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ECONOMIA POLÍTICA:

MERCADO SUSTENTÁVEL

autor
JOSE MACHADO CARREGOSA

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2016
Conselho editorial  rafael iorio, roberto paes e paola gil de almeida

Autor do original  jose machado carregosa

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  paola gil de almeida, paula r. de a. machado e aline


karina rabello

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  cristiane vieira valente

Imagem de capa  cherezoff | dreamstime.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

C314e Carregosa, José Machado


Economia política: mercado sustentável. / José Machado Carregosa.
Rio de Janeiro: SESES, 2016.
136 p: il.

isbn: 978-85-5548-368-4

1. Economia. 2. Política. 3. Sustentabilidade. I. SESES. II. Estácio

cdd 330

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 7

1. Economia de mercado 9
1.1  Noções de economia de mercado 10
1.1.1  A relação da economia com o conhecimento jurídico 10
1.1.2  Importância do estudo da Economia para o curso de Direito 12
1.1.3  Conceituação básica 13
1.1.4  Sistemas econômicos 14
1.1.5  Fatores de produção 15
1.1.6  Problemas econômicos fundamentais: 17
1.2  O consumidor (demanda) e o produtor (oferta) 18
1.2.1  Microeconomia e Macroeconomia 18
1.2.2  Fatores determinantes da demanda, objetivo do consumidor e
lei geral da demanda 18
1.2.3  Fatores determinantes da oferta, objetivo da firma e lei geral da
oferta. 20
1.2.4  Tendência de equilíbrio 20
1.2.5  Políticas de preços: congelamento, preços mínimos e
tabelamento. 21
1.2.6  Importância dos conceitos de oferta e demanda para o curso
de Direito 22
1.2.7  Formas de intervenção do Estado na economia 23
1.2.8  Outras formas de intervenção do Estado 25

2. Estruturas de mercado e os aspectos jurídicos 31

2.1  Estruturas de mercado e os aspectos jurídicos 32


2.1.2  Estruturas de mercado 33
2.1.3  Abuso do poder econômico 36
2.1.4  Preceito constitucional sobre a concorrência 37
2.1.5  Lei Antitruste Brasileira e a estrutura de mercado 40
2.1.6  Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência - SBDC 42
2.2  O setor público e tributação 43
2.2.1  A atividade financeira do Estado 43
2.2.2  Conceito de dívida pública interna 45
2.2.3  Classificação dos tributos 45
2.2.4  Princípios Gerais de Tributação 46
2.2.5  A legislação tributária e orçamentária e o Direito Constitucional 48
2.2.6  Princípios orçamentários 49
2.2.7  O Sistema Tributário Brasileiro 51

3. Política monetária e externa 57

3.1  Política monetária e legislação aplicada 58


3.1.2  Sistema Financeiro Nacional (SFN) – Autoridades monetárias 59
3.1.3  Instrumentos de política monetária 62
3.1.4  Regulamentação dos Bancos comerciais: 63
3.1.5  Natureza jurídica e finalidade da taxa Selic. 64
3.1.6  Limitação das taxas de juros. 64
3.1.7  Títulos de crédito 65
3.1.8  Os impactos da inflação 66
3.2  Política Externa e o Direito Internacional 68
3.2.1 Introdução 68
3.2.2 Câmbio 69
3.2.3  Políticas cambiais e o câmbio como instrumento de regulação
comercial 71
3.2.4  Economia Internacional e a Legislação Brasileira 72
3.2.5  Organismos internacionais: FMI, OMC E BIRD e o Direito
Internacional Econômico 73
3.2.6  Integração econômica no processo de globalização 76
4. Política econômico-social e regulação de
mercado 83

4.1  Política econômica-social 84


4.1.1 Introdução 84
4.1.2  Políticas de segurança, educação e saúde 84
4.1.3  Distribuição da renda – O coeficiente de Gini 86
4.1.4  Setores formais (tributáveis) e informais (não tributáveis) da
economia 88
4.1.5  Características do setor informal 88
4.1.6  Preceitos constitucionais de proteção ao trabalhador formal 90
4.1.7  Legislação trabalhista, encargos e informalidade 91
4.2  Infraestrutura econômica e regulação de mercado 93
4.2.1  O Estado brasileiro e a infraestrutura econômica 93
4.2.2  As agências reguladoras 94
4.2.3  Parcerias público-privadas – PPP’s 100
4.2.4  Políticas de transporte 101

5. Política ambiental e desenvolvimento


sustentável 107

5.1  Política ambiental e legislação aplicada 108


5.1.1  Padrões de consumo e energia 108
5.1.2  Legislação ambiental e a economia 110
5.1.3  Responsabilidade ambiental corporativa e o comércio agrícola 111
5.1.4  Os organismos internacionais de padronização 113
5.1.5  Política ambiental brasileira 114
5.1.6  Os acordos internacionais sobre meio ambiente e o
desenvolvimento sustentável. 116
5.2  Desenvolvimento sustentável e crescimento 118
5.2.1  Conceito de desenvolvimento sustentável e considerações
gerais 118
5.2.2  A Constituição brasileira e o desenvolvimento econômico
sustentável 119
5.2.3  O sistema de contas nacionais do Brasil 120
5.2.4  Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 121
5.2.5  O meio ambiente e a sustentabilidade 122
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),

O estudo da Economia é importante para que os profissionais dos mais va-


riados segmentos possam desenvolver suas atividades. No caso das áreas de
Gestão Empresarial e Direito, o estudo da Economia é fundamental para o exer-
cício da profissão, estando interligado com os diversos ramos da administração
empresarial e do conhecimento jurídico.
Por sua vez, o gestor e o advogado devem entender como os fatores econô-
micos afetam o dia a dia no desempenho de suas atividades e como lidar com
situações que podem afetar diretamente suas decisões pessoais e empresariais.
O livro Economia Política mostra como analisar os fatos de natureza econômica
de forma a utilizar esse conhecimento no campo jurídico e nos processos de
gestão. Exemplos do noticiário econômico são apresentados propiciando ao
leitor visualizar o fato real e como aplicar a teoria econômica equivalente.
No Capítulo I será analisada a Economia de Mercado, apresentando-se os
conceitos básicos e como a Economia está relacionada com o Direito. Para isso,
será necessário conhecer as características dos Sistemas Econômicos, e enten-
der o funcionamento do mercado e como o Governo intervém no Mercado. A
relação entre o consumidor e o produtor mostra as condições de equilíbrio de
mercado, sendo importante para o operador jurídico entender como o governo
poderá atuar no sentido de promover a concorrência no mercado prevista em
nossa Constituição Federal.
No Capítulo II será abordada a Estrutura de Mercado e como o Sistema Bra-
sileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) atua no sentido de defender a concor-
rência e combater os abusos contra a ordem econômica. A Lei Antitruste será
tratada no capítulo, mostrando a legislação aplicada na defesa dos preceitos
constitucionais da livre concorrência. Além disso, serão estudados o setor pú-
blico e a forma de atuação do governo interferindo nas relações econômicas. Os
tributos, por sua vez, constituem o instrumento do governo para arrecadação
de recursos destinados a financiar seus gastos, ou com fins de promover a esta-
bilização da economia e/ou a distribuição da renda.
Além disso, será importante analisar as funções do governo (Alocativa, Dis-
tributiva e Estabilizadora) e como se processa a organização das finanças públi-
cas. Não menos importante, serão objeto de estudo a Lei de Responsabilidade
Fiscal e a parceria público-privada.

7
No Capítulo III serão analisadas a política monetária e a atuação governa-
mental na questão da moeda. O Sistema Financeiro Nacional será abordado
especialmente no aspecto legal da atuação do Conselho Monetário Nacional
(CMN) e do Banco Central. A questão da taxa de juros e dos títulos de crédito
afeta as decisões econômicas e tem todo um aspecto legal envolvendo suas apli-
cações. Nesse mesmo capítulo será estudado o conceito de inflação.
Será importante também conhecer os fatores que influenciam as relações
externas brasileiras e como se processa o segmento do direito que rege as rela-
ções econômicas internacionais. Com isso, serão analisadas a contextualização
histórica da formação dos organismos econômicos internacionais, e a impor-
tância legal da existência desses organismos. Por fim, será abordado o processo
de integração econômica num cenário de globalização.
No Capítulo IV será mostrado como ocorrem as Políticas Públicas Sociais,
e os aspectos legais relacionados com Segurança, Educação e Saúde. A análi-
se dos Setores Formais (tributáveis) e informais (não tributáveis) da economia,
permite conhecer um fator determinante para o aumento da desigualdade de
renda no país.
Por sua vez, será importante compreender a questão da infraestrutura eco-
nômica relacionada com a presença do Estado. Será analisado o modo como as
agências reguladoras atuam efetivamente no desenvolvimento da infraestrutu-
ra econômica. Então, serão abordados o processo de contratação de parceria
público-privada e seus aspectos legais.
No Capítulo V serão estudados os padrões de consumo e energia, e seus efei-
tos sobre o meio ambiente. Será abordada a relação entre a legislação ambien-
tal e a Economia, bem como os Acordos Internacionais sobre Meio Ambien-
te. Por fim, será importante compreender o conceito sobre Desenvolvimento
Econômico Sustentável, e como se diferenciam os indicadores de produção
daqueles que medem o desenvolvimento humano. Será analisado o índice de
desenvolvimento humano (IDH) que mede a qualidade de vida levando-se em
conta indicadores como renda per capita, saúde (expectativa de vida ao nascer)
e educação (taxa de alfabetização de adultos e matrículas no ensino fundamen-
tal, médio e superior).

Bons estudos!
1
Economia de
mercado
1.  Economia de mercado
1.1  Noções de economia de mercado

1.1.1  A relação da economia com o conhecimento jurídico

Ao iniciar o estudo do Direito, o discente vê como uma das suas disciplinas a


economia Política. é frequente, no decorrer dos anos, a indagação de “qual a
relação que há entre essas duas áreas?”. A estranheza sentida por alguns não é
de todo infundada, mas se deve muito mais aos rumos que essas duas áreas das
ciências sociais tomaram no decorrer do tempo do que aos fundamentos que
as sustentam e as fazem ser tão relevantes para a sociedade.
Contudo, tanto o direito quanto a economia se originam do mesmo conjun-
to de questões, pois são frutos da tentativa humana de entender como os indi-
víduos se organizam socialmente e produtivamente, como se entendem e como
formulam o entendimento sobre o outro. Suas origens estão, portanto, nos pri-
meiros textos filosóficos, sendo o campo da “Filosofia” sua origem comum.
O objeto de estudo do direito enquanto área do conhecimento é a “relação
humana”, ou seja, o conjunto de relações que ocorrem entre os seres humanos
que se comunicam (as relações sociais), pois indivíduos isolados, que não têm
outros seres humanos com quem se relacionar, não travam este conjunto de
relações. A valoração jurídica é relativa à relação humana, na medida em que
o comportamento de um indivíduo se defronta com os comportamentos inter-
complementares dos outros indivíduos, sendo esta uma relação intersubjetiva,
pois ocorre entre duas ou mais pessoas. As “Leis”, como são conhecidas, dis-
ciplinam ou buscam disciplinar a relação humana, ou seja, as formas como os
indivíduos travam (ou devem travar) as suas relações sociais.
A análise jurídica dessas relações cria uma norma de “dever-ser” – regras
e regulamentos, que podem ser explícitos ou tácitos – que estabelece a forma
e o conteúdo através dos quais aquelas relações são válidas e aceitas, além de
estudar o conjunto das normas já criadas. Assim, essas normas de “dever-ser”
estabelecem a forma como as relações devem ser travadas entre os indivíduos e
o modo como passam a ser aceitas por estes.
De acordo com cada época e/ou lugar, a “relação jurídica” apresenta conteú-
dos diferentes, podendo ser interpretada tanto como a representação dos inte-
resses coletivos, como reflexo dos interesses da “classe dominante”. contudo

10 • capítulo 1
entanto, tanto de uma como de outra, a relação jurídica vem acompanhando
e, algumas vezes, buscando condicionar as transformações ocorridas na forma
como os indivíduos se relacionam. Portanto, a “Norma Jurídica” representa o
conjunto de todos os contextos de relações jurídicas expressas na manifestação
da vontade social, sendo o direito o reflexo do entendimento dos indivíduos em
cada época e em cada local, como resultado daquilo que é considerado melhor,
mais adequado e mais justo.
É nesse contexto de transformações das relações sociais que o direito e a
economia se apresentam de forma inter-relacionada, pois é no bojo das trans-
formações ocorridas nas relações entre senhores e servos no final da Idade
Média que a valorização de cada pessoa como dotada de uma individualidade
própria, passa a definir o direito de “SER”, valorizando cada um como um in-
divíduo provido de direitos que são extensivos a todos de forma igual, formu-
lando a ideia de “individualidade”, fundamento básico para a criação de uma
nova categoria social, a dos “cidadãos”, distinta da dicotomia até então vigente
– nobreza ou servos.
Contudo, esses direitos individuais consagrados nos primeiros códigos ci-
vis, se centralizavam em torno das garantias do direito de propriedade, o direito
de “TER”, na medida em que tinham como fundamento básico a garantia das
transformações sociais em curso, marcadas pela decadência econômica e po-
lítica da nobreza e pela ascensão dos homens livres por suas atividades comer-
ciais – mercantis. Nesses termos, o “direito de ser” vinculava-se ao “direito de
ter”, na medida em que somente aqueles dotados de individualidade e, portan-
to, de direitos, poderiam ser identificados como capazes de “possuir”, isto é, de
ter propriedades e estas serem respeitadas.
As ideias contidas na construção desse “indivíduo atomizado”, criatura
única, possuidora de direitos, podem ser claramente identificadas nos pri-
meiros textos da economia moderna (pós-Idade Média), conhecidos como
“Liberalismo Econômico”, que pregavam a autonomia do indivíduo em suas
atividades empresariais e a liberdade de realizarem suas transações como bem
entendessem, sem nenhuma intervenção.
Contudo, o processo de transformações sociais em curso se deu de forma
que os direitos individuais-e, portanto, o “indivíduo atomizado”, – cedesse lu-
gar à ideia do indivíduo como componente de um coletivo – uma “comunidade”
– em que os interesses do todo (coletivo) passaram a se sobrepor aos interesses
individuais, fazendo com que indivíduos dotados de direitos fossem também

capítulo 1 • 11
dotados de obrigações. Passando a “regra jurídica” a ser um instrumento do
desenvolvimento econômico e não mais a busca da consagração da perfeição
das relações humanas – em regras de como “devem ser” as relações entre os
indivíduos – transformando-se num instrumento para alcançar o “bem-estar”
econômico coletivo, expresso no desenvolvimento econômico, na ampliação
da riqueza e na prosperidade comum.

1.1.2  Importância do estudo da Economia para o curso de Direito

Economia e Direito
A importância do estudo da Economia para o Curso de Direito é fornecer
uma visão das principais questões econômicas de tal forma que se possa ter
melhor compreensão da realidade econômica e suas relações com as Normas
Jurídicas. O direito em geral desempenha uma função importante na organiza-
ção da atividade econômica.
Princípios legais que estão por trás das medidas de política econômica
sãoparte integrante do presente estudo e serão analisados durante as diversas
unidades. Como exemplo, pode-se citar a intervenção por parte do governo em
atividades econômicas como Oligopólios e Monopólios.
Conceitos como escolha, necessidades, recursos, escassez, produção e dis-
tribuição fazem parte tanto do direito como da economia.
Como esses termos se relacionam com o campo do direito?
Qual a sua relevância para o estudo do direito?
Essas são algumas das questões a serem abordas ao longo do curso.
No entanto, toda decisão de intervenção, seja ela política, econômica e/ou
jurídica, por parte de qualquer agente da sociedade deve sempre objetivar o
bem-estar social.

Fatos, fenômenos e leis econômicas


Quando se observa a existência de fatos ou fenômenos econômicos como a
troca, o trabalho e a moeda, e quando esses fatos ou fenômenos estão ligados
entre si por relações constantes e conhecidas, surgem as leis econômicas.
Registrar fatos e fenômenos econômicos procurando estabelecer entre eles
as relações constantes ou Leis Econômicas é a finalidade própria da econo-
mia política.

12 • capítulo 1
Entretanto, a observação das Leis Econômicas não é perfeita, como se veri-
fica com as Leis do mundo físico.
Com relação à constituição dos fenômenos sociais e jurídicos, vale ressaltar
que a função social tem relevância na seara jurídica, por envolver aspectos polí-
ticos, econômicos e sociais.
As desigualdades latentes no convívio em sociedade ao longo da história
passaram a requerer soluções que fossem capazes de reduzir o quadro de injus-
tiças existentes em cada época, principalmente em virtude da distância entre o
que determinava a lei e o que se verifica na realidade social atual.
Daí o fenômeno jurídico englobar todos os eventos, provenientes da ativida-
de humana ou decorrentes de fatos naturais capazes de ter influência na órbita
do direito por transferir, conservar, modificar ou extinguir as relações jurídicas.

1.1.3  Conceituação básica

Definição
Economia é uma ciência social que estuda a produção, a circulação e o con-
sumo de bens e serviços e como o indivíduo e a sociedade decidem empregar
recursos produtivos escassos na produção, de modo a distribuí-los entre as vá-
rias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer às necessidades huma-
nas. Economia também pode ser definida como a administração da escassez
dos recursos de produção.
Essa definição contém vários conceitos importantes que são a base e o obje-
to do estudo da Ciência Econômica:

Escolha, necessidades, recursos, escassez, produção e distribuição.


Em qualquer sociedade, os recursos de produção são escassos; contudo, as
necessidades humanas são ilimitadas e sempre se renovam. O ser humano não
se satisfaz com o que tem, sempre desejando mais coisas. Isso obriga a socieda-
de a escolher entre alternativas de produção e de distribuição dos resultados da
atividade produtiva aos vários grupos da sociedade.
A escassez de recursos humanos e materiais, evidenciados pela existência
de preços, impõe a necessidade de distribuir recursos entre alternativas de uso
presente e futuro. Logo, a escolha é a essência da tomada de decisão econômi-
ca. É necessário avaliar o valor relativo dos diferentes tipos e quantidades de
bens de consumo e serviços (Ex.: pão, automóveis, geladeiras, apartamentos,

capítulo 1 • 13
escolas etc.) em relação uns aos outros e em relação à oferta futura que pro-
vavelmente se tornará disponível se esses recursos presentes forem desviados
para a produção de bens de capital (ex.: portos, estradas, pontes, fábricas).

Necessidades X Escassez de ⇒ Problema


humanas recursos ↓
ilimitadas Solução:
(ato econômico) “escolha”

Distribuir (alocar) recursos

Como esses conceitos e essas definições se relacionam com o Direito?


A Economia é uma ciência social, assim como o Direito, que depende das
relações humanas, na esfera familiar ou mesmo na organização do Estado, e
que, através de suas normas rege as relações econômicas.
Como esses conceitos e essas definições se relacionam com o Direito?
Quando se define Economia como uma ciência social que estuda como o indi-
víduo e a sociedade decidem empregar recursos produtivos, o direito também é
uma ciência social que, através de suas normas, regula as relações econômicas.
Os diversos ramos da ciência jurídica se relacionam com a economia:
Direito Constitucional, Direito Empresarial, Direito Administrativo, Direito
Penal, Direito do Trabalho e Direito Internacional, entre outros.
Pode-se citar como exemplo a importância do Direito Financeiro, que trata
da captação e da gestão dos recursos econômicos para que os órgãos públicos
possam cumprir com suas obrigações. Da mesma forma que qualquer cidadão,
o Estado carece de recursos para satisfazer às suas necessidades de realizar
obras e prestar serviços à sociedade. Daí a importância do Direito Financeiro,
cuja autonomia é implicitamente reconhecida na Constituição Federal do
Brasil de 1988, tendo em vista o disposto nos arts. 145 a 169.

1.1.4  Sistemas econômicos

Definição
Um sistema econômico pode ser definido como sendo a forma política, so-
cial e econômica pela qual está organizada uma sociedade, para desenvolver as
atividades econômicas de produção, circulação e consumo de bens e serviços.

14 • capítulo 1
Os elementos básicos de um sistema econômico são:
Fatores de produção: são os recursos humanos, o capital, os recursos natu-
rais e a tecnologia/conhecimento.
Unidades de produção: são as empresas.
Instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais que constituem a base
de organização da sociedade.

Classificação dos sistemas econômicos


a) Sistema capitalista ou economia de mercado:
É aquele regido pelas forças de mercado, predominando a livre iniciativa e a
propriedade privada dos fatores de produção.
Com relação à livre iniciativa e à propriedade privada, esses conceitos po-
dem ser visualizados no caput do artigo 170 da Constituição Federal do Brasil
de 1988.
Vale ressaltar que, pelo menos até o início do século XX, prevalecia nas eco-
nomias ocidentais o sistema de livre concorrência (concorrência pura), em que
não havia intervenção do Estado na atividade econômica.
No entanto, em 1930, passou a predominar o sistema de economia mista,
em que prevalecem as forças de mercado, mas com a atuação e intervenção do
Estado, através das ideias do economista inglês John Maynard Keynes.
b) Sistema socialista ou economia centralizada
É aquele em que as questões econômicas fundamentais são resolvidas por
um órgão central de planejamento, predominando a propriedade pública dos
fatores de produção, chamados nessas economias de meios de produção.
Os bens de produção são de controle direto do Estado.
É aquele em que as questões econômicas fundamentais são resolvidas por
um órgão central de planejamento, predominando a propriedade pública dos
fatores de produção, chamados nessas economias de meios de produção.
Os bens de produção são de controle direto do Estado.

1.1.5  Fatores de produção

Todo indivíduo precisa atender às suas necessidades, por mais elementares


que sejam. Se observar bem, verifica-se que tudo que existe no planeta é finito.
Certos bens que são encontrados na natureza com aparente abundância de
reservas (tais como água potável, matas, florestas etc.) já se tornam escassos,
representando um sério problema para as sociedades futuras.

capítulo 1 • 15
Nesse sentido, preliminarmente, o estudo da economia nada mais é do que
o estudo de como atender às necessidades humanas observando-se o fenôme-
no da escassez dos recursos ou fatores de produção.
Mas o que se entende por necessidades humanas?
Entende-se por necessidades humanas tudo de que o ser humano precisa
(alimentos, vestuário, moradia, saúde, educação, lazer etc.) e que deseja pos-
suir (brinquedo, reconhecimento profissional, status etc.) nas várias etapas de
sua vida.
É importante notar que essas necessidades humanas têm duas caracterís-
ticas, a saber:
a) são ilimitadas, no sentido de que é próprio de qualquer indivíduo que-
rer possuir sempre mais coisas do que já tem;
b) são diversificadas, no sentido de que cada indivíduo possui sua escala
de prioridades e desejos.

Entende-se por recursos ou fatores de produção tudo que, de certa forma,


pode ser utilizado para a produção de um bem ou de um serviço.
Esses fatores de produção subdividem-se em:
a) Terra ou recursos naturais: o que existe na natureza (florestas, rios,
oceanos, clima etc.);
b) Trabalho ou mão de obra: força de trabalho economicamente ativa;
c) Capital: riquezas acumuladas pela sociedade, utilizadas no processo
produtivo como capital fixo (máquinas, ferramentas, prédios, galpões, estra-
das, etc.) e capital monetário (dinheiro);
d) Tecnologia e conhecimento: habilidade que é utilizada no processo
produtivo, na busca de sua contínua melhora e expansão.

Os fatores de produção também possuem duas características bem definidas:


a) são escassos – e, portanto, têm preço;
b) são versáteis – no sentido de que um mesmo fator de produção pode ser
empregado em diversos processos produtivos.

Sendo que, cada um destes fatores recebe uma remuneração específica


pela sua participação no processo produtivo:
a) Terra ou recursos naturais → Aluguel;
b) Trabalho ou mão de obra → Salário;

16 • capítulo 1
c) Capital (fixo e monetário) → Juro;
d) Tecnologia e conhecimento → Royalty e lucro.
Então, pelo que já foi visto, assim pode-se definir economia:
“A Economia é o estudo da maneira pela qual os homens utilizam recursos
produtivos (fatores de produção) escassos e versáteis para produzir bens (mer-
cadorias e serviços) para satisfazer às necessidades ilimitadas e diversificadas
dos membros da sociedade”.

1.1.6  Problemas econômicos fundamentais:

a) O que e quanto produzir?


A sociedade deverá escolher, dentro das possibilidades de produção, quais
produtos e quantidades deverão ser produzidos. O resultado do processo pro-
dutivo serão os bens (coisas físicas, tangíveis, como, por exemplo, a geladeira,
o fogão, o sapato etc.) e os serviços (coisas intangíveis, como, por exemplo, os
serviços de educação, segurança, hospitalares etc.). Esses bens e serviços, por
sua vez, poderão ser de consumo (duráveis e não duráveis) e de capital.
Os bens de consumo durável são aqueles que não acabam no ato de consu-
mo (geladeira, móveis etc.), enquanto que os bens de consumo não duráveis
são os que terminam no ato de consumo (alimentos, bebidas etc.)

b) Como e onde produzir?


A sociedade deverá escolher quais os recursos produtivos serão utilizados,
considerando-se o nível tecnológico disponível. Como e onde se dará o proces-
so produtivo implica em tentar adotar as melhores técnicas de produção dispo-
níveis, que deverão ser utilizadas em três possíveis cenários (setores da econo-
mia), a saber: setor primário, setor secundário e setor terciário.
No setor primário ocorrerão as atividades de lavouras, extração animal e ex-
tração vegetal.
No setor secundário ocorrerão as atividades de extração mineral, da indús-
tria de transformação, da indústria da construção e de semi-industriais (ener-
gia elétrica, gás encanado, tratamento e distribuição de água etc.).
No setor terciário ocorrerão as atividades do comércio, mercado financeiro,
transporte, comunicação, lazer, saúde, educação etc. e do governo.
Obs.: É importante observar que os bens tangíveis são produzidos nos se-
tores primário e secundário, e os bens intangíveis (serviços), no setor terciário.

capítulo 1 • 17
c) Para quem produzir?
A sociedade deverá escolher como os indivíduos deverão participar do resul-
tado da produção. Considera-se que a distribuição de tudo que foi produzido se
dará levando-se em conta dois aspectos:
– a quantidade e qualidade dos fatores que o indivíduo empregou no pro-
cesso produtivo; e
– o preço que conseguiu receber pelo uso desses fatores.

1.2  O consumidor (demanda) e o produtor (oferta)

1.2.1  Microeconomia e Macroeconomia

Microeconomia é o segmento da Teoria Econômica que estuda a formação de


preços no mercado, ou seja, o funcionamento do mercado de um determinado
produto ou grupo de produtos, analisando o comportamento dos compradores
e vendedores. Consiste na análise mais individualizada dos agentes econômi-
cos. Mercado é o lugar onde os compradores (demandantes) de bens ou servi-
ços se encontram com os vendedores (ofertantes), com o objetivo de concreti-
zar a transação.
O estudo da microeconomia parte do princípio de que as pessoas reagem
racionalmente. Os consumidores tentam gastar seu orçamento de forma que
lhes dê o máximo de prazer possível. Como dizem os economistas, eles maxi-
mizam a utilidade. No ponto de vista dos empresários, eles procuram o maior
lucro que podem extrair de suas operações.
Macroeconomia é o segmento da Teoria Econômica que estuda o funciona-
mento da economia como um todo, sendo responsável pelo estudo do relacio-
namento dos grandes agregados–por exemplo, o mercado externo, o nível de
emprego, o consumo, a poupança e o investimento da economia.

1.2.2  Fatores determinantes da demanda, objetivo do consumidor e lei geral da


demanda

Conceito de utilidade
Um dos fundamentos da análise da demanda ou procura é o conceito de
utilidade. A utilidade é um conceito subjetivo, mas representa a qualidade e a
satisfação que os consumidores atribuem aos bens e serviços que se pode ad-
quirir no mercado, variando de consumidor para consumidor.

18 • capítulo 1
Demanda de mercado
A demanda ou procura pode ser definida como a quantidade de um deter-
minado bem ou serviço que os consumidores desejam e podem adquirir em
determinado período de tempo.
Existem variáveis que influenciam a escolha do consumidor, e, consequen-
temente, sua demanda por um bem ou serviço. O preço do bem ou serviço, os
preços dos bens substitutos ou complementares, a renda do consumidor e seus
hábitos, gostos e preferências. Para estudar a influência dessas variáveis, utili-
za-se a hipótese do coeteris paribus, ou seja, é usada para lembrar que todas as
variáveis, que não aquelas que estão sendo utilizadas, são mantidas constantes.

Relação entre quantidade procurada e o preço do bem


A chamada Lei Geral da Demanda evidencia uma relação inversamente pro-
porcional entre a quantidade procurada e o preço do bem, coeteris paribus. Um
aumento do preço do produto resultará na redução de sua demanda. Por sua
vez, uma queda do preço do produto resultará no aumento de sua demanda.
Outras variáveis que afetam a demanda por um bem:
a) Renda dos consumidores
No caso de um bem normal, se a renda dos consumidores aumenta, a de-
manda do produto também aumenta.
b) Bens substitutos
Quando há uma relação direta entre o preço de um bem e a quantidade de
outro, tudo o mais constante. Exemplo: um aumento do preço da carne deve
elevar a demanda por frango.
c) Bens complementares:
Quando há uma relação inversa entre o preço de um bem e a demanda de ou-
tro. Exemplo: quantidade de automóveis e preço da gasolina, ou seja, se o preço
do automóvel aumentar, a quantidade demandada de gasolina diminuirá.
d) Preferências dos consumidores
Os gastos com publicidade objetivam aumentar a procura de bens e servi-
ços, influenciando as preferências dos consumidores.

Alguns conceitos de bens :


a) Bem normal
Se a renda dos consumidores aumenta e a demanda do produto também,
tem-se um bem normal.
b) Bem inferior

capítulo 1 • 19
Se a renda dos consumidores aumenta e a demanda do produto diminui,
tem-se um bem inferior. Exemplo: um automóvel de segunda linha,
c) Bens de consumo saciado
Quando a demanda do bem não é influenciada pela renda dos consumido-
res. Exemplo: sal, farinha etc.

1.2.3  Fatores determinantes da oferta, objetivo da firma e lei geral da oferta.

Oferta de mercado
Oferta de mercado são as várias quantidades que os produtores desejam
oferecer ao mercado em determinado período de tempo. Em relação à Lei da
Oferta, a quantidade ofertada de um produto (ou serviço) é diretamente relacio-
nada com seu preço, coeteris paribus. Se o preço de um bem aumentar haverá
uma expansão na quantidade ofertada.

Fatores determinantes da oferta


A oferta depende de vários fatores, como o preço do bem em questão, os de-
mais preços, o preço dos fatores de produção (matérias-primas, salários, preço
da terra), as preferências dos empresários, as alterações tecnológicas, o aumen-
to do número das empresas no mercado.
Vale ressaltar que a relação entre a oferta e os custos dos fatores de produ-
ção é inversamente proporcional. Exemplo: um aumento nos salários, tudo o
mais constante, provoca uma retração da oferta de um produto.
No entanto, uma melhoria tecnológica é diretamente proporcional, ou seja,
tudo o mais constante, deve provocar uma expansão da oferta.

Objetivo da firma
Partindo-se de uma análise tradicional, o empresário sempre busca maxi-
mizar o lucro total, otimizando a utilização de todos os recursos de que dispõe.

1.2.4  Tendência de equilíbrio

O equilíbrio no mercado é definido como o preço que iguala as quantidades de-


mandadas pelos compradores com as quantidades ofertadas pelos vendedores.
O mercado regula os interesses de produtores e consumidores: os produ-
tores querem ganhar o máximo possível, enquanto os consumidores querem

20 • capítulo 1
pagar o mínimo possível. O resultado desse processo são os preços de equilí-
brio, ou seja, é o patamar em que os consumidores e os produtores realizam
seus interesses.
Numa situação de escassez do produto, as quantidades demandadas serão
maiores que as ofertadas, o que resultará em elevação de preços e/ou no au-
mento da quantidade ofertada, até atingir-se o equilíbrio.
Entretanto, numa situação de excedente de produção, o que resultará numa
competição entre os produtores, conduzindo a uma redução dos preços ou na
quantidade ofertada, até que se atinja o ponto de equilíbrio.
Assim sendo, quando há competição tanto dos compradores (demandan-
tes) quanto dos vendedores (ofertantes), há uma tendência natural no mercado
para se chegar a uma situação de equilíbrio.
Os compradores e os vendedores conduzem automaticamente o mercado
para um equilíbrio. Uma vez atingido esse equilíbrio, os compradores e vende-
dores estão satisfeitos e, portanto, não há pressão sobre o preço. A rapidez e a
velocidade destes ajustes variam de mercado para mercado. Nos mercados de
concorrência pura, o excesso e a escassez são apenas temporários, e o ajuste
tende a ser mais rápido. É necessário ponderar que podem ocorrer as imperfei-
ções de mercado, ou seja, situações nas quais os preços não são determinados
isoladamente em cada mercado.

1.2.5  Políticas de preços: congelamento, preços mínimos e tabelamento.

As imperfeições de mercado
Consiste na análise das imperfeições de mercado em que, se verificam situa-
ções nas quais os preços não são determinados isoladamente em cada mercado.

Interferência do governo no equilíbrio de mercado


O governo intervém na formação de preços de mercado, a nível microeco-
nômico, quando fixa imposto e subsídio, estabelece os critérios de reajuste do
salário mínimo, fixa preços mínimos para produtos agrícolas, decreta tabela-
mentos ou, ainda, congelamento de preços e salários.

Política de preços mínimos na agricultura


Consiste numa política governamental que visa dar uma garantia de preços
ao produtor agrícola, com o objetivo de resguardá-lo contra os riscos eventuais

capítulo 1 • 21
advindos de variação nos preços de mercado, evitando que uma acentuada que-
da de preços venha causar um desestímulo ao produtor e sérios prejuízos à ren-
da e à produção agrícola. O governo oferece um preço mínimo que ele pagará
ao produtor agrícola após a produção. Se os preços mínimos forem superiores
aos preços de mercado, por ocasião da produção, o produtor deverá vender seu
produto para o governo ao preço mínimo fixado. Com o preço mínimo acima
do preço de equilíbrio de mercado, tem-se um excedente de produto em poder
do governo, que possivelmente, será utilizado como estoque regulador nos pe-
ríodos da entressafra.

Tabelamento
O governo poderá implantar um tabelamento de preços, visando impedir
abusos por parte dos vendedores. Entretanto, se o governo tabelar o preço num
valor inferior ao de equilíbrio, resultará em escassez do produto, com o surgi-
mento de filas, ágio e mercado paralelo.

1.2.6  Importância dos conceitos de oferta e demanda para o curso de Direito

A legislação do consumidor amplamente empregada em nossa sociedade tem


uma relação direta com os conceitos de oferta e demanda. Por exemplo, a oferta
insuficiente de determinados produtos básicos, como os medicamentos, pode
causar sérios danos à população dependente desses produtos. Estudar o mer-
cado desses bens poderá evitar sua escassez através de medidas que venham a
incentivar a produção. Aspectos jurídicos estão presentes nessas análises e nas
formas de incentivo.
Analisar a oferta de um determinado produto permite aos agentes tomarem
decisões que venham impedir prejuízos à sociedade. Uma empresa poderá es-
tar sujeita à insolvência por um desequilíbrio entre oferta e demanda de seus
produtos. O advogado não atua somente no aspecto jurídico da Recuperação
Judicial, mas deverá ser capaz de participar das discussões sobre as alternativas
disponíveis para a empresa.
Por sua vez, a atuação do empresário no mercado deverá ser regulada para
impedir abusos que venham a desequilibrar a relação entre os compradores e
os produtores. Serão objeto de análise mais adiante as formas de concentração
excessiva em um único ou poucos produtores e seu impacto no consumidor.

22 • capítulo 1
Os tabelamentos de preços ocorridos durante a década de 1980 no Brasil
causaram sérios transtornos às pessoas, que se viram privadas de seu direito
básico de consumidor. Essas decisões causaram prejuízos ao Estado, que ainda
tem de conviver com inúmeras ações judiciais de reposição das perdas. O Plano
Real que estabilizou os preços, foi articulado com a participação de juristas re-
nomados, fator que contribuiu para o seu sucesso.
Situações de escassez em que a demanda é superior à oferta pode reque-
rer medidas como o incentivo à importação. Esse procedimento é importante
para evitar que a pressão de demanda venha a impactar os preços do produto.
O processo de importação vai envolver uma série de decisões relativas à legisla-
ção aduaneira.

1.2.7  Formas de intervenção do Estado na economia

Classificação:
Podemos definir como formas de intervenção do Estado na ativida-
de econômica:
a) Absorção: nesse caso, o governo atua de forma monopolista na ativida-
de econômica. O caput e o inciso V do art. 177 da Constituição Federal Brasileira
de 1988 estabeleceo que “Constituem monopólio da União, a pesquisa, a lavra,
o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de mi-
nérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos radioisótopos
cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob regi-
me de permissão […]”.
b) Participação: o governo atua em conjunto com a inciativa priva-
da na realização de determinada atividade econômica. O art. 199 e § 1º. da
Constituição Federal brasileira de 1988 estabelecem que “A assistência à saúde
é livre à iniciativa privada. § 1º - As instituições privadas poderão participar de
forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, me-
diante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades
filantrópicas e as sem fins lucrativos”.
O sistema de atuação concomitante entre setor público e setor privado tam-
bém ocorre com a Educação. Conforme o art. 209 e incisos I e II da Constituição
Federal brasileira de 1988, “O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as
seguintes condições: I - cumprimento das normas gerais da educação nacional;
II - autorização e avaliação de qualidade pelo poder público”.

capítulo 1 • 23
c) Direção: nessa situação, o Estado atua na economia através da edição
de leis utilizando seu poder de pressão. O art. 174 da Constituição Federal bra-
sileira de 1988 estabelece que “Como agente normativo e regulador da ativida-
de econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização,
incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indi-
cativo para o setor privado”.
d) Indução: o governo, nesse caso, atua na atividade econômica conceden-
do benefícios fiscais, oferecendo crédito através do sistema financeiro ou mes-
mo estimulando o desenvolvimento através de instituições oficiais de fomento.

Intervenção direta e indireta


O Estado pode atuar de forma direta ou indireta no domínio econômico.
a) Intervenção direta: a intervenção de forma direta ocorre através das
empresas públicas e como sociedade de economia mista e de suas subsidiá-
rias, sendo permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacio-
nal ou a relevante interesse coletivo, O art. 173 da Constituição Federal, § 1º e
inciso I, prevê que a lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública,
da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade
econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de servi-
ços, dispondo sobre sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e
pela sociedade.
Artigo 173 da Constituição Federal brasileira de 1988, caput, prevê:
“Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta da ati-
vidade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos impe-
rativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme defi-
nido em lei”.
Na atuação direta, o Estado atua como empresário comprometido com a ge-
ração de atividade econômica, sendo regido ou por um regime concorrencial
(por exemplo a Caixa Econômica Federal) ou em um regime monopolístico (por
exemplo a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – monopólio estabeleci-
do no art. 21 , X da Constituição Federal de 1988).
Através da intervenção direta, o Estado passa a concorrer com as empresas
privadas, seja como empresa pública ou como sociedade de economia mista,
atuando na economia como empresário, não podendo gozar de privilégios fis-
cais não extensivos às do setor privado.

24 • capítulo 1
A partir dos anos 1960 inicia-se o questionamento do custo e da eficiência
da intervenção direta do estado na Economia, associado a uma depreciação
dos serviços públicos oferecidos, uma vez que ocorre um esgotamento da ca-
pacidade estatal de investir em novas tecnologias. A partir de 1985 verifica-se,
no Brasil, assim como no mundo, o fenômeno de desregulamentação. Não que
o Estado seja eliminado, mas ele assume novas funções e transfere à iniciati-
va privada atividades até então exploradas pelo Estado. O Direito Econômico,
como um conjunto de normas que regem a organização do mercado, cria, apli-
ca e preside as novas regras de conduta de mercado.
b) Intervenção indireta: a intervenção indireta ocorre com o Estado assu-
mindo o papel de agente normativo e regulador da atividade econômica. O art.
174 da Constituição Federal de 1988 estabelece que o Estado exercerá, na forma
da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento.
Artigo 174 da Constituição Federal brasileira de 1988: “Como agente nor-
mativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei,
as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante
para o setor público e indicativo para o setor privado”.
A atuação indireta permite ao Estado executar a política econômica, procu-
rando assegurar o desenvolvimento sustentado da economia, com pleno em-
prego dos fatores de produção, estabilidade de preços, e distribuição de renda.
O Estado, na atuação indireta, adota políticas econômicas para conduzir,
estimular e apoiar a atividade econômica empreendida pelos particulares. Os
objetivos principais dessas políticas econômicas são de assegurar o crescimen-
to sustentável da economia, assegurar o elevado nível de emprego, relativa es-
tabilidade de preços e garantir o equilíbrio das contas externas. Para atingir
esses objetivos, o Estado adota uma série de medidas econômicas que são ins-
trumentos para atingir esses objetivos fundamentais. A adoção de uma política
econômica pode levar a um conflito com o objetivo de outra. Por exemplo, a
adoção de uma política energética pode levar conflitos com os objetivos da po-
lítica ambiental.

1.2.8  Outras formas de intervenção do Estado

A Constituição Federal prevê a situação em que o Estado pode intervir para


garantir o abastecimento alimentar. O caput e inciso VIII do art. 23 dispõe
que “É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

capítulo 1 • 25
Municípios, fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimen-
to alimentar”.
Na questão da regulação do abastecimento alimentar e do combate à fome
e à miséria, cabe mencionar o art 1o da lei no. 9.077 de 10/07/1995, em que “É
o Poder executivo autorizado a doar estoques públicos de alimentos, in natura
ou após beneficiamento, diretamente às populações carentes, objetivando o
combate à fome e à miséria, bem como às populações atingidas por calamida-
des ou emergências, mediante proposta conjunta do Ministério da Agricultura,
do Abastecimento e da Reforma Agrária e da Casa Civil da Presidência da
República.
A intervenção do Estado na questão energética, para sua regulação e abas-
tecimento, consta do art. 1o. da lei no. 9.478 de 06/08/97, que dispõe sobre a
Política Energética Nacional e estabelece seus princípios e objetivos, “As po-
líticas nacionais para o aproveitamento racional das fontes de energia visarão
os seguintes objetivos: I- preservar o interesse nacional; II- promover o desen-
volvimento, ampliar o mercado de trabalho e valorizar os recursos energéticos;
III- proteger os interesses do consumidor quanto a preço, qualidade e oferta de
produtos; IV- proteger o meio ambiente e promover a conservação de energia;
V- garantir o fornecimento de derivados de petróleo em todo o território nacio-
nal, nos termos do &2o. do art. 177 da Constituição Federal; VI- incrementar,
em bases econômicas, a utilização de gás natural; [...]; IX- promover a livre con-
corrência; X- atrair investimentos na produção de energia; XI- ampliar a compe-
titividade do País no mercado internacional”.
O governo vem atuando na questão dos direitos e obrigações relativos à
Propriedade Industrial. A quebra de patentes na questão dos remédios junto à
Organização Mundial de Saúde (OMS) tem sido um dos mecanismos utilizados
pelo governo para regular o mercado. A lei no. 9.279 de 14/05/96, estabelece a
proteção dos direitos relativos à Propriedade Industrial, considerado seu inte-
resse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País. O art. 3o. e
incisos da referida lei, garante o direito adquirido por patente ou registro prove-
niente do exterior assegurada por tratado ou convenção em vigor no Brasil, bem
como a reciprocidade de direitos iguais ou equivalentes. As invenções poderão
ser patenteadas por vinte anos, e os modelos de utilidade, empregados em uni-
dades industriais por 15 anos (art. 40). As penas aplicadas aos crimes contra as
patentes estão previstas na referida lei.

26 • capítulo 1
Com a criação das agências reguladoras, o Estado não fiscaliza diretamen-
te a atividade do mercado, mas se vale de organismos intermediários que re-
cebem influência do poder Executivo, Legislativo e Judiciário, além da ação
reivindicatória e controladora dos consumidores, principais destinatários da
atuação dessas entidades.

LEGISLAÇÃO APLICADA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988
Dentre os diversos artigos da Constituição Federal brasileira importantes
para o assunto abordado neste capítulo, cabe destacar os seguintes artigos:
Arts. 1º ; 5º; 21; 23; 24; 170; 173; 174; 175; 176; e 177.
LEI Nº 9.077/1995.
LEI Nº 9.279/ 1996.
LEI Nº 9.478/1997.

Estudo de casos

1. Opep vê excesso de oferta de petróleo encolher no 2° semestre (O


Globo, 13/06/2016)
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) prevê que o mer-
cado mundial de petróleo estará mais equilibrado no segundo semestre do ano,
conforme interrupções na produção na Nigéria e no Canadá ajudam a reduzir
mais rápido que o esperado um excesso de oferta que derrubou os preços.
A Opep apontou, em relatório mensal, que a produção caiu em 100 mil bar-
ris por dia (bpd) em maio, liderada por perdas na Nigéria. O grupo manteve
projeções de maior demanda sazonal no segundo semestre do ano e de queda
na produção fora do cartel.
"O excesso de oferta no mercado deverá cair ao longo dos próximos trimes-
tres", disse a Opep no relatório. "Interrupções da Nigéria e no Canadá reduzi-
ram a oferta no mercado de petróleo marcantemente e trouxeram oferta e de-
manda para mais perto de um alinhamento antes do que muitos esperavam,
impulsionando os preços."
O documento da Opep aponta para um excedente de oferta de 160 mil bpd
no segundo semestre deste ano se o grupo continuar produzindo no mesmo
ritmo observado em maio.

capítulo 1 • 27
O excesso de oferta no primeiro trimestre foi de 2,59 milhões de bpd, disse
a Opep.

Indagações
a) A partir do texto, o mercado de petróleo encontra-se em equilíbrio?
Fundamente a resposta.
b) Conforme o texto, comente sobre a tendência de preços no mercado
de petróleo.
b) Como o governo intervêm no mercado de petróleo brasileiro?

2. Demanda do setor aéreo deve seguir em queda, mas preço de passa-


gens pode subir (Estado de Minas, 04/01/2016)
A perspectiva de continuidade da fraqueza econômica do Brasil em 2016
deve seguir impactando o setor aéreo, fazendo com que a demanda por voos do-
mésticos continue em queda no ano que vem. Com isso, as principais compa-
nhias do setor devem permanecer focadas em preservar seu caixa, dando pros-
seguimento ao corte na oferta de assentos. Contudo, caso o cenário econômico
se deteriore ainda mais, outras medidas podem ser tomadas, como o reajuste
nos preços das passagens e, em último caso, o corte de postos de trabalho.
Em meio à queda na demanda, o sócio da KPMG no Brasil, Marcio Peppe,
destaca que, em um cenário de forte desvalorização do real, as aéreas precisa-
rão lidar com a pressão nos custos. "Quando se tem o preço do combustível
denominado em dólar, por mais que ocorra uma queda no preço do barril do
petróleo, esse preço em dólar acaba gerando um aumento de custo em moeda
nacional", diz o sócio da KPMG, ressaltando que os contratos de arrendamento
de aeronaves, com parcelas em moeda estrangeira, e os custos para manuten-
ção de motores e aeronaves, também precificados em dólar, representam ou-
tras fontes de pressão para as empresas.
Se considerarmos que a principal fonte de receita é a venda de passagens no
mercado doméstico, em real, há um descasamento entre receitas e despesas",
afirma o sócio da KPMG.
Contornar esse quadro de demanda em baixa e custos em alta é "pratica-
mente impossível" no curto prazo, segundo o coordenador técnico da Lafis
Consultoria, Felipe Souza. Para ele, uma das poucas medidas que as empresas
podem tomar para minimizar esse quadro são os cortes na oferta de assentos "a

28 • capítulo 1
fim de se readequarem à nova relação entre a oferta e a demanda, na busca por
maior rentabilidade". [...]
Segundo Souza, da Lafis, além do corte na oferta, uma possibilidade para as
aéreas é o reajuste nos preços das passagens. "Em alguma medida, as operado-
ras precisam repassar aos consumidores o impacto da desvalorização cambial
por meio do aumento da tarifa aérea, ainda mais em um cenário onde a mar-
gem operacional das aéreas se encontra em um patamar em que não é mais
possível absorver novos aumentos de custos".
Para Peppe, contudo, a possibilidade de aumento nas passagens pode ser
pensada, mas a conjuntura econômica impede reajustes muito amplos. "A não
ser em rotas de alta densidade, como uma ponte aérea, em que não necessaria-
mente a pessoa tem a possibilidade de deixar de viajar", disse. "Há a possibi-
lidade de reajuste, mas acho que não deve ser tão significativo para recompor
as perdas das companhias. Um aumento muito grande nos preços induz uma
redução maior da demanda." [...]

Indagações:
a) Com base no texto, comente sobre a relação entre a oferta e a demanda
por passagens aéreas no preço final do serviço.
b) Como o mercado aéreo poderá voltar a uma situação de equilíbrio?
Fundamente a resposta.
c) Como o governo poderá intervir no setor aéreo para evitar um desajuste
de preços e quais as consequências advindas dessa intervenção?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARREGOSA, J. M.; et al. Economia Política - Ênfase para o Curso de Direito. 1a.. ed. Rio de
janeiro: Forense, 2008.
GALVEZ, C., Economia Política Atual. 15ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
FIGUEIREDO, L. V.. Lições de Direito Econômico, Rio de janeiro: Forense, 2006.
GASTALDI, J. P. Elementos de Economia Política. 19a. ed., São Paulo: Saraiva, 2006.
GRAU, E. R.; A Ordem Econômica na Constituição de 1988, 7a. Ed., São Paulo:Malheiros, 2002.
LEOPOLDINO DA FONSECA, J. B. Direito Econômico. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
MANKIW, N. G. Introdução à economia. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2004.
VASCONCELLOS, M. A. S. Economia Micro e Macro, 3a. ed. São Paulo : Atlas, 2002.

capítulo 1 • 29
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA M. E. Fundamentos de Economia. 2ª. ed. São Paulo: Saraiva,
2004.
VICECONTI, P. E. V.; DAS NEVES, S. Introdução á Economia, 4ª. ed.. São Paulo: Frase, 2000.

30 • capítulo 1
2
Estruturas de
mercado e os
aspectos jurídicos
2.  Estruturas de mercado e os aspectos
jurídicos

2.1  Estruturas de mercado e os aspectos jurídicos

2.1.1  Conceituação de estruturas de mercado

As estruturas de mercado se dividem inicialmente entre o “mercado de bens


e serviços” e o “mercado de fatores de produção”. Pode-se representar a eco-
nomia através de um fluxo circular em que os seus diferentes componentes se
complementam, interagindo como fornecedores e consumidores uns dos ou-
tros, dependendo do mercado em que se encontrem. Famílias e empresas, por-
tanto, podem ser demanda ou oferta, dependendo da posição em que se encon-
trem no mercado. Assim, as empresas no “mercado de bens e serviços” são os
ofertantes, e os membros das famílias são seus demandantes; de forma oposta,
no “mercado de fatores de produção” os membros da família são os ofertantes
e as firmas/empresas são seus demandantes.
Dessa forma, pode-se entender o mercado como um conjunto de relações
que são travadas pelos agentes econômicos (demanda e oferta) em torno de um
dado produto ou conjunto de produtos em certo período de tempo. Sua estrutu-
ra irá, portanto, depender da forma como os agentes econômicos estão organi-
zados, sendo uma “estrutura de mercado” dada pela forma como fornecedores
e consumidores estão organizados no mercado para realizar as suas transação
de venda e compra. Assim, ao analisar o mercado pelo lado de como os fornece-
dores (oferta) estão organizados diante dos consumidores (demanda), têm-se
as estruturas do mercado de bens e serviços, mas se esta análise privilegiar a
forma como os consumidores estão organizados diante dos fornecedores, tem-
se as estruturas do mercado de fatores de produção.
Os mercados produtores estão estruturados de modo diferenciado, po-
dendo ser classificados do seguinte modo: concorrência perfeita, monopólio
e oligopólio.

32 • capítulo 2
2.1.2  Estruturas de mercado

a) Concorrência perfeita
A concorrência perfeita, ou competição pura, é a estrutura adequada, visan-
do ao funcionamento ideal da economia, servindo como parâmetro em face
das outras estruturas de mercado, daí, ser necessário preencher os seguintes
requisitos:
•  A existência de um número muito grande de empresas produtoras e de
compradores no mercado, mas nenhum destes tem condições suficientes de
influenciar o mercado;
•  Os bens, serviços ou produtos são padronizados, não diferenciados
(homogêneos);
•  As empresas não têm nenhum tipo de influência em relação aos pre-
ços dos produtos, informações privilegiadas; na realidade, este mercado
é transparente;
•  Não existem impedimentos, acordos, restrições, barreiras à entrada ou
saída de outras empresas no mercado (mobilidade);
A Constituição Federal de 1988, incorpora a livre iniciativa no Título VII – Da
Ordem Econômica e Financeira” em seu artigo 170, inciso IV, a saber:
Artigo 170-“A ordem econômica fundada na valorização do trabalho hu-
mano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, con-
forme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] IV-
livre concorrência;”

b) Monopólio
O monopólio é a falta, a ausência de concorrência, é uma figura que se situa
em sentido oposto ao da livre concorrência ora preceituada pela Constituição
Federal em seu artigo 170, inciso IV, pois tem o poder de influenciar o mercado,
significando a existência de um único fornecedor, podendo, neste caso, impor
o preço que mais lhe convenha para suas mercadorias e ficando, assim, sujeita-
do ao nível de vendas dele decorrente. Daí, o monopólio é o modo mais nítido
de poder de mercado. Tem como características básicas:
•  Existência de única empresa produtora no mercado, não existindo con-
corrência na oferta, ou seja, um único vendedor; ou um vendedor que controla
toda oferta do mercado;
•  Controle sobre a matéria - prima, produto ou serviço;

capítulo 2 • 33
•  Barreiras ao registro de novas patentes, afastando assim qual-
quer concorrente;
•  Não há produtos similares que podem ser substitutos;
•  Situação privilegiada na quantidade produzida e no preço, maximizando
assim o lucro. O monopolista está só e, decorrente deste estar só, tem liderança
para escolher o preço de suas vendas;
É importante ressaltar que o governo, em determinados casos, tem papéis
distintos quanto a esta estrutura de mercado monopolista. Em primeiro lu-
gar de combate, para evitar o abuso do poder econômico, e em segundo lugar
é quando o próprio governo garante, tornando-o inteiramente apropriado, a
exemplo dos monopólios do governo no controle de determinados setores es-
tratégicos, criando, assim, monopólios legais, garantindo o direito de proprie-
dade, direitos autorais, patentes, como no Correios, dentre outros monopólios
legais. Concluindo, todo monopolista não se preocupa com concorrentes, pois
não tem.
Quanto ao monopólio natural, é uma situação em que temos bens exclusi-
vos e com quase nenhuma rivalidade. Este tipo de mercado, em sua maioria, é
regulamentado pelo governo, sendo longo o prazo de retorno. Podem-se citar o
gás natural e a, distribuição de energia elétrica como exemplos.

c) Oligopólio
O oligopólio é uma situação de concentração de mercado, ou seja, é um tipo
de mercado dominado por um reduzido número de grandes empresas, com
alto grau de concentração local, e estas empresas influenciam no preço de mer-
cado de maneira ostensiva, o que leva as outras firmas a reagirem em face ao
abuso do poder econômico.
As empresas oligopolistas, que não são em grandes quantidades, promo-
vem o domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços, que podem
ser homogêneos ou diferenciados, formando barreiras à entrada de potenciais
concorrentes, efetuando gastos de grande monta em tecnologia de ponta, pro-
dução em larga escala, marketing, dentre outros, ou se associando aos grandes
grupos econômicos, inviabilizando a entrada de novas empresas no mercado.
Pode-se dar como exemplo as empresas do ramo de laboratórios farmacêuti-
cos, aço, alumínio, cimento, aviação, bancos, comunicação. Sendo assim, po-
de-se afirmar que a receita operacional destes oligopólios tem significativa in-
fluência no Produto Interno Bruto - PIB dos países.

34 • capítulo 2
Os oligopólios podem ainda se apresentar de forma diferenciada (oligopó-
lio diferenciado), quando os produtos dessas empresas apresentam diferentes
níveis de diferenciação (características particulares de cada produto) e se esta-
belece um nível de concorrência maior entre os participantes do mercado, ou
concentrada (oligopólio concentrado), quando o produto das empresas parti-
cipantes é tão idêntico – homogêneo – que estas passam a só ter a escala de
produção como forma de competição pelo mercado, fazendo com que apenas
empresas de porte e com alto nível de concentração do mercado, possam exis-
tir. Muitas vezes o grau de concentração é tão alto nestes mercados que apenas
duas empresas atuam, transformando sua estrutura num “duopólio”, caso ex-
tremo do oligopólio em que há apenas duas grandes empresas controlando a
oferta do mercado.
No que se refere ao oligopólio conivente, constituem num grupo de empre-
sas que, de modo tácito, colocam o mesmo preço nos seus produtos e/ou servi-
ços, porém com uma empresa liderando a fixação desses preços.
Cabe ressaltar algumas formas de organização empresarial presentes no
oligopólio: cartéis, trustes e holding.

Cartel
No cartel as empresas são legitimamente independentes e, de modo geral,
têm atuação no mesmo ramo, acordando entre si e promovendo a dominação
de mercado de modo geral, através da combinação de preços, no ramo de pro-
dutos ou de serviços. Sendo assim, pode-se identificar a caracterização de prá-
tica abusiva, com vistas ao domínio de mercado, aumentado expressivamente
seus lucros, contrariando, deste modo, a livre concorrência ora preceituada na
Constituição Federal brasileira em seu artigo 170, inciso IV.

Truste
Truste é uma estrutura empresarial em que empresas, em geral, do mesmo
ramo ou setor, e que detêm grande parte do seu mercado, organizam-se numa
nova empresa para em conjunto dominarem este mercado, fornecendo um
produto em comum e, com isso, eliminarem a concorrência e fixarem um pre-
ço único, de acordo com seus interesses. Esta é uma associação que pode dar-se
pela fusão ou combinação formal de empresas já existentes no mercado. Caso
esta associação se dê por uma combinação formal e não por uma fusão, as em-
presas envolvidas podem manter suas estruturas administrativas e produtivas

capítulo 2 • 35
separadas com intuito de retornarem as suas condições anteriores caso os re-
sultados obtidos não sejam os esperados.

Holding ou sociedade gestora de participações sociais


O holding é uma situação em que é criada uma empresa para que esta venha
a administrar um conglomerado empresarial. Assim, pode-se vislumbrar uma
poderosa estratégia de gestão, com o objetivo de promover o domínio de deter-
minada oferta de qualquer tipo de produtos e/ou serviços, visando engrandecer
seus lucros.
Para melhor entendimento, pode-se tratar o holding como sendo na rea-
lidade, uma sociedade empresarial juridicamente independente, porém seu
objetivo maior será a de participação no capital de outras sociedades empresa-
riais. Como exemplo, o verificado no setor bancário, no de seguros, dentre ou-
tros, pelo fato de virem a concentrar o controle de suas diversas empresas. Essa
forma de administração é muito praticada pelas grandes corporações nesta era
de globalização.
Concluindo este assunto, as fusões promovem em sua maioria, e cada vez
mais frequentemente, a instalação de grandes conglomerados empresariais,
pois detêm significativos recursos financeiros, favorecendo, desse modo, o
uso de tecnologia de última geração, trabalhando em economia de escala, di-
minuindo de modo predatório em sua maioria, a concorrência, especialmente
nos países em desenvolvimento.

2.1.3  Abuso do poder econômico

O abuso do poder econômico é uma prática de difícil identificação, pois não se


trata de uma empresa acompanhar o preço da outra, praticando o uso de preços
similares, como acontece na indústria automobilística, pois isto é competitivi-
dade, e não conluio. Sendo assim, cada vez fica mais difícil sua caracterização.
O artigo 173, parágrafo 4° da Constituição Federal, reprime o abuso do po-
der econômico para que não haja a dominação dos mercados, combatendo a
eliminação da concorrência como também o aumento arbitrário dos lucros.
Tal preceito constitucional foi complementado pela lei antitruste, Lei n° 8884
de 11 de junho de 1994, quase integralmente revogada pela Lei no. 12.529 de 30
de novembro de 2011, coibindo assim os atos de concentração, as infrações à
ordem econômica, reprimindo o abuso do poder econômico.

36 • capítulo 2
2.1.4  Preceito constitucional sobre a concorrência

A Carta Magna de 1988 enfatiza o livre mercado através de seus princípios ge-
rais, voltado para políticas públicas direcionadas ao bem-estar social. Enfati-
zando a importância de erradicar as desigualdades sociais como também re-
gionais, está voltada para o desenvolvimento econômico, através de ações do
Estado na economia, conforme o artigo 170 e incisos:
Artigo 170 – “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho hu-
mano e na livre iniciativa; tem por fim assegurar a todos a existência digna, con-
forme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios”:
I. soberania nacional;
II. propriedade privada;
III. função social da propriedade;
IV. livre concorrência;
V. defesa do consumidor;
VI. defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação;
VII. redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII. busca do pleno emprego;
IX. tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituí-
das sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país.
Parágrafo Único – É assegurado a todos o livre exercício de qualquer ativi-
dade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo
nos casos previstos em lei"
O caput do artigo 170 trata inicialmente da valorização do trabalho huma-
no, é objeto de luta durante vários séculos, em que de um lado está o fator tra-
balho e do outro o fator capital, luta de todas as nações por uma harmonia, um
equilíbrio. Na realidade, o que se objetiva é a criação de empregos com condi-
ções dignas para o trabalho vir a ser realizado e remunerado de modo justo.
Já a livre iniciativa está vinculada ao princípio da liberdade, ao liberalismo
clássico, fundamentando a ordem econômica e financeira. Na livre escolha
tem-se a liberdade tanto para produzir os bens quanto para consumi-los, po-
rém nos limites estabelecidos pela Constituição Federal.
A justiça social está tratada no artigo 3° da Constituição federal, em que
toda sociedade deve ser livre, justa e solidária, com redução das desigualdades
tanto sociais quanto regionais.

capítulo 2 • 37
Quanto aos princípios gerais deflagrados nos incisos, é focalizada a sobera-
nia nacional, presente no inciso I do artigo 170, como também no inciso I do
artigo 1° também da Carta Maior.
A propriedade privada, no inciso II do artigo 170 da CF, lastreia-se na liber-
dade, consubstanciada pelo artigo 5°, caput, da Carta Maior, dos direitos in-
dividuais, visando à proteção da propriedade privada, dos meios de produção,
característica principal do sistema capitalista de livre concorrência.
O direito à propriedade privada individual é um pressuposto da liberdade de
iniciativa. A função social da propriedade permite particularmente a implanta-
ção de uma política agrícola mais ajustada e evita a concentração da produção
nas mãos de alguns poucos.
A função social da propriedade, inciso III, do artigo 170 da CF, primeira-
mente é tratada no artigo 5°, inciso XXII e XXIII, da Carta Magna, em que é
garantido o direito de propriedade. Ela abrange tanto a propriedade urbana
quanto a rural. O artigo 182 da Constituição Federal trata da política de desen-
volvimento urbano, bem como o artigo 185, em seu parágrafo único, cuida da
propriedade produtiva rural. Já o artigo 186 trata dos requisitos para que essas
funções sejam atendidas. Como se pode vislumbrar, é um conjunto de regras
contratuais necessárias que formam um conjunto para o desenvolvimento do
livre mercado.
A livre concorrência está contida no inciso IV do artigo 170 da CF, e a livre
iniciativa está fundamentada no artigo 1°, inciso IV da CF, ambos os princípios
se complementam na ordem econômica.
Já a defesa do consumidor, contida no inciso V do artigo 170 da CF, tem
legislação própria, sendo o Código de Defesa do Consumidor, Lei n° 8078 de
11/9/1990. Nesta legislação, existe a preocupação de proteger a parte mais fra-
ca dessa relação que é o consumidor. A base está fundamentada no artigo 5°,
inciso XXXII, da Constituição Federal, que prevê que “o estado promoverá, na
forma da lei, a defesa do consumidor”.
O princípio da defesa do consumidor que consta da ordem econômica e
financeira mostra uma tendência do direito moderno de proteger o consumi-
dor, o elo talvez mais importante da economia de mercado. A Organização das
Nações Unidas, através da Resolução no. 39/248 de 09/04/1985, definiu as con-
dições básicas a serem adotadas pelos governos na elaboração e no fortaleci-
mento da legislação e das políticas de proteção ao consumidor.
O artigo 4° do Código de Defesa do Consumidor passa a dar corpo ao prin-
cípio da defesa do consumidor previsto na Constituição Federal e estabelece

38 • capítulo 2
os parâmetros da Política Nacional de Relações de Consumo, que norteiam o
processo de intervenção do Estado no mercado de consumo.
A defesa do meio ambiente, preceituada no inciso VI do artigo 170 da CF,
tem por fim assegurar que o meio ambiente seja sustentável, visando à aplica-
ção da Constituição Federal em seu artigo 225, como também da Lei n° 6.938,
de 31/08/1981, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente, quanto às nor-
mas internacionais, como a Agenda 21 (Rio-92).
Para que haja a redução das desigualdades regionais e sociais, ora tratada
no inciso VII do artigo 170 da CF, considera-se a educação como elemento prin-
cipal através do qual se coloca no combate à pobreza, através da qualificação da
mão de obra diminuindo, assim, a quantidade dos que ficam marginalizados.
Em função disso, para cessar as desigualdades ora mencionadas, objetivam-
-se fortalecer empreendimentos em regiões menos privilegiadas, como tam-
bém seu mercado consumidor. Importante ressaltar, através do preceito cons-
titucional mencionado no artigo 173, definindo o papel do Estado na ordem
econômica, a preocupação em impedir a formação de trustes e cartéis, dentre
outros, ora definidos na lei n° 12.529 de 30 de novembro de 2011. Passa, assim,
o Estado, conforme previsto no artigo 174 da Carta Maior, a desempenhar o
papel de Agente Normativo e Regulador.
Quanto à busca do pleno emprego, no inciso VIII do artigo 170 da CF, é uma
situação alcançada por uma economia equilibrada, de forma a atender aos an-
seios da população por um trabalho justo e digno.
O tratamento favorecido para empresas de pequeno porte é objeto do der-
radeiro inciso IX do artigo 170 da CF, como também está previsto no artigo 179
da Carta Magna e no artigo 970 do Código Civil, conforme transcritos abaixo:
“A Constituição Federal do Brasil, artigo 179, estabelece que “A União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às
empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico dife-
renciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações admi-
nistrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação destas
por meio de lei.”
O Código Civil, artigo 970, define que “A lei assegurará tratamento favoreci-
do, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário,
quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes”.
O Estatuto da Microempresa - ME e da Empresa de Pequeno Porte -
EPP, Lei n° 9841/1999, deu tratamento jurídico diferenciado a este tipo de

capítulo 2 • 39
empresa, consubstanciado no preceito constitucional dos artigos 170 e 179 da
Carta Maior.
O tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital de pequeno
porte, previsto na Constituição Federal do Brasil de 1988, fortalece a concor-
rência. Ao eliminar entraves burocráticos e reduzir encargos sociais e tributos
das pequenas empresas, o legislador permite que pequenos empreendimentos
tenham condições de sobreviver e mesmo de prosperar em um ambiente extre-
mamente competitivo.
O parágrafo único do artigo 170 da CF prevê o livre exercício de qualquer ati-
vidade econômica, desde que ela seja lícita e observadas as formalidades legais,
como o registro de seus atos de constituição, dentre outros.

2.1.5  Lei Antitruste Brasileira e a estrutura de mercado

A Lei Antitruste Brasileira, Lei no. 12.529 de 30/11/2011, tem o intuito de restau-
rar o processo de concorrência no mercado e reprimir os abusos praticados no
mercado de consumo.
Art. 1o Esta Lei estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência
- SBDC e dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem
econômica, orientada pelos ditames constitucionais de liberdade de iniciativa,
livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e
repressão ao abuso do poder econômico. [...]
Art. 4o O Cade é entidade judicante com jurisdição em todo o território
nacional, que se constitui em autarquia federal, vinculada ao Ministério da
Justiça, com sede e foro no Distrito Federal, e competências previstas nesta Lei.
Art. 32. As diversas formas de infração da ordem econômica implicam a res-
ponsabilidade da empresa e a responsabilidade individual de seus dirigentes
ou administradores, solidariamente.
Art. 33. Serão solidariamente responsáveis as empresas ou entidades inte-
grantes de grupo econômico, de fato ou de direito, quando pelo menos uma
delas praticar infração à ordem econômica.
Art. 34. A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem eco-
nômica poderá ser desconsiderada quando houver da parte deste abuso de di-
reito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatu-
tos ou contrato social.

40 • capítulo 2
Parágrafo único. A desconsideração também será efetivada quando houver
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica
provocados por má administração.
Art. 36. Constituem infração da ordem econômica, independentemente
de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou
possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados:
I. limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou
a livre iniciativa;
II. dominar mercado relevante de bens ou serviços;
III. aumentar arbitrariamente os lucros; e
IV. exercer de forma abusiva posição dominante. [...]

§ 3o As seguintes condutas, além de outras, na medida em que configurem


hipótese prevista no caput deste artigo e seus incisos, caracterizam infração da
ordem econômica:
I. acordar, combinar, manipular ou ajustar com concorrente, sob qual-
quer forma:
a) os preços de bens ou serviços ofertados individualmente;
b) a produção ou a comercialização de uma quantidade restrita ou limi-
tada de bens ou a prestação de um número, volume ou frequência restrita ou
limitada de serviços;
c) a divisão de partes ou segmentos de um mercado atual ou potencial de
bens ou serviços, mediante, dentre outros, a distribuição de clientes, fornece-
dores, regiões ou períodos;
d) preços, condições, vantagens ou abstenção em licitação pública;

II. promover, obter ou influenciar a adoção de conduta comercial unifor-


me ou concertada entre concorrentes;
III. limitar ou impedir o acesso de novas empresas ao mercado;
IV. criar dificuldades à constituição, ao funcionamento ou ao desenvolvi-
mento de empresa concorrente ou de fornecedor, adquirente ou financiador de
bens ou serviços; [...]
XV. vender mercadoria ou prestar serviços injustificadamente abaixo do
preço de custo; [...]

capítulo 2 • 41
XVIII. subordinar a venda de um bem à aquisição de outro ou à utilização
de um serviço, ou subordinar a prestação de um serviço à utilização de outro ou
à aquisição de um bem; e
XIX. exercer ou explorar abusivamente direitos de propriedade indus-
trial, intelectual, tecnologia ou marca.

Art. 84. Em qualquer fase do inquérito administrativo para apuração de


infrações ou do processo administrativo para imposição de sanções por infra-
ções à ordem econômica, poderá o Conselheiro-Relator ou o Superintendente-
Geral, por iniciativa própria ou mediante provocação do Procurador-Chefe do
Cade, adotar medida preventiva, quando houver indício ou fundado receio de
que o representado, direta ou indiretamente, cause ou possa causar ao merca-
do lesão irreparável ou de difícil reparação, ou torne ineficaz o resultado final
do processo. [...]

2.1.6  Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência - SBDC

O governo brasileiro vem atuando, nos últimos anos, no sentido de combater


os abusos no mercado de consumo e a concentração excessiva no processo pro-
dutivo. Anos atrás, ocorreram discussões no âmbito do CADE sobre a fusão da
Brahma e da Antártica, dando origem à criação da AMBEV. Posteriormente,
foi submetido ao CADE o processo de aquisição da Garoto pela Nestlé, o que
poderia ocasionar uma concentração excessiva no processo de fabricação de
chocolates.
O Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) é formado pelo
Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE, pela Secretaria
de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda –SEAE e pela
Secretaria de Direito Econômico - SDE. O SEAE e a SDE têm função analítica e
investigativa, atuando na instrução dos processos, enquanto que o CADE atua
como um tribunal administrativo. Às decisões do CADE não cabem recursos na
esfera do Poder Executivo, podendo apenas sofrer revisão no Poder Judiciário.
O art. 9º.e incisos da Lei no. 12.529/2011 estabelecem a competência do
Plenário do Tribunal Administrativo de Defesa Econômica do CADE, especial-
mente para decidir sobre a existência de infração à ordem econômica e aplicar
as penalidades previstas em lei; ordenar providências que conduzam à cessa-
ção de infração à ordem econômica, dentro do prazo que determinar; aprovar

42 • capítulo 2
os termos do compromisso de cessação de prática e do acordo em controle de
concentrações; instruir o público sobre as formas de infração da ordem econô-
mica, entre outras atribuições.
Destaca-se o papel preventivo do CADE, pois na realidade o que é feito é a
análise dos atos de concentração, tais como nas fusões, nas incorporações e
nas associações empresariais.
Por fim, o SEAE é um órgão consultivo, de assessoramento técnico ao CADE,
vinculado ao Ministério da Fazenda, que atua na emissão de pareceres técnicos
para subsidiar as decisões do CADE. É um órgão do Poder Executivo, que acom-
panha a formação de preços da economia, reajustes de tarifas públicas e ana-
lisa atos de concentração excessiva em determinado segmento da economia.
Atua em sintonia com as Agências Reguladoras Federais no sentido de comba-
ter regulamentações impróprias, estimulando a concorrência nos mercados.

2.2  O setor público e tributação

2.2.1  A atividade financeira do Estado

No sistema capitalista de produção, em que se inclui o modelo brasileiro, o


governo se engaja na economia, modificando o perfil da sociedade, através da
transferência de renda, impostos, incentivos, subsídios, fornecimento de bens
públicos, entre outros.
O desenvolvimento da atividade do governo na área fiscal envolve as seguin-
tes funções:
a) Função distributiva, quando o governo afeta a distribuição de renda
através do sistema tributário ou através de programas governamentais. Ajustes
distributivos tornam-se necessários ao observar-se injustiça na distribuição da
renda e da riqueza, e o governo implementa medidas fiscais (impostos e trans-
ferências) visando reduzir a desigualdade de renda. No Brasil, o sistema de tri-
butação progressiva do imposto de renda pessoal e programas sociais se enqua-
dram neste modelo.
Como categoria de função distributiva, observam-se, em primeiro lugar, os
programas de assistência pública, em que o governo atua no sentido de prover
condições mínimas de subsistência às famílias necessitadas. Em determina-
das situações, torna-se imprescindível esta ajuda, em face das consequências
negativas que a pobreza poderá causar à economia e ao meio ambiente. Em
segundo lugar, observam-se os programas de seguro social, em que o governo

capítulo 2 • 43
assiste os indivíduos que necessitam deste auxílio em função de alguma fragili-
dade diante da sociedade. A aposentadoria por idade ao trabalhador agrícola e
o seguro-desemprego são exemplos de programas de seguro social;
b) Função estabilizadora, quando o governo interfere na economia procu-
rando alcançar um elevado nível de emprego, estabilidade de preços e um alto
nível de crescimento econômico. O sistema de mercado impede que seja alcan-
çado automaticamente o pleno emprego e a estabilidade de preços, tornando-
-se necessária a atuação do governo no desenvolvimento da função estabiliza-
dora da política fiscal. A irredutibilidade salarial existente em nossa legislação
não permite um rápido ajuste quando se verifica um desequilíbrio no mercado
de trabalho. Por sua vez, um desequilíbrio entre os níveis de demanda e oferta
na economia, poderá gerar um processo inflacionário, com danos ao sistema
de mercado. Em ambos os casos, torna-se necessária a intervenção do governo
para restaurar o equilíbrio no mercado.
Para obter um elevado nível de crescimento econômico, o governo poderá
atuar no fornecimento de infraestrutura básica (estradas, portos, etc.) ou na
concessão de incentivos à produção e no financiamento de recursos de longo
prazo ao setor privado.
c) Função alocativa, quando o governo fornece bens e serviços públicos
que não são oferecidos pelo setor privado ou são oferecidos em quantidade in-
suficiente. O bem ou serviço público puro tem como característica a impossibi-
lidade de excluir seu acesso por qualquer indivíduo e a ausência de custos pelo
acesso de outro indivíduo aos seus benefícios. Portanto, o princípio da exclusão
não se aplicaria ao bem ou serviço público puro, pois a participação de outro
indivíduo não implicaria em redução do uso pelos demais. Como exemplos, in-
cluem-se as praças públicas e o sistema de iluminação pública das rodovias.
A Constituição Federal brasileira de 1988 atribuiu responsabilidade adicio-
nal ao governo para fornecer educação e saúde à população, seja porque o setor
privado não é capaz de atender a toda a população, seja porque, pelo princípio
da exclusão parcela significativa da população poderia ser excluída de seu aces-
so, pela incapacidade de arcar com os custos dos serviços. A impossibilidade
de parcela da população financiar o ensino de seus filhos em uma instituição
particular, exige a atuação do governo no fornecimento de ensino público. O
mesmo processo ocorre no que tange à saúde, em que o setor privado é incapaz
de fornecer esse serviço a toda a população, e parcela da sociedade não dispõe
de recursos para usufruir da rede privada de atendimento.

44 • capítulo 2
2.2.2  Conceito de dívida pública interna

A dívida pública interna consiste na dívida realizada pelo governo com pessoas
da sociedade para financiar os seus gastos que não são cobertos pela arreca-
dação de tributos ou quando o governo tem como objetivo exercer sua função
estabilizadora na economia.
Os bancos que desenvolvem atividades no mercado financeiro, mantêm em
suas carteiras uma parte significativa desta dívida, ao deterem títulos da dívi-
da pública que lastreiam, basicamente, o endividamento do governo federal.
Particulares ou empresas podem adquirir estes títulos da Dívida Pública, mas
costumam comprar títulos nos bancos (títulos de renda fixa, etc.) que dão su-
porte a estes títulos da dívida interna.
O Orçamento da União, dos estados e dos municípios é formado por recei-
tas (arrecadação de tributos) e despesas (gastos do governo). O superávit primá-
rio surge quando o montante de arrecadação de tributos excede o montante de
gastos do governo. O inverso corresponde ao déficit primário.
O déficit nominal ou total corresponde à necessidade de financiamento do
setor público em seus diversos níveis: União, estado, município, empresas es-
tatais e Previdência Social.
O déficit operacional corresponde ao resultado primário acrescido dos ju-
ros (dívida passada). Se o resultado primário focaliza as receitas e despesas
num determinado período, no entanto, o resultado operacional leva em consi-
deração também os débitos passados que precisam ser financiados através de
juros. O elevado nível da taxa de juros Selic no Brasil, em certos períodos, tem
transformado os esforços do governo em gerar um superávit primário (receitas
de tributos maiores que os gastos do governo) em déficit operacional ao incluir
os juros referentes às dívidas passadas.

2.2.3  Classificação dos tributos

Os tributos, em primeiro lugar, podem ser classificados em direto e indireto.


a) Tributos diretos são aqueles que incidem sobre a renda e a riqueza.
Como exemplos, o Imposto sobre a renda pessoal que constitui num tributo
que incide sobre a renda, e o imposto sobre a propriedade (IPTU, ITR, entre
outros) que incide sobre a riqueza.

capítulo 2 • 45
b) tributos indiretos são aqueles que incidem sobre a circulação de mer-
cadorias ou prestação de serviços. O Imposto sobre circulação de mercadorias
e serviços (ICMS) de competência estadual e o Imposto sobre serviços (ISS) de
competência municipal são exemplos de tributos indiretos.
Numa segunda classificação os tributos podem ser classificados em pro-
gressivos, fixos ou regressivos.
a) Tributos progressivos são aqueles em que a alíquota se torna progres-
siva à medida que aumenta a renda. O Imposto de renda pessoa física carac-
teriza-se pela progressividade apresentando alíquotas maiores à medida que
rendas maiores são tributadas. Para que o tributo seja justo, é importante que o
sistema de tributação seja progressivo, permitindo que os indivíduos de maio-
res rendas contribuam com maior parcela para os programas governamentais.
b) Tributos fixos são aqueles em que a alíquota se mantém fixa, indepen-
dentemente da variação da renda. Para evitar sonegação em razão da aplicação
de alíquotas elevadas, alguns países desenvolvidos vêm optando por alíquotas
fixas, estimulando a contribuição regular pelos indivíduos de renda elevada.
c) Tributos regressivos são aqueles em que o peso do tributo na renda dos
indivíduos se torna menor à medida que a renda aumenta. O Imposto sobre a
circulação de mercadorias e serviços (ICMS) consiste em um tributo regressivo,
em face de sua incidência não acompanhar o crescimento da renda na mesma
proporção. O peso de uma cesta básica de alimentos na renda de um indivíduo
se torna menor à medida que ocorre o crescimento de sua renda.

2.2.4  Princípios Gerais de Tributação

a) Equidade
Pelo Princípio da Equidade, o tributo deve ser justo, ou seja, os indivíduos
devem contribuir com uma parcela justa para arcar com o custo do governo.
A dificuldade em definir justiça na questão tributária resultou na coexistência
de duas correntes de pensamento que resumem este conceito em Princípio do
Benefício e Princípio da Capacidade de Pagamento.
No Princípio do Benefício, cada indivíduo deve contribuir na proporção dos
serviços públicos recebidos do governo. No caso do sistema tributário brasilei-
ro, as taxas poderiam ser aplicadas a este princípio. Como exemplo, o indiví-
duo contribuiria com a taxa de lixo no montante despendido pelo governo para

46 • capítulo 2
realizar a coleta de seu lixo. A má distribuição de renda em determinadas re-
giões pode comprometer a equidade quando são aplicados valores semelhan-
tes a indivíduos com rendas variadas.
No Princípio da Capacidade de Pagamento, cada indivíduo deve contribuir
segundo sua capacidade contributiva. Neste conceito seria aplicada a progres-
sividade dos tributos, ou seja, aqueles com maiores rendas seriam tributados
com alíquotas maiores do que aqueles com menores rendas. O sistema tribu-
tário brasileiro apresenta o Imposto de Renda Pessoa Física, em que as ren-
das acima de um determinado limite são tributadas com alíquota de imposto
progressiva.

b) Neutralidade
O tributo, para ser ideal, não deve afetar os preços relativos praticados no
mercado. A decisão de um investidor em alocar seu investimento em determi-
nada região não deve ser baseada em vantagens tributárias, e sim por fatores
competitivos que venham atrair o capital. Os incentivos fiscais concedidos nas
regiões Norte e Nordeste do Brasil, visando promover o desenvolvimento indus-
trial da região e reduzir a desigualdade de renda, vêm resultando no esvazia-
mento econômico em outras áreas, gerando os problemas sociais e econômi-
cos advindos desse processo.
No entanto, a aplicação de alíquotas de imposto diferenciadas sobre o con-
sumo de determinados bens (bebidas alcoólicas, cigarros, etc.) poderá reduzir
gastos governamentais em saúde ou melhorar a produtividade do trabalho, na
medida em que aumenta os preços e reduz o consumo de bens que podem vir a
causar danos à saúde.
Alguns especialistas consideram também o conceito da Simplicidade, em
que o tributo deve ser de fácil operacionalização, simples o suficiente para a po-
pulação entender o seu funcionamento e conhecer o montante de tributos des-
pendido por cada contribuinte. A vasta gama de tributos existente no sistema
tributário brasileiro, seja federal, estadual ou municipal, acaba confundindo o
contribuinte, que tem dificuldade de perceber o tamanho da carga tributária,
além de encarecer em demasia o processo de cobrança e fiscalização.

capítulo 2 • 47
2.2.5  A legislação tributária e orçamentária e o Direito Constitucional

A Constituição Federal de 1988 e a legislação complementar tratam sobre a


questão da tributação e do orçamento.
a) dos princípios gerais de tributação
O parágrafo 1o. do art. 145 da Constituição Federal de 1988 enfatiza a im-
portância da progressividade dos tributos como princípio da equidade, privi-
legiando a capacidade de pagamento, como se segue: “sempre que possível, os
impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade eco-
nômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente
para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos
individuais e nos termos da lei , o patrimônio, os rendimentos e as atividades
econômicas do contribuinte”.
A neutralidade e a equidade na questão tributária estão presentes na
Constituição Federal de 1988, no inciso II do art. 150, que veda à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir tratamento desigual en-
tre contribuintes que se encontrem em situação equivalente; ou no inciso I do
art. 151, que veda à União instituir tributo que não seja uniforme em todo o ter-
ritório nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado,
ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro.

b) da natureza dos tributos


A definição de tributo está contida no art. 3º. do Código Tributário Nacional
- Lei no. 5.172/66 como “Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em
moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilí-
cito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamen-
te vinculada”. O tributo é uma prestação de caráter obrigatório, realizada em
moeda, deve estar instituído em lei, não se constituindo em sanção de ato ilíci-
to, devendo ser cobrada em atividade vinculada pelo Estado ou por entidades
não estatais que tenham como objetivo o interesse público.
Os tributos admitidos em lei na Constituição federal brasileira são im-
postos, taxas, contribuição de melhoria, contribuições sociais e empréstimos
compulsórios.
•  Impostos são tributos não vinculados à atuação do Estado. O art. 16 do
Código Tributário Nacional define: “Imposto é o tributo cuja obrigação tem
por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal

48 • capítulo 2
específica, relativa ao contribuinte”. Como exemplo, o imposto estadual so-
bre a propriedade de veículos automotores (IPVA) não está vinculado a uma
contraprestação ao contribuinte, podendo o Estado utilizar os recursos pro-
venientes deste tributo com o objetivo de realizar pagamentos de salários dos
funcionários públicos ou como instrumento de política monetária (redução do
meio circulante).
•  Taxas são tributos instituídos em razão do exercício do poder de polícia
pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisí-
veis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição. Como exemplo, ob-
serva-se a taxa de lixo, que é cobrada mediante a prestação do serviço público de
coleta de lixo, ou mesmo a taxa de incêndio, que deve estar vinculada ao serviço
de combate ao incêndio pelo corpo de bombeiro.
•  Contribuições de melhoria são tributos arrecadados dos proprietários de
imóveis beneficiados por obras públicas. Uma vez concluída a obra pública, é
fundamental que esta venha a causar uma valorização dos imóveis beneficia-
dos. O valor a ser cobrado de cada beneficiário não poderá exceder a vantagem
que sobreveio para o contribuinte com a obra pública.
•  Contribuições sociais são tributos de competência da União, de interven-
ção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou eco-
nômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas.
•  Empréstimos compulsórios incluídos no sistema tributário nacional, de
competência da União, destinam-se a atender a despesas extraordinárias, de-
correntes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência, e no caso
de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional.

O art. 149-A da Constituição Federal brasileira, incluído pela emenda


Constitucional no. 39 de 2002, concedem poder aos Municípios e ao Distrito
Federal instituir contribuição para custeio do serviço de iluminação pública.

2.2.6  Princípios orçamentários

No capítulo referente às finanças públicas na Constituição Federal de 1988,


arts. 165 a 169, estão previstas as condições orçamentárias. Os incisos I, II e III
art. 165 preveem que “as Leis de iniciativa do Poder executivo estabelecerão, I- o
plano plurianual; II- as diretrizes orçamentárias; III- os orçamentos anuais. No
parágrafo 4o. do mesmo art. prevê “ os planos e programas nacionais , regionais

capítulo 2 • 49
e setoriais previstos nesta Constituição serão elaborados em consonância com
o plano plurianual e apreciados pelo Congresso Nacional”.
Por sua vez, a Lei no. 4.320 de 17/03/64 (Lei do Orçamento) estabeleceu nor-
mas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e
balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. A Lei do
Orçamento contém a discriminação da receita e despesa evidenciando a políti-
ca econômica financeira do governo.
Os princípios orçamentários previstos na Constituição Federal brasilei-
ra, na Lei do Orçamento e nas Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDOs), são
os seguintes:
•  Unidade na qual cada esfera de governo deve possuir apenas um orçamen-
to baseado numa única política orçamentária. O art. 2º. da Lei no. 4.320/64 diz
que “A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e da despesa, de
forma a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do
governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade”.
•  Universalidade em que a Lei orçamentária deve incorporar todas as recei-
tas e despesas, sendo que, não deve ser excluída nenhuma instituição pública.
O art. 3º. da Lei 4.320/64 determina que “a lei do Orçamento compreenderá
todas as receitas, inclusive as operações de crédito autorizadas em lei”.
•  Anualidade em que é determinado um período para o orçamento, geral-
mente um ano. O & 5º. do art. 165 da Constituição Federal brasileira determina
que “A lei orçamentária anual compreenderá [...]”.
•  Legalidade em que o orçamento é objeto de uma lei específica. A base
para este princípio encontra-se no art. 166 da Constituição Federal brasileira
de 1988 em que “Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes
orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão apreciados
pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum”.
•  Exclusividade na qual a lei orçamentária deverá conter apenas questões
orçamentárias e financeiras, não sendo incluídas normas pertencentes a ou-
tros campos jurídicos. O § 8º. do art. 165 da Constituição Federal brasileira
determina que “A Lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à
previsão da receita e à fixação da despesa [...]”.
•  Especificação, especialização ou discriminação em que a autorização
legislativa se restrinja às despesas específicas e não a autorizações globais. O
art. 5º. da Lei 4.320/64 define “A Lei de Orçamento não consignará dotações
globais destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, material,
serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras [...]”.

50 • capítulo 2
•  Publicidade em que o orçamento deve ser divulgado ao ser aprovado e
transformado em lei. O art. 37 da Constituição Federal brasileira de 1988 diz
que “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princí-
pios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]”.
•  Equilíbrio em que as receitas e despesas que fazem parte do orçamento
devem manter uma paridade, sem apresentar déficits ou superávits excessivos.
O inciso III do art. 167 da Constituição Federal brasileira de 1988 veda “a realiza-
ção de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital,
ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com
finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta”.
•  Orçamento-bruto em que as receitas e despesas que fazem parte do orça-
mento devem aparecer pelo valor bruto sem quaisquer deduções. O art. 6º. Da
Lei no. 4.320/64 determina que “Todas as receitas e despesas constarão da Lei
de Orçamento pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções”.
•  Não vinculação das receitas, em que estas não devem estar vinculadas a
determinadas despesas, para que possam ser alocadas racionalmente segundo
o interesse da sociedade. O inciso IV do art. 167 da Constituição Federal brasi-
leira de 1988 veda “a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou des-
pesa [...]”.
A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar no. 101 de 04/05/2000)
obriga a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios a uma ação pla-
nejada e transparente, em que se previnam riscos e corrijam desvios capazes de
afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de
resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que
tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade
social entre outras.

2.2.7  O Sistema Tributário Brasileiro

A descentralização tributária que vinha tomando forma desde os finais dos


anos 1970, foi consolidada na Constituição Federal brasileira de 1988. A redu-
ção dos recursos da União no bolo tributário, mediante um aumento das trans-
ferências de tributos, e as restrições ao poder da União em conceder isenções
nos impostos estaduais e municipais, promoveram, maior participação e auto-
nomia tributária dos demais entes da federação na esfera tributária.

capítulo 2 • 51
Entretanto, o governo federal incorporou outras funções na sociedade, de
natureza social e trabalhista, ao mesmo tempo em que vinha perdendo partici-
pação na arrecadação tributária. Com isso, o governo federal provocou um au-
mento dos tributos não transferíveis, como as contribuições sociais, ao mesmo
tempo em que os estados e municípios aumentaram o imposto sobre determi-
nados bens e serviços como forma de fazer frente ao aumento de seus gastos.

Legislação Aplicada
Constituição Federal Brasileira de 1988
Dentre os diversos artigos da Constituição Federal brasileira importan-
te para o assunto abordado no presente capítulo, cabe destacar os seguintes
artigos:
Arts. 5º; 21; 22; 37; 145; 149-A; 150; 151; 165; 166; 167; 168; 169; 170; 173;
174; 177; 179.
LEI No. 4.320/64
LEI No. 5.172/66 - Código Tributário Nacional
LEI No 8.078/1990 - Código de Defesa do Consumidor
LEI No 8.884/1994 - Lei Antitruste brasileira
LEI No 9841/1999 - Estatuto da Microempresa - ME e da Empresa de
Pequeno Porte
LEI COMPLEMENTAR no. 101 de 04/05/2000 - Lei de Responsabilidade Fiscal
LEI No. 12.529 de 30/11/2011 - Lei Antitruste brasileira

Estudo de casos

1. Nova era do monopólio (O Globo, 24/05/2016)


Durante 200 anos, houve duas escolas de pensamento sobre o que deter-
mina a distribuição de renda — e como a economia funciona. Uma, derivada
de Adam Smith e dos economistas liberais do século XIX, põe o foco na com-
petitividade dos mercados. A outra, consciente de como o tipo de liberalismo
de Adam Smith leva à rápida concentração de riqueza e renda, toma como seu
ponto de partida a tendência dos mercados ao monopólio. É importante com-
preender ambas, porque nossas visões sobre as políticas de governo e as desi-
gualdades existentes são delineadas por qualquer uma das duas escolas, tidas
como as que fornecem a melhor descrição da realidade.

52 • capítulo 2
Para os liberais do século XIX e seus seguidores recentes, como os mercados
são competitivos, os ganhos dos indivíduos se relacionam à sua contribuição
social — seu “produto marginal”, na linguagem dos economistas. Os capita-
listas são recompensados por economizar mais do que por consumir — por
sua abstinência, nas palavras de Nassau Senior, um dos meus antecessores
na Cátedra Drummond de Economia Política em Oxford. Diferenças de renda
eram então relacionadas à posse de “ativos” — capital humano e financeiro.
Estudiosos da desigualdade assim enfocaram nos aspectos determinantes da
distribuição de ativos, inclusive como eles são passados adiante entre gerações.
A segunda escola de pensamento toma como ponto de partida o “poder”,
inclusive a capacidade de exercer o controle de monopólio ou, nos mercados
de trabalho, sua autoridade sobre os trabalhadores. Estudiosos nessa área
se debruçaram sobre o que gera o poder, como ele é mantido e fortalecido e
outros aspectos que podem prevenir os mercados de se tornarem competiti-
vos. A pesquisa sobre a exploração decorrente da assimetria de informação é
um exemplo.
No Ocidente, na era pós-Segunda Guerra Mundial, a escola de pensamento
liberal dominou. Mas, à proporção que a desigualdade se ampliou, e as preo-
cupações sobre isso cresceram, a escola competitiva, olhando para os ganhos
individuais em termos de produto marginal, tornou-se cada vez mais incapaz
de explicar como a economia funciona. Assim, hoje, a segunda escola de pen-
samento está em alta.
Afinal, os altos benefícios pagos aos diretores executivos de bancos enquan-
to eles levavam suas firmas à ruína e a economia à beira do caos são difíceis
de conciliar com a crença de que o pagamento aos indivíduos tem algo a ver
com suas contribuições sociais. É clara, historicamente, a opressão a grandes
grupos — escravos, mulheres e várias minorias — configura instâncias óbvias
em que as desigualdades são o resultado de relações de poder, e não de ga-
nhos marginais.
Na economia atual, muitos setores — telecomunicações, TV a cabo, mídia
social, internet, farmacêuticos, agronegócio e muitos outros — não podem
ser compreendidos pela lente da competição. Nestes segmentos, a concorrên-
cia que existe é oligopólica, e não a competição “pura” descrita nos manuais.
Alguns setores podem ser definidos como “tomadores de preços”: empresas
são tão pequenas que não têm efeito sobre os preços do mercado. A agricultura

capítulo 2 • 53
é o exemplo mais óbvio, mas a intervenção governamental no setor é maciça, e
os preços não são determinados primariamente pelas forças do mercado.
O Conselho de Assessores Econômicos do presidente Barack Obama, lide-
rado por Jason Furman, tentou medir a extensão do aumento da concentração
do mercado e algumas de suas implicações. Na maioria dos setores, segundo
o Conselho, a métrica padrão mostra grandes — e, em alguns casos, dramáti-
cos — aumentos na concentração de mercado. As dez maiores participações de
bancos no mercado de depósitos, por exemplo, aumentou cerca de 20% a 50%
em apenas 30 anos, entre 1980 e 2010.
Parte do aumento do poder de mercado se deve a mudanças tecnológicas
e estrutura econômica: veja as economias em rede e o crescimento do setor de
serviços local. Parte se deve ao fato de que as empresas — Microsoft e as far-
macêuticas são bons exemplos — aprenderam como erguer e manter barrei-
ras à entrada, quase sempre apoiadas por forças políticas conservadoras que
justificam a aplicação de leis antitrustes flexíveis e a falha em limitar o poder
de mercados com base na concepção de que os mercados são “naturalmente”
competitivos. E parte disso reflete o abuso direto e a alavancagem do poder de
mercado por meio do processo político: grandes bancos, por exemplo, fizeram
lobby no Congresso americano para emendar ou repelir a lei que separaria os
bancos comerciais de outras áreas financeiras.
As consequências são evidentes nos dados, com o aumento da desigualdade
em cada nível, não apenas entre os indivíduos, mas também entre as empresas.
Joseph Schumpeter, um dos maiores economistas do século XX, argumen-
tou que não deveria haver preocupação com poder de monopólio: os monopó-
lios seriam apenas temporários. Deveria haver intensa competitividade pelo
mercado, e isto substituiria a concorrência no mercado e garantiria os preços
se mantivessem competitivos.
Meu próprio trabalho teórico revelou há muito tempo as falhas da análise
de Schumpeter, e agora os resultados empíricos apresentam uma robusta con-
firmação. Os mercados de hoje são caracterizados pela persistência de altos lu-
cros provenientes de monopólios.
As implicações disso são profundas. Muitos dos pressupostos sobre as
economias de mercado são baseados na aceitação do modelo de competiti-
vidade, com ganhos marginais compatíveis com contribuições sociais. Esta
visão levou a uma hesitação sobre a intervenção oficial: se os mercados são
fundamentalmente eficientes e justos, há pouco que até mesmo os melhores

54 • capítulo 2
governos poderiam fazer para melhorar as coisas. Mas, se os mercados são ba-
seados na exploração, a justificativa para o laissez-faire desaparece. De fato,
neste caso, a batalha contra o poder entrincheirado não é apenas uma batalha
pela democracia; é igualmente uma batalha pela eficiência e pela prosperida-
de compartilhada.
Joseph E. Stiglitz é vencedor do Prêmio Nobel de Economia, professor da
Universidade de Columbia e economista-chefe do Roosevelt Institute.

Indagações:
Com base nesse artigo escrito por Joseph E. Stiglitz:
a) Comente, a partir do texto, a importância de se ter uma Lei Antitruste
eficaz no sentido de promover a livre concorrência.
b) Com base no texto, mostre a presença da estrutura oligopolista de pro-
dução e seus riscos para a economia.
c) Como o consumidor pode fazer valer seus direitos num mercado de ele-
vada concentração? Fundamente a resposta.

2. Governo regulamenta novas regras para crédito consignado (Correio


Braziliense, 14/03/2016)
O governo divulgou hoje (14/3) a regulamentação das novas regras para o
crédito consignado. Algumas modificações estavam valendo desde o ano pas-
sado, primeiramente por meio de medida provisória e depois em lei, sanciona-
da pela presidenta Dilma Rousseff em outubro do ano passado. Agora, estão
detalhadas em decreto publicado no Diário Oficial da União.
As mudanças incluem o aumento de 30% para 35% da margem consigná-
vel da remuneração mensal dos servidores públicos federais, sendo que os 5%
extras só podem ser usados para amortizar despesas com cartão de crédito ou
saques por meio do cartão de crédito.
As determinações aplicam-se ainda a empregados públicos com pagamen-
to processado pelo Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos
(Siape). A categoria inclui servidores de empresas estatais dependentes do
Tesouro Nacional, anistiados do governo Collor, servidores do Hospital das
Forças Armadas e alguns agentes de endemia, conhecidos como mata-mosqui-
tos. Para eles, a margem consignável é de 40%.
O decreto muda ainda o modelo de gestão das consignações. No sistema an-
terior, esta era feita pelo Ministério do Planejamento junto às entidades consig-
natárias. A partir de agora, o relacionamento administrativo de rotina com as

capítulo 2 • 55
entidades poderá ser feito, por exemplo, por empresa pública ou autarquia es-
pecífica. O Planejamento continuará responsável por atribuições normativas,
tratamento de reclamações e controle gerencial do processo de consignações.

Indagações:
a) A partir do texto, como está presente a atividade financeira do Estado?
Fundamente a resposta.
b) Mostre a razão de o legislador se preocupar em limitar o desconto do
crédito consignado na folha de pagamento do servidor público. Comparar
com a limitação do poder de tributação pelo Estado, com base no princípio do
não confisco.
c) Comparar o caso analisado no texto em relação aos princípios orça-
mentários da legalidade e do equilíbrio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARREGOSA, J. M.; et al. Economia Política - Ênfase para o Curso de Direito. 1a.. ed. Rio de
janeiro: Forense, 2008.
FIGUEIREDO, L. V.; Lições de Direito Econômico. Rio de janeiro/Forense, 2006.
GALVEZ, C., Economia Política Atual. 15ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
GASTALDI, J. P. Elementos de Economia Política. 19a. ed., São Paulo: Saraiva, 2006.
GRAU, E. R.; A Ordem Econômica na Constituição de 1988, 7a. e Ed., São Paulo: Malheiros, 2002.
LEOPOLDINO DA FONSECA, J. B. Direito Econômico. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004
MANKIW, N. G. Introdução à economia. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2004.
VASCONCELLOS, M. A. S. Economia Micro e Macro. 3a. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA M. E. Fundamentos de Economia. 2ª. ed. São Paulo: Saraiva,
2004.
VICECONTI, P. E. V.; DAS NEVES, S. Introdução à Economia. 4ª. ed.. São Paulo: Frase, 2000.

56 • capítulo 2
3
Política monetária e
externa
3.  Política monetária e externa
3.1  Política monetária e legislação aplicada

3.1.1  Introdução

Conceituação:
Nas sociedades primitivas, o fluxo de trocas de bens e serviços se dava atra-
vés do escambo, ou seja, trocas de mercadorias por mercadorias ou serviços.
Contudo, a partir da expansão das relações comerciais entre os indivíduos,
desenvolve-se, numa etapa seguinte, uma forma de realizar estas trocas através
de um conjunto de mercadorias utilizadas como padrão para as demais, que
variavam de acordo com o local em que seriam utilizadas, sendo estas conver-
tidas em “Moeda-Mercadoria”, pois se constituíam em bens com um valor de
uso comum para todos os seus detentores. Dentre estas “moedas-mercadorias”
mais utilizadas estavam o gado, o chá, o sal e, posteriormente, os metais, prin-
cipalmente ouro e prata.
Devido às dificuldades de conservação, guarda, acesso e fracionamento de
algumas destas mercadorias, os metais preciosos passaram a assumir cada vez
mais a função de mercadoria básica de troca e de referência de valor, uma vez
que eram de fácil fracionamento e guarda (acúmulo) e não eram perecíveis.
Surge então a “Moeda-Papel” que tinha por característica ser uma moeda repre-
sentada por um certificado ou recibo – papel – emitido por uma casa de ourive-
saria (ourives) a partir dos depósitos em metais preciosos. Seu valor, portanto,
estava no lastro dado pelos metais preciosos depositados e pelas garantias de
guarda dadas pelo certificado que registrava as quantidades.
As transações passaram então a se realizar pela troca destes certificados que
assumiram a função de moeda, sendo trocados de forma integral ou fracioná-
ria de acordo com o valor das transações em curso. Esta prática se expandiu
de tal forma que os ourives, responsáveis pela guarda dos depósitos em metais
preciosos e pela emissão dos certificados – “moeda-papel”, passaram a se utili-
zar dos valores que transitavam em seu poder como forma de financiar outros
agentes econômicos, em troca do pagamento de juros, o que se constituiu na
fase embrionária das atividades bancárias. No entanto, o surgimento e a pro-
pagação de problemas causados pelo excesso da concessão destes créditos,
diante de depósitos insuficientes para garanti-los, fez com que as autoridades

58 • capítulo 3
públicas começassem a intervir e a controlar estas atividades, passando, poste-
riormente, a assumi-las integralmente.
Com o surgimento dos estados nacionais surgiu o “Papel-Moeda”.O Estado
emite cédulas em papel através de uma instituição bancária que atua como
agente público responsável pelo controle central das atividades ligadas a colo-
cação, manutenção e circulação da moeda, sendo esta ainda lastreado em ouro
( Padrão – Ouro ).
Posteriormente, o Padrão – Ouro foi abandonado, e a emissão de moeda
passou a ser livre, a critério de uma “Autoridade Monetária” identificada na fi-
gura de um banco central, sendo a aceitação e a circulação (curso) desta “moe-
da sem lastro” garantida por lei – moeda fiduciária.
A ordem monetária na Constituição Federal brasileira:
Na questão da moeda na Constituição Federal brasileira, observa-se o
art. 48 XIII e XIV, que prevê, “ Cabe ao Congresso Nacional , com a sanção do
Presidente da República , [...], dispor sobre todas as matérias de competência
da União , especialmente sobre: [...] XIII – matéria financeira , cambial e mo-
netária , instituições financeiras e suas operações; XIV- moeda , seus limites de
emissão, e montante da dívida mobiliária federal”.
O art. 164 da Constituição Federal diz “ A competência da União para emi-
tir moeda será exercida exclusivamente pelo Banco Central. &1o. é vedado ao
banco central conceder, direta ou indiretamente, empréstimos ao tesouro
nacional e a qualquer órgão ou entidade que não seja instituição financeira.
& 2o. o banco central poderá comprar e vender títulos de emissão do Tesouro
Nacional , com o objetivo de regular a oferta de moeda ou a taxa de juros. & 3o.
as disponibilidades de caixa da União serão depositadas no banco central; as
dos Estados , do Distrito Federal , dos Municípios e dos órgãos ou entidades do
Poder Público e das empresas por ele controladas , em instituições financeiras
oficiais , ressalvados os casos previstos em lei”.

3.1.2  Sistema Financeiro Nacional (SFN) – Autoridades monetárias

a) Conselho Monetário Nacional


O Conselho Monetário Nacional (CMN) – órgão colegiado ao Ministério da
Fazenda – é o órgão deliberativo máximo do Sistema Financeiro Nacional. Ao
CMN compete: estabelecer as diretrizes gerais das políticas monetária, cambial

capítulo 3 • 59
e creditícia; regular as condições de constituição, funcionamento e fiscalização
das instituições financeiras e disciplinar os instrumentos de política monetária.
A lei no. 4595/64, em seu art. 3º, estabelece que “A política do Conselho
Monetário Nacional objetivará:
I. Adaptar o volume dos meios de pagamento ás reais necessidades da
economia nacional e seu processo de desenvolvimento;
II. Regular o valor interno da moeda, para tanto prevenindo ou corri-
gindo os surtos inflacionários ou deflacionários de origem interna ou exter-
na, as depressões econômicas e outros desequilíbrios oriundos de fenôme-
nos conjunturais;
III. Regular o valor externo da moeda e o equilíbrio no balanço de paga-
mento do País, tendo em vista a melhor utilização dos recursos em moe-
da estrangeira;
IV. Orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras, quer pú-
blicas, quer privadas; tendo em vista propiciar, nas diferentes regiões do País,
condições favoráveis ao desenvolvimento harmônico da economia nacional;
V. Propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos finan-
ceiros, com vistas à maior eficiência do sistema de pagamentos e de mobiliza-
ção de recursos;
VI. Zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras;
VII. Coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária, fiscal e da
dívida pública, interna e externa.
A atual composição do Conselho Monetário Nacional CMN é constituí-
da pelo Ministro da Fazenda, como Presidente do Conselho; o Ministro do
Planejamento, Orçamento e Gestão; e o Presidente do Banco Central do Brasil.
Sendo, portanto, o órgão máximo de todo o sistema financeiro nacional.
Dentre as suas atribuições destacamos:
a) a autorização de emissão de papel moeda;
b) a fixação dos coeficientes dos encaixes obrigatórios dos Depósitos à
Vista e Depósitos a Prazo;
c) a regulamentação das operações de redesconto;
d) o estabelecimento de diretrizes do Banco Central para operações
com títulos públicos;
e) a regulamentação das operações de câmbio e a política cambial;
f) a aprovação do orçamento monetário elaborado pelo Banco Central.

60 • capítulo 3
b) Banco Central do Brasil
O Banco Central do Brasil, autarquia federal integrante do Sistema
Financeiro Nacional, foi criado em 31.12.64, com a promulgação da Lei nº
4.595/64.
Antes da criação do Banco Central, o papel de autoridade monetária era
desempenhado pela Superintendência da Moeda e do Crédito - SUMOC, pelo
Banco do Brasil - BB e pelo Tesouro Nacional.
A SUMOC, criada em 1945 com a finalidade de exercer o controle mone-
tário e preparar a organização de um banco central, tinha a responsabilidade
de fixar os percentuais de reservas obrigatórias dos bancos comerciais, as ta-
xas do redesconto e da assistência financeira de liquidez, bem como os juros
sobre depósitos bancários. Além disso, supervisionava a atuação dos bancos
comerciais, orientava a política cambial e representava o País junto a organis-
mos internacionais.
O Banco do Brasil desempenhava as funções de banco do governo, median-
te o controle das operações de comércio exterior, o recebimento dos depósitos
compulsórios e voluntários dos bancos comerciais e a execução de operações
de câmbio em nome de empresas públicas e do Tesouro Nacional, de acordo
com as normas estabelecidas pela SUMOC e pelo Banco de Crédito Agrícola,
Comercial e Industrial.
O Tesouro Nacional era, até então, o órgão responsável pela emissão de
papel-moeda.
Após a criação do Banco Central buscou-se dotar a instituição de mecanis-
mos voltados para o desempenho do papel de "bancos dos bancos". Em 1985
foi promovido o reordenamento financeiro governamental com a separação
das contas e das funções do Banco Central, Banco do Brasil e Tesouro Nacional.
Em 1986 foi extinta a conta movimento e o fornecimento de recursos do Banco
Central ao Banco do Brasil passou a ser claramente identificado nos orçamen-
tos das duas instituições, eliminando-se os suprimentos automáticos que pre-
judicavam a atuação do Banco Central.
O processo de reordenamento financeiro governamental se estendeu até
1988, quando as funções de autoridade monetária foram transferidas progres-
sivamente do Banco do Brasil para o Banco Central, enquanto as atividades atí-
picas exercidas por esse último, como as relacionadas ao fomento e à adminis-
tração da dívida pública federal, foram transferidas para o Tesouro Nacional.

capítulo 3 • 61
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu dispositivos importantes para
a atuação do Banco Central, dentre os quais destacam-se o exercício exclusivo
da competência da União para emitir moeda e a exigência de aprovação prévia
pelo Senado Federal, em votação secreta, após arguição pública, dos nomes in-
dicados pelo Presidente da República para os cargos de presidente e diretores
da instituição. Além disso, vedou ao Banco Central a concessão direta ou indi-
reta de empréstimos ao Tesouro Nacional.
É, portanto, o órgão executor da política monetária, além de exercer a regu-
lamentação e fiscalização de todas as atividades de intermediação financeira
no país. Entre as suas atribuições, destacam-se:
a) a emissão de moeda;
b) o recebimento dos depósitos obrigatórios dos bancos comerciais e
dos depósitos voluntários das instituições financeiras em geral;
c) realização de operações de redesconto de liquidez e seletivo;
d) operações de mercado aberto (open market);
e) controle do crédito e das taxas de juros;
f) a fiscalização das instituições financeiras e a concessão da autoriza-
ção para seu funcionamento;
g) a administração das reservas cambiais do país.

3.1.3  Instrumentos de política monetária

Refere-se à atuação do governo sobre a quantidade de moeda e títulos públicos.


a) Emissões - o Banco Central controla o montante de moeda na econo-
mia, decidindo sobre as necessidades de novas emissões e respectivos volumes;
b) Depósitos compulsórios - os bancos comerciais são obrigados a depo-
sitar no Banco Central um percentual determinado sobre os depósitos à vista.
Caso o governo queira restringir a oferta monetária, poderá aumentar a porcen-
tagem dos depósitos à vista que os bancos comerciais são obrigados a depositar
no Banco Central;
c) Operações com mercado aberto (open market) - consistem na compra e
venda, pelo Banco Central, de títulos da dívida pública;
d) Operações de redesconto - correspondem à liberação de recursos pelo
Banco Central aos bancos comerciais, que podem ser classificados como em-
préstimos ou redesconto de títulos. Se o Banco Central elevar a taxa aplicada às
operações de redesconto, poderá desestimular o sistema bancário em recorrer
a este tipo de socorro financeiro.

62 • capítulo 3
O Banco Central poderá também afetar o fluxo de moeda pela regulamenta-
ção da moeda e do crédito, por exemplo, restringindo o crédito, fixando taxa de
juros, prazos para o crédito ao consumidor etc.
Se o objetivo é o controle da inflação, a medida apropriada de política mone-
tária seria diminuir o estoque monetário da economia (por exemplo, aumento
dos depósitos compulsórios, ou captação de recursos através do open market).
Se a meta é o crescimento econômico, a medida adotada seria o aumento do
estoque monetário.

3.1.4  Regulamentação dos Bancos comerciais:

A Lei no. 4.595/64, trata e regulamenta a matéria.


Art.17- “Consideram–se instituições financeiras, para os efeitos da legisla-
ção em vigor , as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como ati-
vidade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos
financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira , e a
custódia de valor de propriedade de terceiros [...]”.
Art. 18 – “As instituições financeiras somente poderão funcionar no País
mediante prévia autorização do Banco Central da República do Brasil ou decre-
to do Poder Executivo quando forem estrangeiras.”
Art. 25 “ As instituições financeiras privadas, exceto as cooperativas de
crédito , constituir-se-ão unicamente sob a forma de sociedade anônima ,
devendo a totalidade de seu capital com direito a voto ser representado por
ações nominativas”.
Art. 29 “ As instituições financeiras privadas deverão aplicar , de preferência
, não menos de 50% ( cinqüenta por cento ) dos depósitos do público que reco-
lherem , na respectiva Unidade Federada ou território”.
Art. 30- “ As instituições financeiras de direito privado , exceto as de inves-
timento , só poderão participar de capital de quaisquer sociedades com prévia
autorização do Banco Central da República do Brasil [...]”.
Banco do Brasil tem função precípua de agente financeiro do Tesouro
Nacional, podendo nesta atribuição, receber a crédito do Tesouro Nacional, as
importâncias provenientes de arrecadação de tributos e o produto das opera-
ções de crédito da União por antecipação da receita orçamentária; realizar pa-
gamentos e suprimentos necessários à execução do orçamento geral da União;
conceder aval, fiança e outras garantias, consoante expressa autorização legal ;

capítulo 3 • 63
adquirir e financiar estoques de produção exportável; ser agente pagador e re-
cebedor fora do país; executar os serviços bancários de interesse do Governo
federal; executar os serviços de compensação de cheques e de outros papéis;
entre outros.

3.1.5  Natureza jurídica e finalidade da taxa Selic.

A taxa SELIC surgiu em 15 de junho de 1986, por meio da Resolução n.º 1.124,
passando a traduzir um referencial aos rendimentos do Sistema Especial de Li-
quidação e Custódia.
Para calculá-la, utilizou-se a taxa média ajustada nos financiamentos apu-
rados no seu sistema, com o objetivo de remunerar os títulos do Banco Central
do Brasil. A taxa SELIC passou a ter a finalidade de analisar as variações das
operações do sistema, e, ao mesmo tempo, impor aos títulos um rendimento
pelo investimento feito pelos tomadores das letras da dívida pública.
A definição que melhor se enquadra à taxa em debate é a constante da
Circular Bacen n.º 2.868/99, repetida na Circular Bacen n.º 2.900/99:, "Define-
-se Taxa Selic como a taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados
no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) para títulos federais."

3.1.6  Limitação das taxas de juros.

No caso do direito tributário, tal limite está claro em face do teor do art. 161 do
Código Tributário Nacional (Lei no. 5172/66), que assim dispõe:
"Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de
juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da
imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de
garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária.
§ 1º. Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados
à taxa de 1% (um por cento) ao mês.
§ 2º. O disposto neste artigo não se aplica na pendência de consulta formu-
lada pelo devedor dentro do prazo legal para pagamento do crédito."
Segundo o antigo Código Civil, de 1916:
"Art. 1062. A taxa dos juros moratórios, quando não convencionados (artigo
1.262), será de seis por cento ao ano."
O novo Código Civil, Lei no. 10.406/2002, entretanto, mudou tal realidade,
estabelecendo o seguinte:

64 • capítulo 3
"Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o fo-
rem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão
fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de im-
postos devidos à Fazenda Nacional."
Atualmente, a taxa a que se refere o art. 406 do Código Civil vigente é a de-
nominada SELIC.

3.1.7  Títulos de crédito

Podem-se dividir os títulos de crédito em duas grandes classes: a) títulos públi-


cos: b) títulos particulares ou comerciais.
O novo código Civil, Lei no. 10.406/2002, trata nos arts. 887 a 926 sobre os
títulos de crédito, classificando estes títulos como ao portador, à ordem (endos-
so) ou nominativo.
Os títulos de crédito ao portador são aqueles que não indicam o nome do
beneficiário e se transferem por simples entrega manual.
Os títulos de crédito à ordem são aqueles emitidos a uma pessoa determi-
nada mediante endosso, que pode ser lançada no verso e no anverso do título
de crédito.
Os títulos de crédito nominativos são aqueles que trazem inscrito o nome
de seu proprietário e somente se opera a sua transferência através de termo de
transferência lavrado em livro próprio e cujo nome conste no registro do emi-
tente assinado pelo proprietário e pelo adquirente, tais como as ações nomina-
tivas das sociedades anônimas.
São títulos públicos aqueles emitidos pelo Poder Público, em que se desta-
cam os Títulos da Dívida pública.
São títulos particulares ou comerciais, entre outros:
a) Ações emitidas pelas sociedades comerciais – é a unidade de capital
das sociedades anônimas
b) Debêntures – são títulos de crédito de emissão das sociedades por
ações, representando empréstimos contraídos por estas sociedades junto
aos particulares.
c) Nota promissória – é o título de crédito pelo qual alguém promete pa-
gar a outrem certa quantia em determinado prazo. Trata-se de uma promessa
de pagamento, exigindo na sua constituição, um emitente, que é o devedor que
a assina, e um beneficiário ou portador, que é o credor.

capítulo 3 • 65
d) Duplicata mercantil – é um título de crédito de emissão nas vendas
mercantis a prazo, realizadas entre comerciantes residentes no país.
e) Cheque – é a ordem de pagamento à vista emitido em favor próprio ou
de terceiro, sem prazo ou vencimento, sacada por uma pessoa contra institui-
ção financeira autorizada. Emissor ou emitente é a pessoa que emite o cheque.
Sacado é o banco que tem fundos à disposição do emitente.

3.1.8  Os impactos da inflação

Na questão monetária é fundamental que estudemos a inflação, que apresenta


impactos significativos sobre a vida da população. A política monetária deve ser
utilizada para conter uma elevação dos preços praticados na economia.
A inflação é definida como sendo uma alta persistente e generalizada dos
preços da economia. A alta de preços deve ser persistente, não podendo ser con-
fundida com altas esporádicas de preços ocasionadas por flutuações sazonais.
As fontes de inflação costumam diferir em função das condições de cada
país, como por exemplo:
a) Tipo de estrutura de mercado (oligopolista ou monopolista), que per-
mitem aumentos autônomos das margens de lucros das empresas, além de fa-
cilitar o repasse do aumento de custo ao preço do produto.
b) Grau de abertura da economia ao comércio exterior: uma economia
aberta ao comércio internacional, poderá permitir uma competição do produto
fabricado internamente com o produto importado, resultando em menores os
preços dos produtos.
c) Estrutura das organizações sindicais: os setores que possuem uma es-
trutura sindical mais forte poderão obter reajustes de salários acima dos índi-
ces de produtividade e da inflação, gerando maior pressão sobre os preços.
d) Desequilíbrio do Setor Público: desequilíbrios do Setor Público levam
ao déficit constante nas contas públicas. Se o Governo optar pela emissão de
moeda, esse desequilíbrio gerará inflação.

Tipos de inflação
a) Inflação de demanda: refere-se ao excesso de demanda agregada de
mercadorias e serviços, tanto de consumo como de produção, em relação à
oferta dessas mercadorias e serviços. A economia, quando está produzindo per-
to do pleno emprego de recursos, está mais sujeita ao processo inflacionário. O

66 • capítulo 3
aumento da demanda agregada pode ser ocasionado por aumento dos inves-
timentos, aumento dos gastos do governo, aumento das exportações, redução
dos tributos, redução das importações, e aumento da oferta da moeda.
As medidas de combate ao processo inflacionário devem basear-se em ins-
trumentos que provoquem uma redução da demanda por mercadorias e servi-
ços – redução dos gastos governamentais, aumento da carga tributária, contro-
le sobre salários, restrição ao crédito e elevação da taxa de juros.
b) Inflação de custos: a inflação de custos está associada a uma elevação
dos custos de produção. O nível da demanda permanece constante, mas os cus-
tos de certos fatores de produção aumentam. Com isso, as empresas repassam
o aumento de custo para o preço final do produto.
As causas mais comuns dos aumentos dos custos de produção são os au-
mentos salariais, aumentos do custo de matérias-primas ou estrutura monopo-
lista ou oligopolista de mercado.

Teorias de inflação
Na teoria tradicional, a causa clássica da inflação decorre da Teoria
Quantitativa da Moeda, proveniente da escola monetarista, na qual o aumen-
to do meio circulante provoca o aumento geral dos preços. Ou seja, o valor ou
o poder aquisitivo da moeda seria inversamente proporcional ao montante da
moeda em circulação.
A inflação, portanto, seria provocada pelo aumento da oferta de moeda no
mercado. Caso a emissão de moeda for intensa, é natural que os preços su-
bam, visto que, quanto maior for a quantidade de moeda em poder do público,
maior a demanda, e essa elevação da demanda acaba resultando no proces-
so inflacionário.
A crítica feita à teoria monetarista situa-se na sua pretensão de querer ela-
borar uma teoria geral de inflação que seja aplicada a quaisquer realidades sem
distinção. Estas escolas são consideradas ortodoxas, pois se contrapõem a teo-
rias que procuram a origem dos processos inflacionários em outras variáveis
observadas nas chamadas economias em processo de desenvolvimento.
A mais tradicional teoria heterodoxa refere-se à concepção estruturalis-
ta de teóricos da CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina –, que
atribuem a origem real da inflação aos problemas estruturais de tais países.
Para teóricos como Osvaldo Sunkel, Aníbal Pinto e Ignácio Rangel, as pressões

capítulo 3 • 67
inflacionárias seriam originadas pela rigidez do mercado, que não seria capaz
de atender à demanda da sociedade, de problemas exógenos ao sistema ou pela
realimentação do próprio processo inflacionário, tornando a inflação sempre
crescente e acumulativa. A saída se encontraria na redistribuição de renda, que
permitiria dar um novo dimensionamento à economia e poria fim aos conflitos
de interesses existentes na sociedade.

Consequências do processo inflacionário


a) Redução do poder aquisitivo – os assalariados e os rendimentos de alu-
guel são diretamente afetados;
b) Desequilíbrio nas contas externas – encarecimento do produto nacio-
nal em relação ao produzido no exterior, provocando um estímulo às importa-
ções e um desestímulo às exportações;
c) Redução da arrecadação tributária – a inflação tende a reduzir o valor
da arrecadação dos tributos pelo governo, pela defasagem existente entre o fato
gerador e o recolhimento efetivo do imposto, ocasionando menor arrecadação
real pelo governo;
d) Desestímulo à aplicação no setor produtivo – desestímulo à aplicação
de recursos no mercado financeiro, estímulo à compra de imóveis e de moe-
da estrangeira.

3.2  Política Externa e o Direito Internacional

3.2.1  Introdução

Ao longo das últimas décadas, os países intensificaram seus relacionamentos


econômicos, criando uma interdependência de natureza comercial. Portanto,
a globalização aprofundou essas relações a nível internacional, seja por fluxos
comerciais, seja por fluxos financeiros. Com isso, a Economia Internacional,
como um ramo específico da teoria econômica, passa a se destacar, e será ana-
lisada em seus aspectos mais relevantes.
O comércio internacional resulta de uma aplicação da divisão do trabalho
em sentido mais amplo na economia internacional. Fundamentada pela teo-
ria das vantagens comparativas, cada país se especializa em produzir os bens
ou oferecer os serviços em que possui melhores condições naturais e técnicas
profissionais. Cada país utiliza seus fatores de produção na produção de bens

68 • capítulo 3
e na prestação de serviços, buscando menores custos, com base nas melhores
condições de seu solo, de seu clima e de seu desenvolvimento tecnológico.
A teoria das vantagens comparativas foi formulada em 1871 por David
Ricardo, considerado um dos grandes nomes do pensamento econômico. David
Ricardo analisa o comércio internacional, mostrando por que os países nego-
ciam entre si e os benefícios obtidos com a especialização em produtos que te-
nham vantagem comparativa, comercializando-os no mercado internacional.
A base da teoria das vantagens comparativas fornece uma definição para as
trocas de mercadorias no comércio internacional, a partir da formação dos cus-
tos de produção. Os países se especializarão na produção dos bens cujo custo
for comparativamente menor em relação ao verificado em outros países expor-
tadores. A consequência natural será aquela de que cada país irá buscar explo-
rar as produções menos onerosas em termos de recursos empregados.
As críticas quanto à teoria das vantagens comparativas se fundamentam na
sua rigidez, ao não considerar as estruturas da oferta e da demanda existentes
em cada país, assim como das relações de preços à medida que se observa o
crescimento do nível de renda a nível mundial. Utilizando o exemplo formula-
do por David Ricardo, Portugal deveria especializar-se na produção de vinho,
e a Inglaterra, na de tecido; entretanto, à medida que ocorresse o crescimento
da renda da população e o volume do comércio internacional, a demanda por
tecidos cresceria mais que proporcionalmente à demanda por vinho e ocorreria
uma tendência à deterioração da relação de trocas entre Portugal e Inglaterra,
em benefício da Inglaterra.

3.2.2  Câmbio

Conceito
A taxa de câmbio pode ser definida como a medida de conversão da moeda
nacional em moeda de outros países. Representa o preço da moeda estrangeira
(divisa) em termos da moeda nacional. Pode-se afirmar, por exemplo, que 1 dó-
lar vale 3,50 reais, ou 1 euro vale 1,35 dólar.
Regimes cambiais: fixo e flutuante.
A taxa de câmbio é denominada fixa quando seu valor é fixado pela au-
toridade econômica do país (Banco Central), que se obriga a comprar e ven-
der qualquer quantidade de moeda estrangeira (divisa) àquela taxa fixada.
Portanto, ao fixar sua taxa de câmbio, o país se obriga a disponibilizar suas

capítulo 3 • 69
reservas para o mercado quando requisitadas pelos exportadores, turistas ou
pelos investidores.
As taxas de câmbio são flutuantes ou flexíveis quando seu valor é determi-
nado pelo funcionamento do mercado de moeda estrangeira (divisa), através
do movimento de compra e venda de moeda estrangeira (divisa). Ao contrário
do regime cambial fixo, o Banco Central não é obrigado a disponibilizar suas
reservas cambiais.
Regimes ou Sistema de bandas cambiais.:
No regime de câmbio fixo, a autoridade monetária pode adotar o sistema de
bandas cambiais. O Banco Central fixa os limites superior e inferior (bandas)
no qual a taxa de câmbio pode variar. O Banco Central é obrigado a disponibi-
lizar suas reservas cambiais, quando requisitadas pelos exportadores, turistas
ou investidores.
A demanda de moeda estrangeira (divisa) é constituída pelos importadores
de bens e serviços, que desejam pagar suas compras no exterior, ou por outras
pessoas que necessitam remeter recursos para o exterior (turistas, investidores,
etc.). A oferta de moeda estrangeira (divisa) é realizada pelos exportadores de
bens e serviços, que recebem divisa por suas vendas no exterior, ou por outras
pessoas que tiverem recebido recursos no exterior (turistas do exterior, capi-
tais financeiros internacionais, etc.). A moeda estrangeira (divisa) necessita ser
convertida em real, pois não pode ser utilizada no pagamento de despesas cor-
rentes no Brasil.
Quando a taxa de câmbio aumenta de valor, significa que houve desvalori-
zação da moeda nacional (depreciação), ou seja, ela perdeu valor em relação
à moeda estrangeira (divisa). Assim, a desvalorização cambial indica que será
necessário um maior número de reais para cada unidade de moeda estrangeira.
Por exemplo, a moeda nacional é desvalorizada em relação ao dólar. A valoriza-
ção cambial (apreciação), por sua vez, significa que a moeda nacional se forta-
leceu em relação à moeda estrangeira (divisa), e que será necessário um menor
número de reais para cada unidade de moeda estrangeira.
A taxa de câmbio influencia diretamente o resultado das contas externas
do país. Se a moeda nacional estiver desvalorizada, estimulará as exportações,
pois os exportadores receberão mais reais pela mesma quantidade de moeda
estrangeira (divisa), aumentando, consequentemente, o volume de moeda es-
trangeira (divisa) disponível no país. No caso da desvalorização da moeda na-
cional, o custo do bem produzido no país torna-se mais competitivo em relação

70 • capítulo 3
à produção externa. Por outro lado, se a moeda nacional estiver valorizada, há
um estímulo às importações e um desestímulo às exportações, pois os expor-
tadores receberão menos reais pela mesma quantidade de moeda estrangeira
(divisa), reduzindo-se a oferta de moeda estrangeira (divisa) internamente.

3.2.3  Políticas cambiais e o câmbio como instrumento de regulação comercial

O governo interfere na área internacional, seja por meio da política cambial ou


da política comercial. A política cambial se refere à sua atuação na questão da
taxa de câmbio, enquanto que a política comercial refere-se à sua interferência
no movimento de mercadorias e serviços.
O Brasil adotou o regime de câmbio fixo quando era necessário combater
a elevada taxa de inflação que permanecia por anos no país. Como o produto
importado tem seu valor fixado em moeda estrangeira, o preço dos produtos
importados não é afetado pelas variações cambiais. Com isso, o governo pode
combater a elevação interna de preços através do aumento das importações,
impedindo desabastecimentos e estimulando a competição interna.
A desvantagem do regime de câmbio fixo é o fato de que as reservas cam-
biais ficam mais sujeitas à especulação e criam maior dependência do capital
externo de curto prazo necessário para o país manter suas reservas internacio-
nais. No regime de taxa de câmbio fixa, quando ocorre esse ataque especulati-
vo, o governo costuma manter elevadas as taxas de juros, para atrair o capital
financeiro internacional de curto prazo.
A vantagem do regime de câmbio flutuante é quando o governo precisa
manter o nível de reservas cambiais. Como o mercado determina a taxa de câm-
bio pelo movimento de oferta e demanda de divisas, o governo não se vê obri-
gado a dispor de suas reservas cambiais. Caso ocorra um ataque especulativo, a
moeda nacional vai se desvalorizar até encontrar um novo ponto de equilíbrio.
No entanto, podem ocorrer elevadas desvalorizações cambiais, que afetam os
preços dos insumos importados e o nível de preços internos.
No Brasil, o Banco Central vem interferindo indiretamente no nível de taxa
de câmbio, através da compra e venda de divisas no mercado, mantendo-o
dentro do patamar que considera desejável para a manutenção de sua política
econômica. Quando a moeda nacional atinge nível de valorização indesejável,
podendo afetar o nível de exportações do país, o Banco Central adquire moeda
estrangeira (divisa) no mercado nacional, evitando uma apreciação excessiva

capítulo 3 • 71
da moeda. Pode-se chamar de flutuante sujo esse tipo de regime cambial em
que a taxa de câmbio é determinada pelo mercado, mas que o Banco Central
interfere no mercado comprando e vendendo moeda estrangeira (divisa).

3.2.4  Economia Internacional e a Legislação Brasileira

O segmento do direito que rege as relações econômicas internacionais é de-


nominado Direito Econômico Internacional. É o ramo do direito internacional
que regula a mobilização dos fatores de produção pelos diversos estados e as
transações internacionais relativas a bens, serviços e capitais.
A Constituição Federal de 1988 contém as disposições fundamentais relati-
vas às relações econômicas internacionais, ou seja, as relações de ordem eco-
nômica que a União, os Estados, os Municípios, os indivíduos e as empresas
mantêm com o exterior.
Compete à União manter relações com Estados estrangeiros e participar de
organismos internacionais (inciso I do art. 21 da C. F. de 1988). Portanto, a com-
petência para regular o comércio exterior, de importação ou exportação, cabe
com exclusividade à União Federal.
A União tem competência para instituir impostos sobre a importação de
produtos estrangeiros ou sobre a exportação, para o exterior, de produtos na-
cionais ou nacionalizados (incisos I e II do art. 153 da C. F. de 1988).
Compete privativamente ao Senado Federal autorizar operações externas de
natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do distrito Federal, dos
Territórios e dos Municípios (inciso V do art. 52 da C. F. de 1988).
A Lei no. 4131 de 1962, que disciplina a aplicação do capital estrangeiro e as
remessas de valores para o exterior, e legislação complementar sobre a matéria,
determinam que: a) são capitais estrangeiros, os bens, máquinas e equipamen-
tos, entrados no Brasil, destinados à produção de bens ou serviços, bem como
os recursos financeiros ou monetários, introduzidos no país, para aplicação em
atividades econômicas, desde que, em ambas as hipóteses, pertençam a pes-
soas físicas ou jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no exterior; b)
ao capital estrangeiro que investir no País, será dispensado tratamento jurídico
idêntico ao concedido ao capital nacional, sendo vedadas quaisquer discrimi-
nações; c) o Banco Central do Brasil é responsável por manter um registro de ca-
pitais estrangeiros, qualquer que seja sua forma de ingresso no País, bem como
de operações financeiras com o exterior; d) as pessoas físicas são obrigadas na

72 • capítulo 3
forma, limites e condições estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, a
declarar ao Banco Central do Brasil, os bens e valores que possuírem no exterior,
podendo ser exigida a justificação dos recursos empregados na sua aquisição;
e) as operações cambiais serão efetuadas por meio de estabelecimentos autori-
zados a operar em câmbio; entre outras determinações contidas na legislação.

3.2.5  Organismos internacionais: FMI, OMC E BIRD e o Direito Internacional


Econômico

Organismos internacionais: FMI, OMC E BIRD


O objetivo de criar um Sistema Monetário Internacional foi o de viabilizar as
transações entre países, estabelecendo regras e convenções que regulassem as
relações monetárias e financeiras e não gerassem entraves ao desenvolvimento
mundial.
A ONU (Organização das Nações Unidas), em 1944, realizou em Bretton
Woods (New Hampshire) a Conferência de Bretton Woods, em que foram cria-
dos o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial; como os or-
ganismos econômicos internacionais que iriam regular o Sistema Monetário
Internacional. Pouco depois da Conferência de Bretton Woods, foi criado o
GATT (General Agreement on Tariffs and Trade), que se transformou, em abril
de 1994, na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Fundo Monetário Internacional (FMI)
O Fundo Monetário Internacional (FMI), que começou a funcionar em 1º de
março de 1947, tem a finalidade de auxiliar os países que apresentam déficits e
desequilíbrios ocasionais nas contas externas, causados por conjunturas inter-
nacionais adversas, e incentivar a livre circulação internacional de bens e servi-
ços. O FMI procura também promover a cooperação monetária internacional,
a expansão do comércio de modo harmônico, visando ao pleno emprego em
níveis elevados, e ainda, promove a estabilidade cambial, contribuindo para a
constituição de um sistema multilateral de pagamentos, supervisionando, por
fim, a dívida externa.
O capital do fundo é formado por contribuições dos países-membros, na
razão da importância econômica de cada contribuinte. Em vez de tomar um
empréstimo, o país em dificuldade nas contas externas pode realizar um convê-
nio “stand-by”, em que, apesar de disponível, apenas utiliza o recurso quando
efetivamente necessita.

capítulo 3 • 73
Banco Mundial ou BIRD (Banco Internacional de Reconstrução
e Desenvolvimento):
Conhecido também por BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e
Desenvolvimento), o Banco Mundial iniciou suas operações em 27 de dezem-
bro de 1945, com a finalidade de auxiliar a reconstrução dos países destruídos
pela guerra, particularmente a Alemanha e o Japão. O fortalecimento das eco-
nomias europeias e o Japão redirecionaram a atuação do Banco Mundial para
o financiamento de projetos de recuperação e construção da infraestrutura ne-
cessária ao crescimento dos países em desenvolvimento.
O Banco Mundial tem seu capital subscrito pelos países na proporção de
sua importância econômica no cenário internacional. As operações de emprés-
timo são realizadas a taxas de juros mais reduzidas, direcionadas a países em
desenvolvimento, com a finalidade de promover projetos economicamente
viáveis, especialmente de infraestrutura, importante para o desenvolvimento
desses países.
Desse modo, a função do BIRD é a de financiar empréstimos, como também
dar assistência aos países em desenvolvimento, investindo em saúde, educa-
ção, proteção ao meio ambiente, redução da pobreza.

Organização Mundial do Comércio (OMC)


Ao findar a Segunda Guerra Mundial, em 1946, 23 países decidiram estabe-
lecer o processo de regulação das relações econômicas internacionais, visando
impulsionar a liberalização comercial e combater práticas protecionistas ado-
tadas internacionalmente. Posteriormente, os países denominados fundado-
res, iniciaram negociações tarifárias (primeira rodada), e o conjunto de normas
e concessões proveniente do acordo passou a ser chamado Acordo Geral sobre
Tarifas e Comércio - GATT.
Os países fundadores criaram a Organização Internacional do Comércio
(OIC), destacando a atuação dos Estados Unidos, um dos países mais atuan-
tes na propagação da ideia do liberalismo comercial regulamentado em bases
multilaterais. Entretanto, o não encaminhamento, em 1950, ao Congresso
Norte–Americano para sua ratificação, resultou no fracasso da criação da OIC.
Com isso, o GATT, um acordo criado para regular provisoriamente as relações
comerciais internacionais, foi o mecanismo que regulamentou até praticamen-
te o final do século as relações comerciais entre os países.

74 • capítulo 3
O GATT desempenhou papel importante nas sucessivas rodadas de nego-
ciações entre os países envolvidos no comércio internacional e conseguiu redu-
zir o protecionismo ao comércio internacional, estabeleceu a compensação aos
países atingidos por elevação de tarifas alfandegárias e produziu a arbitragem
dos conflitos de natureza comercial. Com o acordo de Marrakesh, em abril de
1994, o GATT transformou-se na Organização Mundial do Comércio (OMC).
O GATT é um tratado multilateral de tarifa aduaneira e comércio interna-
cional, que visa: a) a não discriminação entre os países–membros, sejam países
desenvolvidos, em desenvolvimento ou subdesenvolvidos; b) gradativa redução
das barreiras tarifárias (aduaneiras) e não tarifárias (cambiais ou de outra na-
tureza); c) elaboração de normas de intercâmbio que garantam livre fluxo das
mercadorias no comércio internacional; d) contribuição das partes integrantes
para a permanente elevação do padrão de vida dos povos.
No que se refere à propriedade intelectual, os países-membros da OMC es-
tão obrigados a proteger os direitos às patentes, assim como aos segredos pro-
fissionais e ao registro de marcas. Com isso, procura-se combater a pirataria
e desestimular práticas desleais que afetam o investimento de companhias,
como as do setor farmacêutico e as do setor de vestuário/calçado.
No Brasil, o Decreto Legislativo no. 30 de 15/12/94 aprovou e o decreto
no. 1.355, de 30/12/94 – DOU 31/12/94 promulgou o texto na íntegra da men-
cionada Ata Final, que contém, além do Acordo Constitutivo da Organização
Mundial do Comércio (OMC), vários acordos que nortearão as regras que serão
aplicadas no comércio internacional nos próximos anos.
Os Acordos Anti-Dumping – (Dumping é a introdução, no mercado de outro
país, de um produto a preço inferior ao seu valor normal ou custo de fabricação)
e sobre Subsídios (Subsídio é o auxílio financeiro, fiscal e comercial concedido
pelo governo ou entidade pública localizada no país de exportação) e Medidas
Compensatórias (compensação sobre o dano causado ao país exportador por
práticas contrárias ao comércio exterior como o subsídio), também foram in-
corporadas à Ata final.
Pode-se, assim, concluir, que a OMC tem como finalidade precípua, comba-
ter o abuso do poder econômico, relativo às desigualdades comerciais entre as
nações membros.

capítulo 3 • 75
3.2.6  Integração econômica no processo de globalização

O processo de integração econômica pode ser definido como o acordo de natu-


reza econômico-político entre governos nacionais e soberanos com a finalida-
de de redução das barreiras tarifárias e não tarifárias que restringem o comér-
cio entre os respectivos países signatários.
a) União Europeia
A União Européia tem como objetivo fazer a integração econômica entre os
países pertencentes ao bloco europeu signatários do acordo, através da elimi-
nação total dos impostos de importação e exportação, promovendo a livre cir-
culação de pessoas, bens e serviços.
Discutido desde o findar da Segunda Guerra Mundial, após cumprir di-
versas etapas, surgiu em 7 de fevereiro de 1992, o Tratado da União Europeia,
que estabeceu a integração européia através da formação das Comunidades
Europeias. A uniformização da política econômica conta nos títulos VI e VII ,
art. 102 - A “Os Estados- Membros conduzirão as suas políticas econômicas no
sentido de contribuir para a realização dos objetivos da Comunidade, [...] Os
Estados–Membros e a Comunidade atuarão de acordo com o princípio de uma
economia de mercado aberto e de livre concorrência, favorecendo uma reparti-
ção eficaz dos recursos [...]”.

b) MERCOSUL
O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) foi concluído em 26/03/91, entre
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, para a constituição do MERCOSUL, ten-
do entrado em vigor em 29 de novembro do mesmo ano. O objetivo do acordo
é criar um mercado comum entre os países integrantes, por meio de: a ) livre
circulação de bens, serviços e fatores de produção; b) eliminação das barrei-
ras tarifárias e não tarifárias no comércio entre os países membros; c) adoção
de uma Tarifa Externa Comum (TEC ) – em função da TEC todos os produtos
importados de países não participantes do MERCOSUL, estão sujeitos à mes-
ma alíquota de importação ao serem internalizados em qualquer dos Estados
– Partes; d) coordenação das políticas macroeconômicas entre os países mem-
bros dentro do MERCOSUL.
Por meio de decisão no. 23/94 do Conselho do Mercado Comum, foram
estipulados requisitos específicos de origem: onde para obter o Certificado
de Origem, o produto deverá ter pelo menos 60% (sessenta por cento) de com-
ponentes produzidos na região. Portanto, para fazer parte do MERCOSUL, o

76 • capítulo 3
produto originário dos Estados - Partes deverá ter no mínimo 60% (sessenta por
cento) de componentes produzidos internamente.
No protocolo de Fortaleza, de 17 de dezembro de 1996, o MERCOSUL esta-
beleceu um mecanismo de defesa da concorrência que muito se parece com a
legislação antitruste brasileira (Lei no. 884/94 quase integralmente revogada
pela Lei no. 12.529/11). Combate os atos praticados por pessoas físicas e jurí-
dicas, de direito público ou privado, que venham a afetar o processo de concor-
rência no âmbito do MERCOSUL. O art.. 4º. do anexo ao protocolo estabelece
que “Constituem infração às normas do presente Protocolo, independente-
mente de culpa, os atos, individuais ou concertados, sob qualquer forma mani-
festados, que tenham por objeto ou efeito limitar, restringir, falsear ou distor-
cer a concorrência ou o acesso ao mercado ou que constituam abuso de posição
dominante no mercado relevante de bens e serviços no âmbito do Mercosul e
que afetem o comércio entre os Estados - Partes”.
O processo de defesa comercial do Mercosul incorpora uma política comum
de salvaguardas, bem como a defesa contra a importação de produtos em que
fique caracterizado um dumping ou preços subsidiados, que venham a prejudi-
car a produção interna do MERCOSUL.
c) NAFTA
O Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) tem como par-
ticipantes os Estados Unidos, o México e o Canadá. Sua finalidade é constituir
uma zona de livre comércio visando à eliminação de barreiras tarifárias e não
tarifárias sobre as transações de bens, serviços e capitais.
A questão a ser resolvida na implantação plena deste acordo é a grande dife-
rença socioeconômica do México em relação aos outros membros do bloco. Por
sua vez, os Estados Unidos e o Canadá receiam perder suas indústrias para um
país com mão de obra muito mais barata, apesar de serem bem mais competi-
tivas, se comparadas com a indústria mexicana.

Legislação Aplicada

Constituição Federal Brasileira de 1988


Dentre os diversos artigos da Constituição Federal brasileira importan-
tes para o assunto abordado no presente capítulo, cabe destacar os seguintes
artigos:

capítulo 3 • 77
Arts. 5º; 21; 22; 48; 52; 70; 71; 153; 164; 170; 172; 173; 174.
LEI No. 4131/62
LEI No. 4595/64
LEI No. 5172/66 - Código Tributário Nacional
Resolução n.º 1.124/86 do Banco Central do Brasil
Decreto Legislativo no. 30 de 15/12/94
Circular Bacen n.º 2.868/99, repetida na Circular Bacen n.º 2.900/99
LEI No. 10.406/2002 - Código Civil brasileiro
Lei no. 12.529/11 – Lei Antitruste brasileira

Estudo de casos

1. Governo oficializa isenção de imposto para importação de feijão (o


Globo, 23/06/2016)
A Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou nesta quinta-feira o pedido
do governo de isentar os feijões preto e carioquinha do Imposto de Importação.
Dessa forma, espera-se que as redes de varejo busquem o produto fora do país
e o preço caia para o consumidor. A suspensão das taxas vai vigorar por 90 dias
e vale para compras em todos os países.
Ontem, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, já havia anunciado que en-
caminharia à Camex um pedido para incluir o feijão na lista de exceções que
permite a isenção do Imposto de Importação. A tarifa cobrada sobre a compra
da leguminosa no exterior é, usualmente, de 10%. O objetivo do governo é esti-
mular a importação de países do Mercosul, onde o comércio já é livre, e abrir
possibilidades para fora do grupo econômico. A ideia é que os supermercados
possam recorrer diretamente ao México e à China.
Neste último caso, há o agravante de que o produto demoraria até 60 dias
para chegar ao país. Por isso, o objetivo é que os supermercados tentem impor-
tar primeiramente de países vizinhos. Maggi disse que, como não é o governo
quem compra os produtos, e sim as redes de varejo, não é possível estimar em
quanto tempo os preços começarão a cair.
O feijão carioca acumulava uma alta, neste ano, de 33,5% até maio. O IPCA-
15, considerado uma prévia da inflação oficial, já mostrava que houve um novo
aumento de 16,38% na virada do mês de maio para junho. O feijão preto teve
alta de 18% no ano.

78 • capítulo 3
Indagações
a) A partir do texto, o caso do feijão poderá produzir uma inflação de de-
manda ou custo? Fundamente a resposta.
b) Com base no texto, como o governo brasileiro pode utilizar a política
externa para combater o aumento dos preços? Fundamente a resposta.
c) Mostre, a partir do texto, como a integração econômica pode auxiliar na
política macroeconômica do governo.

2. Crise da UE põe em xeque modelos de integração do Mercosul, dizem


especialistas (Estado de Minas, 29/02/2016)
As muitas crises enfrentadas pela União Europeia (UE) questionam seu va-
lor como modelo do Mercosul para a integração regional e poderá afetar as ne-
gociações de livre comércio entre os dois blocos, apontam analistas.
A UE enfrenta os efeitos combinados de três crises: econômica, migratória
e de segurança, sintetiza Nicolás Albertoni, especialista da Universidade de
Georgetown, nos Estados Unidos.
"A solução para estes três problemas requer receitas completamente dife-
rentes entre si, e os europeus estão tentando unificar essas opções em uma fór-
mula (...) que permita resolver todos esses problemas", disse Albertoni à AFP
de Washington.
O Mercosul, integrado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela,
pode aprender com esse processo, reduzindo as expectativas em torno da inte-
gração para "quem sabe construir algo mais relativizado".
"É provável que essa crise conduza a um Mercosul de baixa intensidade, um
Mercosul mais flexível, um Mercosul com outras regras", disse à AFP Mauricio
Claveri, da consultoria Abeceb, con sede em Buenos Aires.
Aliança do Pacífico, outro modelo
Depois do risco de "Grexit" (saída da Grécia) por causa da crise da dívida, a
UE enfrenta agora a ameaça de uma "Brexit", se os eleitores britânicos se pro-
nunciarem no referendo do dia 23 de junho pela saída do Reino Unido do bloco.
"Nós não coligamos Estados, nós unimos pessoas", afirmou Jean Monnet,
um dos fundadores da UE.
Esses ideais, entretanto, parecem em vias de extinção pelos desacordos em
temas estratégicos, como a repartição da onda de refugiados que chegam à
Europa fugindo da guerra na Síria ou pela negativa do primeiro-ministro David

capítulo 3 • 79
Cameron em conceder a trabalhadores de outros países europeus os mesmos
benefícios sociais dados aos britânicos.
Outros analistas lembram que o Mercosul e outros processos de integração
regional já estavam estagnados, com ou sem modelo europeu.
"Com independência da evolução da UE, os processos de integração regio-
nal na América Latina estão em crise e evocar o modelo da UE é mera retórica",
afirma Carlos Malamud, catedrático de História da América e analista do Real
Instituto Elcano, de Madri.
"Desde o começo do século XXI, a integração latino-americana apostou
mais na concertação política do que no comércio e na economia, e isso já pres-
supunha que a UE deixava de ser um modelo de integração", expôs Malamud
em declaração à AFP.
A Aliança do Pacífico (Chile, México, Colômbia e Peru) preferiu apostar nos
intercâmbios comerciais, renunciando a outras ambições.
"Se a Aliança do Pacífico recuperar a centralidade do comércio e da econo-
mia para a integração, esse projeto afeta um número limitado de países e não
pretende ser mais do que é", declarou Malamud.
Para Claveri, a situação atual da UE terá "uma incidência no processo de
negociação" entre o Mercosul e o bloco europeu, que começou em 2000, foi sus-
penso durante seis anos e retomado em 2010.
"Em uma situação de crise é muito difícil que países como França e Polônia
façam concessões no tema agrícola", afirmou.
Para Albertoni, enquanto a América Latina está voltada para a UE, os euro-
peus estão concentrados em seus próprios problemas.

Indagações:
a) Com base no texto, como o Mercosul pode encontrar uma dinâmica
mais flexível? Fundamente a resposta.
b) Comente, a partir do texto, sobre os principais obstáculos para uma
maior integração entre os países.
c) Quais seriam as vantagens para o Brasil da integração com as principais
economias mundiais? Fundamente a resposta.

80 • capítulo 3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BALEEIRO, A.. Uma Introdução à Ciência das Finanças. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
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frente à globalização. In: FIORI, J. F. Os moedeiros falsos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. p. 201-239.
GALVEZ, C., Economia Política Atual. 15ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
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MANKIW, N. G. Introdução à economia. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2004.
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VICECONTI, P. E. V.; DAS NEVES, S. Introdução à Economia, 4ª. ed.. São Paulo: Frase, 2000.

capítulo 3 • 81
82 • capítulo 3
4
Política econômico-
social e regulação
de mercado
4.  Política econômica-social e regulação de
mercado

4.1  Política econômica-social

4.1.1  Introdução

De modo geral, os Estados Modernos, independentemente do regime político


vigente e da condição econômica, têm desempenhado um papel relevante nas
questões sociais. O alcance e a intensidade das ações do Estado variam conforme
as características de cada formação social, podendo estas ações ir desde a adoção
de políticas públicas com foco nos segmentos sociais mais vulneráveis até mode-
los amplos de ampla inclusão baseados no chamado bem-estar social.
A implantação das políticas sociais se dá por meio de ações estatais diretas
e indiretas. As primeiras, as ações estatais diretas, ocorrem por meio da apli-
cação de medidas regulatórias, desenvolvendo-se políticas públicas de transfe-
rência de renda, de incentivos fiscais e da provisão de bens e serviços. As ações
estatais indiretas se dão por meio de parcerias com instituições privadas, com
ou sem finalidade lucrativa.
O desenvolvimento econômico está diretamente relacionado ao atendimen-
to das questões sociais, permitindo que o trabalhador possa desempenhar bem
suas funções e obtenha constantes aumentos de produtividade e crescimento
profissional. Por sua vez, o produtor poderá investir em seu negócio, buscando
a sustentabilidade e o retorno desejado.

4.1.2  Políticas de segurança, educação e saúde

A segurança se constitui como bem público que tem como característica prin-
cipal a indivisibilidade do consumo. Como não se pode avaliar a quantidade de
serviços consumida pelos diferentes indivíduos, a determinação do preço por
meio de mecanismos de mercado torna-se, se não impossível, pelo menos mui-
to difícil. Por este motivo, a intervenção do governo se faz indispensável para o
atendimento das necessidades coletivas, utilizando-se a tributação para a ob-
tenção compulsória de recursos necessários ao financiamento desses serviços.
Para as pessoas e para o país, a segurança constitui em um bem fundamen-
tal, consistindo em uma das obrigações do Estado para com o cidadão. Para

84 • capítulo 4
que a vida em sociedade possa desenvolver-se de maneira adequada, necessá-
rio se faz que cada indivíduo tenha um mínimo de segurança que lhe permita
trabalhar, estudar, consumir, aprimorar-se, divertir-se, estar em casa ou na rua
sem que esteja sob o risco de qualquer violência.
A educação representa um requisito fundamental para uma adequada in-
serção do indivíduo na sociedade. A melhoria do desempenho em qualquer
profissão demanda um crescente grau de conhecimento, tanto específico (as
técnicas próprias de cada atividade) como geral e diversificado, ao mesmo tem-
po em que o crescimento do indivíduo requer cada vez mais capacidade de ab-
sorver informações acerca dos problemas da sociedade e do Estado.
Os arts. 22, 23 e 24 e respectivos incisos da Constituição Federal brasilei-
ra determina a competência legal dos entes da federação sobre a questão
da educação:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: [...] XXIV - diretrizes
e bases da educação nacional; [...]
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios: [...] V - à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa
e à inovação; [...]
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concor-
rentemente sobre: [...] IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecno-
logia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; [...]
O Art. 205 da Constituição Federal brasileira determina que a educação, di-
reito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com
a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
A saúde pode ser considerada como um investimento, e não como uma des-
pesa de consumo. O investimento ineficiente na saúde pode causar sérios dese-
quilíbrios sócioeconômicos, tendo impactos significativos no desenvolvimen-
to econômico. O investimento em saúde está associado a uma melhora do nível
de produtividade na economia. O planejamento dos gastos em saúde, segundo
o desenvolvimento econômico de cada região, é importante para reduzir as de-
sigualdades pessoais e regionais observadas no país.
O art. 196 da Constituição Federal brasileira determina a saúde como um
direito de todos e dever do Estado, garantido, mediante políticas sociais e
econômicas, que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção
e recuperação.

capítulo 4 • 85
As questões sociais são fundamentais para a sustentabilidade da economia.
O país ainda apresenta problemas sociais que afetam os investimentos empre-
sariais e exigem cada vez mais recursos públicos. A segurança é importante
para que a população alcance o bem-estar, tendo a tranquilidade de realizar
suas tarefas sem estar preocupado com os riscos advindos da violência. A edu-
cação é fundamental para que se possa ter uma mão de obra capaz de enfrentar
os novos desafios oferecidos pelas novas tecnologias e o processo de globaliza-
ção da economia. A saúde, por sua vez, é um fator que afeta a produtividade do
trabalhador e exige constantes gastos por conta do setor público.

4.1.3  Distribuição da renda – O coeficiente de Gini

A medida mais conhecida do nível de desigualdade de renda de um país é co-


nhecida como coeficiente de Gini. Ele consiste em um número entre 0 e 1, em
que 0 corresponde à completa igualdade de renda (todos têm a mesma renda)
e 1 corresponde à completa desigualdade (uma pessoa tem toda a renda, e as
demais não têm nada).
A desigualdade de renda no Brasil se observa na formação do mercado de
trabalho. A rigidez do mercado de trabalho, o excesso de burocracia e a elevada
carga tributária, resultaram num crescimento do trabalho informal, em que o
trabalhador não recebe as garantias de natureza social e trabalhista. A renda
dos trabalhadores informais se distancia dos trabalhadores formais, protegi-
dos pela legislação, criando uma desigualdade no próprio mercado de trabalho.
Na esfera regional, existe um distanciamento da remuneração do trabalho
em determinadas regiões (Norte, Nordeste e Centro-Oeste) em relação às outras
(Sul e Sudeste). A remuneração mais elevada percebida em determinadas re-
giões, gera desigualdade entre as categorias de trabalhadores e aprofunda o dis-
tanciamento existente no país. Uma política governamental de fortalecimento
do salário mínimo poderá ser um instrumento para reduzir as disparidades, for-
talecendo o poder aquisitivo dos trabalhadores nas regiões mais desfavorecidas.
Deve ser ressaltada a contribuição da legislação constitucional no senti-
do de reduzir as desigualdades regionais e pessoais. O art. 21 da Constituição
Federal diz que compete à União: [...] IX - elaborar e executar planos nacionais e
regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;
[...] XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habita-
ção, saneamento básico e transportes urbanos; [...].

86 • capítulo 4
Posteriormente, no art. 43 e parágrafo 2º e 3º da Constituição Federal, afir-
ma-se que, para efeitos administrativos, a União poderá articular sua ação em
um mesmo complexo geoeconômico e social, visando ao seu desenvolvimento
e à redução das desigualdades regionais. [...] § 2º - Os incentivos regionais com-
preenderão, além de outros, na forma da lei: I - igualdade de tarifas, fretes, se-
guros e outros itens de custos e preços de responsabilidade do Poder Público; II
- juros favorecidos para financiamento de atividades prioritárias; III - isenções,
reduções ou diferimento temporário de tributos federais devidos por pessoas
físicas ou jurídicas; IV - prioridade para o aproveitamento econômico e social
dos rios e das massas de água represadas ou represáveis nas regiões de baixa
renda, sujeitas a secas periódicas. § 3º Nas áreas a que se refere o § 2º, IV, a
União incentivará a recuperação de terras áridas e cooperará com os pequenos
e médios proprietários rurais para o estabelecimento, em suas glebas, de fontes
de água e de pequena irrigação.
As oportunidades desiguais no sistema educacional brasileiro acentuam as dis-
paridades de renda entre as diversas classes sociais. O acesso ao mercado de traba-
lho cada vez mais seletivo, distingue a mão de obra qualificada e a não qualificada,
aumentando, consequentemente, a desigualdade de renda. No mercado globali-
zado, em que o comércio internacional torna-se fundamental para a consolidação
das economias em desenvolvimento, o investimento em educação passa a ser o
divisor entre o desenvolvimento sustentado e a perpetuação do nível de pobreza.
O próprio art. 170 da Constituição Federal brasileira determina que a ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios: [...] VII - redução das desigualdades
regionais e sociais; [...]
Apesar da diminuição da desigualdade de renda no Brasil verificada nos
últimos tempos, esta ainda permanece bastante elevada. A parte da renda nas
mãos da população mais rica é muito superior àquela detida pelos mais pobres.
Comparando com outros países, o Brasil continua ocupando uma lamentável
posição de destaque, caracterizando-se como detentor de um dos mais eleva-
dos graus de desigualdade no mundo.
A igualdade é uma meta a ser alcançada. Na medida em que esse objetivo
é compartilhado por muitos brasileiros, justifica por si só que a política e a
economia do país estejam voltadas para tornar sustentável essa queda da desi-
gualdade. Não obstante, reduções na desigualdade são também instrumentos

capítulo 4 • 87
valiosos para combater a pobreza e principalmente a extrema pobreza. Estas
últimas são reduzidas quando a renda dos mais pobres cresce.

4.1.4  Setores formais (tributáveis) e informais (não tributáveis) da economia

A economia informal é um tema que vem sendo objeto de grande preocupação


e discussão a nível internacional desde o final do século passado. O crescimen-
to das atividades informais, proveniente do maior número de atividades econô-
micas que atuam à margem da economia oficial (formal – tributável), traz à dis-
cussão, o aspecto social, o processo de fiscalização e de arrecadação tributária,
o sistema de saúde e de benefícios da previdência, e o fato de que estão sendo
produzidas riquezas que não são registradas nas estatísticas oficiais. Além dis-
so, o comércio informal é o mecanismo pelo qual a pirataria passa a distribuir
seus produtos, ameaçando, inclusive, a própria sobrevivência das atividades
econômicas formais.
A importância das questões sociais que acompanham a redução das vagas no
setor formal da economia, causada, entre outros motivos, pela maior produtivi-
dade das empresas modernas, resulta numa maior tolerância por parte do Estado
para existência das atividades econômica informais, preservando-as como uma
alternativa para absorver uma mão de obra que, na ausência da economia infor-
mal, ficaria dependente mais fortemente dos serviços de natureza pública.
No entanto, devem ser ressaltados os riscos advindos do crescimento da
economia informal, que desmoraliza o sistema de arrecadação tributária do
Estado ou estimula a falta de interesse dos indivíduos em realizar investimen-
tos no setor formal da economia em face da concorrência desleal.
O crescimento do mercado informal pode ser considerado uma caracterís-
tica inerente das economias desajustadas. A pouca eficiência do sistema esta-
tal, os elevados impostos, a burocracia e a corrupção fazem com que seja difícil
a permanência na formalidade, estimulando o surgimento do setor informal,
que, à margem da lei, garante ao menos a sobrevivência de seus integrantes,
evitando crises de natureza social.

4.1.5  Características do setor informal

A informalidade surge como um fenômeno mundial em face da redução do


poder aquisitivo, da marginalização de parcela da população e do crescimento

88 • capítulo 4
do desemprego nas economias modernas. No Brasil, as práticas informais no
mercado nacional de produção e trabalho se multiplicam, associadas ao cres-
cente desemprego, a uma elevada burocracia e a uma carga tributária excessiva,
mesmo se comparada a padrões internacionais.
Como caracterização, a informalidade pode estar associada a uma relação
econômica ou trabalhista que foge ao amparo da lei, constituída por empresas
que não estão legalizadas e escapam ao pagamento de impostos, e trabalha-
dores sem carteira assinada. Existe uma relação entre informalidade nas em-
presas e informalidade no mercado de trabalho, fato que motivou medidas do
governo brasileiro para incentivar a criação de micro e pequenas empresas (Lei
Geral das Micro e Pequenas Empresas - Lei Complementar 123/2006) com a re-
dução de tributos e de burocracia.
De acordo com o Art. 1o e incisos I, II e III dessa Lei Complementar, são
estabelecidas normas gerais relativas ao tratamento diferenciado e favorecido
a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte no âmbito
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, espe-
cialmente no que se refere: I - à apuração e recolhimento dos impostos e contri-
buições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante
regime único de arrecadação, inclusive obrigações acessórias; II - ao cumpri-
mento de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive obrigações aces-
sórias; III - ao acesso a crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas
aquisições de bens e serviços pelos Poderes Públicos, à tecnologia, ao associati-
vismo e às regras de inclusão.
Cabe ressaltar, ainda, a legislação constitucional brasileira em proteção das
pequenas empresas:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano
e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme
os ditames da justiça social, [...] IX - tratamento favorecido para as empresas
de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e
administração no País.
Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensa-
rão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei,
tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de
suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou
pela eliminação ou redução destas por meio de lei.

capítulo 4 • 89
Entretanto, as pequenas e microempresas respondem por uma restrita
parcela dos empregos formais. As pequenas empresas e microempresas cons-
tituem nas principais responsáveis pelo emprego informal, sendo, ao mesmo
tempo, a mais prejudicada pelo excesso de burocracia e pela elevada tributa-
ção. Uma economia com os problemas estruturais como a brasileira depende
da pequena empresa para reduzir as tensões sociais, criando uma informalida-
de que ameaça a própria sobrevivência do setor formal.
O mercado informal é composto por trabalhadores "por conta-própria",
empregados que trabalham por tarefa (agricultura, construção civil, etc.), am-
bulantes, profissionais qualificados entre outros. A informalidade desprotege
o trabalhador, que fica sem direito à seguridade social, não dispondo de bene-
fícios como aposentadoria, auxílio-doença, etc.
A informalidade é uma situação de mercado que deve ser combatida, seja
através de uma fiscalização mais efetiva, seja através da simplificação da legis-
lação, uma menor rigidez na legislação trabalhista, redução da carga tributária
e uma menor burocracia.

4.1.6  Preceitos constitucionais de proteção ao trabalhador formal

A Constituição Federal brasileira de 1988 prevê uma série de direitos aos traba-
lhadores dentro da estrutura formal. O recurso da informalidade faz com que o
trabalhador venha a perder esses direitos
Estão destacados alguns incisos do art. 7º da Constituição Federal brasilei-
ra: - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem
à melhoria de sua condição social:
I. relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa
causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensa-
tória, dentre outros direitos; II - seguro-desemprego, em caso de desemprego
involuntário; III - fundo de garantia do tempo de serviço; IV - salário mínimo,
fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades
vitais básicas e às de sua família [...] VI - irredutibilidade do salário, salvo o dis-
posto em convenção ou acordo coletivo; [...] VIII - décimo terceiro salário com
base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria; IX - remuneração
do trabalho noturno superior à do diurno; [...] XVI - remuneração do serviço
extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal; XVII
- gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que

90 • capítulo 4
o salário normal; XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salá-
rio, com a duração de cento e vinte dias; XIX - licença-paternidade, nos termos
fixados em lei; [...] XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
normas de saúde, higiene e segurança; XXIII - adicional de remuneração para
as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; XXIV - aposen-
tadoria; [...] XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de tra-
balho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e
rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; [...]

4.1.7  Legislação trabalhista, encargos e informalidade

A legislação brasileira praticamente restringe numa única forma de contrata-


ção de empregados: o contrato de trabalho regido pela CLT – Consolidação das
Leis do Trabalho. Com isso, processos alternativos de contratação de emprega-
dos, como a terceirização e a prestação de serviços através de pessoas jurídicas,
exigirão um tratamento especial, considerando a opção mais simples que é a
informalidade.
Na legislação trabalhista, não existe diferença entre a pequena e a grande
empresa. O crescimento econômico deve basear-se no fortalecimento da peque-
na empresa, no qual mais se verifica a informalidade. Assim, deve-se discutir,
na legislação que regula as relações de trabalho, a possibilidade de maior ne-
gociação entre capital e trabalho, no tocante aos pequenos empreendimentos.
A legislação que regula as relações de trabalho no País retira o poder de ne-
gociação entre capital e trabalho. Além disso, não permitem a adoção de con-
tratos especiais para os grupos mais vulneráveis, como os jovens, os idosos e as
mulheres. A falta de dinamismo econômico e o crescimento da informalidade
são uma das consequências da rigidez da legislação trabalhista.
Por sua vez, no Brasil, verifica-se uma escassez de capital e uma relativa
abundância do fator de produção trabalho que resulta numa estrutura produti-
va que privilegia o emprego em relação ao maquinário. O processo começa a re-
verter no momento em que o custo da mão de obra com seus elevados encargos,
estimulam as empresas a investir em tecnologias pouco intensiva em trabalho.
Com isso, observam-se duas tendências na economia, em que as grandes em-
presas optam pelo investimento em tecnologia substitutas do fator de produ-
ção trabalho, e, em contrapartida, a micro e a pequena empresa caminham
para a informalidade.

capítulo 4 • 91
Os aspectos trabalhistas estão estabelecidos na Constituição Federal, em
que se destaca inicialmente o art. 7º, que se refere aos direitos dos trabalha-
dores. Este artigo concede aos trabalhadores uma série de direitos que são co-
muns aos trabalhadores das grandes empresas e da micro e pequena empresa.
A incapacidade, muito vezes, para a micro e pequena empresa em conceder os
benefícios citados resulta em acordos particulares característicos dos contra-
tos informais. A fiscalização deficiente em regiões remotas serve para agravar
ainda mais a situação do trabalho informal.
As contribuições e os encargos existentes na legislação trabalhista estimu-
lam esse crescimento anormal do mercado de trabalho informal, que gera uma
concorrência desleal entre empresas e a queda de arrecadação previdenciária.
O aumento dos encargos trabalhistas (FGTS, previdência social, entre outros)
gera uma elevação no custo para as empresas. Com isso, existe uma redução na
oferta de emprego formal e um investimento em segmentos de alta tecnologia,
pouco intensivo em mão de obra.
A Constituição Federal, em seu art. 8º, define a atuação da entidade sindical
no âmbito das relações trabalhistas: “Art. 8º É livre a associação profissional ou
sindical, observado o seguinte: I - a lei não poderá exigir autorização do Estado
para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, veda-
das ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical;
[...]; III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou indi-
viduais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas; [...];
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de tra-
balho; [...]”.
O art. 114 da Constituição Federal estabelece o papel da justiça do trabalho
nos dissídios individuais e coletivos no entanto, tem sido discutida a possibi-
lidade de incremento à arbitragem ou aos acordos firmados pelas entidades
particulares. “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I as
ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público
externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios; II as ações que envolvam exercício do direito
de greve; III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindi-
catos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; [...] V os conflitos de
competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, [...] VI as ações de inde-
nização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; VII
as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores
pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; [...]”.

92 • capítulo 4
4.2  Infraestrutura econômica e regulação de mercado

4.2.1  O Estado brasileiro e a infraestrutura econômica

A característica exportadora de nossa economia, baseada em produtos prove-


nientes dos setores agrícolas e extrativistas, permitiu desenvolver, nas últimas
décadas do século XIX e durante as primeiras décadas do século XX, uma ma-
lha ferroviária destinada a ligar as regiões produtoras, por exemplo, de café,
ao porto exportador de Santos. A infraestrutura implantada estava baseada no
perfil agroexportador da economia brasileira. A presença do Estado se limitava
fundamentalmente a oferecer justiça e segurança, atuando pouco implantação
da infraestrutura no país.
Entre a segunda metade dos anos 1940 e o início dos anos 1980, a econo-
mia brasileira experimentou períodos de considerável crescimento econômico
impulsionado pelo Estado, com base em iniciativas oriundas do planejamento
governamental, como o Plano SALTE (saúde, alimentação, transporte e ener-
gia) do governo Dutra (1946-1950), o Plano de Metas do governo de Juscelino
Kubitschek (1956-1961), as Reformas de Base do Governo de João Goulart,
e o período do “milagre econômico”, de meados dos anos 1960 e início dos
anos 1970.
No setor elétrico, da década de 1950 ao início dos 1980, o Brasil implantou
um sistema hidrelétrico em nível nacional, com ênfase nas fontes renováveis
da matriz energética, da mesma maneira que incrementou a profissionalização
de quadros técnicos especializados e promoveu o controle e aperfeiçoamento
das tecnologias constituintes de sua base técnica. Em função do papel estra-
tégico do investimento em infraestrutura para o desenvolvimento econômico,
a intervenção do Estado se mostrou imprescindível para o planejamento dos
diversos setores da infraestrutura econômica.
A partir da década de 1980, especialmente ao se verificar o esgotamento do
padrão de financiamento, houve a redução significativa dos níveis de investi-
mento nos diversos setores da infraestrutura e a perda da qualidade da presta-
ção dos serviços, trazendo como consequências graves problemas, a competiti-
vidade dos setores industriais.
Assim, após a metade da década de 1990, instaurou-se no Brasil o Estado
“regulador” através da presença das agências reguladoras, do fortalecimento
do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência e da formação de marcos regu-
latórios setoriais no sentido de reduzir os preços para o consumidor, melhorar

capítulo 4 • 93
a qualidade dos serviços e realizar as normatizações necessárias para evitar
problemas na infraestrutura operante no país.

4.2.2  As agências reguladoras

A implantação das agências reguladoras no Brasil decorreu de uma mudança


profunda que se verificou na relação do Estado com a sociedade e com a ordem
econômica. As transformações em nível global resultaram na redução da inter-
venção direta do Estado na economia e o fortalecimento de uma nova forma de
intervenção, através da qual se observa maior presença do papel regulador do
Estado, em detrimento do papel como produtor de bens e de serviços.
O estímulo para as transformações aconteceu especialmente com a legisla-
ção constitucional e complementar, que permite a prestação de serviços públi-
cos sob o regime de concessão ou permissão, através de licitação:
Constituição Federal brasileira - Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na for-
ma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre atra-
vés de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá
sobre: I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços
públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as
condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários; III - política tarifária; IV - a obrigação de manter
serviço adequado.
Apesar da atuação ampla, as agências têm seus poderes delimitados por lei.
As agências regulatórias têm poderes de fiscalização, regulamentação, regula-
ção e mesmo de arbitragem e mediação. Em sua constituição, as agências regu-
ladoras foram dotadas de personalidade jurídica de direito público.
No Brasil, cada agência foi concebida mediante uma lei. Dentre as princi-
pais agências podemos destacar:
a) Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) – criada pela lei
9.472/97;
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) promove o desenvol-
vimento das telecomunicações no País. Como atribuições da agência regula-
tória, entre outras, cabe implantar a política nacional de telecomunicações;
representar o Brasil nos organismos internacionais de telecomunicações,
sob a coordenação do Poder Executivo; compor administrativamente confli-
tos de interesses entre prestadoras de serviços de telecomunicações; reprimir

94 • capítulo 4
infrações aos direitos dos usuários; e exercer, relativamente às telecomunica-
ções, as competências legais em matéria de controle, prevenção e repressão das
infrações da ordem econômica, com exceção daquelas na esfera do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Na Constituição Federal brasileira, observa-se art. 21 - Compete à União: XI -
explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os ser-
viços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização
dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais;
b) Agência Nacional de Petróleo (ANP) - criada pela lei 9.478/97;
A Agência Nacional de Petróleo promove a regulação, a contratação e a fis-
calização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, do
gás natural e dos biocombustíveis. O art. 1º. da lei 9.478/97, estabelece as po-
líticas nacionais para o aproveitamento racional das fontes de energia em que
se destacam os seguintes objetivos: garantir o fornecimento de derivados de
petróleo em todo o território nacional; incrementar, em bases econômicas, a
utilização do gás natural; utilizar fontes alternativas de energia, mediante o
aproveitamento econômico dos insumos disponíveis e das tecnologias aplicá-
veis; incrementar, em bases econômicas, sociais e ambientais, a participação
dos biocombustíveis na matriz energética nacional; fomentar a pesquisa e o
desenvolvimento relacionados à energia renovável; e mitigar as emissões de
gases causadores de efeito estufa e de poluentes nos setores de energia e de
transportes, inclusive com o uso de biocombustíveis.
O art. 7o da lei 9.478/97 cria a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíves - ANP, entidade integrante da Administração Federal Indireta,
submetida ao regime autárquico especial, como órgão regulador da indús-
tria do petróleo, gás natural, seus derivados e biocombustíveis, vinculada ao
Ministério de Minas e Energia.
Por sua vez, o art. 10º da lei 9.478/97, determina que, quando no exercício de
suas atribuições, a ANP tomar conhecimento de fato que possa configurar in-
dício de infração da ordem econômica, deverá comunicá-lo imediatamente ao
Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade e à Secretaria de Direito
Econômico do Ministério da Justiça, para que estes adotem as providências cabí-
veis, no âmbito da legislação pertinente. Parágrafo único. Independentemente
da comunicação prevista no caput deste artigo, o Conselho Administrativo
de Defesa Econômica – Cade notificará a ANP do teor da decisão que aplicar
sanção por infração da ordem econômica cometida por empresas ou pessoas

capítulo 4 • 95
físicas no exercício de atividades relacionadas com o abastecimento nacional
de combustíveis, no prazo máximo de vinte e quatro horas após a publicação
do respectivo acórdão, para que esta adote as providências legais de sua alçada.
Na Constituição Federal brasileira, observa-se art. 177, o que determina que,
constituem monopólio da União: I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo
e gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos; II - a refinação do petróleo na-
cional ou estrangeiro; III - a importação e exportação dos produtos e derivados
básicos resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores; IV - o trans-
porte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos
de petróleo produzidos no País, bem como o transporte, por meio de conduto,
de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem; [...] § 1º
A União poderá contratar com empresas estatais ou privadas a realização das
atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo observadas as condições es-
tabelecidas em lei.
c) Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) - criada pela lei 9.427/96;
A Agência Nacional de Energia Elétrica regula e fiscaliza a produção, trans-
missão, distribuição e comercialização de energia elétrica, em conformidade
com as políticas e diretrizes do governo federal. O art. 3º. da lei 9.427/96 estabe-
lece as atribuições da agência reguladora , em que se destacam: implementar
as políticas e diretrizes do governo federal para a exploração da energia elétrica
e o aproveitamento dos potenciais hidráulicos; gerir os contratos de concessão
ou de permissão de serviços públicos de energia elétrica, de concessão de uso
de bem público, bem como fiscalizar, diretamente ou mediante convênios com
órgãos estaduais, as concessões, as permissões e a prestação dos serviços de
energia elétrica; estabelecer, para cumprimento por parte de cada concessio-
nária e permissionária de serviço público de distribuição de energia elétrica, as
metas a serem periodicamente alcançadas, visando à universalização do uso da
energia elétrica; e aprovar as regras e os procedimentos de comercialização de
energia elétrica, contratada de forma regulada e livre.
Na Constituição Federal brasileira observa-se art. 21 - Compete à União: XII
- explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: [...]
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético
dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os poten-
ciais hidroenergéticos.

96 • capítulo 4
d) Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) - criada pela lei
9.961/2000;
A Agência Nacional de Saúde Suplementar controla, normatiza e fiscaliza
as atividades que garantem a assistência suplementar à saúde. No art. 4º da lei
9.961/2000, estabelece a competência da ANS, entre outras atribuições, propor
políticas e diretrizes gerais ao Conselho Nacional de Saúde Suplementar para a
regulação do setor de saúde suplementar; estabelecer parâmetros e indicadores
de qualidade e de cobertura em assistência à saúde para os serviços próprios e
de terceiros oferecidos pelas operadoras; autorizar o registro dos planos priva-
dos de assistência à saúde; fiscalizar as atividades das operadoras de planos pri-
vados de assistência à saúde e zelar pelo cumprimento das normas atinentes ao
seu funcionamento; e exercer o controle e a avaliação dos aspectos concernen-
tes à garantia de acesso, manutenção e qualidade dos serviços prestados, direta
ou indiretamente, pelas operadoras de planos privados de assistência à saúde.
e) Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - criada pela lei
9.782/99;
Agência Nacional de Vigilância Sanitária protege e promove a saúde, garan-
tindo a segurança sanitária de produtos e serviços. A agência realiza o controle
sanitário dos produtos e serviços que devem passar por vigilância sanitária, fis-
calizando, os ambientes, os processos, os insumos e as tecnologias relaciona-
dos a esses produtos e serviços. A agência fiscaliza os portos, os aeroportos e as
fronteiras e trata de assuntos internacionais a respeito da vigilância sanitária.
O art. 2º da lei 9.782/99 determina que compete à União no âmbito do
Sistema Nacional de Vigilância Sanitária: I - definir a política nacional de vi-
gilância sanitária; II - definir o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária; III -
normatizar, controlar e fiscalizar produtos, substâncias e serviços de interesse
para a saúde; IV - exercer a vigilância sanitária de portos, aeroportos e frontei-
ras, podendo essa atribuição ser supletivamente exercida pelos Estados, pelo
Distrito Federal e pelos Municípios; entre outros. Para tal fim, o art. 3º. da lei
referenciada criou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, autar-
quia sob regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde.
f) Agência Nacional de Águas (ANA) - criada pela lei 9.984/2000;
A Agência Nacional de Águas organiza, em sua esfera de atribuições, a
Política Nacional de Recursos Hídricos, integrando o Sistema nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos. Com isso, coordena a gestão dos recur-
sos hídricos no país e regula o acesso à água, sendo responsável por promover o
uso sustentável desse recurso natural.

capítulo 4 • 97
O art. 4º. da lei 9.984/2000, determina que a atuação da ANA obedecerá
aos fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos da Política Nacional de
Recursos Hídricos e será desenvolvida em articulação com órgãos e entidades
públicas e privadas integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, em que cabe destacar como seu papel: supervisionar, con-
trolar e avaliar as ações e atividades decorrentes do cumprimento da legislação
federal pertinente aos recursos hídricos; disciplinar, em caráter normativo, a
implementação, a operacionalização, o controle e a avaliação dos instrumentos
da Política Nacional de Recursos Hídricos; promover a elaboração de estudos
para subsidiar a aplicação de recursos financeiros da União em obras e serviços
de regularização de cursos de água, de alocação e distribuição de água, e de con-
trole da poluição hídrica, em consonância com o estabelecido nos planos de
recursos hídricos; e estimular a pesquisa e a capacitação de recursos humanos
para a gestão de recursos hídricos.
O art. 20 da Constituição Federal brasileira estabelece que são bens da
União: III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu do-
mínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros paí-
ses, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os
terrenos marginais e as praias fluviais; IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas
limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costei-
ras [...]; V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica
exclusiva; VI - o mar territorial; e VIII - os potenciais de energia hidráulica.
g) Agência Nacional do Cinema (Ancine) - criada pela Medida Provisória
no. 2228 de 06/08/2001;
A Agência Nacional do Cinema tem como finalidade fomentar, regular e fis-
calizar as indústrias cinematográficas e videofonográficas. O art. 2º. da Medida
Provisória 2228 de 2001 prevê que a política nacional do cinema terá por base
os seguintes princípios gerais: I - promoção da cultura nacional e da língua por-
tuguesa mediante o estímulo ao desenvolvimento da indústria cinematográfica
e audiovisual nacional; II - garantia da presença de obras cinematográficas e vi-
deofonográficas nacionais, nos diversos segmentos de mercado; III - programa-
ção e distribuição de obras audiovisuais de qualquer origem nos meios eletrô-
nicos de comunicação de massa sob obrigatória e exclusiva responsabilidade,
inclusive editorial, de empresas brasileiras[...]; IV- respeito ao direito autoral
sobre obras audiovisuais nacionais e estrangeiras.

98 • capítulo 4
h) Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) – criada pela lei
nº 10.233 de 05/06/2001;
A Agência Nacional de Transportes Aquaviários regula, supervisiona e fisca-
liza os serviços prestados no segmento de transportes aquaviários e a explora-
ção da infra-estrutura portuária e aquaviária exercida por terceiros. O art. 23 da
lei no. 10.233/2001 estabelece como esfera de atuação da ANTAQ: I – a navega-
ção fluvial, lacustre, de travessia, de apoio marítimo, de apoio portuário, de ca-
botagem e de longo curso; II – os portos organizados; III – os terminais portuá-
rios privativos; IV – o transporte aquaviário de cargas especiais e perigosas. § 1o
A ANTAQ articular-se-á com as demais Agências, para resolução das interfaces
do transporte aquaviário com as outras modalidades de transporte, visando à
movimentação intermodal mais econômica e segura de pessoas e bens.
i) Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) - criada pela lei
10.233/2001;
A Agência Nacional dos Transportes Terrestres tem a função de regular e su-
pervisionar a política voltada para os transportes terrestres. A agência é respon-
sável pela concessão de ferrovias, rodovias e transporte ferroviário relacionado
à exploração da infraestrutura; e pela permissão de transporte coletivo regular
de passageiros por rodovias e ferrovias. Além disso, a ANTT é o órgão que regula
o transporte de passageiros realizado por empresas de turismo sob o regime de
fretamento, o transporte internacional de cargas, a exploração de terminais e o
transporte multimodal (transporte integrado que usa diversos meios).
O art. 22. da lei no. 10.233/2001 constitui a esfera de atuação da ANTT: I – o
transporte ferroviário de passageiros e cargas ao longo do Sistema Nacional de
Viação; II – a exploração da infraestrutura ferroviária e o arrendamento dos ati-
vos operacionais correspondentes; III – o transporte rodoviário interestadual e
internacional de passageiros; IV – o transporte rodoviário de cargas; V – a explo-
ração da infraestrutura rodoviária federal; VI – o transporte multimodal; VII – o
transporte de cargas especiais e perigosas em rodovias e ferrovias. § 1o A ANTT
articular-se-á com as demais Agências, para resolução das interfaces do trans-
porte terrestre com os outros meios de transporte, visando à movimentação
intermodal mais econômica e segura de pessoas e bens. § 2o A ANTT harmo-
nizará sua esfera de atuação com a de órgãos dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios encarregados do gerenciamento de seus sistemas viários e das
operações de transporte intermunicipal e urbano. § 3o A ANTT articular-se-á

capítulo 4 • 99
com entidades operadoras do transporte dutoviário, para resolução de inter-
faces intermodais e organização de cadastro do sistema de dutovias do Brasil.
O gerenciamento da infraestrutura e a operação dos transportes aquaviá-
rio e terrestre estabelecido na lei 10.233/2001 visa, entre outros objetivos, pro-
mover a integração física e operacional do Sistema Nacional de Viação com os
sistemas viários dos países limítrofes e ampliar a competitividade do País no
mercado internacional.
j) Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) - criada pela lei 11.182/2005;
A Agência Nacional de Aviação Civil tem como objetivo regular e fiscalizar as
atividades de aviação civil e de infraestrutura aeronáutica e aeroportuária. Está
vinculado à Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, procura
garantir segurança no transporte aéreo, a qualidade dos serviços e o respeito
aos direitos do consumidor.

O art. 8º da lei no. 11.182/2005 determina que a ANAC deve adotar as medi-
das necessárias para o atendimento do interesse público e para o desenvolvi-
mento e fomento da aviação civil, da infraestrutura aeronáutica e aeroportuária
do País, atuando com independência, legalidade, impessoalidade e publicida-
de, destacando entre suas atribuições: implementar, em sua esfera de atuação,
a política de aviação civil; negociar o estabelecimento de acordos e tratados
sobre transporte aéreo internacional; regular e fiscalizar os serviços aéreos, os
produtos e processos aeronáuticos, a formação e o treinamento de pessoal es-
pecializado; expedir regras sobre segurança em área aeroportuária e a bordo de
aeronaves civis, porte e transporte de cargas perigosas; conceder, permitir ou
autorizar a exploração de serviços aéreos; e conceder ou autorizar a exploração
da infraestrutura aeroportuária, no todo ou em parte.

4.2.3  Parcerias público-privadas – PPP’s

A lei no. 11.079, de 30 de dezembro de 2004, instituiu normas gerais para lici-
tação e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração
pública. Parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão, na
modalidade patrocinada ou administrativa. Concessão patrocinada é a con-
cessão de serviços públicos ou de obras públicas, quando envolver, adicional-
mente à tarifa cobrada dos usuários, contraprestação pecuniária do parceiro
público ao parceiro privado. Não constitui parceria público-privada a conces-

100 • capítulo 4
são comum, assim entendida a concessão de serviços públicos ou de obras pú-
blicas, quando não envolver contraprestação pecuniária do parceiro público ao
parceiro privado.
É um contrato de prestação de serviços de médio e longo prazo (de 5 a 35
anos) firmado pela Administração Pública, para implantação da infraestrutu-
ra necessária, e dependerá de iniciativas de financiamento do setor privado.
A remuneração do particular será fixada com base em padrões de desempe-
nho e será devida somente quando o serviço estiver à disposição do Estado ou
dos usuários.
O art. 4º da Lei 11.079/04 determina que, na contratação de parceria pú-
blico-privada, devam ser observadas as seguintes diretrizes: a) eficiência no
cumprimento das missões de Estado e no emprego dos recursos da sociedade;
b) respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos serviços e dos entes
privados incumbidos da sua execução; c) indelegabilidade das funções de re-
gulação, jurisdicional, do exercício do poder de polícia e de outras atividades
exclusivas do Estado; d) responsabilidade fiscal na celebração e execução das
parcerias; e) transparência dos procedimentos e das decisões; f) repartição ob-
jetiva de riscos entre as partes; g) sustentabilidade financeira e vantagens so-
cioeconômicas dos projetos de parceria.
Com as PPP’s esperava-se que houvesse aumento da carteira de projetos em
infraestrutura economicamente viáveis que permitissem a superação dos gar-
galos, estimulando outros investimentos. Ao mesmo tempo, esperava-se que
fosse possível, por meio das PPP’s, construir infraestrutura com menor cus-
to e promover a oferta de serviços públicos de qualidade e em menor prazo.
Dificuldades de implementação nos campos jurídico e econômico vêm retar-
dando sua efetiva implementação.

4.2.4  Políticas de transporte

São objetivos de política de transporte no Brasil:


a) Elevar a escala dos investimentos em infraestrutura de transporte, do-
tando o país de uma rede ampla, moderna e com tarifas competitivas.
b) Reforçar a capacidade de planejamento do Estado e promover a inte-
gração entre rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos em articulação
com as cadeias produtivas.

capítulo 4 • 101
c) Criar as bases para o crescimento sustentável do Brasil, dando início a
um processo contínuo de planejamento e desenvolvimento de sua infraestrutu-
ra logística.
d) Reduzir custos e ampliar a capacidade de transporte do País, resultan-
do na promoção da eficiência e elevação da competitividade.
Informações importantes para entender o sistema de transporte nacional:
a) Transporte rodoviário – é o mais representativo entre todas as moda-
lidades de transporte no Brasil. É adequado para curtas e médias distâncias;
apresenta baixa capacidade de carga com limitação de volume e peso; tem
maior flexibilidade mas é muito poluente, com forte impacto ambiental.
b) Transporte Fferroviário – é o realizado sobre linhas férreas para trans-
portar pessoas e mercadorias. As mercadorias transportadas nesta modalidade
são de baixo valor agregado e em grandes quantidades, como: minério, produ-
tos agrícolas, fertilizantes, etc. Apresenta baixa flexibilidade, com pequena ex-
tensão da malha; é adequado para grandes distâncias e consiste numa modali-
dade de transporte pouco poluente.
c) Transporte Aquaviário – é o realizado em hidrovias, que nas quais
transportar grandes quantidades de mercadoria a grandes distâncias. Nelas são
transportados produtos como minérios, cascalhos, areia, carvão, ferro, grãos e
outros produtos não perecíveis. As hidrovias de interior podem ser rios, lagos e
lagoas navegáveis para que um determinado tipo de embarcação possa trafegar
com segurança. O transporte aquaviário tem como características o transporte
de grande capacidade de carga, apresenta baixa flexibilidade e é influenciado
pelas condições climáticas.
d) Transporte dutoviário – é aquele realizado por meio de dutovias, ou
seja, de tubulações. É utilizado para transportar óleos, gases e produtos quími-
cos através da gravidade ou da pressão. Apresentam poucos roubos e furtos de
produtos, considerando que a maioria dos tubos está imersa no solo; é econô-
mico com baixo custo operacional de transporte e de energia.
e) Transporte Intermodal e multimodal – O transporte intermodal trata
da utilização conjunta de mais de uma modalidade de transporte (rodoviário e
ferroviário, por exemplo), em que são usados documentos fiscais individuais
para cada tipo de modal. No transporte multimodal, a responsabilidade da car-
ga, perante o cliente, desde a origem até o destino, é de apenas um operador.
Existe um gerenciamento integrado das modalidades de transporte utilizadas,
com a aplicação de um único documento de controle.

102 • capítulo 4
Legislação Aplicada

Constituição Federal Brasileira De 1988


Dentre os diversos artigos da Constituição Federal brasileira importan-
tes para o assunto abordado no presente capítulo, cabe destacar os seguintes
artigos:
Arts. 1º; 3º; 5º; 6º; 7º; 8º; 22; 23; 24; 43; 114; 170; 174; 175; 177; 179; 205.
LEI No. 9.427/96 - Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)
LEI No. 9.472/97 - Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
LEI No.9.478/97 - Agência Nacional de Petróleo (ANP)
LEI No. 9.782/99 - Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
LEI No.9.961/2000 - Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
LEI No. 9.984/2000 - Agência Nacional de Águas (ANA)
Medida Provisória no. 2228 de 06/08/2001 - Agência Nacional do Cinema
(Ancine)
LEI No. 10.233/2001 - Agência Nacional de Transportes Aquaviários
(Antaq)
LEI No. 11.079/2004 - Parcerias Público-Privadas – PPP’s
LEI No. 11.182/2005 - Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)

Estudo de casos

1. Desmatamentos no estado serão monitorados por satélite (O Globo,


19/06/2016)
O estado lançará nos próximos dias o projeto Olho Verde, de monitoramen-
to por satélite dos desmatamentos. O anúncio foi feito nesta quinta-feira pelo
secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, ao participar de reunião com
gestores da área ambiental de 17 estados onde é encontrada Mata Atlântica.
Segundo ele, o projeto está sendo estruturado, já havendo imagens sendo cap-
tadas há três meses.
— São avanços na gestão buscando o desmatamento ilegal zero no estado
em 2018 — disse ele.
Em 30 dias, a Secretaria do Ambiente também deve publicar aviso de consul-
ta pública para que empresas manifestem interesse na gestão da Ilha Grande,
uma das unidades de conservação do estado. O próximo passo será firmar uma
Parceria público-privada (PPP). Além da gestão do parque, a iniciativa privada
deverá responsabilizar-se pelo saneamento na ilha.

capítulo 4 • 103
O processo de privatização da Ilha Grande vem sendo discutido pelo esta-
do desde janeiro de 2015, em parceria com o Instituto Semeia. Corrêa acredita
que, no meio do ano que vem, a gestão da Ilha Grande comece a ser feita por
uma empresa. Com isso, os visitantes passarão a pagar uma taxa ambiental
de ingresso, ainda não definida. Ficarão isentos moradores da própria ilha, de
Angra dos Reis e de Mangaratiba.
— Queremos melhorar a gestão dos parques. Escolhemos a Ilha Grande
porque ela sofre com o turismo em larga escala, que é predatório.
Indagações:
a) A partir do texto, como a parceria público-privada pode ser uma forma
de o Estado brasileiro atuar em setores estratégicos da economia em conjunto
com o setor privado?
b) Com base no texto, como o Estado pode atuar no campo regulatório,
deixando de produzir ou ofertar serviços diretamente? Fundamente a resposta.
c) Aponte setores estratégicos para o Estado brasileiro firmar parcerias
público-privadas.

2. Especialista defende revisão da relação entre agências reguladoras e


Judiciário (Estado de Minas, 15/02/2016)
O ex-conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
Paulo Furquim de Azevedo, afirmou que a relação entre as agências regulado-
ras e o Judiciário precisa ser discutida. "A questão da revisão judicial deve ser
analisada. Temos dois problemas nessa relação. O primeiro é a demora da de-
cisão judicial e o segundo é a incerteza que isso gera. Já tivemos casos em que,
entre a deliberação da agência reguladora e o julgamento final pelo Judiciário,
a decisão mudou 12 vezes", comentou durante evento no Insper nesta segunda-
feira, 15, sobre a situação do ambiente regulatório no Brasil.
Ele sugeriu que uma possível forma de amenizar esse problema é a deci-
são do colegiado de uma agência reguladora ser enviada diretamente para um
colegiado do Judiciário, ou seja, sem passar pela decisão de um juiz de primei-
ra instância.
De acordo com especialistas presentes ao evento, há projetos em tramita-
ção no Congresso que visam regulamentar o papel das agências reguladoras.
Os dois principais são o 52/2013 e o 495/2015, ambos no Senado. Eles têm pon-
tos comuns, como a determinação de prazos para a indicação de membros das

104 • capítulo 4
diretorias das agências reguladoras e escopo de atuação. Os projetos, no entan-
to, não avançaram, de acordo com o consultor legislativo do Senado Marcos
Mendes, por falta de vontade política. "A gente não consegue fazer uma re-
forma ampla dos marcos regulatórios sem uma liderança política forte, sem
a presidente dizer que essa é uma prioridade", comentou. Ele lembrou que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou aprovar uma reforma nesse sen-
tido, mas houve dúvidas sobre como ficaria a independência das agências e a
matéria acabou não sendo aprovada pelo Congresso.
O Brasil possui atualmente dez agências reguladoras federais (Aneel,
Anatel, Anac, Antaq, ANP, ANTT, Anvisa, ANS, Ancine e ANA) e cada uma tem
suas próprias regras, como limitação para a reeleição do presidente ou prazo
dos mandatos dos diretores, por exemplo.
Esses projetos de lei procuram padronizar as regras e também aumentar
a transparência, inclusive ao tentar combater as indicações políticas. Um le-
vantamento do Senado mostra que, entre 2005 e 2011, 36% dos indicados para
essas agências tinham menos de dez anos de experiência na área e 34% não
possuíam titulação avançada.
O projeto 495/2015 também expande as regras que seriam aplicadas às
agências reguladoras para entidades como a Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), a Superintendência de Seguros Privados (Susep) e a Superintendência
Nacional de Previdência Complementar (Previc). O professor do Insper Sérgio
Lazzarini comentou no evento que as incertezas regulatórias prejudicam os in-
vestimentos no Brasil e que o governo precisa se esforçar para melhorar o am-
biente de negócios.

Indagações:
a) Mostre, a partir do texto, como pode ser melhorada a relação entre as
agências reguladoras e o judiciário. Fundamente a resposta.
b) Com base no texto, como desenvolver uma política de transporte eficaz,
de tal forma que torne nossa logística competitiva no resto do mundo?
c) Como equacionar a questão de dar maior autonomia às agências regu-
ladoras, mas mantendo as prerrogativas do judiciário? Fundamente a resposta.

capítulo 4 • 105
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106 • capítulo 4
5
Política ambiental
e desenvolvimento
sustentável
5.  Política ambiental e desenvolvimento
sustentável

5.1  Política ambiental e legislação aplicada

5.1.1  Padrões de consumo e energia

O surgimento do consumo de massa e a poluição gerada pela queima de com-


bustíveis resultaram no aumento da poluição do ar e no agravamento do pro-
blema de acúmulo de lixo. Além disso, o aumento da produção de veículos
exigiu grandes investimentos em novas vias de acesso e avenidas, para que hou-
vesse fluxo de trânsito, resultando numa maior concentração urbana com con-
sequências nas questões sociais e ambientais.
Uma das causas estruturais dessa degradação ambiental seria o consumo
elevado, gerando pressão contra a natureza; a cultura do consumo, exigindo
um constante processo de produção e consumo; e a marginalização de signifi-
cativa parcela da população, o que ocasiona a degradação socioambiental veri-
ficada nas sociedades modernas.
A população mundial vem crescendo de forma acentuada, especialmente
nos países em processo de desenvolvimento. Para satisfazer, de maneira sus-
tentável, às necessidades de consumo desta população, torna-se fundamental o
aproveitamento eficaz dos recursos naturais. A forma de equacionar esta ques-
tão deve passar, necessariamente, pela adoção de uma política de consumo
sustentável pelos países desenvolvidos, com o uso menos intensivo de recur-
sos naturais.
A responsabilidade socioambiental das empresas tem aumentado acen-
tuadamente nos últimos anos, mostrando uma mudança de comportamento
por parte das organizações. As empresas estão procurando conhecer melhor o
próprio negócio, usar indicadores de responsabilidade social, melhorar a qua-
lidade de produção, investir em tecnologias menos poluentes, disseminar ino-
vações na direção dos fornecedores e clientes, identificar novos negócios com
investimento em questões ambientais, e fazer parcerias ou alianças estratégi-
cas com a sociedade civil.
A empresa deverá preocupar-se com a questão ambiental não somente
em função de filantropia ou responsabilidade social, mas simplesmente para

108 • capítulo 5
continuar operar nos padrões do livre mercado. Existe uma ameaça à perma-
nência do sistema capitalista de produção, pois, com a escassez de recursos
naturais e o nível elevado de poluição, são exigidos cada vez mais mecanismos
regulatórios governamentais em contraponto aos próprios princípios liberais.
A questão ambiental sobre o ponto de vista da atividade produtiva pode ser um
elemento a ameaçar a sobrevivência do livre mercado.
Por sua vez, o consumo de energia tem sido objeto de grandes discussões
no que toca seu papel no desenvolvimento dos países. O consumo de energia,
base das atividades produtivas, gera impactos sobre o meio ambiente. Assim,
se no passado a energia era tratada como sendo meramente um problema de
fornecimento de insumo para a produção ameaçada nos anos 1970 pelos cho-
ques de petróleo e pela consequente elevação do seu preço, a partir dos anos
1980 torna-se uma questão fortemente ligada à preservação do meio ambiente.
A existência de um vínculo estreito entre energia e desenvolvimento costu-
ma ser tomada como ponto pacífico. Não são poucos os que tomam essa afir-
mação como se fosse a expressão de uma lei geral, em que a ascensão a níveis
mais altos de consumo energético significaria, por si só, a obtenção de padrões
mais elevados de desenvolvimento.
À primeira vista, parece haver uma correspondência bastante nítida entre
os níveis de consumo energético e os de desenvolvimento humano. Ocorre, po-
rém, que a associação entre os níveis de consumo energético e o desenvolvi-
mento humano não é tão óbvia. Assim, dois países com resultados similares no
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) podem apresentar níveis bastante
distintos de consumo de energia per capita. O exemplo clássico é o dos Estados
Unidos, com IDH próximo do da Noruega, mas apresentando um consumo de
energia per capita quase duas vezes maior que o norueguês.
A enumeração de casos similares ainda poderia ir muito mais longe, em-
bora nem por isso se segue que os consumos de energia tendam a encontrar
alguma correspondência em patamares mais elevados do desenvolvimento. O
que, no entanto, cabe ressaltar é que a constatação de variações expressivas de
país para país sugere que alguns países se vêm mostrando mais bem-sucedidos
do que outros na tarefa de traduzir a elevação dos padrões médios de consumo
energético em melhorias da qualidade de vida de sua população.
Para que essas questões possam ser devidamente tratadas, um modelo de
desenvolvimento menos intensivo em consumo e energia, como uma forma de
lutar contra as mudanças climáticas globais, passa por questões relacionadas

capítulo 5 • 109
à vontade de modificação de estilos de vida, mas também por relações econô-
micas mais equilibradas no que toca a cooperação em nível global para atingir
esse objetivo.
As negociações internacionais sobre mudanças climáticas têm demonstra-
do a necessidade de discussão e pesquisa acerca de inúmeras barreiras e opor-
tunidades para desenvolver, promover e aceitar os mecanismos de cooperação
internacional para fortalecer a entrada de energia renovável, promover a efi-
ciência energética e a redução do consumo de energia, e reduzir as emissões de
dióxido de carbono.

5.1.2  Legislação ambiental e a economia

A Lei no. 6.938, de 31/08/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, estabelece a relação entre a melhoria e a recuperação do meio am-
biente com o processo de desenvolvimento socioeconômico. As atividades eco-
nômicas que não se adequarem à nova realidade poderão ter ameaçada sua
própria sustentabilidade.
O art 2o. caput da Lei no. 6.938/81 define que: “A Política Nacional do Meio
Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade
ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições de desenvol-
vimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana [...]”.
No art. 225 caput da Constituição Federal brasileira de 1988, o legislador
define que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.”
Em face da importância do meio ambiente para o desenvolvimento susten-
tável, a Constituição impôs ao Poder Público e à coletividade o dever de preservá-
-lo para a presente e a futura geração. A Constituição criou uma ordenação jurí-
dica obrigando quem se utiliza dos recursos naturais a cuidar do meio ambiente.

Legislação sobre o meio ambiente do trabalho


O Meio Ambiente do trabalho está previsto no art. 200 inciso VIII da
Constituição Federal brasileira de 1988, o qual determina que “Ao sistema úni-
co de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: [...] colabo-
rar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o trabalho”.

110 • capítulo 5
A lei que disciplina o diploma constitucional é de no. 8.080, de 19/09/90,
que trata do Sistema Único de Saúde – SUS, que em seu art. 3o. define que “A
saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a ali-
mentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a ren-
da, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais;
os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica
do país”.
O artigo 6o., inciso V, da Lei no. 8.080 estabelece que o SUS deve atuar na
proteção do meio ambiente, nele englobando o trabalho. A preservação do
meio ambiente não pode estar dissociada da saúde do trabalhador no local do
trabalho. A legislação estabelece uma relação direta entre meio ambiente e tra-
balho, em que a preservação da saúde do trabalhador é condição para a defesa
do meio ambiente.

Legislação penal e a responsabilidade corporativa


A Constituição Federal brasileira de 1988 estabelece a base jurídica da res-
ponsabilidade penal ambiental. Em seu art. 225 § 3o. define que: “As condutas
e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independente-
mente da obrigação de reparar o dano”.
A responsabilização penal deve ser aplicada aos dirigentes que se tenham
utilizado da empresa para a prática de crimes. Entendimento do poder judiciá-
rio permite responsabilizar penalmente os responsáveis por atos que venham
causar danos ao meio ambiente.

5.1.3  Responsabilidade ambiental corporativa e o comércio agrícola

O principal adversário à adoção da gestão ambiental era a ideia de que meio


ambiente e lucro eram elementos incompatíveis. Os investimentos em meio
ambiente iriam elevar custos que seriam automaticamente repassados ao con-
sumidor. Em poucos anos, ficou evidenciado que as tecnologias ambientais
tinham o efeito inverso, reduziam custos por meio de uma melhor racionaliza-
ção dos processos produtivos.
Na medida em que a preservação do meio ambiente tornou-se um fator de
diferenciação para as empresas, caracterizando-se como uma oportunidade de
negócios, surgiu a possibilidade de incluir preocupações ambientais em suas

capítulo 5 • 111
estratégias empresariais, por práticas ecologicamente mais adequadas – ado-
ção de tecnologias ambientais, implantação de sistema de gestão ambiental,
racionalização do uso de recursos naturais, entre outros.
O processo de globalização e a inserção da economia brasileira no cenário
internacional promoveram mudança na maneira de o empresário nacional vi-
venciar a questão socioambiental. A empresa, para sobreviver no mercado com-
petitivo e globalizado, deverá ter sua imagem associada aos programas sociais
e de preservação do meio ambiente. A própria sustentabilidade do empreen-
dimento depende do equacionamento dos conflitos sociais e da conservação
da natureza,
Existem duas dimensões da responsabilidade social das empresas: o foco
no público-interno e na comunidade. A responsabilidade social interna foca-
liza o público interno e seus dependentes. Ao criar um ambiente de trabalho
agradável e contribuir para o bem-estar do trabalhador, a empresa ganha em
produtividade. A responsabilidade social externa tem o foco na comunidade
mais próxima ou no local em que está situada a empresa. Atuando em ambas as
dimensões, a empresa adquire a condição de empresa cidadã.
Os riscos da falta ou da perda da responsabilidade social-ambiental pode-
rão vir a ser fundamental para a organização. Se o problema surge em nível in-
terno, ocorrem a deterioração do clima organizacional, a falta de motivação dos
empregados, o aparecimento de conflitos internos, a perda dos melhores fun-
cionários, baixa produtividade e o aumento de faltas, atrasos e de acidentes de
trabalho. No caso de o problema ocorrer em nível externo, podem surgir acusa-
ções de injustiças sociais, boicote de consumidores, reclamações dos fornece-
dores e revendedores, queda nas vendas, gastos extras com passivo ambiental,
ações na justiça, ameaças de invasões e mesmo riscos de falência.
Entretanto, a agricultura e a exploração florestal são atividades fundamen-
tais para o desenvolvimento sustentável, devido à grande quantidade de traba-
lhadores envolvidos nessas atividades, à extensão das áreas e aos impactos que
elas têm sobre os recursos renováveis e o meio ambiente.
Os países em desenvolvimento, como Brasil, que tem vantagem ambiental
em sua capacidade de produzir certas safras, estão competindo com os países
norte-americanos e europeus, que subsidiam fortemente a agricultura. Isso man-
tém a produção agrícola dos países desenvolvidos artificialmente barata, além de
criar grandes superávits agrícolas, que têm um efeito distorcido sobre o comércio
mundial. Esses excedentes são descarregados nos países em desenvolvimento e
produzem uma concorrência desleal com a produção local.

112 • capítulo 5
A produção agrícola brasileira, para poder competir nesse cenário de sub-
sídios e barreiras alfandegárias, além de aumentar sua produtividade, deverá
demonstrar sua preocupação com a preservação do meio ambiente e com os
produtos químicos que venham a afetar a saúde da população. A agricultura
tradicional, com as técnicas poluentes, não poderá fazer frente aos produtos
dos países desenvolvidos tanto numa competição interna como externa, geran-
do um processo contínuo de empobrecimento das áreas agrícolas e o conse-
quente êxodo rural.
Os países desenvolvidos estão exigindo cada vez mais padrão de qualidade
ambiental e regulamentação na área do meio ambiente, para evitar os custos
ambientais que porventura sejam cobrados pelo governo ou pela justiça em
seus países. Para impedir qualquer desvantagem comparativa nos produtos
agrícolas por eles produzidos, vêm requerendo maior investimento ambiental
das empresas dos países em desenvolvimento para que possam acessar os seus
mercados. Não resta outro caminho às empresas no mercado globalizado, a
não ser adequar-se a essa nova realidade.
Caso um país importador venha adotar regras ambientais rigorosas sobre
seus processos de produção, poderia sentir-se no direito de impor condições
protecionistas para impedir a entrada de produtos agrícolas que não fossem
produzidos da mesma forma. Entretanto, as regras internacionais adota-
das no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) restringem tais
discriminações. A OMC permite aos países estabelecer limitações somen-
te à entrada de produtos que possam causar dano à vida ou à saúde pública.
Independentemente das condições impostas pela OMC, é provável que produ-
tores agrícolas que pretendam manter a sua participação nos mercados globais
no futuro adotem medidas ambientais eficazes em face da tendência de os mer-
cados internacionais exigirem padrões ambientais cada vez mais restritivos.

5.1.4  Os organismos internacionais de padronização

O processo de globalização produziu uma concorrência no cenário internacio-


nal, resultando em normas gerais de padronização, de qualidade e, mais recen-
temente, de gestão ambiental. As empresas são forçadas a adaptarem-se às de-
terminações dos mercados globalizados.
A ISO-14001 é uma das normas ambientais da série ISO-14000, que esta-
belece diretrizes e requisitos para uma empresa implantar um Sistema de

capítulo 5 • 113
Gestão Ambiental (SGA), habilitando-se a receber uma certificação ambiental
internacional.
A International Organization for Standardization – ISO é uma organização
não governamental internacional criada oficialmente em 1947 e reúne cerca de
uma dezena de organismos de normalização e tem como objetivo de promover
o desenvolvimento da padronização e de atividades relacionadas, de maneira a
facilitar o intercâmbio internacional de bens e serviços e a cooperação para o
desenvolvimento econômico, científico e tecnológico. Um sistema de norma-
lização como a ISO 14000 tem como objetivo proteger o produtor responsável
contra concorrentes que, por não respeitarem as leis e os princípios da conser-
vação ambiental, produzem com custos mais baixos em razão da economia nos
processos ambientais.
Diversos organismos internacionais vêm atuando na questão do impacto do
comércio internacional no meio ambiente (Organização das Nações Unidas –
ONU, Organização Mundial do Comércio - OMC, Banco Mundial, entre outros).
Acordos de livre comércio como os firmados no âmbito da Nafta (EUA, México
e Canadá) incluem cláusulas de proteção ao meio ambiente. EUA e Canadá,
pressionados por seus grupos ambientalistas, incluíram novos critérios sobre
proteção ambiental no México, em razão do temor de que empresas norte-ame-
ricanas e canadenses venham a se instalar no mercado mexicano para usufruir
de controles antipoluentes menos rígidos.

5.1.5  Política ambiental brasileira

No Brasil, somente em 1973, a questão ambiental passou a ser tratada como


uma estrutura independente, seguindo a recomendação da Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente. Criou-se a Secretaria Especial do Meio
Ambiente- SEMA, vinculada ao Ministério do Interior (Decreto nº 73.030, de 30
de Outubro de 1973).
A estrutura do sistema de gestão ambiental tomou por modelo a experiência
norte-americana, caracterizada por dois elementos básicos: um grande nível de
descentralização e um acentuado viés regulatório, baseado nos instrumentos
de comando e controle, favorecendo a regulação direta das empresas e, por
isso, demandando recursos humanos e técnicos para o controle que, no caso
brasileiro, estão muito acima das disponibilidades dos órgãos fiscalizadores.

114 • capítulo 5
A questão ambiental não foi prioridade no processo de industrialização bra-
sileiro. Desde o estabelecimento de indústrias intensivas em emissões, vindas
dos países desenvolvidos nos anos 1970 para produzir bens intermediários,até
os vazamentos de óleo, são vários os exemplos de descaso do setor industrial
brasileiro com a questão ambiental. Uma das consequências desse relativo
descaso com a questão ambiental é a presença cada vez mais importante de in-
dústrias intensivas em recursos naturais e energia ou que apresentam um alto
potencial poluidor.
A razão deve-se em primeiro lugar ao atraso no estabelecimento de normas
ambientais e agências especializadas no controle da poluição industrial; em se-
gundo lugar, a estratégia de crescimento associada à industrialização por subs-
tituição de importações no Brasil privilegiou setores intensivos em emissão. A
motivação inicial do processo de industrialização por substituição de importa-
ções era baseada na percepção de que o crescimento de uma economia perifé-
rica não poderia ser apenas sustentado em produtos diretamente baseados em
recursos naturais (extração mineral, agricultura e outras formas de aproveita-
mento de vantagens comparativas absolutas definidas a partir da dotação de re-
cursos naturais). Contudo, embora o Brasil tenha avançado na consolidação de
uma base industrial diversificada, esse avanço esteve baseado no uso indireto
de recursos naturais (energia e matérias-primas baratas), em vez de expandir-se
através do incremento na capacidade de gerar ou absorver progresso técnico –
chave para o crescimento sustentado, mas que ficou limitado a algumas áreas
de excelência.
Essa concentração em atividades intensivas em emissão aumentou ain-
da mais a partir da consolidação dos investimentos do II Plano Nacional de
Desenvolvimento (II PND) – 1974/1978, que resultou em forte expansão de in-
dústrias de grande potencial poluidor – especialmente dos complexos metalúr-
gico e químico/petroquímico – sem o devido acompanhamento de tratamento
dessas emissões. Outro fator que contribuiu para o incremento de atividades
industriais poluidoras foi a tendência de especialização do setor exportador em
atividades potencialmente poluidoras.
Uma das saídas apontadas para esse problema é a incorporação de instru-
mentos econômicos baseados no princípio do poluidor-pagador, no qual emis-
sões passam a ser cobradas mesmo estando em conformidade com os padrões
máximos, mas ao mesmo tempo permitindo que os agentes emissores nego-
ciem entre si seus próprios limites de emissão, de modo a minimizar os custos

capítulo 5 • 115
sociais do ajuste. Indústrias mais antigas, cujo custo de readaptação seja mais
alto, poderiam beneficiar-se por meio da negociação com outros agentes mais
eficientes no controle ambiental.
O problema central é, portanto, como induzir mudanças tecnológicas na
direção de tecnologias mais limpas, a fim de obter sustentabilidade ambiental
– ou seja, que os recursos naturais sirvam para as gerações atuais e futuras, e
que os níveis de poluição sejam reduzidos mesmo com o aumento da produ-
ção. A mudança do padrão tecnológico atual na direção de padrões tecnológi-
cos que degradem menos o meio ambiente é uma condição necessária para que
o crescimento econômico seja contínuo e que, justamente com uma distribui-
ção mais igualitária dos benefícios desse crescimento, caminhe na direção do
desenvolvimento sustentável.

5.1.6  Os acordos internacionais sobre meio ambiente e o desenvolvimento


sustentável.

Em 1968, fundou-se o Clube de Roma, preocupado com os impactos do cresci-


mento desenfreado sobre as questões ambientais, dando origem à publicação
de “Os limites do crescimento”, em 1972. Nesse mesmo ano, aconteceu a Con-
ferência de Estocolmo, na Suécia, em que se discutiram as relações entre De-
senvolvimento e Meio Ambiente, surgindo o conceito de ecodesenvolvimento,
que mais adiante foi consolidado na expressão desenvolvimento sustentável.
Entre os dias 3 a 14 de junho de 1992, na cidade do Rio de Janeiro, realizou-
-se a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
que foi denominada RIO-92. Da conferência surge a Agenda 21, que conta com
mais de 40 capítulos e estabelece um programa de ação com 2500 recomenda-
ções para a implantação do desenvolvimento sustentável ao longo do século XXI.
A Agenda 21 é um plano de ação para ser adotado global, nacional e local-
mente, por organizações do sistema das Nações Unidas, governos e pela socie-
dade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio ambiente.
Constitui-se na mais abrangente tentativa já realizada de orientar para um novo
padrão de desenvolvimento para o século XXI, cuja base é a sustentabilidade
ambiental, social e econômica.
A proposta da Agenda 21 não está restrita às questões associadas à pre-
servação do meio ambiente, mas também é uma agenda de desenvolvimen-
to Sustentável. A Agenda 21 propõe o rompimento com o desenvolvimento

116 • capítulo 5
econômico vigente, dando origem à sustentabilidade, que une a agenda am-
biental e a agenda social, ao defender a indissociabilidade entre os fatores so-
ciais e ambientais e a necessidade de que a degradação ambiental seja com-
batida em conjunto com o problema da pobreza mundial. Com isso, a Agenda
21 considera questões como a geração de emprego e renda, a diminuição das
disparidades regionais e inter-pessoais de renda, as mudanças nos padrões de
produção e consumo, a construção de cidades sustentáveis e a adoção de novos
modelos e instrumentos de gestão.
Após a RIO-92, algumas reuniões e conferências aprofundaram, ou mesmo
discutiram a nível regional, a questão das propostas contidas na Agenda 21, em
que se destacam:
a) Conferência das Partes (COP 3) – 1997 – Quioto – Japão – O Protocolo de
Quioto propunha um programa pelo qual países desenvolvidos teriam a obriga-
ção de reduzir a emissão de gases do efeito estufa, como o carbono e o metano.
O documento gerado foi um dos mais importantes fatores para a preservação
do meio ambiente, por definir compromissos mais rígidos para a redução da
emissão de gases de efeito estufa, principal causador do aquecimento global.
b) Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável – 2002
– Joanesburgo, na África do Sul – na Conferência foram definidos o Plano de
Implementação, que tem como base os resultados obtidos a partir da RIO-92, e
a Declaração Política, que reafirma o compromisso dos países com o desenvol-
vimento sustentável.
c) Conferência de Bali – 2007 – Indonésia – Teve o objetivo de definir me-
tas ainda mais ambiciosas do que as estabelecidas pelo Protocolo de Quioto em
relação às emissões de gases do efeito estufa.
d) Conferência de Copenhague – 2009 – Dinamarca – Visava buscar solu-
ções para o aquecimento global e firmar de vez um acordo a ser seguido pelos
países mais ricos em prol dos mais pobres.
e) Conferência do Clima da ONU de Durban – 2011 – África do Sul – Teve
como objetivo decidir pela renovação no mais importante acordo feito até en-
tão para contenção dos gases de efeito estufa: o Protocolo de Quioto.
f) Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
(Rio+20) – 2012 –Rio de Janeiro - Brasil – Foram avaliados os resultados obtidos
após a Rio-92, e o texto final defendeu o fortalecimento do Programa da ONU
para o Meio Ambiente (Pnuma) e a criação de um órgão político para apoiar e
coordenar ações internacionais para o desenvolvimento sustentável.

capítulo 5 • 117
5.2  Desenvolvimento sustentável e crescimento

5.2.1  Conceito de desenvolvimento sustentável e considerações gerais

A Comissão Brundland, criada pelas Nações Unidas, definiu desenvolvimento


sustentável como “aquele que atende às necessidades do presente, sem com-
prometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias ne-
cessidades”. A posição da Comissão Brundland prevê um crescimento econô-
mico baseado em questões sociais e ambientais perfeitamente solidificadas.
O desenvolvimento econômico com desigualdade social e degradação do meio
ambiente não teria sustentação num futuro próximo, resultando apenas no
agravamento da concentração da riqueza e na piora nos indicadores sociais e
ambientais (Comissão Brundland, 1988).
A comunidade internacional vem se preocupando com os limites do desen-
volvimento desde a década de 1960, quando iniciaram os debates sobre os peri-
gos da degradação do meio ambiente. Tais discussões chegaram a tamanha in-
tensidade que levaram a ONU a gerar uma Conferência sobre o Meio Ambiente
(Estocolmo, 1972).
Os meios para se atingir o desenvolvimento seriam: atender às necessida-
des básicas; preservação para as gerações futuras; envolvimento da população;
preservação do meio ambiente e dos recursos naturais; criação de um sistema
social com garantia de emprego, segurança e respeito às culturas; saúde, bem-
-estar e educação para todos. Esses objetivos eram direcionados principalmen-
te às regiões em desenvolvimento, existindo em seu teor uma crítica à socie-
dade industrial. Estes debates a respeito de meio ambiente e desenvolvimento
abriram espaço ao conceito de desenvolvimento sustentável.
Com o objetivo de conseguir o Desenvolvimento Sustentável, faz-se neces-
sário que a proteção do meio ambiente seja entendida como uma parte impor-
tante do processo de desenvolvimento, e não como algo de pouca relevância.
A diferença entre o desenvolvimento e o crescimento é que: o crescimento
não elimina automaticamente a desigualdade nem a injustiça social, pois não
considera qualquer aspecto da qualidade de vida que não seja o acúmulo de
riquezas, que acontece apenas com uns poucos indivíduos da população. O de-
senvolvimento, ao contrário, preocupa-se com a produção de riquezas, contudo
tem por objetivo distribuí-las, produzindo a melhora da qualidade de vida da
população e tendo em consideração a qualidade ambiental.

118 • capítulo 5
5.2.2  A Constituição brasileira e o desenvolvimento econômico sustentável

Nos princípios fundamentais, art. 3o da Carta Magna, existe a preocupação do


legislador em promover o desenvolvimento nacional, numa sociedade livre, justa
e solidária, sem discriminação, e onde não tenha pobreza e desigualdade social.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil: [...]
II. garantir o desenvolvimento nacional;
III. erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades so-
ciais e regionais; [...]
No art. 21º. da Constituição Federal brasileira estabelece a competência
da União para promover o desenvolvimento econômico e social, e definir as
diretrizes para o desenvolvimento urbano.
Art. 21. Compete à União: [...]
IX. elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do terri-
tório e de desenvolvimento econômico e social; [...]
XX. instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habita-
ção, saneamento básico e transportes urbanos; [...]
O artigo 170 da Constituição Federal traz a ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, deve defender o meio am-
biente, reduzir as desigualdades regionais e sociais, e buscar o pleno emprego.
Já o §1o do artigo 174 da Carta Maior, estabelece que a lei definirá as di-
retrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibra-
do, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais
de desenvolvimento.
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o
Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e plane-
jamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o se-
tor privado.
§ 1º - A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvol-
vimento nacional equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos
nacionais e regionais de desenvolvimento. [...]
Assim, pode-se entender a grande preocupação do legislador em consonân-
cia com a preocupação nacional e mundial em promover um desenvolvimento
econômico em bases sustentáveis. Não deixando de lembrar a importância da
Agenda 21 (RIO 92), que objetiva mudanças tanto nos padrões de produção e
consumo, quanto nas questões políticas e sociais que cercam o meio ambiente.

capítulo 5 • 119
5.2.3  O sistema de contas nacionais do Brasil

A contabilidade nacional é a representação quantitativa de toda atividade eco-


nômica do país. O Sistema de Contas Nacionais no Brasil é elaborado pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ele segue o padrão recomenda-
do pela ONU, que consiste em agrupar a atividade econômica em quatro contas
básicas, a saber:
a) Conta Produto Interno Bruto – corresponde às transações que refletem
a atividade produtiva final durante um determinado período de tempo.
b) Conta Renda Nacional Disponível Bruta – corresponde às transações
que indicam a apropriação e a utilização da renda pelas famílias e governo.
c) Conta consolidada de capital – corresponde às transações que represen-
tam aumento da capacidade produtiva e seu financiamento pelas poupanças.
d) Conta das transações correntes com o resto do Mundo – corresponde às
transações de mercadorias e serviços entre residentes e não residentes do país.

Alguns conceitos importantes para entender o sistema de contas nacionais:


Produto - é o total de bens e serviços finais que foram produzidos numa
economia durante um determinado intervalo de tempo (usualmente anual).
Os bens e serviços finais são aqueles destinados diretamente à satisfação da
população (automóveis, geladeiras, etc.), não sendo incluídos os bens interme-
diários (utilizados na produção de outros bens).
Renda – é o total das remunerações recebidas pelos proprietários dos fato-
res de produção.
Despesa – é o total dos gastos realizados para aquisição dos bens e serviços
finais produzidos na economia.

Produto Interno Bruto:


O Produto Interno Bruto (PIB) é o somatório de todas as mercadorias e ser-
viços finais produzidos dentro do território nacional num dado período de tem-
po, valorizados a preço de mercado, sem considerar se os fatores de produção
são de propriedade de residentes ou não residentes.
Entretanto, para calcular o PIB, utilizam-se os fatores de produção que
pertencem a não residentes, cuja remuneração é remetida aos seus proprietá-
rios no exterior, na forma de juros, lucros e royalties. Os juros representam a

120 • capítulo 5
remuneração pela utilização do capital monetário externo; as remessas de lu-
cros são o pagamento pelo capital físico de propriedade das empresas estran-
geiras instaladas no país; e os royalties representam o pagamento pelo uso da
tecnologia estrangeira. Por sua vez, existem residentes que têm fatores de pro-
dução fora do país e recebem renda do exterior (Petrobras, Vale etc.).

Renda Per Capita


A renda per capita é o resultado da divisão da produção total e real de um
país pela sua população. Como indicador para definir o desenvolvimento de
um país, a renda per capita apresenta algumas limitações. Em uma economia
como a brasileira, que apresenta elevada desigualdade de renda pessoal e re-
gional, a renda per capita pode criar uma falsa expectativa. A renda per capita
do interior de São Paulo é muitas vezes superior à renda per capita do interior
dos estados do Nordeste, por exemplo.

5.2.4  Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

O Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi criado pelos economistas


Mahbub ul Haq e Amartya Sem e mede a qualidade de vida, levando-se em con-
ta indicadores como renda per capita, saúde (expectativa de vida ao nascer) e
educação (taxa de alfabetização de adultos e matrículas no ensino fundamen-
tal, médio e superior).
Conforme relatório do PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento), em contraponto à visão de crescimento econômico, que
observa a sociedade apenas pelos recursos ou pela renda, a abordagem de de-
senvolvimento humano foca as pessoas, suas oportunidades e capacidades. A
renda faz parte da medição, mas como um dos meios do desenvolvimento, e
não como seu objetivo principal. Portanto, com o desenvolvimento humano, o
foco deixa de ser o crescimento econômico para privilegiar o ser humano.
O conceito de Desenvolvimento Humano parte do princípio de que, para
conhecer o nível de qualidade de vida de uma população, é necessário consi-
derar outras características sociais, culturais e políticas que influenciam seu
bem-estar. Esse conceito é a base do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
e do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), publicados anualmente
pelo PNUD.

capítulo 5 • 121
Tendências do Índice de Desenvolvimento Humano, 1980–2012

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH)


Valor
Classificação do IDH 1980 1990 2000 2005 2007 2010 2011 2012
DESENVOLVIMENTO HUMANO ELEVADO
1 Noruega 0,804 0,852 0,922 0,948 0,952 0,952 0,953 0,955
2 Austrália 0,857 0,880 0,914 0,927 0,931 0,935 0,936 0,938
3 Estados Unidos 0,843 0,878 0,907 0,923 0,929 0,934 0,936 0,37
4 Países Baixos 0,799 0,842 0,891 0,899 0,911 0,919 0,921 0,921
5 Alemanha 0,738 0,803 0,870 0,901 0,907 0,916 0,919 0,920
6 Nova Zelândia 0,807 0,835 0,887 0,908 0,912 0,917 0,918 0,191
7 Irlanda 0,745 0,793 0,879 0,907 0,918 0,916 0,915 0,916
7 Suécia 0,792 0,823 0,903 0,905 0,909 0,913 0,915 0,916
9 Suíça 0,818 0,840 0,882 0,901 0,901 0,912 0,912 0,913
10 Japão 0,788 0,837 0,878 0,896 0,903 0,909 0,910 0,912
11 Canadá 0,825 0,865 0,887 0,906 0,909 0,909 0,910 0,911
12 Coreia, República da 0,640 0,749 0,839 0,875 0,890 0,905 0,907 0,909
13 Hong Kong, China (RAE) 0,712 0,788 0,815 0,857 0,877 0,900 0,904 0,906
13 Islândia 0,769 0,815 0,871 0,901 0,908 0,901 0,905 0,906
15 Dinamarca 0,790 0,816 0,869 0,893 0,898 0,899 0,901 0,901
16 Israel 0,773 0,809 0,865 0,885 0,892 0,896 0,899 0,900
17 Bélgica 0,764 0,817 0,884 0,884 0,891 0,896 0,897 0,897
18 Áustria 0,747 0,797 0,848 0,867 0,879 0,892 0,894 0,895
18 Singapura - 0,756 0,826 0,852 - 0,892 0,894 0,895
20 França 0,728 0,784 0,853 0,877 0,885 0,891 0,893 0,893
DESENVOLVIMENTO HUMANO ELEVADO
85 Brasil 0,522 0,590 0,669 0,699 0,710 0,726 0,728 0,730

De 1980 a 2012, o IDH do Brasil foi o que mais cresceu entre os países da
América Latina e do Caribe, com alta acumulada de 36,4%, um crescimento mé-
dio anual de 0,95% no período. O IDH do país é considerado um nível de desen-
volvimento elevado. No entanto, ainda ocupa uma posição de pouca relevân-
cia no ranking do IDH, distante das principais nações com desenvolvimento
humano muito elevado. Observa-se a melhoria dos indicadores de desenvolvi-
mento humano dos países que ocupam as 20 primeiras posições no período de
1980 a 2012, mostrando a eficácia das políticas de valorização do ser humano
nas regiões apontadas.

5.2.5  O meio ambiente e a sustentabilidade

A atividade sustentável é aquela que pode ser mantida por tempo indeter-
minado, ou seja, indefinidamente, nunca se esgotando, mesmo com os im-
previstos que podem vir a acontecer durante este período. Desenvolvimento

122 • capítulo 5
sustentável é aquele que enriquece a qualidade da vida do ser humano e res-
peita a capacidade produtiva dos ecossistemas. Com isso, é possível alcançar a
sustentabilidade ecológica com a utilização mais eficaz dos recursos naturais
dos diversos ecossistemas, redução do consumo e redução da poluição.
Essa preocupação com o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente
não é recente. No Brasil, a preocupação com o meio ambiente tem sido eviden-
te em toda a sociedade, sendo motivação inclusive de muitas restrições aos in-
vestimentos públicos ou privados. Medidas vêm sendo tomadas pelo Estado no
sentido de promover o crescimento econômico com justiça social e preserva-
ção do meio ambiente.
A Agenda Positiva, por exemplo, uma ação do Ministério do Meio Ambiente
(MMA) iniciada em 1999, tem a intenção de impedir o elevado ritmo do des-
matamento na Amazônia, verificado principalmente em décadas anteriores.
Visa mobilizar a sociedade, de maneira abrangente, na busca de uma com-
preensão do problema do desmatamento e do processo de imposição de mo-
delos predatórios de desenvolvimento e, então, propor alternativas concre-
tas, buscando a construção de novos modelos de desenvolvimento, baseados
na sustentabilidade.
O governo vem organizando movimentos sociais com várias representações
em diversos segmentos comunitários tradicionais para implantar as Agendas
Positivas. As entidades privadas também se mobilizam através das ONGS, bem
como cientistas engajados no projeto.
As agendas positivas elaboradas mediante amplas consultas oferecem uma
estratégia democrática de sustentabilidade para amazônia. Definem as ações
governamentais em relação à região. O meio ambiente deixa de ser uma preo-
cupação para se tornar a base da construção de um programa de desenvolvi-
mento sustentável para a região amazônica.
Dentre as alternativas propostas para as agendas positivas, podem-se destacar:
a) Gestão Ambiental: em que abordam estudos referentes às estruturas
florestais, com práticas para um manejamento sustentável; elaboração de
planos para impedir as queimadas agrícolas familiares; reciclagem e aprovei-
tamento de resíduos animais e vegetais; controle biológico selecionando inse-
ticidas e fungicidas com pequena toxidade, com o objetivo de reduzir o impac-
to ambiental.
b) Biodiversidade: através da utilização de programas de melhoramen-
to vegetal pela moderna biotecnologia, com o objetivo de desenvolver uma

capítulo 5 • 123
agropecuária e uma agrofloresta sustentável, como também a recuperação das
áreas degradadas.
c) Manejamento de produção: adotando novas tecnologias com a finali-
dade do aumento da renda das famílias nas pequenas escalas produtivas e re-
duzindo as perdas na colheita, com isso gerando de empregos.
d) Banco de dados: através da organização das informações sobre os re-
cursos naturais da região, como também das questões sociais e econômicas,
buscando novas invenções a serem patenteadas, no plantio e na colheita e no
armazenamento, de acordo com o perfil regional e global .
e) Fiscalização: com fins educativos referentes aos madeireiros para que
desenvolvam um manejo florestal sustentável e não haja desmatamento preda-
tório .
f) Construção de fóruns: para implementar a Agenda Positiva envolvendo
países fronteiriços.
g) Captação de recursos governamentais: baseado no cumprimento dos
termos de acordos internacionais.
h) Pesca: inclusão de políticas referentes à pesca, desenvolvidas de forma
sustentável, através da formação de comitês regionais da pesca.

A nível externo, países europeus aliam ao uso de instrumentos econômicos


– cobrança pelo uso de água bruta, principalmente – políticas de recuperação
integral dos custos de saneamento. Nesses países, as tarifas cobradas pelos ser-
viços de saneamento refletem não só os custos de suprimento de água potá-
vel, mas também o tratamento dos efluentes. Essa política levou países como
França, Alemanha, Holanda e Reino Unido a apresentarem índices próximos
de 100% de conexão à rede de água e 80% a 96% à rede de coleta de esgotos.
Entretanto, ainda restam no mundo cerca de um bilhão de pessoas sem
água limpa e três bilhões sem coleta de esgoto, majoritariamente nos países
subdesenvolvidos. A agricultura irrigada, feita de forma descontrolada, tem de-
vastado partes da Ásia Central. O Mar de Aral representa uma fração de seu ta-
manho original. Em todo o mundo, grande parte dos recursos hídricos superfi-
ciais localizados próximos aos grandes centros encontra-se comprometida em
função do nível de poluição que apresentam. Os rios Nilo, Tietê e Paraíba do Sul
são exemplos dessa situação.
O Brasil vem buscando estruturar um processo sustentável de reversão do
atual quadro de degradação dos corpos hídricos nacionais e de prover uma

124 • capítulo 5
alocação mais racional da água em zonas que já apresentam graves problemas
de escassez. No campo institucional, o marco inicial foi a aprovação de lei de re-
cursos hídricos do estado de São Paulo, em 1992, iniciativa seguida por diversos
outros estados. Esse processo culminou com a aprovação da lei federal de re-
cursos hídricos (Lei no. 9.433/97). Por fim, a Lei no. 9.984/2000 criou a Agência
Nacional de Águas (ANA), incumbida da implantação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de recursos hídricos.

Legislação Aplicada
Constituição Federal Brasileira de 1988
Dentre os diversos artigos da Constituição Federal brasileira importan-
tes para o assunto abordado no presente capítulo, cabe destacar os seguintes
artigos:
Arts. 1º; 3º; 5º; 6º; 7º; 8º; 21; 170; 174; 182; 200; 225
Decreto nº 73.030/73 - Secretaria Especial do Meio Ambiente- SEMA
LEI No. 6.938/81 – Política Nacional do Meio Ambiente
LEI No. 8.080/90 - Sistema Único de Saúde – SUS
LEI No. 9.433/97 – Política Nacional de Recursos Hídricos
LEI No. 9.984/2000 - Agência Nacional de Águas (ANA)

Estudo de casos

1. Comércio aliado do meio ambiente (O Globo, 26/04/2016)


Há 20 anos, a Organização Mundial do Comércio (OMC) emitia sua primeira
decisão numa disputa comercial. Tratava-se de um caso de grande visibilidade,
envolvendo a legislação de um determinado país destinada a preservar a qua-
lidade do ar. Alguns críticos descreveram a decisão como prova de que a OMC
sempre colocaria o livre comércio acima da proteção ambiental. Por algum
tempo, repetiu-se esse chavão. Mas a jurisprudência da OMC mostra que esses
receios não se confirmaram. É importante conhecer esta história ou perdere-
mos a oportunidade de usar o comércio como um aliado do meio ambiente.
Vejamos aquele primeiro precedente, por exemplo. Discutia-se um dispo-
sitivo que regulava o nível máximo de poluentes permitido na gasolina. Não
estava em questão o fato de que, de acordo com as normas da OMC, cada país
tinha — e tem — o direito de regular esse tema. No entanto, no caso em análise,
o limite de poluentes era imposto apenas ao produto importado; produtores

capítulo 5 • 125
domésticos estavam autorizados a ultrapassar aqueles parâmetros. A OMC de-
cidiu que esse tratamento diferenciado era uma prática discriminatória e ar-
bitrária, que não era compatível com o próprio objetivo ambiental da medida.
Caso a lei tivesse imposto as mesmas restrições a todos os produtores, é razoá-
vel supor que a medida tivesse sido considerada perfeitamente legal.
Mais de 500 disputas já foram apresentadas à OMC, algumas envolvendo
medidas comerciais com objetivos de proteção ambiental. Qualquer um que
deseje ler essas decisões verá que a OMC nunca questionou a proteção ambien-
tal — e, aliás, nem mesmo o poderia fazer à luz das nossas regras. O acordo que
criou a OMC em 1994 vincula a organização aos objetivos do “desenvolvimento
sustentável” e à “necessidade de proteger e preservar o meio ambiente”. E isso
não está escondido numa nota de rodapé — está na página 1, no primeiro pará-
grafo do nosso acordo constitutivo.
Além disso, as regras da OMC expressamente permitem que os membros
restrinjam o comércio quando isso for necessário para preservar recursos na-
turais exauríveis ou para proteger a saúde humana, animal ou vegetal. A juris-
prudência também confirmou que cada país tem o direito de adotar o nível de
tolerância ao risco que julgar adequado. Ou seja, é possível adotar padrões de
“tolerância zero”, proibindo as importações de um produto, ainda que seu ris-
co para o meio ambiente ou a saúde pudesse ser administrado. Evidentemente,
essas medidas não podem ser aplicadas de maneira arbitrária, ou seja, o argu-
mento legítimo de proteção ambiental não pode servir como um mero disfarce
para encobrir medidas protecionistas.
Os 20 anos de jurisprudência da OMC mostram que as regras da organiza-
ção não diminuem em nada o direito de os países adotarem políticas efetivas
de proteção ambiental. A relação entre comércio e meio ambiente, no entanto,
não termina aí. O comércio pode fazer mais pela causa ambiental.
Neste momento, por exemplo, um grupo de países negocia na OMC um acor-
do para eliminar barreiras ao comércio de produtos que favorecem a proteção
ambiental — como turbinas eólicas, painéis solares e filtros para purificação
de água. O comércio pode ajudar a disseminar tecnologias, promover eficiên-
cia energética e contribuir para a economia de baixo carbono. Naturalmente,
sozinho não resolve, mas com certeza pode ajudar muito se fizer parte de um
conjunto adequado de políticas ambientais.
Ocorre esta semana no Rio de Janeiro o Congresso Mundial de Direito
Ambiental Internacional, uma interessante oportunidade para tratar da relação

126 • capítulo 5
entre comércio e meio ambiente. A OMC tem uma boa história para contar nes-
sa área — e ainda há mais a ser feito. Devemos evitar que visões distorcidas ou
antiquadas prejudiquem a oportunidade que temos de fazer do comércio um
aliado na proteção ao meio ambiente.
Roberto Azevêdo é diretor-geral da Organização Mundial do Comércio

Indagações
a) Comente sobre os riscos de se privilegiar o livre comércio em detrimen-
to da preservação do meio ambiente. Fundamente a resposta.
b) Comentar a afirmação a seguir na ótica da atuação da OMC (Organização
Mundial do Comércio) no âmbito do comércio internacional: “o limite de po-
luentes era imposto apenas ao produto importado; produtores domésticos es-
tavam autorizados a ultrapassar aqueles parâmetros”.
c) A partir do texto, mostre a importância do acordo para eliminar bar-
reiras ao comércio de produtos que favorecem a proteção ambiental — como
turbinas eólicas, painéis solares e filtros para purificação de água; e como a le-
gislação brasileira pode estimular a adoção dessas novas tecnologias limpas.

2. ONU aprova ambicioso plano de desenvolvimento sustentável para


próximos 15 anos (Estado de Minas, 25/09/2015)
Líderes de todo o mundo adotaram um ambicioso programa que pretende
acabar com a pobreza nos próximos 15 anos, que o papa chamou de "um sinal
de esperança", embora tenha pedido medidas concretas.
Na abertura da cúpula que reunirá até domingo mais de 150 chefes de esta-
do e de governo na sede das Nações Unidas, em Nova York, os países estabele-
ceram 17 metas, divididas em 169 objetivos que devem ser cumpridos até 2030.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que a nova agenda repre-
senta uma "visão do mundo universal, integrada e transformadora".
Mas alertou para a necessidade de que a comunidade internacional se com-
prometa com a implementação do plano. "Precisamos de ações de todos em
todas as partes".
O programa busca acabar com a pobreza, promover a educação, garantir vi-
das mais saudáveis e combater a mudança climática.
O documento foi ratificado durante a inauguração de uma cúpula de desen-
volvimento que reunirá mais de 150 chefes de estado até domingo na sede da
ONU, que precede a 70ª Assembleia Geral.

capítulo 5 • 127
Para o papa Francisco, que momentos antes se dirigiu aos líderes falando
na tribuna do auditório da Assembleia Geral, o novo plano de desenvolvimento
"é um sinal importante de esperança".
"Não bastam, contudo, os compromissos assumidos solenemente, ainda
quando constituem um passo necessário para as soluções", disse o papa.
"O mundo pede de todos os governantes uma vontade efetiva, prática, cons-
tante, de passos concretos e medidas imediatas para preservar e melhorar o
ambiente natural e vencer o quanto antes o fenômeno da exclusão social e eco-
nômica", disse o papa argentino, o primeiro do continente americano.
O documento, de 41 páginas, foi ratificado durante a abertura da Cúpula
sobre Desenvolvimento Sustentável de 2015, um prelúdio para o debate geral
da 70ª Assembleia Geral da ONU na próxima semana.
O objetivo número um é "colocar fim à pobreza em todas as suas formas":
836 milhões de pessoas ainda vivem com menos de 1,25 dólares por dia.
– Mais de 3,5 bilhões de dólares -
O plano também prevê garantir o acesso universal a educação e saúde, lutar
contra as crescentes desigualdades, promover o desenvolvimento das mulhe-
res e limitar o aquecimento global.
A lista faraônica é similar aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
(ODM), propostos para o período 2000-2015.
"Esta agenda não parte do zero nem é ingênua, temos a experiência dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que permitiram fazer convergir es-
forços e alcançar resultados em torno de metas comuns", disse a presidente
chilena, Michelle Bachelet.
O novo plano abarcará também os países industrializados e abordará as-
suntos tão delicados como a boa governança, a igualdade de gênero e a luta
contra a corrupção.
Mas são muito mais ambiciosos que os oito objetivos anteriores, focados
apenas na pobreza e na saúde dos países em desenvolvimento.
O desafio é enorme: encontrar recursos para financiá-lo, garantir que os go-
vernos o cumpram e cuidar para que ninguém se perca no meio do caminho.
As metas não são vinculantes e cada país ficará livre para implementar ou
não os objetivos e escolher com quais meios vai agir, mas 300 indicadores ava-
liarão os avanços.
"Temos uma grande história de fazer promessas na ONU, mas o assunto é
se a promessa sempre é cumprida", ponderou Jamie Drummond, do grupo ati-
vista ONE.

128 • capítulo 5
Especialistas calculam que serão necessários entre 3,5 e 5 bilhões de dóla-
res a cada ano durante 15 anos para financiar a ambiciosa iniciativa, em um
contexto de crise econômica mundial que reduziu as colaborações das nações
ricas para as mais pobres.
Instituições financeiras internacionais como o Banco Mundial fornecerão
recursos para grandes projetos de infraestrutura que possam ter efeitos sobre
a luta contra a pobreza.
Os resultados das metas anteriores são contraditórios. A pobreza extrema
e a mortalidade infantil caíram pela metade com relação a 1990. Mas o meio
ambiente recebeu os impactos do crescimento acelerado da China e da Índia, e
as desigualdades econômicas aumentaram.
- Condições para a paz -
Bachelet e seu colega colombiano, Juan Manuel Santos, se comprometeram
com entusiasmo a implementar as novas medidas.
A agenda "cuida dos grandes desafios de uma realidade que não admite
atrasos", disse Bachelet.
Para Santos, as metas de desenvolvimento "são condições necessárias para
a construção da paz", em seu país, que caminha para o final de um conflito ar-
mado de mais de meio século, o último da América Latina.
"A paz na Colômbia terá altíssimos dividendos precisamente no campo eco-
nômico, social e ambiental", garantiu o colombiano.
O presidente boliviano, Evo Morales, fez uma condenação definitiva da "di-
tadura" do sistema capitalista.
"O capitalismo leva os povos à situação de extrema pobreza", afirmou.

Indagações:
a) A partir do texto, mostre as políticas necessárias para o combate à po-
breza com o intuito de alcançar a sustentabilidade. Fundamente a resposta.
b) Mostre a importância da integração nos campos econômico, social e
ambiental para o sucesso dos programas de desenvolvimento sustentável.
c) Comente, com base nos conceitos de desenvolvimento sustentável, a
afirmação do representante da Colômbia, Juan Manuel Santos, de que “as me-
tas de desenvolvimento são condições necessárias para a construção da paz".

capítulo 5 • 129
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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