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Braz do Amaral, o historiador da Bahia:

sua concepção de história e engajamento político-social na Primeira República.

Rinaldo Cesar Nascimento Leite*

Resumo: No presente artigo, pretende-se analisar duas características da obra do historiador


baiano Braz do Amaral (1861-1949). Primeira, uma concepção filosófica de história que
aponta para um sentido moral. Segunda, o caráter político da sua produção historiográfica,
colocada a servido dos interesses do estado natal. Elaborando um discurso que reivindicava,
sistematicamente, maior reconhecimento por parte da nação para a Bahia, e articulando
elementos de uma identidade regional apoiada em elementos históricos, Braz do Amaral
assumiu o papel de historiador da (e pela) Bahia. com base nos estudos que realizou sobre o
processo da independência, verificaremos como uma concepção moral de história e o
engajamento em projetos políticos regionais, associados entre si, constituem um aspecto
essencial da sua obra. Assim, problematizaremos, numa perspectiva mais ampla, as funções
sociais da historiografia e do historiador no momento de consolidação da disciplina no Brasil.

Palavras-chave: Bahia, Historiografia, Primeira República.

Abstract:

Keywords: Bahia, Historiography, First Republic.

Braz do Amaral fazendo-se historiador

Braz Hermenegildo do Amaral é, na opinião deste autor, o sujeito que pode ser
considerado o fundador da historiografia moderna na Bahia – expressão esta, historiografia
moderna, que designa o conjunto de características que passaram definir a produção
conhecimento da história, baseada nos princípios científicos que passaram a ser difundidos no
século XIX, sobretudo na sua tendência positivista de crítica das fontes.
*
Professor de História da UEFS; Doutor em História (PUC-SP).
2

Braz do Amaral nascido em 1861 em Salvador, vindo a falecer com a idade avançada
de 87 anos, no ano de 1949, na mesma cidade. Diplomou-se na Faculdade de Medicina da
Bahia em 1886. Nesta instituição de ensino superior, tornou-se professor substituto da cadeira
de Clínica Obstétrica, logo após obter a colação de grau; e a partir de 1902, assumiu como
lente de Patologia, deslocando-se depois para a Cirurgia Clínica. Entretanto, como muitos
outros letrados de seu tempo, que só tinham a oportunidade de graduar-se em medicina,
engenharia ou direito, Braz do Amaral não se limitou a exercer atividades profissionais
apenas na área em que obteve formação. Pouco tempo depois de concluir o curso de
Medicina, tornou-se, também, professor de História no Instituto Oficial do Ensino
Secundário,1 mas tarde conhecido como Ginásio da Bahia, principal instituição de ensino
público na Bahia, sediado em Salvador. Neste estabelecimento escolar, atuou, pelo menos,
por dezoito anos, entre 1891 e 1909. De qualquer modo, segundo apontam alguns dados
biográficos, já lecionava a disciplina antes desta nomeação.

Os dados até aqui exposto revelam que Amaral se dividiu por um longo período da sua
vida entre o ensino de história e de medicina. Mas o que no importa mesmo é a sua faceta de
historiador. E nesse sentido, as relações estabelecidas com esse campo disciplinar se
complementaram com a associação ao Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, criado em
1894, do qual foi um dos sócios fundadores, presidente, colaborador na revista e, por longo
tempo, orador oficial. Foi filiado, também, ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Além de professor e associado a instituições dedicadas à memória histórica, Amaral


foi tanto um pesquisador contumaz quanto um fecundo autor de obras historiográficas. Em
uma época que não havia, no Brasil, cursos de formação para historiadores, nosso personagem
desenvolveu, a partir da paixão pela disciplina, da leitura sistemática de textos
historiográficos e do trabalho persistente com documentação de arquivo, a sua vocação de
historiador, fazendo-se reconhecer como um dos mais respeitados estudiosos.

1
Criado em 1836, embora só tenha começado a funcionar um ano depois, o primeiro nome recebido por esta
instituição de ensino foi Liceu Provincial da Bahia. Com a instalação da República, teve o seu nome alterado
para Instituto Oficial do Ensino Secundário em 1890. Cinco depois, foi equiparado ao Colégio Pedro II, sediado
no Rio de Janeiro, referência de ensino na então capital federal, e passou a chamar-se Ginásio da Bahia, nome
que conservou por muitas décadas. Hoje, com o nome de Colégio Estadual da Bahia (mais conhecido como
Colégio Central), a instituição ainda sobrevive, apesar do declínio que a acompanhou.
3

De comentador de fatos históricos considerados relevantes, como revelam alguns dos


seus escritos iniciais, passou o estágio de dedicado compilador de documentos, por meio dos
quais pretendia apresentar novas evidências para a compreensão de episódios do passado
brasileiro, especialmente o baiano, até atingir um grau de elaboração mais avançado nos seus
textos de caráter histórico, nos quais passou a demonstrar o equilíbrio entre narrativa,
comentário (ou análise) e recorrência às fontes, dando forma àquilo que hodiernamente
identificamos como uma obra de caráter historiográfico.

Para quem tem acesso ao conjunto da sua obra, é perceptível a evolução de Braz do
Amaral como historiador. Se em alguns das suas primeiras publicações predominavam as
transcrições literais de documentos, introduzidas por breves páginas explicativas sobre o teor
dos temas sobre os quais versava, posteriormente começou a tratar o vasto material que
dispunha para elaborar uma narrativa mais detalhada sobre um evento histórico. A
historiografia baiana realizada por historiadores de formação acadêmico-universitária, que
passou a despontar a partir da década de 1960/1970, é em grande medida tributária de Braz do
Amaral quando se de temas considerados mais tradicionais, como a independência na Bahia e
transição do regime imperial para o republicano. Uma parte significativa dos estudos voltados
para tais temas, surgidos nas décadas finais do século, encontra na narrativa e nos dados
coligidos por Braz do Amaral um suporte fundamental.2

No atual estágio da minha pesquisa sobre Braz do Amaral, em que tenho me


debruçado mais sobre a sua produção, em detrimento de outras fontes, como seus inéditos,
anotações e correspondências pessoais, depositadas no IGHB, poderia sinalizar apenas
algumas caraterísticas de sua obra, colhidas, diretamente ou indiretamente, da leitura atenta da
mesma. Em primeiro lugar, apontaria sua adesão ao modelo positivista de história,
fundamentando-se no uso exaustivo da fonte para traçar o fio condutor da sua narrativa,
seguindo, tendencialmente, uma abordagem cronológica dos fatos, a ênfase sobre eventos de

2
Por ordem cronológica de aparecimento, como sustentação ao meu argumento, ver os seguintes estudos:
SANTOS, Mário Augusto da Silva. O movimento republicano na Bahia. Salvador, Centro de Estudos Baianos-
UFBA, 1990; ARAÚJO, Dilton Oliveira de. Republicanismo e classe média em Salvador, 1870-1989. Salvador,
1992. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) — FFCH, UFBA, 1992; e BRITO, Jailton Lima. A abolição
na Bahia: uma história política, 1870-1888. Salvador, 1996. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) —
FFCH, UFBA, 1996.
4

caráter político e o destaque para o papel de alguns personagens históricos tidos como
proeminentes. Em segundo lugar, uma concepção filosófica da história associada a uma
explícita função moral.3 Nesse sentido, nas experiências do passado seria possível extrair
exemplos e lições úteis para embasar a compreensão das vicissitudes históricas de uma nação
ou um povo, as quais os levaram a alcançar um estado mais elevado de organização político-
social, bem como se posicionar em relação a certas circunstâncias do presente. Em umas das
raras ocasiões em que discorreu sobre acontecimentos da chamada história geral, remetendo-
se, então, à ação de Oliver Cromwell no decorrer da Revolução Inglesa do século XVII,
deixou assinalada a sua percepção do sentido da história:

Acontece aos povos, grandes aglomerações de indivíduos, o que nos acontece a nós,
particularmente, nas ocasiões em que, diante dos erros, dos desvios, dos atos de
pedantismo ou de ridículo da juventude, nos lembramos, muitas vezes, das
leviandades e das faltas em que também caímos ou vimos a cair a outros, em dias que
a nossa memória acorda e revivesce, tantas vezes com o tisne ou o efeito de luz do
fato passado, tão nítido como se estivéssemos ainda a se ver moverem as figuras e a
ouvir as vozes dos que tomaram parte ou serviram de testemunhas ao acontecimento.
Não há, pode dizer-se de um modo geral, na vida das nações modernas, fato, por mais
triste ou deprimente, de fraqueza ou de ridículo, de violência ou de tirania, de que não
se ache equivalente ou paralelo na história dos velhos povos, daqueles mesmos que
mais dignos são hoje de respeito e de admiração.
A grande Inglaterra, tão justamente altiva da excelência das suas leis e de seu poder,
apresenta, na sua existência passada, tanto ou mais talvez até de que outras, estes
ziguezagues, estes andares para diante e para trás, as contusões reveladoras de quem
andou a bater com a cabeça por aqui e por ali, antes acertar com o self government,
que é o seu orgulho e um dos eixos da sua poderosa máquina política e social.

E após fazer uma exposição dos diversos atos de Cromwell como lorde protetor da
República substituta a monarquia, dentre as quais a concentração de plenos poderes em suas
mãos e a dissolução do parlamento, Braz do Amaral concluir o artigo refletindo sobre como
os jovens estados haveriam ainda de passar por diversas dificuldades para alcançar sua
estabilidade:

E pelo que aí fica em exemplos da história da grande e poderosa Inglaterra de hoje,


bem podem compreender as pessoas inteligentes, que não conhecem estas
particularidades, que as nações novas não podem chegar onde ela está, com a sua
liberdade e a sua força, sem curtir muito pesares, sem passar por eu muitas desilusões,
sofrimentos e provas.

3
AMARAL, Braz do. “Discurso pronunciado na sessão solene de 3 de maio”. Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia, Bahia, Typographia Bahiana, nº 42, p. 173-180, 1916.
5

E que por serem elas, às vezes, bem severas e duras, não devemos desesperar, nem
perder a confiança e a coragem.4

Por outra perspectiva, a função moral da história permitiria desenvolver um maior


sentimento de justiça. E neste ponto podemos articular tal forma de concepção filosófica a um
projeto político que põe a história a serviço de uma coletividade. Em nosso caso, a
coletividade se configurava no povo baiano ou no próprio estado, a Bahia. Ao fazer da
história um instrumento de defesa dos interesses baianos, Braz do Amaral assumiu o papel
essencial de historiador da Bahia, sobre a Bahia e pela Bahia, que será a marca maior da sua
obra.

Não tenho receio em afirmar que Braz do Amaral integrou-se a uma ação política, que
envolveu diversos membros das elites letradas, sociais, políticas e econômicas locais, no
sentido de reivindicar para a Bahia uma posição de destaque na era republicana. No vasto
conjunto de assuntos que abordou, tais como os estudos sobre as fronteiras e limites
geográficos estaduais, a revolta da Sabinada, a Conspiração de 1798, as “tribos” africanas
vindas para a Bahia, nenhum outro serviu tanto para revelar o seu engajamento no projeto de
fazer o estado reconhecido perante a nação quanto o tema da participação da Bahia no
processo da independência brasileira revela tanto.

Portanto, vejamos como Braz do Amaral, apesar de realizar estudos consistentes do


ponto de vista documental, fez da história objeto de uma função moral, tomando como
referência sua abordagem sobre “a ação da Bahia na obra da independência nacional”.

A Bahia na passagem do império para a república

Para entender uma das partes mais importantes da obra de Braz do Amaral, datada das
primeiras décadas do século XX, cabe realizar uma breve consideração sobre o contexto de
produção dos materiais trabalhados, articulando-a com as transformações ocorridas no Brasil
e as vicissitudes enfrentadas pelo seu Estado de origem na época. Nosso historiador já

4
Braz do Amaral. Protetorado de Cromwell. In Recordações Históricas. Salvador, Assembleia Legislativa do
Estado da Bahia/Academia de Letras da Bahia, 2007, p.151-157. A primeira edição do livro data de 1921, mas
artigo foi publicado originalmente em dezembro de 1910, em jornal.
6

contava com 28 anos quando caiu a monarquia, em 1889. E não somente ele, mas muitos
outros indivíduos que compartilhavam de seu status social, qual seja, de sujeitos letrados,
viram e continuariam a perceber o Império como uma fase de total inserção da Bahia na
esfera do poder nacional e de maior inserção no jogo político.

Na transição do império para a república, o estado baiano teria conhecido um processo


definido, frequentemente, por ampla parcela de suas elites como de declínio econômico,
cultural e, o que talvez fosse o mais doloroso, político, conquanto elas entendessem que o
Estado preservava os dons e dotes que tanto o caracteriza no império, momento no qual teria
exercido um papel destacado. As mudanças ocorridas nas estruturas de poder nacional com a
mudança de regime político trouxeram como uma das suas principais consequências a
substituição das antigas elites políticas dominantes, centradas no Rio de Janeiro e nas
províncias do norte do país, dentre as quais se encontrava a Bahia, pelas novas elites do sul,
com destaque para os paulistas, os mineiros e, posteriormente, os gaúchos.

Diante dos fatos, muitos intelectuais baianos recorreram ao discurso histórico como
estratégia de constituição de um discurso identitário de caráter regionalista. A obra de Braz
do Amaral acabou por se enquadrar nesse viés, e na qual se percebe uma inequívoca função
de defesa da Bahia e, consequentemente, o objetivo de demarcação de um território de
identidade de natureza flagrantemente política. A uma disputa pela política e econômica
hegemonia no seio da federação, correspondeu um jogo de lutas simbólicas pelo exercício de
maior predomínio sobre a nacionalidade brasileira, a partir das quais cada estado lançava mão
das suas mais consolidadas tradições, dos eventos mais significativos em que tomaram parte
na história nacional, dos seus personagens mais representativos com a intenção de se projetar.

Assim, se São Paulo se apresentava com os bandeirantes enquanto responsáveis pela


expansão do território nacional, se Minas Gerais se apegava aos inconfidentes como
precursores da emancipação política, se Pernambuco se sentia o representante maior da
“civilização” do açúcar que transformou o nordeste num grande centro econômico, se o Rio
Grande do Sul se associava à figura do gaúcho portador do ideário de autonomia e
federalismo, a Bahia se apresentava, especialmente, coisas, como a mater e a heroína
consolidadora da independência nacional, obtida a 2 de Julho de 1823, data transformada na
7

mais importante para o Estado, e muitas vezes reivindicada para figurar ao lado de 7 de
setembro. Os eventos relacionados ao dia 2 de Julho passaram a ser conhecidos como a
Independência da Bahia, e são até os dias atuais comemorados em intensidade similar – em
minha opinião, na verdade, até superior – aos festejos de 7 de Setembro.

Foi em tais circunstâncias que passou a se destacar uma parte das mais significativas
da obra de Braz do Amaral. Enquanto objeto historiográfico, pode-se dizer que até as
primeiras décadas do século XX a Independência da Bahia não havia merecido nenhum
trabalho de maior densidade científico-acadêmica. Largamente referenciada, motivo de
inúmeros discursos e textos de variadas modalidades (literários, crônicas históricas, etc), o
tema da Independência era muito mais recorrente enquanto objeto daquilo que atualmente
definimos como memória histórica que de labor histórico-historiográfico. Aliás, isso não era
exclusividade da temática da Independência, mas de todos os grandes assuntos relativos à
história baiana no período.

Nesse cenário, Braz do Amaral veio a ser aquele que rompeu com essa lógica difusora
do conhecimento histórico, começando a se dedicar à cata sistemática de documentos para nos
descrever em minúcias os fatos relacionados ao processo de independência na (da) Bahia, tal
como definia a metodologia da pesquisa histórica, e problematizá-la dentro do quadro mais
amplo em que se conquistou a emancipação política brasileira. Abrindo um parêntese, prática
esta, por sinal, que adotou em outros tantos estudos que produziu. Por isso, não tenho receio
em caracterizar Braz do Amaral como o primeiro historiador baiano de ofício, embora não o
fosse de formação, assim como todos os outros da sua época de qualquer parte do país, pois
não havia ensino superior para habilitação profissional em história antes da década de 1930
(criado na USP, em 1934). Amaral foi o pioneiro em produzir conhecimento histórico sob um
novo modo, o qual passou a ser largamente adotado e observado somente após a publicação
de seus estudos.

A Independência da Bahia e a Produção Historiográfica de Braz do Amaral


8

Mas voltando ao que nos interessa nesse momento, ou seja, o tema da Independência
da Bahia na obra historiográfica de Braz do Amaral, temos um material significativo a
considerar. Citando-a em ordem cronológica de aparecimento, são eles:

1. O artigo “1808-1823”, na Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia


(1907).5

2. Os artigos “2 de julho de 1823” e “1823” na coletânea de textos intitulada


Recordações Históricas (1921).6

3. O artigo “A Província da Bahia nas Luctas da Independência” no livro Assumptos


de actualidade sobre finanças da Bahia e festas do Centenário (1922).7

4. O livro A ação da Bahia na obra da independência nacional.8

5. O artigo “A Bahia na Independência Nacional”, integrante do Diário Oficial do


Estado da Bahia (1923), em que faz uma breve descrição dos acontecimentos
sucedidos entre 1821 e 1823.9

6. O livro História da Independência na Bahia (1923), o seu mais denso trabalho de


sobre o tema, contendo 509 páginas.10

7. Por fim, o artigo “Esclarecimento sobre o modo como se preparou a


Independência”, na Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (1928).11

5
AMARAL, Braz. 1808-1823. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Bahia, 34, p. 09-15, 1907.
6
AMARAL, Braz. “2 de julho de 1823” e “1823”. Recordações Históricas. 2ª Edição. Salvador, Assembleia
Legislativa do Estado a Bahia; Academia de Letras da Bahia, 2007, p. 150-157 e 212-222, respectivamente. A
edição original é do ano de 1921. Trata-se de uma compilação de artigos, escritos em momentos distintos. O
primeiro indicado data de 1912.
7
AMARAL, Braz. A Província da Bahia nas Luctas da Independência. In Assumptos de actualidade sobre
finanças da Bahia e festas do Centenário. Bahia, [s.n.], 1922, p.61-73.
8
AMARAL, Braz. A ação da Bahia na obra da independência nacional. Imprensa Oficial do Estado, 1923. (2ª
Edição: Salvador, EDUFBA, Editora da UNEB, 2005).
9
AMARAL, Braz. A Bahia na Independência Nacional. In Diário Oficial do Estado da Bahia (1923), Cidade do
Salvador, Edição Especial do Centenário, 2 de julho de 1923, p. 3-10.
10
AMARAL, Braz. História da Independência na Bahia. Salvador, Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1923. (2ª
Edição: Salvador, Prefeitura Municipal, Progresso, 1957).
11
AMARAL, Braz do. Esclarecimento sobre o modo como se preparou a Independência. Revista do Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia, Bahia, 54, p. 85-144, 1928.
9

A breve análise desse conjunto torna perceptível que foram predominantemente


divulgados entre 1921 e 1923. Apenas os artigos da Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia escapam a esse recorte. Desconsiderando as Recordações Históricas,
que consiste em compilações, tem-se um material de 1922 e outros três de 1923, incluindo o
mais denso deles. De fato, a grande obra foi (e é) História da Independência na Bahia, com
suas 509 páginas de narrativa detalhada e profusão de documentos que expõe todo o
processo da luta de libertação brasileira, a partir dos acontecimentos tidos como heroicos e
dramáticos da Bahia.

No momento das comemorações do centenário da independência nacional, em 1922,


uma grandiosa festa fora planejada para celebrar o dia 7 de Setembro, com diversos eventos
concentrados na capital federal e em São Paulo. Esta última cidade recebeu o grandioso
Monumento do Ipiranga como marco culminante das celebrações. Tratou-se, portanto, de
um contexto em que se encontrava reforçada a centralidade paulista e carioca no processo
emancipatório; e, por vezes, o reconhecimento da precedência dos inconfidentes mineiros
quanto ao desejo e ideal de soberania política-administrativa para os brasileiros.

Braz do Amaral, fez do conjunto da sua obra, sobretudo a parte publicada no duplo
centenário (1922 – Independência brasileira; 1923 – Independência baiana), um veículo de
contestação a uma visão consolidada na memória histórica e na historiografia nacional. Ao
mesmo tempo, aproveitava para reivindicar o reconhecimento do papel determinante da
Bahia na conquista da autonomia brasileira. Argumenta:

A comemoração do centenário da independência deu lugar a diversas produções


literárias em que se notam desvios numerosos na exatidão precisa da história nacional,
assim como omissões injustas, porque houve no Brasil um lugar em que a
independência custou sangue e sério esforço e foi conquistada de um modo que honra
o povo brasileiro.
O vivo desejo de fazer da independência uma propriedade patriótica do Rio de Janeiro
e S. Paulo, levou os interessados a dar aquela festividade um cunho demasiado
particularista, apagando o trabalho e o sacrifício de outros que também contribuíram
para levar a cabo a grande obra de libertação em diversos pontos do território
brasileiro.12

12
AMARAL, Braz do, Ação da Bahia na Obra da Independência Nacional.
10

Nitidamente, sua postura em prol daquilo que considera exatidão e justiça o conduz
para um posicionamento que podemos designar de revisão e reposicionamento
historiográfico. Se ele alega a exatidão e a justiça como motivações para seu trabalho de
pesquisa, com as quais, na condição de historiadores e respaldados nas evidências
documentais apresentadas, devemos de certo modo concordar, diria, na condição de atual
leitor de sua obra, que se pode associar, também, uma grande paixão regional à defesa
contundente que promove da independência baiana enquanto acontecimento mais
significativo da libertação brasileira. Como destaca:

[...] vamos por em lembrança, relativamente à Bahia, o quanto ela concorreu para o
grande acontecimento, sem esconder o sacrifício, o valor e o esforço dos brasileiros de
outras províncias que para a independência também concorreram, pois não é verdade
que ela se tivesse feito apenas com um dito e um grito do príncipe D. Pedro.13

Eis um historiador decidido em reaver um papel de destaque para o seu local de


origem, sem descuidar em reconhecer a contribuição de outros elementos nacionais. Isso, no
entanto, não o fazia desistir da atitude de confrontar quem quer que fosse para ressaltar a
proeminência da Bahia. E assim o faz inclusive no que diz respeito a precedentes inspiradores
do movimento de independência, quando minimiza a importância da conjuração mineira de
1789 em comparação à conjuração baiana de 1798(99).

A reivindicação do que o Brasil deve à Bahia na obra da independência, se prova com


a tentativa revolucionária e republicana que houve aqui, em 1799, como se verá pela
leitura dos documentos anexos, sob nºs 1, 2 e 3, a qual foi muito mais importante do
que a inconfidência mineira, o que facilmente poderá verificar quem ler uma e outra.14

Amaral afirmava, em outro texto, que “esta inconfidência [a baiana], logo abafada na
morte, foi muito mais importante do que a de Tiradentes, porque a constituíram elementos
exclusivamente populares”, 15 embora, posteriormente, ele tente demonstrar que contou com a
participação de figuras destacadas e sintonizadas com as ideias revolucionarias difundidas a
partir dos Estados Unidos, na luta de independência, e França.

13
AMARAL, Ação da Bahia na Obra da Independência Nacional, p. 12.
14
AMARAL, Ação da Bahia na Obra da Independência Nacional, p. 12.
15
AMARAL, Assumptos de Actualidade sobre Finanças da Bahia..., p. 63.
11

Tais citações, extraídas de A ação da Bahia na obra da independência nacional, são


integrantes de um curto texto introdutório de apenas dez páginas, o qual antecede o registro
de vinte documentos, distribuídos ao longo de cem páginas, apresentados como evidências,
provas históricas, do empenho baiano.

Após, mencionar as contribuições mineira, com Tiradentes, e pernambucana, com a


Revolução Praieira de 1817, desfere ressentimento contra aqueles eram difusores de uma
visão sobre o processo emancipatório que considerava excludente:

Quanto ao que se sucedeu na Bahia, ainda muito melhor se apura, verificando os fatos
com isenção, quanto foi injusta e odiosa, a exclusão que fizeram do seu povo, em tudo
que vai aí vai à comemoração do Rio de Janeiro, porque tal festividade não devia ter
por escopo atrair gente, mas sim avivar o sentimento patriótico, verdadeira e
sinceramente, relembrar os efeitos heroicos do povo, reconhecendo a cada um a sua
parte e o seu papel heroico na formação da nacionalidade, com plena justiça e
verdade, e fazendo a todos os que para ela concorreram a honra a que lhes deu direito
o seu sacrifício pela causa da libertação.16

Em síntese, são o sentimento de isenção, a sede de justiça e verdade, a ânsia de


reconhecimento e a expectativa de inclusão no seio da nacionalidade que definem o
engajamento do historiador Braz Amaral na causa que representava a urgente releitura da
Independência.

O que se destaca claramente, na percepção do historiador, é a certeza de que a Bahia,


de modo geral, e desde a época colonial atraiu os inimigos e se banhou em sangue para
garantir a integridade brasileira, exprimindo com isso uma ideia de sacrifício, caracterizada
como uma das mais significativas formas de participação do atual Estado na vida nacional.
Diria Amaral:

Não sei como se possa occultar que em todos dias de soffrimento e de miséria, onde
quer que tenha alguma vez cahido sobre o Brasil a cólera de um inimigo, ou a
desgraça de uma fome, ou de uma peste, não tivesse elle sempre contado com o apoio
do braço ou o do carinho dos bahianos. 17

Ou,

16
AMARAL, Ação da Bahia na Obra da Independência Nacional, p. 11.
17
AMARAL, Assumptos de Actualidade sobre Finanças da Bahia..., p. 28.
12

Concorremos para independência como factor decisivo e em todos os maus dias do


Brasil temos o hábito de nos postar no lugar de maior gravame, como foi no Paraguay.

No tocante à Independência, não fora diferente. Heroísmos, dor e sangue percorre boa
parte da narrativa efetuada por Braz do Amaral. Questionando de frente a centralidade do
Rio de Janeiro e São Paulo, acusa Amaral:

No Rio de Janeiro e em S. Paulo a independência se fez no theatro ou no curso


pacifico de uma viagem de principe, trazendo os protagonistas legendas no braço e
proferindo o povo gritos de enthusiasmo, o que inspirou ao presidente do Instituto da
Ordem dos Advogados, [...] em um discurso notavel, a expressão verdadeira e feliz de
que esta havia sido a parte dramática da independência.
Realmente, um dos episódios citados como de mais effeito no scenario da
Independência nacional é o grito do Ypiranga, proferido com o exagerado gesto que as
gravuras representam, e o dito do Fico é outro episódio, este pronunciado no Rio, em
resposta preparada a um discurso, seguindo-se os papeis, decretos, proclamações e
promessas que os governos recentes sentem necessidade de produzir.18

Em outra passagem, reforçava:

A circunstância de não serem ditas as duas frases [a do fico e a do grito] no lugar em


que a alma e o braço do povo brasileiro fizeram a independência, não devia ter levado
a falsear o acontecimento, comemorando o que menos valia.
A independência foi realizada pela ação decisiva e enérgica dos brasileiros e todos os
artifícios empregados para fantasiar uma falsa história convencional, destinada a pôr
em relevo aquele dois pontos do país, não se podem manter, diante de uma ligeira
análise dos fatos precursores e preparatórios dela, os quais se passaram em minas
Gerais, em Pernambuco e principalmente na Bahia, onde ela foi, na realidade
realizada, feita e onde teve a sua terminação.19

Percebe-se no escrito de Amaral um tom de ironia e desagrado com a versão


predominante, que no seu desenvolvimento extremava os contrastes dos fatos passados no Sul
em relação à Bahia, minorizando e, pode-se dizer, ridicularizando o modo como os episódios
da Independência transcorreram naquela parte do Brasil. Braz utilizava-se de um método
comparativo que parecia tornar imprescindível realçar as glórias de um com base na
requalificação para baixo daquilo que se sucedera com os outros. Para ele, Rio de Janeiro e
São Paulo – dois importantes centros políticos e econômicos brasileiros na República –
colhiam “fructos sem esforço”, enquanto o povo baiano, no qual se encontravam “pobres e
ricos, orgulhosos e humildes, devia, pelo martyrio de uma província, produzir a victoria da

18
AMARAL, Assumptos de Actualidade sobre Finanças da Bahia..., p. 62. Os grifos são do original.
19
AMARAL, Ação da Bahia na Obra da Independência Nacional, p. 11.
13

causa liberal para todo um povo”, com “tantos prantos das mulheres, e tantos golpes,
ferimentos e mortes entre os homens”.20

Ilustrativa da bravura do povo baiano fora a condição das tropas militares.


Comparando o “exército pacificador, nome que havia tomado o dos revoltosos bahianos” e o
exército português, Braz do Amaral informa que o primeiro possuía em torno de 10 mil
homens, além de pouco mais de três mil praças, assentados na Ilha de Itaparica, e 710
marinheiros. Em maio de 1823, a força naval foi reforçada pela esquadra de lorde Cochrane,
contratado na Inglaterra com esse objetivo. Já os portugueses possuíam “vinte navios e mais
uma flotilha de canhoneiras, oppondo ao inimigo 404 boccas de fogo e 5000 marinheiros”, e
seu exército contava com uma “respeitável cavallaria, [...] vários batalhões de infantaria, uma
brigada de artilharia, uma legião de caçadores” e quatro batalhões de segunda linha.21

Braz do Amaral, demonstrando certa complacência com os portugueses, que teriam


lutando honradamente, sem capitular e sem se corromperem, assinalou algumas das
dificuldades que enfrentaram, especialmente no tocante ao improviso de hospitais para
atender aos seus doentes. No entanto, descreveu de modo mais dramático o estado dos
nacionais:

Quanto ao exército pacificador ainda era peior a sua situação, porque investia e
atacava, não tendo equipamento de campanha, pelo que, não somente perdia mais
gente nos combates, como tinha uma quantidade espantosa de doentes, principalmente
victimas de impaludismo e das intemperies, a que estavam expostos os soldados, do
que resultava uma enorme quantidade de baixas aos hospitaes, factos que indicam a
importância das operações dos dois exércitos e os seus soffrimentos.22

Se a desvantagem no tocante ao poderio bélico era flagrante, que associada às


condições insalubres ocasionaram as baixas mencionadas por Braz do Amaral, alguns
comentários deixam transparecer que não menos preocupante era a qualidade dos soldados
que formavam a maior parte do exército brasileiro. Eles eram, majoritariamente, homens que
jamais foram treinados para as lides militares. Esse aspecto denotava o caráter heroico e épico
da participação baiana na guerra de independência, salientando o empenho da população de S.
20
AMARAL, Ação da Bahia na Obra da Independência Nacional, p. 62.
21
AMARAL, Ação da Bahia na Obra da Independência Nacional, p. 8.
22
AMARAL, Ação da Bahia na Obra da Independência Nacional, p. 8.
14

Francisco, da ilha de Itaparica e de Cachoeira. E por conta da situação descrita, “a evacuação


da Bahia pelas tropas portuguesas, em 2 de Julho de 1823, é [considerado] o facto militar de
maior importância na Independência”. Caso fosse “perdida a Bahia, devia ficar, como ficou,
irremissivelmente perdido este domínio” [colonial português sobre o Brasil].23

Dois outros aspectos merecem referência no tocante ao processo de independência


segundo a compreensão de Braz do Amaral. A primeira diz respeito à sua deflagração, e a
segunda à sua conclusiva efetivação. Ao resgatar a data de alguns episódios que considera
significativo, destaca:

conferindo as datas, se verifica ter sido o grito do Ypiranga em 7 de Setembro, quando


já antes disto se havia dado começo às hostilidades em Cachoeira, no dia 25 de Junho,
e se havia já constituído também na Bahia um governo provisório do Recôncavo, em
17 de Agosto, para dirigir a resistência contra as tropas portuguezas, governo
composto de deputados eleitos pelas villas sublevadas da província.24

Nesse sentido, acaba por demonstrar que antes do “grito do Ipiranga”, já havia a Bahia
deflagrado um ato de autonomia e soberania, quando em 25 de Junho de 1822 Cachoeira
proclama o príncipe D. Pedro de Alcântara como regente e perpétuo defensor e protetor do
Brasil, e instala, em 17 de agosto, um governo provisório que rompeu com a autoridade
portuguesa ainda presente na província. Parece, com isso, querer assinalar duas proclamações
precedentes que poderiam ser mais significativa que aquela de sete de Setembro.

De qualquer modo, ao refletir, então, sobre a mais legítima data comemorativa da


independência, Braz do Amaral assumiu uma opinião firme. Demonstrando com as suas
próprias – e tão caracteristicamente enérgicas – palavras a intransigente defesa do nome e do
papel da Bahia, declarava:

A data que deve ser celebrada commemorando a independência do Brasil, para bem da
honra e do decoro desta nação, deve ser assignalada pela sua primeira campanha, pelo
esforço que o seu povo empenhou numa luta, entremeiada de triumphos e de revezes,
na qual há lances capazes de memoração, factos de valor e de coragem, combates que
se podem contar sem pejo, pois taes são as cousas nobilitantes que dão honra e gloria
a um povo, o que somente se deu a 2 de Julho de 1823 [...].25

23
AMARAL, Braz do. “Uma carta do Dr. Braz do Amaral sobre o 2 de Julho”. Revista Bahia Ilustrada, Rio de
Janeiro, nº 8, jul./1918.
24
AMARAL, Ação da Bahia na Obra da Independência Nacional, p. 6.
25
AMARAL, Ação da Bahia na Obra da Independência Nacional.
15

Muito mais se poderia expor a respeito da compreensão de Braz do Amaral sobre a


participação da Bahia na independência nacional. No entanto, o limite de tempo e o estado
ainda incipiente da minha pesquisa, pois ainda se encontra em andamento o meu trabalho de
leitura da obra de Braz de Amaral, que não se restringe apenas aos textos que tratam da
independência, muito pelo contrário, pretende abarcar outros temas da sua vasta produção,
nos impõe a exigência de começar a delinear uma conclusão. Nesse sentido, indaga-se: qual
as consequências, para a Bahia, segundo Braz de Amaral, pelo engajamento na luta de
emancipação nacional? Em sua interpretação, “tudo isso soffremos pelo Brasil e pelos
brasileiros, neste altruísmo dos povos novos que são ingênuos como creanças”! 26 Resultou,
portanto, para os baianos, consequências que só vieram prejudicá-los passados cem anos,
dificultando a sua inserção em termos políticos, econômicos e de inserção na nacionalidade.

Devemos lembrar, que no início do século XX a Bahia havia declinado ponto de


vista econômico, alternando-se na posição quinta ou sexta economia nacional, quando no
século anterior costumava ficar entre o primeiro, o segundo e, no máximo, terceiro lugar.
No plano político, perdera a proeminência que a caracteriza no Império, quando fizera 1/3
dos chefes de gabinetes e, aproximadamente, 25% dos ministros de Estado, sem contar um
tanto de sujeito apontados como próceres e estadistas. Na República, fizera, no máximo, um
vice-presidente eleito e, quando muito, conseguia ter um ministro de Estado a cada
presidência.

No plano simbólico, não tinha reconhecida a sua contribuição para a nacionalidade,


haja vista o caráter secundário atribuído à sua participação na história brasileira, em especial
no evento fundador da nação brasileira, ou seja, a Independência. Em sua opinião,

Se não houvesse a província se unido ao governo do Rio de Janeiro, arrostando com a


maior guarnição militar e a maior armada que Portugal tinha no Brasil, ou a
independência não se teria realizado, ou se isso chegasse a dar-se n’algumas
províncias, a Bahia se teria emancipado da metrópole pouco depois, provavelmente
adotando a fórma republicana, com o auxílio de uma poderosa nação europea, aquem
não convinha de modo algum que o Brasil, ou alguma parte delle, ficasse reservada ao
commercio e a marinha dos portuguezes.

26
AMARAL, Assumptos de Actualidade sobre Finanças da Bahia..., p. 69.
16

Naturalmente, teríamos passado por um período de organização tempestuoso,


semelhante á aquelles pelos quaes passaram a Argentina e as outras republicas de
origem hespanhola, mas teríamos hoje, muito bem constituída a prospreridade de
nossa terra, com um poder e um desenvolvimento de recursos muito maiores do que
temos actualmente.27

As lutas desencadeada na Bahia e a adesão do seu povo à causa nacional teria trazido
resultados, a longo prazo, que acabaram adversos para a Bahia.

Em um esforço de presentificação da história, Braz do Amaral retomava o passado


para questionar a situação da Bahia no momento das primeiras décadas do século XX. Deste
modo, sua obra historiográfica pode ser analisada como forma de engajamento político e
intelectual, cujo conteúdo moral revela-se na exigência de reconhecimento do papel
histórico cumprido pela Bahia na nacionalidade. A partir do exemplo representando pelo
movimento de emancipação, Amaral parecia alegar que o presente não deveria negar a
posição de centralidade da Bahia na história da nação, especialmente porque suas
contribuições teriam sido sempre positivas. Em outras obras, por exemplo, mencionaria
ainda a riqueza gerada para o país e o numeroso efetivo, não comparável por outras regiões,
enviado para combater na Guerra do Paraguai. As lições de história propagadas em diversos
de seus estudos sobre Bahia assumiam, portanto, uma dimensão moral, no sentido de expor
um conjunto de reivindicações que, embora expressas no seu discurso historiográfico, era
compartilhado por uma parcela expressiva da sociedade baiana.

Se os significados aqui atribuídos à obra do mais afamado e mais produtivo


historiador baiano das primeiras décadas do século XX forem considerados válidos pelos
leitores deste artigo (ou ouvintes desta comunicação), torna-se compreensível o razão e o
sentido por se atribuir a Braz Amaral o designativo de historiador da (e pela) Bahia.

27
AMARAL, Assumptos de Actualidade sobre Finanças da Bahia..., p. 64.

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