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São Paulo:
Contexto, 2007.
Capítulo “A enunciação”
Fontanille concebe o capítulo “Enunciação” como uma espécie de conclusão da obra
Semiótica do Discurso. Visando chegar “aos horizontes da cultura”, propõe o esboço de uma
definição mais precisa do conceito de “enunciação” e, para tanto, organiza sua reflexão em
cinco tópicos: 1. Recapitulação; 2. Confrontações; 3. Práxis enunciativa; 4. As operações da
práxis; 5. A semiosfera.
1. Recapitulação
Fontanille destaca também que é preciso estabelecer a diferença entre três campos de
exercício da atividade de linguagem, frequentemente considerados co-extensivos: o campo de
presença perceptivo, o campo tensivo do discurso e o campo de exercício da enunciação.
Explica o pesquisador que o campo do discurso reúne todos os campos de presença que
resultam das diferentes tomadas de posição da instância de discurso e que o campo de
exercício da enunciação, domínio da práxis enunciativa, engloba todos os campos de discurso
das diversas enunciações que ela convoca. Seria possível organizar esse raciocínio do seguinte
modo:
Campo de presença < Campo do discurso < Campo da práxis enunciativa
Fontanille assevera que a enunciação manipula os modos de existência das grandezas que ela
convoca para o discurso. Segundo ele, ela as situa em uma profundidade discursiva “que não
pode ser confundida nem com o eixo paradigmático (pois há co-presença, e não seleção) nem
com o eixo sintagmático (pois há superposição, e não sucessão e combinação)”
(FONTANILLE, 2007, p. 257).
Destaca o pesquisador, por fim, que os três regimes do discurso – ação, paixão e cognição –
estão sujeitos à enunciação (que então controla as regras da programação da ação, os efeitos
passionais, as apreensões cognitivas), mas que ela não controla as consequências de cada uma
dessas tomadas de posição, uma vez que elas são reguladas pelos regimes próprios às três
dimensões do discurso.
2. Confrontações
Nesse tópico, Fontanille destaca duas grandes tendências na história recente das ciências da
linguagem: os herdeiros da tradição europeia e os herdeiros da tradição anglo-saxônica. Os
primeiros “defendem a necessidade de um componente enunciativo em linguística”, os
segundos “pensam poder prescindir dessa noção, isso quando não a ignoram simplesmente”
(2007, p. 259).
Afirma Fontanille, a esse respeito, que o debate entre correntes teóricas é frutífero, mas traz
duas dificuldades: a primeira diz respeito ao fato de que “a questão da enunciação surge
sempre como um acréscimo a uma teoria de base” (2007, p. 259), de modo que seria eficaz
adotar o ponto de vista da semiose e/ou do discurso “em ato” logo de início. A segunda
dificuldade reside na sobreposição entre a noção de enunciação e as noções de comunicação,
subjetividade e atos de linguagem, de modo que é preciso distingui-las.
Fontanille propõe um exame crítico da ideia de que a instância de discurso engloba a pessoa,
que engloba ela própria a subjetividade. O pesquisador faz, então, dois deslocamentos.
Primeiro deslocamento: a consideração do impessoal da enunciação: “[...] a práxis
[enunciativa] sendo, por definição, obra de vários actantes da enunciação – ou ainda de
grupos, de comunidades inteiras, se não de culturas –, deve ser considerada idealmente como
‘transpessoal’ ou ao menos como ‘pluripessoal’” (FONTANILLE, 2007, p. 262).
Fontanille afirma que a questão da subjetividade e da intersubjetividade deve ser tratada: “(1)
independentemente da questão da pessoa, que remete a uma esquematização cultural do
campo da enunciação, e (2) na perspectiva de uma construção progressiva da identidade
modal dos actantes, e não como um substituto da enunciação” (2007. p. 266). Acrescenta
Fontanille, ainda, que “a questão da subjetividade deve, particularmente, ser cuidadosamente
distinta da questão da tomada de posição da instância de discurso, que se manifesta ela de
todas as maneiras e independentemente dos efeitos de pessoa e de sujeito” (2007, p. 266).
Fontanille lembra que “a linguagem não é feita somente para descrever o mundo, mas também
para transformá-lo, para agir sobre as coisas e sobre outrem” (2007, p. 267-268). Indaga o
pesquisador, nesse sentido, como é possível diferenciar a enunciação e a ação, a enunciação e
a manipulação. A resposta que ele dá é simples: por meio da predicação, propriedade
intrínseca da enunciação. Afirma ele: “[...] o sujeito narrativo pode seduzir, influenciar,
persuadir, comandar um outro sujeito narrativo, mas ele não pode predicar a sedução, a
influência, a persuasão ou a injunção, salvo se lhe dão a palavra, e, nesse caso, trata-se, na
verdade, de uma delegação da enunciação” (2007, p. 268).
Fontanille explora então duas perspectivas complementares da questão, que equivalem a dois
níveis da predicação: a asserção e a assunção. Por meio da asserção, algo advém à presença da
instância de discurso; por meio da assunção, a instância de discurso reafirma sua posição em
relação ao que advém em seu campo.
Esses dois níveis da predicação têm, segundo o pesquisador, uma propriedade em comum: os
atos metadiscursivos. Apoiando-se em Greimas e Courtés que, no Dicionário de semiótica,
opõem a metalinguagem descritiva da enunciação à metalinguagem científica da teoria
semiótica, Fontanille explica que a enunciação é uma metalinguagem “descritiva” porque,
“predicando o enunciado, explicita sua própria atividade, codifica-a, fazendo dela um
acontecimento sensível ou observável” (2007, p. 270).
3. A Práxis enunciativa
Tratando da noção de práxis enunciativa, Fontanille afirma que o conceito foi introduzido em
semiótica no final dos anos 1980 por Greimas, retomado em Semiótica das Paixões e, em
seguida, desenvolvido por Bertrand.
Logo de início, ressalta o pesquisador que a práxis enunciativa não é a práxis semiótica lato
sensu (Fontanille, 2007, p. 271). Segundo ele, “a práxis enunciativa está particularmente
implicada no aparecimento e no desaparecimento dos enunciados e das formas semióticas no
campo do discurso, ou no acontecimento que constitui o encontro entre o enunciado e a
instância que lhe assume” (2007, p. 271). É a práxis enunciativa, portanto, que administra os
modos de presença/existência dos enunciados em discurso, e isso graças às duas predicações
metadiscursivas próprias à enunciação: a asserção e a assunção.
Fontanille esquematiza o funcionamento da práxis enunciativa, afirmando que ela age: 1) por
meio da recuperação de formas esquematizadas pelo uso (ora as reproduzindo tais como são
ora as desvirtuando e lhes fornecendo novas significações); 2) por meio da apresentação de
novas formas e estruturas (ora as assumindo como irredutivelmente singulares ora as
propondo para um uso mais amplamente difundido).
4. As Operações da Práxis
Grandezas de estatuto diferente podem coabitar em um mesmo discurso desde que derivem de
modos de existência igualmente diferentes (virtualizado, atualizado, realizado,
potencializado). Explica Fontanille, a esse respeito, que
O pesquisador faz um alerta: nunca podemos voltar ao modo virtual propriamente dito, apenas
chegar ao modo virtualizado. Diz ele:
5. A semiosfera
Por meio da teoria da semiosfera, Lotman investiga “os mecanismos pelos quais as diferentes
culturas assumem e transformam as contribuições exteriores” (2007, p. 283). São observadas,
nesse sentido, quatro etapas no processo de “tradução” e difusão que Lotman propõe (p. 285):