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Ficha de leitura de «Lisbon Revisited (1923)» - Correcção

1. O poema constrói-se, essencialmente, com base num discurso que o «eu» poético
dirige a uma segunda pessoa do plural.

1.1. Demonstre a veracidade da afirmação, considerando o modo verbal e a


função da
linguagem predominante.

De facto, o sujeito poético parece dirigir-se a um tu, o que é visível através do


recurso ao modo imperativo («Tirem daqui...», «Não me apregoem...») e à função
apelativa da linguagem («Não me venham com conclusões!» - v. 3; «Não me tragam
estéticas!» - v. 5).

2. A acumulação de construções negativas, nas três primeiras estrofes, remete para


uma
recusa.

2.1. Explique, por palavras suas, aquilo que o sujeito poético recusa.

O sujeito poético recusa a "verdade" (verso 12) que a sociedade tem para lhe
oferecer, nomeadamente as "conclusões", as "estéticas", a "moral", a "metafísica", "as
ciências" e "a civilização moderna". No fundo, estamos perante um Campos em tudo
oposto ao do delírio sensacionista da "Ode Triunfal".

3. Comente a interrogação retórica presente no verso 11.

A interrogação retórica do verso 11 traduz o espanto do sujeito poético, que se


interroga acerca da razão pela qual estará a ser castigado.

4. A par da recusa referida em 2., o sujeito poético afirma os seus «direitos».

4.1. Refira-os, justificando a sua resposta com passagens do poema.

O sujeito poético defende o seu direito de ser diferente dos «outros» ("Fora disso,
sou doido, com todo o direito a sê-lo. / Com todo o direito a sê-lo, ouviram?" - vv. 14-
15; "Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? / Queriam-me o contrário
disto, o contrário de qualquer coisa?" -vv. 17-18) e o de ser / estar sozinho ("Vão para
o diabo sem mim" - v. 21; "Ah, que maçada quererem que seu seja de companhia!" - v.
27; "Deixem-me em paz!" - v. 36; "(...) quero estar sozinho!" - v. 35).

5. A décima estrofe constitui uma espécie de parêntesis no discurso do sujeito


poético.

5.1. Identifique o sentimento que aí se revela.


A estrofe referida revela um misto de nostalgia e tristeza, visíveis, por exemplo,
nas apóstrofes e personificações "céu azul", "macio Tejo" (sinestesia) e "mágoa
revisitada", identificada com a cidade de Lisboa.

5.2. Indique a que época da vida do sujeito poético se reporta esta estrofe e a
respectiva
simbologia no contexto do poema.

O sujeito poético refere-se à sua infância, símbolo da alegria e da felicidade


perdidas.

5.3. Interprete a expressividade dos adjectivos presentes nos versos 28 a 31.

A infância é recordada como um tempo conhecido, imutável, sem surpresas, logo


um tempo tranquilizador e de paz. Os adjectivos "eterna", "perfeita", "macio" e
"ancestral" enfatizam essas ideias de imutabilidade e de segurança.

5.4. Demonstre, remetendo para passagens do texto, que o sentimento que liga o
sujeito
poético à cidade de «Lisboa» se prende com os direitos por ele apregoados
em estrofes
anteriores.

A cidade de Lisboa, presentemente, em nada altera o «eu», o seu estado de


espírito, nem procuram convencê-lo a ser aquilo que ele não deseja, limitando-se a
permanecer "mudos", "vazios" e "imutáveis". Daí que a cidade se afigure, para o sujeito
poético, como perfeita, pois respeita o seu direito à diferença e o seu desejo de solidão.

6. Esclareça o sentido da última estrofe, demonstrando que ela se relaciona


intimamente com
o verso 4: "A única conclusão é morrer."

Na última estrofe, depois de novo apelo a que o deixem sozinho, em sossego, o


sujeito poético faz uso, duas vezes, do verbo "tardar" na forma negativa, remetendo
para a ideia de proximidade da morte, ideia essa confirmada pelos nomes maiusculadas
"Abismo" e "Silêncio", símbolos da morte, cuja inexorabilidade é a única certeza, já
anunciada no verso 4 ("A única conclusão é morrer.").

Não, não é cansaço...


Não, não é cansaço...

É uma quantidade de desilusão

Que se me entranha na espécie de pensar,

É um domingo às avessas

Do sentimento,

Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...

É eu estar existindo

E também o mundo,

Com tudo aquilo que contém,

Com tudo aquilo que nele se desdobra

E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço porquê?

É uma sensação abstracta

Da vida concreta –

Qualquer coisa como um grito

Por dar,

Qualquer coisa como uma angústia

Por sofrer,

Ou por sofrer completamente,

Ou por sofrer como...

Sim, ou por sofrer como...

Isso mesmo, como...


Como quê?...

Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,

Que formidável realejo

Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)

Porque oiço, vejo.

Confesso: é cansaço!...

Álvaro de Campos, in Poesias, Ed. Ática

Linhas temáticas

PERCURSO EMOCIONAL DO SUJEITO POÉTICO

Nesta composição lírica, sujeito poético afirma no primeiro verso que não é cansaço
aquilo que sente, reiterando essa afirmação ao longo do poema. No entanto, e talvez um
pouco paradoxalmente, refere que a desilusão se lhe “entranha na espécie de pensar”,
sublinha a monotonia da vida (“é a mesma coisa variada em cópias iguais”), exprime a
angústia perante o mistério e a indefinição que perpassam nesse “falso cansaço”;
finalmente aceita que, “porque ouve e vê”, o estado em que se encontra é de cansaço:
“Confesso: é cansaço!...” Assim, pode-se afirmar que, progressivamente, o sujeito
poético se deixa dominar por uma letargia, um estado de cansaço e desistência, que o
afasta do mundo.
RELAÇÃO ENTRE O SUJEITO, O MUNDO E OS OUTROS

Há entre o sujeito poético, os outros e o mundo um distanciamento, decorrente da


incapacidade de relação; o único ponto comum é o facto de todos existirem: “É eu estar
existindo/ E também o mundo”. Os outros, os “cegos que cantam na rua”, são apenas
aqueles que o sujeito poético observa, mas com quem não se relaciona.

IMPORTÂNCIA SIMBÓLICA DOS PARÊNTESES

Do ponto de vista simbólico, os parênteses constituem um momento em que o sujeito


poético abandona o tom reflexivo, se volta para o exterior e o vê como um “formidável
realejo”. Os parênteses são como que um oásis num texto de características claramente
negativas, uma vez que é o próprio sujeito poético que lhes confere uma conotação
positiva. Simbolicamente, poder-se-ia afirmar que a felicidade só é possível para quem é
“cego”, ou seja, para quem não vê a verdadeira realidade do mundo.

FASE POÉTICA

Este poema integra-se na fase abúlica de Álvaro de Campos, pelo que revela de
incapacidade de viver a vida, pelo que transmite de tédio, de uma certa desistência
perante o mundo e os outros. Nada motiva o sujeito poético, nada lhe interessa, tudo se
resume a um “supremíssimo cansaço”.

Recursos expressivos
A primeira estrofe inicia-se com a repetição do advérbio de negação “não” empregue
numa frase reticente, o que revela uma certa indefinição. O discurso assume um tom
claramente metafórico (“…domingo às avessas/Do sentimento, /Um feriado passado no
abismo...”), terminando a estrofe também com uma frase reticente. O conjunto destes
recursos expressivos, aliado à repetição anafórica presente nos versos dois e quatro,
traduz a tentativa de definir o estado de espírito que domina o sujeito poético.

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