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Este paragrafo pertence a carta com a qual Alcuíno dedica seu tratado De fide
sanctae et individuae Trinitatis a Carlos Magno em 802. Podemos pontuar no
mesmo os seguintes dados:
1) Existem detratores próximos ao Imperador que depreciam o estudo da
dialética. Alcuíno engloba nesta conclusão a lógica e a filosofia em geral.
2) A necessidade e utilidade destas disciplinas se prova, pois, o mesmo Santo
Augustinho não teria podido enfrentar a análise do mistério da Santíssima
Trindade sem elas.
3) Recomenda o opúsculo de Santo Augustinho sobre a dialética. Faz
referência ao tratado das Categoriae decem, erroneamente atribuído ao
bispo de Hipona, ao qual faremos referência mais adiante.
Este parágrafo da epístola a Carlos Magno é eloquente acerca da postura
de Alcuíno. Na realidade, e se fazemos caso a seu primeiro biógrafo, sua
vinda ao continente teve como objetivo o ensinamento das artes liberais. 11
Mais além do exagerado desta afirmação, são numerosos os textos do nosso
autor nos quais se percebe de um modo claro seu apreço pelos saberes
seculares. Vejamos alguns deles.
Em uma carta dirigida a Carlos Magno por volta do ano 798 lemos:
Nam philosophi non fuerunt conditores harum artium, sed
inventores.
Nam Creator omnium rerum condidit eas in naturas sicut
voluit. Illivero, qui sapientiores erant in mundo, inventores
erant harum artium in naturis rerum, [...] Solebat magister
meus mihi saepius dicere:
Sapientissimi hominum fuerunt, qui has artes in naturis
rerum invenerunt. Opprobrium est grande, ut dimittamus
eas perire diebus nostris.12
Em primeiro lugar há uma afirmação do autor que situa as artes como feitura
divina. Foram criadas pelo mesmo Deus na natureza, e os filósofos só as
encontraram. Deste modo as artes liberais legitimam sua procedência: não são um
saber pagão, e sim um aspecto do Criador nas criaturas, devendo ser, por tanto,
plenamente aceitas pela consciência cristã.
Em segundo lugar, aparece a afirmação de que seu mestre, Alberto
seguramente, o insistia frequentemente na importância destes estudos, e que seu
esquecimento era uma grande vergonha. Duas consequências podemos obter
neste caso: as artes liberais se encontravam esquecidas em meados do século VIII,
e é na escola de York, a partir do magistério de Alberto, quando começa sua
restauração.
Outro texto, também pertencente a uma carta dirigida ao imperador, Alcuíno
fala de edificar na França uma nova Atenas, mas desta vez superior a antiga: não
só será iluminada pelas setes artes liberais como também será sustentada pelos
dons do Espírito Santo:
...forsan Athenae nova perficeretur in Francia, imo multo
excellentior, quia haec Christi Domini nobilitata magisterio, omnem
Academicae exercitationis superat sapientiam. Illa tantummodo
Platonicis erudita disciplinis, septenis informata claruit artibus; haec
etiam insuper septiformi sancti Spiritus plenitudine ditata omnem
saecularis sapientiae excellit dignitatem.13
A exegese que realiza Alcuíno deste texto o relaciona com o papel fundamental que
jogam as sete artes liberais na aquisição da sabedoria cristã. As sete artes liberais
corresponderiam as sete colunas ou degraus da casa da Sabedoria, e seu estudo,
além disso, garantiria o triunfo na luta contra as heresias.
São Gregório Magno comentou o mesmo texto em seus Moralia in Iob.
Embora neste caso as artes liberais não são nomeadas explicitamente, sim
aparece a imagem da casa da Sabedoria como a Igreja, construída por Cristo.
Sustentada pelas forças espirituais representadas pelas sete colunas, os
pregadores da verdadeira fé se oporão a Leviatã, quer dizer, o demônio e os
poderosos do mundo que o seguem, e proclamarão a encarnação de Cristo a todas
as nações.20 Esta mesma interpretação, a Casa da Sabedoria como símbolo da
Encarnação e luta contra as heresias, aparece em outras passagens da obra de
Gregório. 21
Também Beda escreve uma interpretação desta passagem, com matizes
diferentes a dos utilizados por Gregório. A casa da Sabedoria é um símbolo da
unidade de Cristo, suas naturezas humanas e divinas, na Encarnação. Entretanto,
a exegese de Beda se concentra principalmente na Igreja sustentada pelas sete
colunas que são dons do Espírito Santo. Também representam aos doutores da
Santa Igreja tornados plenos com dons do Espírito Santo, como São Tiago, Pedro
e João.22
Descobrimos na exegese alcuíniana um aporte original: a identificação das
sete colunas com as sete artes liberais o qual outorga as mesmas uma origem
divina. Enquanto a primeira parte do seu comentário, Alcuíno permanece fiel à
tradição interpretativa dos Padres, no segundo momento associa às sete colunas
da casa da Sabedoria com as artes liberais cristianizando assim, ao conhecimento.
Outro dado significativo é que o autor esclarece que este número sete pode
ser interpretado, neste caso, como colunas ou degraus, o qual se harmoniza de um
modo mais apropriado com a ideia de progresso no conhecimento, que desenvolve
no diálogo e que se reflete no passo gradual da aquisição das sete disciplinas.
A inovação de Alcuíno nos fala, mais além do fato de indubitável mérito e
risco de transferir de alguma maneira os limites dos Padres, de um empenho
irrevogável de pôr novamente em circulação o estudo das artes liberais o qual, em
um meio cristão, não podia ser feito, mas a condição de elevar esses saberes às
regiões da mesma divindade.
4. A verdadeira filosofia
5. A presença de Boecio
6. O texto
Como dizíamos mais acima, o Disputatio não se encontra nunca como um
tratado autônomo e sim que sempre serve de prólogo a outros tratados. Ao
menos desse modo aparece nos manuscritos mais antigos do século 9 que
contem obras de gramatica, antigos e carolíngios, usados nas escolas
monásticas e catedráticas.53 Não se determinou ainda o motivo que levava aos
bibliotecários a dispor deste modo os pergaminhos, ou seja, que razão
encontravam para relacionar a verdadeira filosofia com a gramatica na obra de
Alcuíno. As opiniões se dividem e, enquanto alguns estudiosos consideram que
o Disputatio foi concebido como parte integrante do De grammatica pelo mesmo
autor, quem as havia redigido durante sua estadia na corte de Aquisgrán, antes
do seu retiro em Tours (796) 54, outros sugerem que Alcuíno escreveu o
Disputatio como uma obra separada, e que foi agregada ao De grammatica
pouco tempo depois de sua morte. 55
O título com o qual conhecemos a obra, Disputatio de vera philosophia,
aparece já em um manuscrito copiado em Freising durante a segunda metade
do século IX (Bayerische Staatbibliothek, Clm 6404 [ Fris. 204], provavelmente
a partir de um exemplar escrito durante a vida de Alcuíno, o qual nos prova a
antiguidade e pertinência do nome.56
Não disponhamos ainda da edição crítica do Disputatio de vera
philosophia. O texto que possuíamos e o qual traduzimos é o que se encontra
no Patrologia Latina 57 colacionado com as variantes precisadas por Courcelle.58
7. Exposição do diálogo
2- O discipulo expressa ao mestre seus temores. Não será fácil ser instruído
na filosofia e terá que fazê-lo pausadamente até lograr a fortaleza
necessária. Novamente aparece uma analogia: se bem a pedra tem em
si o fogo, mas é necessário que seja golpeada para que brote a chispa,
do mesmo modo as mentes dos homens possuem a ciência mas devem
ser sacudidas pela ação do sábio para que aflore.
O mestre responde com duas importantes afirmações. Na primeira delas
ensina que a sabedoria deve ser apreciada não só pelo amor de Deus ou
do conhecimento da verdade e sim também por si mesma. Esta
afirmação é certamente importante já que indica, como o destacamos
mais acima, um importante giro na aproximação ao conhecimento, difícil
de encontrar nos antecessores de Alcuíno. Na segunda afirmação indica
que tampouco deve ser amada a sabedoria pelos elogios, as honras ou
as riquezas que traz acoplada. Na realidade, estas vaidades apartam ao
homem da verdadeira luz do conhecimento e lhes resulta impossível
encontra-lo, assim como o ébrio não pode encontrar o caminho a sua
casa.
3- Não aparece aqui uma pergunta, e sim que o discipulo confessa que
ama a felicidade, mas, duvida que esta possa existir no mundo.
O mestre responde que o desejo pela felicidade é natural no homem, mas
muitas vezes não sabe onde encontrá-la. E enumera, seguindo a tradição
clássica, aqueles objetos nos quais o homem pode pôr erradamente sua
felicidade: as riquezas, as honras, o poder, os prazeres, os elogios.
Certamente neles são impossíveis encontrar a verdadeira felicidade. É por
isto que, ainda que existindo o impulso natural em direção ao bem, a
ignorância o separa dele.
4- O discípulo reage dizendo que se bem é verdade que estas coisas são
transitórias não se pode viver sem elas.
A resposta do mestre provém da sabedoria monástica. Recorre a regra de
São Bento e assegura: “Nada em excesso”. Se deve fazer uso moderado
destes bens materiais e mundanos.
16- Assegura o discípulo que nem ainda a potência dos reinos é perpétua.
Insiste o mestre perguntando o que são as riquezas sem a sabedoria.
17- O que é o corpo sem a alma, responde o discípulo, e culmina com uma
citação do livro dos Provérbios.
20- Novo pedido insistente do discípulo a fim de que o mestre o conduza nas
zonas da sabedoria, nas quais ele mesmo se encontra em virtude da
dignidade da sua vida. Aparece aqui uma expressão que apresenta certa
dificuldade. O discípulo faz uma referência às lendas poéticas que
declaram que os alimentos dos deuses são as “razões”. No seu
epistolário Alcuíno explicava a Carlos Magno que as razões são os
princípios que Deus estabeleceu na Criação para governar os corpos
celestes.59 Poderia outorgar o autor também neste caso, o mesmo
significado ao termo ratio, ainda que poderia tratar-se também de uma
referência à atividade racional da alma.
A resposta do mestre está constituída por uma referência a um texto
agostiniano segundo a qual as razões são o melhor alimento dos anjos
e, agrega, o encanto das almas.
21- Roga o discípulo ao seu mestre que lhe ensine os primeiros degraus da
sabedoria a fim de chegar às coisas superiores pelas inferiores.
Introduz aqui o mestre o texto do livro dos Provérbios onde se diz que a
Sabedoria “edificou sua casa, levantou suas sete colunas. ”60 E expõe a
exegeses tradicional desta passagem: se refere a Jesus, que se encarna no
seio de Maria, fortalecida pelos sete dons do Espirito Santo. Em seguida
explica a outra interpretação do texto, segundo a qual, a sabedoria é
fortalecida pelas sete colunas das artes liberais, que se comportam como
degraus e são o único de alcançá-la.
22- Repete uma vez mais o discipulo seu requerimento de ser instruído na
sabedoria, e utiliza para isto uma imagem: deseja ser alimentado com as
coisas mais suaves para chegar progressivamente, às mais sólidas.
O mestre acede ao seu pedido e assegura que o apresentará os sete
degraus da filosofia e o guiará através deles para as alturas da ciência
especulativa.
23- No último binômio o discípulo volta a insistir no seu pedido de ser
instruído nas sete disciplinas teóricas.
O mestre enumera em sua resposta as sete artes liberais: gramática,
retórica, dialética, aritmética, geometria, música e astrologia, e assegura que
por elas os cônsules foram mais brilhantes, os reis mais célebres e os
doutores cristãos puderam vencer as heresias. Finaliza o diálogo
estimulando ao discípulo a que sua vida transcorra por estas sendas e
chegue aos cumes da Escritura e se converta em defensor da verdadeira fé.
Se faz explicito deste modo a ideia de que as artes liberais são os
instrumentos para aceder ao conhecimento teológico, representando neste
caso pelas Escrituras e a defesa da fé.
Alcuíno de York
Diálogo acerca da verdadeira filosofia
Discípulo: Te ouvimos dizer frequentemente, doutíssimo mestre, que a
filosofia seria a mestra de todas as virtudes e que, entre todas as riquezas do
mundo, ela teria sido a única que nunca deixou miserável o que a possui. 1 Nos
incitaste, tal como o confessamos verdadeiramente com estas palavras, para a
busca de tão excelente felicidade e desejamos saber qual é a suma deste
magistério ou por meio de quais degraus2 se poderia ascender em direção a
ela.3 Nossa geração é jovem e, se tú não a ajudas, será muito difícil que emerja.
Sabemos que a natureza de nossa alma está no coração, assim como a dos
olhos está na cabeça. Com efeito, se os olhos são envoltos pelo esplendor do
sol ou por qualquer outra presença de luz, são capazes de discernir qualquer
coisa que se apresenta a sua visão. E é claro que o resto permanece nas trevas
quando não há luz. Assim, o vigor da alma é agradável para a sabedoria, se
existe quem comece a explicar-lo.4
Mestre: - Propusestes bem, filhos, a comparação entre os olhos e a alma. E.
“quem ilumina a todo homem que vem a este mundo”, 5 ilumine vossas mentes
a fim de que tenhais poder para avançar para essas coisas por meio da filosofia,
a qual, como dissestes, nunca abandona o que a possui.
Discípulo: - É sabido que tudo que é excessivo prejudica. Mas, até que limite
deve ser buscada a abundancia destas coisas que enumeraste pouco antes?
Mestre: - Quanto a necessidade do corpo exige, e quanto o zelo da sabedoria
reclama.
Discípulo: - Não duvidamos de que tudo isso é tal como dizes. Mas, com que
fim nos dizes?
Mestre: - Para que conheceis as coisas menores desde as maiores.
Discípulo: - É verdade.
Mestre: - De que modo poderá ser felizmente eterna a alma sem a sabedoria,
que é seu adorno? Não está acaso longe da razão que a alma sem seu adorno
e sua dignidade seja eterna? Parece justo que ambas sejam perpetuas, a alma
e a sabedoria. Acaso nãos vedes que muito frequentemente as riquezas
abandonam ao que as possui por causa da desgraça e que todas as honras do
mundo muitas vezes são diminuídas?
Discípulo: - De qualquer modo que estas coisas devam ser ditas, rogamos
que nos sejam apresentados os primeiros degraus da sabedoria, para que,
concedendo Deus e ensinando tú, sejamos capazes de chegar desde as coisas
inferiores às superiores.
Mestre: - Lemos, quando disse Salomão, por quem a Sabedoria se cantou
de si mesma: ‘a Sabedoria edificou sua casa, levantou suas setes colunas’. 27
Esta sentença corresponde a sabedoria divina, a que construiu sua casa em um
útero virginal, quer dizer o corpo, a fortaleceu com os setes dons do Espirito
Santo, e inclusive iluminou a Igreja, que é a casa de Deus, com os mesmos
dons. Porém, a sabedoria é fortalecida pelas sete colunas das artes liberais; de
outro modo não conduz a ninguém para o conhecimento perfeito se não é
exaltado por estas sete colunas ou degraus.
Discípulo: - Finalmente revelou de uma vez o que prometeste e começa a
alimentar-nos, devido a fragilidade da nossa juventude, com as coisas mais
suaves para que cheguemos, com maior facilidade, a medida que cresçamos
em idade, às coisas mais solidas.
Mestre: Prevenindo também e obtendo a divina graça farei o que solicitais, e
os apresentarei, para que compreendais, os sete degraus da filosofia, e por eles
mesmos, concedendo Deus e sendo companheira a vida, em troca de uma
porção de nossas forças, os conduzirei, segundo a conveniência do tempo e a
idade, para as coisas mais sublimes da ciência especulativa.