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RESUMO
O presente artigo busca conhecer as ideias de Hannah Arendt sobre o horror decorrente da
violência perpetrada contra os judeus nos campos de concentração. Arendt buscou a
compreensão do totalitarismo e como as fábricas da morte o engendravam. Os campos de
concentração, apesar de não ser uma invenção do totalitarismo, são os mecanismos
fundamentais que garantiram ao nazismo a efetivação de sua principal ideologia: a de que
tudo é possível. Os campos de concentração eram lugares destinados àqueles considerados
pelo partido nazista e pelo Führer indesejáveis. No começo dos confinamentos iam
criminosos, críticos do nazismo, mas depois centenas de milhares de pessoas inocentes, de
origem judaica, foram colocadas nessas fábricas da morte. Preparada a maquina de destruição
e amparada por ideologias racistas, científicas, preconceitos e discriminações o destino dos
judeus estava selado na Alemanha nazista: o Holocausto. O artigo busca compreender como
Arendt entendia a razão por trás da violência do totalitarismo contra os judeus, os processos
de transformação do ser humano em coisa, por meio da destruição de sua espontaneidade e
liberdade ocorrida nos campos de concentração. A obra de referência para essa pequena
reflexão é As origens do totalitarismo: Antissemitismo, imperialismo, totalitarismo, mais
especificamente a parte III do livro que se refere ao Totalitarismo. Alguns comentadores
também foram selecionados para a compreensão de suas ideias principais acerca do horror
decorrente da violência totalitária.
Palavras chave: Horror, Totalitarismo, Violência, Espontaneidade.
ABSTRACT
His article seeks to know the ideas of Hannah Arendt on the horror of the violence perpetrated
against Jews in the concentration camps. Arendt sought an understanding of totalitarianism
and how the death factories engendered it. Concentration camps, although not an invention of
totalitarianism, are the fundamental mechanisms that guaranteed to Nazism the realization of
its main ideology: that everything is possible. The concentration camps were places intended
for those considered by the Nazi party and by the undesirable Führer. At the beginning of the
confinements were criminals, critics of Nazism, but then hundreds of thousands of innocent
people of Jewish origin were placed in these factories of death. Prepared for the machine of
destruction and supported by racist, scientific ideologies and prejudices and discriminations
the fate of the Jews was sealed in Nazi Germany: the Holocaust. The article seeks to
understand how Arendt understood the reason behind the violence of totalitarianism against
the Jews, the processes of transforming the human being into something, through the
destruction of his spontaneity and freedom in the concentration camps. The reference work
for this small reflection is The origins of totalitarianism: Antisemitism, imperialism,
totalitarianism, more specifically the third part of the book that refers to Totalitarianism.
Some commentators have also been selected to understand their main ideas about the horror
of totalitarian violence.
Keywords: Horror, Totalitarianism, Violence, Spontaneity
INTRODUÇÃO
Falar sobre algo que causa medo, apreensão, pânico, temor é algo comum no
cotidiano das pessoas, pois fatos como mortes, suicídios, acidentes, assassinatos, roubos,
linchamentos, estupros e genocídios estão quase que ubiquamente presentes nos diversos
meios de comunicação. Todas essas manifestações são objetos de destaque desses veículos de
informações, uma vez que aumenta o ibope justamente por despertar várias sensações
contraditórias nas pessoas. Dessa forma é praticamente impossível que os indivíduos não
tenham contato com essa dimensão macabra da realidade. O horror é uma das sensações
vivenciadas pelas pessoas quando estão em contato, direta ou indiretamente, com situações
que envolvem a possibilidade de graves danos à vida ou que levam à morte de fato; sejam de
si mesmos, ou de seus entes queridos ou de alguém qualquer.
A verdade é que o horror sempre parece querer dizer ou mostrar alguma coisa.
Mas o que se acompanha na história, apesar de Kant (2011 [1724/1804]), em sua obra Ideia
de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita ter enunciado que o ser
humano melhorou muito devido ao aprimoramento de sua sociabilidade, pela razão, devido a
um maior domínio sobre a nossa insociabilidade, o que parece verdadeiro é que ainda há
muito a ser melhorado no que se referem aos impulsos hostis presentes e emanados por esses
seres contra si, os outros e ao mundo. A insociabilidade e o Estado de natureza parecem ainda
reger a conduta do homem, a despeito de suas conquistas racionais e aprimoramento de sua
moralidade.
Não podemos atribuir horror à natureza, pois a natureza não comete erros; por
uma simples razão: ela não pensa, não produz juízos e tampouco delibera sobre suas ações.
Não tem como condenar o céu carregado de relâmpagos, raios e trovões pela morte de alguém
que passa na rua no momento do temporal e é atingido em cheio por um raio. O homem pode
se proteger dessas situações. Contudo, chamaremos atenção aqui para o horror decorrente do
arbítrio, da intencionalidade e violência contra algo escolhido como objeto. Uma das
experiências mais nefastas envolvendo essa concepção de horror e que levou à morte centenas
de milhares de pessoas ocorreu no século XX: o extermínio em massa de judeus nos campos
de concentração na Alemanha, durante o regime nazista.
Mas tudo o que está escrito acima não é novidade. Muitos meios de informações
já levaram ao conhecimento dos diversos tipos de públicos várias imagens, relatos e
conhecimentos sobre esse fato macabro da história. O que este artigo pretende é explorar os
meandros dessa experiência horrorosa efetivada pelos nazistas sobre os judeus nos campos de
concentração durante o regime, considerando o pensamento de Hannah Arendt acerca desse
fato. Para dar conta desse objetivo o estudo buscou caracterizar aspectos essenciais do
totalitarismo, os campos de concentração e a que se destinavam. Para isso, foram
considerados alguns trechos do livro Origens do Totalitarismo: Antissemitismo, imperialismo
e totalitarismo da filósofa Hannah Arendt. Outros textos de comentadores sobre o tema foram
utilizados para aprofundar o que estava em jogo na utilização dos campos de concentração
para perpetração e produção do horror contra os judeus.
Para que o horror vigore é necessário que seus proponentes estejam lidando com
coisas e não com seres humanos, pois considerando que “a destruição programada e gratuita
de indivíduos inocentes” era o mote central do regime totalitário, todos aqueles vistos como
indesejáveis deveriam ser eliminados de uma vez por todas pelos apologistas da nova raça ou
do novo homem, pois de acordo com Arendt (2012, p. 588) “no mundo concentracionário
mata-se um homem tão impessoalmente como se mata um mosquito”. O que parecia justificar
tamanha brutalidade é que “o interno do campo de concentração não tem preço algum, porque
sempre pode ser substituído; ninguém sabe a que ele pertence, porque não é visto.”
(ARENDT, 2012, p. 590).
Arendt (2012) comenta sobre a perplexidade sentida por aqueles que não
entendem tamanha vileza, crueldade e horror imprimidos a seres humanos considerados
suspeitos pelos nazistas, mas que não possuíam indícios concretos de terem cometido crime
algum. A violência e o horror gratuitos contra esses humanos assentam-se fundamentalmente
no momento de necessidade do regime totalitário e também na possibilidade de descarte da
massa de coisas ali presentes, prontas para serem usadas ou destruídas, conforme as metas do
sistema, pois “uma pessoa pode morrer em decorrência de tortura ou de fome sistemática, ou
porque o campo está superpovoado e há necessidade de liquidar o material humano
supérfluo.” (ARENDT, 2012, p. 588). Assim percebe-se a arbitrariedade e o imenso poder
daqueles que detinham o poder de centenas de milhares de vidas em suas mãos e o que delas
poderiam fazer caso desejassem.
Então, tamanha violência não possui explicação? Arendt e muitos outros filósofos
tentaram dar explicações para o que aconteceu. Refletindo sobre uma possível explicação
Arendt (2012) escreve:
Tudo o que se faz nos campos tem o seu paralelo no mundo das fantasias malignas e
perversas. O que é difícil entender, porém, é que esses crimes ocorriam num mundo
fantasma materializado num sistema em que, afinal, existiam todos os dados
sensoriais da realidade, faltando-lhe apenas aquela estrutura de consequências e
responsabilidade sem a qual a realidade não passa de um conjunto de dados
incompreensíveis. Como resultado, passa a existir um lugar onde os homens podem
ser torturados e massacrados sem que nem os atormentadores nem os atormentados,
e muito menos o observador de fora, saibam que o que está acontecendo é algo mais
do que um jogo cruel ou um sonho absurdo. (ARENDT, 2012, p. 591-592).
O regime totalitário por meio dos campos de concentração tinha como objetivo a
aniquilação da condição humana do indivíduo. O que caracteriza essa condição e o que leva o
indivíduo a perdê-la? De acordo com Braga (2018) a condição humana pode ser considerada
como a pluralidade de formas e maneiras que os homens e seus agrupamentos estabelecem
quanto à organização de seu viver, para a produção de sua existência num dado tempo e lugar.
De acordo com Braga (2018) Arendt considera a condição humana em três eixos: Labor,
Trabalho e Ação. Ao organizar a vida humana nesses eixos, a filósofa alemã empreende uma
tentativa de esboçar como o ser humano e seus próximos se organizam individual e
coletivamente, considerando os suas necessidades naturais e culturais, para darem sentidos às
suas existências.
Esvaziar os grupos dessa organização existencial é produzir a superfluidade
necessária aos propósitos do totalitarismo e das crenças dos agentes nazistas, que buscavam a
transformação da natureza humana: indivíduos sem humanidade, vazios, para assumirem o
estatuto de mera coisa, que servirá a uma função qualquer. É a retirada abrupta da
pessoalidade, da espontaneidade do homem e da mulher para colocá-los no mundo do terror,
do horror da impessoalidade. Mas como se dá essa passagem da pessoalidade à
impessoalidade? Arendt (2012, p. 593) comenta sobre o início do processo de desumanização
daqueles considerados perigosos: “a desvairada fabricação em massa de cadáveres é precedida
pela preparação, histórica e politicamente inteligível, de cadáveres vivos.”.
Os grupos selecionados para a morte pelos nazistas eram tratados como se fossem
inferiores. Foram rotulados arbitrariamente como “indesejáveis” para dar vazão aos impulsos
totalitários para a consolidação do domínio total sobre as ameaças almejado pelo nazismo.
Foram utilizados como bodes expiatórios, como animais de sacrifício, para que o plano do
führer se tornasse realidade: “a destruição absolutamente fria e sistemática de corpos,
calculada para aniquilar a dignidade humana”. Característica que na verdade nem era levada
em consideração, pois o biologismo supérfluo que embasava ideologicamente uma das
perspectivas do movimento totalitário considerava que na verdade, “todos os homens são
essencialmente animais.” (ARENDT, 2012, p. 602).
O perigo das fábricas de cadáveres e dos poços de esquecimento é que hoje, com o
aumento universal das populações e dos desterrados, grandes massas de pessoas
constantemente se tornam supérfluas se continuamos a pensar em termos utilitários.
Os acontecimentos políticos, sociais e econômicos de toda parte conspiram
silenciosamente com os instrumentos totalitários inventados para tornar os homens
supérfluos. (ARENDT, 2012, p. 609).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Arendt se debruçou sobre esse fenômeno e realizou uma análise moral da barbárie
perpetrada pelos nazistas contra judeus, homoafetivos, negros e deficientes. Sentidos como
ameaça pelos nazistas, estes ao buscarem o ideal da raça superior, não mediram esforços para
empregar sistematicamente um processo de eliminação. A perplexidade e a desmesura dos
atos empregados pelos nazistas colocaram em xeque os valores que até então eram
invioláveis, como, por exemplo, o da dignidade humana. Os nazistas provaram que esta nada
mais é do que apenas um nome. Eles viam apenas corpos, massa, a serem manipulados
conforme as decisões dos agentes da destruição.
Até hoje se pergunta o que teria levado os nazistas a realizar tamanha barbárie
contra muitos inocentes. Mesmo se não fossem inocentes, as pessoas mereceriam tal
desfecho? Arendt realizou uma análise sóbria da fabricação de cadáveres vivos para fazer
valer o projeto totalitário: o domínio total do humano. Domínio brutal, a custa de muita
violência e horror para efetivar na realidade projetos ideológicos oriundos da mente
ensandecida de Hitler. Deste modo, o que é o horror produzido nos campos de concentração?
É a destruição intencional operada pelos nazistas contra indivíduos e grupos em nome de
projetos ideológicos e perversos de poder, que visavam uma sociedade da “raça superior”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS