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CURITIBA
2015
VANESSA MARISTER DE ANGELO SANTIN
CURITIBA
2015
TERMO DE APROVAÇÃO
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do título de Bacharel no
Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.
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Orientador: ________________________________
Prof. ____________________________________
Prof.____________________________________
Por fim, a todos aqueles que entenderam minha ausência e mesmo de longe
dispensaram-me torcida e compreensão, não diminuindo em nada o carinho e amor
sentido por mim.
RESUMO
This study undertakes an analysis of the organ donation and transplantation law in the
light of Biolaw and its principles, specially the person’s autonomy. For this purpose, the
essay undertakes a study of relevant legislation, its regulations and the legal principles
related to the matter, as well as the history of organ transplantation in Brazil, the
regulation of informed consent as well as the prohibition of commercialization of
transplants and matters pertaining illicit organ trafficking.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 08
2 BIOÉTICA E BIODIREITO............................................................................................... 09
2.1 PRINCÍPIOS BÁSICOS DA
BIOÉTICA.................................................................................Erro! Indicador não definido.2
2.2 PRINCÍPIOS BÁSICOS DO BIODIREITO ............. Erro! Indicador não definido.3
3 DOAÇÃO E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS ................................................................ 17
3.1 APONTAMENTOS HISTÓRICOS DA DOAÇÃO E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS
................................................................................................................................................. 18
3.2CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO .................................................................................. 20
3.2.1 A Comercialização de órgãos ................................................................................... 22
3.3 NORMATIVA ................................................................................................................... 23
3.3.1 A evolução legislativa ................................................................................................. 23
3.3.2 A Lei 9434/97 e sua modificação pela Lei 10211/01.........................................24
4 RESPEITO À AUTONOMIA ............................................................................................ 28
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 34
6 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 35
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1. INTRODUÇÃO
2. BIOÉTICA E BIODIREITO
1 “Com esta nova faceta criada pela biotecnociência, que interfere na ordem natural das coisas para “brincar de
Deus”, surgiu uma vigorosa reação da ética e do direito, que, aqui, procuramos ressaltar, fazendo com que o
respeito à dignidade da pessoa humana seja o valor -fonte em todas as situações, apontando até onde a
manipulação da vida pode chegar sem agredir”. (DINIZ, 2010. Prefácio XXIV)
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Mas qual seria então a definição, de Bioética? Aqui nos servem de base
algumas definições:
Já, Aluízio Borem e Fabrício R. Santos aduzem que “a bioética estuda a visão
moral, as decisões de conduta e aspectos políticos do comportamento humano em
relação aos fatos e fenômenos biológicos”.(BOREM, 2001, p. 209)
que giram em torno dos direitos entre avida e a morte, da liberdade da mãe,
do futuro ser gerado artificialmente, da possibilidade de doar ou de dispor do
próprio corpo, da investigação científica e da necessidade de preservação de
direitos das pessoas envolvidas e das gerações futuras.(DINIZ, 2010, p. 13)
[...] tem a vida por objeto principal, salientando que a verdade jurídica não
poderá salientar-se à ética e ao direito, assim como o progresso científico não
poderá acobertar crimes contra a dignidade da pessoa humana, nem traçar
sem limites jurídicos, os destinos da humanidade. (DINIZ, 2010, p. 8)
Cabe aqui esclarecer que não é o caso de distribuição dos meios do bem e do
mal, e sim ressaltar que, em casos de situações conflitantes, deve-se maximizar os
2 Termo retirado do Código de Ética Médica, arts. 12, 13, 22, 34, 44 e 101.
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Como anteriormente descrito, o biodireito pode ser definido como uma nova
ramificação do estudo jurídico, resultante do encontro entre a bioética e o direito,
buscando estabelecer limites na conduta dos profissionais envolvidos nesta área. Tem
como mote, a dignidade da pessoa humana, estabelecendo se as condutas
empregadas são lícitas e estão de acordo com os valores, princípios e normas que
protegem a vida humana, interferindo quando necessário nas formas e mecanismos
de sua manipulação.
3 Princípio hipocrático que significa: “antes de tudo, não cause dano,não prejudique o paciente”. “Este
pensamento não deve ser causa de receio ou medo por parte de médicos ou outros profissionais da saúde quanto
aos cuidados administrados a um paciente, mas sim uma base sobre a qual devemos estar constantemente
pensando, para que lembremos que há riscos envolvidos em todo e qualquer momento para o doente, desde a
tomada de uma medicação fundamental para um tratamento, mas que pode gerar uma reação adversa, até algo
mais grave como uma cirurgia realizada no membro são ao invés de ser realizada no membro doente.
http://www.medicinanet.com.br/conteudos/biblioteca/901/introducao__primum_non_nocere.htm
4 Já dizia Aristóteles: “Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua
desigualdade”. O jus filósofo ao contrário do que se possa pensar de que estaria ele disseminando o preconceito
entre as diferenças, queria apenas mostrar que elas existiam, que fossem tratadas como tais e que tivessem a
finalidade principal de integrar a sociedade e promover a dignidade entre elas.
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Pode-se dizer então que se, a bioética liga-se com assuntos que envolvem a
vida e a morte das pessoas como por exemplo: o aborto, métodos de fecundação e
natureza do embrião, eutanásia, manipulação genética, clonagem, transplante e
doação de órgãos, entre outros, o biodireito norteia para que haja respeito no
provimento de cada um desses atos, tendo como referência a proteção e dignidade
humana.
Biodireito tem a vida por objeto principal, salientando que a verdade jurídica
não poderá salientar-se à ética e ao direito, assim como o progresso científico
não poderá acobertar crimes contra a dignidade humana, nem traçar sem
limites jurídicos, os destinos da humanidade. (DINIZ, 2010, p. 8)
[...] acontece que nenhum indivíduo é isolado. Ele nasce, cresce e vive no
meio social. E aí, nesse contexto, sua dignidade ganha – ou, tem o direito de
ganhar – um acréscimo de dignidade. Ele nasce com integridade física e
psíquica, mas chega um momento de seu desenvolvimento que seu
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Maria Helena Diniz arremata dizendo que “para a bioética e o biodireito, a vida
humana não pode ser uma questão de mera sobrevivência física, mas sim, de vida
com dignidade”. (DINIZ, 2010. p. 18)
Os avanços nacionais não pararam por aí, sendo o Brasil, responsável pelo
maior sistema público de transplante do mundo, possuindo 27 centrais de notificação,
captação e distribuição de órgãos, 11 câmaras técnicas nacionais, 748 serviços
distribuídos em 467 centros, 1047 equipes de transplantes e 71 organizações de
procura por órgãos.5
Hoje em dia, cerca de 95% dos transplantes do Brasil são realizados pelo
Sistema Único de Saúde(SUS).
5 Dados tirados do site Saúde Plena que versa sobre os dados numerológicos da Doação e Transplante de órg ãos,
Disponível em :
http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2013/09/2 5/noticia_saudeplena,145638/brasil-dobra-
o-numero-de-doacoes-de-orgaos-em-dez-anos.shtml. Acesso em 21/03/2015.
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ou, se ela for incapaz, com a de um de seus pais ou responsável legal (Lei n.
9434/97, art. 9º, §8º). (DINIZ, 2010, p.332)
Antonio Chaves, conceitua doador como sendo a” pessoa que não implica em
nenhum momento sobre a disponibilidade gratuita do próprio corpo. É pessoa maior e
capaz, apta a fazer doação em vida ou pós morte de tecidos, órgãos ou parte de seu
corpo, com fins terapêuticos e humanitários.(CHAVES, 1994, p. 249)
humanas para suprir essas finalidades, levando assim à inevitável discussão acerca
do comércio de órgãos e tecidos nesta área.
Fica claro constatar que ao mesmo tempo que a ciência trouxe grandes
avanços para a sociedade, trouxe juntamente alguns problemas a serem analisados
e discutidos.
3.3 NORMATIVA
Tal lei, dispõe sobre a retirada de órgãos e tecidos do corpo humano com a
finalidade de realização de transplantes em vida ou pós morte.
À luz da Lei nº 9434/97, art. 1º, que regula os transplantes, é admitido o ato
de disposição gratuita de órgãos, tecidos e partes do corpo humano post
mortem para fins científicos ou de transplantes em pacientes com doença
progressiva ou incapacitante, irreversível por outras técnicas terapêuticas.
Consagra ainda o princípio do consenso afirmativo pelo qual a pessoa capaz
deve manifestar a sua vontade de dispor de seu corpo gratuitamente, no todo
ou em parte, para depois de sua morte, com objetivo científico: estudo de
anatomia nas universidades ou terapêutico – realização de transplantes.
Existe o direito de revogação dessa disposição a qualquer momento. (DINIZ,
2010, p. 25)
Ainda sobre a Lei 9434/97 em seu procedimento pós morte do paciente, esta,
em seu artigo 4º determina que a retirada de órgãos e tecidos de pessoas falecidas
dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha
sucessória, reta e colateral, até o segundo grau inclusive, devendo ser firmada em
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Mister ressaltar que a doação poderá ser revogada a qualquer tempo tanto por
parte do doador, quanto por parte de seus representantes legais antes de sua
concretização efetiva. É o que dispõe o artigo 9º, §§ 3º a 8º da Lei 9434/97 e o Decreto
nº 2268/97, artigos 15, §§1º a 8º e 20, parágrafo único: “admite-se a doação voluntária
de órgãos e tecidos, feita preferencialmente por escrito e na presença de duas
testemunhas, por pessoa juridicamente capaz, especificando o órgão, tecido ou parte
do corpo que será retirado para a realização de transplante ou enxerto, desde que
haja a comprovação de necessidade terapêutica do receptor.
Maluf esclarece:
A lei 9434/97 que dispõe sobre a retirada de órgãos, tecidos e partes do corpo
humano com finalidades de transplantes tanto em vida quanto pós morte causou
bastante polêmica, tendo sua redação modificada pela Lei 10211 de 23 de março de
2001. No artigo 4º da lei anterior, a qual se referia ao consentimento do doador para
doar seus órgãos pós morte, adotava-se o consentimento presumido, onde deduzia-
se doador toda pessoa capaz que não manifestasse disposição em contrário ainda
em vida. Obrigava as pessoas que não queriam ser doadoras que expressassem em
seus documentos a vontade contrária ao ato de doar.
Maria Helena Diz tece sua ilustre opinião sobre a presente Lei:
Por outro lado, tal dispositivo não estava sendo obedecido pela classe médica,
que com o intuito de se resguardar, optou em se portar conforme a ética médica e
respeito aos familiares, pedindo sempre a estes a autorização para a remoção de
órgãos para fins de transplantes, gerando ainda mais insegurança jurídica quanto ao
assunto. Diante de extremo impasse, a Associação Médica Brasileira juntamente com
o Conselho Federal de Medicina, ficaram do lado de sua classe, aconselhando seus
28
A Lei 10211/01 veio para tentar dirimir de vez a polêmica acerca do tema,
tornando sem efeito todas as manifestações de vontade constantes nos documentos
e adotando como norma o consentimento expresso, passando então a exigir
autorização dos familiares do falecido. Desta maneira, mesmo que o falecido tenha
manifestado verbalmente em vida à sua família a vontade de ser doador ou ainda que
este, tenha registrado declaração quanto ao assunto, ainda assim, a decisão final e
decisiva será de sua família.
Revogou-se na nova norma legal aquilo que mais feriu a cultura brasileira,
caracteristicamente refratária à imposição de qualquer natureza. [...] daí
porque no Brasil a doação de órgãos para transplantes continuará sendo mais
uma questão de consciência individual, e sobretudo, uma opção de solidária
e generosa fraternidade. (DRUMOND, 2009, online)
4. RESPEITO À AUTONOMIA
Goldim em seu entendimento afirma que o critério adotado pela atual lei é um
retrocesso em nossa legislação, e questiona:
A atual proposta legal, em vigor desde março de 2001, onde só a família pode
decidir, pode trazer novas questões. A lei estabelece que a vontade do
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Cabe aqui o questionamento: Será que o Estado com esta lei, não estaria
suprimindo a liberdade básica do ser humano, principalmente sua capacidade de
autodeterminação contrariando assim a sua dignidade? Fato é, que está o Estado
interferindo na vida privada, desrespeitando a autonomia do cidadão, declarando
arbitrariamente a imposição de uma regra através de coerção legislativa.
Nosso Código Civil em seu artigo 14 que trata dos direitos da personalidade é
enfático em dizer que desde que para fins científicos ou altruísticos, é válida a
disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte para depois da morte.
[...] toda transmissão supõe que uma pessoa se ponha no lugar da outra,
assim, caso a transmissão pudesse ocorrer, ou seja, sendo possível que uma
pessoa se pusesse no lugar de outra, o direito não seria de personalidade,
logo, como o direito da pessoa lhe é personalíssimo, nem poderes contidos
em cada direito de personalidade, ou seu exercício, são suscetíveis de serem
transmitidos ou por maneira outorgados. (MIRANDA, 1990, p. 7, 8)
Seria justo que seus pais decidissem sobre a remoção de seus órgãos e
tecidos em benefício de outro filho ou de algum parente próximo? Bastaria
para tanto que houvesse uma simples anuência de seus pais ou tutor ou seria
necessária ainda, uma autorização judicial? [...] os pais ou representante
legal, somente podem consentir com a doação de tecidos regeneráveis, como
medula óssea, pele ou sangue se houver não só uma imperiosa necessidade
terapêutica que justifique tal decisão como também autorização judicial.
Assim, sendo, não deve haver autorização paterna ou judicial para extirpação
de um órgão vital duplo, como o rim, para fins de transplante, porque isso
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No que diz respeito aos fetos anencéfalos (embrião, feto ou recém-nascido com
ausência de massa encefálica), deverá este ser respeitado como pessoa humana,
jamais ferindo a sua dignidade e caracterizando ilicitude a programação de seu parto
única e exclusivamente para a utilização de seus órgãos num transplante. Maria
Helena Diniz diz: que: “ninguém tem o direito de abreviar vida alheia para atender a
interesses terapêuticos de alguma pessoa”. (DINIZ, 2010, p. 353)
Para que este bebê anencéfalo possa ser doador de órgãos e tecidos, deverá
preencher os critérios legais de morte cerebral, portanto deverá estar legalmente
morto, e todo o processo de doação deverá ser feito por iniciativa dos pais e não por
solicitação de profissional da saúde. Quanto à temática:
Em caso de um prisioneiro, não seria ético fazer a doação para diminuir seu
tempo da pena imposta, além de que seria considerada uma “operação
mercantil” e nem seria uma decisão consciente, pois em s ituação prisional
provoca estado de ansiedade, depressão e desespero e não seria um gesto
para salvar a vida de alguém, mas um gesto para obter o alívio de uma parte
da pena que ainda deveria cumprir. (CALDEIRA, 2014, online)
Falemos agora sobre o aspecto psicológico da família que terá que decidir
quase que, instantaneamente pelo ato de realizar ou não a doação dos órgãos de seu
ente.
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Neste sentido, o ser humano está apto e deverá ter em suas mãos o poder de
manifestar-se de maneira favorável ou contrária a determinada questão, e
principalmente, quanto ao certame que versa sobre à sua saúde.
Esse atributo de liberdade não é exercido de forma desmedida, uma vez que
encontra como dosador o ordenamento jurídico que consiste em um conjunto
de normas organizadas, de forma a manter a sociedade pacífica e longe do
caos. Assim mencionado, o ordenamento jurídico não deve ser visto como
detentor de supremacia sobre a autonomia da vontade, mas sim como seu
limitador, que não deve ser ultrapassado. (OLIVEIRA, 2013, online)
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5. CONCLUSÃO
Ainda hoje, podemos falar que é um método bastante desconhecido por parte
da população, o que ainda gera muitos medos e dúvidas pertinentes ao assunto.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Aline Mignon. Bioética e Biodireito. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris,
2000.
35
DINIZ, Maria Helena. Código Civil Comentado. 6ª Edição, São Paulo: Editora
Saraiva, 2009.
DINIZ, Maria Helena. O Estado Atual do Biodireito. São Paulo: Editora Saraiva, 7ª
edição, 2010.
GARCIA, Vd. Por uma Política de Transplantes no Brasil. São Paulo: Editora Office,
2000.
http://www.einstein.br/hospital/transplantes/doacao-de-orgaos/Paginas/doacao-de-
orgaos.aspx. Acesso em 25/04/2015.
http://www.medicinanet.com.br/conteudos/biblioteca/901/introducao__primum_non_n
ocere.htm
MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado. Rio de Janeiro: Editora Borsoi,
volume 7, 1990.
OLIVEIRA, Renata Almeida. Doação e transplante de órgãos. In: Âmbito Jurídico, Rio
Grande, VIII, n.21, maio 2005. Disponível em: http://www.ambito-
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em Set. 2014.
RUSSEL, Bertrand. L´impatto dela scienza sulla società. Trad. Giorgio Meineri. Ver.
Trad. Carlo Nizzo. Roma: Newton & Compton, 2005.
___. La visione scientifica del mondo. Trad. Emilio A. G. Loliva. 2ª ed. Roma-Bari:
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SÁ, Maria de Fátima Freire de. Biodireito e direito ao próprio corpo: doação de órgãos,
incluindo o estudo da Lei 9434/97, com as alterações introduzidas pela Lei 10211/01. 2 ed.
Belo Horizonte: Del Rey, 2003.
SOARES, André Marcelo M.; PIÑERO Walter Esteves. Bioética e Biodireito, uma
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