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1. O poema constrói-se, essencialmente, com base num discurso que o «eu» poético
dirige a uma segunda pessoa do plural.
2.1. Explique, por palavras suas, aquilo que o sujeito poético recusa.
O sujeito poético recusa a "verdade" (verso 12) que a sociedade tem para lhe
oferecer, nomeadamente as "conclusões", as "estéticas", a "moral", a "metafísica", "as
ciências" e "a civilização moderna". No fundo, estamos perante um Campos em tudo
oposto ao do delírio sensacionista da "Ode Triunfal".
O sujeito poético defende o seu direito de ser diferente dos «outros» ("Fora disso,
sou doido, com todo o direito a sê-lo. / Com todo o direito a sê-lo, ouviram?" - vv. 14-
15; "Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? / Queriam-me o contrário
disto, o contrário de qualquer coisa?" -vv. 17-18) e o de ser / estar sozinho ("Vão para
o diabo sem mim" - v. 21; "Ah, que maçada quererem que seu seja de companhia!" - v.
27; "Deixem-me em paz!" - v. 36; "(...) quero estar sozinho!" - v. 35).
5.2. Indique a que época da vida do sujeito poético se reporta esta estrofe e a
respectiva
simbologia no contexto do poema.
5.4. Demonstre, remetendo para passagens do texto, que o sentimento que liga o
sujeito
poético à cidade de «Lisboa» se prende com os direitos por ele apregoados
em estrofes
anteriores.
É um domingo às avessas
Do sentimento,
É eu estar existindo
E também o mundo,
Da vida concreta –
Por dar,
Por sofrer,
Confesso: é cansaço!...
Linhas temáticas
Nesta composição lírica, sujeito poético afirma no primeiro verso que não é cansaço
aquilo que sente, reiterando essa afirmação ao longo do poema. No entanto, e talvez um
pouco paradoxalmente, refere que a desilusão se lhe “entranha na espécie de pensar”,
sublinha a monotonia da vida (“é a mesma coisa variada em cópias iguais”), exprime a
angústia perante o mistério e a indefinição que perpassam nesse “falso cansaço”;
finalmente aceita que, “porque ouve e vê”, o estado em que se encontra é de cansaço:
“Confesso: é cansaço!...” Assim, pode-se afirmar que, progressivamente, o sujeito
poético se deixa dominar por uma letargia, um estado de cansaço e desistência, que o
afasta do mundo.
RELAÇÃO ENTRE O SUJEITO, O MUNDO E OS OUTROS
FASE POÉTICA
Este poema integra-se na fase abúlica de Álvaro de Campos, pelo que revela de
incapacidade de viver a vida, pelo que transmite de tédio, de uma certa desistência
perante o mundo e os outros. Nada motiva o sujeito poético, nada lhe interessa, tudo se
resume a um “supremíssimo cansaço”.
Recursos expressivos
A primeira estrofe inicia-se com a repetição do advérbio de negação “não” empregue
numa frase reticente, o que revela uma certa indefinição. O discurso assume um tom
claramente metafórico (“…domingo às avessas/Do sentimento, /Um feriado passado no
abismo...”), terminando a estrofe também com uma frase reticente. O conjunto destes
recursos expressivos, aliado à repetição anafórica presente nos versos dois e quatro,
traduz a tentativa de definir o estado de espírito que domina o sujeito poético.