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1
que trago cálida o lado claro das coisas.
esta porção de mim
blocos de gelo
que trago presa este meu coração
cheio de vespas derretem.
... ...
Transgrido tantas leis Não tenho a natureza do mar.
que já nem sinto Não tenho profundidade
Entro em um mar de águas-vivas para tudo o que há tanto submerge em
que ardem, ardem, ardem mim:
mas nem doem latas cortantes, vidências, garrafas
parece que me alisam vazias.
com seus pelos frágeis restos que duram
rostos, disformes cacos
Cada vez me afoito mais meus cacos meus próprios restos
e não encontro margens unhas, mãos, escrúpulos.
e não encontro porto Tento dormir, mas não tenho
só encontro tempestades estômago,
onde atracar se é que me entendes.
Meus limites me adoecem,
Nesse excesso de sal encontro-me comigo, entrecortada.
nesse mar escuro em que me perco Esses encontros têm sido raros.
me iluminas com o teu desejo Talvez nessa cidade não minha
me serves de farol quando anoiteço haja mais coisas submersas que em
e me guias, me guias, me guias mim.
jorrando tua luz Ouso duvidar.
sobre os meus seios Quem me ousaria?
Quem?
MÚSICA: MULTIFACES (RIZOLETE)
...
... Eu não gosto de morar longe de você
no teu peito ...
o meu nome, Só porque hoje estou sozinha,
o convés, A solidão pinga palavras dos meus
dedos, descascados,
a bússola.
Remexe o passado no baú envelhecido,
desde então trago comigo o
hemisfério de dentro
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Dita qualquer coisa no meu pé do E quando os dias doem e parecem mais
ouvido entoando esse choro frios
incompreendido. E também depois de quentes…
E quando a gente se entrega ao mar
Sua ausência me pede para te amar,
Ao nosso…
devagar e eu engulo esse carinho sem
Como uma oferenda
corpo.
...
Você não compreendeu, não é pressa é
intensidade. É preciso que a saudade desenhe tuas
TODOS: a tua ausência é uma violência o vento das horas ponha um frêmito
em teus cabelos...
...
É preciso que a tua ausência trescale
Te amo enquanto espero o ônibus de
sutilmente, no ar,
manhã
E depois do café que escorre na panela a trevo machucado,
Devagar as folhas de alecrim
Te amo enquanto corro a tarde para
desde há muito guardadas
voltar
E depois de um sonho não se sabe por quem
Desesperadamente nalgum móvel antigo...
Te amo dentro do mar Mas é preciso, também,
E fora dele
que seja como abrir uma janela
Por dentro
E nas extremidades e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
Calmamente É preciso a saudade para eu sentir
Te amo enquanto enfrento as filas mais
como sinto - em mim - a presença
longas
E depois de esquecer de pagar as misteriosa da vida...
contas pequenas Mas quando surges és tão outra e
Distraidamente
múltipla e imprevista
Te amo enquanto sonho
E depois que acordo que nunca te pareces com o teu
E os passarinhos brincam de existir retrato...
Te amo até quando não sei quem sou
direito
3
E EU TENHO QUE FECHAR MEUS OLHOS ...
PARA VER-TE! Levei meus olhos tristes
... Segredos
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Que amargura em ser desertos! Homenagem a Zila Mamede (retirado
de cartas para Zila, textos de Canniggia
Meu rosto a queimar, queimar,
Carvalho, Marina Rabelo, Michelle
meus olhos se desmanchando Ferret e Nina Rizzi):
Todas as ilhas, todos os golfinhos, todas Faz 30 anos que você se foi. Será que
as águas. somos muito diferentes hoje do que
fomos em 1985? Acho que não. A vida
E a indiferença do que seremos: eu no está passando igual. O mar continua o
mar e você em terra firme. mesmo. Eu sou a mulher na praia,
Todos os perigos e nenhum grito teu. encostada numa jangada, observando o
movimento dos barcos. Gosto dos
O mar sou eu!
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arrepios na pele. Do sal e dos meus pés de ser água mesmo parecendo gente. O
na areia. A vida está passando igual. As mar está quieto, silencia o peito nas
pessoas ainda sofrem de amor, de falta ondas poucas, anunciando a vida. Estou
de dinheiro, de doença, de falta de só, mas navego. E amanheço nos teus
empatia, entre outras coisas. Estamos braços, num cuidado raso de querer
sempre à procura de um mar de profundidades. Sinto medo dos
felicidade. Será que esse mar existe? naufrágios. Essa dor insistente em
afogar o lado bom das margens. Tudo
Você já prestou atenção que a chuva
que se construiu com cuidado e tempo
não avisa que vem? O céu até se pinta,
desaparece em segundos.
mas pedir licença é outra coisa. Deve
ser pra isso que construímos nossos Para te acompanhar, precisarei eu ser
telhados, para nos abrigar do tempo. A este mar, não há outra maneira e disso
qualquer tempo. estou ciente. Me contento, então, em
ser barco que desliza sem prumo. A
Em conta-gota vou lavando os papéis
minha coragem só vai até aqui, essa
que jamais te chegarão. Também fui
será a minha maneira de sobreviver à
jogado em alto-mar e tenho que fazer
tua praia sem perdê-la.
escolhas: ou busco o ar na superfície
das ondas ou continuo a tentar pegar, Felipe canta PRA QUE SERVE A POESIA
com as mãos, os peixes que resvalam o
meu corpo que boia. Se eu nadar para
fora do mar, estarei perdendo a
oportunidade de te falar que eu...