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Contextualização histórico-literária
Vida e obra
Cesário Verde nasceu em Lisboa, em 1855, no seio de uma família
burguesa. Repartiu a sua existência entre a cidade e o campo (Linda-a-
Pastora), onde a família possuía uma quinta, e onde se recolheu 1857
para fugir à febre-amarela. O pai tinha uma loja de ferragens na baixa
pombalina (cidade).
Muito cedo Cesário revelou as suas tendências anticlericais herdadas do
pai, que tinha ascendência italiana (Génova) e era adepto de ideias
revolucionárias e liberais.
A formação académica do poeta passou pela aprendizagem de
contabilidade, línguas (francês e inglês), noções de comércio e
frequentou um ano o Curso Superior de Letras.
Durante 1874, publicou poemas em jornais e revistas duramente
criticados pela elite intelectual; nesse ano aderiu também à causa
republicana, preocupando-se com questões sociais.
Em 1878, publicou o poema “Num bairro moderno”, que foi alvo de
críticas negativas.
Cesário Verde sofria dos pulmões e, em 1884, a sua tuberculose
galopante começou a manifestar-se mais violentamente; morreu a 19 de
julho de 1886. Foi sepultado sem grandes referências. As suas poesias
foram reunidas e publicadas após a sua morte, em 1887, pelo seu grande
amigo Silva Pinto em “O Livro de Cesário Verde”.
- A questão social
O sujeito poético está atento a tudo o que o rodeia, captando instantes do
quotidiano e da realidade social. Vai, assim, revelando a simpatia pelas classes
oprimidas; a sua identificação com os meios pobres, os mais desfavorecidos, os
marginais; a consciência de que a rudeza do povo é imprescindível; a revolta
contra a sociedade pela miséria social; a solidariedade com as vítimas das
injustiças sociais; a ausência de paternalismo (condescendência – não os trata
como coitadinhos, valoriza-os) quando se refere ao povo; a denúncia das
arbitrariedades do poder (corrupção); constatação de que o povo é dominado
por uma oligarquia (governo de poucos) poderosa.
Durante a sua curta vida, Cesário foi mais conhecido como simpatizante
republicano do que como poeta, o que justifica a importância deste tópico na
sua poesia.
- Imagética feminina
O poeta oferece-nos uma galeria de figuras femininas com individualidade
própria (não as põe em grupo como as restantes personagens, fala delas no
singular e cada uma tem as suas características próprias). Cria uma nova imagem
da mulher com diversidade de tipos: a mulher do povo trabalhadora, sofredora
e doente (a varina, em “Cristalizações”; a hortaliceira, em “Um bairro moderno”;
e engomadeira tísica, mulher doente que desperta a revolta e a solidariedade do
poeta, em “Contrariedades”; a atriz Tomásia, em “Cristalizações”); a mulher
frágil, bela e pura, inocente e pulsando de vida (mulher que aparece no poema
“A débil”); a milady, a mulher fatal, frívola (fútil), arrogante, fria e cruel, mas
irresistivelmente tentadora e que sujeita o “eu” poético à humilhação (aparece
em “Deslumbramentos” e “Cinismos”); a mulher que menospreza o sujeito
poético mas que o mesmo é incapaz de rejeitar (aparece em “Humilhações” e
“Arrojos”); a mulher leviana (as prostitutas que aparecem em “O Sentimento de
um Ocidental”); a mulher natural e espontânea, bela e sensual por ser autêntica
(aparece em “De Tarde”); a mulher lúbrica, que enfeitiça e arrasta o homem para
os prazeres sensuais (aparece em “Esplêndida” e “Lúbrica”); a mulher velha e
miserável marginalizada pela sociedade (aparece em “Humilhações”).
- O anticlericalismo
No contexto da ideologia republicana de Cesário, a sua posição anticlerical é
entendível. Via no clero adversários perigosos, que criticava veementemente
(com vontade). É muito notório em 3 poemas do autor: “O sentimento num
Ocidental”, “A débil” e “Impossível”.