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IEVISTA EDUCAÇÃO APRESENTA

EDUCAÇÃO editora .
segmento

N EURO C I Ê N C I A P S I C O L O G I A P E D A G O G I A

A CIÊNCIA D O
APRENDIZADO

7 mitos sobre o . Conhecer o cérebro


funcionamento faz falta ao pedagogo?
cerebral
Projetos conjuntos de
Até onde a neurociência neurocientistas,
embasa a prática psicólogos e educadores
do ensino * brasileiros
IX C o n g r e s s o B r a s i l e i r o
de Psicopedagogia - ABPp

I Simpósio I n t e r n a c i o n a l d e Neurociências,
Saúde M e n t a l e Educação - C E P P

P r o f i s s i o n a i s r e n o m a d o s d e várias U n i v e r s i d a d e s N a c i o n a i s e I n t e r n a c i o n a i s
estarão r e u n i d o s p a r a d i a l o g a r s o b r e os c o n c e i t o s e p e s q u i s a s d e relevância d a a t u a l i d a d e
n a s áreas d e P s i c o p e d a g o g i a , Neurociências, Saúde M e n t a l e Educação.

Palestrantes Convidados - Internacionais:


Alicia Fernandez (Argentina), Rafael Silva Pereira (Portugal), Ricardo Rudolfo (Argentina),
Sandra Torresi (Argentina), Stanley P. Kutcher (Canadá) e outros.
Palestrantes Convidados - Nacionais:
Adrianna Loduca, Albertina DuarteTakiuti, Beatriz Scoz,Cecília Gasparian, Claudia Costin, Diogo Lara, Edith Rubinstein,
Edson Amaro, Elvira Souza Lima, Emília Cipriano Sanches, Fábio Barbiratto, Irene Maluf, Jairo Bouer, Marco Arruda,
Maria Célia M. Campos, Maria de Betânia Paes Norgren, Mônica Mendes, Neide Noffs, Newra Rotta, Paulo Mattos,
Pierluigi Piazzi, Ronaldo Laranjeira, Rosana Mantilla de Souza,Yves de La Taille e outros de igual relevância.

TEMAS ABORDADOS DURANTE O EVENTO:


PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS, ENSINO E APRENDIZAGEM, PSICOPEDAGOGIA NA ESCOLA, NA CLÍNICA E NO HOSPITAL,
VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS, DROGAS, SEXUALIDADE, PLASTICIDADE CEREBRAL, ETC...

MAIS DE 40 ATIVIDADES: CURSOS, MINI-CURSOS, PAINÉIS, CONFERÊNCIAS, COLÓQUIOS, DEBATES,


WORKSHOPS, PALESTRAS E MESAS REDONDAS. BASTA SE INSCREVER E PARTICIPAR!

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De 5 a 8 d e j u l h o d e 2 0 1 2 - SãoPaulo

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M a i s i n f o r m a ç õ e s , p r o g r a m a ç ã o e inscrições n o s i t e :
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Si g a - n o s : w w w . f a c e b o o k . c o m / a b p p u n i f e s p

Presidente do IX Congresso Brasileiro de Psicopedagogia: Quézia Bombonatto


Vice Presidente do IX Congresso Brasileiro de Psicopedagogia: Luciana B.Almeida
Presidente do I Simpósio de Saúde Mental: Rodrigo Affonseca Bressan
Presidente do I Simpósio de Neurociências e Educação: Adriana Fóz

Local do evento:
UNIP - Campus Paraíso - Rua Vergueiro, 1211 - Paraíso - São Paulo - SP (entre as estações do metro Vergueiro e Paraíso)

REALIZAÇÃO PARCERIA ORGANIZAÇÃO

ê ^HSBtecai Centro de Estudos


PSICOPEDAGOGIA Paulista de Psiquiatria
EXTENSÃO COMUNITÁRIA
ABPp - Associação Brasileira de Psicopedagogia Proj.Cuca Legal/Psiquiatria/Unifesp CEPP/Psiquiatria/Unifesp
SUMÁRIO

VOCE SABIA? CONCEITOS


Educação: O que o cérebro Um ABC do cérebro
tem a ver com isso? P o r B r u n o d e l i a C h i e s a * (OCDE)

FRONTEIRAS NEUROMITOS
0 sábio equilíbrio entre Os impactos perigosos
entusiasmo e ceticismo das falsas ideias
Por Uta F r i t h ( R o y a i S o c i e t y ) P o r B r u n o d e l i a C h i e s a * (OCDE)

PERCURSOS CONVERGÊNCIAS
Uma pequena história A construção social
da arte de ensinar do cérebro
Por R e n a t o P o m p e u Por F e r n a n d o L o u z a d a

CONTEXTO CURRÍCULOS
BRASILEIRO A ciência do cérebro faz
O cérebro na sala de aula falta aos pedagogos?
Por F r a n c e s J o n e s Por F r a n c e s J o n e s

#
O E C D (2007), OECD, U n d e r s t a n d i n g t h e B r a i n : T h e Birth o f a L e a m i n g Science, OECD PubLishing.http://dx.doi.org/10.1787/9789264029132-4-en

_ditora
segmento

p r e s i d e n t e Edimllson Cardial REDAÇÃO comercial@revistaeducacao.com.br


d i r e t o r i a Camila Martinez, Mareio Cardial, D i r e t o r E d i t o r i a l Rubem Barros E x e c u t i v o s d e n e g ó c i o s Eliane Daniel,
Miriam Cordeiro, Rita Martinez e E d i t o r a Beatriz Rey Givani Dantas e Sueli Benetti
Rubem Barros beatrizrey@editorasegmento.com.br
S u b e d i t o r a Camila Ploennes ESCRITÓRIOS R E G I O N A I S
camilapLoennes@editorasegmento.com.br Paraná - M a r i s a O l i v e i r a
EDUCAÇÃO Estagiária d e c o n t e ú d o w e b TeL: (41) 3 0 2 7 - 8 4 9 0
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NEUROEDUCAÇÃO MEDIÇÃO César Salgado Brasília - José H e v a l d o M e n d e s
P r o d u ç ã o Gráfica Sidney Luiz dos Santos TeL: (61) 3 3 2 6 - 0 1 1 0 o u 9 9 8 5 - 1 9 2 0
P r o j e t o e e d i ç ã o Ana Claudia Ferrari Estagiária d e P r o d u ç ã o Gráfica jh@marketinglO.com.br
C o l a b o r a r a m n e s t a e d i ç ã o Luiz Roberto Isabela Elias
Malta (revisão), Frank de Oliveira e J ú l i o WEB
Oliveira (tradução), Antonieta P. Oliveira PUBLICIDADE G e r e n t e d e W e b Fabiano
( p r o j e t o gráfico e d i a g r a m a ç ã o ) G e r e n t e C o m e r c i a l Daisy Fernandes Haussman Vidal
C A P A Ilustração d e István Orosz.
O i l u s t r a d o r e d i r e t o r d e c i n e m a húngaro
é c o n h e c i d o p o r t r a b a l h o s c o m inspiração
matemática e d e ilusão d e óptica.
Premiado internacionalmente, seus
t r a b a l h o s t a m b é m estão n a m a i o r p a r t e

o d a s a b e r t u r a s d o s a r t i g o s d e s t a edição

u A CIÊNCIA D O A P R E N D I Z A D O
O N O M E É C O N T R O V E R T I D O , A O M E N O S N O B R A S I L . Não se trata ainda de u m a n o v a disciplina, a r g u m e n t a m alguns, e n q u a n t o
o u t r o s v e e m ameaçados os saberes específicos de seu c a m p o de atuação e reagem defensivamente. M a s o fato é que u m número crescente de
profissionais interessados e m discutir o alcance das descobertas sobre o f u n c i o n a m e n t o d o cérebro n o ensino t e m se a g l u t i n a d o ao redor d o
que os Estados U n i d o s e vários países da E u r o p a c h a m a m de ciência da m e n t e , cérebro e educação, o u neurociência educacional.
O grande potencial do trabalho c o n j u n t o de psicólogos, neurocientistas e educadores parece quase inquestionável, m a s ainda assim
u m a b o a dose de cautela tornou-se essencial desde que o prefixo n e u r o e x t r a p o l o u para territórios antes inimagináveis e " b o m para o cé-
rebro" v i r o u etiqueta nos mais diversos produtos. Pesquisadores da R o y a i Society de Londres, que assinam o t e x t o da página 8, a p o n t a m
as o p o r t u n i d a d e s e desafios para a educação diante da perspectiva de u m f u t u r o próximo e m que a prática educacional seja t r a n s f o r m a d a
pela ciência. E defendem a promoção de u m diálogo contínuo entre neurocientistas e profissionais de várias áreas para a construção de u m a
l i n g u a g e m c o m u m e bases sólidas para levar a neurociência até a sala de aula.
A discussão é fértil também n o Brasil. C o m o r e p o r t a Frances Jones n a página 2 6 , de N o r t e a S u l há projetos acenando c o m u m a signi-
ficativa contribuição n a v i d a de m i l h a r e s de crianças. E também n a de educadores, que já p o d e m se beneficiar de c o n h e c i m e n t o s biológicos
sobre o aprendizado, segundo m o s t r a F e r n a n d o L o u z a d a e m "A construção social d o cérebro", n a página 5 6 .
E m "Os impactos perigosos das falsas ideias", n a página 44, o g r u p o m u l t i d i s c i p l i n a r que integra o projeto Ciências d o A p r e n d i z a d o e
Pesquisa Cerebral, da O C D E , revela a verdade sobre os "neuromitos", conceitos que, e m b o r a m u i t a s vezes originários de a l g u m e x p e r i m e n t o
científico legítimo, acabaram ultrapassando as evidências.
O s debates sobre cérebro e ensino são relativamente recentes. E p o r m a i s i m p o r t a n t e que seja a busca constante de equilíbrio n a ava-
liação d o papel d o cérebro e da m e n t e , da genética e d o ambiente n o aprendizado, fica difícil discordar da frase d o pesquisador a m e r i c a n o
Leslie H a r t sobre a neurociência educacional: "ensinar s e m levar e m conta o f u n c i o n a m e n t o d o cérebro seria c o m o tentar desenhar u m a l u v a
s e m considerar a existência da mão".
B o a leitura!
Ana Claudia Ferrari, editora

A s s i s t e n t e d e w e b Jonatas Moraes Brito N a c i o n a l d e Publicações. E d i t o r a S e g m e n t o - R e v i s t a Educação


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A s s i s t e n t e Claudia Lino publicação e s p e c i a l d a E d i t o r a D e 2 a 6 f e i r a , d a s 8 h 3 0 às 1 8 h
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E v e n t o s Ana L ú c i a Souza S e g m e n t o . E s t a publicação TeL: (11) 3 0 3 9 - 5 6 6 6


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V e n d a s C l á u d i a Santos que expressam apenas o ou acesse www.editorasegmento.com.br
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PROJETOS EDUCACIONAIS representandonecessariamente
D i r e t o r Carlos Eduardo Sanches a opinião d a r e v i s t a . A
publicação s e r e s e r v a o d i r e i t o ,
Distribuição e x c l u s i v a p a r a t o d o p o r m o t i v o s d e espaço e c l a r e z a , ANER
de resumir cartas e artigos.
anatec
o Brasil: D i n a p S/A - D i s t r i b u i d o r a
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u EDUCAÇÃO
> O O U E O CÉREBRO T E M A V E R C O M I S S O ?
ESTIMA-SE QUE O CÉREBRO
A RESPOSTA É SIMPLES: T U D O . HUMANO tenha cerca de 100 bilhões
de neurónios que constantamente
O cérebro é a p a r t e m a i s i m p o r t a n t e d o
enviam sinais uns para os outros,
corpo, e s e m ele n a d a m a i s f u n c i o n a r i a . formando 40 quatrilhões de
A i n d a q u e f u n c i o n a s s e , j a m a i s teríamos conexões. É essa sinalização que cria
consciência d i s s o . E l e é o repositório d a a nossa mente.
memória, d a m e n t e e d o s s e n t i m e n t o s ;
o regente d a orquestra que é o corpo; a VOCÊ JÁTEVE UMA QUANTIDADE
AINDA MAIOR DE CÉLULAS E
s e d e d a consciência q u e é você.
CONEXÕES.Ao nascer, metade dos
T o d o s o s d i a s , e s s a peça d e p o u c o neurónios que você tinha quando era um
mais d e u m quilo d e "carne pensante" feto se perde. Na adolescência, a perda
n o s c o n d u z pelos afazeres h u m a n o s é ainda maior, pois o cérebro corta os
excessos para tornar-se mais eficiente.
ordinários e extraordinários - d o
despertar a o sono, passando p o r t u d o o
q u e s e dá e n t r e u m e o u t r o . O cérebro SEU CÉREBRO É GRANDE.Com
guia nossos atos, desde o s m a i s grosseiros seus muitos sulcos, circunvoluções
a o s m a i s s u t i s m o v i m e n t o s , emoções
e camadas, ocuparia uma área dez
vezes maior se fosse desdobrado
e p e n s a m e n t o s ; d a inconsciência a o sobre uma superfície plana.
c o m p l e t o d e s p e r t a r e até m e s m o à
hiperconsciência. P e r m i t e o b s e r v a r
ELE É UM SUGADOR DE
e s t r e l a s c o m o telescópio e moléculas a o ENERGIA. Embora ocupe apenas
microscópio - s e n d o e s t e s i n s t r u m e n t o s 2% do corpo, consome 20% da
c r i a d o s p e l o cérebro. energia corporal enquanto você
C o m o é graças a o cérebro q u e
está em repouso.
p o d e m o s aprender, conhecer os
mecanismos envolvidos n o aprendizado O CÉREBRO É CAPAZ DE PRODUZIR NOVOS
torna-se cada vez mais u m a necessidade NEURÓNIOS.Os cientistas estão descobrindo
que nosso mais importante órgão estabelece
para pais, professores e alunos. A o lado,
novas conexões e fabrica neurónios em algumas
a l g u m a s c u r i o s i d a d e s s o b r e e s s a incrível áreas, para atender a novas necessidades,
máquina q u e n o s f a z s e r o q u e s o m o s . continuando a fazê-lo até mesmo na velhice.

(Fonte: 24 horas por dia de seu cérebro, J u d i t h H o r s t m a n , Sclentífíc American Brasil)


N E U R O l EDUCAÇÃO
ELE É CAPAZ DE MUDAR.Adapta-se às experiências internas e externas para
assumir novas funções. Quanto mais você repetir uma ação ou pensamento, mais
espaço cerebral eles terão. Nos músicos, por exemplo, a parte do cérebro que
controla os dedos usados para tocar um instrumento é até 130% maior do que a
seção correspondente nas outras pessoas. Embora a adaptabilidade seja maior nos
mais jovens, mesmo um cérebro envelhecido pode aprender novos truques.

SEU CÉREBRO SE PODA


SOZINHO.Como um
jardineiro que apara
roseiras, o cérebro
enfraquece as conexões
menos usadas e fortalece
as úteis, o que acaba por
melhorara memória.

O ESTRESSE
PODE MURCHAR
O CÉREBRO.
Já a meditação
e o exercício o
fortalecem e o
tornam mais capaz
de aliviar o estresse.

A SUPERFÍCIE
CEREBRALÉ
COMPLETAMENTE
INSENSÍVELVocê
poderia tocá-la (e os
cirurgiões o fazem)
sem sentir nada.
Somente quando
as partes internas
são estimuladas,
você sente algo, seja
táctil, seja emocionaL
Isso permite
que os pacientes
permaneçam
conscientes enquanto
os médicos realizam
delicadas cirurgias
D e t a l h e d o i n t e r i o r d o crânio e m u m a d a s 2 5 0 ilustrações d e u m m a n u a l para e n f e r m e i r o s cerebrais.
p u b l i c a d o e m Paris e m 1 9 0 7 (Manuel des hospltalíères et des gardes-malades)
O SÁBIO EOUILÍBRIO E N T R E
ENTUSIASMO E CETICISMO

A "neurociência educação é n o s s o m a n a n c i a l d e saúde, r i q u e z a e f e l i c i d a d e . A p r e n d e r n o s


^ ^ p e r m i t e t r a n s c e n d e r o s l i m i t e s físicos d a evolução biológica. E isso graças a o
educacional" cérebro, n o s s o m a i s i m p o r t a n t e órgão. E m b o r a m u i t o s d o s p r o c e s s o s cerebrais
apresenta e n v o l v i d o s n o a p r e n d i z a d o permaneçam d e s c o n h e c i d o s , o s avanços recentes n a
oportunidades neurociência l e v a n t a m u m a questão u r g e n t e : até q u e p o n t o tais processos p o d e m
e m b a s a r u m a n o v a a b o r d a g e m d a educação?
e desafios para O rápido p r o g r e s s o das p e s q u i s a s neurocientíficas t e m n o s a j u d a d o a c o m p r e e n -
a educação. E d e r de n o v a s f o r m a s as a t i v i d a d e s d e e n s i n a r e a p r e n d e r . M u i t o m a i s q u e m e m o r i z a r
a chance de fatos e d e s e n v o l v e r h a b i l i d a d e s , e l o n g e d e estar c o n f i n a d a aos a n o s escolares, a e d u -
cação d e s e m p e n h a u m p a p e l p r i m o r d i a l a o l o n g o d e t o d a a v i d a e capacita pessoas
construir pontes de q u a l q u e r i d a d e a e n f r e n t a r desafios económicos, doenças e e n v e l h e c i m e n t o . O
entre educadores, n o v o c a m p o d a neurociência e d u c a c i o n a l , também c h a m a d a d e ciência d a m e n t e ,
psicólogos e cérebro e educação, i n v e s t i g a a l g u n s d o s p r o c e s s o s básicos presentes n a alfabetiza-
ção, além d o m e c a n i s m o d e a p r e n d e r a a p r e n d e r , c o n t r o l e c o g n i t i v o , flexibilidade,
neurocientistas motivação e experiências sociais e e m o c i o n a i s . A convergência de áreas q u e d u r a n -
pode estar neste te m u i t o t e m p o p e r m a n e c e r a m d i s t a n t e s a p r e s e n t a o p o r t u n i d a d e s e desafios p a r a
novo campo da a educação. E f o r n e c e m e i o s p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o d e u m a l i n g u a g e m c o m u m e
p a r a a construção d e p o n t e s e n t r e e d u c a d o r e s , psicólogos e n e u r o c i e n t i s t a s . C o m
ciência isso, c r i a condições p a r a u m f u t u r o e m q u e a prática e d u c a c i o n a l p o s s a ser t r a n s f o r -
m a d a p e l a ciência.
N e s t e a r t i g o , c o n s i d e r a m o s a l g u n s p r e s s u p o s t o s - c h a v e d a neurociência capazes
de l e v a r a t a l transformação. O p r i m e i r o é a constatação d e q u e o s r e s u l t a d o s d o
a p r e n d i z a d o não são u n i c a m e n t e d e t e r m i n a d o s p o r f a t o r e s e x t e r n o s . Característi-
cas biológicas têm u m p a p e l i m p o r t a n t e e e x p l i c a m as diferenças n a c a p a c i d a d e d e
a p r e n d e r . O s e g u n d o , o f a t o d e o cérebro m u d a r c o n s t a n t e m e n t e e m decorrência
d o a p r e n d i z a d o e p e r m a n e c e r "plástico" p o r t o d a a v i d a . A p r e n d e r u m a h a b i l i d a d e
a l t e r a o cérebro, e q u a n d o cessa a prática, a alteração se r e v e r t e . P o r t a n t o , "use-o o u
p e r c a - o " é u m princípio f u n d a m e n t a l p a r a o a p r e n d i z a d o contínuo.

#
T e x t o a d a p t a d o d o relatório d a R o y a i S o c i e t y d e L o n d r e s , a s s i n a d o p e l o g r u p o d e t r a b a l h o
presidido pela professoraUta Frith da University College London
FRONTEIRAS

A educação afeta o b e m - e s t a r d a s p e s -
soas e t e m benefícios económicos, s e g u n -
d o o e s t u d o d a Organização p a r a a C o o -
peração e D e s e n v o l v i m e n t o Económico
( O C D E ) "The H i g h Cost o f L o w Educatio-
nal Performance, T h e L o n g - r u n E c o n o m i c
Impact o f Improving Educational Outco-
mes", d e 2 0 1 0 . É a l t o o c u s t o económico e
s o c i a l d e u m s i s t e m a e d u c a c i o n a l q u e não
facilita o a p r e n d i z a d o contínuo e p a r a t o -
dos. F e l i z m e n t e , já a c u m u l a m o s c o n h e c i -
m e n t o científico s u f i c i e n t e p a r a b e n e f i c i a r
t o d o s o s g r u p o s d e "aprendizes", s e j a m eles
crianças, j o v e n s , a d u l t o s o u i d o s o s .
Pessoas sem parentesco Gémeos Gémeos
É i n s p i r a d o r v e r o i n t e r e s s e público (referência) fraternos idênticos
d i a n t e d a aplicação d a neurociência n a e d u -
w Pessoas sem
cação. N o e n t a n t o , ele é g e r a l m e n t e a c o m -
p a n h a d o d e u m acesso r e s t r i t o a o s n o v o s ' /» HI Mai
c o n h e c i m e n t o s e d e concepções erróneas ) % • + parecidasP A R

acerca das descobertas neurocientíficas (ver A H l Sem di


Os impactos perigosos das falsas ideias, pág.
Média da diferença de
44). U m equilíbrio c o n s t r u t i v o e n t r e e n t u - massa cinzenta (porcenta-
s i a s m o e ceticismo, c o m b i n a d o c o m m e - gem das diferenças normais)
l h o r troca de c o n h e c i m e n t o s entre cientis-
tas e e d u c a d o r e s p o d e r e s o l v e r o p r o b l e m a . <().0001\
0.00 ll
0.011
• O cérebro que aprende 0.051
A neurociência é o e s t u d o empírico d o >0.05 l

cérebro e d o s i s t e m a n e r v o s o . O cérebro
é o órgão q u e p e r m i t e n o s s a adaptação
PAUL THOMPSON examinou o cérebro de 20 gémeos idênticos e 20 gémeos fraternos por meio
a o m e i o . O q u e s i g n i f i c a , e m essência, de ressonância magnética e comparou com o de indivíduos sem parentesco (azul, à esquerda).
aprender. Pouco a p o u c o neurocientistas Mapas genéticos tridimensionais com cores diversas mostram a diferença entre a massa cinzenta
e a branca. Gémeos idênticos, que têm a mesma composição genética, apresentam virtualmente
d e s v e n d a m a influência d a genética n o a mesma quantidade de massa cinzenta, o que não acontece com fraternos. Irmãos fraternos
aprendizado ao longo d a vida, somada têm 30% das diferenças normais entre as pessoas sem parentesco (vermelho, no meio) e e suas
afinidades estão amplamente restritas ao córtex sensorial e às áreas envolvidas na linguagem.
aos fatores a m b i e n t a i s . C o m a elucidação Gémeos idênticos têm apenas entre 10% e 30% das diferenças normais (vermelho e rosa) no
dessa c o m p l e x a relação, será possível i d e n - córtex frontal, sensorial/motor e de linguagem, sugerindo um forte controle genético da estru-
tura cerebral nessas regiões, mas não em outras (azul; a relevância desses efeitos é mostrada na
tificar indicadores-chave para melhores
mesma escala de cor).
r e s u l t a d o s n a educação e o b t e r u m a b a s e
N A T U R E Z A VERSUS CRIAÇÃO
científica p a r a a avaliação d e d i f e r e n t e s
I P e s q u i s a d o r e s d e s e n v o l v e r a m u m método p a r a m o s t r a r c o m o g e n e s p o d e m i n -
abordagens de ensino. f l u e n c i a r a e s t r u t u r a c e r e b r a l e a inteligência. P a u l M . T h o m p s o n , d a U n i v e r s i d a d e
O s seres h u m a n o s d i f e r e m i m e n - d a Califórnia, e c o l e g a s , d e s c o b r i r a m q u e o v o l u m e d e a l g u m a s regiões d o cérebro,
e s p e c i a l m e n t e a q u a n t i d a d e d e m a s s a cinzenta n ap a r t e f r o n t a l , é herdado. D u r a n t e
s a m e n t e e m s u a r e s p o s t a à educação,
a l g u m tempo, cientistas suspeitaram q u e a massa cinzenta fosse a chave d a inteli-
e t a n t o genes q u a n t o a m b i e n t e c o n t r i - gência. N o e n t a n t o , a p e n a s u m c e r t o g r a u d e inteligência é g e n e t i c a m e n t e p r e d e -
b u e m p a r a isso. T r a b a l h o s c o m gémeos terminado antes d o nascimento. Para T h o m p s o n , "parte d e nossas habilidades para
idênticos, c u j a composição genética é solucionar problemas é herdada, m a s apenas 1 0 % a 1 5 % ,o q u esignifica q u eo s efei-
t o s d o m e i o e d o a p r e n d i z a d o - o u s e j a , d o s f a t o r e s não-genéticos - têm p a p e l d e t e r -
a m e s m a , m o s t r a r a m q u e eles são m a i s m i n a n t e n a construção d a e s t r u t u r a c e r e b r a l , inteligência e d e s e m p e n h o e m t e s t e s " .
semelhantes e m personalidade, habilida- O u t r a região h e r d a d a g e n e t i c a m e n t e f o i e n c o n t r a d a n a l a t e r a l d o hemisfério e s q u e r -
des d e l e i t u r a e cálculo q u e gémeos não d o , c o n h e c i d a c o m o área d e W e r n i c k e , c u j o p a p e l n a l i n g u a g e m é f u n d a m e n t a l . G é -
m e o s idênticos t a m b é m m o s t r a r a m t e r a s r e g i õ e s c e r e b r a i s l i g a d a s à l i n g u a g e m e às
idênticos, c o m composição genética d i - habilidades d eleitura mais similares.
v e r s a . E n q u a n t o já é a m p l a m e n t e a c e i t o

N E U R O l EDUCAÇÃO
q u e as diferenças i n d i v i d u a i s p o d e m t e r v a s através d e m e d i c a m e n t o s c o n h e c i d o s
u m a b a s e n o s g e n e s , as influências gené- Há fortes evidências c o m o "pílulas d a inteligência", a c r e d i t a m o s
t i c a s n o d e s e n v o l v i m e n t o e função c e r e -
b r a i s a i n d a não são b e m c o m p r e e n d i d a s .
de que fatores q u e a educação é o m a i s p o d e r o s o e eficaz
aprimorador cognitivo. O aprimoramen-
E m b o r a as predisposições genéticas genéticos implicam t o c o g n i t i v o refere-se à d e s t r e z a m e n t a l
p o s s a m p a r c i a l m e n t e e x p l i c a r diferenças deficiências de aumentada, p o r exemplo, a capacidade
n a h a b i l i d a d e d e l e i t u r a , não existe u m
aprendizagem, de resolver p r o b l e m a s o u m e m o r i z a r i n -
único g e n e q u e faça d e nós b o n s l e i t o r e s . formações, e g e r a l m e n t e está r e l a c i o n a d o
A o contrário, há múltiplos, e o e f e i t o i n d i - p o r é m é difícil ao uso de medicamentos o u tecnologias
v i d u a l d e c a d a u m é p e q u e n o . Além disso, identificar um único sofisticadas. N o e n t a n t o , q u a n d o c o m p a -
os g e n e s p o d e m ser " l i g a d o s " o u "desliga- gene responsável r a d a a esses m e i o s , a educação a i n d a p a -
dos" p o r fatores ambientais c o m o dieta, rece ser o m a i s a m p l o e c o n s i s t e n t e m e n t e
exposição a t o x i n a s e interações sociais. E bem-sucedido aprimorador cognitivo. A
n o s s o c o n h e c i m e n t o a t u a l não n o s p e r m i - m e n t e ativadas, o q u e ocorre e m cone- educação p e r m i t e o acesso a estratégias
t e m e n s u r a r a a t i v i d a d e n u m a d a d a região xões d e u s o f r e q u e n t e . O e f e i t o é c o n h e - d e p e n s a m e n t o a b s t r a t o q u e , além d e p o -
c e r e b r a l p a r a d e t e r m i n a r se a q u e l e é o cé- cido c o m o plasticidade dependente d a d e r e m ser a p l i c a d a s n a resolução d e u m a
r e b r o d e u m b o m o u m a u leitor. A v a r i a - experiência e n o s a c o m p a n h a a v i d a t o d a . v a s t a g a m a d e p r o b l e m a s , a u m e n t a m a fle-
ção e n t r e as p e s s o a s é e n o r m e e as relações A neuroplasticidade permite q u e o x i b i l i d a d e m e n t a l . E também n o s c a p a c i t a
cérebro c o m p o r t a m e n t o , c o m p l e x a s . cérebro l e v e c o n t i n u a m e n t e e m c o n s i d e r a - a r e a l i z a r f e i t o s q u e não s e r i a m possíveis
A composição genética s o z i n h a não ção o a m b i e n t e e a r m a z e n e o s r e s u l t a d o s s e m essas f e r r a m e n t a s c u l t u r a i s , i n c l u i n d o
m o l d a a capacidade d e aprendizado de d o a p r e n d i z a d o s o b a f o r m a d e memórias. as c o n q u i s t a s d a ciência.
u m a p e s s o a ; a predisposição i n s c r i t a n o s O q u e i m p l i c a estar p r e p a r a d o p a r a e v e n - A educação p o d e c o n s t r u i r a r e s e r v a
g e n e s i n t e r a g e c o m influências a m b i e n t a i s t o s f u t u r o s c o m b a s e n a experiência. c o g n i t i v a e a resiliência, o u seja, n o s s a
e m t o d o s o s níveis. A s s i m c o m o a l t u r a e E m b o r a exista u m desejo generaliza- r e s p o s t a a d a p t a t i v a a e v e n t o s traumáti-
pressão a r t e r i a l , as c a p a c i d a d e s d e a p r e n - d o d e a p r i m o r a r as h a b i l i d a d e s c o g n i t i - c o s e e s t r e s s a n t e s e às doenças, i n c l u i n d o
d i z a d o h u m a n a s também v a r i a m . E a s s i m lesão c e r e b r a l , t r a n s t o r n o s m e n t a i s e e n -
c o m o a a l t u r a e a pressão, a m a i o r p a r t e pvr pictures presants velhecimento. A m b a s p o d e m ser forta-
das variações n a c a p a c i d a d e d e a p r e n d e r é lecidas durante a v i d a . A s pesquisadoras
r khan producrions'
e x p l i c a d a p o r múltiplas influências gené- da Universidade d e C a m b r i d g e Jennifer
ticas e a m b i e n t a i s e c a d a u m a delas p o d e Barnett e Barbara Sahakian m o s t r a r a m
t e r u m p e q u e n o i m p a c t o . A neurociência u m a relação i n v e r s a e n t r e e s c o l a r i d a d e
t e m o potencial d e n o s ajudar a enten-
z a ^ e e N e r i s c o d e demência, o q u e s i g n i f i c a q u e
m a n t e r a m e n t e a t i v a d e s a c e l e r a o declí-
d e r as predisposições genéticas d a f o r m a
Par n i o c o g n i t i v o e m e l h o r a as h a b i l i d a d e s
c o m o se m a n i f e s t a m n o cérebro, e c o m o
c a d a predisposição p o d e s e r construída W R / CHJLp JL,« cognitivas e m adultos.
p e l a educação e criação.
produced & directed by • Diferenças individuais
• A contínua transformação aamir khan Há u m a a m p l a variação n a c a p a c i d a d e d e
O cérebro está c o n s t a n t e m e n t e se t r a n s - aprendizado; alguns l u t a m para aprender
f o r m a n d o e t u d o o q u e fazemos altera e m t o d o s o s domínios, e n q u a n t o o u t r o s
n o s s o m a i s i m p o r t a n t e órgão. E s s a s m u - têm p r o b l e m a s específicos, c o m línguas
danças p o d e m s e r efémeras o u d u r a - o u matemática. Inúmeras evidências s u -
douras. Q u a n d o d o r m i m o s , andamos, g e r e m q u e pessoas c o m d i f i c u l d a d e s d e
falamos, observamos, refletimos, inte- a p r e n d i z a d o estão s o b r i s c o a u m e n t a d o
• Taare Zameen Par, filme d a p r o d u ç ã o
r a g i m o s , e a p r e n d e m o s , o s neurónios d e B o l l y w o o d , c o n t a a história d e I s h a a n
de p o u c a adaptação s o c i a l e d e s e m p r e g o ,
d i s p a r a m . O cérebro t e m u m a a d a p t a b i - Awasthi, u m m e n i n o q u e sofre de dislexia o q u e i m p l i c a custos substanciais para
l i d a d e extraordinária, a c h a m a d a " n e u - e custa a ser compreendido. Aos 9 anos, a s o c i e d a d e e a urgência d e e n c o n t r a r
corre o risco de repetir de a n o n o v a m e n t e .
r o p l a s t i c i d a d e " . I s s o se d e v e a o p r o c e s s o abordagens educativas q u e f u n c i o n e m .
A s l e t r a s dançam e m s u a f r e n t e , c o m o
p e l o q u a l as conexões e n t r e o s neurónios d i z , e e l e não c o n s e g u e a c o m p a n h a r a s D i v e r s o s n e u r o c i e n t i s t a s têm b u s c a d o
se f o r t a l e c e m q u a n d o são simultânea- a u l a s n e m f o c a r s u a atenção i d e n t i f i c a r as bases c e r e b r a i s dessas d i f i -

ar
TAXISTAS LONDRINOS RECOMENDAM:TREINE SEU CÉREBRO

Eleanor Maguire, professora da University College London, habilidades especificas t a m b é m foram detectadas para música
comprovou que mesmo na vida adulta o aprendizado pode e dança. Isso ilustra o que queremos dizer por plasticidade
mudar a estrutura c e r e b r a l A neuroclentlsta analisou o c é r e b r o que depende da e x p e r i ê n c i a . A c o m p o s i ç ã o genética apenas
de taxistas londrinos, que para conseguir sua licença t ê m de em parte Influencia o que sabemos e como nos comportamos;
obter the k n o w l e d g e " - o profundo conhecimento de cerca
M
muito depende de fatores ambientais que determinam o que
de 25 mil ruas e de seus t r a ç a d o s Idiossincráticos, a l é m de experimentamos. A e d u c a ç ã o é o fator mais proeminente.
I n ú m e r o s monumentos. O duro treinamento Leva cerca de 3 A l t e r a ç õ e s d i n â m i c a s na conectividade do c é r e b r o
anos, e apenas metade dos candidatos tem sucesso. continuam ao longo da vida. As c o n e x õ e s cerebrais mudam
O estudo revelou que a massa cinzenta dos taxistas de maneira progressiva durante o desenvolvimento por
aumentou com a m e m o r i z a ç ã o do complexo layout da capital um tempo surpreendentemente longo. Por exemplo, as
Inglesa, ajudando os motoristas a armazenar o detalhado c o n e x õ e s na parte frontal do c é r e b r o envolvidas no controle
mapa mental da cidade. Os pesquisadores usaram um do Impulso e e m outras f u n ç õ e s executivas são suprimidas
aparelho de ressonância m a g n é t i c a funcional (RMf), que mede durante a a d o l e s c ê n c i a e mais tarde. Mesmo depois destas
as mudanças no fluxo s a n g u í n e o dentro do cérebro, para m u d a n ç a s , a plasticidade d e p e n d e n t e da e x p e r i ê n c i a
examinar a ativldade das c é l u l a s de Localização enquanto permanece durante toda a vida.
taxistas se moviam num ambiente de
realidade virtual (Imagem ao lado). E • O hipocampo de um taxista londrino licenciado é ativado quando ele navega
na Londres virtual do videogame da Sony durante R M f . O volume dessa estrutura
observaram que quanto mais e x p e r i ê n c i a
cerebral aumenta quanto mais conhecimento e s p a c i a l e e x p e r i ê n c i a ele adquire
os motoristas adquiriam, maior era seu
hipocampo, a estrutura cerebral associada
à localização espacial e m e m ó r i a .
Assim como atletas precisam treinar
os músculos, há multas habilidades e m
que as necessidades de treino devem ser
continuadas para manter as m u d a n ç a s
cerebrais. No caso dos taxistas Londrinos,
houve reversão das m u d a n ç a s cerebrais
após aposentadoria, quando eles n ã o
mais empregavam sua m e m ó r i a espacial
e habilidades de n a v e g a ç ã o . M u d a n ç a s
© Spiers H l , Maguire E A 2006 T h o u g h t s ,behaviour, and brain dynamlcs
no cérebro adulto depois da a q u i s i ç ã o de
during navigationin t h e real world. Neuroimage. 31,1826-1840

culdades. E n q u a n t o as p e s q u i s a s avançam, n o caso d o t r a n s t o r n o d e déficit d e atenção b r o . I s s o p o r q u e m e s m o d e n t r o de u m a ca-


a u m e n t a m as p e r s p e c t i v a s p a r a i d e n t i f i - e hiperatividade ( T D A H ) . t e g o r i a d e diagnóstico c o m o a d i s l e x i a d e
cação e diagnóstico, e p a r a e l a b o r a r i n t e r - E s s e q u a d r o não está r e s t r i t o à infân- d e s e n v o l v i m e n t o , há variações anatómicas
venções a d e q u a d a s q u e a j u d e m p e s s o a s d e c i a e p o d e p e r d u r a r . Não há n e n h u m 'tes- s u b s t a n c i a i s e n t r e u m indivíduo e o u t r o .
d i f e r e n t e s faixas etárias. t e psicológico' n o m o m e n t o p a r a d e t e c t a r O a p r i m o r a m e n t o d o diagnóstico das de-
Parte significativa dos estudos concen- o t r a n s t o r n o , a p e n a s testes d e c o m p o r t a - ficiências d e a p r e n d i z a g e m p o r m e i o d e
t r o u - s e e m p r o b l e m a s m a i s específicos d e m e n t o . Além d i s s o , t a m p o u c o e x i s t e u m a avanços d o s métodos d e n e u r o i m a g e m e
aprendizado, c o m o a dislexia e a discalcu- l i n h a clara entre n o r m a l i d a d e e a n o r m a - a p r i m o r a m e n t o d e testes c o g n i t i v o s p o d e
l i a , n o s q u a i s a criança e n f r e n t a considerá- l i d a d e : o diagnóstico é f e i t o q u a n d o as ser e s p e r a d o p a r a a próxima década.
v e i s obstáculos p a r a o domínio d a l e i t u r a dificuldades i n t e r f e r e m n o cotidiano e A i n d a q u e h a j a f o r t e s evidências d e
e d a matemática. P e s q u i s a d o r e s i d e n t i f i - n a escolaridade. q u e f a t o r e s genéticos estão i m p l i c a d o s e m
c a r a m déficits c o g n i t i v o s subjacentes q u e p r o b l e m a s específicos d e a p r e n d i z a g e m ,
p o d e m s e r a v a l i a d o s p o r testes e x p e r i - • A dificuldade de diagnóstico é difícil i d e n t i f i c a r u m único g e n e c o m o
mentais e que talvez e x p l i q u e m outras d i - E m b o r a pesquisadores t e n h a m m o s t r a d o responsável. M u i t o s deles estão e n v o l v i -
ficuldades. M u i t a s crianças têm p r o b l e m a s a existência d e c o r r e l a t o s cerebrais das d i - dos e s e u impacto depende d o m e i o . E
para entender o u produzir a linguagem ficuldades d e a p r e n d i z a d o , essas " m a r c a s " m e s m o q u e u m r i s c o genético o u b a s e
falada, h a b i l i d a d e s m o t o r a s d e f i c i e n t e s e são s u t i s e c o m p l e x a s . A i n d a não é possível neurológica p a r a t a l deficiência p o s s a s e r
ainda s i n t o m a s marcantes de falta de aten- p r e v e r o u a v a l i a r u m p r o b l e m a específico l o c a l i z a d o , i s s o não s i g n i f i c a q u e u m a
ção, h i p e r a t i v i d a d e e i m p u l s i v i d a d e , c o m o d e a p r e n d i z a d o e m t o m o g r a f i a s d o cére- p e s s o a seja i n c a p a z d e a p r e n d e r ; s i g n i f i c a
3
a n t e s q u e é necessário i d e n t i f i c a r suas b a r - não é possível p o r f a l t a d e r e c u r s o s . N e s s e
r e i r a s específicas d e a p r e n d i z a d o e e n c o n - c o n t e x t o , as t e c n o l o g i a s d e e n s i n o têm o
trar caminhos alternativos. potencial de desempenhar papel comple-

p
O e s t u d o d a d i s l e x i a p e l a combinação SI
m e n t a r ao d o professor ajudando n o t r e i n o
d e métodos c o g n i t i v o s e d e n e u r o i m a g e m S/SM d e a t i v i d a d e s específicas d e a p r e n d i z a d o .
i l u s t r a q u e é possível i d e n t i f i c a r b a r r e i r a s Pesquisadores i d e n t i f i c a r a m a fraca
n e u r o c o g n i t i v a s p a r a a p r e n d e r e fazer s u - percepção d o s números c o m o u m a c a u s a
gestões d e estratégias d e e n s i n o a d e q u a - subjacente d a deficiência d e a p r e n d i z a d o
das. O u t r a s d i f i c u l d a d e s n o a p r e n d i z a d o aritmético ( d i s c a l c u l i a ) . Jogos d e c o m -
p o d e m se beneficiar d o m e s m o t i p o d e Seres humanos putador f o r a m desenvolvidos para q u e
a b o r d a g e m . Crianças disléxicas têm p a -
drões a n o r m a i s d e ativação e m áreas d o
diferem muito a l u n o s t r e i n e m a compreensão d e núme-
r o s a d e q u a d o s a o s e u nível; p o r e x e m p l o ,
cérebro e n v o l v i d a s n a l i n g u a g e m e l e i t u r a . em sua resposta à i n t r o d u z i n d o números m a i o r e s c o n f o r m e
A aplicação d o c o n h e c i m e n t o alcançado educação e tanto avançam. P r o g r a m a s a d a p t a t i v o s s i m u -
c o m estas p e s q u i s a s p a r a m e l h o r a r a i n t e r -
a composição l a m u m p r o f e s s o r q u e c o n s t a n t e m e n t e se
venção está a i n d a e m seus estágios i n i c i a i s . a d a p t a à compreensão a t u a l d o a l u n o , q u e
O estudo do T D A H nos lembra que
genética quanto g a n h a m u i t o m a i s prática e estímulo.
o f u n c i o n a m e n t o d o cérebro é a f e t a d o p o r fatores externos E m b o r a seja p r e c i s o a v a l i a r o s p r o g r a -
níveis d e n e u r o t r a n s m i s s o r e s q u e i n f l u e n - contribuem para isso m a s d e t r e i n a m e n t o cerebral, e o uso d a
c i a m a c o n e c t i v i d a d e e n t r e as regiões cere- neurociência n o diagnóstico c o m a m a i o r
b r a i s e o s níveis d e excitação o u inibição. cautela, há d a d o s s u g e r i n d o q u e , c o m a
Pesquisas c o m n e u r o i m a g e n s c o m b i n a d a s p o d e s e r decorrência d a i d a d e m e n o r prática, o t r e i n a m e n t o p o d e m e l h o r a r o
c o m intervenções farmacêuticas p o d e m d e u m a criança q u e a média d a t u r m a , é d e s e m p e n h o e m a t i v i d a d e s específicas.
fornecer insights d e mecanismos neurais confundida c o m T D A H . Por o u t r o lado, U m a questão básica é s e esses e f e i t o s se
subjacentes t a i s c o m o o c o n t r o l e d e c o m - a f a l t a d e diagnóstico às vezes d e c o r r e d e t r a n s f e r e m p a r a o u t r a s tarefas. N a m a i o r
portamento n o T D A H , d oqual u m dos u m a c e r t a aceitação acrítica das diferenças p a r t e d o s estudos, m o s t r a r a m - s e a l t a m e n -
sintomas é justamente a dificuldade n o i n d i v i d u a i s e d a d i f i c u l d a d e tão a n t i g a e m t e c i r c u n s t a n c i a d o s . A i n d a a s s i m , há u m
controle d e impulso. U m objetivo futuro fazer q u a l q u e r distinção e n t r e c o m p o r t a - considerável interesse e m u m p r o g r a m a d e
é estabelecer t r e i n a m e n t o s c o g n i t i v o s q u e m e n t o n o r m a l e a n o r m a l . C o m métodos t r e i n o d e memória q u e p o d e l e v a r à m e -
influenciem o m e s m o circuito neural. a p r i m o r a d o s d e testes d e c o m p o r t a m e n t o , l h o r a d a h a b i l i d a d e d e raciocínio e a u t o r -
Há u m a d i s s e m i n a d a crença e m a l - b a s e a d o s e m d e s c o b e r t a s neurocientíficas regulação. D e s e n v o l v i d o p o r T o r k e l K l i n -
g u n s círculos d e q u e o T D A H é u m a e t i - e genéticas, será possível m e l h o r a r a a b o r - g b e r g , d o I n s t i t u t o K a r o l i n s k a , n a Suécia,
queta conveniente usada para justificar d a g e m a t u a l p a r a diagnóstico d e t o d o s o s o t r a b a l h o t e v e s u a eficácia d e m o n s t r a d a
m a u comportamento, c o m u m a preocu- transtornos de n e u r o d e s e n v o l v i m e n t o . (ver quadro na pág. 14). A o t r e i n a r a m e -
pação c o r r e s p o n d e n t e d e q u e a medicação mória d e t r a b a l h o - a h a b i l i d a d e d e m a n t e r
está s e n d o u s a d a p a r a c o n t r o l a r o q u e é • O apoio da tecnologia informações n a m e n t e p o r u m c u r t o t e m -
essencialmente c o m p o r t a m e n t o n o r m a l . A i n d a q u e n e u r o c i e n t i s t a s não s e j a m c a - p o , f o c a r n u m a t a r e f a e l e m b r a r o q u e fazer
A neurociência f o r n e c e evidências pazes d e d e t e r m i n a r a f o r m a exata d e i n - e m seguida - o pesquisador m o s t r o u que
c o n c r e t a s d a s diferenças biológicas e n t r e tervenção a s e r f e i t a n u m t i p o p a r t i c u l a r a u m e n t a r a m as c h a n c e s d o s p a r t i c i p a n t e s
crianças c o m T D A H e s e m o t r a n s t o r n o , d e d i f i c u l d a d e d e a p r e n d i z a d o , eles p o d e m d e se c o n c e n t a r , i g n o r a r as distrações, p l a -
m a s a i n d a a s s i m p r e c i s a m o s estar a l e r t a s sugerir a natureza do conceito o u habilida- n e j a r o s próximos passos, l e m b r a r i n s t r u -
p a r a a p o s s i b i l i d a d e d e u m diagnóstico d e a ser f o c a d a e o t i p o d e a t i v i d a d e c o g n i - ções, e começar e t e r m i n a r tarefas.
e x a g e r a d o , já q u e o s critérios a t u a i s são t i v a a ser f o r t a l e c i d a . Sabe-se também q u e t e c n o l o g i a s d i g i -
b a s e a d o s a p e n a s e m avaliações d e c o m - Entretanto, m e s m o o n d e abordagens tais p o d e m ser d e s e n v o l v i d a s c o m o s u p o r -
portamento. D u r a n t e o s p r i m e i r o s anos d e e n s i n o d e sucesso f o r a m d e s e n v o l v i d a s te a o aprendizado p e r s o n a l i z a d o e c o m o
escolares até a adolescência, o c o m p o r - p a r a a l u n o s incapazes d e a c o m p a n h a r as t r e i n o altamente especializado sob a f o r m a
t a m e n t o q u e p o d e i n d i c a r p r o b l e m a s es- aulas-padrão, a implementação d i s s e m i n a - d e j o g o s . Jogos i n t e r a t i v o s desse t i p o u s a m
pecíficos c o m c o n t r o l e d e i m p u l s o m u d a d a p o d e f a l h a r p o r q u e há p o u c o s p r o f e s s o - u m m o d e l o aluno-professor para adaptar
rapidamente, alinhado c o m o desenvol- res t r e i n a d o s e o nível d e atenção i n d i v i d u a l a t a r e f a às n e c e s s i d a d e s d o a l u n o e u m
v i m e n t o d o cérebro. A i m a t u r i d a d e , q u e e constante que m u i t o s alunos d e m a n d a m m o d e l o de tarefa para fornecer u m feed-
FRONTEIRAS

back significativo d a atividade d o a l u n o . bulário e n t r e p e s q u i s a d o r e s científicos e d e t e r m i n i s t a s e g u n d o a q u a l a herança


Isso m o s t r a q u e t e c n o l o g i a s i n t e r a t i v a s são comunidades educacionais. M a s devemos neurológica n o s c o n d e n a r i a a u m c a m i -
capazes d e p r o p i c i a r d i a r i a m e n t e a j u d a n o s l e m b r a r das bases c o m u n s dessas áre- n h o d o q u a l não poderíamos escapar.
p e r s o n a l i z a d a d e u m a f o r m a difícil d e ser as. A m b a s r e c o n h e c e m q u e s e m o domí- E n t r e t a n t o , a p e r s p e c t i v a neurocientí-
alcançada e m sala d e a u l a . n i o d e h a b i l i d a d e s básicas d e l i n g u a g e m fica r e c o n h e c e q u e c a d a pessoa c o n s t i t u i
Avanços tecnológicos d e v e m p o s s i b i - e cálculo há sérios des afios p a r a avanços u m i n t r i n c a d o s i s t e m a q u e o p e r a n o s ní-
l i t a r a p o i o e f e t i v o também a p e s s o a s c o m n a e s c o l a r i d a d e , e, p o r t a n t o n a s p e r s p e c - v e i s n e u r a l , c o g n i t i v o e social. E e n t r e eles,
déficits s e n s o r i a i s o u físicos s i g n i f i c a t i v o s . t i v a s s o c i a i s . R e c o n h e c e m também q u e as múltiplas interações são c o n s t a n t e s . A
Pesquisas s o b r e i n t e r f a c e cérebro-máqui- a educação p e r m i t e o d e s e n v o l v i m e n t o neurociência é u m a c o m p o n e n t e - c h a v e
n a t r a z e m n o v a s esperanças a p a c i e n t e s d e m e l h o r e s f o r m a s p a r a a j u d a r t o d a s as deste s i s t e m a e é, p o r t a n t o u m agente es-
q u e não p o d e m c o n t r o l a r c o m p u t a d o r , t e - pessoas a e n c o n t r a r u m l u g a r p r o d u t i v o e s e n c i a l p a r a e n r i q u e c e r explicações d o
c l a d o o u braço robótico d e f o r m a n o r m a l : satisfatório n a s o c i e d a d e . pensamento e comportamento humanos.
n o f u t u r o eles serão capazes d e u s a r o s A p e s a r d e s t e território c o m u m , a Além d o m a i s , é u m e r r o c o n s i d e r a r
próprios s i n a i s cerebrais p a r a e x e c u t a r as neurociência c o m frequência é a c u s a d a as predisposições genéticas c o m o d e t e r -
ações necessárias. O u t r o u s o d a s t e c n o l o - de "medicalizar" o s p r o b l e m a s das pes- minísticas; s e u i m p a c t o é probabilístico e
gias d e a p r e n d i z a d o a d a p t a t i v a s à distância s o a s c o m d i f i c u l d a d e s e d u c a c i o n a i s . Crí- d e p e n d e d e u m c o n t e x t o . A questão é q u e
está n o a p o i o diário p a r a a d u l t o s e i d o s o s ticos t e m e m q u e a disciplina represente há d i f i c u l d a d e s e d u c a c i o n a i s c o m base
q u e não f r e q u e n t a m a u l a s r e g u l a r m e n t e . u m a visão r e d u c i o n i s t a q u e s u p e r v a l o r i - biológica e q u e não p o d e m ser atribuídas
O s propósitos científicos p a r a a n e u - z a o p a p e l d o cérebro e m d e t r i m e n t o d e a p e n a s às e x p e c t a t i v a s d e pais, p r o f e s s o -
rociência e d u c a c i o n a l p o d e m p a r e c e r u m a compreensão holística d a v i d a c u l - res e s o c i e d a d e . S e nestes casos o s fatores
p e q u e n o s . Isso se e x p l i c a e m p a r t e p e l a s t u r a l b a s e a d a e m interpretação e e m p a - d e r i s c o biológicos não f o r e m l e v a d o s e m
g r a n d e s diferenças c u l t u r a i s e d e v o c a - t i a . E a a c u s a m d e p r o m o v e r u m a visão conta, oportunidades importantes para
o t i m i z a r o a p r e n d i z a d o serão p e r d i d a s .

OS EFEITOS COMPROVADOS DO TREINO CONTINUO • O cérebro na sala de aula


U m a b u s c a n a i n t e r n e t c o m as p a l a v r a s -
- c h a v e "aprender", " e n s i n a r " e "cérebro"
c o m p r o v a a d e m a n d a p a r a aplicações d a
ciência d o cérebro n a educação. E apesar
d o s q u e s t i o n a m e n t o s , há u m considerável
e n t u s i a s m o p e l a neurociência. N o e n t a n t o ,
isso p o d e l e v a r a p r o b l e m a s .
I n t e r e s s e s c o m e r c i a i s são rápidos e m
r e s p o n d e r a d e m a n d a s d o s entusiastas.
Já e x i s t e u m a i n f i n i d a d e d e l i v r o s , j o g o s ,
treinamentos e suplementos nutricionais
p r o m e t e n d o m e l h o r a r o aprendizado. A
alegação é q u e são e m b a s a d o s c i e n t i f i c a -
m e n t e . I s s o é problemático p o r q u e o v o l u -
T O R K E L K L I N G B E R G , do Instituto Karolinska, mostrou que a m e m ó r i a de trabalho
m e d e informação d e u m a a m p l a g a m a d e
pode ser melhorada com algumas semanas de treinos intensivos. A equipe do pes-
quisador monitorou o c é r e b r o usando uma tomografia por e m i s s ã o de pósitrons (PET f o n t e s t o r n a difícil i d e n t i f i c a r o q u e é i n d e -
scan) e confirmou que o treinamento Intensivo acarreta uma m u d a n ç a no n ú m e r o de p e n d e n t e , c u i d a d o s o e confiável. E , n a p i o r
receptores dopamina D l no c ó r t e x , neurotransmissor que desempenha papel funda-
das hipóteses, a indústria c r i a n e u r o m i t o s
mental em muitas f u n ç õ e s cerebrais. Esse resultado pode ter impacto no desenvolvi-
mento de novos tratamentos para pacientes com problemas cognitivos, como aque- que p o d e m prejudicar a credibilidade e o
les relacionados ao TDAH, derrame, s í n d r o m e de fadiga crónica e envelhecimento. i m p a c t o d e pesquisas autênticas.
(a) a u m e n t o n a a t i v i d a d e f r o n t a l e p a r i e t a l d e p o i s d o t r e i n o d e m e m ó r i a ; (b) a t i v i d a d e
A p e s q u i s a neurocientífica v i s a i d e n -
a u m e n t a d a d o núcleo c a u d a d o após t r e i n o d e memória e m t a r e f a s q u e d e m a n d a v a m tificar o s m e c a n i s m o s d o aprendizado
a t u a l i z a ç ã o ; (c) d e n s i d a d e d e r e c e p t o r e s d e d o p a m i n a D l ; (d) regiões d e i n t e r e s s e b a -
s e a d a s n a ativação d u r a n t e t a r e f a s d e v i s ã o e e s p a c i a i s v e r s u s t a r e f a s d e c o n t r o l e ; (e) e as f o n t e s d a s diferenças i n d i v i d u a i s n a
relação e n t r e a s q u a n t i d a d e s pré e p ó s - t r e i n o d o r e c e p t o r d e d o p a m i n a e g a n h o n a c a p a c i d a d e d e a p r e n d e r . É, p o r t a n t o , u m a
c a p a c i d a d e d e m e m o r i z a ç ã o b a s e a d o s e m regiões d e i n t e r e s s e e s p e c i f i c a d a s e m (d).
f e r r a m e n t a p a r a u m a política de educação

EHinglEDUCAÇÃO
ar
mMÊÈÈÊÊÊÊÈÈÊÈÊÈÊÈÊm
CONSTRUINDO UMA LINGUAGEM COMUM
u
O c o n h e c i m e n t o p r e c i s a ir e m a m b a s a s direções" A serviria a p r o p ó s i t o s m ú l t i p l o s , por exemplo a u m e n t a r
frase revela os sentimentos expressos pelas comunidades o conhecimento geral sobre a c i ê n c i a do c é r e b r o . I s s o
das n e u r o c i ê n c i a s , professores e legisladores e foi e x t r a í d a r e f o r ç a r i a o e s p í r i t o crítico n e c e s s á r i o para avaliar novos
de u m a d i s c u s s ã o recente da Royai Society e do Wellcome programas educacionais.
"n*ust:"Education: w h a f s the brain got to do with It?" Um m e c a n i s m o que permita compartilhar o
( E d u c a ç ã o : o que o c é r e b r o tem a ver com isso?). conhecimento é u m a meta preciosa. Entretanto, alinhar
Se a n e u r o c i ê n c i a educacional quiser se desenvolver como as necessidades e Interesses de diferentes p r o f i s s õ e s
uma nova disciplina eficaz e ter um Impacto significativo na representa um desafio substancial. Pressupostos,
qualidade do aprendizado de todos os estudantes, precisamos teorias, f e n ó m e n o s de Interesse e v o c a b u l á r i o diferem
de um d i á l o g o de longo prazo entre neurocientistas e uma significativamente.
ampla gama de outros pesquisadores de várias áreas. A c o m p r e e n s ã o crescente das bases n e u r o l ó g i c a s do
Para abordar a necessidade de engajamento, nosso aprendizado pode ajudar a maior parte das pessoas a se
grupo de trabalho, que inclui pesquisadores da Royai tornar plenos e produtivos integrantes da s o c i e d a d e , c a p a z e s
Society de Londres e do Wellcome Trust, acredita que um de responder com r e s i l l ê n c l a e enfrentar a s s i t u a ç õ e s que se
f ó r u m profissionalmente gerido na internet seria um passo alteram ao longo vida. Isso se aplica n ã o a p e n a s a c r i a n ç a s
importante para colocar educadores e cientistas e m um e m Idade escolar que e s t ã o aprendendo a d o m i n a r a escrita,
d i á l o g o c o n t í n u o . Neurocientistas poderiam, por exemplo, a leitura e os n ú m e r o s , mas a adolescentes prestes a fazer
fazer a v a l i a ç õ e s de programas oferecidos comercialmente suas escolhas profissionais ou adultos que contribuem
e de d e s c o b e r t a s recentes. Educadores forneceriam para a economia por melo de suas habilidades e f o r ç a de
a v a l i a ç õ e s dos programas de ensino; e representantes de trabalho. E se aplica t a m b é m aos Idosos que q u e r e m manter
outras disciplinas contribuiriam com u m a v i s ã o crítica. suas habilidades e aprender outras para ajudar no combate
Uma f e r r a m e n t a f l e x í v e l , como esse tipo de f ó r u m , aos efeitos do d e c l í n i o cognitivo.

c o m b a s e científica, c a p a z d e a j u d a r n a E n t r e t a n t o , não d e i x a d e s e r s u r p r e - m a i s t a r d e . E d e s c o b e r t a s d a neurociência


avaliação d o d e s e m p e n h o e d o i m p a c t o e n d e n t e q u e a neurociência q u a s e n u n c a - p o r e x e m p l o , c o m o o cérebro se b e n e -
das d i v e r s a s a b o r d a g e n s e d u c a c i o n a i s . E apareça c o m o p a r t e d o s c u r s o s i n i c i a i s d e ficia de exercícios e c o m o e n t e n d e núme-
p o d e também c o m p r o v a r c o m o a e d u c a - t r e i n a m e n t o d e professores o u d e u m d e - ros - p o d e m ajudar a embasar tecnologias
ção oferece benefícios m a i s a m p l o s n a s p o - senvolvimento profissional continuado, educacionais. Para tanto, os elos entre n e u -
líticas d e saúde, e m p r e g o e b e m estar, c o n - que deveria incluir u m componente neu- r o c i e n t i s t a s e a indústria d e t e c n o l o g i a s d i -
f o r m e m o s t r o u o g r u p o d o pesquisador rocientífico l i g a d o a questões d a educação gitais d e v e m ser f o r t a l e c i d o s .
John Beddington n o artigo "The mental e a necessidades e d u c a c i o n a i s especiais. E x i s t e h o j e u m repertório crescente d a
wealth o f nations" ( A riqueza m e n t a l dos (ver pág. 64) neurociência r e l e v a n t e p a r a a educação,
países), p u b l i c a d o p e l a r e v i s t a Nature. que, n o entanto, é facilmente m a l c o m p r e -
A neurociência d e v e r i a ser u s a d a c o m o • Os elos necessários endido e m a l aplicado fora d e contexto. É
i n s t r u m e n t o n a s políticas educacionais. Suas N o v a s tecnologias educacionais oferecem necessário u m diálogo contínuo e n t r e a
descobertas d e v e r i a m basear a avaliação d e oportunidades de aprendizado personali- base d e p e s q u i s a ( q u e i n c l u i n e u r o c i e n t i s -
diferentes opções d e políticas educacionais e zado que a m a i o r parte dos sistemas e d u - tas, psicólogos c o g n i t i v o s e c i e n t i s t a s s o -
seus i m p a c t o s , e ser consideradas e m áreas c a c i o n a i s não t e r i a condições d e arcar. E l a s ciais) a s s i m c o m o p r o f e s s o r e s e a c o m u n i -
c o m o saúde e e m p r e g o . M a s p a r a a m e l h o r p o d e m representar alternativas fora d a d a d e f o r m a d o r a d e opinião. A b o a notícia
compreensão d e suas implicações n a e d u - sala d e a u l a e, p o r t a n t o , m e l h o r a r o acesso é q u e u m b o m t r a b a l h o n a construção das
cação são necessárias relações m a i s fortes d o s excluídos d a educação n a fase a d u l t a e p o n t e s já começou. •
d e n t r o d a c o m u n i d a d e d e pesquisa e e n t r e
©RoyaL S o c i e t y , 2 0 1 1
pesquisadores e sistemas educacionais.
OS AUTORES
Descobertas q u e caracterizam dife-
Neuroscience: impLications for educatíon and LífeLong Learning f o i p u b l i c a d o p e l a R o y a i S o c i e -
rentes processos d e aprendizado p o d e m t y d e L o n d r e s e m f e v e r e i r o d e 2 0 1 1 . U t a F r l t h , p r o f e s s o r a d o I n s t i t u t o d e Neurociência C o g n i t i -
d a r a p o i o e m e l h o r a r a própria experiên- v a d a U n i v e r s i t y C o l l e g e L o n d o n , E l e a n o r M a g u i r e , também p r o f e s s o r a d e Neurociência C o g n i -
t i v a d a m e s m a instituição, U s h a G o s w a m i , d i r e t o r a d o C e n t r o d e Neurociência n a Educação d a
c i a d o p r o f e s s o r s o b r e c o m o as pessoas Universidade d eC a m b r i d g e ,e D o r o t h y Bishop, professorad eN e u r o p s i c o l o g i a d a U n i v e r s i d a d e
a p r e n d e m . E p o d e m ser u s a d a s p a r a e m - d e O x f o r d , e n t r e vários o u t r o s e s p e c i a l i s t a s , a j u d a r a m n a elaboração d o t e x t o q u e p o d e s e r
a c e s s a d o e m inglês n o s i t e d a r e v i s t a Educação (www.revistaeducacao.com.br). F u n d a d ae m
basar abordagens alternativas d e ensino 1 6 6 0 n a I n g l a t e r r a , a R o y a i S o c i e t y é u m a instituição d e d i c a d a a p r o m o v e r a excelência n o
para alunos c o m diferentes habilidades. c o n h e c i m e n t o científico e t e m u m a r e d e científica g l o b a l d a m a i s a l t a c r e d i b i l i d a d e e r e n o m e .

TE"
U M A P E O U E N A HISTÓRIA D A
ARTE DE ENSINAR
por Renato Pompeu

As raízes da
jovem ciência da
N e u r o c u l t u r a . N e u r o e c o n o m i a . N e u r o m a r k e t i n g . Neuroeducação. O p r e f i x o
" n e u r o " p a r e c e t e r e x t r a p o l a d o p a r a t o d o s o s l a d o s d e s d e q u e o cérebro se
t o r n o u c e n t r o d a s atenções. C o m a c h a m a d a "década d o cérebro" ( 1 9 9 0 - 1 9 9 9 ) ,
mente, c é r e b r o m a r c a d a p o r g r a n d e s avanços tecnológicos e inúmeras p e s q u i s a s e d e s c o b e r t a s
e educação s o b r e cérebro e a p r e n d i z a d o h u m a n o s , c o n h e c e m o s h o j e n o s s o m a i s c o m p l e x o
órgão m u i t o m e l h o r q u e há a l g u n s a n o s . S a b e m o s , p r i n c i p a l m e n t e , q u e o cérebro
remontam a é o palco de t o d o e qualquer aprendizado.
milhares de anos A l g u n s p e s q u i s a d o r e s , r e c o n h e c e n d o o i m p a c t o q u e a p e s q u i s a neurocientí-
de r e f l e x ã o sobre fica p o d e r i a t e r n a educação, começaram, a i n d a n o s a n o s 9 0 , a v i s l u m b r a r u m a
ciência d a m e n t e , cérebro e educação. A p r o x i m a n d o áreas q u e h i s t o r i c a m e n t e t i -
o aprendizado. v e r a m p o u c o c o n t a t o d i r e t o ( c a s o d e c i e n t i s t a s d o cérebro e d o a p r e n d i z a d o ) , essa
Sua c o n s o l i d a ç ã o n o v a d i s c i p l i n a q u e u n e a p s i c o l o g i a , a neurociência e a p e d a g o g i a , b u s c a t r a n s -
traz perspectivas f o r m a r a prática d o e n s i n o p e l o c o n h e c i m e n t o científico. O crescente número d e
p r o f i s s i o n a i s f r u t o s dessa união, e s p e c i a l m e n t e n o s E s t a d o s U n i d o s , I n g l a t e r r a ,
promissoras França, A l e m a n h a , Austrália, Japão, H o l a n d a e Itália, e n t r e o u t r o s países o n d e a
para m i l h õ e s n o v a d i s c i p l i n a já f o i instituída, a c r e d i t a q u e só a s s i m t e r e m o s g r a n d e s c h a n c e s d e
de pessoas no e n c o n t r a r n o v a s e eficazes r e s p o s t a s p a r a a n t i g a s p e r g u n t a s .

mundo todo que A seguir, a l g u n s p o n t o s i m p o r t a n t e s n a história d a convergência d o s saberes d a


p e d a g o g i a , d a neurociência e d a p s i c o l o g i a q u e o r i g i n o u a ciência d a m e n t e , cére-
aprendem e que b r o e educação o u neurociência e d u c a c i o n a l . P a r a u m a d e suas m a i s c o n h e c i d a s
ensinam divulgadoras, a educadora americana Tracey T o k u h a m a - E s p i n o s a - que publicou
e m 2 0 1 1 u m t r a b a l h o d e fôlego s o b r e esse feliz e n c o n t r o (Mind, Brain and Education
Science, a Comprehensive Guide to the New Brain-based Teaching, s e m tradução e m
português) a n o v a ciência terá d e d e s e n v o l v e r - s e c o m o fusão d e três d i s c i p l i n a s
q u e a i n d a não c h e g a r a m à m a t u r i d a d e .

^EDUCAÇÃO
LINHA DO TEMPO
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Assíro, é criada a
primeira biblioteca
<• r.3 Papiros descrevem o
sistematicamente
c é r e b r o e m detalhe,
organizada e catalogada
embora os e g í p c i o s
A escrita é Introduzida, de que se tem notícia.
n ã o lhe d ê e m multa
causando profundas No acervo, do qual
I m p o r t â n c i a . Ao
modificações no cerca de 20 mH itens e
c o n t r á r i o dos outros
c é r e b r o humano fragmentos estão no
órgãos, o cérebro
Museu Britânico, em
era removido e
Londres, documentos
descartado antes
A e d u c a ç ã o formal baseados na o b s e r v a ç ã o
da mumificaçâo,
é Instituída no A t r e p a n a ç ã o , abertura de um de eventos, desde
provavelmente
orifício de 2,5 a 5 cm de d i â m e t r o o comportamento
Eglto e Inclui a u l a s porque n ã o seria
no c é r e b r o , era usada como humano, de animais e
de c o m u n i c a ç ã o , ú t i l nas e n c a r n a ç õ e s
recurso para que a d o e n ç a pudesse plantas ao movimento
noções de c o m é r c i o , seguintes
"escapar"do corpo da v í t i m a do Sol e da Lua
agricultura e práticas
religiosas

• ! •

5<j)00a.C. 1 0 0 0 a.C. )a.C. 2000 a.C. 250( )a.c. £nn a c C 64p a.C. 5 0 0 a.C.
;
4rtr o U U a.L.

Questões c o m o o q u e é i m p o r t a n t e pioneiros e m pesquisar p r o f u n d a m e n t e tas. M a i s t a r d e , n o século 17, o a r q u i t e t o


saber, q u e m está p r e p a r a d o p a r a ensinar, c o m o a educação f o r m a l i n f l u e n c i a a ação inglês C h r i s t o p h e r W r e n u s o u d e t o d a a
q u e m deve ser e n s i n a d o e d e q u e m a n e i r a h u m a n a , e o f i z e r a m p o r m e i o de especu- s u a técnica a p u r a d a - ele c r i o u a C a t e d r a l
i n q u i e t a m educadores desde que a educa- lações filosóficas, o q u e p r o s s e g u i u d u r a n - d e São P a u l o e m L o n d r e s - p a r a d e s e n h a r
ção f o r m a l f o i instituída n o E g i t o a n t i g o a te séculos d e p o i s deles. as i m a g e n s m a i s p e r f e i t a s d o cérebro h u -
p a r t i r d e 3 0 0 0 a . C , c o m aulas d e h a b i l i d a - 2
A p a r t i r d o século 1 0 , e m p l e n a I d a - m a n o . N e s s e m e s m o século, o filósofo
des de comunicação, l i n g u a g e m , noções d e d e Média, após 1.500 a n o s d e i n v e s t i g a - francês René D e s c a r t e s estabeleceu c o m o
comércio, a g r i c u l t u r a e religião. A p r i m e i r a ção e s p e c u l a t i v a s o b r e c o m o c o n s e g u i r g r a n d e m e t a d o ser h u m a n o o q u e se t o r -
biblioteca d e q u e se t e m r e g i s t r o n o m u n - o s m e l h o r e s r e s u l t a d o s c o m a educação, o n a r i a até h o j e u m o b j e t i v o f u n d a m e n t a l
d o data d o século 7 a.C. F o i construída
Q
e s t u d o empírico e o s métodos científicos d o s e d u c a d o r e s : d e s e n v o l v e r a o máximo
e m Níneve, Império Assírio, e s e u a c e r v o passaram a t o m a r cada vez m a i s o lugar a c a p a c i d a d e d e p e n s a r . D e p o i s , o filósofo
já i n d i c a v a avanços n a matemática, l e i t u r a e d a filosofia n o q u e se refere a o e n s i n o e inglês J o h n L o c k e d e f e n d e u q u e o s e d u -
escrita, artes d a g u e r r a e d a caça. N a C h i n a , a p r e n d i z a g e m . O p i o n e i r o , o c i e n t i s t a ára- cadores d e v e r i a m estimular os alunos a
2
desde o século ó a.C. até h o j e , é m a r c a n t e a b e A l h a z e n ( 9 6 5 - 1 0 3 9 ) , estabeleceu, p e l a r e f l e t i r s o b r e seus próprios métodos d e
influência d o sábio Confúcio, q u e , além d o s observação científica, q u e o a p r e n d i z a d o p e n s a r , c o n s e l h o válido 2 0 0 a n o s d e p o i s .
c o n h e c i m e n t o s práticos e teóricos, m a n d a - se dá a p a r t i r d a memória das percepções A essa a l t u r a , já t i n h a começado n o
va ensinar o autocontrole e o respeito aos sensoriais, e não a p a r t i r dessas próprias O c i d e n t e , a p a r t i r d o século 16, a l a i c i z a -
o u t r o s e a si m e s m o . Já então s e u r e c a d o a o percepções, c o m o e s p e c u l a v a Aristóteles. ção d o e n s i n o , d e s d e a I d a d e Média m o -
professor era: " E n s i n a i d e a c o r d o c o m a ca- n o p o l i z a d o p e l a I g r e j a Católica. O s países
p a c i d a d e d o aluno". • Os primeiros desenhos p i o n e i r o s n o processo f o r a m N o r u e g a e
O l e g a d o d a Grécia A n t i g a n a c u l t u r a N o século 16, t a n t o o génio i t a l i a n o L e - D i n a m a r c a , s e g u i d o s pelas m a i o r e s c i d a -
ocidental é mais que reconhecido. N a edu- o n a r d o d a V i n c i q u a n t o o belga A n d r e a s des e u r o p e i a s . N o O r i e n t e , e n q u a n t o países
2
cação, e n t r e os séculos 5 a.C. e 4 a . C , H i - 2
Vesalius dissecaram, desenharam e b a - islâmicos já t i n h a m escolas laicas desde o
2
pócrates, Sócrates e Aristóteles r e c o m e n - t i z a r a m as p a r t e s d o cérebro h u m a n o . século 1 0 , n o Japão e n a índia, o e n s i n o
d a v a m aos professores c o m b i n a r o e n s i n o A m b o s t i n h a m consciência d e q u e , s e m c o n t i n u a v a a ser d a d o e m t e m p l o s e m o s -
d e h a b i l i d a d e s práticas c o m o estímulo a t e r m o s d e referência n e m vocabulário c o - t e i r o s . Além d e religião e t e o l o g i a , h a v i a
indagações filosóficas. O s g r e g o s f o r a m m u n s , e r a impossível c o m p a r a r d e s c o b e r - d i s c i p l i n a s c o m o aritmética, m e d i c i n a ,

EEDUCAÇÃO
A r i s t ó t e l e s funda o Liceu, a escola destinada a rivalizar com a Academia, fundada por seu antigo
mestre Platão. Um dos maiores nomes entre os intelectuais da história ocidental, A r i s t ó t e l e s
recomenda combinar o ensino de habilidades práticas com o e s t í m u l o a e s p e c u l a ç õ e s filosóficas
pelos alunos. No que se refere ao c é r e b r o , ele reitera a crença antiga de que o c o r a ç ã o é o ó r g ã o
superior; o c é r e b r o serviria apenas para diminuir o aquecimento do corpo

Nasce C o n f ú c i o , o mais famoso


professor e f i l ó s o f o da China,
cujas ideias influenciam o
país desde e n t ã o . A l é m de
ensinar preceitos morais e
espirituais, o s á b i o i n c l u í a o Sócrates, um dos
autocontrole e o respeito aos fundadores da
outros e a si m e s m o como Os gregos t r a d i ç ã o filosófica
aspectos do desenvolvimento Hipócrates, o pai da medicina antigos passam ocidental, prefere
do pensamento l ó g i c o . Sua moderna, defendia que as a reconhecer a morte a ter de
p r o v á v e l data de nascimento, leis da natureza deveriam ser o cérebro encarar uma vida de
28 de setembro, é comemorada descobertas pelo estudo racional como centro ignorância: "Ávida
ainda hoje e m feriado nacional dos fatos. Descreve a epilepsia das sensações irrefletida n ã o vale a
como o "Dia do Professor" como uma d o e n ç a e n ã o um humanas pena ser vivida"
castigo divino

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a s t r o n o m i a e d i r e i t o . N a América inglesa, p a r a a educação, m i l e n a r m e n t e d e s t i n a d a c o m p o r t a m e n t o h u m a n o fosse o cérebro.


as escolas c o n f e s s i o n a i s p r e d o m i n a r a m até a públicos r e d u z i d o s e homogéneos. E n t r e N u m lento trabalho, c o m o lembra a jor-
1 7 5 0 . D e p o i s , já i n d e p e n d e n t e s , os E s t a d o s eles, o de c o m o e d u c a r pessoas tão d i f e r e n - n a l i s t a científica R i t a Cárter e m O Livro do
U n i d o s s e g u i r a m a tendência e u r o p e i a d e tes. D e a c o r d o c o m T o k u h a m a - E s p i n o s a , Cérebro, médicos d e l i n e a v a m as áreas d o
p r o g r e s s i v a laicização. " p a r a d e i x a r as coisas a i n d a m a i s c o m p l e - cérebro desses pacientes e o s o b s e r v a v a m
C o m o m o v i m e n t o d e universalização xas, q u a n d o a educação se t o r n o u a n o r m a , enquanto ainda estavam vivos, associando
d o educação, i m p o s t o s p a r a s u s t e n t a r o as escolas d e i x a r a m d e t e r a l u n o s r i c o s , seus déficits às áreas l e s i o n a d a s . Só q u a n d o
e n s i n o público f o r a m instituídos e m 1 6 9 3 obedientes e religiosos, c o m o n a Idade m o r r i a m e r a possível i n v e s t i g a r as evidên-
n a Escócia e e m 1 8 3 7 n o s E s t a d o s U n i d o s . Média, p a r a receber pessoas s i m p l e s m e n t e cias fisiológicas d a lesão. " C o m o r e s u l t a d o ,
N a década d e 1 8 8 0 a educação pública e n o r m a i s o u m e s m o aquelas c o m necessi- até o início d o século 2 0 t o d o o c o n h e c i -
compulsória se t o r n o u r e g r a n a França e d a d e s especiais q u e j a m a i s e s t a r i a m m a - m e n t o sobre a base física d a m e n t e p o d e r i a
e m 1 8 9 0 n o Japão. E m 1 9 1 9 f o i a v e z d a t r i c u l a d a s c e m a n o s atrás". P a r a l e l a m e n t e ser a b r i g a d o e m u m único v o l u m e " , d i z .
Rússia e d e s d e 1 9 5 0 a C h i n a t e m 9 a n o s d e à evolução d e u m acesso u n i v e r s a l à e d u - Inúmeras falsas convicções s o b r e o cé-
educação obrigatória. A América L a t i n a cação, d e s c o b e r t a s neurocientííicas m o l - r e b r o c i r c u l a r a m n o s séculos 18 e 19. E n t r e
começou r e f o r m a s n a década de 1 9 6 0 p a r a d a r a m n o v a s crenças s o b r e a p r e n d i z a d o e elas, a f r e n o l o g i a , s e g u n d o a q u a l u m t a l e n -
i n s t i t u i r e n t r e 6 e 9 a n o s d e educação bas- t i v e r a m g r a n d e i m p a c t o e m salas d e a u l a t o especial p r o d u z i r i a u m a protuberância
eia e n q u a n t o n a África, e m 2 0 0 9 , m e n o s d e d e composição a b s o l u t a m e n t e d i v e r s a . n o cérebro q u e d i s t o r c e r i a o crânio. O a n a -
6 0 % d e t o d o s o s e s t u d a n t e s t i n h a m acesso t o m i s t a alemão F r a n z J o s e p h G a l l , a u t o r d a
à educação f o r m a l . • A investigação do cérebro t e o r i a , a c r e d i t a v a p o d e r d i s t i n g u i r c o m base
N e s t e c o n t e x t o , é fácil v e r c o m o a p e - Até cerca d e u m século atrás, a única e v i - n o s c o n t o r n o s d a cabeça, o c r i m i n o s o d o
dagogia, o u a a r t e d e e n s i n a r , t e m u m a h i s - dência d e q u e cérebro e m e n t e e s t i v e s s e m h o n e s t o , o matemático d o l i t e r a t o .
tória recente. E n q u a n t o há a p e n a s a l g u m a s c o n e c t a d o s v i n h a d e "experiências n a t u - Q u a n d o se c o n s t a t o u q u e caracterís-
centenas d e a n o s p o u c o s d e n o s s o s a n t e - r a i s " - acidentes e m q u e lesões cerebrais ticas d o crânio não r e f l e t i a m o i n t e l e c t o ,
passados e r a m l e t r a d o s , a n o r m a h o j e é q u e c r i a v a m aberrações n o c o m p o r t a m e n t o o f o c o m i g r o u p a r a o f u n c i o n a m e n t o ce-
a l u n o s d e t o d a s o s níveis socioeconómicos das vítimas. A n t e s d i s s o não se suspeita- r e b r a l i n t e r n o . E m m e a d o s d o século 19 e
f r e q u e n t e m a escola. C o m a u n i v e r s a l i z a - v a q u e o responsável p o r g e r a r emoções, início d o 2 0 , a c h a d o s s i g n i f i c a t i v o s s o b r e a
ção d o e n s i n o , s u r g i r a m n o v o s p r o b l e m a s percepções e p e n s a m e n t o s q u e g u i a m o f u n c i o n a l i d a d e d o cérebro e m e r g i r a m .
Nasce Alhazen e m Basra, no
Iraque. Considerado por alguns
O médico belga
como "o primeiro cientista",
Andreas Vesalius
estabeleceu, pela o b s e r v a ç ã o
escreve e ilustra
científica, que o aprendizado
o primeiro livro
se d á a partir da m e m ó r i a das
de anatomia
p e r c e p ç õ e s sensoriais
"moderno", D e H u m a n i
corporis fabrica,
revolucionando o
estudo da biologia e
a prática da medicina
com sua descrição
cuidadosa do corpo
humano

Morre o g é n i o renascentista Leonardo da Vinci,


cujos belos e precisos desenhos de anatomia
abriram caminho para Andreas Vesalius. Ambos
dissecaram, desenharam e batizaram a s partes do
As descrições de anatomia de Galeno de
c é r e b r o humano, conscientes de que, s e m termos
Pérgamo, usadas por g e r a ç õ e s de m é d i c o s
de referência e v o c a b u l á r i o comuns, é i m p o s s í v e l
durante a Idade Média a t é o s é c u l o 17, foram
comparar descobertas
baseadas principalmente e m trabalhos do
m é d i c o grego com macacos e porcos

100 a.C.
T -1aX 900 65 1500
+H4-
1549 1543
_L_

A s descobertas d o francês L o u i s B r o - educação deve-se p r i o r i z a r a avaliação b i o - n o , p o r m e i o d o q u e D e h a e n e c h a m a de r e -


ca e d o alemão C a r l W e r n i c k e s o b r e áreas lógica d e c a d a u m , e até i n t e r f e r i r n e l a se c i c l a g e m n e u r o n a l , a reutilização de antigas
d o cérebro r e l a c i o n a d a s à l i n g u a g e m , q u e f o r o caso, o u d a r ênfase e m p r o p o r c i o n a r áreas d o cérebro p a r a n o v a s necessidades.
r e c e b e r a m seus n o m e s , t i v e r a m i m p o r t a n - a cada pessoa u m a m b i e n t e social, c u l t u r a l E m 1 9 4 9 , o psicólogo c a n a d e n s e D o -
te papel. E m 1909, o n e u r o l o g i s t a alemão e e m o c i o n a l adequado? O p i o n e i r o nes- n a l d H e b b f e z u m a correlação o u s a d a
K o r b i n i a n B r o d m a n n fez u m e s t u d o d e t a - se debate f o i o inglês F r a n c i s G a l t o n , q u e e n t r e ciência d o cérebro e a p r e n d i z a d o
l h a d o d o córtex, o b s e r v a n d o c o m o s u a s c h a m o u a atenção p a r a o p a p e l d a b i o l o g i a e m A organização do comportamento. N o
c a m a d a s , t e c i d o s , neurónios e o u t r a s cé- n o a p r e n d i z a d o , t e m a c e n t r a l n a ciência d a l i v r o , e s c r e v e u s o b r e c o m o a organização
lulas v a r i a m e m estrutura e t a m a n h o . E l e m e n t e , cérebro e educação. c e r e b r a l se r e l a c i o n a a o c o m p o r t a m e n t o
i d e n t i f i c o u e n u m e r o u d i f e r e n t e s áreas n o e p o s t u l o u q u e "neurónios q u e d i s p a r a m
cérebro d e h u m a n o s e o u t r o s mamíferos, • Por que somos o que somos? u n i d o s p e r m a n e c e m conectados". E m
c o l o c a n d o fim à confusão n a n o m e n c l a t u - Já m a i s p a r a o f i m d o século 19 o filósofo o u t r a s p a l a v r a s , neurónios q u e p a s s a m
r a das p a r t e s d o córtex e x i s t e n t e n a época. e psicólogo a m e r i c a n o M a r k B a l d w i n c o n - p o r u m a s i n a p s e p a r a desencadear u m
Contemporâneo d e B r o d m a n n , o espa- c e b e u o q u e h o j e se c o n h e c e c o m o E f e i t o e f e i t o n o c o m p o r t a m e n t o estão p r o p e n -
n h o l S a n t i a g o R a m o n y C a j a l estabeleceu o B a l d w i n : q u a n d o u m indivíduo a p r e n d e sos a e n t r a r e m sinapse o u t r a s vezes. F o i
neurônio c o m o u n i d a d e base d o f u n c i o n a - a l g o benéfico p a r a a sobrevivência d e s u a a explicação eletrobiológica p a r a o q u e
m e n t o cerebral e m o s t r o u q u e t u d o d e p e n - espécie, esse a p r e n d i z a d o é t r a n s m i t i d o p o r o s psicólogos e x p e r i m e n t a i s c o n h e c i a m
de das sinapses, as ligações e n t r e neurónios. genes à geração s e g u i n t e . O u seja, t a n t o a d e s d e cerca d e 1 9 0 0 : a t e o r i a d o s r e f l e x o s
T o d a s essas descobertas contribuíram genética q u a n t o o a m b i e n t e são i m p o r - condicionados d e I v a n Pavlov. N u m e x -
p a r a n o v a s definições d a n a t u r e z a física t a n t e s p a r a o a p r e n d i z a d o - e, é c l a r o , p a r a p e r i m e n t o c o m cães, o r u s s o t o c a v a u m a
d o a p r e n d i z a d o e d o cérebro. A v i r a d a d o o s e d u c a d o r e s . A importância d o E f e i - s i n e t a s e m p r e q u e l h e s oferecia u m a r e f e i -
século 19 t r o u x e u m a e n x u r r a d a d e t e o r i a s t o B a l d w i n é c r u c i a l . N o s últimos a n o s , a ção. L o g o s u r g i a n o s a n i m a i s a salivação a o
científicas s o b r e o a p r e n d i z a d o , i n c l u i n d o o pesquisadora americana M a r y a n n e W o l f simples s o m , sem que fossem alimentados.
f a m o s o debate N a t u r e z a versus Criação, e m e o francês Stanislas D e h a e n e p u b l i c a r a m A conceituação de H e b b também e x p l i -
q u e a g r a n d e questão é saber se o c o m p o r - e s t u d o s s e g u n d o o s q u a i s a introdução d a ca a associação d e ansiedades a o processo
t a m e n t o d e p e n d e b a s i c a m e n t e d a genética escrita, cerca d e 5 m i l a n o s atrás, c a u s o u de a p r e n d i z a d o . S e o a l u n o , p o r e x e m p l o ,
o u d a experiência d e v i d a i n d i v i d u a i s . N a p r o f u n d a s modificações n o cérebro h u m a - d e s e n v o l v e u m a f o b i a e m relação a u m p r o -

~EEDUCAÇÃO
O filósofo inglês
John Locke publica
os Ensaio a c e r c a do
O arquiteto i n g l ê s entendimento humano,
Christopher Wren obra fundadora da
usou toda sua filosofia ocidental
técnica apurada moderna. Para Locke, os
para desenhar educadores deveriam
Na Noruega Com a p r o p o s i ç ã o as imagens mais estimular os alunos a
e Dinamarca, "Penso, logo existo", perfeitas do refletir sobre os seus
escolas religiosas o filósofo francês c é r e b r o humano p r ó p r i o s m é t o d o s de
são convertidas René Descartes no s é c u l o 17, pensar. Ao c o n t r á r i o
em escolas de estabeleceu como que ilustraram de Platão, argumentou 0 francês Louis Broca e
latim. A e d u c a ç ã o , grande meta do ser a obra de seu que o conhecimento o a l e m ã o Carl Wernicke
monopolizada humano o que se conterrâneo n ã o é inato, e que descobrem as duas áreas
pela Igreja tornaria a t é hoje uma Thomas Willis, quando nascemos, a principais relacionadas à
Católica a t é o meta fundamental mais conhecido mente é uma folha e m linguagem no c é r e b r o . Os
s é c u l o 16, deixa dos educadores: por suas branco, uma tabula rasa dois cientistas foram os
de ser confinada desenvolver ao descrições do na qual a e x p e r i ê n c i a primeiros a definir com
ao t e r r i t ó r i o m á x i m o a capacidade cérebro se inscreve clareza áreas funcionais
religioso de pensar do c é r e b r o

1600 1690 1800 1862 1874


I • I .-U-44-4.

fessor d e matemática, a n o s depois poderá O u t r o psicólogo e d u c a c i o n a l , o e educação f o r a m c o m p l e m e n t a d a s p o r


se s e n t i r a n s i o s o n a s aulas d e matemática. bielo-russo L e v Vigotski, teve c o n t r i - descobertas impressionantes n a s n e u r o -
A conceituaçào, n o e n t a n t o , não c o n s t a d a buições i m p o r t a n t e s p a r a a ciência d a ciências m a i s o u m e n o s n a m e s m a época.
esmagadora m a i o r i a dos cursos d e treina- m e n t e , cérebro e educação. S u a s t e o r i a s
m e n t o d e professores. sobre o c h a m a d o d e s e n v o l v i m e n t o p r o - • O estímulo do ambiente
O u t r a s descobertas d a psicologia ex- x i m a l - n u m g r u p o s e m p r e há alguém O s a m e r i c a n o s M a r k R o s e n z w e i g , psicólo-
p e r i m e n t a l t i v e r a m m e l h o r s o r t e n a s salas que sabe m a i s sobre a l g u m assunto, e o go, e m a i s t a r d e a n e u r o a n a t o m i s t a M a r i a n
d e a u l a . O suíço J e a n P i a g e t , contemporâ- c o n h e c i m e n t o se d i f u n d e p e l o g r u p o - , D i a m o n d t e n t a r a m v e r i f i c a r se o a m b i e n t e
n e o d e H e b b , t i n h a formação e m b i o l o - s o b r e se há " u n i v e r s a i s " n o cérebro o u se mais "rico" estimula u m m a i o r desenvol-
g i a e se c o n s i d e r a v a " u m e p i s t e m o l o g i s t a t u d o depende d a cultura, e sobre a "voz v i m e n t o cerebral d e r a t o s , e se isso afeta o
genético". P i a g e t d e s e n v o l v e u o c o n c e i t o i n t e r n a " , q u e d e b a t e se é possível o u não aprendizado. O ambiente "rico" testado nos
das q u a t r o fases d o a p r e n d i z a d o d e s d e a p e n s a r s e m p a l a v r a s , são a i n d a o b j e t o laboratórios seria b a s t a n t e s e m e l h a n t e a o
infância: s e n s o r i o m o t o r , pré-operacional, de pesquisas. ambiente " n o r m a l " dos animais, p o r e x e m -
o p e r a c i o n a l c o n c r e t o e a fase o p e r a c i o n a l A d e s c o b e r t a d e s e u discípulo, A l e k - p l o o s esgotos. O d e b a t e a i n d a prossegue,
f o r m a l , c a d a u m a c o m características d i s - s a n d e r L u r i a , d e q u e há n o cérebro vários de m o d o b e m polémico, porém c h a m a a
tintas. Suas descobertas f o r a m c o m p r o v a - s i s t e m a s d e memória, e p o r t a n t o não atenção q u e a discussão m a i o r é s o b r e a de-
das p e l o d e s e n v o l v i m e n t o d a neurociên- e x i s t e u m a memória única o n d e t o d a s finição de " a m b i e n t e e n r i q u e c i d o " . O t e m a
c i a n a s últimas décadas, p o i s o s p r o c e s s o s as lembranças ficam " a r m a z e n a d a s " , f o i d e u b r e c h a p a r a a criação d e u m a indústria
p o r ele d e s c r i t o s p o d e m s e r r e l a c i o n a d o s c o n f i r m a d a n o s a n o s 1 9 8 0 p e l o psicólo- milionária d e d i c a d a a t r e i n a r pais e profes-
h o j e a áreas específicas d o cérebro e a c i r - go americano Jerome Brunner. Ele m o s - sores p r o j e t a n d o a m b i e n t e s " e n r i q u e c i d o s " .
cuitos neuronais determinados, u m a i n - t r o u q u e o s diferentes circuitos neurais O neurocientista americano W i l l i a m
formação p r e c i o s a p a r a e d u c a d o r e s . Não d o s vários t i p o s d e memória p o d e m f u n - G r e e n o u g h estabeleceu q u e o cérebro p o d e ,
se d e v e e s q u e c e r q u e o u t r a i d e i a d e P i a - cionar tanto e m separado c o m o sobre- a p a r t i r d a experiência d e c a d a indivíduo,
get i m p o r t a n t e p a r a e d u c a d o r e s , a d e q u e postos u n s aos o u t r o s - p o r e x e m p l o , u m c r i a r n o v a s redes n e u r o n a i s e sinápticas, i s t o
o c o r r e m variações d e u m indivíduo p a r a c h e i r o p o d e fazer l e m b r a r v i s u a l m e n - é, n e m t u d o d e p e n d e d a composição gené-
outro, f o i i g u a l m e n t e c o n f i r m a d a pela t e o n d e esse c h e i r o f o i s e n t i d o t e m p o s tica. E l e j u l g o u t e r c o m p r o v a d o q u e o q u e é
neurociência a t u a l . atrás. E s s a s contribuições d a p s i c o l o g i a u m a m b i e n t e " e n r i q u e c i d o " p a r a u m indiví-
O p s i c ó l o g o s o v i é t i c o LevVigotski lança seu
0 neurologista a l e m ã o Korbinian Brodmann trabalho mais conhecido, P e n s a m e n t o e
lança um estudo detalhado e m que L i n g u a g e m . Suas r e f l e x õ e s sobre desenvolvimento
identifica e numera 52 diferentes áreas cognitivo e conceitos de aprendizagem foram
do c é r e b r o de humanos, macacos e outros fundamentais para moldar a pedagogia moderna.
m a m í f e r o s , colocando fim à c o n f u s ã o na Seu trabalho influenciou psicólogos como Jean
nomenclatura e n t ã o existente Piaget e seu d i s c í p u l o Aleksander Luria, que
estabeleceu a e x i s t ê n c i a de vários sistemas de
m e m ó r i a no c é r e b r o e n ã o de uma m e m ó r i a única
onde todas as l e m b r a n ç a s ficam "armazenadas"

O russo Ivan Pavlov recebe o


p r é m i o Nobel de Medicina ou
Fisiologia por seu trabalho Os primeiros eletroencefalogramas (EEG) são
em secreções digestivas. Ao desenvolvidos pelo cientista a l e m ã o Hans Berger.
observar irregularidades nas Santiago Ramon y Cajal recebe As eletroencefalografias mostram a atividade
secreções, Pavlov formulou a lei o p r é m i o Nobel de Medicina elétrica provocada por disparos dos n e u r ó n i o s ,
do reflexo condicionado: num ou Fisiologia ao estabelecer registrando diferentes ondas cerebrais que
experimento clássico, treinou que a unidade fundamental refletem a velocidade do disparo e m diferentes
um cão a salivar ao som de u m a do funcionamento cerebral é o estados da mente. Graças à tecnologia de
sineta, previamente associada ao n e u r ô n i o e que tudo depende imageamento foi p o s s í v e l observar o interior de
momento de ser alimentado das sinapses entre eles um c é r e b r o vivo e seu funcionamento

1900 1904 1906


SE 1924
444+
++++
d u o p o d e não f u n c i o n a r c o m o " e n r i q u e c i - dores M i c h a e l Gazzaniga e M i c h a e l Posner l u v a s e m c o n s i d e r a r a existência d a mão.
d o " p a r a o u t r o - a já a n t i g a constatação d e e i n t e g r a n t e s d a então recém-fundada S o - Já n o f i m d o s a n o s 1980 começam a
q u e cada a l u n o é d i f e r e n t e d o s o u t r o s . ciedade d e Neurociência d o Japão e d a S o - confluir os caminhos d o conexionismo
ciedade A u s t r a l i a n a de Neurociência passa- ( u m abandono d o antigo localizacionismo
•Aconsolidação da nova ciência r a m a p u b l i c a r estudos a p r o f u n d a d o s s o b r e p e l a i d e i a d e q u e as funções cerebrais são
A Faculdade D a r t m o u t h , nos Estados U n i - a aplicação d a neurociência e m educação. executadas a o m e s m o t e m p o p o r d i f e r e n -
dos, f o i u m a das p r i m e i r a s a r e u n i r , e m N a passagem para os anos 1980 h o u - tes c i r c u i t o s n e u r o n a i s ) , d o c o g n i t i v i s m o
1968, as pesquisas s o b r e m e n t e , cérebro e v e u m g r a n d e avanço das t e c n o l o g i a s q u e ( a b a n d o n o d o antigo b e h a v i o r i s m o pela
educação n o s seus p r o g r a m a s d e pós-gra- p e r m i t i a m v i s u a l i z a r i m a g e n s d o cérebro medição e x p e r i m e n t a l das atividades cere-
duação, e, e m 1990, n o s currículos r e g u l a r e s e m pleno funcionamento p o r tomogra- b r a i s e n v o l v i d a s n a s funções psíquicas) e d o
de graduação. N o resto d o país, a m a i o r i a fias, estímulos magnéticos e ressonância c o n s t r u t i v i s m o ( s e g u n d o o q u a l cada u m
d o s p r o g r a m a s s e m e l h a n t e s s u r g i u n a úl- magnética. E m 1 9 8 1 , n a p r i m e i r a d i s - constrói s e u c o n h e c i m e n t o c o n f o r m e s u a
t i m a década, e m b o r a d e s d e 1 9 7 0 o n e u r o - sertação d a ciência d a m e n t e , cérebro e experiência). C o m o c o g n i t i v i s m o , m a i s d o
cientista a m e r i c a n o M i c h a e l P o s n e r tivesse educação, J a m e s 0 ' D e l l já e s p e c u l a v a q u e q u e ciência h u m a n a , a p s i c o l o g i a buscava se
escrito cerca de 2 8 0 t r a b a l h o s s o b r e atenção o e n s i n o t e r i a d e s e r compatível c o m o t o r n a r m a i s próxima das ciências n a t u r a i s ,
e memória, s e n d o u m d o s p i o n e i r o s d a c i - f u n c i o n a m e n t o r e a l d o cérebro, t a l c o m o c o m u m m a i o r g r a u de exatidão.
ência d a m e n t e , cérebro e educação. estava s e n d o d e s c o b e r t o . Tão o u m a i s d e c i s i v o s q u e os d e s e n v o l -
N o s anos 1970, a n e u r o p s i c o l o g i a e d u - Se isso e r a visionário então, t o r n o u - s e v i m e n t o s d a neuropsicologia educacional
c a c i o n a l se d e s e n v o l v e u t e n d o c o m o e n - n o r m a hoje e m dia. S u r g i r a m os influen- f o r a m o s avanços d a neurociência, q u e
f o q u e o a p r e n d i z a d o e não, c o m o agora, tes l i v r o s d o psicólogo a m e r i c a n o H o - n a s c e u nessa época, s e n d o u m a " d i s c i p l i n a
o e n s i n o . D e t o d o m o d o f o i estabelecida a w a r d G a r d n e r sobre a m u l t i p l i c i d a d e das interdisciplinar" q u e abrangia n e u r o b i o -
hipótese d o s f i l t r o s afetivos, s e g u n d o a q u a l inteligências e d e s e u conterrâneo L e s l i e l o g i a , p s i c o l o g i a , linguística e até f i l o s o -
as emoções d o e d u c a n d o i n t e r f e r e m n o H a r t s o b r e a f a l t a d e atenção, p e l o s e d u - fia. O s a n o s 1 9 9 0 a s s i s t i r a m à irrupção d e
a p r e n d i z a d o , o q u e h o j e se e s t u d a a p a r t i r c a d o r e s , p a r a c o m as n o v a s d e s c o b e r t a s inúmeras d e s c o b e r t a s específicas ( s o b r e o s
d e i m a g e n s d a amígdala c e r e b r a l e m p l e n o s o b r e o cérebro. S e g u n d o H a r t , e n s i n a r m e c a n i s m o s n e u r a i s d a s capacidades m a -
f u n c i o n a m e n t o . A Associação N a c i o n a l d e s e m levar e m conta o f u n c i o n a m e n t o d o temáticas, d e l e i t u r a , atenção e memória) e
Educação d o s E s t a d o s U n i d o s , os pesquisa- cérebro s e r i a c o m o t e n t a r d e s e n h a r u m a g l o b a i s ( s o b r e c o m o o cérebro p o d e a p r e n -

]EDUCAÇÃO
0 p s i c ó l o g o americano Jerome Brunner confirmou
que os diferentes circuitos neurais dos v á r i o s tipos de
m e m ó r i a podem funcionar tanto e m separado como
sobrepostos. Seu p ó s - o r i e n t a n d o na Universidade
Harvard, Howard Gardner, lança em 1983 F r a m e s o f M i n d ,
_
HOWARD
GARDNER

F r a m e s of
com as pesquisas sobre m ú l t i p l a s i n t e l i g ê n c i a s , e desde
Mind
e n t ã o critica a falta de atenção, pelos educadores, para
com as novas descobertas sobre o cérebro, ressaltando a M*lt,pl, i H l r l h g c c r ,

necessidade de multidisciplinaridade

Nasce a Sociedade Internacional da Mente,


C é r e b r o e Educação (Imbes), a primeira a
representar a nova ciência da mente, c é r e b r o
0 suíço Jean Piaget e e d u c a ç ã o . Desde sua f o r m a ç ã o , anunciada
O psicólogo estabelece o Centro na Universidade Harvard, a sociedade atrai
canadense Donald de Epistemologia Grande a v a n ç o cada vez mais pesquisadores desafiados a
Hebb defende Genética em Genebra, das tecnologias estabelecer uma c o m u n i c a ç ã o transdiciplinar
que n e u r ó n i o s na Suíça. Foi o primeiro que permitem
que passam por a fazer um estudo visualizar imagens
uma sinapse para sistemático da a q u i s i ç ã o do c é r e b r o e m pleno A p u b l i c a ç ã o de O n a s c i m e n t o
desencadear de conhecimento pela funcionamento; d e u m a ciência do a p r e n d i z a d o ,
um efeito no criança; é considerado por durante essa d é c a d a pela O r g a n i z a ç ã o para
comportamento muitos um dos maiores surgem o PET SCAN, o C o o p e r a ç ã o e Desenvolvimento
estão propensos a nomes da psicologia do SPECT, o IRM e o MEG E c o n ó m i c o (OCDE), marca o
entrar e m sinapse desenvolvimento do reconhecimento global da nova
outras vezes s é c u l o 20 disciplina compartilhado por seus
34 p a í s e s - m e m b r o s

-44-, 49 1955 1970 19510 1980 200C 004


200 :007
EH3±E 4444 d

der m e l h o r ) . E a o m e s m o t e m p o e m que ambas nos Estados U n i d o s , a j u d a r a m a fa- f o i lançada a r e v i s t a Mind, Brain and Edu-
a p a r e c i a m e s t u d o s sérios, s u r g i a m o s c h a - zer a p o n t e entre pesquisas de neuropsico- cation Journal, q u e n a s c e u n o i n t e r i o r d a
m a d o s n e u r o m i t o s f v e r artigo "Os impactos l o g i a e d u c a c i o n a l , neurociência e p e d a g o - Imbes.
perigosos das falsas ideias \ napág 44). g i a e o s e s t u d o s d a n o v a ciência d a m e n t e , N e s t e m e s m o m o m e n t o , o pêndulo d a
C e n t r o s d e pesquisa de p o n t a e m n e u - cérebro e educação. A U n i v e r s i d a d e H a r - n o v a ciência o s c i l o u . T o k u h a m a - E s p i n o s a
rociência e suas aplicações f o r a m i n a u g u - v a r d lançou e m 2 0 0 1 s e u P r o g r a m a d e l e m b r a q u e desde a época d o s g r e g o s até
r a d o s , c o m o o C e n t r o d e Neurociência n a M e s t r a d o e m M e n t e , cérebro e educação. a década d o cérebro h o u v e u m a d e m a n d a
Universidade de O x f o r d , Inglaterra, e o Ins- N o século 2 1 , f o r a m inúmeras as i n i - p a r a basear o e n s i n o n a ciência, o u m a i s
t i t u t o M a x P l a n c k p a r a Ciência C o g n i t i v a e ciativas f o r m a i s d e unificar conceitos i n - especificamente, n a informação s o b r e o
C e r e b r a l H u m a n a , A l e m a n h a . N ofimd a terdisciplinares envolvidos n o ensinar e cérebro. N o início d o século 2 1 , e n t r e t a n -
década d e 1 9 9 0 e d u c a d o r e s anglo-saxões aprender. E m 2 0 0 4 s u r g i u a Sociedade t o , d i v e r s o s cientistas a t a c a r a m a d i s c i p l i n a
p a s s a r a m a e x i g i r q u e os n e u r o c i e n t i s t a s de- I n t e r n a c i o n a l d a M e n t e , Cérebro e E d u c a - p o r c o n s i d e r a r q u e e l a estava " p e r d e n d o
m o n s t r a s s e m a a p l i c a b i l i d a d e d e suas des- ção, I m b e s , n a sigla e m inglês. E m 2 0 0 6 já a m e n t e e m f a v o r d o cérebro" e q u e u m a
c o b e r t a s n a s salas d e a u l a , t e n d o e m m e n t e estava e m operação o I n s t i t u t o d a U n i v e r - mudança r u m o a o " d e t e r m i n i s m o biológi-
cada a l u n o i n d i v i d u a l m e n t e . S u r g i r a m m a - sidade de O x f o r d para o F u t u r o da M e n t e . co" representava, n a m e l h o r das hipóteses,
n u a i s d e a l g u m a s aplicações, u m deles p u - U m d o s agentes m a i s i m p o r t a n t e s desequilíbrio e, n a p i o r , p e r i g o . A s críticas
b l i c a d o p e l o C o n s e l h o N a c i o n a l de P e s q u i - desse p r o c e s s o f o i a Organização p a r a d e r a m u m a face m a i s h u m a n a à ciência
sa d o s E s t a d o s U n i d o s , além d o s currículos Cooperação e D e s e n v o l v i m e n t o Econó- e m e r g e n t e , e u m estímulo p a r a a b u s c a d e
p a r a alfabetização Fast F o r W o r d e R A V E - m i c o ( O C D E ) . E m 2 0 0 7 , a organização u m m e i o bem-sucedido entre pesquisa e
-O, desenvolvidos p o r neurocientistas e p u b l i c o u Understanding the brain: the bir- prática a s s i m c o m o e n t r e laboratório e sala
a d o t a d o s c o m êxito n o s E s t a d o s U n i d o s . th ofa learning science ( C o m p r e e n d e n d o o d e a u l a . A mudança d e pêndulo t r a z d e v o l -
cérebro: o n a s c i m e n t o d e u m a ciência d o t a o p o n t o d e equilíbrio e v a l o r i z a t a n t o a
• Aponte enfim construída a p r e n z i d a d o , s e m edição e m português), ciência c o m o a a r t e d e e n s i n a r . •
Instituições c o m o o P r o g r a m a M e n t e , Cé- u m l i v r o f u n d a m e n t a l d o q u a l d o i s capí-
O AUTOR
r e b r o e Educação d a E s c o l a d e Educação t u l o s estão t r a d u z i d o s n e s t a r e v i s t a ( " U m
Renato Pompeu é j o r n a l i s t a e e s c r i t o r , a u t o r
da Universidade H a r v a r d e a Escola de A B C d o cérebro" e " O s i m p a c t o s p e r i g o - do romance-ensaio"0 m u n d o c o m o obra d e
Educação d a U n i v e r s i d a d e J o h n s H o p k i n s , sos d a s falsas i d e i a s " ) . Também e m 2 0 0 7 arte criada p e l o Brasil!, Editora Casa A m a r e l a
R E V I S T A E D U C A Ç Ã O
Educadores, gestores e o u t r o s p r o f i s s i o n a i s d a área p o d e m a c o m p a n h a r
m e n s a l m e n t e a s principais questões relacionadas a políticas públicas,
formação docente, literatura, cultura e muito mais.

BARRY MCGAW: NÃO HÁ COMPETÊNCIAS E HABILIDADES SEM CONTEÚDOS • ano 15 - n° 178

EDUCAÇÃO
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APRENDIZAGEM
Iniciação científica
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cotidiano escolar

BUENOS AIRES
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A ciranda d a
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S e m acertar o passo d o regime colaborativo entre a s unidades
d a federação, país a c e l e r o u o r i t m o d a descentralização d o e n s i n o
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u 0 CÉREBRO N A S A L A D E A U L A
Dr Frances Jone

Ganha força no
país a discussão
sobre o alcance
da neurociência
na escola. Embora
educadores e
F ica e m Macaíba, n a região m e t r o p o l i t a n a d e N a t a l , R i o G r a n d e d o N o r t e ,
a q u e l e q u e d e v e ser o p r o j e t o b r a s i l e i r o m a i s a m b i c i o s o i n t e r l i g a n d o as n e u -
rociência e a educação. A l i está e m construção o c h a m a d o " C a m p u s d o Cérebro",
neurocientistas c a p i t a n e a d o p e l o n e u r o c i e n t i s t a p a u l i s t a n o M i g u e l N i c o l e l i s , d i r e t o r científico d o
estejam seguros I n s t i t u t o I n t e r n a c i o n a l d e Neurociência d e N a t a l E d m o n d e L i l y Safra ( I I N N -
- E L S ) e p r o f e s s o r d a D u k e U n i v e r s i t y , n o s E s t a d o s U n i d o s . Se o s p l a n o s dele se
de que não há c o n c r e t i z a r e m , e m 2 0 1 3 começará a f u n c i o n a r u m a escola d e t e m p o i n t e g r a l p a r a
fórmulas definitivas, 3 m i l crianças - d o berçário a o e n s i n o médio - a o l a d o d e u m g r a n d e i n s t i t u t o d e
acreditam que p e s q u i s a e m neurociência básica. " A c h o q u e esse é u m d o s p r i m e i r o s p r o g r a m a s
d o t i p o n o m u n d o , p o r q u e m e s m o o s p r o g r a m a s d e neuroeducação a m e r i c a n o s
o conhecimento não têm u m a escola a c o p l a d a a o c e n t r o d e pesquisa", a f i r m a N i c o l e l i s .
do cérebro A i d e i a é a c o m p a n h a r o s m e n i n o s e as m e n i n a s "desde o n a s c i m e n t o , d o
terá impactos p o n t o d e v i s t a médico, psicológico, odontológico e e d u c a c i o n a l " . "Nós v a m o s
determinantes na b a s i c a m e n t e e s t u d a r a o l o n g o d a v i d a dessas crianças s e u d e s e n v o l v i m e n t o i n -
t e l e c t u a l e c o g n i t i v o " , a f i r m a o n e u r o c i e n t i s t a , q u e r e c e n t e m e n t e lançou p e l a
prática do ensino C o m p a n h i a das L e t r a s o l i v r o Muito Além do Nosso Eu - A nova neurociência
que une cérebro e máquinas e como ela pode mudar nossas vidas. " E s p e r a m o s q u e
o s n o v o s c o n h e c i m e n t o s s o b r e c o m o o cérebro a p r e n d e p o s s a m s e r a p l i c a d o s
n a prática n o d e s e n h o d e n o v a s i n i c i a t i v a s pedagógicas, n o v o s currículos, n o v a s
f e r r a m e n t a s pedagógicas."

N E U R O l EDUCAÇÃO
CONTEXTO BRASILEIRO

A escola d o C a m p u s d o Cérebro não


será a p r i m e i r a experiência d a e q u i p e d o
I I N N - E L S c o m crianças e m sala d e a u l a .
D e s d e 2 0 0 7 , eles d e s e n v o l v e m e t o c a m o
p r o j e t o Educação p a r a T o d a a V i d a , p a r a
pré-adolescentes e a d o l e s c e n t e s d e 10 a 1 5
anos, que f u n c i o n a n o t u r n o o p o s t o ao d o
e n s i n o público. E m d u a s escolas n o R i o
G r a n d e d o N o r t e e u m a n a B a h i a , cerca d e
1,5 m i l a l u n o s p a r t i c i p a m d u a s v e z e s p o r
s e m a n a d e aulas e m laboratórios, o f i c i n a s
d e b i o l o g i a , computação, química, física,
ciência e artes, ciência e t e c n o l o g i a e r o -
bótica. " C r i a m o s u m currículo t o t a l m e n t e
prático, i n s p i r a d o n o c o n h e c i m e n t o n e u -
rocientífico d e q u e o cérebro a p r e n d e p o r
associação d e ideias, c o m o q u a l as c r i a n -
ças a p r e n d e m fazendo," d i z N i c o l e l i s .
Os resultados d o p r o g r a m a , que c o n -
t a c o m financiamento p r i v a d o e público, • EDUCAÇÃO PARA TODA A VIDA: No projeto Liderado pelo neurocientista Miguel Nicolelis
em Natal, Rio Grande do Norte, adolescentes participam de aulas em laboratórios, oficinas
são a n i m a d o r e s , s e g u n d o ele. " H o u v e u m
de biologia, c o m p u t a ç ã o , química, ciência, artes e robótica. Segundo o pesquisador, os resul-
a u m e n t o explosivo n a p e r f o r m a n c e des- tados do projeto se refletem na baixíssima evasão escolar dos alunos envolvidos
sas crianças n a e s c o l a pública n o r m a l ,
e m u m d o s piores distritos escolares d o t o d e Econônica A p l i c a d a ( I p e a ) , a evasão m a i s acessível, o e n t e n d i m e n t o s o b r e o
B r a s i l . Além disso, a t a x a d e evasão e s c o - e s c o l a r n o e n s i n o médio v a r i a d e 4 5 , 6 % , seu funcionamento."
l a r n o e n s i n o médio é d e m e n o s d e 2% e m São P a u l o , a 6 8 , 4 % e m Rondônia. E também começam a aparecer as
c o m as n o s s a s crianças", c o n t a . " E s t a m o s "formações" d e professores d e redes pú-
demonstrando que a simples i m p l e m e n - • Campo emergente b l i c a s d e e n s i n o e escolas p a r t i c u l a r e s c o n -
tação d e u m c o n c e i t o básico d a n e u r o - O p r o j e t o d e Macaíba p o d e s e r o m a i s templando o assunto - principalmente nos
ciência, q u e é o a p r e n d i z a d o a s s o c i a t i v o , a u d a c i o s o , m a s não é o único n o B r a s i l E s t a d o s d e M i n a s G e r a i s , R i o d e Janeiro,
t r a n s f o r m o u realmente o interesse e a a e x p l o r a r as p o s s i b i l i d a d e s desse c a m p o R i o G r a n d e d o S u l , São P a u l o e R i o G r a n -
p e r f o r m a n c e d o s a l u n o s n e s s a f a i x a etária "emergente". P r i n c i p a l m e n t e d e p o i s d o d e d o N o r t e . A combinação dessas áreas é
- q u e é crítica." S e g u n d o d a d o s d o I n s t i t u - a n o 2000, neurocientistas, pedagogos, psi- c a d a v e z m a i s f r e q u e n t e e m seminários,
cólogos, médicos, p r o f e s s o r e s e biólogos c o n g r e s s o s , conferências e palestras n o
têm se e n v o l v i d o e m pesquisas, e s t u d o s e país (ver quadro napág. 34).
Críamos u m projetos buscando integrar conhecimen- Ex-parceiro de Nicolelis n o I I N N - E L S

currículo prático, t o s d a neurociência à educação. " A p a r t i r


d a década d e 1 9 9 0 , d e n o m i n a d a a década
e a g o r a d i r e t o r d o I n s t i t u t o d o Cérebro d a
Universidade Federal d o R i o Grande d o
com o qual as d o cérebro, s u r g i r a m m u i t a s p e s q u i s a s , N o r t e ( U F R N ) , o neurobiólogo b r a s i l i e n s e
crianças a p r e n d e m g r a n d e p a r t e delas u t i l i z a n d o técnicas d e S i d a r t a R i b e i r o a t u a nessa área e t e m vá-
i m a g e a m e n t o , c o m o a ressonância m a g - r i o s o r i e n t a n d o s d a pós-graduação cujas
fazendo, inspirado nética f u n c i o n a l " , a f i r m a D a n i e l a M a r t i p e s q u i s a s se s i t u a m n a i n t e r f a c e e n t r e a
no c o n h e c i m e n t o B a r r o s , p r o f e s s o r a d e neurociência a p l i c a - neurociência e a educação. A s p e s q u i s a s

neurocientífíco d e d a à Educação e c o o r d e n a d o r a d o L a b o -
ratório d e Neurociências d o I n s t i t u t o d e
vão d e s d e a análise d o s efeitos d e u m a s o -
n e c a d e p o i s d e u m a a u l a até o s j o g o s e o
que o cérebro Ciências Biológicas ( I C B ) d a U n i v e r s i d a - a p r e n d i z a d o escolar. R i b e i r o - q u e e s t u d a a
a p r e n d e por de Federal d o R i o G r a n d e ( F U R G ) , n o R i o relação e n t r e s o n o e memória - é também
G r a n d e d o S u l . "Esses e s t u d o s g e r a r a m co-organizador da Escola Latino-america-
associação d e i d e i a s 9 9
u m a b a g a g e m d e c o n h e c i m e n t o s acerca n a d e Ciências E d u c a c i o n a i s , C o g n i t i v a s
Miguei Nicolelis d o cérebro q u e t o r n o u m a i s fácil, t a l v e z e Neurais, n u m evento anual financiado

ÍJEDUCAÇÃO
e m u m hotel para discutir e pensar r u m o s d u a s áreas p r e f e r e m não u s a r o t e r m o
A ideia é fomentar p a r a a educação. " A i d e i a é f o m e n t a r u m a "neuroeducação" - também p a r a não d a r
u m a nova geração n o v a geração d e p e s q u i s a d o r e s p r e o c u p a - a impressão d e q u e há u m a n o v a p e d a -

de pesquisadores d o s e m f a z e r p e s q u i s a e m sala d e a u l a e
u m e n s i n o b a s e a d o e m evidências", d i z o
g o g i a e m j o g o . A l g u n s p e s q u i s a d o r e s se
m o s t r a m céticos c o m relação à aplicação
preocupados em neurobiólogo. " U s a r p r o c e d i m e n t o s c i e n - n a educação d o c o n h e c i m e n t o n e u r o c i e n -
f a z e r pesquisa em tíficos p a r a t e s t a r p e d a g o g i a s diferentes". tífico, a o m e n o s p o r e n q u a n t o . " E x i s t e u m
P a r a t e r u m a noção d o prestígio d o e v e n - c o n s e n s o d e q u e as ciências c o g n i t i v a s têm
sala d e a u l a e u m to, basta dizer que h a v i a 600 interessados m u i t o mais a contribuir agora d o q u e a
ensino b a s e a d o e m n a s 5 0 vagas. " O l e g a l dessa escola é q u e neurociência, m a s d e q u e e l a é a b a s e p a r a

evidências f f v e m u m cara c o m o D a v i d K l a h r , d a U n i -
versidade Carnegie-Mellon, c o m dados
o c o n h e c i m e n t o f u t u r o , e, p o r t a n t o , t e m o s
d e i n t e g r a r tudo", a f i r m a o p e s q u i s a d o r .
Sidarta Ribeiro que colocam e m xeque o construtivismo, Para o neurocientista Ivan Izquierdo,
p o r e x e m p l o , e fica t o d o m u n d o p r o v o - d o C e n t r o d e Memória d o I n s t i t u t o d e
p e l a Fundação J a m e s S. M c D o n n e l l . E m c a d o . São l e v a n t a d a s questões empíricas, Pesquisas Biomédicas d a Pontifícia U n i -
2 0 1 2 o c o r r e u e m março e m C a l a f a t e , n a não ideológicas." v e r s i d a d e Católica d o R i o G r a n d e d o S u l
Patagônia, A r g e n t i n a ( e m 2 0 1 1 f o i n o d e - ( P U C - R S ) , o g r a n d e avanço a i n d a está p o r
s e r t o d o A t a c a m a , n o C h i l e , e e m 2 0 1 3 será • A febre que se espalha v i r - e e m breve. " A c h o que o que faremos
realizado n o Brasil). U m a d a s coisas q u e i n c o m o d a m m u i t o s n a próxima década e m relação a o t e m a
A o l o n g o d e d u a s s e m a n a s , 5 0 pós- n e u r o c i e n t i s t a s é a apropriação i n d e v i d a neurociência e e n s i n o o u educação v a i ser
g r a d u a n d o s d e vários l u g a r e s d o m u n d o d o t e r m o " n e u r o " p a r a finalidades m e r a - m u i t o m a i s i m p o r t a n t e " , d i z ele. "É a l g o
( m e t a d e deles d a América L a t i n a ) c o m m e n t e mercadológicas o u p a r a d e s i g n a r q u e está começando e p o r e n q u a n t o se t e m
b a s e sólida e m ciências e matemática e e x p e r i m e n t o s o u estudos q u e l e v a m e m d e l i n e a d o m a i s o u m e n o s o q u e se p r e t e n -
cerca d e 2 0 p r o f e s s o r e s - e n t r e o s q u a i s conta apenas o c o m p o r t a m e n t o . " C h a m o d e fazer. M a s não é fácil e não será n e c e s -
Ribeiro e outros n o m e s reconhecidos d a isso d e c o g n i t i v o o u psicológico, m a s não s a r i a m e n t e através d o e s t u d o d e i m a g e n s
área c o m o o a m e r i c a n o H a l P a s h l e r e o d e n e u r o " , e x p l i c a S i d a r t a R i b e i r o . Vários d u r a n t e a formação d e a p r e n d i z a d o s o u
francês S t a n i s l a s D e h a e n e - se r e u n i r a m dos q u e t r a b a l h a m c o m a interface das memórias, p o r q u e não é possível e s t u d a r
isso c o m as pessoas d e n t r o d e máquinas,
dos tubos de m e t a l dos aparelhos de resso-
nância magnética", d i z I z q u i e r d o .

• Novos conhecimentos na escola


Independentemente d o n o m e que carre-
gam, os projetos q u e buscam interligar
as áreas s e g u e m p e l o país. Não se t r a t a
de f o r m u l a r o u aplicar u m a n o v a peda-
gogia, a l e r t a m m u i t o s , m a s d e aproveitar
o s n o v o s c o n h e c i m e n t o s s o b r e o cérebro
n a prática d a s a l a d e a u l a . " A n e u r o c i -
ência p o d e c o n t r i b u i r p a r a o t i m i z a r o s
processos complexos e n v o l v i c o s n a d o -
cência e n a a p r e n d i z a g e m , q u e são pró-
p r i o s d o domínio d a p e d a g o g i a " , a f i r m a
E l v i r a S o u z a L i m a , d o u t o r a ei n p s i c o l o -
g i a e a u t o r a d e l i v r o s c o m o Ne urociência
e Aprendizagem e Neurociênci i e Escrita
( a m b o s p e l a e d i t o r a I n t e r A\k). E l a p r e -
• NOVOS RUMOS: P ó s - g r a d u a n d o s do mundo todo e professores assistem palestra do f e r e se a p r e s e n t a r c o m o p e s q u i s a d o r a e m
francês Stanislas Dehaene em Calafate, Argentina. O evento, que busca t a m b é m discutir
desenvolvimento humano.
interfaces entre n e u r o c i ê n c i a e educação, foi promovido pela Escola Latino-americana de
Ciências Educacionais, Cognitivas e Neurais em março passado Elvira coordena o p r o j e t o I scrita para
CONTEXTO BRASILEIRO

O que faremos n a
próxima década e m
relação a o t e m a
neurociência e
educação vai ser a i n d a
mais i m p o r t a n t e .
Não é possível
e s t u d a r formação d e
aprendizados com
as pessoas d e n t r o
dos tubos d e m e t a l
dos a p a r e l h o s d e
ressonância magnética »
Ivan Izquierdo
• PERSPECTIVAS FUTURAS: O pesquisador Ivan Izquierdo,da PUC-RS, acredita que o gran-
d e a v a n ç o n a área d e n e u r o c i ê n c i a e e d u c a ç ã o a i n d a está p o r v i r

T o d o s , d e s e n v o l v i d o e m escolas d e J u i z início d o s t e m p o s p a r a l e r e escrever d a d o e n s i n o f u n d a m e n t a l I I n o Colégio V i s -


de F o r a ( M G ) , d e São P a u l o e d e a l g u m a s m e s m a f o r m a c o m o falamos, andamos e c o n d e d e P o r t o S e g u r o , escola p a r t i c u l a r
o u t r a s c i d a d e s m i n e i r a s , v o l t a d o a crianças até c a n t a m o s . R e c e n t e m e n t e , p e s q u i s a d o - d e São P a u l o , p a s s o u a se interessar p e l o
e m i d a d e d e alfabetização. " T e n h o a p l i c a - res b r a s i l e i r o s d a R e d e S a r a h p a r t i c i p a r a m t e m a , há q u a s e d e z a n o s , e a p a r t i c i p a r d e
d o o c o n h e c i m e n t o d e neurociência p a r a de u m a pesquisa coordenada p o r n e u - g r u p o s d e e s t u d o s não a p e n a s c o m o u t r o s
a docência de várias d i s c i p l i n a s e m escolas r o c i e n t i s t a s franceses p a r a i n v e s t i g a r se a p e d a g o g o s , m a s também c o m p e d i a t r a s ,
públicas e particulares", a f i r m a ela, q u e a t u - alfabetização m u d a v a o f u n c i o n a m e n t o d o o t o r r i n o s , físicos, e n g e n h e i r o s elétricos e
a l m e n t e não t e m vínculo c o m n e n h u m a cérebro e c o m o isso o c o r r i a . C o m o u s o d e p r o f i s s i o n a i s d e o u t r a s formações. " A t u a l -
u n i v e r s i d a d e . " O s r e s u l t a d o s são s u r p r e - i m a g e n s d e ressonância magnética f u n c i o - m e n t e t r a b a l h o c o m adolescentes. N e s t e
e n d e n t e s : as crianças se a p r o p r i a m d a es- nal, a pesquisa c o n c l u i u que s i m : a alfabe- caso, o s r e c e n t e s e s t u d o s sobre s o n o , a l i -
c r i t a , e s c r e v e n d o sentenças c o m correção tização, t a n t o d e crianças c o m o d e a d u l t o s , mentação, s e n s o d e h u m o r , a f e t i v i d a d e ,
gramatical, usando verbos corretamente p o d e m o d i f i c a r b a s t a n t e a organização d o memória, u s o d e d i f e r e n t e s estratégias,
e conectivos." E l a f o i c o n v i d a d a a f a z e r o córtex c e r e b r a l , p o i s as áreas d a visão e d a estímulos v i s u a i s , a u d i t i v o s , táteis e a cer-
currículo de educação i n f a n t i l d a c i d a d e z i - l i n g u a g e m a c a b a m se e s p e c i a l i z a n d o p a r a t e z a d e q u e o q u e o cérebro faz m e l h o r é
n h a de Guarani, e m M i n a s Gerais, o qual e n t e n d e r o s símbolos d a escrita, m o b i l i - a p r e n d e r i n t e r f e r e m d i r e t a m e n t e n a sala
se e x p a n d e a g o r a p a r a o u t r o s municípios. z a n d o u m a região q u e antes e r a u s a d a p a r a d e a u l a , n a formação d o p r o f e s s o r e n o a l u -
" O currículo p r i v i l e g i a o d e s e n v o l v i m e n t o o r e c o n h e c i m e n t o das faces. n o . A neurociência n o s dá subsídios p a r a
d a função simbólica. A s crianças dese- Foi por m e i o de u m artigo de Elvira fazer c o m q u e n o s s o a l u n o a p r e n d a m a i s e
n h a m t o d o s os dias, c a n t a m e m c o n j u n t o ; Souza L i m a que a pedagoga e professora m e l h o r " , a f i r m a ela.
trabalhamos c o m o desenvolvimento da Kátia Kúhn C h e d i d , a t u a l m e n t e d i r e t o r a U m dos grupos que integrou - e de
imaginação, c o n c e i t o s básicos d e ciências
através d a experimentação."
A alfabetização é u m t e m a e s p e c i a l -
A neurociência pode contribuir para
m e n t e caro a neurocientistas, professores o t i m i z a r os processos complexos envolvidos
e educadores e m geral porque d e n t r o d a n a docência e n a a p r e n d i z a g e m , que são
evolução d o h o m e m a e s c r i t a e a l e i t u r a
são fenómenos m u i t o recentes - n o s s o próprios do domínio d a p e d a g o g i a
cérebro não e s t a r i a p r o g r a m a d o d e s d e o Elvira Souza Lima
JEPUCAÇAO
T U CA V I E I R A / F O L H A P R E S S

SHUTTERSTOCK
CONTEXTO BRASILEIRO

A hipótese é que os e x e r g a m e s p o d e m repertório d e l e s p a r a não p e r d e r o foco".


D e r e p e n t e , p o s s o f a z e r v o o s estratosfé-
m e l h o r a r a atenção e a p e r f o r m a n c e cognitiva r i c o s e poderá c a b e r q u a l q u e r c o i s a , m a s
e física dos jovens, p r i n c i p a l m e n t e p e l o o p e s s o a l d a e s c o l a m e d i z : 'Não, não é

aspecto motivacional f f b e m a s s i m ' . C o m i s s o , você v a i g a n h a n -


d o m a i s repertório crítico." T r a b a l h a n d o
Alfred Sholl-Franco d e n t r o d a escola, o g r u p o busca p r o d u -
z i r s e m p r e u m a intervenção pedagógica
q u e favoreça a a p r e n d i z a g e m e s c o l a r .
"Não é n e u r o p e d a g o g i a ; nós t r a t a m o s
d e f u n d a m e n t a r u m a compreensão d a s
dificuldades d e a p r e n d i z a g e m c o m base
n a neurociência. E l a s não são s u f i c i e n -
tes p a r a e x p l i c a r o f r a c a s s o escolar, m a s
são necessárias."

• Jogos para o corpo e mente


N o R i o d e Janeiro, o grupo N e u r o e d u c
- C e n t r o d e E s t u d o s e m Neurociências
e Educação - , i n t e g r a d o p o r p r o f e s s o r e s ,
pesquisadores e alunos d a Universidade
Federal d o R i o d e Janeiro ( U F R J ) , d a
Universidade Federal Fluminense (UFF),
d a U n i v e r s i d a d e d o E s t a d o d o R i o d e Ja-
n e i r o ( U E R J ) e d e escolas públicas d o s
municípios d e B e l f o r d R o x o e d e N o v a
Iguaçu, t e m q u a t r o l i n h a s p r i n c i p a i s d e
p e s q u i s a : cognição e c o r p o r e i d a d e ; e n -
• N O V A S F O R M A S D E A P R E N D E R : D u r a n t e a I I I S e m a n a d o C é r e b r o , e m março ú l t i m o , o r g a - s i n o , a p r e n d i z a g e m e neuroeducação;
n i z a d a p e l a U F R J e p e l a O r g a n i z a ç ã o Ciências e C o g n i ç ã o , J o v e n s s e d i v e r t e m e a p r e n d e m n e u r o f i l o s o f i a n a e s c o l a e n o v a s mídias,
c o m o j o g o eletrônico C o m a n d o I m u n o , u m d o s p r o m i s s o r e s f r u t o s d o P r o j e t o N e u r o e d u c .
narratividade e ensino.
U m a das pesquisas promissoras d o
o n d e a t u a l m e n t e está d e s l i g a d a - é c o - orienta e supervisiona o atendimento de grupo é u m estudo c o m os chamados
ordenado pela pedagoga M a r i a A n i t a crianças c o m d i f i c u l d a d e s d e a p r e n d i - exergames, o t i p o de videogame n o qual
V i v i a n i M a r t i n s , professora d o curso d e zagem. O grupo n o r m a l m e n t e parte de o jogador precisa m e x e r o corpo t o d o e
pós-graduação e m P s i c o p e d a g o g i a d a c a s o s c o n c r e t o s d e d u a s escolas públicas não ficar a p e n a s s e n t a d o m o v i m e n t a n d o
Pontifícia U n i v e r s i d a d e Católica d e São e u m a p a r t i c u l a r , c o m as q u a i s t r a b a l h a só o s d e d o s n o c o n t r o l e . " A hipótese é
P a u l o ( P U C - S P ) , c h a m a d o Educação e e m parceria, para p r o d u z i r u m conheci- q u e esses j o g o s p o d e m m e l h o r a r a a t e n -
Produção d o C o n h e c i m e n t o . F o r m a d o m e n t o que ajude o professor a lidar c o m ção e a p e r f o r m a n c e c o g n i t i v a e física
e m 2004 por u m a equipe multidiscipli- o s a l u n o s e m s a l a d e a u l a . "Há d i f i c u l d a - dos jovens, p r i n c i p a l m e n t e pelo aspecto
n a r e i n t e r i n s t i t u c i o n a l , o g r u p o s e reú- des, s i n t o m a s q u e você p r e c i s a i d e n t i f i c a r m o t i v a c i o n a l " , d i z o neurobiólogo A l f r e d
ne u m a vez por semana e provavelmente q u e a j u d e m a e x p l i c a r a razão d e s s a não S h o l l - F r a n c o , p r o f e s s o r d o Laboratório
f o i u m d o s p r i m e i r o s d o país a p r o m o - a p r e n d i z a g e m escolar, desse não e n q u a - d e Neurogênese d o I n s t i t u t o d e Biofísi-
v e r u m a discussão r e g u l a r a p l i c a n d o a d r a m e n t o n a a p r e n d i z a g e m escolar." D e - ca C a r l o s C h a g a s F i l h o , d a U F R J , e líder
neurociência a o s p r o c e s s o s d e e n s i n o e p e n d e n d o d o caso, o g r u p o - b a s e b u s c a d o grupo. Iniciada n o ano passado c o m
a p r e n d i z a g e m . " A neurociência têm m e a m p a r o d e fonoaudiólogos, psicólogos, a l u n o s d o C e n t r o I n t e g r a d o d e Educação
d a d o m u i t a m a t u r i d a d e p a r a não ser p r e - p s i q u i a t r a s e médicos. Pública ( C i e p ) 1 7 8 d e B e l f o r d R o x o , a
c i p i t a d a n a avaliação e n o e n q u a d r a m e n - N a s discussões, s e m p r e estão p r e s e n - pesquisa registra, c o m o uso de u m ence-
t o d e crianças e m g e r a l e d e crianças c o m tes c o o r d e n a d o r e s pedagógicos d a e s c o - falógrafo, a s p e c t o s c o g n i t i v o s c o m o g r a u
dificuldades", a f i r m a M a r i a A n i t a , q u e l a pública, d i z M a r i a A n i t a . " P r e c i s o d o d e atenção e t e m p o d e r e s p o s t a , a n t e s e

lNi W
E UI kRM
O lE D U C A Ç Ã Q

m
depois de o s j o v e n s j o g a r e m os exerga- A neurociência têm m e d a d o m u i t a
m a t u r i d a d e p a r a não ser p r e c i p i t a d a n a
mes. Os estudiosos esperam desenvolver
p r o t o c o l o s p a r a o u s o saudável desse t i p o
d e estimulação. avaliação e no e n q u a d r a m e n t o d e crianças
O g r u p o também d e s e n v o l v e u u m
j o g o eletrônico c h a m a d o C o m a n d o I m u -
e m g e r a l e d e crianças c o m d i f i c u l d a d e s
no, dentro d o projeto NeurAventura, Maria Anita V. Martins
p a r a t r a n s m i t i r conteúdos d e neurociên-
c i a a a l u n o s d o E n s i n o médio. C o o r d e -
n a d o p e l o p e s q u i s a d o r Gláucio A r a n h a
Barros, o projeto foi laureado e m 2011
c o m o Prémio I n s t i t u t o C l a r o - N o v a s
Formas de Aprender e Empreender, n a
área d e inovação n a e s c o l a , e u s a d i f e r e n -
tes p l a t a f o r m a s d e comunicação. N a d i -
nâmica d o j o g o , o s j o v e n s p o d e m e n c a r -
nar u m cientista que t e m de combater os
m a l e s c a u s a d o s p o r minúsculos o r g a n i s -
m o s c a p a z e s d e a l t e r a r o s i s t e m a n e rvvooss o
e o c o m p o r t a m e n t o das pessoas.

• A troca de saberes
A divulgação d a neurociência p a r a p r o -
fessores, a l u n o s e a c o m u n i d a d e d e f o r -
m a g e r a l , aliás, é u m a preocupação d e
diversos grupos. O Neuroeduc, d o R i o ,
o f e r e c e u m c u r s o d e formação c o n t i n u a -
da a professores duas vezes p o r a n o cujo
t e m a é neurociência e d u c a c i o n a l . Além
d i s s o , p u b l i c a a r e v i s t a científica Ciências
e Cognição e p a r t i c i p a d o M u s e u I t i n e -
r a n t e d e Neurociências, q u e l e v a a t i v i d a -
des d e divulgação científica a e s c o l a s d o
Estado d o Rio.
E m Ribeirão P r e t o , n o i n t e r i o r d e São
P a u l o , o médico n e u r o l o g i s t a M a r c o A r -
r u d a - q u e p a s s o u a e s t u d a r n a década
de 1990 os grandes autores da pedagogia,
c o m o Jean Piaget e L e v V i g o t s k i , m o t i -
v a d o pelas palestras sobre T r a n s t o r n o
d o Déficit d e Atenção e H i p e r a t i v i d a -
de ( T D A H ) q u e realizava n a s escolas -
criou e m 2006 a Comunidade Aprender O n e u r o c i e n t i s t a não consegue sozinho traduzir
Criança, c o m o o b j e t i v o d e d i s s e m i n a r o s
c o n h e c i m e n t o s d a neurociência p a r a o s
esse c o n h e c i m e n t o todo e m práticas e f i c a z e s
p r o f i s s i o n a i s d a educação. d e n t r o d a escola e d a sala d e aula.
"Está h a v e n d o u m a verdadeira Daí a n e c e s s i d a d e d e h a v e r c o m p a r t i l h a m e n t o
avalanche de conhecimentos q u e tor-
n a impossível a c o m p a n h a r t u d o . U m a
d e informações e experiência f f
v e r d a d e i r a revolução n o c o n h e c ii mr e n - Marco Arruda
CONTEXTO BRASILEIRO

* O i n v e s t i m e n t o n a área d e neurociência
f

a p l i c a d a à educação a i n d a é m u i t o tímido. São


poucas a s instituições d e ensino que r e c o n h e c e m
a importância desses estudos, por isso os
recursos ficam a p e n a s c o m a área d a saúde
Marta Relvas
AGENDA
to", d i z A r r u d a , q u e d e s d e 2 0 0 5 i n t e g r a dos aspectos das dificuldades de apren-
a A s s o c i a ç ã o Brasileira de também o g r u p o I n t e r n a t i o n a l M i n d , d i z a g e m e i n s p i r a r práticas e d u c a c i o n a i s ,
Psicopedagogia e o Projeto Brain, and Education Society (Imbes), de s e m f o r n e c e r n u n c a u m a "prescrição d e
Cuca Legal, do D e p a r t a m e n t o
neurocientistas interessados e m pesqui- receita". E l a se p r e o c u p a , n o e n t a n t o , c o m
de Psiquiatria da Universidade
F e d e r a l de S ã o Paulo (Unifesp),
sas s o b r e o t e m a . "Esses c o n h e c i m e n t o s u m " e x c e s s i v o o t i m i s m o " c o m relação
p r o m o v e r ã o em S ã o Paulo u m precisam ser levados, p o r direito e c o m às contribuições d a neurociência à e d u -
evento c h a m a d o D i á l o g o s entre m u i t o cuidado, para a sociedade, e espe- cação e d i z q u e a f a l t a d e c o n h e c i m e n t o
Neurociências, Saúde Mental c i a l m e n t e aos educadores. O n e u r o c i e n - dos neurocientistas sobre o processo d e
e E d u c a ç ã o , com p a l e s t r a n t e s t i s t a não c o n s e g u e s o z i n h o t r a d u z i r esse e n s i n o e a p r e n d i z a g e m n a sala d e a u l a
brasileiros e estrangeiros.
c o n h e c i m e n t o t o d o e m práticas eficazes também é u m f a t o r a ser c o n t o r n a d o .
Entre 3 1 de agosto e 2 de
d e n t r o d a e s c o l a e d a sala d e a u l a . Daí a O neurocientista Roberto Lent, d a
setembro, o evento A p r e n d e r necessidade de c o m p a r t i l h a m e n t o de i n - U F R J , e m d i v e r s a s ocasiões e x p r e s s o u
C r i a n ç a , e m R i b e i r ã o Preto, no formações e experiência." O médico c h e - s u a preocupação c o m o c h a m a d o " p a r a -
interior de S ã o Paulo, cujo t e m a g o u a organizar u m a "cartilha d o educa- d o x o b r a s i l e i r o " . S e g u n d o ele, e n q u a n t o a
será i n c l u s ã o , pretende reunir dor", c o m d i c a s s o b r e a importância d o produção científica d o país cresce a p a s -
c e n t e n a s de professores e outros
s o n o , s o b r e o acesso à mídia eletrônica e sos l a r g o s e m várias áreas, os i n d i c a d o r e s
profissionais i n t e r e s s a d o s e m
educação e neurociências.
s o b r e f a t o r e s d e proteção d e saúde m e n - e d u c a c i o n a i s d a população c o n t i n u a m
t a l e d e s e m p e n h o escolar. u m "desastre".
Ainda no segundo s e m e s t r e , P a r a a bióloga e p r o f e s s o r a M a r t a E m 2010, h a v i a n o Brasil quase 1 4
d e v e r á ocorrer o I I S e m i n á r i o
dev R e l v a s , m e n t o r a d o c u r s o d e pós-gradu- milhões d e p e s s o a s c o m 15 a n o s o u m a i s
Nacional de N e u r o c i ê n c i a s e
ação d e Neurociência a p l i c a d a à P e d a g o - a n a l f a b e t a s , s e g u n d o o C e n s o Demográ-
E d u c a ç ã o , no Rio Grande do S u l .
gia e pesquisadora d a A V M Faculdade fico, d o I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e G e o g r a f i a
I n t e g r a d a - U n i v e r s i d a d e Cândido M e n - e Estatística ( I B G E ) . Além disso, a p e s a r
des, a área é p r o m i s s o r a e i n t r i g a n t e , m a s d e p r a t i c a m e n t e t o d a s as crianças b r a s i -
Estudos sobre sono, o s r e c u r s o s , a i n d a escassos. " O i n v e s t i - l e i r a s e s t a r e m n a escola, 6 , 5 % d o s m e n i -
alimentação, humor, m e n t o n a área d e neurociência a p l i c a d a n o s e m e n i n a s d e 10 a n o s a i n d a não s a -

a f e t i v i d a d e , memória, à educação a i n d a é m u i t o tímido, q u a s e


n e n h u m . São p o u c a s as instituições d e
b i a m ler n e m escrever e m 2010.
É c e r t o q u e a questão é m u i t o m a i s
estímulos visuais, e n s i n o q u e r e c o n h e c e m a importância política e s o c i a l , l i g a d a à d e s i g u a l d a d e
auditivos, táteis e a desses e s t u d o s , p o r i s s o o s r e c u r s o s ficam d a educação o f e r e c i d a a r i c o s e p o b r e s e

c e r t e z a d e que o que
a p e n a s c o m a área d a saúde", a f i r m a . à posição socioeconómica e c u l t u r a l d a
E m Belo H o r i z o n t e , a professora L e - família, d o q u e u m p r o b l e m a científico.
o cérebro faz m e l h o r é o n o r G u e r r a , especialista e m N e u r o p s i - M a s também é b a s t a n t e provável q u e ,
aprender interferem cologia, m i n i s t r a t o d o s os anos u m c u r s o u m a vez que neurocientistas e educado-
d e atualização n a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l res c o n s i g a m d i a l o g a r e e s t a b e l e c e r p o n -
diretamente n a sala de de M i n a s Gerais ( U F M G ) a interessados, tes m a i s f r e q u e n t e s , t o d a a população
a u l a , n a formação do s e j a m eles p r o f e s s o r e s o u não (ver box na saia g a n h a n d o . •

professor e no a l u n o " pág. 31). P a r a ela, s a b e r c o m o o cérebro


f u n c i o n a p o d e ajudar professores, educa- AAUTORA
Kátia Chedid dores e pais a c o m p r e e n d e r d e t e r m i n a - Frances Jones é j o r n a l i s t a e t r a d u t o r a .

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U M " A B C D O CÉREBRO
Enquanto a ciência e a tecnologia do século 2 1 continuam a
revelar meandros e f u n ç õ e s de nosso mais importante ó r g ã o ,
educadores se d ã o conta de que conhecer o c é r e b r o pode
a j u d á - l o s a melhorar a prática de ensino. A seguir, alguns
conceitos-chave do processo de aprendizado

Por Bruno delia Chiesa*

i AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO •CÉREBRO

A a b o r d a g e m neurocientífica d o a p r e n d i z a d o p r o p o r c i o n a u m
s i s t e m a d e referência t e ó r i c o p a r a práticas e d u c a c i o n a i s b a -
s e a d o n a s ciências b i o l ó g i c a s . E s s e c a m p o d e e s t u d o , q u e v e m
E mbora desempenhe u m papel fundamental,
o c é r e b r o c o n t i n u a s e n d o u m a p a r t e única
d e u m o r g a n i s m o c o m p l e t o . U m a p e s s o a não
e m e r g i n d o c o m r a p i d e z , está l e n t a m a s d e c i s i v a m e n t e c o n s - p o d e s e r r e d u z i d a a p e n a s a e s s e órgão, e s p e -
t r u i n d o o s a l i c e r c e s d e u m a "ciência d o a p r e n d i z a d o " . c i a l m e n t e p o r q u e o c é r e b r o está e m c o n s t a n t e
U m s e r v i v o é c o m p o s t o d e v á r i o s níveis d e o r g a n i z a ç ã o . O interação c o m o u t r a s p a r t e s d o c o r p o .
resultado é q u e u m processo h u m a n o isolado pode ser definido Sede d e nossas capacidades mentais, o
d e f o r m a d i s t i n t a d e p e n d e n d o d o n í v e l u s a d o c o m o referência. cérebro a s s u m e funções v i t a i s a o i n f l u e n c i a r a
I s s o v a l e p a r a o a p r e n d i z a d o , p r o c e s s o e m q u e a definição v a r i a f r e q u ê n c i a cardíaca, a t e m p e r a t u r a d o c o r p o , a
de acordo c o m a perspectiva d eq u e m o descreve. respiração e t c , b e m c o m o a o d e s e m p e n h a r a s
A s diferenças e n t r e d e f i n i ç õ e s c e l u l a r e s e c o m p o r t a m e n t a i s a s s i m c h a m a d a s funções " s u p e r i o r e s " , c o m o a
r e f l e t e m a s v i s õ e s c o n t r a s t a n t e s d a n e u r o c i ê n c i a e d a ciência l i n g u a g e m , o raciocínio e a consciência. C o m -
educacional. Para o sneurocientistas, o aprendizado é u m pro- p r e e n d e d o i s hemisférios ( e s q u e r d o e d i r e i t o ) ,
c e s s o c e r e b r a l e m q u e o cérebro r e a g e a u m estímulo, o q u e q u e s e d i v i d e m e m lobos (occipital, parietal,
e n v o l v e p e r c e p ç ã o , p r o c e s s a m e n t o e integração d a informação. t e m p o r a l e f r o n t a l ) , (ver imagem na pág. 38)
Educadores o c o n s i d e r a m u mprocesso ativo que leva à a q u i - Os principais c o m p o n e n t e s d o tecido
sição d e c o n h e c i m e n t o , o q u e p o r s u a v e z a c a r r e t a m u d a n ç a s c e r e b r a l são a s c é l u l a s g l i a i s e a s n e r v o s a s
d u r a d o u r a s , m e n s u r á v e i s e específicas d e c o m p o r t a m e n t o . (neurónios), e s t a s c o n s i d e r a d a s s u a u n i d a d e
f u n c i o n a l básica p o r d o i s m o t i v o s : a e x t e n s a
interconectividade entre elas e porque s e es-
p e c i a l i z a m n a c o m u n i c a ç ã o . O s n e u r ó n i o s são
organizados e m redes funcionais situadas e m
p a r t e s específicas d o cérebro.

* T e x t o t r a d u z i d o e a d a p t a d o d o l i v r o Understanding the brain: the birth o f a l e a r n i n g s c i e n c e


( 2 0 0 7 ) , c o m autorização d a Organização p a r a Cooperação e D e s e n v o l v i m e n t o Económico ( O C D E ) .

3EDUCAÇÃO
CONCEITOS

DESENVOLVIMENTO

O cérebro s e m o d i f i c a - s e d e s e n v o l v e - d e m a n e i r a c o n t í n u a
por toda avida. Esse d e s e n v o l v i m e n t o é guiado t a n t o pela bio-
l o g i a q u a n t o p e l a experiência. A s predisposições genéticas i n t e -
s a d o r e s começaram a m a p e a r e s s a s mudanças m a t u r a c i o n a i s e a
d e s v e n d a r c o m o a b i o l o g i a e a experiência i n t e r a g e m p a r a g u i a r o
desenvolvimento.
r a g e m c o m a experiência p a r a d e t e r m i n a r a e s t r u t u r a e a função E n t e n d e r o d e s e n v o l v i m e n t o d e u m a p e r s p e c t i v a científica
d o cérebro n u m d a d o p o n t o d o t e m p o . P o r c a u s a d e s s a interação p o d e c a u s a r u m i m p a c t o p o d e r o s o n a prática e d u c a c i o n a l . À m e -
c o n t í n u a , c a d a cérebro é ú n i c o . d i d a q u e o s c i e n t i s t a s c o n h e c e r e m a s m u d a n ç a s n o cérebro r e -
E m b o r a e x i s t a u m a v a s t a g a m a d e diferenças i n d i v i d u a i s n o l a c i o n a d a s à i d a d e , o s e d u c a d o r e s terão condições d e u s a r e s s a s
d e s e n v o l v i m e n t o c e r e b r a l , características r e l a c i o n a d a s à i d a d e p o - informações p a r a p r o j e t a r m a t e r i a i s didáticos m a i s a p r o p r i a d o s à
d e m t e r consequências i m p o r t a n t e s p a r a o a p r e n d i z a d o . P e s q u i - f a i x a etária e m u i t o m a i s e f i c i e n t e s .

EMOÇÕES SISTEMA LIMBICO

N egligenciada durante m u i t o t e m p o
n a educação i n s t i t u c i o n a l , a d i m e n -
são e m o c i o n a l d o a p r e n d i z a d o t e m
o c u p a d o c a d a v e z m a i s espaço n a s d i s -
cussões e n v o l v e n d o o s p r o c e s s o s d e
cognição.
A o contrário d o " a f e t o " , q u e é s u a
interpretação c o n s c i e n t e , a s e m o ç õ e s
s u r g e m d e p r o c e s s o s c e r e b r a i s e são n e -
cessárias p a r a a d a p t a ç ã o e r e g u l a ç ã o d o
comportamento humano.
A s emoções são reações c o m p l e -
xas geralmente descritas e m t e r m o s Giro para-hipocampal
Medula espinhal
d e três c o m p o n e n t e s : u m e s t a d o m e n -
t a l específico, u m a m u d a n ç a f i s i o l ó g i c a
e u mi m p u l s o para agir. D i a n t e d e u m a E m o ç õ e s p o d e m p a r e c e r s e n t i m e n t o s c o n s c i e n t e s , m a s s ã o r e s p o s t a s psicológicas
situação p e r c e b i d a c o m o p e r i g o s a , p o r a o s estímulos d e s t i n a d a s a n o s a f a s t a r d o p e r i g o e n o s a p r o x i m a r d a r e c o m p e n s a .
e x e m p l o , a s reações e n g e n d r a d a s v ã o A p e s a r d e s e r e m g e r a d a s c o n s t a n t e m e n t e , e m g e r a l n ã o t e m o s consciência d i s s o
c o n s i s t i r s i m u l t a n e a m e n t e e m ativação
c e r e b r a l específica d o c i r c u i t o d e v o t a - regulação d a s emoções. E s s a e s t r u t u r a a m a d u r e c e p a r t i c u l a r m e n t e t a r d e e m h u -
d o a o m e d o , r e s p o s t a s c o r p o r a i s típicas m a n o s , c o n c l u i n d o s u a maturação n a t e r c e i r a década d e v i d a d e u m indivíduo. A
( p u l s o a c e l e r a d o , p a l i d e z e perspiração) adolescência c e r e b r a l p o r t a n t o d u r a m a i s d o q u e s e p e n s a v a até r e c e n t e m e n t e , o
e i m p u l s o de "lutar o u fugir". q u e a j u d a a e x p l i c a r c e r t a s características d e c o m p o r t a m e n t o : o d e s e n v o l v i m e n t o
C a d a emoção c o r r e s p o n d e a u m c o m p l e t o d o córtex pré-frontal, e p o r consequência a regulação d a s emoções e a
sistema funcional distinto e t e m s e u compensação d e p o t e n c i a i s e x c e s s o s d o s i s t e m a límbico, o c o r r e m d e f o r m a r e l a -
próprio c i r c u i t o c e r e b r a l q u e e n v o l v e t i v a m e n t e t a r d i a e m c a d a u m d e nós.
estruturas n o que c h a m a m o s d e siste- T r o c a s c o n t í n u a s t o r n a m i m p o s s í v e l s e p a r a r o s c o m p o n e n t e s fisiológicos, e m o -
m a límbico (também c o n h e c i d o c o m o c i o n a i s e c o g n i t i v o s d e u m c o m p o r t a m e n t o específico. A força d e s s a i n t e r c o n e c t i v i -
" s e d e d a s emoções"), b e m c o m o a s d a d e r e v e l a o i m p a c t o s u b s t a n c i a l d a s emoções q u a n d o a p r e n d e m o s . U m a emoção
estruturas corticais, p r i n c i p a l m e n t e o p o s i t i v a a s s o c i a d a a o a p r e n d i z a d o f a c i l i t a o s u c e s s o , e n q u a n t o u m a emoção p e r c e -
córtex pré-frontal, c o m p a p e l básico n a bida c o m o negativa resulta e m fracasso.

• FUNÇÕES COGNITIVAS

T e n d o s i d o e s t u d a d a s e m vários níveis, a s funções c o g n i t i v a s s e b e n e f i c i a m


d e u m r i c o esforço d e p e s q u i s a m u l t i d i s c i p l i n a r . D e m a n e i r a s c o m p l e m e n -
t a r e s , a neurociência, a neurociência c o g n i t i v a e a p s i c o l o g i a c o g n i t i v a b u s -
cam entender seus mecanismos.
A cognição é d e f i n i d a c o m o u m c o n j u n t o d e p r o c e s s o s q u e p e r m i t e m o
p r o c e s s a m e n t o d e informações e o d e s e n v o l v i m e n t o d e c o n h e c i m e n t o . E s s e s
p r o c e s s o s são c h a m a d o s "funções c o g n i t i v a s " . A s funções c o g n i t i v a s s u p e r i o -
r e s , q u e c o r r e s p o n d e m a o s p r o c e s s o s m a i s e l a b o r a d o s d o cérebro h u m a n o ,
são p r o d u t o d a f a s e m a i s r e c e n t e d a e v o l u ç ã o c e r e b r a l e estão c e n t r a d a s p r i n -
c i p a l m e n t e n o córtex, u m a e s t r u t u r a a l t a m e n t e d e s e n v o l v i d a e m h u m a n o s .
E x e m p l o s d e s s a s funções são c e r t o s a s p e c t o s d a percepção, d a memória
e d o a p r e n d i z a d o , e também a l i n g u a g e m , o raciocínio, o p l a n e j a m e n t o e a
t o m a d a d e decisões.

N E U R O EDUCAÇÃO
lj- Gânglios da base Corpo
Córtex parietal P°
C o r
caloso - [j- Gânglios da base
Cérebro Córtex pré-frontal caloso
Córtex pré-frontal
Córtex pré-frontal

INFÂNCIA ADOLESCÊNCIA

T V
Amígdala
Amígdala
1
Amígdala
Hipocampo Hipocampo
Cerebelo bronco Cerebelo
encefálico Formação Cerebelo
reticular

O cérebro h u m a n o l e v a a n o s até a t i n g i r d p o t e n c i a l p l e n o d a s h a -
b i l i d a d e s s e n s o r i a i s , m o t o r a s e i n t e l e c t u lis. P o r v o l t a d o s 3 a n o s , • HABILIDADES
a retenção d e m e m ó r i a s é possível g r a < a s a o d e s e n v o l v i m e n t o
d o h i p o c a m p o . E n t r e 6 e 1 3 a n o s , a m a d i r e c e m a s regiões r e l a -
c i o n a d a s à l i n g u a g e m e à compreensãc d a s relações e s p a c i a i s ,
i n c l u i n d o o c ó r t e x p a r i e t a l . N a adolescé i c i a e m b o r a m a i s b e m
O termo "habilidades" é frequentemente utilizado quando
se d i s c u t e m c o m p o r t a m e n t o e aprendizado. U m d a d o
e q u i p a d o p a r a l i d a r c o m d e s a f i o s s o c i a i s e i n t e l e c t u a i s , o cérebro c o m p o r t a m e n t o p o d e ser dividido e m habilidades, e n t e n d i d a s
p r o c e s s a informações e m o c i o n a i s v i a mígdala. A m a t u r i d a d e c o m o suas "unidades naturais".
e m o c i o n a l só c h e g a p o r v o l t a d o s 3 0 , D m o d e s e n v o l v i m e n t o A l i n g u a g e m , por e x e m p l o , pode ser separada e m q u a t r o
c o m p l e t o d o c ó r t e x p r é - f r o n t a l e a t o t a l p a c i d a d e d e raciocínio " m e t a - h a b i l i d a d e s " , d e a c o r d o c o m a transmissão o u a r e c e p -
e d e avaliação d a s ações ção e o s m e i o s d e c o m u n i c a ç ã o : e n t e n d i m e n t o o r a l , p r o d u ç ã o
oral, leitura e escrita. Cada u m a , por sua vez, p o d e ser fraciona-
• FUNCIONALIDADE, BASE NEURAL da e m habilidades ainda mais distintas. O e n t e n d i m e n t o oral
consiste e mcerca d ed e zhabilidades, q u e i n c l u e m m e m o r i -
DE APRENDIZADO z a ç ã o a c u r t o p r a z o d e séries d e s o n s , d i s c r i m i n a ç ã o d o s s o n s
d i s t i n t o s d e u m a d a d a L i n g u a g e m e a distinção d e p a l a v r a s e

A definição neurocientífica d e a p r e n d i z a d o l i g a e s s e p r o c e s -
s o a u m s u b s t r a t o biológico. D e s s e p o n t o d e v i s t a , a p r e n d e r
é o q u e r e s u l t a d o a t o d e i n t e g r a r t o d a a informação p e r c e b i d a
identificação d e c a t e g o r i a s g r a m a t i c a i s .
C a d a h a b i l i d a d e c o r r e s p o n d e a u m a c l a s s e específica d e
a t i v i d a d e s . I s s o s u s c i t a questões s o b r e a avaliação d o p r o -
o u p r o c e s s a d a . E s s a integração t o m a f o r m a n a s modificações
g r e s s o d o i n d i v í d u o e a distinção e n t r e h a b i l i d a d e s e c o n h e c i -
e s t r u t u r a i s n o c é r e b r o , n o m o m e n t o e m q u e alterações m i c r o s -
m e n t o . O q u e e s p e r a m o s d e n o s s a s crianças? H a b i l i d a d e s o u
cópicas p e r m i t e m q u e a s informações p r o c e s s a d a s d e i x e m u m
conhecimento? O que queremos "medir" quado as testamos?
"traço" físico d e s u a p a s s a g e m .
É essencial para os educadores e para qualquer pessoa pre-
o c u p a d a c o m a e d u c a ç ã o alcançar u m e n t e n d i m e n t o d a b a s e
científica d o p r o c e s s o d e a p r e n d i z a d o .
• H O L Í S T I C O E PRÁTICO - O
APRENDIZADO PELO FAZER
• GENÉTICA

A c r e n ç a d e q u e há u m a relação s i m p l e s d e c a u s a e
e f e i t o e n t r e a genética e o c o m p o r t a m e n t o a i n d a p e r -
O q u e e u e s c u t o , e u esqueço. O q u e e u v e j o , e u l e m b r o . O q u e
e u faço, e u e n t e n d o . " Há m u i t o e s q u e c i d a p e l o s e d u c a d o r e s , a
f r a s e d e Confúcio g a n h o u n o v a m e n t e d e s t a q u e n o século 2 0 c o m
siste. I m a g i n a r u m r e l a c i o n a m e n t o linear e n t r e fatores o a d v e n t o d o c o n s t r u t i v i s m o . A o contrário d e t e o r i a s q u e s e c o n -
genéticos e o c o m p o r t a m e n t o é e s t a r b a s t a n t e próximo centravam e m educadores especialistas que t r a n s m i t i a m o conhe-
do total determinismo. U m gene consiste e m u m a sequ- cimento, essa corrente defendia u m novo conceito d e aprendizado:
ência d e D N A q u e c o n t é m a i n f o r m a ç ã o r e l e v a n t e p a r a a construção d o c o n h e c i m e n t o . O a p r e n d i z a d o s e t o r n a m a i s c e n -
p r o d u z i r u m a proteína. A expressão d o g e n e , q u e não trado n o aluno e depende d odesenvolvimento d e conhecimento
ativa u m c o m p o r t a m e n t o , varia c o m base e m n u m e r o s o s a n t e r i o r , b a s e a d o n a experiência, n o s d e s e j o s e n a s n e c e s s i d a d e s
f a t o r e s , e m e s p e c i a l o s a m b i e n t a i s . Após s e r s i n t e t i z a d a , d o indivíduo.
a p r o t e í n a p a s s a a o c u p a r u m l u g a r específico e d e s e m - P o r c o n s e g u i n t e , e s s a r e v i r a v o l t a teórica d e u o r i g e m às a s s i m
p e n h a u m p a p e l n o f u n c i o n a m e n t o d a célula e m q u e c h a m a d a s práticas a t i v a s o u e x p e r i e n c i a i s d e " a p r e n d e r p o r m e i o d a
foi produzida. Nesse sentido, é verdade que, s ea f e t a m a ação". O o b j e t i v o é e n v o l v e r a t i v a m e n t e o s a l u n o s n a interação c o m
função, o s g e n e s m o l d a m o c o m p o r t a m e n t o . N o e n t a n t o , seu a m b i e n t e h u m a n o e material, c o m base n aideia d eq u e isso
t r a t a - s e d e u m a relação c o m p l e x a e i n d i r e t a , c o m vários l e v a r i a a u m a integração m a i s p r o f u n d a d a s i n f o r m a ç õ e s d o q u e a
níveis d e o r g a n i z a ç ã o a i n f l u e n c i a r u n s a o s o u t r o s . percepção. A ação i m p l i c a i n e v i t a v e l m e n t e a o p e r a c i o n a l i z a ç ã o - a
C o n f o r m e a v a n ç a m a s p e s q u i s a s , a crença n u m a f r o n - implementação d o s c o n c e i t o s . O a l u n o não a p e n a s p r e c i s a a d q u i r i r
teira entre o inato e o adquirido vai dando lugar à c o m - o c o n h e c i m e n t o e a experiência, m a s também s e r c a p a z d e torná-
preensão d a interdependência d e f a t o r e s genéticos e - L o s o p e r a c i o n a i s e m aplicações r e a i s . P o r t a n t o , t o r n a r - s e " a t i v o " , o
a m b i e n t a i s n o d e s e n v o l v i m e n t o d o cérebro. q u e pressupõe u m nível m e l h o r d e a p r e n d i z a d o .
P r e v e r o c o m p o r t a m e n t o c o m b a s e n a g e n é t i c a será N e m t o d a s a s d e s c o b e r t a s neurocientíficas d ã o o r i g e m a i n o -
a l g o i n c o m p l e t o : q u a l q u e r a b o r d a g e m i n f l u e n c i a d a tão v a ç õ e s didáticas. N o e n t a n t o , e l a s p r o p o r c i o n a m u m a b a s e teórica
s o m e n t e p e l a g e n é t i c a n ã o só é i n f u n d a d a n o a s p e c t o sólida p a r a práticas t e s t a d a s q u e f o r a m c o n s o l i d a d a s p o r m e i o d a
científico, m a s t a m b é m e t i c a m e n t e questionável e p o l i - e x p e r i ê n c i a . E s s e s i n s i g h t s científicos s e r v e m p a r a a p o i a r o c o r p o d e
ticamente perigosa. c o n h e c i m e n t o e m p í r i c o e i n t u i t i v o já a c u m u l a d o e e x p l i c a r p o r q u e
a l g u m a s d e l a s f r a c a s s a m o u têm s u c e s s o .
INTERAÇÕES SOCIAIS E DE EQUIPE

A s interações s o c i a i s s e r v e m c o m o c a t a l i s a d o r e s d o a p r e n d i z a d o . S e m e s s e
t i p o d e interação, n ã o p o d e m o s a p r e n d e r n e m n o s d e s e n v o l v e r a d e q u a d a -
mente. Q u a n d o confrontados c o m u m contexto social, nosso aprendizado m e -
lhora conforme a riqueza e a variedade desse contexto.
As descobertas a c i o n a m o sprocessos d eusar e desenvolver conhecimento
e h a b i l i d a d e s . L i d a r c o m o s o u t r o s n o s p e r m i t e d e s e n v o l v e r estratégias e a p r i -
m o r a r o raciocínio. P o r e s s e m o t i v o a interação s o c i a l é u m a condição c o n s -
tituinte t a n t o para o d e s e n v o l v i m e n t o inicial das estruturas cerebrais q u a n t o
p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o n o r m a l d e funções c o g n i t i v a s .
Q u e l u g a r a s e s c o l a s d e i x a m p a r a a interação e n t r e o s a l u n o s ? O s u r g i m e n -
INTELIGÊNCIA t o d e n o v a s t e c n o l o g i a s n o s e t o r e d u c a c i o n a l t e v e a m p l a repercussão n a i n t e -
r a t i v i d a d e e m situações d e a p r e n d i z a d o . Q u a l será o i m p a c t o d e s s a s m u d a n ç a s

O c o n c e i t o d e inteligência s e m p r e e s t e v e s u j e i t o
a controvérsias. P o d e u m ú n i c o c o n c e i t o r e s -
ponder por todas a sfaculdades intelectuais d e u m
n o próprio a p r e n d i z a d o ?
E s s a s q u e s t õ e s estão s e n d o t r a t a d a s p e l o c a m p o d a neurociência s o c i a l , q u e
l i d a c o m p r o c e s s o s s o c i a i s e c o m p o r t a m e n t o , e está e m e r g i n d o c o m m u i t a r a p i d e z .
indivíduo? P o d e m e s s a s f a c u l d a d e s s e r s e p a r a d a s
e m e d i d a s ? E, e m p a r t i c u l a r , o q u e e l a s m o s t r a m e
o q u e prevêem s o b r e o f u n c i o n a m e n t o c e r e b r a l d e
u m a pessoa e sobre seu c o m p o r t a m e n t o social? •JAN ELAS DEOPORTUN IDADE PARAOAPRENDIZADO
A noção d e inteligência e v o c a " h a b i l i d a d e s " , s e -
j a m e l a s v e r b a i s , e s p a c i a i s , d e solução d e p r o b l e m a s
o u a habilidade bastante elaborada d elidar c o m a
complexidade. No entanto,todos esses aspectos ne-
C e r t o s períodos n o d e s e n v o l v i m e n t o são p a r t i c u l a r m e n t e a d e q u a d o s p a r a
aprender determinadas habilidades. Durante esses momentos-chave, o
cérebro p r e c i s a d e c e r t o s t i p o s d e e s t í m u l o a f i m d e e s t a b e l e c e r e m a n t e r
g l i g e n c i a m o c o n c e i t o d e"potencial". A i n d a a s s i m , a o d e s e n v o l v i m e n t o d e l o n g o p r a z o d a s e s t r u t u r a s e n v o l v i d a s . E s s e s são e s -
p e s q u i s a neurobiológica s o b r e o a p r e n d i z a d o e a s tágios n o s q u a i s a experiência s e t o r n a u m f a t o r prioritário, responsável p o r
funções c o g n i t i v a s m o s t r a d e f o r m a c l a r a q u e e s s e s mudanças p r o f u n d a s .
p r o c e s s o s p a s s a m p o r evoluções c o n s t a n t e s e d e - C h a m a d o s d e "períodos sensíveis" o u j a n e l a s d e o p o r t u n i d a d e , c o r r e s -
p e n d e m d e vários f a t o r e s , e m e s p e c i a l a m b i e n t a i s e p o n d e m a m o m e n t o s ideais para q u e a spessoas p o s s a m aprender habi-
emocionais. Isso significa q u e u m a m b i e n t e e s t i m u - l i d a d e s específicas. São p a r t e d o d e s e n v o l v i m e n t o n a t u r a l , m a s é p r e c i s o
l a n t e d e v e o f e r e c e r a c a d a indivíduo a p o s s i b i l i d a d e experiência p a r a q u e u m a mudança ( a p r e n d i z a d o ) s e j a e f i c a z . O p r o c e s s o
de cultivar e desenvolver suas habilidades. p o d e s e r d e s c r i t o c o m o a p r e n d i z a d o " e x p e c t a n t e d a experiência" c o m o a
Desse ponto d evista, a s muitas tentativas d e l i n g u a g e m o r a l , e d i f e r e d o a p r e n d i z a d o " d e p e n d e n t e d a experiência", c o m o
q u a n t i f i c a r a inteligência u s a n d o t e s t e s ( c o m o a s a l i n g u a g e m escrita, q u e pode ocorrer e m q u a l q u e r m o m e n t o da vida.
m e d i ç õ e s d e Q I o u o u t r a s ) s ã o estáticas d e m a i s e s e S e n ã o a c o n t e c e r n e s s a s j a n e l a s d e o p o r t u n i d a d e , i s s o não s i g n i f i c a
r e f e r e m a f a c u l d a d e s p a d r o n i z a d a s e c o m viés t e n - q u e o a p r e n d i z a d o não poderá m a i s a c o n t e c e r . S o m o s c a p a z e s d e a p r e n d e r
d e n c i o s o c u l t u r a l ( e a l g u m a s v e z e s até ideológico). durante a toda a vida, mas, fora dessas janelas d eoportunidade, mais t e m -
B a s e a d o s e m s u p o s i ç õ e s apriorísticas, o s t e s t e s p o e m a i s r e c u r s o s c o g n i t i v o s serão necessários, s e m a m e s m a eficiência.
d e inteligência são r e s t r i t i v o s e p o r t a n t o p r o b l e m á - O c o n h e c i m e n t o m a i s p r o f u n d o d e s s e s p e r í o d o s sensíveis e d o a p r e n -
t i c o s . C o m b a s e n e s s e "cálculo d e i n t e l i g ê n c i a " o u n a dizado que ocorre durante eles é u m a linha crucial de pesquisa futura. U m
classificação d i s c u t í v e l d e p e s s o a s e m d i f e r e n t e s ní- m a p a c a d a v e z m a i s c o m p l e t o n o s permitirá a s s o c i a r m e l h o r a instrução
v e i s d e inteligência, o q u e s e p o d e c o n c l u i r q u a n t o a o período sensível a d e q u a d o e m p r o g r a m a s e d u c a c i o n a i s . C o m i s s o , t e r e -
às práticas o u até às e s c o l h a s r e l a c i o n a d a s a o d i r e - m o s u m i m p a c t o p o s i t i v o n a eficácia d o a p r e n d i z a d o .
c i o n a m e n t o d e carreira?

• KAFKA

A o d e s c r e v e r e m " O C a s t e l o " o s vão e s f o r -


ços d o p r o t a g o n i s t a p a r a a t i n g i r s e u s
o b j e t i v o s ( " E x i s t e u m a m e t a , m a s n ã o há c a -
c r a c i a . N u m e r o s o s são o s o b s t á c u l o s e n f r e n t a d o s p o r q u a l q u e r e s -
forço t r a n s d i s c i p l i n a r p a r a c r i a r u m n o v o c a m p o , o u m e s m o lançar
u m a n o v a l u z s o b r e questões e d u c a c i o n a i s . I s s o r e p r e s e n t a u m p r o -
minho"), o escritor tcheco Franz Kafka relata b l e m a delicado d e"gerenciamento d econhecimento". M e s m o que
o sentimento d e desespero diante d e u m a u m p o u c o d e c e t i c i s m o c o n s t r u t i v o n ã o faça m a l , t o d o p r o j e t o i n o -
m á q u i n a burocrática s u r d a e c e g a . I n s p i r a d a v a d o r s e e n c o n t r a n a posição d e " K " e m a l g u m m o m e n t o , b u s c a n d o
e m s u a o b r a , " K " d e D i n o B u z z a t i , é a tragédia alcançar o C a s t e l o . A p e s a r d e t a i s d i f i c u l d a d e s , u m c a m i n h o e x i s t e .
de u mm a l - e n t e n d i d o q u e enfatiza c o m o é A neurociência g e r a d e f o r m a não i n t e n c i o n a l u m a p l e t o r a d e
triste, e perigoso, e n t e n d e r certas realidades " n e u r o m i t o s " b a s e a d o s e m distorções d e r e s u l t a d o s d e p e s q u i s a
tarde demais... (ver Os impactos perigosos das falsas ideias, pág. 44) q u e p r e c i s a m
Há m u i t a resistência e m l e v a r e m c o n t a d e s c o b e r t a s n e u r o c i e n - ser identificados e banidos. P o d e m o s perguntar s e(pelo m e n o s
tíficas r e l a t i v a s a políticas e práticas e d u c a c i o n a i s , o s u f i c i e n t e p a r a e m médio p r a z o ) é aceitável, e m q u a l q u e r reflexão s o b r e a e d u c a -
d e s e n c o r a j a r até s e u s m a i s a r d e n t e s d e f e n s o r e s . O s m o t i v o s p o d e m ção, n ã o c o n s i d e r a r o q u e s e c o n h e c e s o b r e a relação d o cérebro
v a r i a r - s i m p l e s i n c o m p r e e n s ã o , inércia m e n t a l , r e c u s a categórica c o m o a p r e n d i z a d o . É ético i g n o r a r u m c a m p o d e p e s q u i s a r e l e v a n -
e m reconsiderar certas "verdades" passando pelos reflexos corpora- t e e o r i g i n a l q u e está f a z e n d o n o v a s r e f l e x õ e s s o b r e a e d u c a ç ã o e
t i v o s d e defender posições a d q u i r i d a s , o u m e s m o u m a sólida b u r o - e s t a b e l e c e n d o u m a compreensão f u n d a m e n t a l d e l a ?

JEDUCAÇÃO
W
• LINGUAGEM

A L i n g u a g e m é u m a função c o g n i t i v a h u m a n a também d e d i -
c a d a à comunicação q u e p r o p o r c i o n a o u s o d e u m s i s t e m a
d e símbolos. Q u a n d o u m número f i n i t o d e símbolos arbitrá-
r i o s e u m c o n j u n t o d e princípios semânticos são c o m b i n a d o s
d e a c o r d o c o m r e g r a s d a s i n t a x e , é possível g e r a r u m a v a r i e -
d a d e i n f i n i t a d e declarações, o q u e r e s u l t a e m u m i d i o m a . L i n -
guagens diferentes u s a m fonemas, grafemas, gestos e outros
símbolos p a r a r e p r e s e n t a r o b j e t o s , c o n c e i t o s , emoções, i d e i a s
e pensamentos.
S u a expressão r e a l é u m a função q u e r e l a c i o n a a o m e n o s
u m f a l a n t e a u m o u v i n t e , e o s d o i s são i n t e r c a m b i á v e i s . I s s o
s i g n i f i c a q u e a l i n g u a g e m p o d e s e r d e c o m p o s t a p e l a direção
(percepção o u produção) e também p e l o m o d o d e expressão
(oral o uescrita). A l i n g u a g e m oral é adquirida d e m a n e i r a na-
t u r a l d u r a n t e a infância p o r exposição à l i n g u a g e m f a l a d a ; a
4
e s c r i t a , e m c o n t r a p a r t i d a , e x i g e instrução i n t e n c i o n a l .
A l i n g u a g e m f o i u m a d a s p r i m e i r a s funções q u e s e d e -
m o n s t r o u t e r u m a b a s e c e r e b r a l . N o século 1 9 , e s t u d o s d e
afasia feitos p o rdois cientistas (Paul Broca e Carl Wernicke)
r e v e l a r a m q u e c e r t a s áreas d o c é r e b r o e s t a v a m e n v o l v i d a s n o
processamento da linguagem.
A c u m u l a r u m g r a n d e c o r p o d e c o n h e c i m e n t o neurocientí-
f i c o s o b r e e s s a f u n ç ã o c o g n i t i v a f o i p o s s í v e l graças a o s i g n i f i -
c a t i v o i n t e r e s s e d a neurociência n e s s a função. A compreensão
d o s m e c a n i s m o s d a L i n g u a g e m e d e c o m o e l e s são a p r e n d i d o s
já t e v e i m p o r t a n t e i m p a c t o n a s políticas e d u c a c i o n a i s .

• MOTIVAÇÃO PARA APRENDER


• MEMÓRIA
««r^iga-me e esquecerei. Ensine-me e poderei lembrar. En-

D urante o pro-
cesso d e apren-
d i z a d o , s i n a i s são
L - / v o l v a - m e e a p r e n d e r e i . " A máxima d e B e n j a m i n F r a n k l i n
recoloca o e n v o l v i m e n t o , o u seja, o c o m p r o m i s s o d e u m a
p e s s o a c o m u m a d a d a ação, e m s e u p a p e l d e c o n d i ç ã o e s -
deixados pelo pro- sencial d oaprendizado. Nesse sentido, resulta diretamente
cessamento e pela d o p r o c e s s o d e motivá-la a s e c o m p o r t a r d e d e t e r m i n a d a
integração d a s i n - m a n e i r a o ua perseguir u m a m e t a . O processo é a t i v a d o por
formações perce- fatores internos o u externos, e por isso f a l a m o s d a m o t i v a -
bidas, e c o m isso a ção intrínseca, q u e d e p e n d e u n i c a m e n t e d a s n e c e s s i d a d e s
memória é a t i v a d a . próprias d o a l u n o , o u extrínseca, q u e l e v a e m c o n t a a s i n -
A memória é u m p r o c e s s o c o g n i t i v o p e l o q u a l experiências fluências e x t e r n a s . A motivação é e m g r a n d e p a r t e c o n d i -
passadas p o d e m ser lembradas, t a n t o e m t e r m o s d e a d q u i - c i o n a d a p e l a autoconfiança, a u t o e s t i m a e benefícios q u e
r i r n o v a s informações ( f a s e d e d e s e n v o l v i m e n t o d o s i n a l ) alguém a c u m u l a e m t e r m o s d e u m c o m p o r t a m e n t o o u d e
q u a n t o d e relembrá-las ( f a s e d e reativação d o s i n a l ) . Q u a n - u m a meta direcionados.
t o m a i s r e a t i v a d o o p r o c e s s o , m a i s " m a r c a d a " será a l e m - P a r a u m a p r e n d i z a d o b e m - s u c e d i d o a combinação d e
brança, e p o r t a n t o m e n o s passível d e s e r e s q u e c i d a . motivação e a u t o e s t i m a é e s s e n c i a l . A f i m d e c o n f e r i r a e s s e s
A memória é construída s o b r e o a p r e n d i z a d o , e o s b e - fatores seu lugar d e direito nas estruturas d e aprendizado,
nefícios d o a p r e n d i z a d o p e r s i s t e m graças a e l a . E s s e s d o i s o s i s t e m a d e e s t u d o c o m t u t o r e s está c o n q u i s t a n d o e s p a ç o .
p r o c e s s o s têm u m r e l a c i o n a m e n t o tão p r o f u n d o q u e a E l e o f e r e c e a p o i o p e r s o n a l i z a d o e é m a i s b e m a d a p t a d o às
memória está s u j e i t a a o s m e s m o s f a t o r e s q u e i n f l u e n c i a m necessidades d oaluno. U m clima mais pessoal para o apren-
o a p r e n d i z a d o . P o r i s s o a memorização p o d e s e r m e l h o r a - d i z a d o s e r v e p a r a m o t i v a r a l u n o s , m a s não s e d e v e d e s p r e z a r
da por u m forte estado e m o c i o n a l , u m contexto especial, o p a p e l c r u c i a l d a s interações s o c i a i s e m t o d o s o s m o d o s d e
motivação i n t e n s i f i c a d a o u atenção a u m e n t a d a . a p r e n d i z a d o . P o r t a n t o , a personalização não d e v e s i g n i f i c a r
A p r e n d e r u m a lição c o m frequência s i g n i f i c a s e r c a - o isolamento dos estudantes.
p a z d e recitá-la. T r e i n a m e n t o s e t e s t e s são n o r m a l m e n t e A motivação t e m u m p a p e l c e n t r a l n o s u c e s s o d o a p r e n -
b a s e a d o s n a recuperação e memorização d e i n f o r m a - d i z a d o , e m e s p e c i a l a motivação intrínseca. O indivíduo
ções, m u i t a s v e z e s e m prejuízo d o domínio d a s h a b i l i - a p r e n d e c o m m a i s f a c i l i d a d e s e está f a z e n d o i s s o p o r s i m e s -
d a d e s o u até m e s m o d o e n t e n d i m e n t o d e s e u conteúdo. mo, com o desejo d e entender.
É justificado esse papel conferido à capacidade d e m e - E m b o r a a t u a l m e n t e s e j a difícil c o n s t r u i r a b o r d a g e n s
mória n o a p r e n d i z a d o ? E s s a é u m a questão f u n d a m e n t a l e d u c a c i o n a i s q u e p o s s a m i r além d e s i s t e m a s d e s c o m p e n -
n o c a m p o d a educação e começa a a t r a i r a atenção d o s s a e punição" e q u e t e n h a m c o m o a l v o e s s a motivação intrín-
neurocientistas. s e c a , s e u s b e n e f í c i o s são t a i s q u e é d e f u n d a m e n t a l i m p o r -
tância q u e a p e s q u i s a v o l t e s e u s esforços p a r a e s s e domínio.
CONCEITOS

• PLASTICIDADE

O cérebro é c a p a z d e a p r e n d e r p o r c a u s a d e s u a f l e x i b i l i -
d a d e , q u e r e s i d e e m u m a d e s u a s p r o p r i e d a d e s intrín-
s e c a s - a p l a s t i c i d a d e . E m r e s p o s t a a estímulos d o a m -
b i e n t e , n o s s o órgão m a i s i m p o r t a n t e s o f r e modificações.
O m e c a n i s m o o p e r a d e várias m a n e i r a s n o nível d a s
conexões sinápticas. A l g u m a s s i n a p s e s p o d e m s e r g e r a -
d a s (sinaptogênese), o u t r a s e l i m i n a d a s ( p o d a ) , e s u a e f i -
cácia é m o l d a d a c o m b a s e n a informação p r o c e s s a d a e
i n t e g r a d a p e l o cérebro.
Os "sinais" deixados pelo aprendizado e pela m e m o -
rização são f r u t o d e s s a s modificações. A p l a s t i c i d a d e é
e m c o n s e q u ê n c i a u m a c o n d i ç ã o necessária p a r a o a p r e n -
d i z a d o e u m a p r o p r i e d a d e i n e r e n t e d o cérebro; e l a está
presente a olongo d etoda a vida.
O c o n c e i t o d e p l a s t i c i d a d e e s u a s implicações são
características v i t a i s d o cérebro. E d u c a d o r e s , e l a b o r a d o -
r e s d e políticas e t o d o s o s e s t u d a n t e s vão g a n h a r c o m a
compreensão d o m o t i v o p e l o q u a l é possível a p r e n d e r a o
l o n g o d et o d a a vida e d e c o m o a plasticidade fornece u m
a r g u m e n t o neurocientífico p a r a o " a p r e n d i z a d o contínuo".
A e s c o l a primária não s e r i a u m b o m l u g a r p a r a começar
a e n s i n a r a o s a l u n o s c o m o e p o r q u e e l e s são c a p a z e s d e
• NEURÔNIO aprender?

O rganizados e mredes interconectadas d ef o r m a extensiva,


o s n e u r ó n i o s t ê m c a p a c i d a d e s elétricas e químicas q u e L h e s
p e r m i t e m t r a n s m i t i r i m p u L s o s n e r v o s o s . U m p o t e n c i a L eLétrico
• QUALIDADE DE
é p r o p a g a d o d e n t r o d e u m a céLuLa n e r v o s a e u m p r o c e s s o quí- EXISTÊNCIA E
m i c o L e v a informações d e u m a céLuLa p a r a o u t r a . O s n e u r ó n i o s VIDA SAUDÁVEL
são, p o r c o n s e q u ê n c i a , céLuLas e s p e c i a L i z a d a s e m c o m u n i c a ç ã o .
A p r o p a g a ç ã o eLétrica d e n t r o d a céLuLa é u n i d i r e c i o n a L . A s
e n t r a d a s d e informação [ i n p u t s ] são r e c e b i d a s p e L o s d e n d r i t o s
d o s n e u r ó n i o s o u p e L o c o r p o d a céLuLa. E m r e s p o s t a a e s t a s ,
C omo
órgão
qualquer
n o corpo,
o cérebro f u n c i o -
outro

o neurônio g e r a p o t e n c i a i s d e ação. A frequência d e s s e s p o - na meLhor n u m a ^


t e n c i a i s v a r i a d e a c o r d o c o m a s e n t r a d a s d e informação. D e s s a pessoa c o m vida
f o r m a , o s p o t e n c i a i s d e ação s e p r o p a g a m p e L o axônio. saudável. E s t u d o s
A s i n a p s e , área q u e s e r v e c o m o j u n ç ã o e n t r e d o i s n e u r ó n i o s , recentes examina-
c o n s i s t e e m três c o m p o n e n t e s : a e x t r e m i d a d e d o a x ô n i o , o e s - ram o impacto A
paço sináptico e o d e n d r i t o d o n e u r ô n i o p ó s - s i n á p t i c o . Q u a n d o da nutrição e
o s p o t e n c i a i s d e ação aLcançam a s i n a p s e , e L a L i b e r a u m n e u r o - d a a t i v i d a d e fí-
t r a n s m i s s o r , u m a s u b s t â n c i a q u í m i c a q u e c r u z a o espaço s i n á p - sica n a s f a c u l -
t i c o . E s s a a t i v i d a d e química é r e g u L a d a p e L o t i p o e q u a n t i d a d e dades cerebrais
d e n e u r o t r a n s m i s s o r e s , m a s também p e L o número d e r e c e p t o - e e m especial n o
res envoLvidos. A q u a n t i d a d e d en e u r o t r a n s m i s s o r e s Liberados e aprendizado. Os resulta-
o n ú m e r o d e r e c e p t o r e s e n v o L v i d o s são sensíveis à e x p e r i ê n c i a , dos m o s t r a m q u eu m a dieta balanceada contribui para
q u e é a b a s e c e L u L a r d a p l a s t i c i d a d e ( v e r p r ó x i m o tópico). O e f e i - o d e s e n v o l v i m e n t o e f u n c i o n a m e n t o cerebraL, a o m e s m o
t o d o s neurónios pós-sinápticos p o d e s e r e x c i t a n t e o u i n i b i d o r . t e m p o que previne alguns problemas comportamentais e
P o r t a n t o , e s s a c o m b i n a ç ã o d e a t i v i d a d e eLétrica e q u í m i c a d e a p r e n d i z a d o . N a m e s m a l i n h a , a a t i v i d a d e física r e g u l a r
d o s neurónios t r a n s m i t e e r e g u L a a informação n a s r e d e s f o r - t e m u m e f e i t o p o s i t i v o n a cognição h u m a n a , m o d i f i c a n d o
m a d a s p o r neurónios. a a t i v i d a d e e m c e r t a s regiões d o cérebro.
A fim d e m e L h o r a r o e n t e n d i m e n t o d a a t i v i d a d e c e r e b r a L , O sono é outro fator determinante.Qualquer u m que
várias t e c n o L o g i a s d e i m a g e a m e n t o c e r e b r a L ( R M f [ressonância já d o r m i u p o u c o s a b e q u e a s f u n ç õ e s c o g n i t i v a s s ã o a s
magnética f u n c i o n a l ] , M E G [ m a g n e t o e n c e f a L o g r a f i a ] , P E T [ t o - primeiras a sofrer. É d u r a n t e o s o n o q u e o c o r r e m a l g u n s
m o g r a f i a p o r e m i s s ã o d e p ó s i t r o n s ] , T O [ t o m o g r a f i a óptica] e t c . ) dos processos envolvidos n aplasticidade e n a consoli-
são u s a d a s p a r a v i s u a l i z a r e e s t u d a r a a t i v i d a d e d a s m u d a n ç a s dação d o c o n h e c i m e n t o . E s s e s p r o c e s s o s d e s e m p e n h a m
n o f l u x o sanguíneo i n d u z i d a s p o r a t i v i d a d e s n e u r o n a i s . p a p e l f u n d a m e n t a l n a memorização e n o a p r e n d i z a d o .
Os e s t u d o s q u e d e f i n e m o s Locais d a s redes cerebrais F a t o r e s a m b i e n t a i s ( b a r u l h o , ventilação e t c . ) e fisio-
a b r e m espaço p a r a n o s s a c o m p r e e n s ã o d o s m e c a n i s m o s d e lógicos ( d i e t a , exercício, s o n o e t c . ) i n f l u e n c i a m o a p r e n -
a p r e n d i z a d o . Q u a n t o m e L h o r a resoLução t e m p o r a L e e s p a c i a L , d i z a d o . A c u r t o p r a z o , a v a n ç o s n e s s a área d e v e m l e v a r a
m a i s p r e c i s a a Localização e m e L h o r o n o s s o e n t e n d i m e n t o d a aplicações c o n c r e t a s n a s práticas r e l a c i o n a d a s à e s c o l a
função c e r e b r a L . e à educação.

3EDUCAÇÃ0
Tf
•REPRESENTAÇÕES
• VARIABILIDADE

O s s e r e s h u m a n o s estão c o n s t a n t e m e n t e p e r c e b e n d o , p r o c e s s a n d o e i n t e g r a n -
d o i n f o r m a ç õ e s , i s t o é, e l e s a p r e n d e m . A s p e s s o a s t ê m s u a s p r ó p r i a s r e p r e -
sentações, q u e g r a d u a l m e n t e s e a c u m u l a m c o m b a s e n a experiência. E s s e s i s t e -
A experiência t e m u m p a p e l f u n -
damental n o desenvolvimen-
t o e n a composição d o indivíduo,
m a o r g a n i z a d o t r a d u z o m u n d o e x t e r n o p a r a a percepção i n d i v i d u a l e g o v e r n a o
mas permanece pessoal e subje-
p r o c e s s o d e raciocínio d e c a d a u m d e nós. D e s d e a C a v e r n a d e Platão, a filosofia
t i v a . Representações r e s u l t a n t e s
t e m r e f l e t i d o s o b r e a questão d a s representações. E v i d e n t e m e n t e o o b j e t i v o a q u i
d e l a são e m c o n s e q u ê n c i a d i f e -
n ã o é r e s p o n d e r às g r a n d e s q u e s t õ e s d a h u m a n i d a d e , e m b o r a n ã o s e j a i m p o s s í -
rentes d e pessoa para pessoa. A
v e l q u e u m d i a n o s s o c o n h e c i m e n t o d o f u n c i o n a m e n t o d o cérebro s e j a t a l q u e
experiência também i n f l u e n c i a a
nos traga novos e l e m e n t o s para esses eternos debates filosóficos.
construção d e e s t i l o s p r e f e r e n -
ciais, l e v a n d o o a l u n o a usar estra-
tégias d e a p r e n d i z a d o específicas
• UNIVERSALIDADE d e a c o r d o c o m a situação.
O a p r e n d i z a d o específico p r o -

V ários a t r i b u t o s c a r a c t e r i -
zam o serhumano, u m
deles o desenvolvimento
v o c a mudanças - transições d e
u m estado para outro. Ainda a s -
s i m , a s i n g u l a r i d a d e d a experiên-
d o cérebro. E l e s e g u e c i a p e s s o a l e d a s representações
u m a programação g r a - i n d i c a condições d i f e r e n t e s n o
v a d a n a herança gené- princípio p a r a c a d a p e s s o a . Além
t i c a d o indivíduo, e é d i s s o , modificações resultantes
planejado como parte do aprendizado variam d e acordo
d e u m "balé" n o q u a l c o m a s motivações, interações e
genes perfeitamente estratégias d o próprio a p r e n d i z a -
r e g u l a d o s são n u t r i d o s do. É p o r isso q u eo i m p a c t o d a
p e l a experiência. instrução d i f e r e d e p e s s o a para
Uma d a s proprieda- pessoa, e é esse o m o t i v o pelo
d e s intrínsecas d o cérebro qual falamos d e variabilidade.
é s u a p l a s t i c i d a d e . O cére- Alunos n a m e s m a classe a s -
bro c o n t i n u a m e n t e percet s i s t i n d o às m e s m a s a u l a s n ã o v ã o
p r o c e s s a e i n t e g r a informações aprender a s m e s m a s coisas. Suas
d e r i v a d a s d a experiência d a p e s s o a , J " \ representações d o s c o n c e i t o s a p r e -
e d e s s a f o r m a p a s s a p o r mudanças n a s c o - • s e n t a d o s vão v a r i a r , p o i s e l e s não
nexões físicas d e s u a r e d e d e neurónios. E s s e d e s e n v o l v i m e n t o i n d i c a u m a começam t o d o s c o m o m e s m o
capacidade d eaprendizado p e r m a n e n t e . Isso significa q u e o d e s e n v o l v i m e n t o c o n h e c i m e n t o básico n e m c o m o
é u m a característica c o n s t a n t e e u n i v e r s a l d a a t i v i d a d e c e r e b r a l e q u e u m s e r m e s m o m o d o d eaprendizado. O re-
h u m a n o pode aprender a olongo d a vida. s u l t a d o é q u e s u a s representações
" T o d a p e s s o a t e m d i r e i t o à educação." (Declaração U n i v e r s a l d o s D i r e i t o s H u - não vão s e d e s e n v o l v e r d a m e s -
m a n o s , Nações U n i d a s , 1 0 d e d e z e m b r o d e 1 9 4 8 , a r t i g o 2 6 ) . A educação r e g u l a o m a m a n e i r a . O s a l u n o s vão t o d o s
aprendizado d emaneira que todos t e n h a m acesso aos f u n d a m e n t o s d a leitura, m a n t e r traços d e s s a e x p e r i ê n c i a d e
e s c r i t a e aritmética. a p r e n d i z a d o , m a s e s t e s serão d i f e -
Avaliações i n t e r n a c i o n a i s são r e a l i z a d a s p a r a c o n f e r i r a i g u a l d a d e e a d u r a - r e n t e s e específicos p a r a c a d a u m .
b i l i d a d e d o s vários s i s t e m a s e d u c a c i o n a i s . E m b o r a s e j a difícil " m e d i r " o c o n h e c i - Experiências d e a p r e n d i z a d o
m e n t o a d q u i r i d o e n t r e a s várias f r o n t e i r a s c u l t u r a i s , t a i s avaliações a m p l i a m a têm d e l e v a r e m c o n t a diferenças
percepção d a n e c e s s i d a d e d e m e l h o r i a c o n s t a n t e n a educação. individuais, d ef o r m a q u e a diversi-
ficação d o c u r r í c u l o p a r a a c o m o d á -
-las seja u m a m e t a educacional
cada vez mais importante.

.XYZ 003 0 ©OCDE, 2 0 0 7

B a s t a n t e t r a b a l h o f o i r e a l i z a d o e u m a i m p o r t a n t e t a r e f a f o i c u m p r i d a n o s últi-
m o s a n o s p a r a d e s e n v o l v e r a n e u r o c i ê n c i a e d u c a c i o n a l , e i s s o está a j u d a n d o a
e s t a b e l e c e r u m a ciência d o a p r e n d i z a d o t r a n s d i s c i p l i n a r a i n d a m a i o r . N o e n t a n t o ,
Bruno delia Chiesa foi cordenador e editor d o
l i v r o Understanding
O AUTOR

the Brain: the birth of a


e s s a s realizações p o d e m p a r e c e r p e q u e n a s e m comparação a o q u e a i n d a d e v e v i r Learning Science, lançado p e l a Organização
d a q u e l e s q u e n o s seguirão n e s s e c a m p o . A esperança é q u e e l e s e n c o n t r e m m e n o s p a r a Cooperação e D e s e n v o l v i m e n t o Econó-
b a r r e i r a s , p r i n c i p a l m e n t e p o r q u e terão d e l i d a r c o m u m a b a s e d e c o n h e c i m e n t o m i c o (OCDE) e m 2007, d e o n d e esse a r t i g o f o i
t r a d u z i d o c o m autorização d a organização. O
m u i t o m a i o r . E a h i s t ó r i a está l o n g e d e a c a b a r . E s t a m o s n o c o m e ç o d e u m a a v e n -
trabalho d e Della Chiesa, a t u a l m e n t e profes-
t u r a e a g o r a é h o r a d e o u t r o s p e g a r e m o b a s t ã o . M u i t o s já s e c o m p r o m e t e r a m d e sor visitante d a Universidade Harvard, Esta-
d i v e r s a s f o r m a s . Há b e m m a i s d o q u e e s s a s três l e t r a s r e s t a n t e s p a r a e s c r e v e r n o d o s U n i d o s , r e v e l a a preocupação e m m o s t r a r
n o s s o a l f a b e t o d o cérebro. N o s s o c o n h e c i m e n t o d e s s e órgão é c o m o o próprio cé- a importância d a neurociência e d u c a c i o n a l
r e b r o : u m a evolução contínua... para o f u t u r o d o aprendizado.

"EB"
I
l/l
o

oaz.
OS I M P A C T O S PERIGOSOS
DAS FALSAS IDEIAS

Embora invalidados
pela ciência, a ampla
A ciência avança p o r m e i o d e t e n t a t i v a e e r r o . T e o r i a s são construídas c o m base
e m observações q u e o u t r o s fenómenos a p a r e c e m p a r a c o n f i r m a r , m o d i f i c a r o u
r e f u t a r : o u t r a t e o r i a , c o m p l e m e n t a r o u contraditória à a n t e r i o r , é então criada, e as-
difusão de conceitos s i m o p r o c e s s o c o n t i n u a . Esse avanço "aos t r a n c o s " é inevitável, m a s u m de seus p o n -
incorretos sobre o t o s n e g a t i v o s é q u e m e s m o as hipóteses i n v a l i d a d a s d e i x a m m a r c a s . A o c a p t u r a r e m a
imaginação de u m público m a i s a m p l o , ideias q u e se t o r n a r a m " m i t o s " c r i a m raízes.
cérebro abriu espaço M e s m o d e m o l i d a s p e l a ciência, m o s t r a m - s e t e i m o s a m e n t e persistentes.
para produtos e A neurociência está e n v o l v i d a nesse fenómeno. A l g u m a s expressões c o n f i r m a m
práticas educacionais isso: " b o a cabeça p a r a números", p o r e x e m p l o , d e r i v a d a p e s q u i s a d o a n a t o m i s t a e
sem comprovação fisiologista alemão F r a n z Joseph G a l l ( 1 7 5 8 - 1 8 2 8 ) . A o e x a m i n a r c r i m i n o s o s v i v o s e
dissecar o cérebro d e c r i m i n o s o s m o r t o s , G a l l estabeleceu a f r e n o l o g i a : u m t a l e n t o
alguma. Como muitas especial p r o d u z i r i a u m a protuberância n o cérebro q u e e m p u r r a o osso e d i s t o r c e o
vezes surgiram de crânio. G a l l se gabava d e p o d e r d i s t i n g u i r o c r i m i n o s o d o h o n e s t o , o "matemático"
resultados sólidos de d o "literato", a p e n a s a p a l p a n d o a cabeça deles. A f r e n o l o g i a , há m u i t o s u p l a n t a d a , f o i
também d e s a c r e d i t a d a . E e m b o r a d e t e r m i n a d a s áreas d o cérebro s e j a m m a i s espe-
pesquisa, combater cializadas q u e o u t r a s e m certas funções, trata-se d e especialidades f u n c i o n a i s (tais
os chamados c o m o formação d e i m a g e n s , produção d e p a l a v r a s , s e n s i b i l i d a d e tátil etc.) e não d e
"neuromitos"é ainda características m o r a i s c o m o g e n t i l e z a o u agressividade.
A ciência não é i n t e i r a m e n t e responsável p e l o s u r g i m e n t o d e tais m i t o s . É
mais difícil. E cada difícil e n t e n d e r t o d a s as s u t i l e z a s das d e s c o b e r t a s d e u m e s t u d o , a i n d a m a i s s e u s
vez mais urgente p r o t o c o l o s e método. N o e n t a n t o , é d a n a t u r e z a h u m a n a ficar s a t i s f e i t o - até
m e s m o se a l e g r a r - c o m explicações rápidas, s i m p l e s e inequívocas, o q u e l e v a
a interpretações f a l h a s , extrapolações questionáveis e, d e f o r m a g e r a l , à génese
d e i d e i a s falsas.
A seguir, os p r i n c i p a i s m i t o s r e l a c i o n a d o s à ciência d o cérebro, c o m especial a t e n -
ção àqueles m a i s r e l e v a n t e s p a r a o s métodos d e a p r e n d i z a d o . E m c a d a m i t o , u m a
visão histórica e o e s t a d o a t u a l d a p e s q u i s a científica. I r o n i c a m e n t e , a l g u n s m i t o s
f o r a m benéficos p a r a a educação a o f o r n e c e r e m u m a " j u s t i f i c a t i v a " p a r a d i v e r s i f i c a -
ção. M a s , n a m a i o r i a das vezes, têm consequências r u i n s e p r e c i s a m ser e l i m i n a d o s .

* T e x t o t r a d u z i d o e a d a p t a d o d o l i v r o Understanding the brain: the birth of a Learning science


( 2 0 0 7 ) , c o m autorização d a Organização p a r a Cooperação e D e s e n v o l v i m e n t o Económico ( O C D E )
JEDUCAÇÃO
Tf

NEUROMITOS

O M I T O D O S P R I M E I R O S TRÊS A N O S

"Não há tempo a perder pois


tudo que é importante em

T f t t
relação ao cérebro é decidido
até os 3 anos de idade"

S e você c o l o c a r as p a l a v r a s - c h a v e " d o
n a s c i m e n t o até três a n o s " n u m s i t e
d e b u s c a , v a i v e r u m número i m p r e s s i o -
O c o m p o n e n t e básico d o p r o c e s s a -
m e n t o d e informações n o cérebro é a
célula n e r v o s a o u neurônio. O cérebro
Há 2 0 a n o s e s t u d o s c o m r o e d o r e s
m o s t r a r a m q u e s u a d e n s i d a d e sináptica
p o d i a a u m e n t a r q u a n d o colocados n u m
n a n t e d e páginas e x p l i c a n d o p o r q u e esse h u m a n o contém c e r c a d e 1 0 0 bilhões d e ambiente complexo c o m outros roedores
período é c r u c i a l p a r a o f u t u r o d e s e n v o l - neurónios. C a d a u m deles p o d e se c o n e c - e vários o b j e t o s a ser e x p l o r a d o s . S u b m e -
v i m e n t o d a criança e c o m o q u a s e t u d o é tar c o m milhares de outros, p e r m i t i n d o t i d o s n a sequência a u m teste d e a p r e n -
d e c i d i d o n e s s a fase. Encontrará também q u e as informações c i r c u l e m d e f o r m a dizado de labirinto, os animais tiveram
vários p r o d u t o s c o m e r c i a i s p r e p a r a d o s i n t e n s a e e m várias direções a o m e s m o r e s u l t a d o s m e l h o r e s e m a i s rápidos q u e
p a r a e s t i m u l a r a inteligência d o bebé a n - t e m p o . P o r m e i o d a s conexões e n t r e o s os d o g r u p o d e c o n t r o l e , os quais v i v i a m
tes q u e ele a t i n j a essa d a t a l i m i t e c r u c i a l . neurónios ( s i n a p s e s ) , i m p u l s o s n e r v o s o s e m a m b i e n t e s " p o b r e s " o u "isolados". A
A l g u n s fenómenos fisiológicos q u e v i a j a m d e u m a célula p a r a o u t r a e f o r t a - conclusão: a m b i e n t e s "enriquecidos"
ocorrem durante o desenvolvimento d o lecem o desenvolvimento de habilidades a u m e n t a r a m a d e n s i d a d e sináptica d o s
cérebro p o d e m , d e f a t o , l e v a r a crenças e a capacidade de aprendizado. A p r e n d e r a n i m a i s , t o r n a n d o - o s m a i s capazes d e
d e q u e estágios d e a p r e n d i z a d o s críticos i m p l i c a c r i a r n o v a s sinapses, f o r t a l e c e r realizar a tarefa de aprendizado.
a c o n t e c e m até o s 3 a n o s . M a s i s s o é a l g o o u e n f r a q u e c e r as e x i s t e n t e s . O número Os elementos estavam posicionados
facilmente exagerado e distorcido q u e d e s i n a p s e s e m recém-nascidos é b a i x o de f o r m a a criar u m m i t o : u m grande
a s s u m e u m a condição mítica q u a n d o m a s depois d o s 2 meses, a u m e n t a e x - e x p e r i m e n t o , fácil d e e n t e n d e r e m b o r a
usado de f o r m a excessiva pela i m p r e n - p o n e n c i a l m e n t e e excede o de u m a d u l - difícil d e r e a l i z a r , e d e s c o b e r t a s q u e p r o -
sa, e d u c a d o r e s , f a b r i c a n t e s d e b r i n q u e - to (chegando a u m pico aos 10 meses). j e t a m o r e s u l t a d o esperado. N o entanto,
d o s e p a i s , q u e s o b r e c a r r e g a m o s filhos Até o s 1 0 a n o s u m a q u e d a c o n s i s t e n t e f o i f e i t o e m condições a r t i f i c i a i s e c o m
c o m ginástica p a r a recém-nascidos e a c o n t e c e , q u a n d o o "número a d u l t o " d e roedores. O s dados d o estudo, obtidos
música e s t i m u l a n t e . s i n a p s e s é alcançado e o c o r r e u m a r e l a - c o m precisão científica inquestionável,
t i v a estabilização. O a u m e n t o d e s i n a p s e s foram distorcidos e combinados c o m
e s u a diminuição - sinaptogênese e p o d a , i d e i a s então a t u a i s r e l a c i o n a d a s a o d e -
r e s p e c t i v a m e n t e - são u m m e c a n i s m o senvolvimento h u m a n o para concluir
n a t u r a l , necessário p a r a o c r e s c i m e n t o e q u e a intervenção e d u c a c i o n a l , p a r a s e r
o desenvolvimento. m a i s e f i c i e n t e , d e v i a ser c o o r d e n a d a c o m
P o r m u i t o t e m p o , a ciência c o n s i d e r o u a sinaptogênese. A l t e r n a t i v a m e n t e , a f i r -
q u e o número máximo d e neurónios e r a m o u - s e q u e "ambientes enriquecidos"
fixo n o n a s c i m e n t o e q u e , a o contrário d a p o u p a m sinapses d a p o d a d u r a n t e a i n -
m a i o r i a das o u t r a s células, eles não se r e - fância e até m e s m o c r i a m n o v a s , c o n t r i -
generavam. D a m e s m a f o r m a , acreditava- b u i n d o p a r a m a i o r inteligência e c a p a c i -
-se q u e após lesão d o cérebro, as células dade d e aprendizado. Fatos estabelecidos
n e r v o s a s destruídas não p o d i a m ser subs- n u m e s t u d o válido f o r a m n e s t e c a s o u s a -
tituídas. H o j e s a b e m o s q u e n o v o s neuró- d o s p a r a e x t r a p o l a r conclusões q u e vão
nios aparecem e m qualquer idade ( n e u - m u i t o além d a evidência o r i g i n a l .
rogênese) e, p e l o m e n o s e m a l g u n s casos, O s l i m i t e s e lições a q u i são b a s t a n t e
s e u número não o s c i l a d u r a n t e a v i d a . c l a r o s . Há p o u c o s d a d o s neurocientí-

Jepucação
f i c o s s o b r e h u m a n o s q u a n t o à relação
p r e d i t i v a e n t r e d e n s i d a d e sináptica n o
O M I T O D O S PERÍODOS CRÍTICOS
começo d a v i d a e a u m e n t o d a c a p a c i -

"Há períodos críticos


dade d e a p r e n d i z a d o . D e m a n e i r a se-
m e l h a n t e , p o u c o e x i s t e s o b r e a relação
p r e d i t i v a e n t r e as d e n s i d a d e sináptica
em que certos assuntos
precisam ser ensinados
d e crianças e d e a d u l t o s . São escassas
as evidências neurocientíficas, seja p a r a
a n i m a i s , seja p a r a h u m a n o s , l i g a n d o a e aprendidos"
d e n s i d a d e sináptica a d u l t a a u m a c a p a -
c i d a d e d e a p r e n d i z a d o m a i o r . I s s o não
s i g n i f i c a q u e a p l a s t i c i d a d e d o cérebro e
a sinaptogênese e m p a r t i c u l a r não p o s -
s a m t e r a l g u m a relação c o m o a p r e n -
A influência d a sinaptogênese i n -
t e n s a n o começo d a v i d a s o b r e o
cérebro a d u l t o a i n d a não é c o n h e c i d a ,
d e t o d o s eles p e r m a n e c e o m e s m o . R e -
centemente, descobriu-se q u e certas
p a r t e s d o cérebro, c o m o o h i p o c a m -
d i z a d o , m a s , c o m b a s e a p e n a s n a força m a s é f a t o q u e a d u l t o s têm m e n o s c a - p o , g e r a m n o v o s neurónios d u r a n t e
d a evidência disponível, as afirmações p a c i d a d e d e a p r e n d e r c e r t a s coisas. a v i d a toda. E n t r e o u t r a s coisas, o h i -
f e i t a s p a r a identificação d e t a l p a p e l n o Qualquer u m que comece a estudar u m p o c a m p o está e n v o l v i d o n a memória
d e s e n v o l v i m e n t o d o n a s c i m e n t o até o s 3 n o v o i d i o m a mais tarde provavelmente e s p a c i a l e n o p r o c e s s o d e navegação.
a n o s não p o d e m s e r s u s t e n t a d a s . O p e s - vai ter u m "sotaque estrangeiro"; a vir- U m a p e s q u i s a q u e a n a l i s o u o cérebro
quisador americano John Bruer, autor de t u o s i d a d e d e alguém q u e a p r e n d e u u m de taxistas l o n d r i n o s sugere u m a f o r t e
The Myth of the First Three Years, f o i o i n s t r u m e n t o mais velho talvez nunca relação e n t r e o t a m a n h o r e l a t i v o e a
p r i m e i r o a c o n t e s t a r d e f o r m a sistemá- se i g u a l e a d e u m a criança c o m prática ativação d o h i p o c a m p o , p o r u m l a d o ,
t i c a o m i t o d o s p r i m e i r o s três a n o s , q u e m u s i c a l desde os 5 anos. Isso significa e u m a b o a c a p a c i d a d e d e navegação,
a p r e s e n t o u c o m o "enraizado e m nossas q u e há períodos e m q u e c e r t a s t a r e f a s p o r o u t r o (ver quadro na pág. 12); há
crenças c u l t u r a i s s o b r e crianças e a i n - não p o d e m m a i s s e r a p r e n d i d a s ? O u u m a correlação p o s i t i v a e n t r e o a l a r -
fância, e m n o s s o fascínio c o m a m e n t e e elas s e r i a m a p r e n d i d a s d e o u t r a f o r m a g a m e n t o d o córtex a u d i t i v o e o d e s e n -
o cérebro e e m n o s s a n e c e s s i d a d e c o n s - e m m o m e n t o s diversos? volvimento d o talento musical, assim
tante de e n c o n t r a r respostas t r a n q u i l i - P o r m u i t o t e m p o se a c r e d i t o u q u e c o m o há u m c r e s c i m e n t o n a s áreas
zadoras para perguntas preocupantes". o cérebro p e r d i a neurónios c o m a i d a - m o t o r a s d o cérebro e m s e g u i d a a u m
B r u e r v o l t a a o século 18 p a r a e n c o n t r a r de, m a s R o b e r t D . T e r r y , p r o f e s s o r d a treinamento intenso de movimentos
s u a o r i g e m : já se a c r e d i t a v a q u e a e d u - U n i v e r s i d a d e d a Califórnia, S a n D i e - c o m os dedos.
cação d a mãe e r a a força m a i s p o d e r o s a g o , m o s t r o u q u e o t o t a l d e neurónios N e n h u m período crítico p a r a
para mapear a vida e o destino da crian- e m c a d a área d o córtex c e r e b r a l não a p r e n d i z a d o f o i d e s c o b e r t o até a g o r a
ça: as b e m - s u c e d i d a s e r a m as q u e i n t e - d e p e n d e d a i d a d e m a s a p e n a s d o nú- p a r a h u m a n o s . É m a i s a p r o p r i a d o se
r a g i a m " b e m " c o m a família. E l e e l i m i n a m e r o d e neurónios "grandes". A s cé- r e f e r i r a "períodos sensíveis", q u a n d o
u m p o r u m os m i t o s baseados e m inter- lulas nervosas e n c o l h e m , resultando o a p r e n d i z a d o d e u m t i p o específico é
pretações f a l h a s d a sinaptogênese n o c o - n u m número c r e s c e n t e d e p e q u e n o s m a i s fácil. A c o m u n i d a d e científica r e -
meço d a v i d a . neurónios, porém o número a g r e g a d o c o n h e c e q u e há períodos sensíveis, e m
NEUROMITOS

especial para o aprendizado d a l i n g u a -


O QUE PENSAM OS BEBÉS?
g e m , e i d e n t i f i c o u vários d e l e s ( a l g u n s
n a i d a d e a d u l t a ) . U m a questão-chave d e Jean Piaget influenciou a o r g a n i z a ç ã o de sistemas escolares nas
p e s q u i s a é se o s p r o g r a m a s d o s s i s t e m a s ú l t i m a s d é c a d a s do s é c u l o 20. S e g u n d o o t e ó r i c o s u í ç o , a s crianças
d e educação se e n c a i x a m c o m a sucessão v i v e n c i a m p e r í o d o s e s p e c í f i c o s de d e s e n v o l v i m e n t o cognitivo, de forma

d e períodos sensíveis, e s e a t o m o g r a f i a q u e n ã o s ã o c a p a z e s de a p r e n d e r c e r t a s h a b i l i d a d e s a n t e s de idades


relativamente fixas. Isso se aplica à leitura e à c o n t a g e m , e e m sistemas
c e r e b r a l v a i ser c a p a z d e t r a z e r n o v a s e x -
escolares de países integrantes da O r g a n i z a ç ã o para C o o p e r a ç ã o e
plicações e m relação a p r o c e s s o s biológi-
D e s e n v o l v i m e n t o E c o n ó m i c o (OCDE), a l e i t u r a , a e s c r i t a e a a r i t m é t i c a n ã o
cos l i g a d o s a esses períodos.
são oficialmente e n s i n a d a s a n t e s de 6 ou 7 anos. Piaget p r o p ô s que as
crianças v ê m ao mundo sem nenhuma
ideia preconcebida sobre n ú m e r o s .
No e n t a n t o , o p e s q u i s a d o r f r a n c ê s
Stanislas D e h a e n e comprovou que
e l a s n a s c e m c o m u m s e n s o inato d a
r e p r e s e n t a ç ã o n u m é r i c a . N ã o é o caso
de colocar e m q u e s t ã o as descobertas
de Piaget, m a s os b e b é s são mais
" d o t a d o s " n o n a s c i m e n t o do q u e
s e p e n s o u por m u i t o t e m p o , c o m o
m o s t r a A l i s o n G o p n i k , A n d r e w Metzoff
e P a t r í c i a K u h l n o l i v r o The Scientist
in The Crib: Minas, Brains, a n d How
Children L e a r n ( O c i e n t i s t a no berço:
m e n t e , cérebro e c o m o p e n s a m os
bebés, sem edição em português;.
É por i s s o q u e a s t e o r i a s d e P i a g e t
% 3, 5, 7, 11, 13,17, l a 23, 29, 31, 37, U t3, t7, 53, 59, 61, 67, 71, 73, 7 a 83, 8 a 97 precisam ser colocadas na perspectiva
c o r r e t a por e s s e t i p o d e p e s q u i s a .

O M I T O D O S 1 0 % D E U S O D O CÉREBRO

"Mas eu li em algum
lugar que de qualquer
forma nós só usamos 10%
do nosso cérebro"

C o m frequência s e d i z q u e s e r e s h u m a n o s u s a m a p e n a s 1 0 %
( a l g u m a s v e z e s 2 0 % ) d o cérebro. Há u m a hipótese d e q u e esse
m i t o nasceu depois d e u m a entrevista e m que E i n s t e i n t e r i a afir-
m a d o u t i l i z a r a p e n a s 1 0 % d o cérebro. M a s as p e s q u i s a s d e K a r l
L a s h l e y n o s a n o s 1 9 3 0 d e v e m t e r contribuído p a r a fortalecê-lo. O
psicólogo a m e r i c a n o e x p l o r o u o cérebro u s a n d o c h o q u e s elétricos
e c o m o m u i t a s áreas não r e a g i a m , c o n c l u i u e r r o n e a m e n t e não t e -
r e m função, c o l o c a n d o e m circulação o t e r m o "córtex s i l e n c i o s o " .

NEEHUI ERSOllE D U C A C Ã O
m
O u t r a o r i g e m d o m i t o p o d e estar n o
f a t o d e q u e o cérebro é c o m p o s t o d e d e z
células g l i a i s p a r a c a d a neurônio. A s cé-
l u l a s g l i a i s têm u m p a p e l n u t r i c i o n a l e
d e a p o i o p a r a a s células n e r v o s a s , m a s
e m t e r m o s d e transmissão d e i m p u l s o s
n e r v o s o s , a p e n a s o s neurónios são r e c r u -
t a d o s ( o u 1 0 % d a s células q u e compõem
o cérebro). T e m o s aí m a i s u m a f o n t e d e
m a l - e n t e n d i d o s . A visão d e funções c e l u -
l a r e s é s i m p l i s t a : e m b o r a a s células g l i a i s
t e n h a m função d i s t i n t a d a q u e l a d o s n e u -
rónios, e l a s não são m e n o s e s s e n c i a i s a o
funcionamento d o todo.
A s d e s c o b e r t a s d a neurociência a g o -
r a m o s t r a m q u e 1 0 0 % d o cérebro é a t i -
v o . N a n e u r o c i r u r g i a , q u a n d o é possível
o b s e r v a r funções c e r e b r a i s e m p a c i e n t e s
UMA O R Q U E S T R A A F I N A D A E A I M P O R T Â N C I A DO T O D O
s o b a n e s t e s i a l o c a l , estímulos elétricos
não r e v e l a m área i n a t i v a a l g u m a , m e s - Hoje, g r a ç a s a t é c n i c a s d e i m a g e a m e n t o , o c é r e b r o p o d e s e r

m o q u a n d o não há m o v i m e n t o , sensação descrito c o m p r e c i s ã o q u a n t o a s u a s á r e a s f u n c i o n a i s . C a d a s e n t i d o

o u emoção s e n d o o b s e r v a d o s . N e n h u m a corresponde a u m a ou v á r i a s áreas funcionais p r i m á r i a s : u m a á r e a


visual p r i m á r i a , que recebe as i n f o r m a ç õ e s percebidas pelo olho;
área fica c o m p l e t a m e n t e i n a t i v a , m e s m o
outra a u d i t i v a p r i m á r i a , q u e r e c e b e a s i n f o r m a ç õ e s p e r c e b i d a s p e l o
d u r a n t e o s o n o ; s e ficasse, i s s o i n d i c a r i a
o u v i d o etc. V á r i a s r e g i õ e s s ã o Ligadas à p r o d u ç ã o e à c o m p r e e n s ã o
u m sério distúrbio f u n c i o n a l .
da l i n g u a g e m . As á r e a s p r i m á r i a s s ã o r o d e a d a s d e á r e a s s e c u n d á r i a s ,
D a m e s m a f o r m a , a perda de tecido de forma que as i n f o r m a ç õ e s de imagens percebidas pelo olho s ã o
c e r e b r a l l e v a a sérias consequências, já enviadas às áreas visuais primárias e e n t ã o analisadas nas áreas
q u e n e n h u m a região d o cérebro p o d e v i s u a i s s e c u n d á r i a s , o n d e ocorre a r e c o n s t i t u i ç ã o t r i d i m e n s i o n a l
s e r d a n i f i c a d a s e m c a u s a r d e f e i t o s físi- d o s objetos p e r c e b i d o s . As i n f o r m a ç õ e s da m e m ó r i a c i r c u l a m p a r a
cos e m e n t a i s . O s casos d e pessoas q u e r e c o n h e c e r objetos, e n q u a n t o a s i n f o r m a ç õ e s s e m â n t i c a s d a s á r e a s
v i v e r a m anos c o m u m a bala alojada n o d a Linguagem e n t r a m e m j o g o para q u e a p e s s o a p o s s a n o m e a r
cérebro o u t r a u m a s s e m e l h a n t e s não i n - r a p i d a m e n t e o objeto visto. Ao m e s m o t e m p o , a s á r e a s q u e Lidam c o m

d i c a m "áreas inúteis". S u a recuperação postura e m o v i m e n t o e s t ã o e m a ç ã o s o b o efeito d e s i n a i s n e r v o s o s d o


corpo todo, p e r m i t i n d o q u e a p e s s o a s a i b a s e e s t á s e n t a d a o u d e p é ,
m o s t r a antes a plasticidade extraordi-
c o m a c a b e ç a v i r a d a para a direita ou para a e s q u e r d a e t c . D e s s a f o r m a ,
nária d o cérebro: neurónios ( o u r e d e s
u m a d e s c r i ç ã o p a r c i a l e f r a g m e n t a d a d a s á r e a s do c é r e b r o p o d e l e v a r
d e neurónios) s u b s t i t u e m o s destruídos
a u m a i n t e r p r e t a ç ã o e r r ó n e a de como ele funciona.
e e m t a i s c a s o s o cérebro s e r e c o n f i g u r a
para superar o defeito. movimento ocular voluntário movimento voluntário
desenvolvimento das funções motoras
O m i t o é implausível também p o r m o - produção motora e da fala sensação corporal
t i v o s fisiológicos. A evolução não p e r m i t e
desperdício, e o cérebro, c o m o o s o u t r o s auto-controle compreensão da
inibição linguagem
órgãos, m a s p r o v a v e l m e n t e a i n d a m a i s emoções
que q u a l q u e r u m deles, é m o l d a d o pela
seleção n a t u r a l . R e p r e s e n t a a p e n a s 2 % d o
peso total d o corpo h u m a n o , m a s conso- memória
m e 2 0 % d a e n e r g i a disponível. C o m u m
c u s t o d e e n e r g i a tão a l t o , a evolução não
teria p e r m i t i d o o desenvolvimento de u m equilíbrio e
audição coordenação muscular
órgão d o q u a l 9 0 % f o s s e inútil.
NEUROMITOS

O M I T O D A S DIFERENÇAS D E GÉNERO
"Vamos encarar - o cérebro M e s m o se fosse e s t a b e l e c i d o q u e , n a

de homens e garotos não


média, o cérebro d e u m a g a r o t a a t o r n a
m e n o s c a p a z d e a p r e n d e r matemática,
tem nada a ver com o das isso seria u m a base para p r o p o r u m a

mulheres e garotas" educação e s p e c i a l i z a d a nessas d i f e r e n -


ças? S e a m e t a d a educação fosse p r o -
d u z i r seres h u m a n o s i n t e n s a m e n t e es-

O s resultados d o P r o g r a m a Inter-
n a c i o n a l d e Avaliação d e A l u n o s
( P I S A ) d e 2 0 0 3 são a p e n a s u m d o s m a i s
tódicos" ( c a p a c i d a d e d e e n t e n d e r siste-
m a s mecânicos) e as m u l h e r e s m e l h o r e s
c o m u n i c a d o r a s ( c a p a c i d a d e d e se c o m u -
p e c i a l i z a d o s , então p o d e r i a v a l e r a p e n a
a o m e n o s c o n s i d e r a r a questão, m a s e n -
quanto seu papel mais importante conti-
recentes a r e v e l a r diferenças d e a p r e n d i z a - nicar e entender o s o u t r o s ) e sugere q u e n u a r a s e r o d e c r i a r cidadãos c o m u m a
d o e d e d e s e m p e n h o escolar relacionadas o a u t i s m o p o d e ser e n t e n d i d o c o m o u m a c u l t u r a básica, t a l questão p e r d e s u a
a o género. B e m m a i s questionáveis são f o r m a e x t r e m a d e "cérebro m a s c u l i n o " . relevância p a r a a política e d u c a c i o n a l .
os t r a b a l h o s q u e a p a r e c e r a m n o s últimos M a s e l e não propõe q u e h o m e n s e m u - O n d e as diferenças p u d e r e m ser m o s t r a -
anos afirmando serem inspirados p o r l h e r e s têm cérebro r a d i c a l m e n t e d i f e r e n t e das c o m o e x i s t e n t e s , elas serão p e q u e n a s
d e s c o b e r t a s científicas s e g u n d o as q u a i s n e m q u e m u l h e r e s a u t i s t a s têm cérebro e b a s e a d a s e m médias. A s variações i n -
homens e mulheres pensam de forma m a s c u l i n o . B a r o n - C o h e n emprega os ter- d i v i d u a i s m u i t o m a i s i m p o r t a n t e s são
diferente devido a u m d e s e n v o l v i m e n t o m o s "cérebro m a s c u l i n o e f e m i n i n o " p a r a tais q u e i m p e d e m u m a pessoa d e saber
c e r e b r a l d i v e r s o . L i v r o s c o m o Why Men se r e f e r i r a p e r f i s c o g n i t i v o s específicos, o se u m a m e n i n a , e s c o l h i d a d e m a n e i r a
Dorít Listen and Women Carít Read Maps que é u m a escolha infeliz de t e r m i n o l o g i a , aleatória, será m e n o s c a p a z d e a p r e n d e r
[ P o r q u e é q u e os H o m e n s N u n c a O u v e m pois c o n t r i b u i para ideias distorcidas re- d e t e r m i n a d o tópico q u e u m m e n i n o e s -
N a d a e as M u l h e r e s Não S a b e m L e r o s l a c i o n a d a s a o f u n c i o n a m e n t o d o cérebro. c o l h i d o d e m a n e i r a aleatória etc.
M a p a s ] se t o r n a r a m l e i t u r a s p o p u l a r e s .
Q u a n t o d i s s o é b a s e a d o e m p e s q u i s a só-
l i d a ? Há u m "cérebro f e m i n i n o " e u m "cé-
rebro masculino"? D e v e r i a m o s estilos de
e n s i n o ser m o l d a d o s s e g u n d o o género?
E x i s t e m várias diferenças f u n c i o n a i s
e morfológicas e n t r e cérebro d e h o m e m
e m u l h e r . O m a s c u l i n o é m a i o r e, q u a n d o
se t r a t a d a l i n g u a g e m , as áreas r e l e v a n t e s
são m a i s f o r t e m e n t e a t i v a d a s e m m u l h e -
res. M a s d e t e r m i n a r o q u e i s s o s i g n i f i c a
é e x t r e m a m e n t e difícil. N e n h u m e s t u d o
m o s t r o u processos específicos d e u m s e x o
e n v o l v i d o s n a construção d e r e d e s n e u r o -
nais durante o aprendizado.
O s t e r m o s "cérebro f e m i n i n o " e "cé-
r e b r o m a s c u l i n o " se r e f e r e m a " m a n e i r a s
d e ser" descritas e m t e r m o s c o g n i t i v o s e m
v e z d e a q u a l q u e r r e a l i d a d e biológica. O
pesquisador americano d a Universidade
de C a m b r i d g e S i m o n B a r o n - C o h e n , q u e
u s a essas expressões p a r a d e s c r e v e r o a u -
t i s m o e distúrbios r e l a c i o n a d o s , a c r e d i t a
q u e o s h o m e n s c o s t u m a m ser m a i s " m e -

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O M I T O DE U M I D I O M A POR VEZ
"O cérebro de uma condições culturais e sociais difíceis. Os

criança só consegue protocolos deveriam ter levado em conta

aprender uma
que muitas delas começaram a aprender a
nova língua aos 5, 6 anos ou mais, e, sem

língua de cada vez" um forte domínio desse idioma, encontra-


vam dificuldades para aprender outros tó-
picos. E m resumo, não podemos comparar

H oje, metade da população mundial


fala ao menos duas línguas e o mul-
tilinguismo é tido como uma vantagem.
gem nativa tem de ser aprendida "correta-
mente" antes de se começar outra.
Os mitos decorrem de uma combi-
de maneira significativa a inteligência de
crianças monolíngues de famílias nativas
e com frequência mais favorecidas com
Ainda assim, por um bom tempo muitos nação de fatores. Como a língua é impor- aquela de crianças multilingues pertencen-
acreditaram que aprender um novo idio- tante cultural e politicamente, essas consi- tes prioritariamente a ambientes não pri-
ma era problemático para a língua nativa. derações são parte de vários argumentos, vilegiados com conhecimento limitado da
Superstições como essa são difíceis de incluindo descobertas de pesquisas do língua dominante pela família.
abandonar e com frequência se baseiam cérebro, para favorecer uma língua "ofi- Estudos recentes revelaram áreas de
na representação falsa da linguagem no cial" em prejuízo de outras. Certas obser- linguagem sobrepostas no cérebro de pes-
cérebro. U m mito é que, quanto mais se vações médicas tiveram seu papel: casos soas que têm um forte domínio de mais de
aprende uma nova língua, mais necessa- de pacientes bilíngues ou multilingues que uma língua. Esse ponto pode ser distorci-
riamente se perde a outra. Outro imagina esqueciam completamente uma língua e do em favor do mito de que o cérebro tem
duas línguas ocupando áreas separadas nada da outra depois de um traumatismo apenas "espaço limitado" onde armazenar
no cérebro sem pontos de contato, de for- na cabeça ajudaram a promover a tese de informações relacionadas à língua. O pes-
ma que o conhecimento adquirido numa que as línguas ocupavam áreas separadas quisador americano Karl S. Kim, da Uni-
não pode ser transferido para a outra. no cérebro. Estudos do começo do século versidade Cornell, constatou a ativação de
Com base nessas ideias, pensou-se que o 20 descobriram que indivíduos bilíngues áreas distintas, porém muito próximas, no
aprendizado simultâneo de duas línguas tinham "inteligência inferior" , porém eles cérebro de bilingues quando eles descre-
durante a infância criasse uma mistura no foram realizados com metodologias falhas veram o que fizeram naquele dia em sua
cérebro e atrasasse o desenvolvimento da e baseados principalmente em crianças mi- língua nativa e depois na língua aprendi-
criança. A inferência falsa é que a lingua- grantes com frequência subnutridas e em da mais tarde. Dessa forma, a questão das

"ST
NEUROMITOS

"áreas de linguagem" em indivíduos multilingues ainda não foi O mito de que é preciso primeiro falar bem o idioma nativo
resolvida. Mas, partindo dessa falta de resolução, é errado afirmar antes de começar a aprender uma segunda língua é desmentido por
que o forte comando da língua nativa é enfraquecido quando um estudos segundo os quais crianças bilíngues entendem a estrutu-
segundo idioma é aprendido. ra de cada língua melhor e a aplicam de forma mais consciente.
A afirmação de que "o conhecimento adquirido em uma língua Portanto, o multilinguismo ajuda a promover outras competências
não é acessível ou transferível para outra" é outro mito e um dos relacionadas à linguagem. Esses efeitos positivos são mais claros
mais anti-intuitivos. Qualquer um que aprenda um conceito difícil quando a segunda língua é adquirida cedo; educação multilingue
numa língua - por exemplo a evolução - pode compreendê-lo em não leva a atraso no desenvolvimento. Algumas vezes, crianças
outra. Se há incapacidade de explicar o conceito na segunda língua, bem pequenas podem confundir línguas, mas, a não ser que haja
é devido à falta de vocabulário e não à diminuição do conhecimen- uma falha na aquisição (tal como m á diferenciação de sons), tal
to. Experimentos mostraram que quanto mais conhecimento é ad- confusão desaparece mais tarde.
quirido em diversas línguas, mais este é armazenado em áreas bem As teorias sobre bilinguismo e multilinguismo foram particu-
mais distantes da área reservada para a linguagem: ele não é pre- larmente baseadas em teorias cognitivas. Os futuros programas
servado apenas na forma de palavras, mas em imagens, por exem- escolares sobre o aprendizado de línguas deveriam se basear em
plo. Pessoas multilingues podem não mais lembrar em que língua exemplos bem-sucedidos de práticas de ensino e levar em conta a
aprenderam certas coisas - podem esquecer se leram um artigo ou pesquisa sobre o cérebro, atual ou futura, e as idades favoráveis ao
se viram um filme em francês, alemão ou inglês. aprendizado da linguagem (períodos sensíveis).

O M I T O D O A U M E N T O D A MEMÓRIA

"Como conseguir ronais, cujo número é finito (embora enor-

uma memória
me). Ninguém pode esperar memorizar
toda a Enciclopédia Britânica.
excepcional Estudos mostraram que a capacidade

rapidamente" de esquecer é necessária para a boa me-


morização. Quanto a isso, o caso de um
paciente do neuropsicólogo russo Aleksan-
der Luria é esclarecedor: o paciente tinha

A memória é uma função essencial do


aprendizado e também objeto de ri-
cas fantasias e distorções. "Melhore sua
uma memória que parecia ser infinita mas,
sem a capacidade de esquecer, era incapaz
de encontrar um emprego fixo, a não ser
memória!", bradam os anúncios de livros como "campeão de memória". peças. Eles foram perfeitamente bem-suce-
e produtos farmacêuticos, repetidos com Pessoas com memória visual quase fo- didos na tarefa, com exceção das situações
insistência ainda maior durante a época de tográfica, que são muito boas para memo- em que a disposição das peças mostrada
provas. Mas sabemos hoje o suficiente para rizar longas listas de números escolhidos não tinha nenhuma chance de acontecer
entender os processos de memorização e ao acaso ou capazes de jogar vários jogos num jogo real de xadrez.
imaginar a criação de produtos e métodos de xadrez de olhos vendados, têm formas DeGroot concluiu que a capacidade de
que melhorem a memorização? especializadas de pensar e não um tipo de grandes jogadores de recriar a disposição
Nos últimos anos, o entendimento da memória visual específico. das peças de um tabuleiro não se devia à
memória avançou. Sabemos agora que a O psicólogo e enxadrista holandês memória visual, mas sim à capacidade de
memória não responde a apenas um tipo Adriaan DeGroot interessou-se pelos gran- organizar mentalmente as informações de
de fenómeno e que não está localizada em des mestres de xadrez, conseguindo que um jogo que conheciam extremamente
uma única parte do cérebro. No entanto, cooperassem com experimentos nos quais bem. Desse ponto de vista, o mesmo estí-
contrariamente à crença popular, a me- a disposição do tabuleiro era brevemente mulo é percebido e entendido de maneira
mória não é infinita, e isso ocorre porque mostrada, e esses excelentes jogadores ti- diferente, dependendo da profundidade de
a informação é armazenada nas redes neu- nham que recriar a mesma disposição das conhecimento da situação.

^EDUCAÇÃO
O M I T O DE APRENDER D O R M I N D O

"O sonho de aprender durante


o sono está a seu alcance"

MAPAS DE C O N C E I T O
A prender enquanto você dorme
que ideia fascinante e atraente! U m
aprendizado rápido e sem esforço é um
-

Há um grande número de sonho para muitos de nós. Mas mesmo os


técnicas para melhorar a memória, maiores entusiastas reconhecem que, ain-
mas elas costumam agir apenas num da que o conhecimento possa ser adquiri-
tipo particular de memória, seja por do durante o sono, a pessoa não aprende a
melo de recursos mnemónicos, seja
usá-lo. A ideia de "aprenda enquanto dor-
por melo de repetições do mesmo
me" é um mito completo ou tem algum
estímulo, seja pela criação de mapas
fundo de verdade?
de conceito (dando significado a
coisas que nâo necessariamente Nos métodos que afirmam propor-
têm um, a fim de aprendê-las com cionar tal aprendizado, a informação é
mais facilidade). Joseph Novak repetida, por meio de mensagens e textos,
devotou um estudo considerável a enquanto a pessoa está dormindo. Pro-
mapas de conceito e detectou um dutos comerciais prometem um sucesso
aumento significativo da capacidade fenomenal, afirmando que o aprendizado PENGUIN READERS
(5)
de estudantes de física do ensino durante o sono não apenas é possível, mas
médio para resolver problemas por até mesmo mais eficiente do que quando B r a v e New World
melo desses mapas. O trabalho ainda A l d o u s Huxlry
feito acordado. A ideia consolidou-se du-
nâo tem um estudo de Imageamento
rante a Segunda Guerra Mundial, quando
para definir as áreas cerebrais
se imaginava que espiões fossem capazes demonstrar o aprendizado bem-sucedido
atlvadas durante esses diferentes
de aprender rapidamente dialetos, sota- durante o sono merecem maior conside-
processos, mas constatou que áreas
diferentes do cérebro são atlvadas, ques, hábitos e costumes dos países para ração. V. N. Kulikov realizou sua pesquisa
dependendo do fato de a pessoa os quais eram enviados. A origem dessa narrando uma história infantil escrita por
ser Iniciante ou nâo no assunto tese é encontrada na ficção científica e foi Tolstoi para pessoas que dormiam. U m dos
em questão. Estudos neurológicos imaginada pela primeira vez no livro R a l - 12 participantes teve lembranças do texto
são portanto ainda necessários ph 1 2 4 C 4 1 + : A Romance ofthe Year2660, depois de acordar. Num segundo grupo,
para entender como funciona a de Hugo Gernsback, publicado em 1911. o russo primeiro estabeleceu contato com
memória. Existem diversidades Quase 20 anos depois, Aldous Huxley des- os participantes do experimento enquan-
Individuais consideráveis, e os creve crianças aprendendo durante o sono to dormiam por meio de frases gravadas
mesmos Indivíduos vão usar a
em Admirável M u n d o Novo (capa ao lado, como "você está dormindo tranquila-
memória de forma diferente por
com ilustração de Richard Wilkinson). mente, não acorde". Depois, a história era
toda a vida dependendo da Idade.
Essas histórias de aprendizado em mun- reproduzida, seguida por outras sentenças
Todavia, a ciência confirmou o papel
dos utópicos (ou distópicos) nos quais se pedindo-lhes que se lembrassem do texto
representado pelo exercício físico,
pelo uso atlvo do cérebro e por uma aprende dormindo começaram a se espa- e continuassem a dormir calmamente. Es-
dieta bem balanceada (que Inclui lhar pelo mundo real. Surgiram "teorias" sas instruções pareceram ter um impacto
ácidos graxos) para desenvolver para explicar como poderiam funcionar, real na capacidade dos participantes de
a memória e reduzir o risco de mas elas eram vagas e contraditórias. lembrar dos textos lidos: os que ouviram
doenças degenerativas. Alguns trabalhos da Rússia e de países os textos dormindo pareceram lembrá-los
do antigo bloco comunista que buscaram tão bem quanto os que estavam acorda-
a memória. A natureza e a eficiência do
anestésico poderiam provocar uma dife-
rença no processo de memorização. Por
fim, estudos subsequentes não consegui-
ram reproduzir com sucesso os mesmos
resultados e tendiam a sugerir que não era
possível lembrar eventos de uma operação,
quer o paciente estivesse ou não conscien-
te. E m resumo, nenhum estudo sobre o
aprendizado enquanto se dorme realizado
em países ocidentais com um controle es-
trito por E E G no estado de sono foi capaz
de demonstrar evidência de aprendizado.
Portanto, podemos concluir que mui-
tas das afirmações sobre aprender durante
o sono são mitos. Embora a função precisa
dos. Outros estudos mais longos foram Tais fatores ajudam a explicar os resultados do sono permaneça um mistério, estudos
realizados na Rússia e no Leste Europeu, positivos de muitos dos primeiros estudos. recentes mostraram que ele desempenha
sempre com instruções dadas antes de as Embora pesquisadores ocidentais não papéis no desenvolvimento do cérebro e
pessoas caírem no sono. C o m base nes- tenham encontrado nenhuma evidência em seu funcionamento. Ele é benéfico para
sas descobertas, o aprendizado durante o para apoiar as afirmações de aprendizado fortalecer habilidades como o aprendizado
sono foi praticado de forma intensa nos bem-sucedido durante o sono, eles foram motor: por exemplo, a memorização de
países da ex-União Soviética, sobretudo capazes de identificar um efeito quando sequências de batuque com os dedos me-
durante os anos 1950 e 1960. Afirmava-se alguém está sob a ação de um anestésico. lhora quando o treinamento é seguido por
que línguas podiam ser aprendidas duran- Tradicionalmente, considera-se que pa- períodos de sono. O sono durante a pri-
te o sono, não apenas por indivíduos, mas cientes sob influência de anestésico estão meira metade da noite favorece a memória
por vilas inteiras, graças a transmissões de adormecidos e não percebem nada. Nos factual enquanto na segunda metade favo-
rádio noturnas. anos 1960, foram feitos experimentos nos rece a memória de habilidades. Até agora,
No entanto, os estudos tinham muitas quais cirurgiões se comportavam como se numerosos estudos descobriram que o
falhas. Com frequência, pesquisadores in- houvesse uma séria emergência enquanto sono modifica a memorização de coisas
dicaram que o aprendizado funcionou em o paciente estava sob anestésico. Ao acor- aprendidas logo antes de adormecer.
pessoas "sensíveis", sem definir claramente darem, os pacientes eram questionados E m conclusão, nenhuma evidência
o que se quis dizer com "sensíveis", com sobre sua operação e alguns estavam bem científica apoia fortes afirmações sobre
significados que vão de "pessoa sensível agitados. A partir disso, conclui-se que aprender enquanto se dorme e se, dormin-
a hipnose" a "pessoa persuadida da efici- eles devem ter lembrado de forma implí- do ou não, a pessoa pode confiar numa
ência de aprender durante o sono". Outra cita algo da operação enquanto dormiam. simples repetição para o aprendizado. Para
deficiência era o controle ruim do estado E m outros estudos, pacientes se recupe- aprender uma língua estrangeira, ciências
do sono. E m geral, a informação a ser re- ravam melhor se durante a cirurgia com naturais, física etc. é necessário esforço
tida não era lida durante o sono profundo anestesia geral lhes dissessem que iam se consciente. Os C D s para serem tocados
e não havia nenhum controle do estado recuperar rapidamente. enquanto se dorme prometem um cami-
do sono pelo eletroencefalograma (EEG), No entanto, esses estudos também nho para um melhor aprendizado, para
como em estudos ocidentais. Os experi- tinham falhas. Para começar, estar sob parar de fumar e perder peso, mas não
mentos foram feitos logo depois de os par- anestesia não é igual a dormir e portanto há evidência científica que apoie essas
ticipantes adormecerem ou nas primeiras esse estado não pode ser comparado com promessas. Talvez não seja o C D que faz
horas, momentos em que as gravações de o sono. Uma vez acordados, os pacientes a pessoa parar de fumar ou perder peso,
E E G mostram principalmente ondas alfa. não conseguiam lembrar explicitamente mas a motivação. Aprender enquanto se
Dessa forma, é improvável que os parti- pelo que haviam passado ou o que tinham dorme continua a ser um mito, e é bastante
cipantes estivessem dormindo profun- escutado durante a operação. A agitação e improvável ver tais abordagens recomen-
damente, mas em vez disso estariam em a recuperação não são critérios sensíveis dadas um dia como partes de programas
"sono leve" e, de certa forma, conscientes. o suficiente pelos quais se possa avaliar escolares ou universitários.

Bepucacão
O C O M B A T E AOS N E U R O M I T O S

Embora possam surgir por


acidente, alguns mitos sobre
o cérebro servem a interesses
e impulsionam negócios

O cérebro é um tema badalado. Sua


popularidade é em parte explica-
da pelo interesse inerente ao tema por
frente da educação e portanto abertos a
ideias a serem "vendidas". Num mundo
educacional incerto, novas ideias são
Essa análise dos mitos sobre o funcio-
namento do cérebro mostra de forma
inequívoca que uma cooperação maior
parte da maioria das pessoas, bem como prontamente acolhidas, em especial se entre os dois d o m í n i o s é necessária.
pela riqueza de novas descobertas da parecem panaceia, mesmo quando são Qualquer reforma educacional que real-
neurociência que se prestam à cobertu- apenas uma solução embrionária. Se mente deva estar a serviço dos estudan-
ra da mídia. O apelo popular pode re- a educação tivesse mais confiança em tes precisa levar em conta os estudos e
sultar em perigos inesperados. si mesma, meias verdades, soluções a pesquisa neurocientíficos, enquanto
A maioria dos neuromitos, incluin- já prontas, panaceias de um quarto da mantém uma objetividade saudável.
do os descritos aqui, compartilham potência e mitos teriam menos chance Da mesma forma, os pesquisadores do
origens semelhantes. São quase sempre de proliferar. Mas a situação no c o m e ç o cérebro não devem se excluir do mun-
baseados em algum elemento de ciência do século 21 é que a reflexão e a prática do da educação e das implicações mais
legítima, o que faz com que identificá- educacionais são abertas demais para a amplas de seu trabalho. Eles precisam
-los e refutá-los fique bem mais difícil. infecção por essa febre, de forma que os estar prontos para explicá-lo de manei-
Os resultados sobre os quais são cons- neuromitos v ã o provavelmente perma- ra tão compreensível e acessível quanto
truídos, no entanto, são ou mal compre- necer no futuro previsível. possível. A troca entre as diferentes dis-
endidos, ou incompletos, ou exagerados Banir ou desmascarar os neuromitos ciplinas e participantes tornará possível
ou extrapolados para além da evidência, tem sido uma tarefa da O C D E por mui- utilizar o conhecimento florescente so-
ou tudo isso ao mesmo tempo. Essa di- tos anos, mas apresenta várias dificulda- bre o aprendizado para criar um sistema
ficuldade é inerente à própria natureza des. Primeiro, expor neuromitos expõe educacional tanto personalizado para o
do discurso científico e às simplifica- t a m b é m insights válidos da pesquisa ce- indivíduo quanto universalmente rele-
ções fáceis demais de introduzir quando rebral ao fogo do neurocético, que pode vante para todos. •
traduzimos a ciência para a linguagem usar isso para desafiar qualquer abor- ©OCDE, 2 0 0 7
cotidiana (exacerbadas pela natureza dagem neurocientífica da educação.
da cobertura da mídia). Embora alguns D a mesma forma, ele deixa o usuário O AUTOR

neuromitos nasçam por acidente, po- cuidadoso com a evidência que rejeita Bruno delia Chiesa foi cordenador e editor d o
l i v r o Understandlng the Brain: the blrth of a
dem servir a determinados interesses, já os mitos vulnerável ao ataque daqueles Leamlng Science, lançado p e l a Organização
que impulsionam negócios. cujos interesses são mais bem servidos p a r a Cooperação e D e s e n v o l v i m e n t o Econó-
m i c o (OCDE) e m 2007, de o n d e esse a r t i g o f o i
Potencialmente, todas as pessoas pela crença continuada neles. Fazer isso t r a d u z i d o c o m autorização d a organização. O
são suscetíveis a neuromitos, mas al- t a m b é m pode desapontar alguns desses trabalho d e Della Chiesa, a t u a l m e n t e profes-
sor visitante d a Universidade Harvard, Esta-
guns alvos são especialmente importan- educadores que mostraram uma fé ingé- d o s U n i d o s , r e v e l a a preocupação e m m o s t r a r
tes. Primeiro, há todos os educadores nua nas promessas da neurociência. a importância d a neurociência e d u c a c i o n a l
p a r a o f u t u r o d o a p r e n d i z a d o . U m a versão
- sejam pais, professores ou outros - , As pontes entre a neurociência e integral desse t e x t o pode s e racessada e m
que são os "consumidores" de linha de a educação são ainda muito escassas. www.revistaeducacao.com.br
l/l

S A CONSTRUÇÃO S O C I A L D O CÉREBRO

por Fernando Louzada

Esculpidas pela experiência, atividade e


estrutura são indissociáveis no cérebro. Uma
das consequências é que nenhum distúrbio ou
transtorno de aprendizagem pode ser explicado
por fatores exclusivamente biológicos ou
ambientais: ferramentas diversas são necessárias
para abordar o processo educacional

Os ossos e os músculos estão para os movimentos assim como o cérebro está para os pensamentos.
Profissionais da educação física devem conhecer detalhes do funcionamento de ossos e músculos.
Pedagogos que façam o mesmo em relação ao cérebro. 99

T enho feito esta provocação a educadores. E m resposta, além de ser chamado de reducionista,
termo quase ofensivo em tempos atuais, sou alertado que estas disciplinas têm origens dis-
tintas e que os modelos que norteiam os pedagogos não têm relação com as ciências do cérebro.
Aproveito o fato de a conversa adquirir um tom mais sério e argumento que está na hora de bus-
carmos uma aproximação entre as neurociências e a pedagogia. Assim, talvez possamos nos livrar
mais rapidamente da superada dicotomia biologia/ambiente, cérebro/mente que ainda, em pleno
século 2 1 , permeia a reflexão associada à cognição. As múltiplas abordagens da neurociência atu-
al abrem caminhos para novos modelos explicativos relacionados aos processos de aprendizagem
e t ê m fornecido importantes subsídios para o trabalho de educadores.

EHlEElEDUCAÇÃO
CONVERGÊNCIAS

• A constante remodelação
O cérebro humano é resultado de uma
programação genética que nos confere um
órgão com dezenas de bilhões de neuró-
nios, os quais estabelecem conexões com
milhares de outros neurónios por meio
das chamadas sinapses. Essa programação
também possibilita sua constante remo-
delação, daí o uso do termo plasticidade,
a partir das interações que estabelecemos
com o ambiente, desde as que ocorrem na
vida intrauterina até as mais complexas
relações sociais.
Caso o psicólogo Lev Vigotski vivesse
nos tempos atuais, talvez cunhasse o termo
"construção social do cérebro", pois hoje sa-
bemos que não apenas seu funcionamento
mas também sua estrutura são esculpidos
pela experiência: no cérebro, atividade e
estrutura são indissociáveis. Uma das con-
sequências desse fato é que, atualmente,
nenhum distúrbio ou transtorno de apren-
dizagem pode ter sua génese explicada por
fatores exclusivamente biológicos ou exclu-
sivamente ambientais. Pioneiro no estudo Para construir uma imagem do que
do desenvolvimento intelectual da criança, Discos rígidos, placa seria esta constante remodelação cerebral,
o bielo-russo foi também um dos fundado-
mãe e pentes de suponha que tenha recebido uma grande
res da psicologia histórico-cultural. área de mata e deve protegê-la de caçado-
A metáfora do computador, que
memória de um res e grileiros. E m um primeiro momen-
compara os neurónios ao hardware e a computador, ao to, você constrói inúmeras trilhas. Após
atividade mental ao software é, na sua contrário do cérebro, alguns meses, percebe que percorreu so-
essência, infeliz. Os discos rígidos, a pla- mente uma pequena parte delas. As trilhas
ca mãe e os pentes de memória de um
são imutáveis, n ã o frequentadas tornam-se largas, enquanto
computador, ao contrário do cérebro, são importando os as outras ficam estreitas ou mesmo desapa-
imutáveis, independentemente dos pro- programas usados recem. É mais ou menos isso o que acon-
gramas que usamos. tece com o cérebro durante o desenvolvi-

COMO SURGIU A HIPÓTESE DOS PERÍODOS CRÍTICOS


Existem " p e r í o d o s críticos", ou s e j a , fases ú n i c a s e m que sua m ã e . Lorenz c h a m o u e s s a l i g a ç ã o de "imprinting". Ao
a p e n a s nelas certos tipos de a p r e n d i z a d o p o d e m ocorrer t o m a r o lugar da m ã e , Lorenz se tornou alvo da l i g a ç ã o dos
de forma b e m - s u c e d i d a ? P o d e m c e r t a s h a b i l i d a d e s ou a t é r e c é m - n a s c i d o s que o s e g u i a m para todo canto. O p e r í o d o
conhecimentos ser adquiridos a p e n a s durante "Janelas que permite e s s a l i g a ç ã o é bem curto (logo depois do
de oportunidade" r e l a t i v a m e n t e c u r t a s que depois se n a s c i m e n t o ) ; u m a v e z e m f u n c i o n a m e n t o , era i m p o s s í v e l
f e c h a m de u m a v e z por t o d a s n u m e s t á g i o preciso do m u d a r o objeto de l i g a ç ã o e a s aves r e c é m - n a s c l d a s s ó
d e s e n v o l v i m e n t o do c é r e b r o ? O conceito de " p e r í o d o c r í t i c o " s e g u i a m o substituto e m vez da m ã e . " P e r í o d o crítico" é um
data de e x p e r i m e n t o s realizados nos a n o s 1970 pelo t e r m o apropriado a q u i , pois u m evento (ou s u a a u s ê n c i a )
e t ó l o g o Konrad Lorenz. Ele observou que certas a v e s , logo durante um p e r í o d o e s p e c í f i c o provoca u m a s i t u a ç ã o
depois de s a í r e m dos ovos, l l g a v a m - s e p e r m a n e n t e m e n t e I r r e v e r s í v e l . ( U n d e r s t a n d l n g t h e b r a i n : t h e b l r t h of a
a u m objeto m ó v e l p r o e m i n e n t e do a m b i e n t e , e m g e r a l L e a r n i n g s c I e n c e , OCDE, 2007)

manaa
NEUROl educação
1 i l l l ^ ^
PLASTICIDADE DO COMEÇO AO FIM
Os processos que remodelam o c é r e b r o - s i n a p t o g ê n e s e , r á p i d a e facilmente a t é os 16 anos, enquanto a capacidade de
poda, desenvolvimento e m o d i f i c a ç ã o de n e u r ó n i o s - s ã o enriquecer o v o c a b u l á r i o na verdade melhora com a Idade. A
agrupados sob o m e s m o termo:"plasticidade". V á r i o s g r a m á t i c a fornece um exemplo de aprendizado de p e r í o d o
estudos mostraram que o c é r e b r o permanece plástico por s e n s í v e l e é expectante de e x p e r i ê n c i a : para que n ã o haja
toda a vida, tanto no que se refere ao n ú m e r o de n e u r ó n i o s dificuldade excessiva no aprendizado, de maneira Ideal ele
quanto ao de sinapses. A a q u i s i ç ã o de habilidades resulta precisa ocorrer e m dado lapso de tempo (o p e r í o d o s e n s í v e l ) .
do t r e i n a m e n t o e do fortalecimento de certas c o n e x õ e s , O aprendizado expectante de e x p e r i ê n c i a é portanto mais
mas t a m b é m da poda de outras. Uma d i s t i n ç ã o precisa ser eficiente durante certos p e r í o d o s da vtda. Um aprendizado
estabelecida entre dois tipos de s i n a p t o g ê n e s e - a que que Independe de um p e r í o d o s e n s í v e l , t a l como a a q u i s i ç ã o
ocorre naturalmente no c o m e ç o da vida e a que resulta da de v o c a b u l á r i o , é "dependente de e x p e r i ê n c i a " : quando
e x p o s i ç ã o a a m b i e n t e s complexos no decorrer da e x i s t ê n c i a . a s i t u a ç ã o e m que o aprendizado ocorre e m m e l h o r e s
Pesquisadores referem-se à primeira como "aprendizado c o n d i ç õ e s n ã o é limitada pela Idade ou pelo t e m p o e pode
expectante de e x p e r i ê n c i a " e à segunda como "aprendizado até melhorar conforme os anos passam. ( U n d e r s t a n d l n g the
dependente de e x p e r i ê n c i a " . A g r a m á t i c a é aprendida mais brain: the blrth o f a learning scIence, 2007)

m e n t o . A s s i n a p s e s m a i s u t i l i z a d a s ficam
f o r t a l e c i d a s , a informação " f l u i " c o m m a i s O CÉREBRO APERFEIÇOADO
f a c i l i d a d e p o r elas. P o r o u t r o l a d o , as q u e
Com volume m á x i m o atingido na Infância, a substância cinzenta passa a diminuir
não f o r a m u t i l i z a d a s e n f r a q u e c e m . D e s t a
na adolescência, à medida que as vias neurais desnecessárias v ã o sendo "podadas".
forma, potencialmente podemos produzir As Imagens de ressonância m a g n é t i c a mostram o grande volume de s u b s t â n c i a
sinapses n o d e c o r r e r d e t o d a a v i d a , m a s cinzenta ( e m v e r m e l h o ) e os volumes menores ( e m azul e roxo).
e m m u i t a s regiões d o cérebro o s a l d o é
n e g a t i v o , o u seja, a p e r d a é m a i o r q u e o
ganho. É o que ocorre durante a primeira
infância, fase d e p r o f u n d a remodelação
c e r e b r a l . P o r este m o t i v o , há p e s q u i s a d o r e s
q u e c o n s i d e r a m esta fase d a v i d a d e c i s i v a
para o desenvolvimento cognitivo e e m o -
c i o n a l , p o i s as m a r c a s d e i x a d a s n a s t r i l h a s
d o cérebro p e r m a n e c e r i a m até a v i d a a d u l -
ta. N o s últimos a n o s , este a r g u m e n t o t e m 13 anos 15 anos 18 anos
sido utilizado para defender u m a m a i o r
atenção p o r p a r t e d o s e d u c a d o r e s e m a i s
i n v e s t i m e n t o s públicos e m p r o g r a m a s e a superação d e limitações, s u s c e t i b i l i d a - biológicos estão e n v o l v i d o s , o u seja, p o r
ações v o l t a d o s a essa f a i x a etária. des o u predisposições. A s s i m , s a b e m o s a l g u m m o t i v o a s t r i l h a s não e s t a v a m
q u e e m m u i t o s casos d e dificuldades d e disponíveis p a r a p e r m i t i r a a p r e n d i z a -
• Quanto mais cedo melhor a p r e n d i z a g e m a intervenção p r e c o c e é g e m . F e r r a m e n t a s d e avaliação c o m b a s e
C a s o conseguíssemos c o m p a r a r as " t r i - c r u c i a l . L e v a n d o e m consideração o s n a neurociência têm s u r g i d o , e q u a n d o
l h a s " d o cérebro d a s p e s s o a s l o g o após o eventos que o c o r r e m durante os p r i m e i - a p l i c a d a s e m crianças d e 4 o u 5 a n o s p o -
n a s c i m e n t o , descobriríamos q u e elas não ros anos d e vida, ela pode ser decisiva d e m p o s s i b i l i t a r a identificação d a q u e -
são idênticas. F a t o r e s genéticos e m i n t e r a - p a r a o f u t u r o d a criança. l a s q u e necessitarão d e m a i o r atenção
ção c o m o a m b i e n t e i n t r a u t e r i n o i n f l u e n - U m a d a s g r a n d e s tragédias d e n o s s a d o s p r o f e s s o r e s p a r a q u e s e u cérebro es-
c i a m a construção das sinapses. É b a s t a n t e educação é e x i s t i r e m crianças d e 9 o u 1 0 t e j a p r e p a r a d o p a r a a alfabetização. N a
plausível p e n s a r m o s q u e estas diferenças a n o s q u e a i n d a não d e s e n v o l v e r a m h a - m e s m a direção, a l g u n s p e s q u i s a d o r e s
c r i a m m e n o r o u m a i o r facilidade para b i l i d a d e s d e l e i t u r a e m decorrência d e prevêem q u e avaliações genéticas, n u m
a aquisição d e c e r t a s h a b i l i d a d e s , c o m o inúmeros f a t o r e s , d e s d e p r o b l e m a s v i s u - f u t u r o próximo, serão u t i l i z a d a s p a r a
a p r e n d e r a falar, a a n d a r o u a ler. N o caso ais e / o u a u d i t i v o s não d i a g n o s t i c a d o s à o r i e n t a r a n e c e s s i d a d e d e intervenções
d o cérebro, a herança biológica p o d e s e r f a l t a d e instrução o u motivação a d e q u a - p r e c o c e s específicas, c o m o o b j e t i v o d e
modulada, transformada, possibilitando das. E m p a r t e d o s c a s o s , f a t o r e s n e u r o - a u x i l i a r o d e s e n v o l v i m e n t o d a criança.

1"
CONVERGÊNCIAS

O QUE APRENDER A DIRIGIR E A LER T Ê M EM COMUM


• Ambas atividades d e p e n d e m da
a u t o m a t i z a ç ã o e q u e m se encarrega
desse processo no c é r e b r o é o
cerebelo. A l é m de sua I m p o r t â n c i a
no controle motor, estudos recentes
/ 5 r
? v r
mostram a p a r t i c i p a ç ã o dessa
estrutura cerebral localizada na parte
posterior do e n c é f a l o , na c o g n i ç ã o .
As imagens ao lado, obtidas por melo
da ressonância m a g n é t i c a funcional,
Indicam, nos pontos coloridos, r e g i õ e s
do cerebelo atlvadas e m tarefas
F o n t e : C o r r i n e D u r l s k o e M i e A. Flez. F u n c t i o n a l a c t i v a t l o n i n t h e c e r e b e l l u m d u r l n g
associadas à Linguagem. w o r k i n g m e m o r y a n d s i m p l e s p e e c h t a s k s . C o r t e x 4 6 ( 2 0 1 0 ) 8 9 6 - 9 0 6.

Caberá à s o c i e d a d e d e c i d i r s e o u s o d e s - automatização. N a l e i t u r a e n a e s c r i t a
tas f e r r a m e n t a s poderá s e r r e a l i z a d o e m Educadores e a c o n t e c e a l g o p a r e c i d o . N o início d a a l -
benefício d a s crianças s e m c o r r e r m o s o fabetização, a l e i t u r a é l e n t a , t r u n c a d a ,
r i s c o d e discriminá-las.
médicos divergem e n e c e s s i t a m o s m o b i l i z a r t o d a a atenção
Entretanto, a ideia de que os p r i m e i r o s sobre as dificuldades para a tarefa. A o s poucos, v a m o s adqui-
a n o s d e v i d a r e p r e s e n t a r i a m u m período de aprendizagem r i n d o fluência, f r u t o d a automatização
crítico d e a p r e n d i z a g e m é q u e s t i o n a d a d o processo, e m u i t a s vezes n o s pega-
p o r a l g u n s n e u r o c i e n t i s t a s . C o m exceção
por conta da m o s l e n d o u m t e x t o e pensando e m as-
de d e t e r m i n a d a s h a b i l i d a d e s r e l a c i o n a - oposição entre um s u n t o s q u e n a d a têm a v e r c o m a l e i t u r a .
das à l i n g u a g e m , não há evidências d e olhar cultural e S a b e m o s há a l g u m t e m p o q u e o c e r e -
q u e o u t r a s h a b i l i d a d e s não p o s s a m s e r
outro mais biológico b e l o , e s t r u t u r a p r e s e n t e n a região p o s t e -
d e s e n v o l v i d a s após a p r i m e i r a infância. r i o r d o encéfalo, está e n v o l v i d o c o m a c o -
D e qualquer forma, resultados d e estu- ordenação d o s m o v i m e n t o s . A n o v i d a d e
d o s r e c e n t e s f o r n e c e m subsídios p a r a a é q u e o c e r e b e l o está a s s o c i a d o também
identificação d e i d a d e s m a i s a d e q u a d a s n o v i d a d e para pais e educadores. E n e m à cognição. A p r e n d e r a d i r i g i r e a l e r têm
p a r a o e n s i n o d a s e g u n d a língua. deveria ser para neurocientistas, pois e m c o m u m o fato de dependerem da au-
D e n t r e as várias dimensões d a l i n - s a b e m o s q u e a construção d o cérebro tomatização e o c e r e b e l o é e s s e n c i a l p a r a
g u a g e m , a pronúncia e a proficiência h u m a n o d u r a n t e a evolução t e m s i d o que isso o c o r r a . A chave para explicar
g r a m a t i c a l d e p e n d e r i a m d a exposição c a l c a d a n a interação s o c i a l . p o r q u e parte d o s estudantes c o m p r o -
m a i s p r e c o c e , a i n d a n a educação i n f a n - b l e m a s n a aquisição d a l e i t u r a também
til, para que a aprendizagem d a segunda •Aautomatização de processos apresenta dificuldades motoras prova-
língua fosse p l e n a . O vocabulário e o A i n d a falando de l e i t u r a e escrita, q u a n - v e l m e n t e está n o c e r e b e l o , c u j a a t i v i d a d e
p r o c e s s a m e n t o semântico, a o contrário, d o o p r o f e s s o r d e língua p o r t u g u e s a é a l t e r a d a n e s t a s situações. N e s t e caso, o
não d e p e n d e r i a m d e s s a exposição m a i s identifica u m aluno c o m dificuldades, t r a b a l h o d o p r o f i s s i o n a l d e educação físi-
p r e c o c e p a r a g a r a n t i r a aquisição. S e n d o e l e p r o c u r a o p r o f e s s o r d e educação fí- ca p o d e c o n t r i b u i r p a r a a automatização
assim, o p r o c e d i m e n t o d e algumas es- sica? E m g e r a l não, m a s t a l v e z f o s s e o dos m o v i m e n t o s e consequentemente
c o l a s d e r e t a r d a r a exposição à s e g u n d a caso. V a m o s n o s l e m b r a r d o q u e a c o n - p a r a a aquisição d e fluência n a l e i t u r a e
língua até o s 1 0 o u 1 2 a n o s t a l v e z d e v a tece q u a n d o a p r e n d e m o s a d i r i g i r : n a s n a e s c r i t a . M a i s q u e u m a t e n t a t i v a d e es-
s e r r e p e n s a d o . O u t r a conclusão q u e p o - p r i m e i r a s aulas, t e m o s d e pensar n o s t a b e l e c e r associações s i m p l i s t a s e n t r e es-
d e m o s tirar d e estudos recentes é q u e p e d a i s , o l h a r p a r a a posição d o câm- t r u t u r a s d o encéfalo, e m p a r t i c u l a r o ce-
a a p r e n d i z a g e m d a s e g u n d a língua é b i o , t o d a n o s s a atenção está v o l t a d a rebelo, e dificuldades d e aprendizagem,
mais significativa quando mediada por para a tarefa. C o m o passar d o t e m p o , esse e x e m p l o n o s m o s t r a a importância
p e s s o a s d o q u e q u a n d o são u t i l i z a d o s conseguimos dirigir, a o m e s m o t e m p o d a avaliação i n t e g r a d a d a s d i f i c u l d a d e s
a p e n a s r e c u r s o s c o m o televisão o u c o m - o u v i r música o u c o n v e r s a r . I s s o é p o s - do aluno, m e s m o que, aparentemente,
p u t a d o r e s . E s t e a c h a d o não é n e n h u m a sível p o r q u e , c o m a prática, o c o r r e u a elas não s e r e l a c i o n e m . N a m a i o r i a d a s

^EDUCAÇÃO
vezes, surgem intervenções mais adequa-
das para a solução do problema. ATIVIDADE CEREBRAL DURANTE O SONO
A imagem de uma rede é bastante uti-
T é c n i c a s utilizadas pelos do que c h a m a m o s de c o g n i ç ã o
lizada para descrever o emaranhado for-
neurocientistas nas ú l t i m a s d é c a d a s social, depende da integridade d a s
mado por neurónios e seus prolongamen- possibilitaram a descoberta de que, á r e a s cerebrais citadas. Durante o
tos unidos pelas sinapses. Este termo foi ao c o n t r á r i o do que se pensava sono, e s t a r í a m o s com a c o g n i ç ã o
emprestado da engenharia e incorporado anteriormente, o c é r e b r o e s t á muito s o c i a l comprometida m a s , a o
ao vocabulário da neurociência há várias atlvo durante o sono. Há q u a s e um m e s m o tempo, livres do s e u "freio",
consenso entre os pesquisadores gerando p e n s a m e n t o s m u l t a s
décadas. Diversos modelos computacio-
de que esta atividade cerebral, v e z e s absurdos. Por outro lado,
nais surgiram baseados neste conceito.
particularmente a dos sonhos, a b r e - s e e s p a ç o para a criatividade
Poderíamos dizer que o cérebro é forma- e s t á a s e r v i ç o da c o n s o l i d a ç ã o da e a s o l u ç ã o de p r o b l e m a s
do por uma gigantesca ou por inúmeras, a p r e n d i z a g e m . Todas a s noites, ao aparentemente i n s o l ú v e i s durante
quase infinitas, redes neurais entrelaçadas, dormir, atualtzamos nossas redes a v i g í l i a . Há pelo m e n o s d u a s
que são ativadas ou não em função da tare- neurais e refinamos nossos m a p a s consequências importantes destes
internos do mundo. A n á l i s e s mais achados r e l a c i o n a d a s à e d u c a ç ã o .
fa executada. Quando pensamos em maçã
precisas mostram que a principal A primeira é que o t e m a s o n o deve
ativamos determinada rede neural; um
d i f e r e n ç a entre a v i g í l i a e os sonhos ser abordado e m s a l a de a u l a ,
cachorro ativa outra e assim por diante. A é que a l g u m a s á r e a s das r e g i õ e s a s s i m como f a z e m o s com outros
rede neural ativada por uma banana tem p r é - f r o n t a l s e s t ã o inativadas no ligados à p r o m o ç ã o da s a ú d e . A
mais neurónios em comum com aquela m o m e n t o e m que s o n h a m o s . segunda c o n s e q u ê n c i a é que o

ativada pela maçã do que pelo cachorro, A i m p o r t â n c i a dessas á r e a s no planejamento e s c o l a r d e v e levar


controle do comportamento é em consideração as necessidades
pois aprendemos a categorizar maçã e
bem conhecida. Somos c a p a z e s de de sono dos a l u n o s . A s s i m , a u l a s
banana como frutas, e temos uma rede as- saber, por exemplo, que podemos com I n í c i o às 7 horas da m a n h ã e
sociada a elas. Novamente inspirados em xingar um á r b i t r o no e s t á d i o de a Impossibilidade de c r i a n ç a s da
Vigotski, não é difícil imaginar que o mun- futebol s e m maiores c o n s e q u ê n c i a s , e d u c a ç ã o infantil d o r m i r e m a s e s t a
do que nos é apresentado, seus conceitos m a s Jamais p o d e r í a m o s fazer o na escola s ã o d u a s a b e r r a ç õ e s
m e s m o com um Juiz n u m tribunal. ainda presentes no a m b i e n t e
e categorias, esculpe as redes neurais, que
Esta habilidade, que faz parte escolar brasileiro. ( F. L )
por sua vez refletem, de certa maneira, a
cultura na qual estamos imersos.

• As cores da emoção
E m meio a meus devaneios, fico pen-
sando como estas imagens de redes no
cérebro estariam relacionadas à contex-
tualização do conhecimento trabalhado
em sala de aula, ideia bastante presen-
te nos projetos pedagógicos das esco-
las. Suponha que queiramos abordar o
conceito de velocidade a partir do mo-
vimento de um veículo em uma turma
na qual quase todos os alunos chegam
à escola de bicicleta. Sem nos dar con-
ta disso, escolhemos um trem. Naquela
sala, apesar de os alunos saberem o que
é, nunca andaram de trem ou viram um,
pois n ã o há estações naquela cidade. A
imagem de um trem ativará algumas re-
des neurais. Entretanto, se escolhermos
a bicicleta, a ativação será muito maior,
os alunos recordarão experiências, mui-
tas delas significativas, que viveram com
CONVERGÊNCIAS

suas bicicletas. Sabemos que as cone- mos, então, mais um argumento a favor
x õ e s entre os neurónios s ã o reforçadas
O processo da p r e o c u p a ç ã o em planejarmos nossa
quando há um colorido emocional asso- prática em sala de aula a partir da reali-
ciado à experiência. É bastante plausível educacional exige o dade do aluno.
admitirmos que a chance de o conceito uso de ferramentas U m dos grandes desafios dos educa-
de velocidade ficar "ancorado" nestas
diversas, o que s ó dores é lidar com alunos que apresentam
redes ativadas pela bicicleta e tornar-se dificuldades de aprendizagem. Estas, se
t a m b é m significativo será muito maior
será p o s s í v e l com persistentes, devem ser avaliadas por pro-
do que se ele for trabalhado por meio do a c o n v e r g ê n c i a de fissionais das áreas pedagógica, médica e
trem. Por enquanto estas ideias n ã o pas-
profissionais de psicológica. Durante o processo de avalia-
sam de meros devaneios, mas n ã o me ção é muito comum surgirem divergên-
surpreenderia se no futuro descobrís-
v á r i a s áreas cias entre educadores e profissionais da
semos que n ã o estou enganado. Teria- área médica. Esta tensão surge, muitas ve-

PIAGET E OS ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO


Dificilmente u m a c r i a n ç a d e dois anos a p r e n d e r á a ler final da g e s t a ç ã o . Em outras, como a s p r é - f r o n t a i s , que
ou uma de oito fará Julgamentos morais. N ã o é n e c e s s á r i o e s t ã o associadas a o planejamento, à t o m a d a de d e c i s õ e s e
olharmos para o c é r e b r o d e u m aprendiz para sabermos ao Julgamento, a m l e l l n l z a ç ã o s ó s e completa por volta dos
disso. De qualquer forma, a n e u r o c i ê n c i a nos apresenta 20 anos de vida. Entrar e m contato com estes dados nos traz
uma outra perspectiva do desenvolvimento que p o d e r á , no a l e m b r a n ç a dos e s t á g i o s de desenvolvimento propostos
futuro, auxiliar a p r á t i c a p e d a g ó g i c a . I m e d i a t a m e n t e a p ó s o pelo s u í ç o Jean Piaget (1896-1980), um dos maiores
nascimento, os n e u r ó n i o s a i n d a n ã o e s t ã o completamente estudiosos do desenvolvimento cognitivo humano. Piaget
prontos. O a m a d u r e c i m e n t o n e u r a l depende de alguns afirmava que entre linguagem e p e n s a m e n t o existiria um
eventos, dentre eles a a q u i s i ç ã o de mielina, camada que ciclo g e n é t i c o , no q u a l um s e apoia no outro, em f o r m a ç ã o
recobre parte dos n e u r ó n i o s e que facilita a c o n d u ç ã o do s o l i d á r i a e p e r p é t u a a ç ã o r e c í p r o c a . Eu m e arriscaria a
e s t í m u l o nervoso. E m a l g u m a s á r e a s cerebrais, como as dizer que existe u m a reciprocidade s e m e l h a n t e entre
s e n s ó r i o - m o t o r a s , os n e u r ó n i o s Já e s t ã o mlellnlzados a o desenvolvimento n e u r a l e cognitivo. (F. L.)

Controle motor e a p r e n d i z a g e m
acerca de objetos físicos
Motora
sensorial
0 a 2 anos

Pré
operacional
2 a 7 anos
Desenvolvimento
de habilidades
sistemáticas e
OS QUATRO
l ó g i c a s e de
ESTÁGIOS EM
Desenvolvimento
raciocínio
PIAGET de habilidades
Formal verbais
operacional
12 a 15 anos

Concreta
operacional
I n í c i o da
7 a 12 anos
aprendizagem
de conceitos
abstratos

NEURO EDUCAÇÃO
zes, de uma oposição entre um olhar mais
biológico, por parte dos médicos, e outro
mais cultural, por parte dos educadores.
Nesta discussão, muitos educadores con-
sideram a neurociência uma das vilãs,
pois estaria a serviço da chamada medica-
lização das dificuldades de aprendizagem.
Penso que, ao contrário, neurocientistas
podem ajudar a facilitar o diálogo entre
profissionais com diferentes formações.

• Dar a volta, a volta toda


Para ilustrar esta questão, vamos utilizar
como exemplo o transtorno do déficit de
atenção e hiperatividade (TDAH). Enquan-
to alguns profissionais argumentam que
o transtorno resulta unicamente de nossa
organização social, outros creditam sua
origem exclusivamente a fatores biológicos.
Alguns olham apenas para o ambiente das
sinapses; outros, para o ambiente da crian-
• CÉREBRO EM CORES: A Imagem do encéfalo produzida por ressonância magnética funcio-
ça. Devemos olhar as duas coisas. Após
nal mostra as fibras nervosas que estabelecem conexões entre n e u r ó n i o s de diversas regiões
algum tempo desenvolvendo pesquisas na do sistema nervoso centra L As vias azuis conectam as áreas superiores às inferiores, as verdes
área, sigo o conselho de José Saramago, que ligam as áreas frontais às posteriores e as vermelhas, as conexões entre os dois hemisférios
dizia que "para conhecermos as coisas te-
mos que dar a volta, a volta toda". Aliar ações pedagógicas, psicológicas e A aprendizagem é um processo com-
E dar a volta, no caso, significa olhar o farmacológicas para modificar simultane- plexo que emerge das interações entre
fenómeno de diferentes perspectivas. Não amente o cérebro e o ambiente da criança fenómenos biológicos e sociais, e as ciên-
há dúvida de que o ambiente familiar e o pode surtir melhores efeitos. cias, sejam elas quais forem, apresentam
da escola influenciam o desenvolvimento Nem sempre esse procedimento é ado- limitações para trabalhar com questões de
cognitivo e o comportamento do aluno. tado. Muitas crianças são diagnosticadas tamanha complexidade. O neurologista
Muitas vezes, modificações na dinâmica com T D A H , passam a utilizar estimulan- Kenneth Kosik, professor da Universida-
da família ou da sala de aula são capazes tes, mas não têm acesso a nenhuma outra de Harvard, fez uma interessante analogia
de ajudar decisivamente o estudante. Por intervenção. Por outro lado, há colegas para explicar essa limitação. Segundo ele,
outro lado, da perspectiva neuronal, nas- radicalmente contra o uso desses medica- um marceneiro cuja única ferramenta é
cemos com cérebros diferentes. E m algu- mentos. Alertam para o número excessi- o martelo usa todos os objetos como se
mas pessoas, as áreas pré-frontais, impor- vo de crianças atualmente diagnosticadas fossem pregos. Não há dúvida de que o
tantes para o controle da impulsividade e com T D A H e medicadas com estimulan- processo educacional exige o uso de ferra-
da atenção, podem apresentar menor ati- tes. Concordo que os dados são realmente mentas diversas e isso só será possível se
vidade ou amadurecer mais tardiamente, preocupantes. Conhecemos os riscos do buscarmos uma convergência entre pro-
com reflexos na aprendizagem e na intera- uso desses medicamentos, que deve ser fissionais de várias áreas do conhecimen-
ção com as pessoas. A modificação da ati- criterioso e acompanhado por um pro- to. Na minha opinião, a neurociência está
vidade das sinapses com o uso de drogas fissional capacitado. Entretanto, discordo habilitada a se tornar uma delas, mas ainda
estimulantes, em geral prescritas, pode tra- que a solução seja a demonização da in- há um longo caminho a ser percorrido. •
zer resultados positivos. Diversos estudos dústria farmacêutica. Modificar o funcio-
confirmam esta ideia e mostram que, na namento das sinapses não é, de maneira O AUTOR
Fernando íjouzada é n e u r o c i e n t i s t a , pro-
maioria dos casos, tratamentos inspirados alguma, a cura do transtorno, mas uma fessor da Universidade Federal do Para-
na abordagem chamada multimodal, ou das estratégias disponíveis, com resultados ná. Em parceria com Luiz Menna Barreto,
escreveu 0 sono n a saía d e a u l a , Edito-
seja, que agregam diferentes intervenções, satisfatórios em uma parcela dos pacientes
ra Vieira & Lent, e Relógios biológicos e
são os que geram melhores resultados. quando aliada a outras intervenções. a p r e n d i z a g e m , Editora Edesplan.
u
* A CIÊNCIA D O CÉREBRO F A Z
u FALTA A O S PEDAGOGOS?

por Frances Jones

A inclusão nos cursos de pedagogia


brasileiros de disciplinas que abordem
aspectos biológicos do aprendizado está
longe de ser realidade ou consenso. O
diálogo entre a neurociência e a prática do
ensino está apenas começando nas grades
curriculares de futuros educadores

E nquanto no Brasil há grupos de profissionais que estudam, pesquisam


e buscam aplicar em sala de aula os conhecimentos agregados pela
neurociência, são poucos os cursos de pedagogia que têm em sua grade
curricular disciplinas que abordem os fundamentos da neurobiologia hu-
mana. E m uma pesquisa publicada em 2002, a professora e pesquisadora
Leonor Bezerra Guerra e colegas da Universidade Federal de Minas Gerais
( U F M G ) verificaram que metade de 60 cursos de pedagogia consultados
não incluía nem biologia nem neurobiologia em suas grades curriculares.
Somente sete (11,67%) abordavam esses temas - a maioria deles em insti-
tuições de ensino particulares.
Mesmo o curso de pedagogia da U F M G , onde há um importante traba-
lho de extensão envolvendo a divulgação do conhecimento sobre o funcio-
namento do cérebro a professores (ver quadro n a pág. 31) o novo currículo
implementado em 2009 do curso de pedagogia não inclui tópicos estudados
pela neurociência. O caso foi objeto de estudo de Tatiana de Moura Couti-
nho, que se formou em pedagogia pela universidade no ano passado com
a monografia de conclusão de curso "Educação e Neurociências: Um Olhar
sobre a Formação de Pedagogos na Faculdade de Educação da UFMG".

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CURRÍCULO

"Acho que falta o esclarecimento


de que uma ciência não veio
para disputar nenhum campo
com a outra, mas sim para somar
conhecimento"
"A maioria dos professores e do co- no ano que vem", diz Geovana Ferreira guagem específica que faça a ponte en-
legiado que faz o currículo no curso de Melo Teixeira, coordenadora do curso tre as neurociência e a educação.
pedagogia acha que esse conhecimento de pedagogia da U F U . A inclusão de E m meio às dificuldades atuais en-
deve ser passado para os alunos, mas não uma nova disciplina, porém, esbarra na frentadas pela educação e pelos educa-
de forma direta e sim inserido em discipli- questão da falta de profissional qualifi- dores brasileiros, no entanto, há quem
nas optativas ou em cursos de extensão", cado para abordar a interface entre neu- considere secundária a questão do en-
afirma a pedagoga, que agora trabalha em rociência e educação. sino de neurociência nos cursos de pe-
Belo Horizonte com alunos com neces- Se de um lado os professores e pe- dagogia. "Não tenho dúvida de que deve
sidades educacionais especiais. Segundo dagogos não costumam estudar o fun- existir uma comunicação [entre educa-
ela, que entrevistou vários professores cionamento do cérebro e os processos ção e neurociência, mas temos de resol-
para a sua monografia, os responsáveis biológicos envolvidos no aprendizado, os ver primeiro um problema de conjun-
pelo currículo consideram que a educa- neurocientistas também pouco conhecem tura. U m professor de escola não pode
ção é muito ampla para ser explicada pela sobre o processo de ensino e aprendiza- ganhar o que ele ganha hoje", afirma o
neurociência: "Acho que falta o esclareci- gem em sala de aula, sobre metodologias neurocientista Martin Cammarota, do
mento de que uma ciência não veio para e teorias da educação. Além disso, uma Centro de Memória da Pontifícia Uni-
disputar nenhum campo com a outra, coisa é conhecer os mecanismos cerebrais; versidade Católica do Rio Grande do
mas sim para somar conhecimento". outra é aplicar o conhecimento sobre os Sul ( P U C - R S ) .
Na Universidade Federal do Rio processos mentais na prática pedagógica. Já o neurocientista Miguel Nico-
Grande (Furg), no Rio Grande do Sul, a "É imprescindível a investigação, rigorosa lelis, diretor científico do Instituto In-
disciplina neurociência aplicada à educa- e científica, dos achados das neurociên- ternacional de Neurociência de Natal
ção é oferecida na graduação como tópico cias aplicados à sala de aula, antes que se Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) e pro-
especial. Ou seja: cursam os alunos que estabeleça qualquer aplicação educacio- fessor da Duke University, nos Estados
desejarem - a matéria não é voltada espe- nal", afirma Leonor Guerra no artigo "O Unidos, aposta que no futuro deverá ser
cificamente para o curso de pedagogia. diálogo entre a neurociência e a educação: "quase que uma obrigatoriedade" o en-
Na Universidade Federal de Uber- da euforia aos desafios e possibilidades", sino de neurociência nos cursos de pe-
lândia ( U F U ) , t a m b é m em Minas, o publicado na revista Interlocução. dagogia. "Já é uma coisa que se começa
tema é abordado na graduação apenas U m dos benefícios da capacitação a discutir aqui nos Estados Unidos; esse
tangencialmente na disciplina optativa dos professores em neurociência, ale- movimento vai levar o pedagogo a ter de
de psicopedagogia escolar. "Considero gam pesquisadores, seria que eles es- aprender noções de neurociência básica
extremamente importante conhecer- tariam mais preparados para a leitura para entender como o cérebro aprende",
mos o funcionamento do cérebro, e é crítica de revistas científicas trazendo afirma. "Esse casamento é inevitável." •
provável incluirmos essa discussão na descobertas neurocientíficas da área do
reestruturação do nosso projeto polí- ensino e aprendizagem. E , como toda A AUTORA

tico-pedagógico, para implementação área nova, deve surgir t a m b é m uma lin- Frances Jones é Jornalista e tradutora.

igiaurwEDUCACAo
NEURO

D e s p e r t e o espírito d e s o l i d a r i e d a d e
e m sua escola.

A C o r r e n t e d o B e m é u m projeto d a A A C D v o l t a d o a instituições d e e n s i n o públicas e p a r t i c u l a r e s , c o m o objetivo d e


c o n s c i e n t i z a r e s t u d a n t e s , f a m i l i a r e s , p r o f e s s o r e s e f u n c i o n á r i o s p a r a a c a u s a d a d e f i c i ê n c i a física no B r a s i l .

R e c e b a o s cofrinhos d a associação e m s u a e s c o l a , ajude a o f e r e c e r tratamento p a r a milhares d e crianças deficientes


físicas e p r o m o v a e n t r e s e u s a l u n o s o r e s p e i t o à s d i f e r e n ç a s , o e n v o l v i m e n t o e m a ç õ e s s o c i a i s e a s o l i d a r i e d a d e .

P a r a p a r t i c i p a r , ligue (11) 5 5 7 6 0 6 4 8 ou e n v i e um e-mail p a r a c o r r e n t e d o b e m @ a a c d . o r g . b r

ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA
À CRIANÇA DEFICIENTE
\ E COTIDlAÍXÍb
ESTÃO M A I S C O N E C T A D O S
D O Q U E V O C E I/I/IAGINA

E f e i t o E s t u f a : ação r e f l e t o r a q u e o dióxido d e c a r b o n o , o m e t a n o , o s
\ c l o r o f l u o r c a r b o n e t o s ( C F C s ) e o s ó x i d o s d e a z o t o t ê m s o b r e a radiação,
I r e e n v i a n d o - a p a r a a superfície t e r r e s t r e .

C BC •
CL
O
o
1 B I i !
1

11
C i m e n t o : m a t e r i a l cerâmico q u e , e m c o n t a t o c o m a água,
p r o d u z reação e x o t é r m i c a d e cristalização d e p r o d u t o s
h i d r a t a d o s , g a n h a n d o a s s i m r e s i s t ê n c i a mecânica.

•Pi

N o o u t o n o a q u a n t i d a d e d e luz e m i t i d a pelo sol d i m i n u i . |J


A fotossíntese f i c a c o m p r o m e t i d a e m razão d a
ausência d e l u m i n o s i d a d e . A s f o l h a s " entendem" que
não p r e c i s a m m a i s d o p i g m e n t o v e r d e e o descartam.

N u m passeio d e bicicleta d e 1 hora, o c o n s u m o


aproximado d eenergia é d e2 9 0 quilocalorias.

/REVISTAQUANTA

0 QUE.....
COM A NOVA
TABELA PERIÓDICA QUANTA w w w , revi s t a q u a n t a , inf.br
editora
segmento
F a z e r p o n t e s e n t r e a s ciências d a n a t u r e z a e a v i d a
c o t i d i a n a , e n t r e o s c o n h e c i m e n t o s d a química,
b i o l o g i a e d a física e a q u e l e s d a s ciências Central d e Atendimento
humanas, integrando o s campos. (11)3039-5666
Esta é a proposta d aREVISTA QUANTA. assinaturas@editorasegmento.com.br

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