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Planetas-bebês

Os mesmos processos que formaram o nosso Sistema Solar


formam outros

MARCELO GLEISER,
é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover
(EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo"

No ano de 1600, o monge italiano Giordano Bruno foi queimado


vivo em meio a uma praça pública em Roma. Condenado como
herege pela Inquisição, Bruno tinha idéias extremamente ousadas:
duvidava da virgindade de Maria, da plausibilidade da Santíssima
Trindade e acreditava na existência de outros planetas circundando
estrelas pelo espaço afora. A existência de outros planetas
ameaçava a hegemonia terrestre e sua importância teológica: se
outras Terras existirem, talvez também existam outros seres. Nesse
caso, existiram também outros Cristos? E se o cosmo fosse infinito,
existiriam infinitos Cristos?

Apenas nove anos mais tarde, Galileu descobriria quatro luas


circundando Júpiter (hoje sabemos que existem dezenas delas),
demonstrando que, de fato, a Terra não era necessariamente o
centro do cosmo.

Foram necessários 400 anos para que a hipótese de Bruno fosse


verificada. Não a da virgindade de Maria (ou falta dela, mais
precisamente), mas a da existência de outros planetas. A partir da
década de 1990, observações astronômicas de alta precisão
encontraram centenas de planetas circundando outras estrelas. Até
agora são 228, e o número continuará a crescer. (O leitor
interessado pode visitar o excelente portal www.exoplanets.org)
Pela primeira vez na história da astronomia, foi confirmado que o
nosso Sistema Solar não é especial: outras estrelas também têm a
sua corte de planetas girando à sua volta.

O que ficou claro com essas descobertas foi a enorme variedade


planetária. Cada um desses outros sistemas planetários é único: em
uns, planetas gigantes circundam suas estrelas a distâncias
comparáveis às de Mercúrio no nosso; em outros, estrelas bem
maiores e bem menores do que o Sol também têm os seus
planetas, alguns deles talvez até com água, como é o caso de um
encontrado em torno da estrela Gliese 436. Ele tem massa 22,4
vezes maior do que a da Terra (comparável à de Netuno) e uma
densidade média duas vezes maior que a da água: muito
possivelmente, o planeta tem enormes quantidades de gelo.

Uma nova área de especialização surgiu devido a essas


descobertas, a planetologia comparada, que visa estudar
propriedades e características dos novos planetas, tendo em vista
os processos de formação desses sistemas solares, sua
composição química e, claro, a possibilidade de esses planetas
terem vida. Para tal, astrônomos procuram por outras Terras, isto é,
planetas que sejam rochosos feito o nosso e que estejam a
distâncias de suas estrelas que permitam a existência de água
líquida. Talvez existam formas de vida que fujam a essa regra, mas,
dentro do que no momento podemos chamar de plausível, a vida
precisa de água.

Até agora, ainda não foi encontrada uma outra Terra. Mas um dos
princípios importantes na busca por vida extraterrestre é a
identificação de traços comuns dentre os vários sistemas solares.
Recentemente, dois grupos de astrônomos encontraram o que
parecem ser planetas nascendo, girando em torno de duas estrelas
ultrajovens.

Se as descobertas forem confirmadas, aprenderemos que os


mesmos processos que formaram o nosso Sistema Solar formam
outros, o que não é nada surpreendente. Afinal, as leis da física e
da química funcionam em todo o cosmo. Portanto, para que outras
Terras existam, basta que condições semelhantes às nossas sejam
repetidas na imensidão do cosmo. Dado que na nossa galáxia
existem em torno de 300 bilhões de estrelas, as chances de
encontrarmos outras Terras é bem razoável. Arriscaria que é coisa
para alguns anos, no máximo. Bruno ficaria satisfeito.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth
College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do
Mundo"

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0405200806.htm

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