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O De vera philosophia

Traduzido por Érika S. da S. Fraga

1. Importância e objetivos do tratado

Esta pequena obra de Alcuíno pode passar facilmente despercebida em razão


de sua curta extensão e de seu caráter aparentemente introdutório a tratados
maiores. Entretanto, suas linhas encerram uma grande importância dado que
indicam de um modo sucinto, mas claro, alguns pontos essenciais do pensamento
do seu autor que logo se traduzirão em linhas de ação e repercutirão em toda a
cultura do império carolíngio.
Pode dizer, sem temor a exagerar, que este pequeno tratado contém em forma
latente o ideário de Alcuíno, ideias que em muitos casos significam verdadeiras
inovações para o universo cultural da época e uma profunda e radical mudança no
modo de se aproximar do conhecimento. Sem pretender adjudicar ao nosso autor
o papel de líder absoluto e exclusivo na renovação cultural carolíngia, devemos
reconhecer que neste prefácio a seus tratados particulares a cada uma das
disciplinas do trivium se encontram os núcleos fundamentais do seu pensamento.
O Disputatio de vera philosophia consiste em um diálogo entre um mestre e seu
discípulo acerca da verdadeira natureza da sabedoria cristã a que pode ser
alcançada através do estudo da Bíblia e das sete artes liberais. A partir da leitura
do tratado pode delinear-se o caráter próprio da filosofia cristã tal como a entendia
Alcuíno, e o alcance e impacto do conceito de “ verdadeira filosofia” concebido
como programa de vida a fim de alcançar a própria perfeição. Os estudos mais
recentes sobre esta obra, realizados principalmente por Mary Alberi, demonstram
isso mesmo e teremos oportunidade de voltar sobre elas mais tarde.
O objetivo central que persegue Alcuíno com o Disputatio é trazer um plano de
estudos que possa e deva ser seguido nos centros educativos do império
carolíngio. Percebe que é necessário a formação séria e pragmática para construir
a desejada “nova Atenas” e para combater também as heresias, envolto ele mesmo
na luta contra o adocionismo. Este novo currículo educativo se baseia sobre dois
pontos centrais: o desenvolvimento das sete artes liberais e o conceito de
verdadeira filosofia.
Veremos a continuação, em profundidade, cada um deles.
2. As artes liberais

As sete artes liberais constituíam para Alcuíno a divisão, e a suma, do saber.


Já em Platão se estabelece uma primeira divisão tripartida da ciência¹, tradição
que se transmite dos antigos aos Padres. Orígenes, por exemplo, proclama as três
grandes disciplinas: logica, física e ética, e como tal são recebidas pelos primeiros
medievais, ² assimiladas às artes liberais.
Entretanto, o comportamento frente às artes liberais não é unânime. Boecio
tenta sustentar o passado clássico e, então, pretende interpretar o dogma cristão à
luz do pensamento aristotélico, validando desse modo o estudo das artes em si
mesmas.³ Mas a opinião maioritária dos Padres se inclina por reduzir as artes
liberais a ferramentas úteis para o aprofundamento do texto bíblico. Para Casiodoro
são um meio apto para compreender a revelação divina.4 San Gregório Magno
escreve: “Ad spiritualia bela non per saeculares literas, sed perdivinas instruimur. ”5
Contudo, este juízo negativo compartilha também a ideia de sua utilidade para a
compreensão das palavras divinas: “Ad hoc quidem tantum liberais artes discendae
sunt, ut per isntructionem illarum divina eloquia subtulibus intelligantur. ” 6
Nos escritos dos Padres posteriores se percebe um rechaço, explicito em muitos
casos, das artes. Analisemos alguns textos de um deles, Beda, antepassado
intelectual imediato do mesmo Alcuíno e, por tanto, sumamente significativo para
nosso estudo. Os textos de Beda nos quais aparece seu receio dos saberes
seculares são numerosos. Escreve em seu comentário ao livro de Samuel: “Sed et
haereticorum perditionem nom parum saecularis sapientia juvit. Unde pulchre
quidam nostrorum ait, Philosophi patriarchae haereticorum Ecclesiae puritatem
perversa maculavare doctrina. 7 ” O saber do mundo, entendendo como tal ao saber
pagão dentro do que se engloba as artes liberais, se constituiu em uma grande
ajuda para as doutrinas heréticas. E é por isto que os Filósofos podem ser
justamente considerados patriarcas dos hereges, causadores das feridas
produzidas ao ensinamento da Igreja. O contexto nos indica que quando escreve
“filósofos” faz referência aos sábios pagãos. Em sua época não existe ainda a
profissão de filósofo tal como será entendida em séculos posteriores.
Escreve também Beda: “Humana autem doctrina, hoc est, aut grammatica, aut
rhetorica, aut dialectica, ex quibus in his quae de Deo sentienda sunt, nihil
accipiendum”.8 Nesse caso são pontuadas as três artes do trivium: gramática,
retórica e dialética e qualificadas como “doutrinas humanas”, marcando sua total
dissociação de Deus e, consequentemente, de sua sabedoria.
“Qui prius haereticorum versutias et argumentorum spineta formidabant,
postmodum jam fortiorum doctorumque solatiis confirmati, promittunt se non jam in
nocte dialecticae deceptionis, sed in ostensione lucidissimae veritatis et virtutis exire
ad eos, ...”.9 Neste caso a dialética é associada a noite e a escuridão e oposta a
verdade e a virtude, e ela não seria apta para a luta contra a heresia.
Os textos transcritos de Beda são o suficientemente eloquentes para concluir
que, pelo menos durante o século VIII, o estudo das artes liberais havia sido
abandonado, ainda que se estudaram algumas delas com uma tarefa meramente
instrumental. Se tal era a situação na Inglaterra, a zona da Europa com mais avanço
intelectual no momento, podemos deduzir que uma situação similar, ou ainda pior,
acontecia no continente.
Inclusive na mesma corte imperial de Carlos Magno se encontravam fortes
detratores. Alcuíno se vê obrigado a escrever em uma das cartas ao Imperador:
...ut convincerem eos, qui minus utile existimabant, vestram
nobilissimam intentionem dialecticae disciplinae discere
vele rationes, quas pater Augustinus in libris de sancta
Trinitate apprime necessarias esse putavit, dum
profundissimas de sancta Trinitate quaestiones, non nisi
categoriarum subtilitate explanari posse probavit. Quod
etiam in ante nominato ejusdem Patris opusculo pius et
devotus inquisitor facile inveniet, si philosophiae
cognitionem in discendo habere non negligit.10

Este paragrafo pertence a carta com a qual Alcuíno dedica seu tratado De fide
sanctae et individuae Trinitatis a Carlos Magno em 802. Podemos pontuar no
mesmo os seguintes dados:
1) Existem detratores próximos ao Imperador que depreciam o estudo da
dialética. Alcuíno engloba nesta conclusão a lógica e a filosofia em geral.
2) A necessidade e utilidade destas disciplinas se prova, pois, o mesmo Santo
Augustinho não teria podido enfrentar a análise do mistério da Santíssima
Trindade sem elas.
3) Recomenda o opúsculo de Santo Augustinho sobre a dialética. Faz
referência ao tratado das Categoriae decem, erroneamente atribuído ao
bispo de Hipona, ao qual faremos referência mais adiante.
Este parágrafo da epístola a Carlos Magno é eloquente acerca da postura
de Alcuíno. Na realidade, e se fazemos caso a seu primeiro biógrafo, sua
vinda ao continente teve como objetivo o ensinamento das artes liberais. 11
Mais além do exagerado desta afirmação, são numerosos os textos do nosso
autor nos quais se percebe de um modo claro seu apreço pelos saberes
seculares. Vejamos alguns deles.
Em uma carta dirigida a Carlos Magno por volta do ano 798 lemos:
Nam philosophi non fuerunt conditores harum artium, sed
inventores.
Nam Creator omnium rerum condidit eas in naturas sicut
voluit. Illivero, qui sapientiores erant in mundo, inventores
erant harum artium in naturis rerum, [...] Solebat magister
meus mihi saepius dicere:
Sapientissimi hominum fuerunt, qui has artes in naturis
rerum invenerunt. Opprobrium est grande, ut dimittamus
eas perire diebus nostris.12

Em primeiro lugar há uma afirmação do autor que situa as artes como feitura
divina. Foram criadas pelo mesmo Deus na natureza, e os filósofos só as
encontraram. Deste modo as artes liberais legitimam sua procedência: não são um
saber pagão, e sim um aspecto do Criador nas criaturas, devendo ser, por tanto,
plenamente aceitas pela consciência cristã.
Em segundo lugar, aparece a afirmação de que seu mestre, Alberto
seguramente, o insistia frequentemente na importância destes estudos, e que seu
esquecimento era uma grande vergonha. Duas consequências podemos obter
neste caso: as artes liberais se encontravam esquecidas em meados do século VIII,
e é na escola de York, a partir do magistério de Alberto, quando começa sua
restauração.
Outro texto, também pertencente a uma carta dirigida ao imperador, Alcuíno
fala de edificar na França uma nova Atenas, mas desta vez superior a antiga: não
só será iluminada pelas setes artes liberais como também será sustentada pelos
dons do Espírito Santo:
...forsan Athenae nova perficeretur in Francia, imo multo
excellentior, quia haec Christi Domini nobilitata magisterio, omnem
Academicae exercitationis superat sapientiam. Illa tantummodo
Platonicis erudita disciplinis, septenis informata claruit artibus; haec
etiam insuper septiformi sancti Spiritus plenitudine ditata omnem
saecularis sapientiae excellit dignitatem.13

As artes liberais aparecem como uma tradição do pensamento antigo e são


consideradas como os saberes seculares aos quais excede a doutrina cristã. No
entanto, não se observa por isso um desprezo; na realidade deseja levantar uma
nova Atenas, imitar a platônica, em que, por certo, encontra muitos elementos de
valor.
Através das artes liberais, por outro lado, podemos elevar-nos do conhecimento
das cosias inferiores ao das coisas superiores. Por exemplo, Abraham que, ao ter
conhecimentos de astronomia conheceu e admirou ao seu Criador e a aritmética,
que tão necessária é para o conhecimento das Escrituras. Assim, um simples
homem pode converter-se em teólogo: conhecer a seu Deus a partir das criaturas.
Uma última prova que podemos propor para demonstrar a hipótese da centralidade
de Alcuíno na recuperação das artes liberais, é a vigência que lhe outorga a alguns
tratados de lógica. Se tratava, como é claro, de introduzir vigorosamente na cultura
da época o estudo da dialética, uma das três artes do trivium. A obra que mais
difusão tem é a Categoriae decem atribuída a Santo Augustinho por ele mesmo
Alcuíno, já que considerava ao Hiponense como um mestre da dialética, prova do
qual era o abundante uso desta disciplina que realizava no De Tritinate 15. Tão
admirável obra só podia ser fruto do mestre mais exímio nessa disciplina.
O Categoriae decem é um resumo do livro das Categorias de Aristóteles,
intercalado com glossário e comentários, os quais constituíam o principal interesse
destes primeiros medievais. Os comentários mais importantes incluíam discussões
acerca da relação entre a usía e as outras nove categorias, uma explicação da
distinção aristotélica entre dynamis e enérgeia e uma referência a teoria
peripatética das virtudes como meio.16
A autoridade indiscutível de Santo Augustinho vinha em auxilio de Alcuíno a fim de
justificar sua insistência no estudo da lógica. Mas é licito perguntarmos se esta
insistência significava um retorno à cultura pagã, convertendo desse modo sua
filosofia em um saber secular. Tal é a interpretação de Courcelle 17, para quem
Alcuíno expressa nesta obra o valor que lhe atribui a cultura profana e suas relações
com a cultura sagrada.
Cremos, entretanto, que a de Alcuíno é uma filosofia profundamente cristã. O uso
abundante e preciso que realiza de fontes patrísticas, especialmente no momento
de interpretar a passagem escrituraria das sete colunas, dá suficiente prova disso.
Por outra parte, não podemos subtrairmos ao momento histórico no qual o
Disputatio é escrito: as difíceis batalhas doutrinais com Elipando de Toledo e Felix
de Urgell pela heresia adocionista: o mestre de York quer formar mestres e
doutores capazes de defender a verdadeira doutrina evangélica. Tal é o que
demonstram as recentes contribuições de Alberi.18 Além disso, sua preocupação
por consolidar em seus discípulos a verdadeira sabedoria relacionada diretamente
com a vida monástica, nos distancia da concepção de um retorno à sabedoria pagã.

3. As sete colunas da casa da Sabedoria


Ao final do Disputatio aparece uma citação bíblica tomada do livro dos provérbios
9,1:
“Sapientiam aedificavit sibi domum, excidit
columnas septem”. Quae sententia licet ad divinam
pertineat sapientiam, quae sibi in útero virginali
domum, id est corpus, aedificavit, hanc et septem
donis sancti Spiritus confirmavit: vel Ecclesiam,
quae est domus Dei, eisdem donis illuminavit;
tamen sapientia liberalium litterarum septem
columnis confirmatur; nec aliter ad perfectam
quemlibet deducit scientiam, nisi his septem
columnis vel etiam gradibus exaltetur.19”

A exegese que realiza Alcuíno deste texto o relaciona com o papel fundamental que
jogam as sete artes liberais na aquisição da sabedoria cristã. As sete artes liberais
corresponderiam as sete colunas ou degraus da casa da Sabedoria, e seu estudo,
além disso, garantiria o triunfo na luta contra as heresias.
São Gregório Magno comentou o mesmo texto em seus Moralia in Iob.
Embora neste caso as artes liberais não são nomeadas explicitamente, sim
aparece a imagem da casa da Sabedoria como a Igreja, construída por Cristo.
Sustentada pelas forças espirituais representadas pelas sete colunas, os
pregadores da verdadeira fé se oporão a Leviatã, quer dizer, o demônio e os
poderosos do mundo que o seguem, e proclamarão a encarnação de Cristo a todas
as nações.20 Esta mesma interpretação, a Casa da Sabedoria como símbolo da
Encarnação e luta contra as heresias, aparece em outras passagens da obra de
Gregório. 21
Também Beda escreve uma interpretação desta passagem, com matizes
diferentes a dos utilizados por Gregório. A casa da Sabedoria é um símbolo da
unidade de Cristo, suas naturezas humanas e divinas, na Encarnação. Entretanto,
a exegese de Beda se concentra principalmente na Igreja sustentada pelas sete
colunas que são dons do Espírito Santo. Também representam aos doutores da
Santa Igreja tornados plenos com dons do Espírito Santo, como São Tiago, Pedro
e João.22
Descobrimos na exegese alcuíniana um aporte original: a identificação das
sete colunas com as sete artes liberais o qual outorga as mesmas uma origem
divina. Enquanto a primeira parte do seu comentário, Alcuíno permanece fiel à
tradição interpretativa dos Padres, no segundo momento associa às sete colunas
da casa da Sabedoria com as artes liberais cristianizando assim, ao conhecimento.
Outro dado significativo é que o autor esclarece que este número sete pode
ser interpretado, neste caso, como colunas ou degraus, o qual se harmoniza de um
modo mais apropriado com a ideia de progresso no conhecimento, que desenvolve
no diálogo e que se reflete no passo gradual da aquisição das sete disciplinas.
A inovação de Alcuíno nos fala, mais além do fato de indubitável mérito e
risco de transferir de alguma maneira os limites dos Padres, de um empenho
irrevogável de pôr novamente em circulação o estudo das artes liberais o qual, em
um meio cristão, não podia ser feito, mas a condição de elevar esses saberes às
regiões da mesma divindade.

4. A verdadeira filosofia

É este o segundo dos temas nucleares que aparece no tratado. A verdadeira


filosofia consiste em ultima instância, para Alcuíno, na vida monástica como
abandono do mundo, como fuga seaculi. A filosofia verdadeira é a que
impulsiona ao homem a medir corretamente as coisas do mundo e deixa-las
para abraçar de cheio as coisas espirituais o qual só pode ser feita em plenitude
desde que abraça a vida monástica.23
Não se trata certamente de uma ideia original, mas que possui profundas
raízes patrísticas. Orígenes, em seu comentário ao Cântico dos cânticos,
procurando demonstrar a superioridade da sabedora cristã sobre a grega,
afirma que corresponde a Salomão a fundação da verdadeira sabedoria, a qual
estaria expressa nos livros dos Provérbios, o Eclesiastes e o Cânticos dos
Cânticos.24 Quando estes livros bíblicos são lidos em ordem instruem acerca da
filosofia moral, natural e contemplativa. Enquanto que os Provérbios empurram
à purificação dos costumes introduzindo ao leitor na linguagem figurativa da
Bíblia, o Eclesiastes demonstra a natureza transitória das coisas do mundo e
aconselha o desprendimento das mesmas. O Cânticos dos Cânticos, por sua
vez, é um convite à contemplação do eterno.25 A alegoria dos três patriarcas
também é para Orígenes motivo de expor a verdadeira filosofia: Abraão
representa a ética, Isaac a física e Jacó a contemplação. E o mesmo ocorre com
a passagem da carta aos Hebreus 5, 12-14: as pessoas espiritualmente
imaturas começam com leite, os avançados com o conhecimento das coisas
inferiores e aqueles que alcançam a maturidade tomam o alimento solido que
conduz a união mística com Cristo.26
Este conceito origeniano da verdadeira filosofia se expande no monasticismo
ocidental através da leitura direta do comentário de Orígenes na versão de
Rufino, ou como resultado de leituras indiretas em fontes patrísticas.27 Pablo
Diácono, por exemplo, escreve em seu prólogo a Regra de
São Benedito:
Tres enim sunt ecclesiasticae disciplinae: prima physica, id est naturalis;
secunda ethica, id est moralis; tertia logica, id est rationalis. [...] Propter
has ergo tres disciplinas ecclesiasticas Salomon sapientissimus omnium
regum tres libros edidit: primum librum appellavit Parabolam, secundum
Ecclesiasticum, tertium Cantica canticorum. Primus quidem liber convenit
parvulis, [...] Secundus autem liber bene congruit majoribus, [...] Tertius
vero liber convenit perfectis, [...]28

São três as disciplinas eclesiásticas: a física, a ética e a lógica. E é em torno


a elas que Salomão escreve seus três livros: as Parábolas (Provérbios),
Eclesiástico (Eclesiastes) e o Cântico dos Cânticos. O primeiro deles convém
aos pequenos, o segundo aos maiores e o terceiro aos perfeitos. Se trata do
mesmo pensamento de Orígenes, seja no que diz respeito a divisão da filosofia
como a sua relação com os livros salomônicos.
Em Alcuíno se percebe uma forte adesão à tese origeniana. Um texto do De
Dialéctica é especialmente significativo já que não só aparece a divisão da
filosofia e sua relação com os três livros, e sim também a dependência das artes
liberais com respeito a esta:
C. In quot partes dividitur philosophia? —A. In tres:
physicam, ethicam, logicam. —C. Haec quoque latino ore
exprome —A. Physica est naturalis, ethica moralis, logica
rationalis. —C. Officia singularum specierum pande. —A. In
physica igitur causa quaerendi, in ethica ordo vivendi, in
logica ratio intelligendi versatur.
C. In quot species physica dividitur? —A. In quatuor:
arithmeticam, geometriam, musicam, astronomiam. —C. In
quot partes dividitur ethica? —A. In quatuor quoque:
prudentiam, justitiam, fortitudinem, temperantiam, —C.
Logica in quot species dividitur? —A. In duas, in dialecticam
et rhetoricam. In his quippe generibus tribus philosophiae
etiam eloquia divina consistunt.
C. Quomodo?—A. Nam aut de natura disputare solent, ut in
Genesi et in Ecclesiaste; aut de moribus, ut in Proverbiis et
in omnibus sparsim libris; aut de logica, pro qua nostri
theologicam sibi vindicant, ut in Canticis canticorum et
sancto Evangelio.29
A filosofia se divide em três partes: física, ética e lógica. Corresponde à física
a indagação das causas, à ética a ordem dos viventes e à lógica a intelecção. Divide
a física nas quatro artes do cuadrivium: aritmética, geometria, música e astronomia;
a ética em quatro virtudes cardinais: prudência, justiça, fortaleza e temperança, e a
lógica em duas das disciplinas do trivium: dialética e retórica. E afirma Alcuíno em
seguida que nestes três gêneros da filosofia consiste o discurso divino, já que das
coisas naturais se fala no Eclesiastes e no Gênesis, dos costumes nos Provérbios
e outros livros, e das questões da lógica relacionadas com a teologia, no Cântico
dos Cânticos e nos Evangelhos.30
Outro texto significativo aparece no comentário alcuíniano ao Eclesiastes:
[...] (Salomón) tria volumina edidit: Proverbia, Ecclesiasten, Cantica
canticorum. In Proverbiis parvulum docens, et quasi de officiis
praesentibus per sententias erudiens, unde ad filium crebro sermo
repetitur. In Ecclesiaste vero, maturae virum aetatis instituens, ne
quidquam in mundi rebus putet esse perpetuum, sed caduca et
brevia universa quae cernimus. Ad extremum jam consummatum
virum, et calcato saeculo praeparatum, in Cantico canticorum,
sponsi jungit amplexibus. Nisi enim prius relinquamus vitia, et
pompis saeculi renuntiantes expeditos nos ad adventum Christi
praeparaverimus, non possumus dicere: “Osculetur me osculo oris
sui” (Cant. I, 1). Haud procul ab hoc ordine doctrinarum, et
philosophi sectatores suos erudiunt, ut primum ethicam doceant,
deinde physicam interpretentur, et quem in his profecisse
perspexerint, ad theologicam usque perducant.31

A novidade neste caso é que aparece a ideia de que, seguindo


ordenadamente os livros de Salomão, é possível chegar progressivamente a
madures espiritual e à união com Cristo. Além disso, se declara indiretamente a
superioridade da verdadeira filosofia ao afirmar que os filósofos pagãos seguiram a
Salomão nesta ordem didática.
É no tratado que nos ocupa, o De vera philosophia, no que aparece com
maior clareza de conceito de verdadeira filosofia entendida como eleição da vida
monástica. Ao longo de seus parágrafos, o Mestre incita aos seus discípulos a
escolher entre os caminhos da sabedoria e os do erro, advertindo-lhes que a busca
dos bens mundanos extravia ao homem, como um bêbado que não encontra seu
caminho para casa.
No entanto, este desapego dos bens materiais deve ser mesurado. Se
aprecia o equilíbrio de Alcuíno neste tema, abeberado na Regra de São Benito,
segundo o qual os bens devem usar-se livremente, mas com medida, nunca em
demasia, os suficientes para satisfazer as necessidades vitais, tal como é mesmo
o prático durante seu retiro em Tours, segundo atesta sua biografia. 32
A sabedoria se revela como a única fonte da felicidade, em oposição aos
bens do mundo, que esvaziam ao homem e provocam que perca sua dignidade de
filho de Deus. Esta atitude, a busca da sabedoria, supõe uma transformação e se
realiza plenamente na vida monástica a qual conduz para a teologia ou
contemplação. Esta é possível graças à lectio monástica, que supõe inquirir sobre
os significados morais, naturais e teológicos da Bíblia. A alma, desse modo, se
alimenta do mesmo pão dos anjos, as rationes bíblicas. É neste processo onde se
revelam fundamentais as artes liberais, pois com elas é possível alcançar uma
interpretação mais fiel da Escritura.
O progresso espiritual, além disso, se faz impossível se o monge se tomba
para o conhecimento das coisas terrenas como ocorreu, por exemplo, com Platão.
Se deve tomar o caminho da verdadeira sabedoria que conduz à vida eterna,
primeiro bebendo o “leite” das artes liberais que prepara a alma para o alimento
mais sólido da Escritura.
Estas convicções que Alcuíno não pára de ensinar a seus múltiplos
discípulos foram para ele também um fim a alcançar. De fato, durante seus longos
anos de permanência na corte real de Aquisgrán, junto a Carlos Magno, ocupando-
se das múltiplas preocupações do reino, suspirava, continuava por seus passados
tempos de tranquilidade, dedicado ao estudo e à oração, à “verdadeira filosofia”,
em York, e começará logo a solicitar ao soberano a permissão para retira-se da
vida ativa, a qual conseguirá quando se o nomeia abade de São Martin de Tours.
É notável que, ainda quando não teve neste período a tranquilidade que ele
desejava, entretanto, o considera positivo e desse modo o expressa a Carlos
Magno em uma de suas tantas cartas. Depois de relatar-lhe os múltiplos e variados
ensinamentos que transmite aos estudantes da abadia, o pede que traga de York
alguns dos livros que ele possuía nesse lugar e, desse modo,
[...] et revehant in Franciam flores Britanniae: ut non sit
tantummodo in Euborica hortus conclusus, sed in Turonica
emissiones paradisi cum pomorum fructibus, ut veniens
Auster perflaret hortos Ligeri fluminis, et fluant aromata
illius, et novissime fiat, quod sequitur in Cantico, unde hoc
assumpsi paradigma: Veniat dilectus meus in hortum suum,
et comedat fructum pomorum suorum. Et dicat
adolescentulis suis: Comedite amici mei, bibite et
inebriamini, charissimi. Ego dormio, et cor meum vigilat
(Cant. V, 1, 2) .33

A solicitação ao imperador se acompanha não só de poesia e sim também


de explicitas e textuais referências ao Cântico dos Cânticos, o livro onde se
expressa do melhor modo os culmines da verdadeira filosofia. O hortus conclusus,
o “jardim fechado”, não só deve estar em York como também na França, a terra
dos francos; também aqui é possível alcançar a verdadeira filosofia.
Não é esta a única carta de Alcuíno onde se percebe seu desejo “apostólico”
de conduzir a seus amigos e discípulos pelos caminhos da verdadeira filosofia que
culminam na contemplação divina. A um monge chamado Calvino o impulsa a que
se dedique a seus deveres monásticos preparado espiritualmente com a lectio e a
oração e, sobretudo, que não deixe de aplicar em sua vida o supremo princípio ne
quid nimis. 34 E o mesmo sentido aparece nas missivas enviadas a Rábano Mauro
35 e a outro de seus estudantes.36

A experiencia de Alcuíno e seu trabalho de pastor de almas, o levam ao


convencimento que as paixões carnais são um dos inimigos mais poderosos da
verdadeira filosofia. A carta Ad pueros Sancti Martini é um exemplo finalizado disto.
Sua insistência na confissão dos pecados juvenis implica um distanciamento das
paixões e dos vícios e um direcionamento até as regiões da contemplação. E os
perigos de uma vida desordenada se acrescentam na vida da corte. E Alcuíno
conhece vários casos, dos quais se lamenta e aos quais repreende. Dodo, que se
deixa arrastar pelos prazeres carnais 37; Angilberto, que vive entretido com os
espetáculos circenses de mimos, atores y dançarinos 38; pede a Adalardo de Corbie
que envie de volta a Lerins ao jovem Bernario que corre graves perigos morais na
corte 39; e adverte a Fredegisio de evitar as tentações cortesãs: mulheres, cavalos,
ursos dançantes e brigas e esquece desse modo suas obrigações clericais 40.
Entretanto, os perigos da corte real não se reduzem a carne. O orgulho y a
soberba também entram dentro dessa categoria e são igualmente perniciosos para
a verdadeira filosofia. Este amor saeculi pode tomar diversos matizes. Muitas vezes
se apresenta como um desmedido interesse pelos Virgílio e os poetas clássicos,
como o caso de Ricbodo que, aliás, se elevou demasiado na sua alta dignidade de
arcebispo de Tréveris.41 O mesmo Carlos Magno é destinatário de uma forte
repreensão de Alcuíno posto que seu imprudente desejo de conhecimento o levou
a guiar-se pelas “trevas egípcias” e voltar desse modo a fixar algumas datas do
calendário civil, o Ano Novo, segundo o uso pagão. 42
As riquezas são também um sério obstáculo para a verdadeira filosofia. A
carta com a qual dedica seu comentário ao Eclesiastes a Onías, Wizzo e
Fredegisio, é significativa neste aspecto. “[...] nec in incerto divitiarum sperare, quae
aut deserunt possidentem, aut a possidente deseruntur”,43 escreve, e a mesma ideia
aparece, com as mesmas palavras, no Disputatio. Escreve a Arcadio Magenfrido,
encarregado da conquista dos saxões, que não cobre o imposto das décimas aos
povos recém conquistados, já que estes poderiam rechaçar a fé por causa desta
situação. 44
São destacados também os esforços que realiza Alcuíno para introduzir ao
próprio Carlos Magno no desejo da verdadeira filosofia. Os tratados De rethorica e
De dialéctica estão dirigidos e protagonizados pelo próprio Carlos, o qual muitas
vezes é comparado nas epístolas com o mesmo Salomão, arquétipo bíblico do
sábio.45 O De virtutibus et vitiis que apresentamos neste mesmo trabalho é um
exemplo eloquente da preocupação do nosso autor por conduzir a um laico, o
conde Guido, pelos caminhos da perfeição.
Concluindo, o conceito de vera philosophia significa no pensamento de
Alcuíno um conjunto de ideais e paradigmas que asseguram a educação e
formação nos níveis éticos e científicos, preparatórios e necessários para alcançar
a “teologia”, ou seja, a contemplação. Sobre este conceito funda Alcuíno toda sua
ação cultural e educativa, e por ela encaminha a ação política de Carlos Magno. 46

5. A presença de Boecio

É notável, segundo o destacou o trabalho de Courcelle, a presença do De


consolatione philosophiae de Boecio no Disputatio 47. Neste sentido se confirma
uma vez mais a tese de que Alcuíno conheceu e estudou profundamente esta obra
boeciana.48
Não se sabe com certeza onde leu o De consolatione, poderia ter sido em
York ou bem no continente. Boecio é nomeado entre os autores existentes na
biblioteca da escola catedrática de York por volta do ano 790, no poema alcuiniano
De sanctis euboricensis ecclesiae:
Quae Victorinus scripsere: Boetius atque
Historici veteres: Pompeius, Plinius, ipse
Acer Aristóteles...49

“As obras de Victotino e Boecio, os antigos historiadores Pompeyo, Plinio, e


o mesmo agudo Aristoteles...” escreve. Não se detalha, entretanto, que obras se
possuíam de Boecio. O mais provável é que foram as obras lógicas, as quais seriam
conhecidas também através de, segundo autores, como as Institutiones de
Casiodoro, no qual os principais autores de lógica são Victorino e Boecio.
Boecio começará a ser amplamente citado no continente por volta do século
IX. Em Reichenau, por exemplo, a lista dos livros da biblioteca monástica contém
uma seção titulada De opusculi Boetii, onde se mencionam o De consolatione
philosophia e aos tratados sobre aritmética e geometria 50 Na abadia de São Gall
figuram também as mesmas obras na biblioteca abacial e na biblioteca pessoal do
abade.51 É o mais provável então que o encontro entre Alcuíno e o De consolatione
boeciano se haja dado durante sua estadia em Aquisgrán e não em York. Seja
como for, aparece evidente uma leitura séria da obra e uma influência profunda no
pensar de alcuiniano. 52

6. O texto
Como dizíamos mais acima, o Disputatio não se encontra nunca como um
tratado autônomo e sim que sempre serve de prólogo a outros tratados. Ao
menos desse modo aparece nos manuscritos mais antigos do século 9 que
contem obras de gramatica, antigos e carolíngios, usados nas escolas
monásticas e catedráticas.53 Não se determinou ainda o motivo que levava aos
bibliotecários a dispor deste modo os pergaminhos, ou seja, que razão
encontravam para relacionar a verdadeira filosofia com a gramatica na obra de
Alcuíno. As opiniões se dividem e, enquanto alguns estudiosos consideram que
o Disputatio foi concebido como parte integrante do De grammatica pelo mesmo
autor, quem as havia redigido durante sua estadia na corte de Aquisgrán, antes
do seu retiro em Tours (796) 54, outros sugerem que Alcuíno escreveu o
Disputatio como uma obra separada, e que foi agregada ao De grammatica
pouco tempo depois de sua morte. 55
O título com o qual conhecemos a obra, Disputatio de vera philosophia,
aparece já em um manuscrito copiado em Freising durante a segunda metade
do século IX (Bayerische Staatbibliothek, Clm 6404 [ Fris. 204], provavelmente
a partir de um exemplar escrito durante a vida de Alcuíno, o qual nos prova a
antiguidade e pertinência do nome.56
Não disponhamos ainda da edição crítica do Disputatio de vera
philosophia. O texto que possuíamos e o qual traduzimos é o que se encontra
no Patrologia Latina 57 colacionado com as variantes precisadas por Courcelle.58

7. Exposição do diálogo

O De vera philosophia está composto por vinte e três pares de


perguntas e respostas: as primeiras formuladas pelo discipulo e as segundas
pelo mestre.
Exporemos ordenadamente cada um dos binômios.

1- O primeiro par é introdutivo. O discípulo estabelece a capacidade que


possui a filosofia para socorrer ao homem miserável e o enorme valor
que este feito o confere ao saber filosófico. Como bem nota Courcelle, o
recurso ao De consolatione philosophiae de Boecio é neste caso
manifesto, não só no texto e sim também no espirito do escrito. Continua
o discípulo expressando seu desejo de alcançar a filosofia e solicita a seu
mestre que o mostre os degraus através dos quais será possível fazê-lo.
E finaliza sua primeira intervenção com uma comparação: assim como é
necessária a luz para que os olhos possam ver, assim também é
necessária a explicação do sábio para que a alma adquira a sabedoria.
Reforça e justifica deste modo a petição anterior.
A resposta do mestre é curta e simples. Confirma os louvores à filosofia e
demanda a iluminação divina através de um texto do evangelho de João.

2- O discipulo expressa ao mestre seus temores. Não será fácil ser instruído
na filosofia e terá que fazê-lo pausadamente até lograr a fortaleza
necessária. Novamente aparece uma analogia: se bem a pedra tem em
si o fogo, mas é necessário que seja golpeada para que brote a chispa,
do mesmo modo as mentes dos homens possuem a ciência mas devem
ser sacudidas pela ação do sábio para que aflore.
O mestre responde com duas importantes afirmações. Na primeira delas
ensina que a sabedoria deve ser apreciada não só pelo amor de Deus ou
do conhecimento da verdade e sim também por si mesma. Esta
afirmação é certamente importante já que indica, como o destacamos
mais acima, um importante giro na aproximação ao conhecimento, difícil
de encontrar nos antecessores de Alcuíno. Na segunda afirmação indica
que tampouco deve ser amada a sabedoria pelos elogios, as honras ou
as riquezas que traz acoplada. Na realidade, estas vaidades apartam ao
homem da verdadeira luz do conhecimento e lhes resulta impossível
encontra-lo, assim como o ébrio não pode encontrar o caminho a sua
casa.

3- Não aparece aqui uma pergunta, e sim que o discipulo confessa que
ama a felicidade, mas, duvida que esta possa existir no mundo.
O mestre responde que o desejo pela felicidade é natural no homem, mas
muitas vezes não sabe onde encontrá-la. E enumera, seguindo a tradição
clássica, aqueles objetos nos quais o homem pode pôr erradamente sua
felicidade: as riquezas, as honras, o poder, os prazeres, os elogios.
Certamente neles são impossíveis encontrar a verdadeira felicidade. É por
isto que, ainda que existindo o impulso natural em direção ao bem, a
ignorância o separa dele.

4- O discípulo reage dizendo que se bem é verdade que estas coisas são
transitórias não se pode viver sem elas.
A resposta do mestre provém da sabedoria monástica. Recorre a regra de
São Bento e assegura: “Nada em excesso”. Se deve fazer uso moderado
destes bens materiais e mundanos.

5- Pergunta o discipulo pelo equilíbrio que se deve alcançar quando se


buscam estas coisas. Qual é seu limite?
Aquele que impõe a necessidade do corpo e o bom senso, é a lacônica
resposta do mestre.
6- Conclui o discípulo em que será próprio dos espíritos mais perfeitos
dominar com a razão as tendências “das almas”, assimilando aqui este
termo a sensibilidade e a concupiscência.
É para essa perfeição a que os impulsiona o mestre, recordando-lhes que a
mesma deve buscar-se e alcança-la na juventude.
7- Novamente o discípulo implora a seu mestre que o guia por este caminho
da razão.
A resposta, neste caso, consiste em uma série de perguntas retoricas
tendentes a demonstrar que o homem abandona aquilo que lhe é próprio,
a racionalidade, e busca aquilo que lhe é alheio e que, além disso, é frágil.
8- O discipulo responde perguntando acerca de quais são aquelas coisas
que são próprias do homem e quais são alheias.
O mestre realiza uma distinção: são alheias as coisas que estão fora do
homem, como as riquezas. São próprias aquelas que estão dentro dele,
como a sabedoria. A solução se encontra em ser dono de si mesmo, ou seja,
daquilo que é interior, o qual nunca pode perde-se. O homem busca fora o
que na realidade possui no interior.
9- O discípulo assegura que ele busca a felicidade.
O mestre aprova seu propósito com a condição de que a felicidade que se
busque seja aquela que permanece e não a que foge. E em seguida
demonstra como a felicidade que se pode conseguir na vida terrena passa
muito rapidamente assim como passam a luz, as flores de verão ou a saúde
do corpo. E é passageira também a tranquilidade da paz, a qual é alterada
pelo “combustível” das discórdias. Neste último exemplo se percebe um
Alcuíno plenamente devedor da sua época, onde as lutas e conflitos eram
frequentes, ocasionados muitas vezes sem mais motivos que os impulsos
de ira dos caudilhos.
10- O discipulo pergunta acerca do motivo pelo qual o mestre os aconselha
deste modo.
Responde que é a fim de que conheça as coisas menores desde as maiores.
11- E, perante nova pergunta do discipulo, o mestre explica sua afirmação.
Se até o céu e a terra mudam continuamente, quanto mais o farão as
coisas menores. E centra sua atenção fundamentalmente em duas delas:
a acumulação de riquezas e a busca desmedida de honras. Através de
exemplos históricos demonstra a fragilidade destes bens. Creso,
Alexandre e Pompeu perderam rapidamente o que buscavam devido a
morte prematura. Por tanto, não tem sentido buscar riquezas, as quais
abandonam ou são abandonadas e enriquecem mais distribuindo-as com
generosidade que as monopolizando com avareza. As honras, por sua
vez, constituem uma afronta ao Criador que fez a todos os homens iguais
e despreza aos soberbos. Conclui indicando que é melhor ser adornados
internamente que externamente.

12- A partir da conclusão da última resposta, o discípulo pergunta quais são


os adornos perpétuos da alma.
A resposta é simples: a sabedoria.

13- Pergunta o discípulo porque a sabedoria é perpetua.


O mestre responde perguntando se crê que a alma é eterna.
14- Para o discípulo isto não é só uma crença, mas também uma certeza.
E outra nova pergunta do mestre: Não é por ventura a sabedoria adorno
da alma?

15- Frente ao consentimento do discípulo o mestre explica que é conveniente


que não só a alma, e sim todo seu adorno, a sabedoria, sejam perpetuas,
já que tudo o mais é transitório.

16- Assegura o discípulo que nem ainda a potência dos reinos é perpétua.
Insiste o mestre perguntando o que são as riquezas sem a sabedoria.

17- O que é o corpo sem a alma, responde o discípulo, e culmina com uma
citação do livro dos Provérbios.

Continua o mestre com uma nova alusão bíblica sobre a importância da


sabedoria.

18- Se lamenta o discípulo de que a sabedoria seja difícil de conseguir.

O mestre assente, mas recorda que nada belo e importante se consegue


sem esforços prévios: não há vitória sem combate e não há pães sem
fadiga. Conclui a ideia com uma referência à carta aos Hebreus onde se
assegura que a disciplina presente é própria da tristeza, mas que depois
conduz a justiça e ao gozo.

19- Neste ponto o discípulo elabora um pequeno discurso. Em primeiro lugar


alenta ao mestre a que o guie para onde prefira, que por sua vez, o
seguirá, pois, a esperança do prêmio o fará mais suportável o esforço.
Inclui sobre uma anedota na qual Diógenes teria expulsado seus
discípulos ficando com ele só Platão, a quem não pôde distanciar nem
ainda a golpes de bengalas. A história serve para indicar que se o
empenho de Platão em seguir a seu mestre se devia a seu desejo da
sabedoria terrena, quanto mais se empenhará este discípulo em seguir
ao seu quem o mostrará não só os caminhos das literaturas e das artes
liberais, e sim também o da sabedoria celestial que conduz a vida eterna.
O mestre celebra os desejos de seu discípulo, mas o previne, com
palavras de São Paulo, que o modo de ser conduzidos à sabedoria é
gradual, através de degraus, de modo tal que possam chegar às coisas
superiores através das inferiores, e alcancem desse modo “as visões
mais profundas do céu puro”.

20- Novo pedido insistente do discípulo a fim de que o mestre o conduza nas
zonas da sabedoria, nas quais ele mesmo se encontra em virtude da
dignidade da sua vida. Aparece aqui uma expressão que apresenta certa
dificuldade. O discípulo faz uma referência às lendas poéticas que
declaram que os alimentos dos deuses são as “razões”. No seu
epistolário Alcuíno explicava a Carlos Magno que as razões são os
princípios que Deus estabeleceu na Criação para governar os corpos
celestes.59 Poderia outorgar o autor também neste caso, o mesmo
significado ao termo ratio, ainda que poderia tratar-se também de uma
referência à atividade racional da alma.
A resposta do mestre está constituída por uma referência a um texto
agostiniano segundo a qual as razões são o melhor alimento dos anjos
e, agrega, o encanto das almas.
21- Roga o discípulo ao seu mestre que lhe ensine os primeiros degraus da
sabedoria a fim de chegar às coisas superiores pelas inferiores.
Introduz aqui o mestre o texto do livro dos Provérbios onde se diz que a
Sabedoria “edificou sua casa, levantou suas sete colunas. ”60 E expõe a
exegeses tradicional desta passagem: se refere a Jesus, que se encarna no
seio de Maria, fortalecida pelos sete dons do Espirito Santo. Em seguida
explica a outra interpretação do texto, segundo a qual, a sabedoria é
fortalecida pelas sete colunas das artes liberais, que se comportam como
degraus e são o único de alcançá-la.
22- Repete uma vez mais o discipulo seu requerimento de ser instruído na
sabedoria, e utiliza para isto uma imagem: deseja ser alimentado com as
coisas mais suaves para chegar progressivamente, às mais sólidas.
O mestre acede ao seu pedido e assegura que o apresentará os sete
degraus da filosofia e o guiará através deles para as alturas da ciência
especulativa.
23- No último binômio o discípulo volta a insistir no seu pedido de ser
instruído nas sete disciplinas teóricas.
O mestre enumera em sua resposta as sete artes liberais: gramática,
retórica, dialética, aritmética, geometria, música e astrologia, e assegura que
por elas os cônsules foram mais brilhantes, os reis mais célebres e os
doutores cristãos puderam vencer as heresias. Finaliza o diálogo
estimulando ao discípulo a que sua vida transcorra por estas sendas e
chegue aos cumes da Escritura e se converta em defensor da verdadeira fé.
Se faz explicito deste modo a ideia de que as artes liberais são os
instrumentos para aceder ao conhecimento teológico, representando neste
caso pelas Escrituras e a defesa da fé.

Alcuíno de York
Diálogo acerca da verdadeira filosofia
Discípulo: Te ouvimos dizer frequentemente, doutíssimo mestre, que a
filosofia seria a mestra de todas as virtudes e que, entre todas as riquezas do
mundo, ela teria sido a única que nunca deixou miserável o que a possui. 1 Nos
incitaste, tal como o confessamos verdadeiramente com estas palavras, para a
busca de tão excelente felicidade e desejamos saber qual é a suma deste
magistério ou por meio de quais degraus2 se poderia ascender em direção a
ela.3 Nossa geração é jovem e, se tú não a ajudas, será muito difícil que emerja.
Sabemos que a natureza de nossa alma está no coração, assim como a dos
olhos está na cabeça. Com efeito, se os olhos são envoltos pelo esplendor do
sol ou por qualquer outra presença de luz, são capazes de discernir qualquer
coisa que se apresenta a sua visão. E é claro que o resto permanece nas trevas
quando não há luz. Assim, o vigor da alma é agradável para a sabedoria, se
existe quem comece a explicar-lo.4
Mestre: - Propusestes bem, filhos, a comparação entre os olhos e a alma. E.
“quem ilumina a todo homem que vem a este mundo”, 5 ilumine vossas mentes
a fim de que tenhais poder para avançar para essas coisas por meio da filosofia,
a qual, como dissestes, nunca abandona o que a possui.

Discípulo: - Sabemos, mestre, sabemos com certeza que se deve pedir a


Ele, que dá abundantemente e não censura a ninguém. Nós, entretanto,
devemos ser instruídos com certa pausa e conduzidos com passo lento como
se estivéssemos enfermos até que algo de fortaleza cresça em nós. Com efeito,
a pedra tem, naturalmente, o fogo em si, o que soa sair aos golpes. Do mesmo
modo, as mentes humanas têm naturalmente a luz da ciência, mas se não são
golpeadas pela frequente ação do sábio, mantêm esta luz oculta em si mesma,
assim como a chispa está latente na pedra.6
Mestre: - Certamente seria fácil mostrá-los o caminho da sabedoria se a
amarias só por Deus, [pelo conhecimento das coisas], pela pureza da alma ou
pelo conhecimento da verdade, como também por ela mesma. E não pelo elogio
humano, ou das honras do mundo, ou de falsos prazeres das riquezas, todos
os quais quanto mais são amados, tanto mais apartam da verdadeira luz do
conhecimento aos que a buscam, assim como o ébrio ignora porque senda se
regressa a sua casa.7

Discípulo: Confessamos que amamos a felicidade, mas ignoramos se pode


existir felicidade neste mundo.
Mestre: - As mentes dos homens têm incorporado naturalmente um desejo
do verdadeiro bem, mas um erro insensato arrasta a muitos deles para algumas
coisas falsas.8 Certamente alguns homens crêem que a máxima felicidade
consiste em ter abundancia de riquezas, outros se alegram com honras, outros
se congratulam com o poder, outros se deleitam nos prazeres, outros desejam
os elogios. Mas se estas coisas são consideradas diligentemente, se descobre
nelas tantas calamidades que se vê que têm apenas algo de felicidade.9 Alguns
que sonham com estas coisas julgam que a felicidade que encontrem nelas será
verdadeira. E ainda, quando um ímpeto natural o guia para o verdadeiro bem,
um complexo erro o separa por causa da ignorância.10
Discípulo: - Que sábio ignora sensatamente que estas coisas são
transitórias? Porém, quem não sabe que o viajante desta vida é ajudado pela
abundancia destas? 11
Mestre: - O uso moderado delas ajuda, o imoderado, incomoda. Daí a
eficácia da sentencia filosófica: “Nada em excesso”.12

Discípulo: - É sabido que tudo que é excessivo prejudica. Mas, até que limite
deve ser buscada a abundancia destas coisas que enumeraste pouco antes?
Mestre: - Quanto a necessidade do corpo exige, e quanto o zelo da sabedoria
reclama.

Discípulo: - Julgamos desta maneira que é próprio dos perfeitos reprimir as


inclinações das almas com os freios da razão.
Mestre: - Filhos, os exorto para esta perfeição, enquanto a idade floresce e
enquanto o espirito tem vigor.

Discípulo: - Guia, conduz e acompanha pelos caminhos da maravilhosa


razão e leva para o apogeu desta perfeição. Pois, ainda que com desigual
passo, te seguimos como guia.
Mestre: - Por que, oh homem, animal racional, imortal em tu melhor parte,
imagem do Criador, perdes as coisas que te são próprias? Por que buscas as
alheias? Por que busca as débeis e abandonas as mais importantes? 13

Discípulo: - Quais são as próprias e quais são as alheias?


Mestre: - São alheias as coisas que são buscadas fora, como acumular
riquezas; dentro, o esplendor da sabedoria. Por tanto, tú, homem, se eres dono
de ti mesmo, possuirás o que não lamentarás perder nunca, e nenhuma fortuna
terá eficácia para arrastaste. Por que, pois, mortais, buscais fora, enquanto
tendes dentro o que buscais?14
Discípulo: Buscamos a felicidade.
Mestre: Buscais bem se buscais a que permanece e não a que foge. Vês
quão contaminada está a felicidade terrena por muitas amarguras. Ela a
ninguém se a dará totalmente nem permanecerá sempre fiel, porque não pode
ser encontrado nada que não mude na vida presente. 15 Que é mais belo que a
luz? E esta é escurecida pelas trevas que se acercam. O que é mais encantador
que as flores de verão? Estas, entretanto, morrem com os frios invernais. O que
é mais agradável que a saúde do corpo? E quem confia tê-la perpetuamente?
O que é mais agradável que a tranquilidade da paz? E, entretanto,
frequentemente esta é irritada pela triste matéria das discórdias.

Discípulo: - Não duvidamos de que tudo isso é tal como dizes. Mas, com que
fim nos dizes?
Mestre: - Para que conheceis as coisas menores desde as maiores.

Discípulo: De que maneira?


Mestre: - Se o céu e a terra são transformados sempre por suas
contingências, também o são a beleza e a utilidade de todo o perecível. Quanto
mais é necessário que seja transitório o deleite de qualquer coisa em particular?
E porque devem ser amadas estas coisas, que não podem permanecer? O que
pensais vós, como homens, do elogio, da dignidade da honra, da acumulação
das riquezas? Lestes das riquezas de Creso, a fama de Alexandre, a honra de
Pompéu? Para que aproveitaram estas coisas aos que morreriam? Cada um
deles perdeu facilmente, devido a morte prematura, a gloria buscada com tanto
esforço, e debilitou a integridade da própria ciência, eles que buscavam para si
alcança-la das bocas alheias.16 Por que pôneis empenho em reunir riquezas, as
quais abandonam ou são abandonadas? Acaso não enriquecem melhor
gastando que guardando? Enquanto que a ganancia faz odiosos, a
generosidade faz ilustres. A abundancia das riquezas é acumulada somente
desde a indigência dos outros. Por que buscais honras como consolo para a
soberba?17 Não é um o Pai de todos? 18 E porque fazeis afronta a vosso Criador
amando as piores coisas e desfazendo as melhores? Ele quis que a espécie
humana sobressaísse de todas as coisas terrenas, e vós lançais vossa
dignidade mais abaixo que as ínfimas coisas. Quanto melhor é ser adornado
interior que exteriormente, e polir a alma eterna com nobreza.

Discípulo: - Quais são os adornos perpétuos da alma?


Mestre: - Em primeiro lugar a sabedoria, para qual os exorto a os dedicar
com máximo afã. 19

Discipulo: Por que sabemos que a sabedoria é perpetua? E se todas estas


coisas que enumeraste antes são transitórias, por que não passa também o
conhecimento destas?
Mestre: - Credes que a alma é eterna?
Discípulo: - Não só o cremos, como também o sabemos com certeza.
Mestre: - Não é a sabedoria adorno e dignidade da alma?

Discípulo: - É verdade.
Mestre: - De que modo poderá ser felizmente eterna a alma sem a sabedoria,
que é seu adorno? Não está acaso longe da razão que a alma sem seu adorno
e sua dignidade seja eterna? Parece justo que ambas sejam perpetuas, a alma
e a sabedoria. Acaso nãos vedes que muito frequentemente as riquezas
abandonam ao que as possui por causa da desgraça e que todas as honras do
mundo muitas vezes são diminuídas?

Discípulo: - Vemos que nem sequer o poder dos reinos subsiste.


Mestre: - O que são as riquezas sem a sabedoria?

Discípulo: - O que é o corpo sem a alma. Como disse Salomão: De que


servem as riquezas ao néscio já que não pode comprar a sabedoria? 20
Mestre: Não é esta a que exalta ao humilde e levanta do esterco ao pobre,
para que se sente com os príncipes e tenha o trono da glória? 21

Discípulo: - É certo, mas tão difícil de adquirir como belo o possui-la.


Mestre: - Que soldado será coroado sem combate? Que lavrador obtêm
pães em abundancia sem fadiga? Não disse um antigo provérbio, que as raízes
das ciências são amargas, mas os frutos são doces? Assim, pois, também
nosso orador demonstra o mesmo na Carta aos Hebreus. Sem dúvida toda
disciplina, no presente, não parece ser própria do gozo e sim da tristeza; mas
depois traz, para os que se exercitam nela, o muito agradável fruto da justiça.22

Discípulo: - Guia, conduz onde prefiras. Te seguimos com agrado porque a


esperança do prêmio costuma aliviar o esforço. Certamente, tudo que ara, ara
na esperança de recolher os frutos. E assim se conta que, quando Diógenes,
aquele grande filósofo, expulsou todos seus discípulos dizendo: “ Ides: busca-
os um mestre: eu encontrei um para mim; ” somente Platão ficou com ele. E
certo dia correu com os pés cheios de lama, sobre o leito preparado para seu
mestre, a sentar-se junto a ele. Diógenes, então, ameaçou machucá-lo com a
sua bengala; o jovem inclinou-se diante dele a sua cabeça e respondeu:
"Nenhuma bengala é tão dura como para me afastar do teu lado". Mas se aquele
ignorante, que ardia de amor pela sabedoria do mundo e ainda da celestial, o
qual conduz a vida eterna, ainda sim persistia em seguir ardentemente ao seu
mestre, quanto mais nós devemos seguir seus passos, mestre, tanto o que entra
tanto o que sai, que não só nos sabes guiar no caminho da literatura e das artes
liberais, mas também pelos melhores caminhos da sabedoria, que conduz para
a vida eterna.
Mestre: - A divina graça nos preceda e conduza para os tesouros da
sabedoria espiritual, cuja fonte da divina abundancia [podeis ser] embriagados,
para que esteja em vós a fonte de agua que corre para a vida eterna. Mas, dado
que lemos no Apostolo que previne: ‘todas vossas coisas honestas sejam feitas
com ordem’,23 penso que vós deveis ser conduzidos por certos degraus de
ensinamentos, desde os inferiores para as superiores, até que as asas das
virtudes cresçam gradualmente, com as quais, voando para as visões mais
profundas do céu puro, sejais capazes de dizer: ‘Nos apresentou o rei a sus
despensas, nos regozijaremos e nos alegraremos nelas'.24

Discípulo: - Dá-nos tua mão, mestre, levanta-nos desde a região da


ignorância e coloca-nos contigo nos degraus da sabedoria, nos quais
reconhecemos que tú te colocaste pela dignidade de vida e pela verdade das
palavras. Ali te conduziu a belíssima razão desde a primeira juventude, tal como
ouvimos, e se está permitido dar ouvidos às lendas poéticas, o qual não nos
parece inconveniente, elas declaram que os alimentos dos deuses são as
razões.25
Mestre: - Mais de acordo com a verdade podeis dizer, filhos, que as razões
são o sustento dos anjos,26 o encanto das almas, mais que o alimento dos
deuses.

Discípulo: - De qualquer modo que estas coisas devam ser ditas, rogamos
que nos sejam apresentados os primeiros degraus da sabedoria, para que,
concedendo Deus e ensinando tú, sejamos capazes de chegar desde as coisas
inferiores às superiores.
Mestre: - Lemos, quando disse Salomão, por quem a Sabedoria se cantou
de si mesma: ‘a Sabedoria edificou sua casa, levantou suas setes colunas’. 27
Esta sentença corresponde a sabedoria divina, a que construiu sua casa em um
útero virginal, quer dizer o corpo, a fortaleceu com os setes dons do Espirito
Santo, e inclusive iluminou a Igreja, que é a casa de Deus, com os mesmos
dons. Porém, a sabedoria é fortalecida pelas sete colunas das artes liberais; de
outro modo não conduz a ninguém para o conhecimento perfeito se não é
exaltado por estas sete colunas ou degraus.
Discípulo: - Finalmente revelou de uma vez o que prometeste e começa a
alimentar-nos, devido a fragilidade da nossa juventude, com as coisas mais
suaves para que cheguemos, com maior facilidade, a medida que cresçamos
em idade, às coisas mais solidas.
Mestre: Prevenindo também e obtendo a divina graça farei o que solicitais, e
os apresentarei, para que compreendais, os sete degraus da filosofia, e por eles
mesmos, concedendo Deus e sendo companheira a vida, em troca de uma
porção de nossas forças, os conduzirei, segundo a conveniência do tempo e a
idade, para as coisas mais sublimes da ciência especulativa.

Discípulo: - Conduz, conduz e finalmente algum dia constrói do ninho da


preguiça os ramos da sabedoria dada a ti por Deus, desde onde tenhamos o
poder de distinguir alguma luz da verdade: e, a quem tantas vezes prometeste,
ensina-nos os sete degraus das disciplinas teóricas.
Mestre: - Existem os degraus que buscais, e tomara que sempre sejais tão
ardentes de sede [para ascender] como sois curiosos para ver. Eles são:
gramática, retórica, [dialética], aritmética, geometria, música e astrologia. Por
elas, efetivamente, os filósofos esgotaram seus ócios e suas ocupações.28
Assim pois, aperfeiçoados por elas, os cônsules foram mais brilhantes, por elas
mais célebres os reis, por elas mais dignos de louvor os de eterna memoria, por
elas também santos e doutores universais de nossa fé e defensores contra
todas as heresias, se mostraram superiores sempre nas rivalidades públicas.
Em verdade, filhos queridíssimos, por estas sendas corra diariamente vossa
adolescência, até o momento em que, com uma idade mais perfeita e com um
ânimo mais forte na sensibilidade, chegueis aos cumes das santas Escrituras.
Até que sejais feitos os defensores armados da verdadeira fé e invencíveis
sustentadores da verdade em toda circunstância.

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