segundo m o s t r a F e r n a n d o L o u z a d a e m "A construção social d o cérebro", n a página 5 6 .
E m "Os impactos perigosos das falsas ideias", n a página 44, o g r u p o m u l t i d i s c i p l i n a r que integra o projeto Ciências d o A p r e n d i z a d o e
Pesquisa Cerebral, da O C D E , revela a verdade sobre os "neuromitos", conceitos que, e m b o r a m u i t a s vezes originários de a l g u m e x p e r i m e n t o
científico legítimo, acabaram ultrapassando as evidências.
O s debates sobre cérebro e ensino são relativamente recentes. E p o r m a i s i m p o r t a n t e que seja a busca constante de equilíbrio n a ava-
liação d o papel d o cérebro e da m e n t e , da genética e d o ambiente n o aprendizado, fica difícil discordar da frase d o pesquisador a m e r i c a n o
Leslie H a r t sobre a neurociência educacional: "ensinar s e m levar e m conta o f u n c i o n a m e n t o d o cérebro seria c o m o tentar desenhar u m a l u v a
s e m considerar a existência da mão".
B o a leitura!
Ana Claudia Ferrari, editora
O ESTRESSE
PODE MURCHAR
O CÉREBRO.
Já a meditação
e o exercício o
fortalecem e o
tornam mais capaz
de aliviar o estresse.
A SUPERFÍCIE
CEREBRALÉ
COMPLETAMENTE
INSENSÍVELVocê
poderia tocá-la (e os
cirurgiões o fazem)
sem sentir nada.
Somente quando
as partes internas
são estimuladas,
você sente algo, seja
táctil, seja emocionaL
Isso permite
que os pacientes
permaneçam
conscientes enquanto
os médicos realizam
delicadas cirurgias
D e t a l h e d o i n t e r i o r d o crânio e m u m a d a s 2 5 0 ilustrações d e u m m a n u a l para e n f e r m e i r o s cerebrais.
p u b l i c a d o e m Paris e m 1 9 0 7 (Manuel des hospltalíères et des gardes-malades)
O SÁBIO EOUILÍBRIO E N T R E
ENTUSIASMO E CETICISMO
#
T e x t o a d a p t a d o d o relatório d a R o y a i S o c i e t y d e L o n d r e s , a s s i n a d o p e l o g r u p o d e t r a b a l h o
presidido pela professoraUta Frith da University College London
FRONTEIRAS
A educação afeta o b e m - e s t a r d a s p e s -
soas e t e m benefícios económicos, s e g u n -
d o o e s t u d o d a Organização p a r a a C o o -
peração e D e s e n v o l v i m e n t o Económico
( O C D E ) "The H i g h Cost o f L o w Educatio-
nal Performance, T h e L o n g - r u n E c o n o m i c
Impact o f Improving Educational Outco-
mes", d e 2 0 1 0 . É a l t o o c u s t o económico e
s o c i a l d e u m s i s t e m a e d u c a c i o n a l q u e não
facilita o a p r e n d i z a d o contínuo e p a r a t o -
dos. F e l i z m e n t e , já a c u m u l a m o s c o n h e c i -
m e n t o científico s u f i c i e n t e p a r a b e n e f i c i a r
t o d o s o s g r u p o s d e "aprendizes", s e j a m eles
crianças, j o v e n s , a d u l t o s o u i d o s o s .
Pessoas sem parentesco Gémeos Gémeos
É i n s p i r a d o r v e r o i n t e r e s s e público (referência) fraternos idênticos
d i a n t e d a aplicação d a neurociência n a e d u -
w Pessoas sem
cação. N o e n t a n t o , ele é g e r a l m e n t e a c o m -
p a n h a d o d e u m acesso r e s t r i t o a o s n o v o s ' /» HI Mai
c o n h e c i m e n t o s e d e concepções erróneas ) % • + parecidasP A R
cérebro e d o s i s t e m a n e r v o s o . O cérebro
é o órgão q u e p e r m i t e n o s s a adaptação
PAUL THOMPSON examinou o cérebro de 20 gémeos idênticos e 20 gémeos fraternos por meio
a o m e i o . O q u e s i g n i f i c a , e m essência, de ressonância magnética e comparou com o de indivíduos sem parentesco (azul, à esquerda).
aprender. Pouco a p o u c o neurocientistas Mapas genéticos tridimensionais com cores diversas mostram a diferença entre a massa cinzenta
e a branca. Gémeos idênticos, que têm a mesma composição genética, apresentam virtualmente
d e s v e n d a m a influência d a genética n o a mesma quantidade de massa cinzenta, o que não acontece com fraternos. Irmãos fraternos
aprendizado ao longo d a vida, somada têm 30% das diferenças normais entre as pessoas sem parentesco (vermelho, no meio) e e suas
afinidades estão amplamente restritas ao córtex sensorial e às áreas envolvidas na linguagem.
aos fatores a m b i e n t a i s . C o m a elucidação Gémeos idênticos têm apenas entre 10% e 30% das diferenças normais (vermelho e rosa) no
dessa c o m p l e x a relação, será possível i d e n - córtex frontal, sensorial/motor e de linguagem, sugerindo um forte controle genético da estru-
tura cerebral nessas regiões, mas não em outras (azul; a relevância desses efeitos é mostrada na
tificar indicadores-chave para melhores
mesma escala de cor).
r e s u l t a d o s n a educação e o b t e r u m a b a s e
N A T U R E Z A VERSUS CRIAÇÃO
científica p a r a a avaliação d e d i f e r e n t e s
I P e s q u i s a d o r e s d e s e n v o l v e r a m u m método p a r a m o s t r a r c o m o g e n e s p o d e m i n -
abordagens de ensino. f l u e n c i a r a e s t r u t u r a c e r e b r a l e a inteligência. P a u l M . T h o m p s o n , d a U n i v e r s i d a d e
O s seres h u m a n o s d i f e r e m i m e n - d a Califórnia, e c o l e g a s , d e s c o b r i r a m q u e o v o l u m e d e a l g u m a s regiões d o cérebro,
e s p e c i a l m e n t e a q u a n t i d a d e d e m a s s a cinzenta n ap a r t e f r o n t a l , é herdado. D u r a n t e
s a m e n t e e m s u a r e s p o s t a à educação,
a l g u m tempo, cientistas suspeitaram q u e a massa cinzenta fosse a chave d a inteli-
e t a n t o genes q u a n t o a m b i e n t e c o n t r i - gência. N o e n t a n t o , a p e n a s u m c e r t o g r a u d e inteligência é g e n e t i c a m e n t e p r e d e -
b u e m p a r a isso. T r a b a l h o s c o m gémeos terminado antes d o nascimento. Para T h o m p s o n , "parte d e nossas habilidades para
idênticos, c u j a composição genética é solucionar problemas é herdada, m a s apenas 1 0 % a 1 5 % ,o q u esignifica q u eo s efei-
t o s d o m e i o e d o a p r e n d i z a d o - o u s e j a , d o s f a t o r e s não-genéticos - têm p a p e l d e t e r -
a m e s m a , m o s t r a r a m q u e eles são m a i s m i n a n t e n a construção d a e s t r u t u r a c e r e b r a l , inteligência e d e s e m p e n h o e m t e s t e s " .
semelhantes e m personalidade, habilida- O u t r a região h e r d a d a g e n e t i c a m e n t e f o i e n c o n t r a d a n a l a t e r a l d o hemisfério e s q u e r -
des d e l e i t u r a e cálculo q u e gémeos não d o , c o n h e c i d a c o m o área d e W e r n i c k e , c u j o p a p e l n a l i n g u a g e m é f u n d a m e n t a l . G é -
m e o s idênticos t a m b é m m o s t r a r a m t e r a s r e g i õ e s c e r e b r a i s l i g a d a s à l i n g u a g e m e às
idênticos, c o m composição genética d i - habilidades d eleitura mais similares.
v e r s a . E n q u a n t o já é a m p l a m e n t e a c e i t o
N E U R O l EDUCAÇÃO
q u e as diferenças i n d i v i d u a i s p o d e m t e r v a s através d e m e d i c a m e n t o s c o n h e c i d o s
u m a b a s e n o s g e n e s , as influências gené- Há fortes evidências c o m o "pílulas d a inteligência", a c r e d i t a m o s
t i c a s n o d e s e n v o l v i m e n t o e função c e r e -
b r a i s a i n d a não são b e m c o m p r e e n d i d a s .
de que fatores q u e a educação é o m a i s p o d e r o s o e eficaz
aprimorador cognitivo. O aprimoramen-
E m b o r a as predisposições genéticas genéticos implicam t o c o g n i t i v o refere-se à d e s t r e z a m e n t a l
p o s s a m p a r c i a l m e n t e e x p l i c a r diferenças deficiências de aumentada, p o r exemplo, a capacidade
n a h a b i l i d a d e d e l e i t u r a , não existe u m
aprendizagem, de resolver p r o b l e m a s o u m e m o r i z a r i n -
único g e n e q u e faça d e nós b o n s l e i t o r e s . formações, e g e r a l m e n t e está r e l a c i o n a d o
A o contrário, há múltiplos, e o e f e i t o i n d i - p o r é m é difícil ao uso de medicamentos o u tecnologias
v i d u a l d e c a d a u m é p e q u e n o . Além disso, identificar um único sofisticadas. N o e n t a n t o , q u a n d o c o m p a -
os g e n e s p o d e m ser " l i g a d o s " o u "desliga- gene responsável r a d a a esses m e i o s , a educação a i n d a p a -
dos" p o r fatores ambientais c o m o dieta, rece ser o m a i s a m p l o e c o n s i s t e n t e m e n t e
exposição a t o x i n a s e interações sociais. E bem-sucedido aprimorador cognitivo. A
n o s s o c o n h e c i m e n t o a t u a l não n o s p e r m i - m e n t e ativadas, o q u e ocorre e m cone- educação p e r m i t e o acesso a estratégias
t e m e n s u r a r a a t i v i d a d e n u m a d a d a região xões d e u s o f r e q u e n t e . O e f e i t o é c o n h e - d e p e n s a m e n t o a b s t r a t o q u e , além d e p o -
c e r e b r a l p a r a d e t e r m i n a r se a q u e l e é o cé- cido c o m o plasticidade dependente d a d e r e m ser a p l i c a d a s n a resolução d e u m a
r e b r o d e u m b o m o u m a u leitor. A v a r i a - experiência e n o s a c o m p a n h a a v i d a t o d a . v a s t a g a m a d e p r o b l e m a s , a u m e n t a m a fle-
ção e n t r e as p e s s o a s é e n o r m e e as relações A neuroplasticidade permite q u e o x i b i l i d a d e m e n t a l . E também n o s c a p a c i t a
cérebro c o m p o r t a m e n t o , c o m p l e x a s . cérebro l e v e c o n t i n u a m e n t e e m c o n s i d e r a - a r e a l i z a r f e i t o s q u e não s e r i a m possíveis
A composição genética s o z i n h a não ção o a m b i e n t e e a r m a z e n e o s r e s u l t a d o s s e m essas f e r r a m e n t a s c u l t u r a i s , i n c l u i n d o
m o l d a a capacidade d e aprendizado de d o a p r e n d i z a d o s o b a f o r m a d e memórias. as c o n q u i s t a s d a ciência.
u m a p e s s o a ; a predisposição i n s c r i t a n o s O q u e i m p l i c a estar p r e p a r a d o p a r a e v e n - A educação p o d e c o n s t r u i r a r e s e r v a
g e n e s i n t e r a g e c o m influências a m b i e n t a i s t o s f u t u r o s c o m b a s e n a experiência. c o g n i t i v a e a resiliência, o u seja, n o s s a
e m t o d o s o s níveis. A s s i m c o m o a l t u r a e E m b o r a exista u m desejo generaliza- r e s p o s t a a d a p t a t i v a a e v e n t o s traumáti-
pressão a r t e r i a l , as c a p a c i d a d e s d e a p r e n - d o d e a p r i m o r a r as h a b i l i d a d e s c o g n i t i - c o s e e s t r e s s a n t e s e às doenças, i n c l u i n d o
d i z a d o h u m a n a s também v a r i a m . E a s s i m lesão c e r e b r a l , t r a n s t o r n o s m e n t a i s e e n -
c o m o a a l t u r a e a pressão, a m a i o r p a r t e pvr pictures presants velhecimento. A m b a s p o d e m ser forta-
das variações n a c a p a c i d a d e d e a p r e n d e r é lecidas durante a v i d a . A s pesquisadoras
r khan producrions'
e x p l i c a d a p o r múltiplas influências gené- da Universidade d e C a m b r i d g e Jennifer
ticas e a m b i e n t a i s e c a d a u m a delas p o d e Barnett e Barbara Sahakian m o s t r a r a m
t e r u m p e q u e n o i m p a c t o . A neurociência u m a relação i n v e r s a e n t r e e s c o l a r i d a d e
t e m o potencial d e n o s ajudar a enten-
z a ^ e e N e r i s c o d e demência, o q u e s i g n i f i c a q u e
m a n t e r a m e n t e a t i v a d e s a c e l e r a o declí-
d e r as predisposições genéticas d a f o r m a
Par n i o c o g n i t i v o e m e l h o r a as h a b i l i d a d e s
c o m o se m a n i f e s t a m n o cérebro, e c o m o
c a d a predisposição p o d e s e r construída W R / CHJLp JL,« cognitivas e m adultos.
p e l a educação e criação.
produced & directed by • Diferenças individuais
• A contínua transformação aamir khan Há u m a a m p l a variação n a c a p a c i d a d e d e
O cérebro está c o n s t a n t e m e n t e se t r a n s - aprendizado; alguns l u t a m para aprender
f o r m a n d o e t u d o o q u e fazemos altera e m t o d o s o s domínios, e n q u a n t o o u t r o s
n o s s o m a i s i m p o r t a n t e órgão. E s s a s m u - têm p r o b l e m a s específicos, c o m línguas
danças p o d e m s e r efémeras o u d u r a - o u matemática. Inúmeras evidências s u -
douras. Q u a n d o d o r m i m o s , andamos, g e r e m q u e pessoas c o m d i f i c u l d a d e s d e
falamos, observamos, refletimos, inte- a p r e n d i z a d o estão s o b r i s c o a u m e n t a d o
• Taare Zameen Par, filme d a p r o d u ç ã o
r a g i m o s , e a p r e n d e m o s , o s neurónios d e B o l l y w o o d , c o n t a a história d e I s h a a n
de p o u c a adaptação s o c i a l e d e s e m p r e g o ,
d i s p a r a m . O cérebro t e m u m a a d a p t a b i - Awasthi, u m m e n i n o q u e sofre de dislexia o q u e i m p l i c a custos substanciais para
l i d a d e extraordinária, a c h a m a d a " n e u - e custa a ser compreendido. Aos 9 anos, a s o c i e d a d e e a urgência d e e n c o n t r a r
corre o risco de repetir de a n o n o v a m e n t e .
r o p l a s t i c i d a d e " . I s s o se d e v e a o p r o c e s s o abordagens educativas q u e f u n c i o n e m .
A s l e t r a s dançam e m s u a f r e n t e , c o m o
p e l o q u a l as conexões e n t r e o s neurónios d i z , e e l e não c o n s e g u e a c o m p a n h a r a s D i v e r s o s n e u r o c i e n t i s t a s têm b u s c a d o
se f o r t a l e c e m q u a n d o são simultânea- a u l a s n e m f o c a r s u a atenção i d e n t i f i c a r as bases c e r e b r a i s dessas d i f i -
ar
TAXISTAS LONDRINOS RECOMENDAM:TREINE SEU CÉREBRO
Eleanor Maguire, professora da University College London, habilidades especificas t a m b é m foram detectadas para música
comprovou que mesmo na vida adulta o aprendizado pode e dança. Isso ilustra o que queremos dizer por plasticidade
mudar a estrutura c e r e b r a l A neuroclentlsta analisou o c é r e b r o que depende da e x p e r i ê n c i a . A c o m p o s i ç ã o genética apenas
de taxistas londrinos, que para conseguir sua licença t ê m de em parte Influencia o que sabemos e como nos comportamos;
obter the k n o w l e d g e " - o profundo conhecimento de cerca
M
muito depende de fatores ambientais que determinam o que
de 25 mil ruas e de seus t r a ç a d o s Idiossincráticos, a l é m de experimentamos. A e d u c a ç ã o é o fator mais proeminente.
I n ú m e r o s monumentos. O duro treinamento Leva cerca de 3 A l t e r a ç õ e s d i n â m i c a s na conectividade do c é r e b r o
anos, e apenas metade dos candidatos tem sucesso. continuam ao longo da vida. As c o n e x õ e s cerebrais mudam
O estudo revelou que a massa cinzenta dos taxistas de maneira progressiva durante o desenvolvimento por
aumentou com a m e m o r i z a ç ã o do complexo layout da capital um tempo surpreendentemente longo. Por exemplo, as
Inglesa, ajudando os motoristas a armazenar o detalhado c o n e x õ e s na parte frontal do c é r e b r o envolvidas no controle
mapa mental da cidade. Os pesquisadores usaram um do Impulso e e m outras f u n ç õ e s executivas são suprimidas
aparelho de ressonância m a g n é t i c a funcional (RMf), que mede durante a a d o l e s c ê n c i a e mais tarde. Mesmo depois destas
as mudanças no fluxo s a n g u í n e o dentro do cérebro, para m u d a n ç a s , a plasticidade d e p e n d e n t e da e x p e r i ê n c i a
examinar a ativldade das c é l u l a s de Localização enquanto permanece durante toda a vida.
taxistas se moviam num ambiente de
realidade virtual (Imagem ao lado). E • O hipocampo de um taxista londrino licenciado é ativado quando ele navega
na Londres virtual do videogame da Sony durante R M f . O volume dessa estrutura
observaram que quanto mais e x p e r i ê n c i a
cerebral aumenta quanto mais conhecimento e s p a c i a l e e x p e r i ê n c i a ele adquire
os motoristas adquiriam, maior era seu
hipocampo, a estrutura cerebral associada
à localização espacial e m e m ó r i a .
Assim como atletas precisam treinar
os músculos, há multas habilidades e m
que as necessidades de treino devem ser
continuadas para manter as m u d a n ç a s
cerebrais. No caso dos taxistas Londrinos,
houve reversão das m u d a n ç a s cerebrais
após aposentadoria, quando eles n ã o
mais empregavam sua m e m ó r i a espacial
e habilidades de n a v e g a ç ã o . M u d a n ç a s
© Spiers H l , Maguire E A 2006 T h o u g h t s ,behaviour, and brain dynamlcs
no cérebro adulto depois da a q u i s i ç ã o de
during navigationin t h e real world. Neuroimage. 31,1826-1840
p
O e s t u d o d a d i s l e x i a p e l a combinação SI
m e n t a r ao d o professor ajudando n o t r e i n o
d e métodos c o g n i t i v o s e d e n e u r o i m a g e m S/SM d e a t i v i d a d e s específicas d e a p r e n d i z a d o .
i l u s t r a q u e é possível i d e n t i f i c a r b a r r e i r a s Pesquisadores i d e n t i f i c a r a m a fraca
n e u r o c o g n i t i v a s p a r a a p r e n d e r e fazer s u - percepção d o s números c o m o u m a c a u s a
gestões d e estratégias d e e n s i n o a d e q u a - subjacente d a deficiência d e a p r e n d i z a d o
das. O u t r a s d i f i c u l d a d e s n o a p r e n d i z a d o aritmético ( d i s c a l c u l i a ) . Jogos d e c o m -
p o d e m se beneficiar d o m e s m o t i p o d e Seres humanos putador f o r a m desenvolvidos para q u e
a b o r d a g e m . Crianças disléxicas têm p a -
drões a n o r m a i s d e ativação e m áreas d o
diferem muito a l u n o s t r e i n e m a compreensão d e núme-
r o s a d e q u a d o s a o s e u nível; p o r e x e m p l o ,
cérebro e n v o l v i d a s n a l i n g u a g e m e l e i t u r a . em sua resposta à i n t r o d u z i n d o números m a i o r e s c o n f o r m e
A aplicação d o c o n h e c i m e n t o alcançado educação e tanto avançam. P r o g r a m a s a d a p t a t i v o s s i m u -
c o m estas p e s q u i s a s p a r a m e l h o r a r a i n t e r -
a composição l a m u m p r o f e s s o r q u e c o n s t a n t e m e n t e se
venção está a i n d a e m seus estágios i n i c i a i s . a d a p t a à compreensão a t u a l d o a l u n o , q u e
O estudo do T D A H nos lembra que
genética quanto g a n h a m u i t o m a i s prática e estímulo.
o f u n c i o n a m e n t o d o cérebro é a f e t a d o p o r fatores externos E m b o r a seja p r e c i s o a v a l i a r o s p r o g r a -
níveis d e n e u r o t r a n s m i s s o r e s q u e i n f l u e n - contribuem para isso m a s d e t r e i n a m e n t o cerebral, e o uso d a
c i a m a c o n e c t i v i d a d e e n t r e as regiões cere- neurociência n o diagnóstico c o m a m a i o r
b r a i s e o s níveis d e excitação o u inibição. cautela, há d a d o s s u g e r i n d o q u e , c o m a
Pesquisas c o m n e u r o i m a g e n s c o m b i n a d a s p o d e s e r decorrência d a i d a d e m e n o r prática, o t r e i n a m e n t o p o d e m e l h o r a r o
c o m intervenções farmacêuticas p o d e m d e u m a criança q u e a média d a t u r m a , é d e s e m p e n h o e m a t i v i d a d e s específicas.
fornecer insights d e mecanismos neurais confundida c o m T D A H . Por o u t r o lado, U m a questão básica é s e esses e f e i t o s se
subjacentes t a i s c o m o o c o n t r o l e d e c o m - a f a l t a d e diagnóstico às vezes d e c o r r e d e t r a n s f e r e m p a r a o u t r a s tarefas. N a m a i o r
portamento n o T D A H , d oqual u m dos u m a c e r t a aceitação acrítica das diferenças p a r t e d o s estudos, m o s t r a r a m - s e a l t a m e n -
sintomas é justamente a dificuldade n o i n d i v i d u a i s e d a d i f i c u l d a d e tão a n t i g a e m t e c i r c u n s t a n c i a d o s . A i n d a a s s i m , há u m
controle d e impulso. U m objetivo futuro fazer q u a l q u e r distinção e n t r e c o m p o r t a - considerável interesse e m u m p r o g r a m a d e
é estabelecer t r e i n a m e n t o s c o g n i t i v o s q u e m e n t o n o r m a l e a n o r m a l . C o m métodos t r e i n o d e memória q u e p o d e l e v a r à m e -
influenciem o m e s m o circuito neural. a p r i m o r a d o s d e testes d e c o m p o r t a m e n t o , l h o r a d a h a b i l i d a d e d e raciocínio e a u t o r -
Há u m a d i s s e m i n a d a crença e m a l - b a s e a d o s e m d e s c o b e r t a s neurocientíficas regulação. D e s e n v o l v i d o p o r T o r k e l K l i n -
g u n s círculos d e q u e o T D A H é u m a e t i - e genéticas, será possível m e l h o r a r a a b o r - g b e r g , d o I n s t i t u t o K a r o l i n s k a , n a Suécia,
queta conveniente usada para justificar d a g e m a t u a l p a r a diagnóstico d e t o d o s o s o t r a b a l h o t e v e s u a eficácia d e m o n s t r a d a
m a u comportamento, c o m u m a preocu- transtornos de n e u r o d e s e n v o l v i m e n t o . (ver quadro na pág. 14). A o t r e i n a r a m e -
pação c o r r e s p o n d e n t e d e q u e a medicação mória d e t r a b a l h o - a h a b i l i d a d e d e m a n t e r
está s e n d o u s a d a p a r a c o n t r o l a r o q u e é • O apoio da tecnologia informações n a m e n t e p o r u m c u r t o t e m -
essencialmente c o m p o r t a m e n t o n o r m a l . A i n d a q u e n e u r o c i e n t i s t a s não s e j a m c a - p o , f o c a r n u m a t a r e f a e l e m b r a r o q u e fazer
A neurociência f o r n e c e evidências pazes d e d e t e r m i n a r a f o r m a exata d e i n - e m seguida - o pesquisador m o s t r o u que
c o n c r e t a s d a s diferenças biológicas e n t r e tervenção a s e r f e i t a n u m t i p o p a r t i c u l a r a u m e n t a r a m as c h a n c e s d o s p a r t i c i p a n t e s
crianças c o m T D A H e s e m o t r a n s t o r n o , d e d i f i c u l d a d e d e a p r e n d i z a d o , eles p o d e m d e se c o n c e n t a r , i g n o r a r as distrações, p l a -
m a s a i n d a a s s i m p r e c i s a m o s estar a l e r t a s sugerir a natureza do conceito o u habilida- n e j a r o s próximos passos, l e m b r a r i n s t r u -
p a r a a p o s s i b i l i d a d e d e u m diagnóstico d e a ser f o c a d a e o t i p o d e a t i v i d a d e c o g n i - ções, e começar e t e r m i n a r tarefas.
e x a g e r a d o , já q u e o s critérios a t u a i s são t i v a a ser f o r t a l e c i d a . Sabe-se também q u e t e c n o l o g i a s d i g i -
b a s e a d o s a p e n a s e m avaliações d e c o m - Entretanto, m e s m o o n d e abordagens tais p o d e m ser d e s e n v o l v i d a s c o m o s u p o r -
portamento. D u r a n t e o s p r i m e i r o s anos d e e n s i n o d e sucesso f o r a m d e s e n v o l v i d a s te a o aprendizado p e r s o n a l i z a d o e c o m o
escolares até a adolescência, o c o m p o r - p a r a a l u n o s incapazes d e a c o m p a n h a r as t r e i n o altamente especializado sob a f o r m a
t a m e n t o q u e p o d e i n d i c a r p r o b l e m a s es- aulas-padrão, a implementação d i s s e m i n a - d e j o g o s . Jogos i n t e r a t i v o s desse t i p o u s a m
pecíficos c o m c o n t r o l e d e i m p u l s o m u d a d a p o d e f a l h a r p o r q u e há p o u c o s p r o f e s s o - u m m o d e l o aluno-professor para adaptar
rapidamente, alinhado c o m o desenvol- res t r e i n a d o s e o nível d e atenção i n d i v i d u a l a t a r e f a às n e c e s s i d a d e s d o a l u n o e u m
v i m e n t o d o cérebro. A i m a t u r i d a d e , q u e e constante que m u i t o s alunos d e m a n d a m m o d e l o de tarefa para fornecer u m feed-
FRONTEIRAS
EHinglEDUCAÇÃO
ar
mMÊÈÈÊÊÊÊÈÈÊÈÊÈÊÈÊm
CONSTRUINDO UMA LINGUAGEM COMUM
u
O c o n h e c i m e n t o p r e c i s a ir e m a m b a s a s direções" A serviria a p r o p ó s i t o s m ú l t i p l o s , por exemplo a u m e n t a r
frase revela os sentimentos expressos pelas comunidades o conhecimento geral sobre a c i ê n c i a do c é r e b r o . I s s o
das n e u r o c i ê n c i a s , professores e legisladores e foi e x t r a í d a r e f o r ç a r i a o e s p í r i t o crítico n e c e s s á r i o para avaliar novos
de u m a d i s c u s s ã o recente da Royai Society e do Wellcome programas educacionais.
"n*ust:"Education: w h a f s the brain got to do with It?" Um m e c a n i s m o que permita compartilhar o
( E d u c a ç ã o : o que o c é r e b r o tem a ver com isso?). conhecimento é u m a meta preciosa. Entretanto, alinhar
Se a n e u r o c i ê n c i a educacional quiser se desenvolver como as necessidades e Interesses de diferentes p r o f i s s õ e s
uma nova disciplina eficaz e ter um Impacto significativo na representa um desafio substancial. Pressupostos,
qualidade do aprendizado de todos os estudantes, precisamos teorias, f e n ó m e n o s de Interesse e v o c a b u l á r i o diferem
de um d i á l o g o de longo prazo entre neurocientistas e uma significativamente.
ampla gama de outros pesquisadores de várias áreas. A c o m p r e e n s ã o crescente das bases n e u r o l ó g i c a s do
Para abordar a necessidade de engajamento, nosso aprendizado pode ajudar a maior parte das pessoas a se
grupo de trabalho, que inclui pesquisadores da Royai tornar plenos e produtivos integrantes da s o c i e d a d e , c a p a z e s
Society de Londres e do Wellcome Trust, acredita que um de responder com r e s i l l ê n c l a e enfrentar a s s i t u a ç õ e s que se
f ó r u m profissionalmente gerido na internet seria um passo alteram ao longo vida. Isso se aplica n ã o a p e n a s a c r i a n ç a s
importante para colocar educadores e cientistas e m um e m Idade escolar que e s t ã o aprendendo a d o m i n a r a escrita,
d i á l o g o c o n t í n u o . Neurocientistas poderiam, por exemplo, a leitura e os n ú m e r o s , mas a adolescentes prestes a fazer
fazer a v a l i a ç õ e s de programas oferecidos comercialmente suas escolhas profissionais ou adultos que contribuem
e de d e s c o b e r t a s recentes. Educadores forneceriam para a economia por melo de suas habilidades e f o r ç a de
a v a l i a ç õ e s dos programas de ensino; e representantes de trabalho. E se aplica t a m b é m aos Idosos que q u e r e m manter
outras disciplinas contribuiriam com u m a v i s ã o crítica. suas habilidades e aprender outras para ajudar no combate
Uma f e r r a m e n t a f l e x í v e l , como esse tipo de f ó r u m , aos efeitos do d e c l í n i o cognitivo.
TE"
U M A P E O U E N A HISTÓRIA D A
ARTE DE ENSINAR
por Renato Pompeu
As raízes da
jovem ciência da
N e u r o c u l t u r a . N e u r o e c o n o m i a . N e u r o m a r k e t i n g . Neuroeducação. O p r e f i x o
" n e u r o " p a r e c e t e r e x t r a p o l a d o p a r a t o d o s o s l a d o s d e s d e q u e o cérebro se
t o r n o u c e n t r o d a s atenções. C o m a c h a m a d a "década d o cérebro" ( 1 9 9 0 - 1 9 9 9 ) ,
mente, c é r e b r o m a r c a d a p o r g r a n d e s avanços tecnológicos e inúmeras p e s q u i s a s e d e s c o b e r t a s
e educação s o b r e cérebro e a p r e n d i z a d o h u m a n o s , c o n h e c e m o s h o j e n o s s o m a i s c o m p l e x o
órgão m u i t o m e l h o r q u e há a l g u n s a n o s . S a b e m o s , p r i n c i p a l m e n t e , q u e o cérebro
remontam a é o palco de t o d o e qualquer aprendizado.
milhares de anos A l g u n s p e s q u i s a d o r e s , r e c o n h e c e n d o o i m p a c t o q u e a p e s q u i s a neurocientí-
de r e f l e x ã o sobre fica p o d e r i a t e r n a educação, começaram, a i n d a n o s a n o s 9 0 , a v i s l u m b r a r u m a
ciência d a m e n t e , cérebro e educação. A p r o x i m a n d o áreas q u e h i s t o r i c a m e n t e t i -
o aprendizado. v e r a m p o u c o c o n t a t o d i r e t o ( c a s o d e c i e n t i s t a s d o cérebro e d o a p r e n d i z a d o ) , essa
Sua c o n s o l i d a ç ã o n o v a d i s c i p l i n a q u e u n e a p s i c o l o g i a , a neurociência e a p e d a g o g i a , b u s c a t r a n s -
traz perspectivas f o r m a r a prática d o e n s i n o p e l o c o n h e c i m e n t o científico. O crescente número d e
p r o f i s s i o n a i s f r u t o s dessa união, e s p e c i a l m e n t e n o s E s t a d o s U n i d o s , I n g l a t e r r a ,
promissoras França, A l e m a n h a , Austrália, Japão, H o l a n d a e Itália, e n t r e o u t r o s países o n d e a
para m i l h õ e s n o v a d i s c i p l i n a já f o i instituída, a c r e d i t a q u e só a s s i m t e r e m o s g r a n d e s c h a n c e s d e
de pessoas no e n c o n t r a r n o v a s e eficazes r e s p o s t a s p a r a a n t i g a s p e r g u n t a s .
^EDUCAÇÃO
LINHA DO TEMPO
/ * W J
m (
i-
t
mu
^ /'
(r \ I fj
s
2
'"' Í
r í
s r '« L
ffj
ff *~ V).[ / ' Em Nínlve, I m p é r i o
|llL
Assíro, é criada a
primeira biblioteca
<• r.3 Papiros descrevem o
sistematicamente
c é r e b r o e m detalhe,
organizada e catalogada
embora os e g í p c i o s
A escrita é Introduzida, de que se tem notícia.
n ã o lhe d ê e m multa
causando profundas No acervo, do qual
I m p o r t â n c i a . Ao
modificações no cerca de 20 mH itens e
c o n t r á r i o dos outros
c é r e b r o humano fragmentos estão no
órgãos, o cérebro
Museu Britânico, em
era removido e
Londres, documentos
descartado antes
A e d u c a ç ã o formal baseados na o b s e r v a ç ã o
da mumificaçâo,
é Instituída no A t r e p a n a ç ã o , abertura de um de eventos, desde
provavelmente
orifício de 2,5 a 5 cm de d i â m e t r o o comportamento
Eglto e Inclui a u l a s porque n ã o seria
no c é r e b r o , era usada como humano, de animais e
de c o m u n i c a ç ã o , ú t i l nas e n c a r n a ç õ e s
recurso para que a d o e n ç a pudesse plantas ao movimento
noções de c o m é r c i o , seguintes
"escapar"do corpo da v í t i m a do Sol e da Lua
agricultura e práticas
religiosas
• ! •
5<j)00a.C. 1 0 0 0 a.C. )a.C. 2000 a.C. 250( )a.c. £nn a c C 64p a.C. 5 0 0 a.C.
;
4rtr o U U a.L.
EEDUCAÇÃO
A r i s t ó t e l e s funda o Liceu, a escola destinada a rivalizar com a Academia, fundada por seu antigo
mestre Platão. Um dos maiores nomes entre os intelectuais da história ocidental, A r i s t ó t e l e s
recomenda combinar o ensino de habilidades práticas com o e s t í m u l o a e s p e c u l a ç õ e s filosóficas
pelos alunos. No que se refere ao c é r e b r o , ele reitera a crença antiga de que o c o r a ç ã o é o ó r g ã o
superior; o c é r e b r o serviria apenas para diminuir o aquecimento do corpo
ttttfc
ddi a . L . 4 4 4 4 4 4 4 4 4 -
j.nn 3 c
*rUU a . L .
r AAO .""Ih
C. ¥o\J t> - -
£
j Á e n L ift"F
ftau a.L.
^nn a
D\J\J
r
d.V.. S
i~krl<H" ~
D7 i a . L . c. 590 a . L .
c
. ! : : : :
; ; •
- - H - H - 4-4-4-4-4-
1111 i • (-f-H-í-
100 a.C.
T -1aX 900 65 1500
+H4-
1549 1543
_L_
~EEDUCAÇÃO
O filósofo inglês
John Locke publica
os Ensaio a c e r c a do
O arquiteto i n g l ê s entendimento humano,
Christopher Wren obra fundadora da
usou toda sua filosofia ocidental
técnica apurada moderna. Para Locke, os
para desenhar educadores deveriam
Na Noruega Com a p r o p o s i ç ã o as imagens mais estimular os alunos a
e Dinamarca, "Penso, logo existo", perfeitas do refletir sobre os seus
escolas religiosas o filósofo francês c é r e b r o humano p r ó p r i o s m é t o d o s de
são convertidas René Descartes no s é c u l o 17, pensar. Ao c o n t r á r i o
em escolas de estabeleceu como que ilustraram de Platão, argumentou 0 francês Louis Broca e
latim. A e d u c a ç ã o , grande meta do ser a obra de seu que o conhecimento o a l e m ã o Carl Wernicke
monopolizada humano o que se conterrâneo n ã o é inato, e que descobrem as duas áreas
pela Igreja tornaria a t é hoje uma Thomas Willis, quando nascemos, a principais relacionadas à
Católica a t é o meta fundamental mais conhecido mente é uma folha e m linguagem no c é r e b r o . Os
s é c u l o 16, deixa dos educadores: por suas branco, uma tabula rasa dois cientistas foram os
de ser confinada desenvolver ao descrições do na qual a e x p e r i ê n c i a primeiros a definir com
ao t e r r i t ó r i o m á x i m o a capacidade cérebro se inscreve clareza áreas funcionais
religioso de pensar do c é r e b r o
]EDUCAÇÃO
0 p s i c ó l o g o americano Jerome Brunner confirmou
que os diferentes circuitos neurais dos v á r i o s tipos de
m e m ó r i a podem funcionar tanto e m separado como
sobrepostos. Seu p ó s - o r i e n t a n d o na Universidade
Harvard, Howard Gardner, lança em 1983 F r a m e s o f M i n d ,
_
HOWARD
GARDNER
F r a m e s of
com as pesquisas sobre m ú l t i p l a s i n t e l i g ê n c i a s , e desde
Mind
e n t ã o critica a falta de atenção, pelos educadores, para
com as novas descobertas sobre o cérebro, ressaltando a M*lt,pl, i H l r l h g c c r ,
necessidade de multidisciplinaridade
der m e l h o r ) . E a o m e s m o t e m p o e m que ambas nos Estados U n i d o s , a j u d a r a m a fa- f o i lançada a r e v i s t a Mind, Brain and Edu-
a p a r e c i a m e s t u d o s sérios, s u r g i a m o s c h a - zer a p o n t e entre pesquisas de neuropsico- cation Journal, q u e n a s c e u n o i n t e r i o r d a
m a d o s n e u r o m i t o s f v e r artigo "Os impactos l o g i a e d u c a c i o n a l , neurociência e p e d a g o - Imbes.
perigosos das falsas ideias \ napág 44). g i a e o s e s t u d o s d a n o v a ciência d a m e n t e , N e s t e m e s m o m o m e n t o , o pêndulo d a
C e n t r o s d e pesquisa de p o n t a e m n e u - cérebro e educação. A U n i v e r s i d a d e H a r - n o v a ciência o s c i l o u . T o k u h a m a - E s p i n o s a
rociência e suas aplicações f o r a m i n a u g u - v a r d lançou e m 2 0 0 1 s e u P r o g r a m a d e l e m b r a q u e desde a época d o s g r e g o s até
r a d o s , c o m o o C e n t r o d e Neurociência n a M e s t r a d o e m M e n t e , cérebro e educação. a década d o cérebro h o u v e u m a d e m a n d a
Universidade de O x f o r d , Inglaterra, e o Ins- N o século 2 1 , f o r a m inúmeras as i n i - p a r a basear o e n s i n o n a ciência, o u m a i s
t i t u t o M a x P l a n c k p a r a Ciência C o g n i t i v a e ciativas f o r m a i s d e unificar conceitos i n - especificamente, n a informação s o b r e o
C e r e b r a l H u m a n a , A l e m a n h a . N ofimd a terdisciplinares envolvidos n o ensinar e cérebro. N o início d o século 2 1 , e n t r e t a n -
década d e 1 9 9 0 e d u c a d o r e s anglo-saxões aprender. E m 2 0 0 4 s u r g i u a Sociedade t o , d i v e r s o s cientistas a t a c a r a m a d i s c i p l i n a
p a s s a r a m a e x i g i r q u e os n e u r o c i e n t i s t a s de- I n t e r n a c i o n a l d a M e n t e , Cérebro e E d u c a - p o r c o n s i d e r a r q u e e l a estava " p e r d e n d o
m o n s t r a s s e m a a p l i c a b i l i d a d e d e suas des- ção, I m b e s , n a sigla e m inglês. E m 2 0 0 6 já a m e n t e e m f a v o r d o cérebro" e q u e u m a
c o b e r t a s n a s salas d e a u l a , t e n d o e m m e n t e estava e m operação o I n s t i t u t o d a U n i v e r - mudança r u m o a o " d e t e r m i n i s m o biológi-
cada a l u n o i n d i v i d u a l m e n t e . S u r g i r a m m a - sidade de O x f o r d para o F u t u r o da M e n t e . co" representava, n a m e l h o r das hipóteses,
n u a i s d e a l g u m a s aplicações, u m deles p u - U m d o s agentes m a i s i m p o r t a n t e s desequilíbrio e, n a p i o r , p e r i g o . A s críticas
b l i c a d o p e l o C o n s e l h o N a c i o n a l de P e s q u i - desse p r o c e s s o f o i a Organização p a r a d e r a m u m a face m a i s h u m a n a à ciência
sa d o s E s t a d o s U n i d o s , além d o s currículos Cooperação e D e s e n v o l v i m e n t o Econó- e m e r g e n t e , e u m estímulo p a r a a b u s c a d e
p a r a alfabetização Fast F o r W o r d e R A V E - m i c o ( O C D E ) . E m 2 0 0 7 , a organização u m m e i o bem-sucedido entre pesquisa e
-O, desenvolvidos p o r neurocientistas e p u b l i c o u Understanding the brain: the bir- prática a s s i m c o m o e n t r e laboratório e sala
a d o t a d o s c o m êxito n o s E s t a d o s U n i d o s . th ofa learning science ( C o m p r e e n d e n d o o d e a u l a . A mudança d e pêndulo t r a z d e v o l -
cérebro: o n a s c i m e n t o d e u m a ciência d o t a o p o n t o d e equilíbrio e v a l o r i z a t a n t o a
• Aponte enfim construída a p r e n z i d a d o , s e m edição e m português), ciência c o m o a a r t e d e e n s i n a r . •
Instituições c o m o o P r o g r a m a M e n t e , Cé- u m l i v r o f u n d a m e n t a l d o q u a l d o i s capí-
O AUTOR
r e b r o e Educação d a E s c o l a d e Educação t u l o s estão t r a d u z i d o s n e s t a r e v i s t a ( " U m
Renato Pompeu é j o r n a l i s t a e e s c r i t o r , a u t o r
da Universidade H a r v a r d e a Escola de A B C d o cérebro" e " O s i m p a c t o s p e r i g o - do romance-ensaio"0 m u n d o c o m o obra d e
Educação d a U n i v e r s i d a d e J o h n s H o p k i n s , sos d a s falsas i d e i a s " ) . Também e m 2 0 0 7 arte criada p e l o Brasil!, Editora Casa A m a r e l a
R E V I S T A E D U C A Ç Ã O
Educadores, gestores e o u t r o s p r o f i s s i o n a i s d a área p o d e m a c o m p a n h a r
m e n s a l m e n t e a s principais questões relacionadas a políticas públicas,
formação docente, literatura, cultura e muito mais.
EDUCAÇÃO
www.revistaeducacao.com.br
APRENDIZAGEM
Iniciação científica
está c a d a v e z
mais presente n o
cotidiano escolar
BUENOS AIRES
Mudanças n o
sistema de
avaliação d o c e n t e
«A
geram protestos
COMPORTAMENTO
Pais apostam e m i i mm
c u r s o s d e férias
no exterior para o
ensino d e idiomas
A ciranda d a
municipalização
S e m acertar o passo d o regime colaborativo entre a s unidades
d a federação, país a c e l e r o u o r i t m o d a descentralização d o e n s i n o
e d e i x o u g r a n d e número d e p r o f e s s o r e s e d e a l u n o s à d e r i v a
I
E S P E C I A I S EDUCAÇÃO i
u 0 CÉREBRO N A S A L A D E A U L A
Dr Frances Jone
Ganha força no
país a discussão
sobre o alcance
da neurociência
na escola. Embora
educadores e
F ica e m Macaíba, n a região m e t r o p o l i t a n a d e N a t a l , R i o G r a n d e d o N o r t e ,
a q u e l e q u e d e v e ser o p r o j e t o b r a s i l e i r o m a i s a m b i c i o s o i n t e r l i g a n d o as n e u -
rociência e a educação. A l i está e m construção o c h a m a d o " C a m p u s d o Cérebro",
neurocientistas c a p i t a n e a d o p e l o n e u r o c i e n t i s t a p a u l i s t a n o M i g u e l N i c o l e l i s , d i r e t o r científico d o
estejam seguros I n s t i t u t o I n t e r n a c i o n a l d e Neurociência d e N a t a l E d m o n d e L i l y Safra ( I I N N -
- E L S ) e p r o f e s s o r d a D u k e U n i v e r s i t y , n o s E s t a d o s U n i d o s . Se o s p l a n o s dele se
de que não há c o n c r e t i z a r e m , e m 2 0 1 3 começará a f u n c i o n a r u m a escola d e t e m p o i n t e g r a l p a r a
fórmulas definitivas, 3 m i l crianças - d o berçário a o e n s i n o médio - a o l a d o d e u m g r a n d e i n s t i t u t o d e
acreditam que p e s q u i s a e m neurociência básica. " A c h o q u e esse é u m d o s p r i m e i r o s p r o g r a m a s
d o t i p o n o m u n d o , p o r q u e m e s m o o s p r o g r a m a s d e neuroeducação a m e r i c a n o s
o conhecimento não têm u m a escola a c o p l a d a a o c e n t r o d e pesquisa", a f i r m a N i c o l e l i s .
do cérebro A i d e i a é a c o m p a n h a r o s m e n i n o s e as m e n i n a s "desde o n a s c i m e n t o , d o
terá impactos p o n t o d e v i s t a médico, psicológico, odontológico e e d u c a c i o n a l " . "Nós v a m o s
determinantes na b a s i c a m e n t e e s t u d a r a o l o n g o d a v i d a dessas crianças s e u d e s e n v o l v i m e n t o i n -
t e l e c t u a l e c o g n i t i v o " , a f i r m a o n e u r o c i e n t i s t a , q u e r e c e n t e m e n t e lançou p e l a
prática do ensino C o m p a n h i a das L e t r a s o l i v r o Muito Além do Nosso Eu - A nova neurociência
que une cérebro e máquinas e como ela pode mudar nossas vidas. " E s p e r a m o s q u e
o s n o v o s c o n h e c i m e n t o s s o b r e c o m o o cérebro a p r e n d e p o s s a m s e r a p l i c a d o s
n a prática n o d e s e n h o d e n o v a s i n i c i a t i v a s pedagógicas, n o v o s currículos, n o v a s
f e r r a m e n t a s pedagógicas."
N E U R O l EDUCAÇÃO
CONTEXTO BRASILEIRO
neurocientífíco d e d a à Educação e c o o r d e n a d o r a d o L a b o -
ratório d e Neurociências d o I n s t i t u t o d e
vão d e s d e a análise d o s efeitos d e u m a s o -
n e c a d e p o i s d e u m a a u l a até o s j o g o s e o
que o cérebro Ciências Biológicas ( I C B ) d a U n i v e r s i d a - a p r e n d i z a d o escolar. R i b e i r o - q u e e s t u d a a
a p r e n d e por de Federal d o R i o G r a n d e ( F U R G ) , n o R i o relação e n t r e s o n o e memória - é também
G r a n d e d o S u l . "Esses e s t u d o s g e r a r a m co-organizador da Escola Latino-america-
associação d e i d e i a s 9 9
u m a b a g a g e m d e c o n h e c i m e n t o s acerca n a d e Ciências E d u c a c i o n a i s , C o g n i t i v a s
Miguei Nicolelis d o cérebro q u e t o r n o u m a i s fácil, t a l v e z e Neurais, n u m evento anual financiado
ÍJEDUCAÇÃO
e m u m hotel para discutir e pensar r u m o s d u a s áreas p r e f e r e m não u s a r o t e r m o
A ideia é fomentar p a r a a educação. " A i d e i a é f o m e n t a r u m a "neuroeducação" - também p a r a não d a r
u m a nova geração n o v a geração d e p e s q u i s a d o r e s p r e o c u p a - a impressão d e q u e há u m a n o v a p e d a -
de pesquisadores d o s e m f a z e r p e s q u i s a e m sala d e a u l a e
u m e n s i n o b a s e a d o e m evidências", d i z o
g o g i a e m j o g o . A l g u n s p e s q u i s a d o r e s se
m o s t r a m céticos c o m relação à aplicação
preocupados em neurobiólogo. " U s a r p r o c e d i m e n t o s c i e n - n a educação d o c o n h e c i m e n t o n e u r o c i e n -
f a z e r pesquisa em tíficos p a r a t e s t a r p e d a g o g i a s diferentes". tífico, a o m e n o s p o r e n q u a n t o . " E x i s t e u m
P a r a t e r u m a noção d o prestígio d o e v e n - c o n s e n s o d e q u e as ciências c o g n i t i v a s têm
sala d e a u l a e u m to, basta dizer que h a v i a 600 interessados m u i t o mais a contribuir agora d o q u e a
ensino b a s e a d o e m n a s 5 0 vagas. " O l e g a l dessa escola é q u e neurociência, m a s d e q u e e l a é a b a s e p a r a
evidências f f v e m u m cara c o m o D a v i d K l a h r , d a U n i -
versidade Carnegie-Mellon, c o m dados
o c o n h e c i m e n t o f u t u r o , e, p o r t a n t o , t e m o s
d e i n t e g r a r tudo", a f i r m a o p e s q u i s a d o r .
Sidarta Ribeiro que colocam e m xeque o construtivismo, Para o neurocientista Ivan Izquierdo,
p o r e x e m p l o , e fica t o d o m u n d o p r o v o - d o C e n t r o d e Memória d o I n s t i t u t o d e
p e l a Fundação J a m e s S. M c D o n n e l l . E m c a d o . São l e v a n t a d a s questões empíricas, Pesquisas Biomédicas d a Pontifícia U n i -
2 0 1 2 o c o r r e u e m março e m C a l a f a t e , n a não ideológicas." v e r s i d a d e Católica d o R i o G r a n d e d o S u l
Patagônia, A r g e n t i n a ( e m 2 0 1 1 f o i n o d e - ( P U C - R S ) , o g r a n d e avanço a i n d a está p o r
s e r t o d o A t a c a m a , n o C h i l e , e e m 2 0 1 3 será • A febre que se espalha v i r - e e m breve. " A c h o que o que faremos
realizado n o Brasil). U m a d a s coisas q u e i n c o m o d a m m u i t o s n a próxima década e m relação a o t e m a
A o l o n g o d e d u a s s e m a n a s , 5 0 pós- n e u r o c i e n t i s t a s é a apropriação i n d e v i d a neurociência e e n s i n o o u educação v a i ser
g r a d u a n d o s d e vários l u g a r e s d o m u n d o d o t e r m o " n e u r o " p a r a finalidades m e r a - m u i t o m a i s i m p o r t a n t e " , d i z ele. "É a l g o
( m e t a d e deles d a América L a t i n a ) c o m m e n t e mercadológicas o u p a r a d e s i g n a r q u e está começando e p o r e n q u a n t o se t e m
b a s e sólida e m ciências e matemática e e x p e r i m e n t o s o u estudos q u e l e v a m e m d e l i n e a d o m a i s o u m e n o s o q u e se p r e t e n -
cerca d e 2 0 p r o f e s s o r e s - e n t r e o s q u a i s conta apenas o c o m p o r t a m e n t o . " C h a m o d e fazer. M a s não é fácil e não será n e c e s -
Ribeiro e outros n o m e s reconhecidos d a isso d e c o g n i t i v o o u psicológico, m a s não s a r i a m e n t e através d o e s t u d o d e i m a g e n s
área c o m o o a m e r i c a n o H a l P a s h l e r e o d e n e u r o " , e x p l i c a S i d a r t a R i b e i r o . Vários d u r a n t e a formação d e a p r e n d i z a d o s o u
francês S t a n i s l a s D e h a e n e - se r e u n i r a m dos q u e t r a b a l h a m c o m a interface das memórias, p o r q u e não é possível e s t u d a r
isso c o m as pessoas d e n t r o d e máquinas,
dos tubos de m e t a l dos aparelhos de resso-
nância magnética", d i z I z q u i e r d o .
O que faremos n a
próxima década e m
relação a o t e m a
neurociência e
educação vai ser a i n d a
mais i m p o r t a n t e .
Não é possível
e s t u d a r formação d e
aprendizados com
as pessoas d e n t r o
dos tubos d e m e t a l
dos a p a r e l h o s d e
ressonância magnética »
Ivan Izquierdo
• PERSPECTIVAS FUTURAS: O pesquisador Ivan Izquierdo,da PUC-RS, acredita que o gran-
d e a v a n ç o n a área d e n e u r o c i ê n c i a e e d u c a ç ã o a i n d a está p o r v i r
SHUTTERSTOCK
CONTEXTO BRASILEIRO
lNi W
E UI kRM
O lE D U C A Ç Ã Q
m
depois de o s j o v e n s j o g a r e m os exerga- A neurociência têm m e d a d o m u i t a
m a t u r i d a d e p a r a não ser p r e c i p i t a d a n a
mes. Os estudiosos esperam desenvolver
p r o t o c o l o s p a r a o u s o saudável desse t i p o
d e estimulação. avaliação e no e n q u a d r a m e n t o d e crianças
O g r u p o também d e s e n v o l v e u u m
j o g o eletrônico c h a m a d o C o m a n d o I m u -
e m g e r a l e d e crianças c o m d i f i c u l d a d e s
no, dentro d o projeto NeurAventura, Maria Anita V. Martins
p a r a t r a n s m i t i r conteúdos d e neurociên-
c i a a a l u n o s d o E n s i n o médio. C o o r d e -
n a d o p e l o p e s q u i s a d o r Gláucio A r a n h a
Barros, o projeto foi laureado e m 2011
c o m o Prémio I n s t i t u t o C l a r o - N o v a s
Formas de Aprender e Empreender, n a
área d e inovação n a e s c o l a , e u s a d i f e r e n -
tes p l a t a f o r m a s d e comunicação. N a d i -
nâmica d o j o g o , o s j o v e n s p o d e m e n c a r -
nar u m cientista que t e m de combater os
m a l e s c a u s a d o s p o r minúsculos o r g a n i s -
m o s c a p a z e s d e a l t e r a r o s i s t e m a n e rvvooss o
e o c o m p o r t a m e n t o das pessoas.
• A troca de saberes
A divulgação d a neurociência p a r a p r o -
fessores, a l u n o s e a c o m u n i d a d e d e f o r -
m a g e r a l , aliás, é u m a preocupação d e
diversos grupos. O Neuroeduc, d o R i o ,
o f e r e c e u m c u r s o d e formação c o n t i n u a -
da a professores duas vezes p o r a n o cujo
t e m a é neurociência e d u c a c i o n a l . Além
d i s s o , p u b l i c a a r e v i s t a científica Ciências
e Cognição e p a r t i c i p a d o M u s e u I t i n e -
r a n t e d e Neurociências, q u e l e v a a t i v i d a -
des d e divulgação científica a e s c o l a s d o
Estado d o Rio.
E m Ribeirão P r e t o , n o i n t e r i o r d e São
P a u l o , o médico n e u r o l o g i s t a M a r c o A r -
r u d a - q u e p a s s o u a e s t u d a r n a década
de 1990 os grandes autores da pedagogia,
c o m o Jean Piaget e L e v V i g o t s k i , m o t i -
v a d o pelas palestras sobre T r a n s t o r n o
d o Déficit d e Atenção e H i p e r a t i v i d a -
de ( T D A H ) q u e realizava n a s escolas -
criou e m 2006 a Comunidade Aprender O n e u r o c i e n t i s t a não consegue sozinho traduzir
Criança, c o m o o b j e t i v o d e d i s s e m i n a r o s
c o n h e c i m e n t o s d a neurociência p a r a o s
esse c o n h e c i m e n t o todo e m práticas e f i c a z e s
p r o f i s s i o n a i s d a educação. d e n t r o d a escola e d a sala d e aula.
"Está h a v e n d o u m a verdadeira Daí a n e c e s s i d a d e d e h a v e r c o m p a r t i l h a m e n t o
avalanche de conhecimentos q u e tor-
n a impossível a c o m p a n h a r t u d o . U m a
d e informações e experiência f f
v e r d a d e i r a revolução n o c o n h e c ii mr e n - Marco Arruda
CONTEXTO BRASILEIRO
* O i n v e s t i m e n t o n a área d e neurociência
f
c e r t e z a d e que o que
a p e n a s c o m a área d a saúde", a f i r m a . à posição socioeconómica e c u l t u r a l d a
E m Belo H o r i z o n t e , a professora L e - família, d o q u e u m p r o b l e m a científico.
o cérebro faz m e l h o r é o n o r G u e r r a , especialista e m N e u r o p s i - M a s também é b a s t a n t e provável q u e ,
aprender interferem cologia, m i n i s t r a t o d o s os anos u m c u r s o u m a vez que neurocientistas e educado-
d e atualização n a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l res c o n s i g a m d i a l o g a r e e s t a b e l e c e r p o n -
diretamente n a sala de de M i n a s Gerais ( U F M G ) a interessados, tes m a i s f r e q u e n t e s , t o d a a população
a u l a , n a formação do s e j a m eles p r o f e s s o r e s o u não (ver box na saia g a n h a n d o . •
""^EDUCAÇÃO
A EDITORA SEGMENTO APRESENTA
O M A I O R G U I A DE EDUCAÇÃO ONLINE DO B R A S I L
www.guiasdeeducacao.com.br
• R e p o r t a g e n s e dicas s o b r e formação
pessoal e profissional
A a b o r d a g e m neurocientífica d o a p r e n d i z a d o p r o p o r c i o n a u m
s i s t e m a d e referência t e ó r i c o p a r a práticas e d u c a c i o n a i s b a -
s e a d o n a s ciências b i o l ó g i c a s . E s s e c a m p o d e e s t u d o , q u e v e m
E mbora desempenhe u m papel fundamental,
o c é r e b r o c o n t i n u a s e n d o u m a p a r t e única
d e u m o r g a n i s m o c o m p l e t o . U m a p e s s o a não
e m e r g i n d o c o m r a p i d e z , está l e n t a m a s d e c i s i v a m e n t e c o n s - p o d e s e r r e d u z i d a a p e n a s a e s s e órgão, e s p e -
t r u i n d o o s a l i c e r c e s d e u m a "ciência d o a p r e n d i z a d o " . c i a l m e n t e p o r q u e o c é r e b r o está e m c o n s t a n t e
U m s e r v i v o é c o m p o s t o d e v á r i o s níveis d e o r g a n i z a ç ã o . O interação c o m o u t r a s p a r t e s d o c o r p o .
resultado é q u e u m processo h u m a n o isolado pode ser definido Sede d e nossas capacidades mentais, o
d e f o r m a d i s t i n t a d e p e n d e n d o d o n í v e l u s a d o c o m o referência. cérebro a s s u m e funções v i t a i s a o i n f l u e n c i a r a
I s s o v a l e p a r a o a p r e n d i z a d o , p r o c e s s o e m q u e a definição v a r i a f r e q u ê n c i a cardíaca, a t e m p e r a t u r a d o c o r p o , a
de acordo c o m a perspectiva d eq u e m o descreve. respiração e t c , b e m c o m o a o d e s e m p e n h a r a s
A s diferenças e n t r e d e f i n i ç õ e s c e l u l a r e s e c o m p o r t a m e n t a i s a s s i m c h a m a d a s funções " s u p e r i o r e s " , c o m o a
r e f l e t e m a s v i s õ e s c o n t r a s t a n t e s d a n e u r o c i ê n c i a e d a ciência l i n g u a g e m , o raciocínio e a consciência. C o m -
educacional. Para o sneurocientistas, o aprendizado é u m pro- p r e e n d e d o i s hemisférios ( e s q u e r d o e d i r e i t o ) ,
c e s s o c e r e b r a l e m q u e o cérebro r e a g e a u m estímulo, o q u e q u e s e d i v i d e m e m lobos (occipital, parietal,
e n v o l v e p e r c e p ç ã o , p r o c e s s a m e n t o e integração d a informação. t e m p o r a l e f r o n t a l ) , (ver imagem na pág. 38)
Educadores o c o n s i d e r a m u mprocesso ativo que leva à a q u i - Os principais c o m p o n e n t e s d o tecido
sição d e c o n h e c i m e n t o , o q u e p o r s u a v e z a c a r r e t a m u d a n ç a s c e r e b r a l são a s c é l u l a s g l i a i s e a s n e r v o s a s
d u r a d o u r a s , m e n s u r á v e i s e específicas d e c o m p o r t a m e n t o . (neurónios), e s t a s c o n s i d e r a d a s s u a u n i d a d e
f u n c i o n a l básica p o r d o i s m o t i v o s : a e x t e n s a
interconectividade entre elas e porque s e es-
p e c i a l i z a m n a c o m u n i c a ç ã o . O s n e u r ó n i o s são
organizados e m redes funcionais situadas e m
p a r t e s específicas d o cérebro.
3EDUCAÇÃO
CONCEITOS
DESENVOLVIMENTO
O cérebro s e m o d i f i c a - s e d e s e n v o l v e - d e m a n e i r a c o n t í n u a
por toda avida. Esse d e s e n v o l v i m e n t o é guiado t a n t o pela bio-
l o g i a q u a n t o p e l a experiência. A s predisposições genéticas i n t e -
s a d o r e s começaram a m a p e a r e s s a s mudanças m a t u r a c i o n a i s e a
d e s v e n d a r c o m o a b i o l o g i a e a experiência i n t e r a g e m p a r a g u i a r o
desenvolvimento.
r a g e m c o m a experiência p a r a d e t e r m i n a r a e s t r u t u r a e a função E n t e n d e r o d e s e n v o l v i m e n t o d e u m a p e r s p e c t i v a científica
d o cérebro n u m d a d o p o n t o d o t e m p o . P o r c a u s a d e s s a interação p o d e c a u s a r u m i m p a c t o p o d e r o s o n a prática e d u c a c i o n a l . À m e -
c o n t í n u a , c a d a cérebro é ú n i c o . d i d a q u e o s c i e n t i s t a s c o n h e c e r e m a s m u d a n ç a s n o cérebro r e -
E m b o r a e x i s t a u m a v a s t a g a m a d e diferenças i n d i v i d u a i s n o l a c i o n a d a s à i d a d e , o s e d u c a d o r e s terão condições d e u s a r e s s a s
d e s e n v o l v i m e n t o c e r e b r a l , características r e l a c i o n a d a s à i d a d e p o - informações p a r a p r o j e t a r m a t e r i a i s didáticos m a i s a p r o p r i a d o s à
d e m t e r consequências i m p o r t a n t e s p a r a o a p r e n d i z a d o . P e s q u i - f a i x a etária e m u i t o m a i s e f i c i e n t e s .
N egligenciada durante m u i t o t e m p o
n a educação i n s t i t u c i o n a l , a d i m e n -
são e m o c i o n a l d o a p r e n d i z a d o t e m
o c u p a d o c a d a v e z m a i s espaço n a s d i s -
cussões e n v o l v e n d o o s p r o c e s s o s d e
cognição.
A o contrário d o " a f e t o " , q u e é s u a
interpretação c o n s c i e n t e , a s e m o ç õ e s
s u r g e m d e p r o c e s s o s c e r e b r a i s e são n e -
cessárias p a r a a d a p t a ç ã o e r e g u l a ç ã o d o
comportamento humano.
A s emoções são reações c o m p l e -
xas geralmente descritas e m t e r m o s Giro para-hipocampal
Medula espinhal
d e três c o m p o n e n t e s : u m e s t a d o m e n -
t a l específico, u m a m u d a n ç a f i s i o l ó g i c a
e u mi m p u l s o para agir. D i a n t e d e u m a E m o ç õ e s p o d e m p a r e c e r s e n t i m e n t o s c o n s c i e n t e s , m a s s ã o r e s p o s t a s psicológicas
situação p e r c e b i d a c o m o p e r i g o s a , p o r a o s estímulos d e s t i n a d a s a n o s a f a s t a r d o p e r i g o e n o s a p r o x i m a r d a r e c o m p e n s a .
e x e m p l o , a s reações e n g e n d r a d a s v ã o A p e s a r d e s e r e m g e r a d a s c o n s t a n t e m e n t e , e m g e r a l n ã o t e m o s consciência d i s s o
c o n s i s t i r s i m u l t a n e a m e n t e e m ativação
c e r e b r a l específica d o c i r c u i t o d e v o t a - regulação d a s emoções. E s s a e s t r u t u r a a m a d u r e c e p a r t i c u l a r m e n t e t a r d e e m h u -
d o a o m e d o , r e s p o s t a s c o r p o r a i s típicas m a n o s , c o n c l u i n d o s u a maturação n a t e r c e i r a década d e v i d a d e u m indivíduo. A
( p u l s o a c e l e r a d o , p a l i d e z e perspiração) adolescência c e r e b r a l p o r t a n t o d u r a m a i s d o q u e s e p e n s a v a até r e c e n t e m e n t e , o
e i m p u l s o de "lutar o u fugir". q u e a j u d a a e x p l i c a r c e r t a s características d e c o m p o r t a m e n t o : o d e s e n v o l v i m e n t o
C a d a emoção c o r r e s p o n d e a u m c o m p l e t o d o córtex pré-frontal, e p o r consequência a regulação d a s emoções e a
sistema funcional distinto e t e m s e u compensação d e p o t e n c i a i s e x c e s s o s d o s i s t e m a límbico, o c o r r e m d e f o r m a r e l a -
próprio c i r c u i t o c e r e b r a l q u e e n v o l v e t i v a m e n t e t a r d i a e m c a d a u m d e nós.
estruturas n o que c h a m a m o s d e siste- T r o c a s c o n t í n u a s t o r n a m i m p o s s í v e l s e p a r a r o s c o m p o n e n t e s fisiológicos, e m o -
m a límbico (também c o n h e c i d o c o m o c i o n a i s e c o g n i t i v o s d e u m c o m p o r t a m e n t o específico. A força d e s s a i n t e r c o n e c t i v i -
" s e d e d a s emoções"), b e m c o m o a s d a d e r e v e l a o i m p a c t o s u b s t a n c i a l d a s emoções q u a n d o a p r e n d e m o s . U m a emoção
estruturas corticais, p r i n c i p a l m e n t e o p o s i t i v a a s s o c i a d a a o a p r e n d i z a d o f a c i l i t a o s u c e s s o , e n q u a n t o u m a emoção p e r c e -
córtex pré-frontal, c o m p a p e l básico n a bida c o m o negativa resulta e m fracasso.
• FUNÇÕES COGNITIVAS
N E U R O EDUCAÇÃO
lj- Gânglios da base Corpo
Córtex parietal P°
C o r
caloso - [j- Gânglios da base
Cérebro Córtex pré-frontal caloso
Córtex pré-frontal
Córtex pré-frontal
INFÂNCIA ADOLESCÊNCIA
T V
Amígdala
Amígdala
1
Amígdala
Hipocampo Hipocampo
Cerebelo bronco Cerebelo
encefálico Formação Cerebelo
reticular
O cérebro h u m a n o l e v a a n o s até a t i n g i r d p o t e n c i a l p l e n o d a s h a -
b i l i d a d e s s e n s o r i a i s , m o t o r a s e i n t e l e c t u lis. P o r v o l t a d o s 3 a n o s , • HABILIDADES
a retenção d e m e m ó r i a s é possível g r a < a s a o d e s e n v o l v i m e n t o
d o h i p o c a m p o . E n t r e 6 e 1 3 a n o s , a m a d i r e c e m a s regiões r e l a -
c i o n a d a s à l i n g u a g e m e à compreensãc d a s relações e s p a c i a i s ,
i n c l u i n d o o c ó r t e x p a r i e t a l . N a adolescé i c i a e m b o r a m a i s b e m
O termo "habilidades" é frequentemente utilizado quando
se d i s c u t e m c o m p o r t a m e n t o e aprendizado. U m d a d o
e q u i p a d o p a r a l i d a r c o m d e s a f i o s s o c i a i s e i n t e l e c t u a i s , o cérebro c o m p o r t a m e n t o p o d e ser dividido e m habilidades, e n t e n d i d a s
p r o c e s s a informações e m o c i o n a i s v i a mígdala. A m a t u r i d a d e c o m o suas "unidades naturais".
e m o c i o n a l só c h e g a p o r v o l t a d o s 3 0 , D m o d e s e n v o l v i m e n t o A l i n g u a g e m , por e x e m p l o , pode ser separada e m q u a t r o
c o m p l e t o d o c ó r t e x p r é - f r o n t a l e a t o t a l p a c i d a d e d e raciocínio " m e t a - h a b i l i d a d e s " , d e a c o r d o c o m a transmissão o u a r e c e p -
e d e avaliação d a s ações ção e o s m e i o s d e c o m u n i c a ç ã o : e n t e n d i m e n t o o r a l , p r o d u ç ã o
oral, leitura e escrita. Cada u m a , por sua vez, p o d e ser fraciona-
• FUNCIONALIDADE, BASE NEURAL da e m habilidades ainda mais distintas. O e n t e n d i m e n t o oral
consiste e mcerca d ed e zhabilidades, q u e i n c l u e m m e m o r i -
DE APRENDIZADO z a ç ã o a c u r t o p r a z o d e séries d e s o n s , d i s c r i m i n a ç ã o d o s s o n s
d i s t i n t o s d e u m a d a d a L i n g u a g e m e a distinção d e p a l a v r a s e
A definição neurocientífica d e a p r e n d i z a d o l i g a e s s e p r o c e s -
s o a u m s u b s t r a t o biológico. D e s s e p o n t o d e v i s t a , a p r e n d e r
é o q u e r e s u l t a d o a t o d e i n t e g r a r t o d a a informação p e r c e b i d a
identificação d e c a t e g o r i a s g r a m a t i c a i s .
C a d a h a b i l i d a d e c o r r e s p o n d e a u m a c l a s s e específica d e
a t i v i d a d e s . I s s o s u s c i t a questões s o b r e a avaliação d o p r o -
o u p r o c e s s a d a . E s s a integração t o m a f o r m a n a s modificações
g r e s s o d o i n d i v í d u o e a distinção e n t r e h a b i l i d a d e s e c o n h e c i -
e s t r u t u r a i s n o c é r e b r o , n o m o m e n t o e m q u e alterações m i c r o s -
m e n t o . O q u e e s p e r a m o s d e n o s s a s crianças? H a b i l i d a d e s o u
cópicas p e r m i t e m q u e a s informações p r o c e s s a d a s d e i x e m u m
conhecimento? O que queremos "medir" quado as testamos?
"traço" físico d e s u a p a s s a g e m .
É essencial para os educadores e para qualquer pessoa pre-
o c u p a d a c o m a e d u c a ç ã o alcançar u m e n t e n d i m e n t o d a b a s e
científica d o p r o c e s s o d e a p r e n d i z a d o .
• H O L Í S T I C O E PRÁTICO - O
APRENDIZADO PELO FAZER
• GENÉTICA
A c r e n ç a d e q u e há u m a relação s i m p l e s d e c a u s a e
e f e i t o e n t r e a genética e o c o m p o r t a m e n t o a i n d a p e r -
O q u e e u e s c u t o , e u esqueço. O q u e e u v e j o , e u l e m b r o . O q u e
e u faço, e u e n t e n d o . " Há m u i t o e s q u e c i d a p e l o s e d u c a d o r e s , a
f r a s e d e Confúcio g a n h o u n o v a m e n t e d e s t a q u e n o século 2 0 c o m
siste. I m a g i n a r u m r e l a c i o n a m e n t o linear e n t r e fatores o a d v e n t o d o c o n s t r u t i v i s m o . A o contrário d e t e o r i a s q u e s e c o n -
genéticos e o c o m p o r t a m e n t o é e s t a r b a s t a n t e próximo centravam e m educadores especialistas que t r a n s m i t i a m o conhe-
do total determinismo. U m gene consiste e m u m a sequ- cimento, essa corrente defendia u m novo conceito d e aprendizado:
ência d e D N A q u e c o n t é m a i n f o r m a ç ã o r e l e v a n t e p a r a a construção d o c o n h e c i m e n t o . O a p r e n d i z a d o s e t o r n a m a i s c e n -
p r o d u z i r u m a proteína. A expressão d o g e n e , q u e não trado n o aluno e depende d odesenvolvimento d e conhecimento
ativa u m c o m p o r t a m e n t o , varia c o m base e m n u m e r o s o s a n t e r i o r , b a s e a d o n a experiência, n o s d e s e j o s e n a s n e c e s s i d a d e s
f a t o r e s , e m e s p e c i a l o s a m b i e n t a i s . Após s e r s i n t e t i z a d a , d o indivíduo.
a p r o t e í n a p a s s a a o c u p a r u m l u g a r específico e d e s e m - P o r c o n s e g u i n t e , e s s a r e v i r a v o l t a teórica d e u o r i g e m às a s s i m
p e n h a u m p a p e l n o f u n c i o n a m e n t o d a célula e m q u e c h a m a d a s práticas a t i v a s o u e x p e r i e n c i a i s d e " a p r e n d e r p o r m e i o d a
foi produzida. Nesse sentido, é verdade que, s ea f e t a m a ação". O o b j e t i v o é e n v o l v e r a t i v a m e n t e o s a l u n o s n a interação c o m
função, o s g e n e s m o l d a m o c o m p o r t a m e n t o . N o e n t a n t o , seu a m b i e n t e h u m a n o e material, c o m base n aideia d eq u e isso
t r a t a - s e d e u m a relação c o m p l e x a e i n d i r e t a , c o m vários l e v a r i a a u m a integração m a i s p r o f u n d a d a s i n f o r m a ç õ e s d o q u e a
níveis d e o r g a n i z a ç ã o a i n f l u e n c i a r u n s a o s o u t r o s . percepção. A ação i m p l i c a i n e v i t a v e l m e n t e a o p e r a c i o n a l i z a ç ã o - a
C o n f o r m e a v a n ç a m a s p e s q u i s a s , a crença n u m a f r o n - implementação d o s c o n c e i t o s . O a l u n o não a p e n a s p r e c i s a a d q u i r i r
teira entre o inato e o adquirido vai dando lugar à c o m - o c o n h e c i m e n t o e a experiência, m a s também s e r c a p a z d e torná-
preensão d a interdependência d e f a t o r e s genéticos e - L o s o p e r a c i o n a i s e m aplicações r e a i s . P o r t a n t o , t o r n a r - s e " a t i v o " , o
a m b i e n t a i s n o d e s e n v o l v i m e n t o d o cérebro. q u e pressupõe u m nível m e l h o r d e a p r e n d i z a d o .
P r e v e r o c o m p o r t a m e n t o c o m b a s e n a g e n é t i c a será N e m t o d a s a s d e s c o b e r t a s neurocientíficas d ã o o r i g e m a i n o -
a l g o i n c o m p l e t o : q u a l q u e r a b o r d a g e m i n f l u e n c i a d a tão v a ç õ e s didáticas. N o e n t a n t o , e l a s p r o p o r c i o n a m u m a b a s e teórica
s o m e n t e p e l a g e n é t i c a n ã o só é i n f u n d a d a n o a s p e c t o sólida p a r a práticas t e s t a d a s q u e f o r a m c o n s o l i d a d a s p o r m e i o d a
científico, m a s t a m b é m e t i c a m e n t e questionável e p o l i - e x p e r i ê n c i a . E s s e s i n s i g h t s científicos s e r v e m p a r a a p o i a r o c o r p o d e
ticamente perigosa. c o n h e c i m e n t o e m p í r i c o e i n t u i t i v o já a c u m u l a d o e e x p l i c a r p o r q u e
a l g u m a s d e l a s f r a c a s s a m o u têm s u c e s s o .
INTERAÇÕES SOCIAIS E DE EQUIPE
A s interações s o c i a i s s e r v e m c o m o c a t a l i s a d o r e s d o a p r e n d i z a d o . S e m e s s e
t i p o d e interação, n ã o p o d e m o s a p r e n d e r n e m n o s d e s e n v o l v e r a d e q u a d a -
mente. Q u a n d o confrontados c o m u m contexto social, nosso aprendizado m e -
lhora conforme a riqueza e a variedade desse contexto.
As descobertas a c i o n a m o sprocessos d eusar e desenvolver conhecimento
e h a b i l i d a d e s . L i d a r c o m o s o u t r o s n o s p e r m i t e d e s e n v o l v e r estratégias e a p r i -
m o r a r o raciocínio. P o r e s s e m o t i v o a interação s o c i a l é u m a condição c o n s -
tituinte t a n t o para o d e s e n v o l v i m e n t o inicial das estruturas cerebrais q u a n t o
p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o n o r m a l d e funções c o g n i t i v a s .
Q u e l u g a r a s e s c o l a s d e i x a m p a r a a interação e n t r e o s a l u n o s ? O s u r g i m e n -
INTELIGÊNCIA t o d e n o v a s t e c n o l o g i a s n o s e t o r e d u c a c i o n a l t e v e a m p l a repercussão n a i n t e -
r a t i v i d a d e e m situações d e a p r e n d i z a d o . Q u a l será o i m p a c t o d e s s a s m u d a n ç a s
O c o n c e i t o d e inteligência s e m p r e e s t e v e s u j e i t o
a controvérsias. P o d e u m ú n i c o c o n c e i t o r e s -
ponder por todas a sfaculdades intelectuais d e u m
n o próprio a p r e n d i z a d o ?
E s s a s q u e s t õ e s estão s e n d o t r a t a d a s p e l o c a m p o d a neurociência s o c i a l , q u e
l i d a c o m p r o c e s s o s s o c i a i s e c o m p o r t a m e n t o , e está e m e r g i n d o c o m m u i t a r a p i d e z .
indivíduo? P o d e m e s s a s f a c u l d a d e s s e r s e p a r a d a s
e m e d i d a s ? E, e m p a r t i c u l a r , o q u e e l a s m o s t r a m e
o q u e prevêem s o b r e o f u n c i o n a m e n t o c e r e b r a l d e
u m a pessoa e sobre seu c o m p o r t a m e n t o social? •JAN ELAS DEOPORTUN IDADE PARAOAPRENDIZADO
A noção d e inteligência e v o c a " h a b i l i d a d e s " , s e -
j a m e l a s v e r b a i s , e s p a c i a i s , d e solução d e p r o b l e m a s
o u a habilidade bastante elaborada d elidar c o m a
complexidade. No entanto,todos esses aspectos ne-
C e r t o s períodos n o d e s e n v o l v i m e n t o são p a r t i c u l a r m e n t e a d e q u a d o s p a r a
aprender determinadas habilidades. Durante esses momentos-chave, o
cérebro p r e c i s a d e c e r t o s t i p o s d e e s t í m u l o a f i m d e e s t a b e l e c e r e m a n t e r
g l i g e n c i a m o c o n c e i t o d e"potencial". A i n d a a s s i m , a o d e s e n v o l v i m e n t o d e l o n g o p r a z o d a s e s t r u t u r a s e n v o l v i d a s . E s s e s são e s -
p e s q u i s a neurobiológica s o b r e o a p r e n d i z a d o e a s tágios n o s q u a i s a experiência s e t o r n a u m f a t o r prioritário, responsável p o r
funções c o g n i t i v a s m o s t r a d e f o r m a c l a r a q u e e s s e s mudanças p r o f u n d a s .
p r o c e s s o s p a s s a m p o r evoluções c o n s t a n t e s e d e - C h a m a d o s d e "períodos sensíveis" o u j a n e l a s d e o p o r t u n i d a d e , c o r r e s -
p e n d e m d e vários f a t o r e s , e m e s p e c i a l a m b i e n t a i s e p o n d e m a m o m e n t o s ideais para q u e a spessoas p o s s a m aprender habi-
emocionais. Isso significa q u e u m a m b i e n t e e s t i m u - l i d a d e s específicas. São p a r t e d o d e s e n v o l v i m e n t o n a t u r a l , m a s é p r e c i s o
l a n t e d e v e o f e r e c e r a c a d a indivíduo a p o s s i b i l i d a d e experiência p a r a q u e u m a mudança ( a p r e n d i z a d o ) s e j a e f i c a z . O p r o c e s s o
de cultivar e desenvolver suas habilidades. p o d e s e r d e s c r i t o c o m o a p r e n d i z a d o " e x p e c t a n t e d a experiência" c o m o a
Desse ponto d evista, a s muitas tentativas d e l i n g u a g e m o r a l , e d i f e r e d o a p r e n d i z a d o " d e p e n d e n t e d a experiência", c o m o
q u a n t i f i c a r a inteligência u s a n d o t e s t e s ( c o m o a s a l i n g u a g e m escrita, q u e pode ocorrer e m q u a l q u e r m o m e n t o da vida.
m e d i ç õ e s d e Q I o u o u t r a s ) s ã o estáticas d e m a i s e s e S e n ã o a c o n t e c e r n e s s a s j a n e l a s d e o p o r t u n i d a d e , i s s o não s i g n i f i c a
r e f e r e m a f a c u l d a d e s p a d r o n i z a d a s e c o m viés t e n - q u e o a p r e n d i z a d o não poderá m a i s a c o n t e c e r . S o m o s c a p a z e s d e a p r e n d e r
d e n c i o s o c u l t u r a l ( e a l g u m a s v e z e s até ideológico). durante a toda a vida, mas, fora dessas janelas d eoportunidade, mais t e m -
B a s e a d o s e m s u p o s i ç õ e s apriorísticas, o s t e s t e s p o e m a i s r e c u r s o s c o g n i t i v o s serão necessários, s e m a m e s m a eficiência.
d e inteligência são r e s t r i t i v o s e p o r t a n t o p r o b l e m á - O c o n h e c i m e n t o m a i s p r o f u n d o d e s s e s p e r í o d o s sensíveis e d o a p r e n -
t i c o s . C o m b a s e n e s s e "cálculo d e i n t e l i g ê n c i a " o u n a dizado que ocorre durante eles é u m a linha crucial de pesquisa futura. U m
classificação d i s c u t í v e l d e p e s s o a s e m d i f e r e n t e s ní- m a p a c a d a v e z m a i s c o m p l e t o n o s permitirá a s s o c i a r m e l h o r a instrução
v e i s d e inteligência, o q u e s e p o d e c o n c l u i r q u a n t o a o período sensível a d e q u a d o e m p r o g r a m a s e d u c a c i o n a i s . C o m i s s o , t e r e -
às práticas o u até às e s c o l h a s r e l a c i o n a d a s a o d i r e - m o s u m i m p a c t o p o s i t i v o n a eficácia d o a p r e n d i z a d o .
c i o n a m e n t o d e carreira?
• KAFKA
JEDUCAÇÃO
W
• LINGUAGEM
A L i n g u a g e m é u m a função c o g n i t i v a h u m a n a também d e d i -
c a d a à comunicação q u e p r o p o r c i o n a o u s o d e u m s i s t e m a
d e símbolos. Q u a n d o u m número f i n i t o d e símbolos arbitrá-
r i o s e u m c o n j u n t o d e princípios semânticos são c o m b i n a d o s
d e a c o r d o c o m r e g r a s d a s i n t a x e , é possível g e r a r u m a v a r i e -
d a d e i n f i n i t a d e declarações, o q u e r e s u l t a e m u m i d i o m a . L i n -
guagens diferentes u s a m fonemas, grafemas, gestos e outros
símbolos p a r a r e p r e s e n t a r o b j e t o s , c o n c e i t o s , emoções, i d e i a s
e pensamentos.
S u a expressão r e a l é u m a função q u e r e l a c i o n a a o m e n o s
u m f a l a n t e a u m o u v i n t e , e o s d o i s são i n t e r c a m b i á v e i s . I s s o
s i g n i f i c a q u e a l i n g u a g e m p o d e s e r d e c o m p o s t a p e l a direção
(percepção o u produção) e também p e l o m o d o d e expressão
(oral o uescrita). A l i n g u a g e m oral é adquirida d e m a n e i r a na-
t u r a l d u r a n t e a infância p o r exposição à l i n g u a g e m f a l a d a ; a
4
e s c r i t a , e m c o n t r a p a r t i d a , e x i g e instrução i n t e n c i o n a l .
A l i n g u a g e m f o i u m a d a s p r i m e i r a s funções q u e s e d e -
m o n s t r o u t e r u m a b a s e c e r e b r a l . N o século 1 9 , e s t u d o s d e
afasia feitos p o rdois cientistas (Paul Broca e Carl Wernicke)
r e v e l a r a m q u e c e r t a s áreas d o c é r e b r o e s t a v a m e n v o l v i d a s n o
processamento da linguagem.
A c u m u l a r u m g r a n d e c o r p o d e c o n h e c i m e n t o neurocientí-
f i c o s o b r e e s s a f u n ç ã o c o g n i t i v a f o i p o s s í v e l graças a o s i g n i f i -
c a t i v o i n t e r e s s e d a neurociência n e s s a função. A compreensão
d o s m e c a n i s m o s d a L i n g u a g e m e d e c o m o e l e s são a p r e n d i d o s
já t e v e i m p o r t a n t e i m p a c t o n a s políticas e d u c a c i o n a i s .
D urante o pro-
cesso d e apren-
d i z a d o , s i n a i s são
L - / v o l v a - m e e a p r e n d e r e i . " A máxima d e B e n j a m i n F r a n k l i n
recoloca o e n v o l v i m e n t o , o u seja, o c o m p r o m i s s o d e u m a
p e s s o a c o m u m a d a d a ação, e m s e u p a p e l d e c o n d i ç ã o e s -
deixados pelo pro- sencial d oaprendizado. Nesse sentido, resulta diretamente
cessamento e pela d o p r o c e s s o d e motivá-la a s e c o m p o r t a r d e d e t e r m i n a d a
integração d a s i n - m a n e i r a o ua perseguir u m a m e t a . O processo é a t i v a d o por
formações perce- fatores internos o u externos, e por isso f a l a m o s d a m o t i v a -
bidas, e c o m isso a ção intrínseca, q u e d e p e n d e u n i c a m e n t e d a s n e c e s s i d a d e s
memória é a t i v a d a . próprias d o a l u n o , o u extrínseca, q u e l e v a e m c o n t a a s i n -
A memória é u m p r o c e s s o c o g n i t i v o p e l o q u a l experiências fluências e x t e r n a s . A motivação é e m g r a n d e p a r t e c o n d i -
passadas p o d e m ser lembradas, t a n t o e m t e r m o s d e a d q u i - c i o n a d a p e l a autoconfiança, a u t o e s t i m a e benefícios q u e
r i r n o v a s informações ( f a s e d e d e s e n v o l v i m e n t o d o s i n a l ) alguém a c u m u l a e m t e r m o s d e u m c o m p o r t a m e n t o o u d e
q u a n t o d e relembrá-las ( f a s e d e reativação d o s i n a l ) . Q u a n - u m a meta direcionados.
t o m a i s r e a t i v a d o o p r o c e s s o , m a i s " m a r c a d a " será a l e m - P a r a u m a p r e n d i z a d o b e m - s u c e d i d o a combinação d e
brança, e p o r t a n t o m e n o s passível d e s e r e s q u e c i d a . motivação e a u t o e s t i m a é e s s e n c i a l . A f i m d e c o n f e r i r a e s s e s
A memória é construída s o b r e o a p r e n d i z a d o , e o s b e - fatores seu lugar d e direito nas estruturas d e aprendizado,
nefícios d o a p r e n d i z a d o p e r s i s t e m graças a e l a . E s s e s d o i s o s i s t e m a d e e s t u d o c o m t u t o r e s está c o n q u i s t a n d o e s p a ç o .
p r o c e s s o s têm u m r e l a c i o n a m e n t o tão p r o f u n d o q u e a E l e o f e r e c e a p o i o p e r s o n a l i z a d o e é m a i s b e m a d a p t a d o às
memória está s u j e i t a a o s m e s m o s f a t o r e s q u e i n f l u e n c i a m necessidades d oaluno. U m clima mais pessoal para o apren-
o a p r e n d i z a d o . P o r i s s o a memorização p o d e s e r m e l h o r a - d i z a d o s e r v e p a r a m o t i v a r a l u n o s , m a s não s e d e v e d e s p r e z a r
da por u m forte estado e m o c i o n a l , u m contexto especial, o p a p e l c r u c i a l d a s interações s o c i a i s e m t o d o s o s m o d o s d e
motivação i n t e n s i f i c a d a o u atenção a u m e n t a d a . a p r e n d i z a d o . P o r t a n t o , a personalização não d e v e s i g n i f i c a r
A p r e n d e r u m a lição c o m frequência s i g n i f i c a s e r c a - o isolamento dos estudantes.
p a z d e recitá-la. T r e i n a m e n t o s e t e s t e s são n o r m a l m e n t e A motivação t e m u m p a p e l c e n t r a l n o s u c e s s o d o a p r e n -
b a s e a d o s n a recuperação e memorização d e i n f o r m a - d i z a d o , e m e s p e c i a l a motivação intrínseca. O indivíduo
ções, m u i t a s v e z e s e m prejuízo d o domínio d a s h a b i l i - a p r e n d e c o m m a i s f a c i l i d a d e s e está f a z e n d o i s s o p o r s i m e s -
d a d e s o u até m e s m o d o e n t e n d i m e n t o d e s e u conteúdo. mo, com o desejo d e entender.
É justificado esse papel conferido à capacidade d e m e - E m b o r a a t u a l m e n t e s e j a difícil c o n s t r u i r a b o r d a g e n s
mória n o a p r e n d i z a d o ? E s s a é u m a questão f u n d a m e n t a l e d u c a c i o n a i s q u e p o s s a m i r além d e s i s t e m a s d e s c o m p e n -
n o c a m p o d a educação e começa a a t r a i r a atenção d o s s a e punição" e q u e t e n h a m c o m o a l v o e s s a motivação intrín-
neurocientistas. s e c a , s e u s b e n e f í c i o s são t a i s q u e é d e f u n d a m e n t a l i m p o r -
tância q u e a p e s q u i s a v o l t e s e u s esforços p a r a e s s e domínio.
CONCEITOS
• PLASTICIDADE
O cérebro é c a p a z d e a p r e n d e r p o r c a u s a d e s u a f l e x i b i l i -
d a d e , q u e r e s i d e e m u m a d e s u a s p r o p r i e d a d e s intrín-
s e c a s - a p l a s t i c i d a d e . E m r e s p o s t a a estímulos d o a m -
b i e n t e , n o s s o órgão m a i s i m p o r t a n t e s o f r e modificações.
O m e c a n i s m o o p e r a d e várias m a n e i r a s n o nível d a s
conexões sinápticas. A l g u m a s s i n a p s e s p o d e m s e r g e r a -
d a s (sinaptogênese), o u t r a s e l i m i n a d a s ( p o d a ) , e s u a e f i -
cácia é m o l d a d a c o m b a s e n a informação p r o c e s s a d a e
i n t e g r a d a p e l o cérebro.
Os "sinais" deixados pelo aprendizado e pela m e m o -
rização são f r u t o d e s s a s modificações. A p l a s t i c i d a d e é
e m c o n s e q u ê n c i a u m a c o n d i ç ã o necessária p a r a o a p r e n -
d i z a d o e u m a p r o p r i e d a d e i n e r e n t e d o cérebro; e l a está
presente a olongo d etoda a vida.
O c o n c e i t o d e p l a s t i c i d a d e e s u a s implicações são
características v i t a i s d o cérebro. E d u c a d o r e s , e l a b o r a d o -
r e s d e políticas e t o d o s o s e s t u d a n t e s vão g a n h a r c o m a
compreensão d o m o t i v o p e l o q u a l é possível a p r e n d e r a o
l o n g o d et o d a a vida e d e c o m o a plasticidade fornece u m
a r g u m e n t o neurocientífico p a r a o " a p r e n d i z a d o contínuo".
A e s c o l a primária não s e r i a u m b o m l u g a r p a r a começar
a e n s i n a r a o s a l u n o s c o m o e p o r q u e e l e s são c a p a z e s d e
• NEURÔNIO aprender?
3EDUCAÇÃ0
Tf
•REPRESENTAÇÕES
• VARIABILIDADE
O s s e r e s h u m a n o s estão c o n s t a n t e m e n t e p e r c e b e n d o , p r o c e s s a n d o e i n t e g r a n -
d o i n f o r m a ç õ e s , i s t o é, e l e s a p r e n d e m . A s p e s s o a s t ê m s u a s p r ó p r i a s r e p r e -
sentações, q u e g r a d u a l m e n t e s e a c u m u l a m c o m b a s e n a experiência. E s s e s i s t e -
A experiência t e m u m p a p e l f u n -
damental n o desenvolvimen-
t o e n a composição d o indivíduo,
m a o r g a n i z a d o t r a d u z o m u n d o e x t e r n o p a r a a percepção i n d i v i d u a l e g o v e r n a o
mas permanece pessoal e subje-
p r o c e s s o d e raciocínio d e c a d a u m d e nós. D e s d e a C a v e r n a d e Platão, a filosofia
t i v a . Representações r e s u l t a n t e s
t e m r e f l e t i d o s o b r e a questão d a s representações. E v i d e n t e m e n t e o o b j e t i v o a q u i
d e l a são e m c o n s e q u ê n c i a d i f e -
n ã o é r e s p o n d e r às g r a n d e s q u e s t õ e s d a h u m a n i d a d e , e m b o r a n ã o s e j a i m p o s s í -
rentes d e pessoa para pessoa. A
v e l q u e u m d i a n o s s o c o n h e c i m e n t o d o f u n c i o n a m e n t o d o cérebro s e j a t a l q u e
experiência também i n f l u e n c i a a
nos traga novos e l e m e n t o s para esses eternos debates filosóficos.
construção d e e s t i l o s p r e f e r e n -
ciais, l e v a n d o o a l u n o a usar estra-
tégias d e a p r e n d i z a d o específicas
• UNIVERSALIDADE d e a c o r d o c o m a situação.
O a p r e n d i z a d o específico p r o -
V ários a t r i b u t o s c a r a c t e r i -
zam o serhumano, u m
deles o desenvolvimento
v o c a mudanças - transições d e
u m estado para outro. Ainda a s -
s i m , a s i n g u l a r i d a d e d a experiên-
d o cérebro. E l e s e g u e c i a p e s s o a l e d a s representações
u m a programação g r a - i n d i c a condições d i f e r e n t e s n o
v a d a n a herança gené- princípio p a r a c a d a p e s s o a . Além
t i c a d o indivíduo, e é d i s s o , modificações resultantes
planejado como parte do aprendizado variam d e acordo
d e u m "balé" n o q u a l c o m a s motivações, interações e
genes perfeitamente estratégias d o próprio a p r e n d i z a -
r e g u l a d o s são n u t r i d o s do. É p o r isso q u eo i m p a c t o d a
p e l a experiência. instrução d i f e r e d e p e s s o a para
Uma d a s proprieda- pessoa, e é esse o m o t i v o pelo
d e s intrínsecas d o cérebro qual falamos d e variabilidade.
é s u a p l a s t i c i d a d e . O cére- Alunos n a m e s m a classe a s -
bro c o n t i n u a m e n t e percet s i s t i n d o às m e s m a s a u l a s n ã o v ã o
p r o c e s s a e i n t e g r a informações aprender a s m e s m a s coisas. Suas
d e r i v a d a s d a experiência d a p e s s o a , J " \ representações d o s c o n c e i t o s a p r e -
e d e s s a f o r m a p a s s a p o r mudanças n a s c o - • s e n t a d o s vão v a r i a r , p o i s e l e s não
nexões físicas d e s u a r e d e d e neurónios. E s s e d e s e n v o l v i m e n t o i n d i c a u m a começam t o d o s c o m o m e s m o
capacidade d eaprendizado p e r m a n e n t e . Isso significa q u e o d e s e n v o l v i m e n t o c o n h e c i m e n t o básico n e m c o m o
é u m a característica c o n s t a n t e e u n i v e r s a l d a a t i v i d a d e c e r e b r a l e q u e u m s e r m e s m o m o d o d eaprendizado. O re-
h u m a n o pode aprender a olongo d a vida. s u l t a d o é q u e s u a s representações
" T o d a p e s s o a t e m d i r e i t o à educação." (Declaração U n i v e r s a l d o s D i r e i t o s H u - não vão s e d e s e n v o l v e r d a m e s -
m a n o s , Nações U n i d a s , 1 0 d e d e z e m b r o d e 1 9 4 8 , a r t i g o 2 6 ) . A educação r e g u l a o m a m a n e i r a . O s a l u n o s vão t o d o s
aprendizado d emaneira que todos t e n h a m acesso aos f u n d a m e n t o s d a leitura, m a n t e r traços d e s s a e x p e r i ê n c i a d e
e s c r i t a e aritmética. a p r e n d i z a d o , m a s e s t e s serão d i f e -
Avaliações i n t e r n a c i o n a i s são r e a l i z a d a s p a r a c o n f e r i r a i g u a l d a d e e a d u r a - r e n t e s e específicos p a r a c a d a u m .
b i l i d a d e d o s vários s i s t e m a s e d u c a c i o n a i s . E m b o r a s e j a difícil " m e d i r " o c o n h e c i - Experiências d e a p r e n d i z a d o
m e n t o a d q u i r i d o e n t r e a s várias f r o n t e i r a s c u l t u r a i s , t a i s avaliações a m p l i a m a têm d e l e v a r e m c o n t a diferenças
percepção d a n e c e s s i d a d e d e m e l h o r i a c o n s t a n t e n a educação. individuais, d ef o r m a q u e a diversi-
ficação d o c u r r í c u l o p a r a a c o m o d á -
-las seja u m a m e t a educacional
cada vez mais importante.
B a s t a n t e t r a b a l h o f o i r e a l i z a d o e u m a i m p o r t a n t e t a r e f a f o i c u m p r i d a n o s últi-
m o s a n o s p a r a d e s e n v o l v e r a n e u r o c i ê n c i a e d u c a c i o n a l , e i s s o está a j u d a n d o a
e s t a b e l e c e r u m a ciência d o a p r e n d i z a d o t r a n s d i s c i p l i n a r a i n d a m a i o r . N o e n t a n t o ,
Bruno delia Chiesa foi cordenador e editor d o
l i v r o Understanding
O AUTOR
"EB"
I
l/l
o
oaz.
OS I M P A C T O S PERIGOSOS
DAS FALSAS IDEIAS
Embora invalidados
pela ciência, a ampla
A ciência avança p o r m e i o d e t e n t a t i v a e e r r o . T e o r i a s são construídas c o m base
e m observações q u e o u t r o s fenómenos a p a r e c e m p a r a c o n f i r m a r , m o d i f i c a r o u
r e f u t a r : o u t r a t e o r i a , c o m p l e m e n t a r o u contraditória à a n t e r i o r , é então criada, e as-
difusão de conceitos s i m o p r o c e s s o c o n t i n u a . Esse avanço "aos t r a n c o s " é inevitável, m a s u m de seus p o n -
incorretos sobre o t o s n e g a t i v o s é q u e m e s m o as hipóteses i n v a l i d a d a s d e i x a m m a r c a s . A o c a p t u r a r e m a
imaginação de u m público m a i s a m p l o , ideias q u e se t o r n a r a m " m i t o s " c r i a m raízes.
cérebro abriu espaço M e s m o d e m o l i d a s p e l a ciência, m o s t r a m - s e t e i m o s a m e n t e persistentes.
para produtos e A neurociência está e n v o l v i d a nesse fenómeno. A l g u m a s expressões c o n f i r m a m
práticas educacionais isso: " b o a cabeça p a r a números", p o r e x e m p l o , d e r i v a d a p e s q u i s a d o a n a t o m i s t a e
sem comprovação fisiologista alemão F r a n z Joseph G a l l ( 1 7 5 8 - 1 8 2 8 ) . A o e x a m i n a r c r i m i n o s o s v i v o s e
dissecar o cérebro d e c r i m i n o s o s m o r t o s , G a l l estabeleceu a f r e n o l o g i a : u m t a l e n t o
alguma. Como muitas especial p r o d u z i r i a u m a protuberância n o cérebro q u e e m p u r r a o osso e d i s t o r c e o
vezes surgiram de crânio. G a l l se gabava d e p o d e r d i s t i n g u i r o c r i m i n o s o d o h o n e s t o , o "matemático"
resultados sólidos de d o "literato", a p e n a s a p a l p a n d o a cabeça deles. A f r e n o l o g i a , há m u i t o s u p l a n t a d a , f o i
também d e s a c r e d i t a d a . E e m b o r a d e t e r m i n a d a s áreas d o cérebro s e j a m m a i s espe-
pesquisa, combater cializadas q u e o u t r a s e m certas funções, trata-se d e especialidades f u n c i o n a i s (tais
os chamados c o m o formação d e i m a g e n s , produção d e p a l a v r a s , s e n s i b i l i d a d e tátil etc.) e não d e
"neuromitos"é ainda características m o r a i s c o m o g e n t i l e z a o u agressividade.
A ciência não é i n t e i r a m e n t e responsável p e l o s u r g i m e n t o d e tais m i t o s . É
mais difícil. E cada difícil e n t e n d e r t o d a s as s u t i l e z a s das d e s c o b e r t a s d e u m e s t u d o , a i n d a m a i s s e u s
vez mais urgente p r o t o c o l o s e método. N o e n t a n t o , é d a n a t u r e z a h u m a n a ficar s a t i s f e i t o - até
m e s m o se a l e g r a r - c o m explicações rápidas, s i m p l e s e inequívocas, o q u e l e v a
a interpretações f a l h a s , extrapolações questionáveis e, d e f o r m a g e r a l , à génese
d e i d e i a s falsas.
A seguir, os p r i n c i p a i s m i t o s r e l a c i o n a d o s à ciência d o cérebro, c o m especial a t e n -
ção àqueles m a i s r e l e v a n t e s p a r a o s métodos d e a p r e n d i z a d o . E m c a d a m i t o , u m a
visão histórica e o e s t a d o a t u a l d a p e s q u i s a científica. I r o n i c a m e n t e , a l g u n s m i t o s
f o r a m benéficos p a r a a educação a o f o r n e c e r e m u m a " j u s t i f i c a t i v a " p a r a d i v e r s i f i c a -
ção. M a s , n a m a i o r i a das vezes, têm consequências r u i n s e p r e c i s a m ser e l i m i n a d o s .
O M I T O D O S P R I M E I R O S TRÊS A N O S
T f t t
relação ao cérebro é decidido
até os 3 anos de idade"
S e você c o l o c a r as p a l a v r a s - c h a v e " d o
n a s c i m e n t o até três a n o s " n u m s i t e
d e b u s c a , v a i v e r u m número i m p r e s s i o -
O c o m p o n e n t e básico d o p r o c e s s a -
m e n t o d e informações n o cérebro é a
célula n e r v o s a o u neurônio. O cérebro
Há 2 0 a n o s e s t u d o s c o m r o e d o r e s
m o s t r a r a m q u e s u a d e n s i d a d e sináptica
p o d i a a u m e n t a r q u a n d o colocados n u m
n a n t e d e páginas e x p l i c a n d o p o r q u e esse h u m a n o contém c e r c a d e 1 0 0 bilhões d e ambiente complexo c o m outros roedores
período é c r u c i a l p a r a o f u t u r o d e s e n v o l - neurónios. C a d a u m deles p o d e se c o n e c - e vários o b j e t o s a ser e x p l o r a d o s . S u b m e -
v i m e n t o d a criança e c o m o q u a s e t u d o é tar c o m milhares de outros, p e r m i t i n d o t i d o s n a sequência a u m teste d e a p r e n -
d e c i d i d o n e s s a fase. Encontrará também q u e as informações c i r c u l e m d e f o r m a dizado de labirinto, os animais tiveram
vários p r o d u t o s c o m e r c i a i s p r e p a r a d o s i n t e n s a e e m várias direções a o m e s m o r e s u l t a d o s m e l h o r e s e m a i s rápidos q u e
p a r a e s t i m u l a r a inteligência d o bebé a n - t e m p o . P o r m e i o d a s conexões e n t r e o s os d o g r u p o d e c o n t r o l e , os quais v i v i a m
tes q u e ele a t i n j a essa d a t a l i m i t e c r u c i a l . neurónios ( s i n a p s e s ) , i m p u l s o s n e r v o s o s e m a m b i e n t e s " p o b r e s " o u "isolados". A
A l g u n s fenómenos fisiológicos q u e v i a j a m d e u m a célula p a r a o u t r a e f o r t a - conclusão: a m b i e n t e s "enriquecidos"
ocorrem durante o desenvolvimento d o lecem o desenvolvimento de habilidades a u m e n t a r a m a d e n s i d a d e sináptica d o s
cérebro p o d e m , d e f a t o , l e v a r a crenças e a capacidade de aprendizado. A p r e n d e r a n i m a i s , t o r n a n d o - o s m a i s capazes d e
d e q u e estágios d e a p r e n d i z a d o s críticos i m p l i c a c r i a r n o v a s sinapses, f o r t a l e c e r realizar a tarefa de aprendizado.
a c o n t e c e m até o s 3 a n o s . M a s i s s o é a l g o o u e n f r a q u e c e r as e x i s t e n t e s . O número Os elementos estavam posicionados
facilmente exagerado e distorcido q u e d e s i n a p s e s e m recém-nascidos é b a i x o de f o r m a a criar u m m i t o : u m grande
a s s u m e u m a condição mítica q u a n d o m a s depois d o s 2 meses, a u m e n t a e x - e x p e r i m e n t o , fácil d e e n t e n d e r e m b o r a
usado de f o r m a excessiva pela i m p r e n - p o n e n c i a l m e n t e e excede o de u m a d u l - difícil d e r e a l i z a r , e d e s c o b e r t a s q u e p r o -
sa, e d u c a d o r e s , f a b r i c a n t e s d e b r i n q u e - to (chegando a u m pico aos 10 meses). j e t a m o r e s u l t a d o esperado. N o entanto,
d o s e p a i s , q u e s o b r e c a r r e g a m o s filhos Até o s 1 0 a n o s u m a q u e d a c o n s i s t e n t e f o i f e i t o e m condições a r t i f i c i a i s e c o m
c o m ginástica p a r a recém-nascidos e a c o n t e c e , q u a n d o o "número a d u l t o " d e roedores. O s dados d o estudo, obtidos
música e s t i m u l a n t e . s i n a p s e s é alcançado e o c o r r e u m a r e l a - c o m precisão científica inquestionável,
t i v a estabilização. O a u m e n t o d e s i n a p s e s foram distorcidos e combinados c o m
e s u a diminuição - sinaptogênese e p o d a , i d e i a s então a t u a i s r e l a c i o n a d a s a o d e -
r e s p e c t i v a m e n t e - são u m m e c a n i s m o senvolvimento h u m a n o para concluir
n a t u r a l , necessário p a r a o c r e s c i m e n t o e q u e a intervenção e d u c a c i o n a l , p a r a s e r
o desenvolvimento. m a i s e f i c i e n t e , d e v i a ser c o o r d e n a d a c o m
P o r m u i t o t e m p o , a ciência c o n s i d e r o u a sinaptogênese. A l t e r n a t i v a m e n t e , a f i r -
q u e o número máximo d e neurónios e r a m o u - s e q u e "ambientes enriquecidos"
fixo n o n a s c i m e n t o e q u e , a o contrário d a p o u p a m sinapses d a p o d a d u r a n t e a i n -
m a i o r i a das o u t r a s células, eles não se r e - fância e até m e s m o c r i a m n o v a s , c o n t r i -
generavam. D a m e s m a f o r m a , acreditava- b u i n d o p a r a m a i o r inteligência e c a p a c i -
-se q u e após lesão d o cérebro, as células dade d e aprendizado. Fatos estabelecidos
n e r v o s a s destruídas não p o d i a m ser subs- n u m e s t u d o válido f o r a m n e s t e c a s o u s a -
tituídas. H o j e s a b e m o s q u e n o v o s neuró- d o s p a r a e x t r a p o l a r conclusões q u e vão
nios aparecem e m qualquer idade ( n e u - m u i t o além d a evidência o r i g i n a l .
rogênese) e, p e l o m e n o s e m a l g u n s casos, O s l i m i t e s e lições a q u i são b a s t a n t e
s e u número não o s c i l a d u r a n t e a v i d a . c l a r o s . Há p o u c o s d a d o s neurocientí-
Jepucação
f i c o s s o b r e h u m a n o s q u a n t o à relação
p r e d i t i v a e n t r e d e n s i d a d e sináptica n o
O M I T O D O S PERÍODOS CRÍTICOS
começo d a v i d a e a u m e n t o d a c a p a c i -
O M I T O D O S 1 0 % D E U S O D O CÉREBRO
"Mas eu li em algum
lugar que de qualquer
forma nós só usamos 10%
do nosso cérebro"
C o m frequência s e d i z q u e s e r e s h u m a n o s u s a m a p e n a s 1 0 %
( a l g u m a s v e z e s 2 0 % ) d o cérebro. Há u m a hipótese d e q u e esse
m i t o nasceu depois d e u m a entrevista e m que E i n s t e i n t e r i a afir-
m a d o u t i l i z a r a p e n a s 1 0 % d o cérebro. M a s as p e s q u i s a s d e K a r l
L a s h l e y n o s a n o s 1 9 3 0 d e v e m t e r contribuído p a r a fortalecê-lo. O
psicólogo a m e r i c a n o e x p l o r o u o cérebro u s a n d o c h o q u e s elétricos
e c o m o m u i t a s áreas não r e a g i a m , c o n c l u i u e r r o n e a m e n t e não t e -
r e m função, c o l o c a n d o e m circulação o t e r m o "córtex s i l e n c i o s o " .
NEEHUI ERSOllE D U C A C Ã O
m
O u t r a o r i g e m d o m i t o p o d e estar n o
f a t o d e q u e o cérebro é c o m p o s t o d e d e z
células g l i a i s p a r a c a d a neurônio. A s cé-
l u l a s g l i a i s têm u m p a p e l n u t r i c i o n a l e
d e a p o i o p a r a a s células n e r v o s a s , m a s
e m t e r m o s d e transmissão d e i m p u l s o s
n e r v o s o s , a p e n a s o s neurónios são r e c r u -
t a d o s ( o u 1 0 % d a s células q u e compõem
o cérebro). T e m o s aí m a i s u m a f o n t e d e
m a l - e n t e n d i d o s . A visão d e funções c e l u -
l a r e s é s i m p l i s t a : e m b o r a a s células g l i a i s
t e n h a m função d i s t i n t a d a q u e l a d o s n e u -
rónios, e l a s não são m e n o s e s s e n c i a i s a o
funcionamento d o todo.
A s d e s c o b e r t a s d a neurociência a g o -
r a m o s t r a m q u e 1 0 0 % d o cérebro é a t i -
v o . N a n e u r o c i r u r g i a , q u a n d o é possível
o b s e r v a r funções c e r e b r a i s e m p a c i e n t e s
UMA O R Q U E S T R A A F I N A D A E A I M P O R T Â N C I A DO T O D O
s o b a n e s t e s i a l o c a l , estímulos elétricos
não r e v e l a m área i n a t i v a a l g u m a , m e s - Hoje, g r a ç a s a t é c n i c a s d e i m a g e a m e n t o , o c é r e b r o p o d e s e r
O M I T O D A S DIFERENÇAS D E GÉNERO
"Vamos encarar - o cérebro M e s m o se fosse e s t a b e l e c i d o q u e , n a
O s resultados d o P r o g r a m a Inter-
n a c i o n a l d e Avaliação d e A l u n o s
( P I S A ) d e 2 0 0 3 são a p e n a s u m d o s m a i s
tódicos" ( c a p a c i d a d e d e e n t e n d e r siste-
m a s mecânicos) e as m u l h e r e s m e l h o r e s
c o m u n i c a d o r a s ( c a p a c i d a d e d e se c o m u -
p e c i a l i z a d o s , então p o d e r i a v a l e r a p e n a
a o m e n o s c o n s i d e r a r a questão, m a s e n -
quanto seu papel mais importante conti-
recentes a r e v e l a r diferenças d e a p r e n d i z a - nicar e entender o s o u t r o s ) e sugere q u e n u a r a s e r o d e c r i a r cidadãos c o m u m a
d o e d e d e s e m p e n h o escolar relacionadas o a u t i s m o p o d e ser e n t e n d i d o c o m o u m a c u l t u r a básica, t a l questão p e r d e s u a
a o género. B e m m a i s questionáveis são f o r m a e x t r e m a d e "cérebro m a s c u l i n o " . relevância p a r a a política e d u c a c i o n a l .
os t r a b a l h o s q u e a p a r e c e r a m n o s últimos M a s e l e não propõe q u e h o m e n s e m u - O n d e as diferenças p u d e r e m ser m o s t r a -
anos afirmando serem inspirados p o r l h e r e s têm cérebro r a d i c a l m e n t e d i f e r e n t e das c o m o e x i s t e n t e s , elas serão p e q u e n a s
d e s c o b e r t a s científicas s e g u n d o as q u a i s n e m q u e m u l h e r e s a u t i s t a s têm cérebro e b a s e a d a s e m médias. A s variações i n -
homens e mulheres pensam de forma m a s c u l i n o . B a r o n - C o h e n emprega os ter- d i v i d u a i s m u i t o m a i s i m p o r t a n t e s são
diferente devido a u m d e s e n v o l v i m e n t o m o s "cérebro m a s c u l i n o e f e m i n i n o " p a r a tais q u e i m p e d e m u m a pessoa d e saber
c e r e b r a l d i v e r s o . L i v r o s c o m o Why Men se r e f e r i r a p e r f i s c o g n i t i v o s específicos, o se u m a m e n i n a , e s c o l h i d a d e m a n e i r a
Dorít Listen and Women Carít Read Maps que é u m a escolha infeliz de t e r m i n o l o g i a , aleatória, será m e n o s c a p a z d e a p r e n d e r
[ P o r q u e é q u e os H o m e n s N u n c a O u v e m pois c o n t r i b u i para ideias distorcidas re- d e t e r m i n a d o tópico q u e u m m e n i n o e s -
N a d a e as M u l h e r e s Não S a b e m L e r o s l a c i o n a d a s a o f u n c i o n a m e n t o d o cérebro. c o l h i d o d e m a n e i r a aleatória etc.
M a p a s ] se t o r n a r a m l e i t u r a s p o p u l a r e s .
Q u a n t o d i s s o é b a s e a d o e m p e s q u i s a só-
l i d a ? Há u m "cérebro f e m i n i n o " e u m "cé-
rebro masculino"? D e v e r i a m o s estilos de
e n s i n o ser m o l d a d o s s e g u n d o o género?
E x i s t e m várias diferenças f u n c i o n a i s
e morfológicas e n t r e cérebro d e h o m e m
e m u l h e r . O m a s c u l i n o é m a i o r e, q u a n d o
se t r a t a d a l i n g u a g e m , as áreas r e l e v a n t e s
são m a i s f o r t e m e n t e a t i v a d a s e m m u l h e -
res. M a s d e t e r m i n a r o q u e i s s o s i g n i f i c a
é e x t r e m a m e n t e difícil. N e n h u m e s t u d o
m o s t r o u processos específicos d e u m s e x o
e n v o l v i d o s n a construção d e r e d e s n e u r o -
nais durante o aprendizado.
O s t e r m o s "cérebro f e m i n i n o " e "cé-
r e b r o m a s c u l i n o " se r e f e r e m a " m a n e i r a s
d e ser" descritas e m t e r m o s c o g n i t i v o s e m
v e z d e a q u a l q u e r r e a l i d a d e biológica. O
pesquisador americano d a Universidade
de C a m b r i d g e S i m o n B a r o n - C o h e n , q u e
u s a essas expressões p a r a d e s c r e v e r o a u -
t i s m o e distúrbios r e l a c i o n a d o s , a c r e d i t a
q u e o s h o m e n s c o s t u m a m ser m a i s " m e -
IgiaiUWEDUCACÃO
-
1 . 1 .
Tvl ;
a v \ a ; " a/ v ^ A
K
S Os
D r e
f D * L e
f Y C
r
1 • 8
z
O M I T O DE U M I D I O M A POR VEZ
"O cérebro de uma condições culturais e sociais difíceis. Os
aprender uma
que muitas delas começaram a aprender a
nova língua aos 5, 6 anos ou mais, e, sem
"ST
NEUROMITOS
"áreas de linguagem" em indivíduos multilingues ainda não foi O mito de que é preciso primeiro falar bem o idioma nativo
resolvida. Mas, partindo dessa falta de resolução, é errado afirmar antes de começar a aprender uma segunda língua é desmentido por
que o forte comando da língua nativa é enfraquecido quando um estudos segundo os quais crianças bilíngues entendem a estrutu-
segundo idioma é aprendido. ra de cada língua melhor e a aplicam de forma mais consciente.
A afirmação de que "o conhecimento adquirido em uma língua Portanto, o multilinguismo ajuda a promover outras competências
não é acessível ou transferível para outra" é outro mito e um dos relacionadas à linguagem. Esses efeitos positivos são mais claros
mais anti-intuitivos. Qualquer um que aprenda um conceito difícil quando a segunda língua é adquirida cedo; educação multilingue
numa língua - por exemplo a evolução - pode compreendê-lo em não leva a atraso no desenvolvimento. Algumas vezes, crianças
outra. Se há incapacidade de explicar o conceito na segunda língua, bem pequenas podem confundir línguas, mas, a não ser que haja
é devido à falta de vocabulário e não à diminuição do conhecimen- uma falha na aquisição (tal como m á diferenciação de sons), tal
to. Experimentos mostraram que quanto mais conhecimento é ad- confusão desaparece mais tarde.
quirido em diversas línguas, mais este é armazenado em áreas bem As teorias sobre bilinguismo e multilinguismo foram particu-
mais distantes da área reservada para a linguagem: ele não é pre- larmente baseadas em teorias cognitivas. Os futuros programas
servado apenas na forma de palavras, mas em imagens, por exem- escolares sobre o aprendizado de línguas deveriam se basear em
plo. Pessoas multilingues podem não mais lembrar em que língua exemplos bem-sucedidos de práticas de ensino e levar em conta a
aprenderam certas coisas - podem esquecer se leram um artigo ou pesquisa sobre o cérebro, atual ou futura, e as idades favoráveis ao
se viram um filme em francês, alemão ou inglês. aprendizado da linguagem (períodos sensíveis).
O M I T O D O A U M E N T O D A MEMÓRIA
uma memória
me). Ninguém pode esperar memorizar
toda a Enciclopédia Britânica.
excepcional Estudos mostraram que a capacidade
^EDUCAÇÃO
O M I T O DE APRENDER D O R M I N D O
MAPAS DE C O N C E I T O
A prender enquanto você dorme
que ideia fascinante e atraente! U m
aprendizado rápido e sem esforço é um
-
Bepucacão
O C O M B A T E AOS N E U R O M I T O S
neuromitos nasçam por acidente, po- cuidadoso com a evidência que rejeita Bruno delia Chiesa foi cordenador e editor d o
l i v r o Understandlng the Brain: the blrth of a
dem servir a determinados interesses, já os mitos vulnerável ao ataque daqueles Leamlng Science, lançado p e l a Organização
que impulsionam negócios. cujos interesses são mais bem servidos p a r a Cooperação e D e s e n v o l v i m e n t o Econó-
m i c o (OCDE) e m 2007, de o n d e esse a r t i g o f o i
Potencialmente, todas as pessoas pela crença continuada neles. Fazer isso t r a d u z i d o c o m autorização d a organização. O
são suscetíveis a neuromitos, mas al- t a m b é m pode desapontar alguns desses trabalho d e Della Chiesa, a t u a l m e n t e profes-
sor visitante d a Universidade Harvard, Esta-
guns alvos são especialmente importan- educadores que mostraram uma fé ingé- d o s U n i d o s , r e v e l a a preocupação e m m o s t r a r
tes. Primeiro, há todos os educadores nua nas promessas da neurociência. a importância d a neurociência e d u c a c i o n a l
p a r a o f u t u r o d o a p r e n d i z a d o . U m a versão
- sejam pais, professores ou outros - , As pontes entre a neurociência e integral desse t e x t o pode s e racessada e m
que são os "consumidores" de linha de a educação são ainda muito escassas. www.revistaeducacao.com.br
l/l
S A CONSTRUÇÃO S O C I A L D O CÉREBRO
Os ossos e os músculos estão para os movimentos assim como o cérebro está para os pensamentos.
Profissionais da educação física devem conhecer detalhes do funcionamento de ossos e músculos.
Pedagogos que façam o mesmo em relação ao cérebro. 99
T enho feito esta provocação a educadores. E m resposta, além de ser chamado de reducionista,
termo quase ofensivo em tempos atuais, sou alertado que estas disciplinas têm origens dis-
tintas e que os modelos que norteiam os pedagogos não têm relação com as ciências do cérebro.
Aproveito o fato de a conversa adquirir um tom mais sério e argumento que está na hora de bus-
carmos uma aproximação entre as neurociências e a pedagogia. Assim, talvez possamos nos livrar
mais rapidamente da superada dicotomia biologia/ambiente, cérebro/mente que ainda, em pleno
século 2 1 , permeia a reflexão associada à cognição. As múltiplas abordagens da neurociência atu-
al abrem caminhos para novos modelos explicativos relacionados aos processos de aprendizagem
e t ê m fornecido importantes subsídios para o trabalho de educadores.
EHlEElEDUCAÇÃO
CONVERGÊNCIAS
• A constante remodelação
O cérebro humano é resultado de uma
programação genética que nos confere um
órgão com dezenas de bilhões de neuró-
nios, os quais estabelecem conexões com
milhares de outros neurónios por meio
das chamadas sinapses. Essa programação
também possibilita sua constante remo-
delação, daí o uso do termo plasticidade,
a partir das interações que estabelecemos
com o ambiente, desde as que ocorrem na
vida intrauterina até as mais complexas
relações sociais.
Caso o psicólogo Lev Vigotski vivesse
nos tempos atuais, talvez cunhasse o termo
"construção social do cérebro", pois hoje sa-
bemos que não apenas seu funcionamento
mas também sua estrutura são esculpidos
pela experiência: no cérebro, atividade e
estrutura são indissociáveis. Uma das con-
sequências desse fato é que, atualmente,
nenhum distúrbio ou transtorno de apren-
dizagem pode ter sua génese explicada por
fatores exclusivamente biológicos ou exclu-
sivamente ambientais. Pioneiro no estudo Para construir uma imagem do que
do desenvolvimento intelectual da criança, Discos rígidos, placa seria esta constante remodelação cerebral,
o bielo-russo foi também um dos fundado-
mãe e pentes de suponha que tenha recebido uma grande
res da psicologia histórico-cultural. área de mata e deve protegê-la de caçado-
A metáfora do computador, que
memória de um res e grileiros. E m um primeiro momen-
compara os neurónios ao hardware e a computador, ao to, você constrói inúmeras trilhas. Após
atividade mental ao software é, na sua contrário do cérebro, alguns meses, percebe que percorreu so-
essência, infeliz. Os discos rígidos, a pla- mente uma pequena parte delas. As trilhas
ca mãe e os pentes de memória de um
são imutáveis, n ã o frequentadas tornam-se largas, enquanto
computador, ao contrário do cérebro, são importando os as outras ficam estreitas ou mesmo desapa-
imutáveis, independentemente dos pro- programas usados recem. É mais ou menos isso o que acon-
gramas que usamos. tece com o cérebro durante o desenvolvi-
manaa
NEUROl educação
1 i l l l ^ ^
PLASTICIDADE DO COMEÇO AO FIM
Os processos que remodelam o c é r e b r o - s i n a p t o g ê n e s e , r á p i d a e facilmente a t é os 16 anos, enquanto a capacidade de
poda, desenvolvimento e m o d i f i c a ç ã o de n e u r ó n i o s - s ã o enriquecer o v o c a b u l á r i o na verdade melhora com a Idade. A
agrupados sob o m e s m o termo:"plasticidade". V á r i o s g r a m á t i c a fornece um exemplo de aprendizado de p e r í o d o
estudos mostraram que o c é r e b r o permanece plástico por s e n s í v e l e é expectante de e x p e r i ê n c i a : para que n ã o haja
toda a vida, tanto no que se refere ao n ú m e r o de n e u r ó n i o s dificuldade excessiva no aprendizado, de maneira Ideal ele
quanto ao de sinapses. A a q u i s i ç ã o de habilidades resulta precisa ocorrer e m dado lapso de tempo (o p e r í o d o s e n s í v e l ) .
do t r e i n a m e n t o e do fortalecimento de certas c o n e x õ e s , O aprendizado expectante de e x p e r i ê n c i a é portanto mais
mas t a m b é m da poda de outras. Uma d i s t i n ç ã o precisa ser eficiente durante certos p e r í o d o s da vtda. Um aprendizado
estabelecida entre dois tipos de s i n a p t o g ê n e s e - a que que Independe de um p e r í o d o s e n s í v e l , t a l como a a q u i s i ç ã o
ocorre naturalmente no c o m e ç o da vida e a que resulta da de v o c a b u l á r i o , é "dependente de e x p e r i ê n c i a " : quando
e x p o s i ç ã o a a m b i e n t e s complexos no decorrer da e x i s t ê n c i a . a s i t u a ç ã o e m que o aprendizado ocorre e m m e l h o r e s
Pesquisadores referem-se à primeira como "aprendizado c o n d i ç õ e s n ã o é limitada pela Idade ou pelo t e m p o e pode
expectante de e x p e r i ê n c i a " e à segunda como "aprendizado até melhorar conforme os anos passam. ( U n d e r s t a n d l n g the
dependente de e x p e r i ê n c i a " . A g r a m á t i c a é aprendida mais brain: the blrth o f a learning scIence, 2007)
m e n t o . A s s i n a p s e s m a i s u t i l i z a d a s ficam
f o r t a l e c i d a s , a informação " f l u i " c o m m a i s O CÉREBRO APERFEIÇOADO
f a c i l i d a d e p o r elas. P o r o u t r o l a d o , as q u e
Com volume m á x i m o atingido na Infância, a substância cinzenta passa a diminuir
não f o r a m u t i l i z a d a s e n f r a q u e c e m . D e s t a
na adolescência, à medida que as vias neurais desnecessárias v ã o sendo "podadas".
forma, potencialmente podemos produzir As Imagens de ressonância m a g n é t i c a mostram o grande volume de s u b s t â n c i a
sinapses n o d e c o r r e r d e t o d a a v i d a , m a s cinzenta ( e m v e r m e l h o ) e os volumes menores ( e m azul e roxo).
e m m u i t a s regiões d o cérebro o s a l d o é
n e g a t i v o , o u seja, a p e r d a é m a i o r q u e o
ganho. É o que ocorre durante a primeira
infância, fase d e p r o f u n d a remodelação
c e r e b r a l . P o r este m o t i v o , há p e s q u i s a d o r e s
q u e c o n s i d e r a m esta fase d a v i d a d e c i s i v a
para o desenvolvimento cognitivo e e m o -
c i o n a l , p o i s as m a r c a s d e i x a d a s n a s t r i l h a s
d o cérebro p e r m a n e c e r i a m até a v i d a a d u l -
ta. N o s últimos a n o s , este a r g u m e n t o t e m 13 anos 15 anos 18 anos
sido utilizado para defender u m a m a i o r
atenção p o r p a r t e d o s e d u c a d o r e s e m a i s
i n v e s t i m e n t o s públicos e m p r o g r a m a s e a superação d e limitações, s u s c e t i b i l i d a - biológicos estão e n v o l v i d o s , o u seja, p o r
ações v o l t a d o s a essa f a i x a etária. des o u predisposições. A s s i m , s a b e m o s a l g u m m o t i v o a s t r i l h a s não e s t a v a m
q u e e m m u i t o s casos d e dificuldades d e disponíveis p a r a p e r m i t i r a a p r e n d i z a -
• Quanto mais cedo melhor a p r e n d i z a g e m a intervenção p r e c o c e é g e m . F e r r a m e n t a s d e avaliação c o m b a s e
C a s o conseguíssemos c o m p a r a r as " t r i - c r u c i a l . L e v a n d o e m consideração o s n a neurociência têm s u r g i d o , e q u a n d o
l h a s " d o cérebro d a s p e s s o a s l o g o após o eventos que o c o r r e m durante os p r i m e i - a p l i c a d a s e m crianças d e 4 o u 5 a n o s p o -
n a s c i m e n t o , descobriríamos q u e elas não ros anos d e vida, ela pode ser decisiva d e m p o s s i b i l i t a r a identificação d a q u e -
são idênticas. F a t o r e s genéticos e m i n t e r a - p a r a o f u t u r o d a criança. l a s q u e necessitarão d e m a i o r atenção
ção c o m o a m b i e n t e i n t r a u t e r i n o i n f l u e n - U m a d a s g r a n d e s tragédias d e n o s s a d o s p r o f e s s o r e s p a r a q u e s e u cérebro es-
c i a m a construção das sinapses. É b a s t a n t e educação é e x i s t i r e m crianças d e 9 o u 1 0 t e j a p r e p a r a d o p a r a a alfabetização. N a
plausível p e n s a r m o s q u e estas diferenças a n o s q u e a i n d a não d e s e n v o l v e r a m h a - m e s m a direção, a l g u n s p e s q u i s a d o r e s
c r i a m m e n o r o u m a i o r facilidade para b i l i d a d e s d e l e i t u r a e m decorrência d e prevêem q u e avaliações genéticas, n u m
a aquisição d e c e r t a s h a b i l i d a d e s , c o m o inúmeros f a t o r e s , d e s d e p r o b l e m a s v i s u - f u t u r o próximo, serão u t i l i z a d a s p a r a
a p r e n d e r a falar, a a n d a r o u a ler. N o caso ais e / o u a u d i t i v o s não d i a g n o s t i c a d o s à o r i e n t a r a n e c e s s i d a d e d e intervenções
d o cérebro, a herança biológica p o d e s e r f a l t a d e instrução o u motivação a d e q u a - p r e c o c e s específicas, c o m o o b j e t i v o d e
modulada, transformada, possibilitando das. E m p a r t e d o s c a s o s , f a t o r e s n e u r o - a u x i l i a r o d e s e n v o l v i m e n t o d a criança.
1"
CONVERGÊNCIAS
Caberá à s o c i e d a d e d e c i d i r s e o u s o d e s - automatização. N a l e i t u r a e n a e s c r i t a
tas f e r r a m e n t a s poderá s e r r e a l i z a d o e m Educadores e a c o n t e c e a l g o p a r e c i d o . N o início d a a l -
benefício d a s crianças s e m c o r r e r m o s o fabetização, a l e i t u r a é l e n t a , t r u n c a d a ,
r i s c o d e discriminá-las.
médicos divergem e n e c e s s i t a m o s m o b i l i z a r t o d a a atenção
Entretanto, a ideia de que os p r i m e i r o s sobre as dificuldades para a tarefa. A o s poucos, v a m o s adqui-
a n o s d e v i d a r e p r e s e n t a r i a m u m período de aprendizagem r i n d o fluência, f r u t o d a automatização
crítico d e a p r e n d i z a g e m é q u e s t i o n a d a d o processo, e m u i t a s vezes n o s pega-
p o r a l g u n s n e u r o c i e n t i s t a s . C o m exceção
por conta da m o s l e n d o u m t e x t o e pensando e m as-
de d e t e r m i n a d a s h a b i l i d a d e s r e l a c i o n a - oposição entre um s u n t o s q u e n a d a têm a v e r c o m a l e i t u r a .
das à l i n g u a g e m , não há evidências d e olhar cultural e S a b e m o s há a l g u m t e m p o q u e o c e r e -
q u e o u t r a s h a b i l i d a d e s não p o s s a m s e r
outro mais biológico b e l o , e s t r u t u r a p r e s e n t e n a região p o s t e -
d e s e n v o l v i d a s após a p r i m e i r a infância. r i o r d o encéfalo, está e n v o l v i d o c o m a c o -
D e qualquer forma, resultados d e estu- ordenação d o s m o v i m e n t o s . A n o v i d a d e
d o s r e c e n t e s f o r n e c e m subsídios p a r a a é q u e o c e r e b e l o está a s s o c i a d o também
identificação d e i d a d e s m a i s a d e q u a d a s n o v i d a d e para pais e educadores. E n e m à cognição. A p r e n d e r a d i r i g i r e a l e r têm
p a r a o e n s i n o d a s e g u n d a língua. deveria ser para neurocientistas, pois e m c o m u m o fato de dependerem da au-
D e n t r e as várias dimensões d a l i n - s a b e m o s q u e a construção d o cérebro tomatização e o c e r e b e l o é e s s e n c i a l p a r a
g u a g e m , a pronúncia e a proficiência h u m a n o d u r a n t e a evolução t e m s i d o que isso o c o r r a . A chave para explicar
g r a m a t i c a l d e p e n d e r i a m d a exposição c a l c a d a n a interação s o c i a l . p o r q u e parte d o s estudantes c o m p r o -
m a i s p r e c o c e , a i n d a n a educação i n f a n - b l e m a s n a aquisição d a l e i t u r a também
til, para que a aprendizagem d a segunda •Aautomatização de processos apresenta dificuldades motoras prova-
língua fosse p l e n a . O vocabulário e o A i n d a falando de l e i t u r a e escrita, q u a n - v e l m e n t e está n o c e r e b e l o , c u j a a t i v i d a d e
p r o c e s s a m e n t o semântico, a o contrário, d o o p r o f e s s o r d e língua p o r t u g u e s a é a l t e r a d a n e s t a s situações. N e s t e caso, o
não d e p e n d e r i a m d e s s a exposição m a i s identifica u m aluno c o m dificuldades, t r a b a l h o d o p r o f i s s i o n a l d e educação físi-
p r e c o c e p a r a g a r a n t i r a aquisição. S e n d o e l e p r o c u r a o p r o f e s s o r d e educação fí- ca p o d e c o n t r i b u i r p a r a a automatização
assim, o p r o c e d i m e n t o d e algumas es- sica? E m g e r a l não, m a s t a l v e z f o s s e o dos m o v i m e n t o s e consequentemente
c o l a s d e r e t a r d a r a exposição à s e g u n d a caso. V a m o s n o s l e m b r a r d o q u e a c o n - p a r a a aquisição d e fluência n a l e i t u r a e
língua até o s 1 0 o u 1 2 a n o s t a l v e z d e v a tece q u a n d o a p r e n d e m o s a d i r i g i r : n a s n a e s c r i t a . M a i s q u e u m a t e n t a t i v a d e es-
s e r r e p e n s a d o . O u t r a conclusão q u e p o - p r i m e i r a s aulas, t e m o s d e pensar n o s t a b e l e c e r associações s i m p l i s t a s e n t r e es-
d e m o s tirar d e estudos recentes é q u e p e d a i s , o l h a r p a r a a posição d o câm- t r u t u r a s d o encéfalo, e m p a r t i c u l a r o ce-
a a p r e n d i z a g e m d a s e g u n d a língua é b i o , t o d a n o s s a atenção está v o l t a d a rebelo, e dificuldades d e aprendizagem,
mais significativa quando mediada por para a tarefa. C o m o passar d o t e m p o , esse e x e m p l o n o s m o s t r a a importância
p e s s o a s d o q u e q u a n d o são u t i l i z a d o s conseguimos dirigir, a o m e s m o t e m p o d a avaliação i n t e g r a d a d a s d i f i c u l d a d e s
a p e n a s r e c u r s o s c o m o televisão o u c o m - o u v i r música o u c o n v e r s a r . I s s o é p o s - do aluno, m e s m o que, aparentemente,
p u t a d o r e s . E s t e a c h a d o não é n e n h u m a sível p o r q u e , c o m a prática, o c o r r e u a elas não s e r e l a c i o n e m . N a m a i o r i a d a s
^EDUCAÇÃO
vezes, surgem intervenções mais adequa-
das para a solução do problema. ATIVIDADE CEREBRAL DURANTE O SONO
A imagem de uma rede é bastante uti-
T é c n i c a s utilizadas pelos do que c h a m a m o s de c o g n i ç ã o
lizada para descrever o emaranhado for-
neurocientistas nas ú l t i m a s d é c a d a s social, depende da integridade d a s
mado por neurónios e seus prolongamen- possibilitaram a descoberta de que, á r e a s cerebrais citadas. Durante o
tos unidos pelas sinapses. Este termo foi ao c o n t r á r i o do que se pensava sono, e s t a r í a m o s com a c o g n i ç ã o
emprestado da engenharia e incorporado anteriormente, o c é r e b r o e s t á muito s o c i a l comprometida m a s , a o
ao vocabulário da neurociência há várias atlvo durante o sono. Há q u a s e um m e s m o tempo, livres do s e u "freio",
consenso entre os pesquisadores gerando p e n s a m e n t o s m u l t a s
décadas. Diversos modelos computacio-
de que esta atividade cerebral, v e z e s absurdos. Por outro lado,
nais surgiram baseados neste conceito.
particularmente a dos sonhos, a b r e - s e e s p a ç o para a criatividade
Poderíamos dizer que o cérebro é forma- e s t á a s e r v i ç o da c o n s o l i d a ç ã o da e a s o l u ç ã o de p r o b l e m a s
do por uma gigantesca ou por inúmeras, a p r e n d i z a g e m . Todas a s noites, ao aparentemente i n s o l ú v e i s durante
quase infinitas, redes neurais entrelaçadas, dormir, atualtzamos nossas redes a v i g í l i a . Há pelo m e n o s d u a s
que são ativadas ou não em função da tare- neurais e refinamos nossos m a p a s consequências importantes destes
internos do mundo. A n á l i s e s mais achados r e l a c i o n a d a s à e d u c a ç ã o .
fa executada. Quando pensamos em maçã
precisas mostram que a principal A primeira é que o t e m a s o n o deve
ativamos determinada rede neural; um
d i f e r e n ç a entre a v i g í l i a e os sonhos ser abordado e m s a l a de a u l a ,
cachorro ativa outra e assim por diante. A é que a l g u m a s á r e a s das r e g i õ e s a s s i m como f a z e m o s com outros
rede neural ativada por uma banana tem p r é - f r o n t a l s e s t ã o inativadas no ligados à p r o m o ç ã o da s a ú d e . A
mais neurónios em comum com aquela m o m e n t o e m que s o n h a m o s . segunda c o n s e q u ê n c i a é que o
• As cores da emoção
E m meio a meus devaneios, fico pen-
sando como estas imagens de redes no
cérebro estariam relacionadas à contex-
tualização do conhecimento trabalhado
em sala de aula, ideia bastante presen-
te nos projetos pedagógicos das esco-
las. Suponha que queiramos abordar o
conceito de velocidade a partir do mo-
vimento de um veículo em uma turma
na qual quase todos os alunos chegam
à escola de bicicleta. Sem nos dar con-
ta disso, escolhemos um trem. Naquela
sala, apesar de os alunos saberem o que
é, nunca andaram de trem ou viram um,
pois n ã o há estações naquela cidade. A
imagem de um trem ativará algumas re-
des neurais. Entretanto, se escolhermos
a bicicleta, a ativação será muito maior,
os alunos recordarão experiências, mui-
tas delas significativas, que viveram com
CONVERGÊNCIAS
suas bicicletas. Sabemos que as cone- mos, então, mais um argumento a favor
x õ e s entre os neurónios s ã o reforçadas
O processo da p r e o c u p a ç ã o em planejarmos nossa
quando há um colorido emocional asso- prática em sala de aula a partir da reali-
ciado à experiência. É bastante plausível educacional exige o dade do aluno.
admitirmos que a chance de o conceito uso de ferramentas U m dos grandes desafios dos educa-
de velocidade ficar "ancorado" nestas
diversas, o que s ó dores é lidar com alunos que apresentam
redes ativadas pela bicicleta e tornar-se dificuldades de aprendizagem. Estas, se
t a m b é m significativo será muito maior
será p o s s í v e l com persistentes, devem ser avaliadas por pro-
do que se ele for trabalhado por meio do a c o n v e r g ê n c i a de fissionais das áreas pedagógica, médica e
trem. Por enquanto estas ideias n ã o pas-
profissionais de psicológica. Durante o processo de avalia-
sam de meros devaneios, mas n ã o me ção é muito comum surgirem divergên-
surpreenderia se no futuro descobrís-
v á r i a s áreas cias entre educadores e profissionais da
semos que n ã o estou enganado. Teria- área médica. Esta tensão surge, muitas ve-
Controle motor e a p r e n d i z a g e m
acerca de objetos físicos
Motora
sensorial
0 a 2 anos
Pré
operacional
2 a 7 anos
Desenvolvimento
de habilidades
sistemáticas e
OS QUATRO
l ó g i c a s e de
ESTÁGIOS EM
Desenvolvimento
raciocínio
PIAGET de habilidades
Formal verbais
operacional
12 a 15 anos
Concreta
operacional
I n í c i o da
7 a 12 anos
aprendizagem
de conceitos
abstratos
NEURO EDUCAÇÃO
zes, de uma oposição entre um olhar mais
biológico, por parte dos médicos, e outro
mais cultural, por parte dos educadores.
Nesta discussão, muitos educadores con-
sideram a neurociência uma das vilãs,
pois estaria a serviço da chamada medica-
lização das dificuldades de aprendizagem.
Penso que, ao contrário, neurocientistas
podem ajudar a facilitar o diálogo entre
profissionais com diferentes formações.
INg Ei aUi R
l rO
Wl E D U C A Ç Ã O
m
a gita| coípofale nous
A
CO e
expression
r=22 motivation-i
nj «
Isbusinessmaoft sign.E
I I mattef:
GO
.ssee
, adult ,
m.M circumstance
*|-business
betik positive
professiona'
study
dreaní ,.
fbusmesspeíple executive j §
businesswomaii • -
contrive lifestyle brainstorm
CURRÍCULO
tico-pedagógico, para implementação área nova, deve surgir t a m b é m uma lin- Frances Jones é Jornalista e tradutora.
igiaurwEDUCACAo
NEURO
•
D e s p e r t e o espírito d e s o l i d a r i e d a d e
e m sua escola.
ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA
À CRIANÇA DEFICIENTE
\ E COTIDlAÍXÍb
ESTÃO M A I S C O N E C T A D O S
D O Q U E V O C E I/I/IAGINA
E f e i t o E s t u f a : ação r e f l e t o r a q u e o dióxido d e c a r b o n o , o m e t a n o , o s
\ c l o r o f l u o r c a r b o n e t o s ( C F C s ) e o s ó x i d o s d e a z o t o t ê m s o b r e a radiação,
I r e e n v i a n d o - a p a r a a superfície t e r r e s t r e .
C BC •
CL
O
o
1 B I i !
1
11
C i m e n t o : m a t e r i a l cerâmico q u e , e m c o n t a t o c o m a água,
p r o d u z reação e x o t é r m i c a d e cristalização d e p r o d u t o s
h i d r a t a d o s , g a n h a n d o a s s i m r e s i s t ê n c i a mecânica.
•Pi
/REVISTAQUANTA
0 QUE.....
COM A NOVA
TABELA PERIÓDICA QUANTA w w w , revi s t a q u a n t a , inf.br
editora
segmento
F a z e r p o n t e s e n t r e a s ciências d a n a t u r e z a e a v i d a
c o t i d i a n a , e n t r e o s c o n h e c i m e n t o s d a química,
b i o l o g i a e d a física e a q u e l e s d a s ciências Central d e Atendimento
humanas, integrando o s campos. (11)3039-5666
Esta é a proposta d aREVISTA QUANTA. assinaturas@editorasegmento.com.br