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DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Um caso de “feitiçaria” na
Inquisição de Pernambuco
Recife
2001
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Tatiane de Lima Trigueiro
Um caso de “feitiçaria” na
Inquisição de Pernambuco
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-graduação em
História da Universidade
Federal de Pernambuco como
requisito parcial para a obtenção
do grau de mestre em História,
sob a orientação do Prof. Dr.
Marcus Joaquim Maciel de
Carvalho.
Recife
2001
2
RESUMO
algumas particularidades.
3
A todos aqueles que
um dia se sentiram
injustiçados.
4
Agradecimentos
Agradecimentos
5
Sumário
Introdução
6
Capítulo 3 – Uma “feiticeira” em Pernambuco :::::::::::::::: 83
7
Introdução
comunidade.
ela era considerada um ser sagrado, porque [podia] dar vida e (...)
1
Entendemos por sociedade primitiva as comunidades que antecederam o período neolítico e que
sobreviviam da coleta de frutos e da caça aos pequenos animais.
2
MURARO, Rose Marie in KRAMER Heinrich e SPRENGER, James. Malleus Maleficarum – O Martelo
das Feiticeiras. Rio de Janeiro, 1993, Editora Rosa dos Tempos, p. 05.
8
g uerras, momento em que a força física masculina tornou- se evidente e
dominante.
9
Tribunais da Santa Inquisição nesse período da história, e mortas nos
gerações.
esses grupos se deu de forma amena. Além desses fatores, houve uma
3
Festa realizada em praça pública durante todo o dia com uma série de atividades religiosas, entre elas a
missa e a procissão, onde era lido o veredicto dos vários processos e os condenados a morte pelos Tribunais
da Santa Inquisição eram executados no encerramento destas atividades. Detalharemos essas festas no
capítulo 1.
10
O presente trabalho tem como proposta analisar está sociedade na
11
consciência [já os feiticeiros] pratica igualmente malefícios mas para
Dessa forma, as bruxas eram mulheres que haviam herdado das mães
4
PAIVA, José Pedro. Práticas e crenças mágicas. O medo e a necessidade dos mágicos na diocese de
Coimbra (1650-1740). Coimbra, Editora Livraria Minerva, 1992, p. 25.
5
PAIVA. Idem.
12
Assim nos esclarece Carl os André Cavalcante em sua dissertação de
p r á t i c a s m á g i c a s ( . . . ) f o r a m p e r d o a d o s . Os
6
CAVALCANTE, Carlos André Macedo. A Reconstrução da Intolerância: o Regimento de 1774 e a
Reforma do Santo Ofício. P. 61 e 62.
13
Esta dissertação de mestrado abordará, no primeiro capítulo, o
Península Ibérica.
Bahia, de 1707.
14
compreender as causas do envolvimento da população de Pernambuco
alcançado.
15
Capítulo 1
A Inquisição
justamente por prega rem uma nova ordem social que diferia da
de hereges. 2
1
GONZAGA, João Bernardino Garcia. A inquisição em seu mundo. São Paulo, Editora Saraiva, 1993, p.
93.
2
NOVINSKY, Anita Waingort. A Inquisição. São Paulo, Editora Brasiliense, 1982. “A palavra herege
origina-se do grego hairesis e do latim haeresis e significa doutrina contrária ao que foi definido pela Igreja
em matéria de fé. Em grego, hairetikis significa ‘o que escolhe’”. p. 10-11.
17
No período Medieval, os cristãos já não mais eram perseguidos, agora
sempre que este viu seus interesses prejudicados. Dessa forma se deu
3
Organismo político administrativo que, como nação soberana ou divisão territorial, ocupa um território
determinado, é dirigido por governo próprio e se constitui pessoa jurídica de direito público,
internacionalmente reconhecida. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua
Portuguesa, Editora Nova Fronteira, 1986, p. 714.
18
concentrar forças e riquezas para este propósito. Neste contexto, entra
19
1.1 – H i s t ó r i c o I n q u i s i t o r i a l :
A época medieval, até bem po uco tempo atrás, era considerada pelos
superstições.
20
feudais. A partir do século IX, houve a revolução artística carolíngia 4
4
Esta revolução artística se deu no governo de Carlos Magno, coroado imperador do Império Franco (ou
novo Império Romano do Ocidente) no natal de 800 pelo Papa Leão III.
5
MICHELET, Jules. A Feiticeira: 500 anos de transformação na figura da mulher. Rio de Janeiro,
Editora Nova Fronteira, 1992, p. 37.
6
MICHELET. Id em
21
Assim, a partir do século XIV, eram condenadas à morte as mulheres
que Jesus era mais um anjo e que seu sofrimento e morte, pregados
7
MICHELET. Op. Cit. p. 38.
8
GONZAGA. Op. Cit. p. 55.
9
GONZAGA. Op. Cit. p. 94.
10
FALBEL, Nachman. Heresias Medievais. São Paulo, Editora Perspectiva, 1976, p. 41.
22
mau e corruptível. Portanto, o mundo da matéria seria a obra de um
11
FALBEL. Op. Cit. p. 52.
23
(...). 12 Contudo, a não cessão às pressões “obrigou” essas duas
e (...) do país. 15
principais perseguidas nos seus atos, até então, rotineiros; a elas cabia
12
GONZAGA. Op. Cit. p. 82.
13
KELLER, Wener. História del pue blo judio, Barcelona, 1987 apud GONZAGA. Op. Cit. p. 148.
14
SARAIVA, Antonio José. Inquisição e cristãos novos , Portugal, Editora Inova, 1969, p. 31.
15
SARAIVA. Idem.
24
informada de seus segredos (. . .) [com] poder não só de profetizar, mas
16
DELUMEAU, Jean. História do Medo no Ocidente: 1300-1800. uma cidade sitiada, São Paulo,
Companhia das Letras, 1989,. P. 311.
17
DELUMEAU, Op. Cit. p. 310.
18
DELUMEAU, Op. Cit, p. 320.
25
concorrente da Igreja na transmissão do conhecimento e dos valores da
(...) cujo corpo constitui um obstáculo (...), 19 assim, ela teria que se
pecado. 21
19
DELUMEAU, Op. Cit, p. 317
20
DELUMEAU. Idem.
21
PAIVA, José Pedro. Bruxaria e superstição num país sem “caça as bruxas” - 1600-1774. Lisboa,
Notícias Editorial, 1997, p. 37.
26
Essa visão do século XVIII é fruto de anos de destruição e
As que eram acusadas desse crime de heresia eram levadas aos Santos
27
p ú b l i c o . N a s t o r t ur a s 22 para a obtenção da confissão, as mulheres eram
22
Ruston Lemos Barros apresenta a lista de tipos de torturas aplicadas no período. BARROS, Ruston Lemos.
Estado, Inquisição Moderna e a Tortura in Saeculum – Revista de História nº 2 João Pessoa, Editora
Universitária/UFPB, 1996, p. 141 e 142.
23
BARROS. Op Cit. p. 139.
24
NOVINSKY, Anita. Sistema de Poder e Repressão Religiosa: para uma interpretação do fenômeno
cristão novo no Brasil in Anais do Museu Paulista, tomo XXIX, Universidade de São Paulo, São Paulo,
1979, p. 6.
28
curandeirismo – todavia as razões e os objetivos dessa nova
anteriormente.
25
BETHENCOURT, Francisco. História das Inquisições: Portugal, Espanha e Itália – séculos XV-XIX,
São Paulo, Companhia das Letras, 2000, p. 35.
26
NOVINSKY, Anita. Uma fonte inédita para a História do Brasil in Revista de História nº 94, São Paulo,
Universidade de São Paulo, 1973, p. 563.
29
1.2 – I n q u i s i ç ã o n a P e n í n s u l a I b é r i c a :
30
político, social e econômico cada vez maior dos judeus em detrimento
27
DELUMEAU. Op. Cit. p. 303
28
NOVINSKY. A Inquisição, Op. Cit. p. 28.
31
racial desses grupos com o objetivo de controlar as possibilidades de
era mais soc ial que religioso, 31 apesar dos estrangeiros serem
dito lugar. 32
A partir de 1478, após a união dos reis católicos Fernando e Isabel, foi
29
NOVINSKY, Sistema de poder e repressão religiosa, Op. Cit. p. 7.
30
DELUMEAU, Op. Cit p. 306.
31
NOVINSKY. A Inquisição, Op. Cit. p. 28.
32
HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1972, p. 65.
32
com os reis acabou por concordar. O governo passou a se sustentar
33
BETHENCOURT. Op. Cit. p.18.
34
BETHENCOURT. Ibide. p.17.
35
Ano da nomeação de dois inquisidores pelos reis católicos. Os dominicanos frei Juan de San Martin
(bacharel em teologia) e frei Miguel de Morillo (mestre em teologia). BETHENCOURT. Ibide. p. 18.
36
DELUMEAU. Op. Cit. p. 302.
33
Santo Ofício: o caráter arbitrário do tribunal, o segredo do processo
i n o c e n t e s , r e d u z i n d o à m i s é r i a a s f a m í l i a s d o s c o n d e n a d o s . 37
37
BETHENCOURT. Op. Cit. p. 20.
38
D. João III utilizou manobras políticas para conseguir a autorização definitiva de Roma que lhe concedia
centralizar o poder político e religioso nas mãos da coroa. NOVINSKY. O Tribunal da Inquisição em
Portugal in Revista da Universidade de São Paulo nº 5. 1987, p. 91.
39
Também foram instituídos Tribunais em Lamego, Tomar e Porto, contudo foram abolidos por causa de
abusos e corrupção na administração. NOVINSKY. A Inquisição, Op. Cit. p. 36.
40
MARQUES, A. H. de Oliveira. Breve História de Portugal . Lisboa, Editorial Presença, 1996, p. 268.
34
bispos de Ceuta, o de Coimbra e o de Lamego 41 . A autorização do
sem razões que lhe justificassem a existência. Afirma ainda que os reis
c o n s e g u i r e m u m a n o v a a r m a d e c e n t r a l i z a ç ã o r é g i a . 43
41
BETHENCOURT. Op. Cit. p. 24.
42
NOVINSKY. O tribunal da inquisição em Portugal, Op. Cit. p. 91.
43
MARQUES. Op. Cit. p. 267.
44
NOVINSKY. A Inquisição, Op. Cit. p. 35.
45
AHN, Inq., livro 1254, fl.14 r-v, e livro 1276, fls. 47v -48r. in BETHENCOURT. Op. Cit. p. 417.
35
muçulmanos e contra todos aqueles que praticassem heresia s c o n t r a a
46
NOVINSKY.O tribunal da Inquisição em Portugal. Op. Cit. p. 92.
47
NOVINSKY. A Inquisição. Op. Cit. p. 36.
36
Apesar da proteção de alguns Reis aos judeus contra os cristãos, ele, o
d e p o i s d a c o n v e r s ã o . 49
território português.
48
SARAIVA. Op Cit. p. 36.
49
BAUER, A. História crítica de los judios apud CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Preconceito racial:
Portugal e Brasil-colônia. São Paulo, Editora Brasiliense, 1988, p.45.
50
MARQUES,. Op. Cit. p. 268
37
cristã velha, invejosa do seu predomínio. 51 Além desse grupo cristão
u s u r á r i o s j u d e u s . 52
n ú m e r o d e f i r m a s e d e h o m e n s d e n e g ó c i o. 55 S e g u n d o S a r a i v a :
51
MARQUES. Idem.
52
MARQUES. Idem.
53
NOVINSKY. A Inquisição. Op. Cit. p 39.
54
MARQUES. Op. Cit.. p. 271.
55
MARQUES. Op. Cit. p. 271-272.
38
o Estado português do século XVI oferece
exteriormente uma aparência <<moderna>>, na
medida em que é uma grande empresa econômica, por
outro lado, ele assegura, no interior do País, a
persistência de uma sociedade arcaica, na medida em
que garante o domínio de uma classe tradicionalmente
d o m i n a n t e , c u j o e s p í r i t o e s t á n o s a n t í p o d a s do
b u r g u ê s . 56
56
SARAIVA. Op. Cit. p. 54.
57
FAORO, Raimundo. Os Donos do Poder. São Paulo, Editora Globo, 1989. p. 61.
39
considerados menos graves e se referiam à bigamia, à sodomia, à
sortilégios.
b u l a . 60
58
NOVINSK. A Inquisição. Op. Cit. p. 56-58.
59
MARQUES. Op. Cit. p. 265.
60
BETHENCOURT. Op. Cit. p. 25.
40
considerada diminuta, ou seja, de menor valor que as outras e por isso
pessoas ao redor da Inquisição e que eram pagas por ela; toda cidade
e s p i a n d o , p r e n d e n d o , d e n u n c i a n d o e i n f o r m a n d o . 62
m a t e r i a i s h a v i d o s p o r h e r é t i c o s . 64
61
MARQUES. Op. Cit. p. 269.
62
MARQUES. Idem.
63
MARQUES. Idem.
64
MARQUES. Op. Cit. p.268.
41
primeiro, d e m o n s t r a r “ p u r e z a o u l i m p e z a d e s a n g u e ”
(...) [ou seja] devia estar isento de mácula na
a s c e n d ê n c i a , ( . . . ) [segundo] n ã o p o d i a t e r c o n t r a s i
rumor de conduta moral desviante (...), amantes, (...) e
por último [que] t ivesse posses, (...) para que resistisse
à tentação de seqüestrar os bens dos suspeitos em
p r o v e i t o p r ó p r i o . 65
a v a l i a v a m a r e s i s t ê n c i a d o s t o r t u r a d o s . 67
se apurasse a denúncia.
65
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808), Objetiva, Rio de Janeiro, 2000, p. 219.
66
VAINFAS. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808), p. 218.
67
VAINFAS. Idem.
68
Estamos considerando que o denunciado seja do Brasil.
42
Esses depoimentos eram encaminhados novamente a Lisboa e havendo
i m p a r c i a i s , q u e a t u d o a s s i s t i a m s o b p r o m e s s a d e m a n t e r s e g r e d o . 69
uma cama com ripas onde o acusado era deitado e prensado contra a
determinada altura, de onde era so lto sem bater ao chão. Muitos saíam
69
GONZAGA, Op. Cit. p. 121.
43
estiveram presos. Quando a condenação era de morte o réu também
ficava por alguns dias sem ser torturado, para que houvesse a
Autos de Fé.
públicos, pois
70
MARQUES. Op. Cit. p. 270.
44
<<reconciliados>>, isto é, àqueles que eram
readmitidos no seio da Igreja e condenados a penas
que iam desde penitencias espirituais até à prisão e
desterro. Havia (...) os que se realizavam na praça
pública, em que figuravam não só reconciliados, mas
também <<relaxados>>, isto é, aqueles que eram
entregues à Justiça secular para a execução da pena
d e m o r t e . 71
a p r e s e n t a ç ã o p ú b l i c a d a a b j u r a ç ã o , d a r e c o n c i l i a ç ã o e do castigo. 72
71
SARAIVA. Op. Cit. p 145.
72
BETHENCOURT, Op. Cit. p. 227.
73
MARQUES. Ibid.
45
antes, a tempo de construir o cadafalso e o anfiteatro, de
c o n f e c c i o n a r o s s a m b e n i t o s . 74
até o dia 31 de março de 1821, quando foi abolida por decreto das
Cortes Portuguesas. 75
74
SARAIVA. Op. Cit. p. 149.
75
SILVA, Leonardo Dantas in MELLO, José Antonio Gonçalves de. Primeira Visitação do Santo Ofício às
partes do Brasil: Denunciações e Confissões de Pernambuco. Recife, FUNDARPE, 1984.
46
Capítulo 2
Brasil Inquisitorial
2.1 - A I n q u i s i ç ã o c h e g a
ao Brasil
1
NATIVIDADE, Sylvia. Conformaçam para os queixosos apud COATES, Timothy J.
Degredados e órfãs: colonização dirigida pela coroa no império português. 1550- 1755.
p. 225.
48
No Brasil, a Inquisição chegou com a União Ibérica (1580) e se
Uma das razões para que a Inquisiç ão só chegasse com a União Ibérica
no Brasil.
2
NOVINSKY, Anita Waingort. Uma Fonte inédita para a História do Brasil in Revista de História,
Universidade de São Paulo, 1973. p. 565.
3
PAINE. European Colonie in LIMA, N. de Oliveira. Pernambuco: seu desenvolvimento histórico, Recife,
Coleção Pernambucana, Secretaria de Educação e Cultura, Governo do Estado de Pernambuco, 1975. p. 18
49
terra desconhecida repleta de incertezas quanto ao sucesso comercial e
casos mais sérios levados para Lisboa onde eram novamente ouvidos.
de práticas judaizantes.
4
NOVINSKY. A inquisição. Op. Cit. p. 76.
50
necessitavam de colaboração (...) para sobreviverem às condições
colônia.
brancos, 7 sendo que desse total 14% seriam cristãos novos, isto é, 910
5
NOVINSKY, Anita. Sistema de poder e repressão religiosa para uma interpretação o fenômeno cristão
novo no Brasil in Anais do Museu Paulista. Tomo XXIX, Universidade de São Paulo, 1979. p. 8.
6
NOVINSKY. Idem. p. 7.
7
O Barão do Rio Branco afirma ser de 8.000. MELLO. José Antonio Gonsalves de. Gente da Nação: cristão
novo e judeus em Pernambuco – 1542-1654. Recife, Editora Massangana, 1990, p. 07.
8
MELLO. Idem.
9
NOVINSKY. Op. Cit. 1982. p. 75.
51
o Brasil deveriam ser mandados para as capitanias no sul ou para o
P a r a í b a . 10
10
BA, 44-XIV-4, f. 194v. Carta do senado da Câmara de Olinda para a Coroa in COATES, Timothy J.
Degredados e órfãos: colonização dirigida pela Coroa no Império Português – 1550-1755. Lisboa,
Comissão Nacional para as comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1998. p. 141.
11
NOVINSKY. Op. Cit. 1979. p. 08.
12
NOVINSKY. Op. Cit. 1982. p. 79.
13
NOVINSKY. Op. Cit. 1979. p. 9.
52
a partir de 1709, a Coroa ordenou que apenas
d o P o r t o . 14
I g r e j a C o l o n i a l s u a s pr ó p r i a s c o n s t i t u i ç õ e s , 15 e m 1 7 0 7 .
14
PAIVA, José Pedro. Práticas e crenças mágicas. O medo e a necessidade dos mágicos na diocese de
Coimbra: 1650-1740. Coimbra, Livraria Minerva, 1992. p. 143.
15
VAINFAS, Ronaldo. Tropico dos Pecados: moral, sexualidade e Inquisição no Brasil. Rio de Janeiro,
Nova Fronteira, 1997. p.15.
16
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia
patriarcal . Rio de Janeiro, Record, 1998. p. 195.
53
Essa realidade se confirma quando em 1699 a metrópole portuguesa
este estado . 17
17
Arquivo Histórico Ultramarino (a partir de agora AHU), Lisboa. Códice 257, folha 8v. 20/01/1699 in
Divisão de Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (a partir de agora DPH-UFPE).
54
2.2 - P r i m e i r a v i s i t a ç ã o d o S a n t o O f í c i o
Varadouro.
18
Também havia estado em SãoTomé e Cabo Verde como inquisidor antes de chegar ao Brasil.
19
Bergantin: antiga embarcação à vela e remo, esguia e veloz.
55
v i gário da Vara Eclesiástica, Diogo de Couto; o Ouvidor Geral do
20
LIMA, N. de Oliveira. Pernambuco: seu desenvolvimento histórico. Recife, Coleção Pernambucana,
Secretaria de Educação e Cultura, Governo do Estado de Pernambuco, 1975. p. 18.
21
GARCIA, Rodolpho in MELLO, José Antonio Gonsalves de. Primeira Visitação do Santo Ofício às
partes do Brasil: Denunciações e Confissões de Pernambuco. Recife, FUNDARPE, 1984. p. X.
22
GARCIA in MELLO Ibid. p. VIII.
23
LIMA. Pernambuco: seu desenvolvimento histórico. 1975. p. 31.
56
de Anchieta a população pernambucana em 1583 era de oito mil
pessoas.
sobre Pernambuco:
24
MELLO. Op. Cit. 1984, p. X.
25
SILVA, Leonardo Dantas in MELLO. 1984.
26
LIMA, Op. Cit. p. 32.
57
dela, e não consentir que esteja arriscada a um
corsário a saquear e destruir, o que se pode atalhar
com pouca despesa e m enos trabalho. 28
27
Senhor de engenho da Bahia.
28
SILVA in MELLO. Op. Cit. 1984.
29
Idem.
58
e assim se seguiram os trabalhos durante os dois anos em que o
nessas terras.
c a s o s f o r a m r e g i s t r a d o s e m P e r n a m b u c o . 30 Dentre as denúncias do
30
174 eram reinóis, 21 eram ultramarinos, 59 eram brasileiros e 17 outros. MELLO, José Antonio Gonsalves.
Gente da Nação. p. 06.
59
preso, ela – Brisida Lopes - compareceu à prisão e lhe fez algumas
“feiticeira” afirmou que uma amiga havia feito as feitiçarias, mas ele
acredita ter sido a própria Br isida Lopes quem as fez e, portanto, isso
de 1593. Isabel acusa Anna de ter embruxado sua filha recém nascida e
perguntas de Felicia. 34
31
MELLO. Op. Cit. 1984. p. 95.
32
MELLO. Ibid. 1984. p. 24.
33
Este relato se torna interessante por descrever uma prática até hoje realizada em reuniões de jovens
adolescentes, onde uma caneta ou um copo fazem o que fez a tesoura no caso de Felicia Tourinho.
34
MELLO. Ibid. 1984. p. 187.
60
se confessassem culpados por algum “crime” - de fé ou de moral, ao
b a s t a n t e s . 36
35
BAIÃO, Antônio. Correspondência inédita do Inquisidor Geral e Conselho Geral do Santo Ofício para o
primeiro Visitador da Inquisição no Brasil, Brasília vol. I p 543-551 apud MELLO.Op. Cit. 1984.
36
MELLO. Idem. 1984.
61
feitas para a elaboração dos processos que formulou contra os
62
sua filha, Brites Fernandes, considerada m ulher de pouco juízo 37 mas
pelo Tribunal.
de poder, pois o Brasil era tido como uma terra de degredo para os
37
MELLO. Op. Cit. 1990, p. 136.
38
LIMA. Op. Cit. p. 18.
39
MELLO. Op. Cit 1984, p. XX.
40
Seu processo se encontra, incompleto, na Divisão de Pesquisa Histórica da Universidade Federal de
Pernambuco.
63
Esse comportamento só abrandou quando, em fevereiro de 1630,
calçadas e saneadas, além das pontes que foram construídas para ligar
41
LIMA, Op. Cit. p. 85.
42
LIMA, Ibid. p. 90.
64
Após o período de ocupação holandesa foram eles (judeus e cristãos
atividades. 43
43
MELLO. Op. Cit. 1984, p. 244.
65
Segundo o Cônego José do Carmo Baratta, o período de 1654 a 1676
missões indígenas. 44
e n c o n t r a v a l o n g e d a s e d e d o b i s p a d o ( B a h i a ) . 45
44
BARATTA, Cônego José do Carmo. História Ecclesiástica de Pernambuco. Recife, Imprensa Industrial,
1922. p. 40.
45
BARATTA. Ibid. p. 41.
66
confessar os seus pecados, se comover e chorar, passada a emoção,
t i n h a m p o d e r s u f i c i e n t e p a r a r e s o l v e r q u a s e t o d a s a s s i t u a ç õ e s . 49
46
BARATTA. Op. Cit. p. 57/58.
47
LIMA. Op. Cit. p. 18.
48
Fruto da herança das crenças medievais portuguesas e da farta contribuição das culturas africanas e
indígenas. História Geral da Igreja na América Latina - História da Igreja no Brasil: Segunda Época –
séc. XIX. Tomo II/2. Coordenado por José Oscar Beozzo. Petrópolis, Edições Paulinas/Vozes, 1992, p. 112.
49
História Geral da Igreja na América Latina - História da Igreja no Brasil: Segunda Época – séc.
XIX. Idem.
50
Guerra dos Mascates em 1710 e 1711.
67
de uma instituição responsável pela formação do clero e, ainda, a
51
BARATTA. Op. Cit. p. 59.
68
contra inimigos havia orações bravas, que não eram
p a r a ser rezadas, mas levadas ao pescoço (...) ou
p r e g a d a s a t r á s d a s p o r t a s d a c a s a . 52
escravas negras e a b s o l v i a m q u a n t o s o s p r o c u r a v a m e m c o n f i s s ã o. 55
Trento.
52
História Geral da Igreja na América Latina - História da Igreja no Brasil: Segunda Época – séc.
XIX. Tomo II/2. Op. Cit. Idem.
53
VAINFAS. Op. Cit. p. 39.
54
Ano da instalação do Bispado da Bahia.
55
VAINFAS. Op. cit. p. 40.
69
2.3 - A s C o n s t i t u i ç õ e s P r i m e i r a s d o
Arcebispado da Bahia
Igreja. Sua estrutura foi minada e com isso ela teve que reformular sua
doutrina.
70
tanto do clero quanto da população leiga. Os resultados das inúmeras
afronta ao protestantismo. 56
oferecidos pelo clero foram um cancro que minou a alma da Igreja até
56
VAINFAS. Op. Cit. p. 19.
57
DIAS, José Sebastião da Silva. Correntes de sentimento religioso em Portugal: século XVI a XVIII.
Coimbra, Universidade de Coimbra, 1960. p 35.
58
DIAS. Ibid. p. 40.
59
DIAS. Ibid. p. 37.
71
Esses religiosos acreditavam ter direitos sobre o patrimônio das Igrejas
e dos mosteiros.
Muito dessa realidade se dava por conta dos memb ros eclesiásticos não
mas sim por pertencerem a uma classe social que os induzia, havia uma
total a u s ê n c i a d e v o c a ç ã o s a c e r d o t a l . 60
resoluções.
60
VAINFAS. Op. Cit. p. 21.
61
DIAS. Op. Cit. p. 73.
62
Convocado pelo papa Paulo III, durou 18 anos, de 1545 a 1563.
63
VAINFAS. Op. Cit. p. 23.
72
No Brasil do século XVIII a realidade eclesiástica não foi muito
Brasil sem respeito ao estado que pelo officio e ao exemplo que devem
d a r c o m a s u a v i d a e c o s t u m e s . 65 A s s i m , d i a n t e d e s s a
64
AHU, códice 265, folhas 258v in DPH da UFPE.
65
AHU, códice 265, folhas 258v-259 in DPH da UFPE.
73
ser usada a] jurisdição diocezana contra aquel es
Relligiozos que tiverem a seu cargo a cura das Almas
e administração dos sacramentos, cometendo erro nos
taes officios. 66
Esse documento demonstra que havia uma preocupação com a vida dos
l u g a r d e d e s t a q u e n a v i d a familiar e individual. 69
66
AHU, códice 265, folhas 259-259v in DPH da UFPE.
67
AHU, códice 265, folhas 258v in DPH da UFPE.
68
AHU, códice 265, folhas 258v in DPH da UFPE
69
História Geral da Igreja na América Latina - História da Igreja no Brasil: Segunda Época – séc.
XIX. Tomo II/2. Op. Cit. .p. 112.
74
Esses rituais mágicos que tanto fascinavam, mas ao mesmo tempo
p e s s o a l d a s p e s s o a s a a f f e c t a r o u f r a g m e n t o s d e p l a n t a s o u a n i m a i s . 70
70
CARVALHO, Alfredo de. A Magia Sexual no Brasil in Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico
de Pernambuco, vol. XXI, Imprensa Industrial, Recife, 1919. p. 414.
75
ainda utilizarem de artifícios como porções e beberagens (...) para
[quanto] p a r a p r o v o c a r m a l e f í c i o s a e v e n t u a i s i n i m i g o s , 72 exercendo
por Deus.
71
VAINFAS. Op. Cit. p. 143.
72
SOUZA, Laura de Mello e. O Diabo e a Terra de Santa Cruz . Companhia das Letras. p. 194.
73
PAIVA. Op. Cit. 1992. p. 45 e seg.
76
Aqui no Brasil, este documento foi organizado pelos Diocesanos e
seguinte modo:
C o n s t i t u i ç õ e s P r i m e i r a s d o A r c e b i s p a d o da Bahia
feitas, e ordenadas pelo ilustríssimo, e reverendíssimo
senhor D. Sebastião Monteiro da Vide, 5º Arcebispo
do dito Arcebispado, e do Conselho de Sua
Magestade: propostas, e aceitas em o Synodo
Diocesano, que o dito Senhor celebrou em 12 de junho
d o a n n o d e 1 7 0 7 . 75
74
Arcebispo de sólida formação jurídica, planejou inicialmente a realização de um concílio provincial. Dada
porém a ausência do bispo do Rio de Janeiro, contentou-se com um sínodo diocesano. História Geral da
Igreja na América Latina - História da Igreja no Brasil. Tomo II/1. Coordenado por Eduardo Hoornaert.
p. 177.
75
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. Capa
77
Por tanto auctoritate ordinaria mandamos em virtude
de santa obediencia a todas, e a cada uma das
s o b r e d i t a s p e ss o a s , q u e o r a s ã o , e a o d i a n t e f o r e m , a s
cumprão, e guarde: e ao nosso Provisor, Vigário
Geral, Desembargadores, Visitadores, e Vigarios da
Comarca, e da Vara, e a todos os mais Ministros de
nossa Justiça Ecclesiástica, as fação inteiramente
c u m p r i r , e g u ardar, como nellas se contém, e por ellas
julguem, e determinem as causas, e se governem em
t o d a a a d m i n i s t r a ç ã o d a j u s t i ç a . 76
do seu uso e quais as pessoas que seriam obrigadas a tê- las além de
76
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. p. XXII
77
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. p. 432, título LXXIII, cânone 1311
78
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. p. 432, título LXXIV, cânone 1312
78
A falta da leitura por parte da população eclesiástica encarregada do
mesmo acarretaria uma pena de duzentos réis por cada vez que
p u b l i c a r ã o o P r o l o g o d e l l a s , e o T í t u l o p r i m e i r o d a F é C a t ó l i c a . 80
p e s q u i s a s d o s p r i n c i p a i s t e ó l o g o s c o n t e m p o r â n e o s p a r a e l a b o r á - la.
livros, sendo que cada livro é dividido em Títulos, ao todo são 74.
79
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia.
80
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. p. 433, título LXXIV, cânone 1313.
79
conferirão as Constituições, do Regimento do Auditório Eclesiástico,
[os que] furtam alguma coisa pertencente à Igreja (...), [os que juram]
81
PAIVA. Op. Cit. 1992. p. 47.
80
falso em juízo (...), [os que incendeiam] de propósito para fazer damno
concílios, etc. Até então as regras seguidas pelo clero e pela sociedade
82
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. p. 74-76.
83
VAINFAS. Op. Cit. p. 25.
81
princípios morais e éticos defendidos pela Igreja Católica Apostólica
Romana.
controlar a sociedade.
82
Capítulo 3
Uma “feiticeira” em
Pernambuco
3.1 – D e s c r i ç ã o d o 3.2 – A n á l i s e d o
processo de processo de
Antonia Maria Antonia Maria
Antonia Maria, degredada por práticas de feitiçaria, habitou em Pernambuco na
primeira metade do século XVIII. Tempo este em que a Capitania vivia os reflexos
da Guerra dos Mascates, da falta de uma presença religiosa por conta da ausência do
dívidas.
quando na armação do problema que norteia nossa pesquisa. Essas questões são
primeira metade do século XVIII e quais as causas do incomodo com esses rituais,
assim facilitar o entendimento das questões que serão discutidas mais adiante.1
1
Na leitura paleográfica do documento optamos pela transcrição atualizada do processo de Antonia Maria e
das artes praticadas po r ela de forma a facilitar a compreensão do texto.
84
3.1-
3.1- Descrição dos Processos de Antonia Maria
Antonia Maria, casada com Vasco Janeiro, de idade de 30 anos, mais ou menos, foi
Suas denunciantes foram os membros de uma mesma família, todas filhas de João
85
Estes foram os denunciantes de Antonia Maria. As irmãs a procuraram para que ela
Silva o perdoassem por ter roubado umas moedas de ouro do padrasto. Este, o havia
denunciado as autoridades judiciais e ele seria preso pelo furto. Antonia Maria, em
Primeiro mandou que se rezasse um rosário as almas dos fieis por nove dias: dez
Deus vos salve, santos fieis de Deus, Deus vos salve, salvemos Deus
os da quem e os dalém os que andais pelos adros e pelos sagrados e
os batizados e por batizar todos se queiram ajuntar e incorporar no
coração de Manoel Rodrigues e de Ana Maria [padrasto e mãe de
Antonio da Silva] queiram entrar e o perdão do furto das moedas de
ouro lhe dar.
Segundo as irmãs essa reza não surtiu o efeito desejado e novamente procuraram
Antonia Maria para que ela realizasse algum outro sortilégio. Sendo assim, Antonia
Maria pediu 9 vinténs para comprar uns ingredientes e fez um fervedouro na casa
espetado com agulhas e alfinetes depois de ter lhes tirado as cabeças, sangue de leão
suco de lobo, alfazema, erva de barbasco e outras, um pedaço de pedra de ara, tudo
86
ferveu com vinagre e nesse momento dizia as seguintes palavras batendo com três
da Silva, que nada sabia. Novamente esse sortilé gio não surtiu efeito e ela ensinou
ao casal que eles deveriam ir a uma encruzilhada às onze para a meia noite para que
o perdão fosse alcançado. O ritual consistia no seguinte: colocar uma mesa forrada
com um pano velho e nela cinco bolinhos, cinco azeitonas, cinco pedacinhos de
queijo, cinco figos e cinco pedrinhas tiradas do local. Cada ingrediente desse em um
canto da mesa. E que se rezasse a seguinte oração sem que ninguém visse ou
ouvisse:
87
Contudo, tanto Antonio da Silva quanto sua esposa, tiveram medo e largaram a mesa
do pagamento da moeda de ouro que as irmãs lhes havia prometido e não haviam
Antonia Maria foi presa em 27 de agosto de 1712 pelas seguintes culpas: ações vans
além desse crime, confessou outro, dentre eles rezas para que pessoas se casassem,
para amansar seu marido, que a impedia de sair de casa, simpatias para que
comerciantes se dessem bem nas compras e vendas, rezas para que mulheres
adúlteras não fossem descobertas pelos maridos. Segundo sua confissão, Antonia
Maria afirma que suas rezas, simpatias e sortilégios não deram certo, com raras
exceções, e que nem sempre era paga pelos serviços. E que só os fazia por ser muito
88
Em seu depoimento Antonia afirma que se iniciou nas artes mágicas com a mãe,
mas que aprendeu com uma amiga chamada Joana de Andrade, que também foi
bens, cárcere e hábito penitencial perpétuo, açoites, excomunhão, degredo por toda a
vida da cidade de Beja e por três anos para o reino de Angola. Dia 10 do mesmo mês
Não estão claros os motivos que levaram Antonia Maria a aportar e fixar residência
ilha de Santo Antonio. Segundo seu depoimento logo que chegou houve uma
publicação, na Gazeta, em que afirmaram que ela havia sido degredada por
feitiçarias e por conta deste fato as pessoas passaram a procura- la para que ela lhes
fizesse alguma reza ou adivinhação do futuro. Negando- se, ela foi pressionada para
que atendesse aos pedidos, o que fez, já que era só numa terra desconhecida.
89
Dentre as pessoas que denunciaram Antonia Maria em Pernambuco em 1718,
encontram- se:
Pe. Francisco Xavier de Viveiros, 32 anos de idade, mais ou menos, morador na Vila
procurou para que adivinhasse o futuro para ele. Seu pedido consistia em descobrir
um alquidar com água colocou quatro vinténs, uma folha de papel dobrada e
peneira suspendendo, no ar, de uma parte com o dedo por baixo do arco e ele, o
padre, de outra parte também com o dedo por baixo do outro arco. E ela mandou que
por São Pedro e por São Paulo e pela porta de Santiago em como
Francisco Xavier não há de ser clérigo.
por São Pedro e por São Paulo e pela porta de Santiago em como
Francisco Xavier há de ser clérigo
90
a peneira se mexeu por várias vezes como resposta positiva de que ele iria ser
ordenado padre antes do Bispo viajar para o Reino.
João Pimentel, 40 anos de idade, mais ou menos, casado com Bárbara de Melo,
cristão velho, tendo como profissão a de pedreiro, também foi vizinho de Antonia
Maria. A denunciou por ela ter feito um sortilégio contra sua mulher. Segundo seu
depoimento, ele e Antonia haviam tido uma “amizade ilícita” e a esposa havia
descoberto e ele terminara o romance. Antonia Maria não satisfeita com o fim da
relação fez com que ele, sua esposa e uma escrava doméstica caíssem doentes. Em
seu depoimento ele narra o exorcismo feito por dois padres de onde ele e sua esposa
“por via do curso natural” expeliram vários objetos, dentre eles dentes de gente,
peixe, pedaços de pedra, cabelos de gente e areia da praia, entre outras coisas.
Bárbara de Melo, 50 anos de idade, mais ou menos, casada com João Pimentel, faz
pão. Em seu depoimento ela narra os mesmos acontecimentos que seu marido e
acrescenta que Joana de Andrade, amiga de Antonia Maria, foi quem confirmou
para ela que a ré havia feitos os feitiços por conta da proibição que deu a seu marido
de freqüentar a casa dela. E que Antonia havia se aperfeiçoado nas artes mágicas
com uma mulher parda de nome Páscoa Maria que era conhecida como feiticeira.
91
Isabel da Silva, 60 anos de idade, mais ou menos, viúva de Antonio Bayão, cristã
velha, mãe do Pe. Francisco Xavier e presenciou toda a cerimônia feita por Antonia
que a casa de Antonia Maria era muito visitada tanto de dia quanto de noite.
Ignácia Maria, 35 anos, mais ou menos, solteira, cristã velha, irmã do Pe. Francisco
Xavier. Além do deposto pelo irmão e pela mãe, ela acrescenta que na casa de
casado com Maria Crisostoma, tendo como profissão a de pedreiro. Ele narra que
estando doente de soluços procurou Antonia Maria para que ela lhe fizesse algo que
o curasse. Ela fez o seguinte sortilégio: apanhou cinco ramos de ervas e pediu que
ele tirasse o pé esquerdo da chinela e o pusesse sobre a terra e lhe trouxesse o meio
do rastro. Em uma panela nova de barro colocou 2 vinténs de água ardente da terra e
92
Depois pegou os ramos e os colocou na panela dizendo a cada ramo que jogava
satanás, barrabás, califas, diabo coxo e sua mulher. Após ferver tudo mandou que
uma mulher chamada Basília Pessoa, que havia feito um trabalho de feitiçaria para
ele.
Contudo, os soluços pioraram e ele descobriu que esse sortilégio feito por Antonia
para o curar o fez piorar. Assim, ele procurou Domingos João, negro curador, que
lhe deu um pó para inspirar pelo nariz e pela boca e uma raiz para enterrar. Depois
ele voltou a casa do negro com sua esposa e este lhe deu uma bebida feita com ervas
pisadas e assim que ele bebeu vomitou um bicho que se parecia com um cavalo e
este estava seco da metade para baixo. O negro informou que quando o bicho
secasse totalmente ele morreria. Nesse momento entrou uma galinha que pegou o
bicho pelo bico e saiu voando. Segundo Domingos João ela era a dona do bicho.
Joseph Pereira, 33 para 34 anos, cristão velho, vive de sua agência, viúvo de Joana
de Andrade. Ele denuncia que se casou com a degredada por acreditar que ela havia
se redimido das culpas que havia sido condenada em Portugal e por se sentir
obrigado a celebrar matrimônio com ela. E que após se casar continuou a freqüentar
a casa de sua mãe e irmã e por muitas vezes sua irmã lhe tirou do casaco alfinetes.
Também narra que depois de casado ia a sua casa e de sua esposa muitas mulheres
dentre elas Isabel de Avelar, que havia sido também degredada pelo Santo Ofício e
93
D. Garcia, que queria que o marido voltasse a ter com ela vida conjugal. Após a
alfinetes no travesseiro dele. Também narra que perto da morte de Joana, Antonia
Maria a veio visitar e lhe disse que queria vê- la morta por ela ter tirado o seu ganho
e que era sabido que esta Antonia era feiticeira e que fazia malefícios às pessoas.
Maria Crisostoma , 23 para 24 anos, casada com Domingos de Almeida. Declara que
foi ela quem procurou Antonia Maria para que curasse seu marido. Todavia, por ele
não ter melhorado uma amiga chamada Francisca, casada com Joseph Pereira, a
indicou o negro Domingos João. Seu relato sobre os procedimentos deste curador se
Estes depoimentos foram encaminhados para Lisboa e a prisão de Antonia Maria foi
autorizada pelo Tribunal do Santo Ofício. Ela foi presa em Alagoas, para onde havia
Em Lisboa Antonia Maria iniciou sua confissão no dia 06 de março de 1720. Foi
feitiçaria que ela havia praticado. Declarou que Joana a obrigou com ameaças a
realizar os sortilégios e sem poder se negar ela os fez. Os inquisidores não aceitaram
sua confissão e a encaminharam para sua cela. Esse procedimento se repetiu por
inúmeros meses, durante esses meses ela confessou que inúmeras pessoas a
94
procuraram para que ela realizasse adivinhações e rezas para as mais variadas
perguntas que deveriam ser feitas às testemunhas que depuseram contra Antonia
Maria e também a novas testemunhas que, segundo Antonia, sabiam que ela possuía
João da Mota, 55 anos, mais ou menos, sarge nto mor, casado com Brites de
Almeida. Declara que Bárbara de Melo já estava doente quando Antonia Maria
chegou ao Recife e que ela e seu marido, João Pimentel, eram inimigos de Antonia
Recife, casado com Maria Frajoia. Declara que Antonia Maria e Bárbara de Melo
eram inimigas e que ouvira várias vezes Bárbara tratar Antonia por feiticeira e
Maria Frajoia, 50 anos, mais ou menos, casada com Luis de Siqueira. Declara que
Bárbara e Antonia eram inimigas e que Bárbara fazia ofensas públicas contra
95
Antonia e que a causa dessa inimizade era que Bárbara desconfiara que seu marido,
Pacheco. Declara que havia ódio entre Bárbara de Melo e Antonia Maria e que este
Brites de Almeida, 57 anos, mais ou menos, esposa de João da Mota. Declara que
foi Bárbara de Melo quem denunciou Antonia Maria ao comissário do Santo Ofício,
frei Bartolomeu do Pilar, bispo do Grão Pará. E que Bárbara de Melo sempre disse
que havia de se vingar de Antonia Maria por ela ter lhe dado feitiços.
que não tem conhecimento de nada pois vivia viajando em cumprimento do seu
trabalho.
Nossa Senhora da Penha, superior e prefeito das missões dos capuchinhos. Declara
que só tem conhecimento que Bárbara de Melo se queixava de Antonia Maria ter
96
Pe. Miguel Ângelo, religioso capuchinho que realizou o exorcismo de Bárbara de
Melo e seu marido João Pimentel e a persuadiu a denunciar ao Santo Ofício Antonia
Maria.
Francisco Rodrigues Chaves, 29 para 30 anos, mais ou menos, capitão, casado com
Antonia Maria para que ela realizasse uma adivinhação para ele saber quem lhe
por ele ser português e não queria engana- lo e caso ele fosse brasileiro o enganaria,
Com relação aos antigos depoentes, todos foram ouvidos e nada de novo
acrescentaram aos seus depoimentos a não ser o fato de declararem não conhecer
confessores e pelo frei Bartolomeu do Pilar, bispo do Grão Pará e inquisidor que
ouvidor da província e pediu a ele para que a encaminhasse para a ilha do Príncipe,
para onde a princípio ela havia sido degredada segundo Bárbara de Melo, mais que
97
Quando esses depoimentos chegam a Lisboa de nada serviram, pois os inquisidores
responsáveis optaram por torturar Ant onia Maria para que ela confessasse suas
culpas. Dessa forma ela foi levada, no dia 26 de agosto de 1723, para a casa
deputada para que se realizasse o tormento que se deu da seguinte forma: chamaram
tormento. Ela foi despida para ser torturada no potro. Nesse momento ela foi
responsabilidade seria dela, por não ter confessado, e não dos senhores inquisidores.
Após algum tempo de sofrimento e por clamar várias vezes pela Virgem se encerrou
Antonia Maria e declarou que ela iria ao auto público e que teria cárcere e hábito
perpétuo sem remissão e que seria degredada por 5 anos para a cidade de Miranda,
inquisidor João Álvares Soares e João Paes do Amaral. O auto público se celebrou
98
3.2 – Análise do processo de Antonia Maria
seu conselho e a mesa. El Rei, e os senhores infantes Dom Francisco, Dom Antonio,
Antonio Maria 4 Abjurou 5 publicamente seus erros e ouviu sua sentença. Além de ser
excomungada, teve os seus bens confiscados para o fisco e câmara real, todavia por
ter tido confessado seus crimes, ela recebeu ao grêmio e união da santa madre
igreja (...) e em pena e penitencia deles [os crimes] lhe [assinaram] cárcere e hábito
2
Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa (a partir deste momento ANTT) maço 120, processo 1377,
microfilme 14067, p. 96. 1713
3
ANTT, maço 120, processo. 1377, microfilme 14067, p. 96v. 1713.
4
Antonia Maria, que tem ¼ de cristã nova por veia paterna, casada com Vasco Janeiro[...] natural e moradora
na cidade de Beja (bispado de Évora-Portugal), de 30 anos de idade. Que seus pais se chamam Bartolomeu de
Moraes e Luiza de Carvalho já defuntos, naturais e moradores da cidade de Beja. Que ela tem uma irmã
chamada Leomar Mendes, casada com Manoel ___ natural e moradora de Beja. (...) somente tem um filho
chamado Estevão de menor de idade. Que ela e cristã batizada e foi na Igreja do Salvador da mesma cidade
pelo cura Pedro Cordeiro, não sabe quem foi seu padrinho. ANTT, p. 46v-47. 1713
5
Abjuração em anexos.
99
[degradaram] por toda a vida da cidade de Beja, e por tempo de 3 anos para o reino
de Angola. 6
sentenciado seria privado do convívio social com a família e amigos, e dos negócios
degredo variava de acordo com o crime cometido. Havia uma listagem desses
QUALIDADE CRIME
ofender um juiz.
sodomia
6
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067, p. 96. 1713
7
COATES, Timothy J. Degredados e Órfãos: colonização dirigida pela coroa no império por tuguês:
1550-1755. Lisboa, 1998, p. 43.
100
Segundo Coates, esses quatro crimes imperdoáveis eram assim chamados por porem
Apostólica Romana não poderia permitir, quanto uma traição ao Rei, que deveria ser
As punições para esses crimes eram o degredo, sendo que este variava de acordo
com o local - que a sentença seria cumprida - e também dos interesses do tribunal
que o condenou; havia diferentes tipos de exílios: para toda a vida, durante o
período de tempo que ao Rei aprouver, para as galés, ou para um local específico
No caso específico de Antonia Maria ela foi degredada 10 por toda vida da sua cidade
natal, Beja, e por três anos para Angola, depois de passado esse período poderia
8
COATES. Op. Cit. p. 60.
9
SOUZA, Joaquim José Caetano Pereira e. Primeiras Linhas sobre o Processo Criminal in COATES, p.56.
10
Havia todo um procedimento após a condenação ao degredo. Teoricamente o degredado não poderia passar
mais de 3 meses encarcerado depois da sua sentença. Todos os sentenciados eram encaminhados para a cadeia
de Limoeiro, em Lisboa, de onde eram encaminhados para os navios; estes eram de particulares que tinham a
obrigação de leva-los ao seu local de degredo. Os capitães desses navios eram os encarregados de os conduzir
e de encaminha-los as autoridades competentes da cidade escolhida. Sobre os procedimentos legais de
condução de degredados veja-se Timothy J. Coates, Degredados e Órfãs: colonização dirigida pela coroa no
império português: 1550-1755.
101
voltar para Portugal, desde que se fixasse em outra localidade que não fosse Beja.
Uma das questões que nos chamou a atenção durante a leitura e transcrição dos dois
processos desta ré foi que apesar de ter sido degredada para Angola ela aportou no
Antonio. O que poderia ter acontecido para que o Tribunal mudasse o lugar do
Coates nos sugere algumas evidências de tais acontecimentos. Ele nos informa que
em 1662 alguns condenados exilados para Angola e São Tomé foram enviados para
o Brasil por não haver navios no porto prontos para a partida para essas duas
localidades. Por conta dessa espera, estavam a gastar um ror de dinheiro para
[alimentar e vestir] estes prisioneiros [e que os] navios para o Brasil [estavam] de
Sendo assim, a Coroa concordou em enviar para o Brasil esse grupo de degredados
de onde partiriam para cumprir seu exílio nas terras para onde foram sentenciados.
Todavia não se sabe se realmente esse grupo transportado para o Brasil foi depois
11
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 130. 1723.
12
BA, 51-VI-11, f. 125 (número 226), Regimento da Caza da Supplicação, 12 de setembro de 1662 in
COATES, Timothy J. p. 142.
102
Diante dessa possibilidade do Brasil servir de posto de paragem para degredados,
acredita-se que provavelmente o mesmo poderia ter acontecido com Antonia Maria,
apesar de não haver nenhum vestígio dessa ocorrência nos seus dois processos, e
dela não ter seguido para Angola, como havia sido determinado pelo Tribunal na sua
Outro motivo que levaria Antonia a ser degredada no Brasil está nas Leis
na Ilha do Príncipe deveriam ser enviados para o Brasil. 13 O mesmo servia para os
condenados para São Tomé. 14 Essas leis nos fazem perceber que além das
lugar para outro através de leis, o Brasil estava em pleno processo de colonização,
ou seja, havia uma grande necessidade de se enviar pessoas para habitarem nas
terras americanas de Portugal, o mesmo poderia ter acontecido com Antonia Maria.
Com relação à não constar nenhuma referência no seu primeiro processo sobre a sua
vinda para o Brasil, entende- se que isso tenha ocorrido por conta do tribunal já não
entregues a justiça para que fossem encaminhados para o cumprimento das suas
13
Quarta parte dos delictos, e do accessorio a elles, título XVII de leis penaes sobre diversas cousas, Lei VIII
que se não degrade para a Ilha do Príncipe in Leis Extravagantes e Repertório das Ordenações de Duarte
Nunes do Lião, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987. p. 176.
14
Idem, Lei IX que o degredo para São Tomé se mude para o Brasil.
103
condenações, sendo assim a Inquisição não saberia se por questões práticas e/ou
exílio. No início dele, quando ela é presa e entregue à justiça, em 1720, consta que
Antonia Maria re conciliada que foi por esta inquisição no auto público da fé que se
Todavia nenhum documento foi encontrado que possa nos esclarecer essa mudança
da localidade do exílio. Acredita- se que ela possa ter aportado aqui e que não tenha
seguido para Angola fixando- se nessas terras com o conhecimento e autorização das
autoridades competentes. 16
Não se sabe ao certo em que ano Antonia Maria chegou a Pernambuco, mas é
possível sugerir uma data aproximada. O auto de fé em que ela foi condenada e
15
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067, p.108. 1723.
16
Entendemos por autoridades competentes os encarregados de receber os degredados: juizes da localidade de
exílio, a Câmara da cidade, etc. As localidades estipulavam quem seria a pessoa ou qual seria o órgão
encarregado de os receber e fiscalizar. Sobre esse assunto ver Timothy J. Coates. Capítulo II (A base legal do
exílio como pena).
104
abjurou suas culpas celebrou-se em 09 de junho de 1713. No dia 10 de julho de 1713
passara nesse período em que estivera presa, e no dia 17 do mesmo mês e ano ela
não havia navios para Angola e que ela não poderia permanecer mais que três meses
encarcerada depois da leitura da sentença, e que ela teve que vir para Pernambuco e
essa viagem levava mais de um mês, ela aportou em Recife no final do ano de 1713.
Outro dado que nos faz acreditar nessa hipótese está no depoimento das primeiras
oito denunciantes afirmam que tudo aconteceu de tres para quatro anos, pouco mais
praticadas por Antonia Maria se deram três para quatro anos antes do depoimento,
dito no segundo capítulo deste trabalho, Pernambuco era uma rica capitania e com
prósperos negócios. Acredita- se que Antonia Maria tenha sabido, ou percebido, esse
17
Antonia Maria não assinou esses documentos por não saber escrever. Eles foram lidos e ouvidos por ela e
assinados pelo escrivão com o consentimento da ré.
18
Termo de Segredo em anexos
19
Termo de ida e penitência em anexos.
20
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067, p. 120. 1723.
105
desenvolvimento, e durante o período em que ficou aportada em Recife esperando
seu navio para Angola, optou por permanecer degredada numa terra rica e com
para Angola, terra mais distante de Portugal que Pernambuco e nem tão rica quanto
o Brasil. Nesse período Angola representava um dos lugares mais indesejáveis para
Recife acabara de ser elevada à categoria de Vila e passara pela Guerra dos
Essa guerra representou, segundo Evaldo Cabral de Mello, uma confrontação entre
uma Olinda decadente que procura mantê-lo numa sujeição irrealista. 22 Esse grupo
21
COATES. Op. Cit. p.182.
22
MELLO, Evaldo Cabral de. A Fronda dos Mazombos nobres contra mascates: Pernambuco 1666-
1715. São Paulo, Companhia das Letras, 1995. p123.
23
MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro Veio: o imaginário da restauração pernambucana. Rio de Janeiro,
Topbooks, 1997.p. 118.
24
MELLO.Idem.
106
dois grupos pertencentes a “elite” da sociedade pernambucana no início do século
brasileira.
nos dias 21, 28 e 29 de julho contra Antonia Maria, informando a mesa do Santo
Ofício que ela re tinha reincidido nas mesmas culpas fazendo sortilégios, malef ícios
para a delata ser presa nos cárceres do santo oficio e que com efeito o 26 fosse. No
dia 23 de janeiro de 1720 é entregue pelo meirinho (...) João Botelho de Andrade ao
Pernambuco. 27
A partir desse momento Antonia Maria foi mais uma vez encarcerada e submetida a
como
25
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 249. 1723.
26
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 109. 1723.
27
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 107. 1723.
107
pena e penitencia de suas culpas [...] cárcere e hábito penitencial
Na condenação deste segundo processo, percebe- se que Antonia foi instruída a pagar
as custas do processo. Isso indica que possuía meios para tal, já que na condenação
do primeiro processo não é relatado esse fato; percebe-se também a posse de algum
bem quando de sua prisão e translado para Portugal, no auto de entrega o escrivão
afirma que Antonia Maria vem de Pernambuco na não caridade, 29 ou seja, sem
precisar que custeie a sua ida para a metrópole. Outro dado importante é que ela foi
nordeste de Portugal, divisa com a Espanha, pelo tempo de cinco anos, diferente da
primeira condenação que foi por tempo de três anos para fora de Portugal.
Esse fato nos leva a perceber que além do degredo externo, ou seja, para as colônias
seja, algumas regiões de Portugal pouco povoadas como Castro Marim, ao sul e
uma tabela onde se estabelecia que um ano de degredo no Brasil representava dois
28
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 254. 1723.
108
anos na África, dois anos no Brasil significava um ano nas galés. Toda a vida no
Brasil era o mesmo de 10 anos nas galés. O degredo passou a representar uma
colônias. Encontravam-se vazios [os] cofres do Tesouro (...) [e] os meios (...)
conseguidos (...) [são o] confisco dos bens dos condenados pela Inquisição. 30
para que o fisco pudesse se apoderar, porque então eram eles perseguidos e
29
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 107. 1723.
30
NOVINSKY. Anita Waingort. A Inquisição. São Paulo, Editora Brasiliense, 1982. p. 30.
109
social humilde, sem qualquer formação literária, 31 situação semelhante se observa
João, era forro e não tinha emprego, o mesmo Páscoa Maria que era parda 32 . No
tornaram processos, dentre eles o de uma negra escrava de nome Tereza, moradora
Portanto, com qual objetivo seriam esses curandeiros e mágicos presos por meses e
até anos, condenados ao degredo ou executados, sabendo-se que todo o ritual desde
a prisão até a condenação era custoso para a Inquisição e que não haveria confisco
degredo. Apesar de no segundo ela ser obrigada a pagar as custas, não teve bens
confiscados o que sugere que ela estava de posse de algum bem adquirido em
Pernambuco. Ou seja, o bem que possuía só dava a garantia das custas do processo.
31
PAIVA, José Pedro. Bruxaria e supertição num pais sem “caça as bruxas”: 1600-1774 . Lisboa, Notícias
Editorial, 1997. p. 163.
32
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p 108v. 1723.
33
ANTT, livro 279, caderno 86. p. 238. 238v.
34
ANTT, livro 277, caderno 84. p. 149.
35
ANTT, livro 262, caderno 68. p. 210, 210 v, 211.
110
Já em seu primeiro processo ela teve seus bens confiscados, contudo acredita- se que
não tenha sido algo de muito valor, uma vez que confessa que fazia os sortilégio
pelo interesse de lhe darem alguma coisa 36 [e] por ser mui pobre. 37
chamada Maria de Deus; 38 em seu depoimento afirma que a ré era cristã nova pouco
temente a Deus e mulher que [fazia] tudo por arte do diabo só por comer.39 Já no
segundo processo a ré declara que fazia os sortilégios por razão da notícia que
houve naquelas partes de ela ter saído nesta inquisição, 40 ou seja, por ser procurada
pelos moradores que sabiam que ela havia sido degredada por prática de feitiçarias.
Diante de toda essa realidade financeira que não justificava a perseguição às bruxas,
deu por questões econômicas, questionou- se qual o sentido deste fato, uma vez que
não possuíam bens de valor que pudessem servir de garantias para o fisco. Segundo
e o Estado português sobreviveu, de acordo com seus estudos o degredo como pena
36
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 54v. 1713.
37
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 56. 1713.
38
Moça solteira, órfã de pai e mãe, natural e moradora na cidade de Beja em casa de sua irmã, de idade de 38
anos, mais ou menos. ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 23v. 1713.
39
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 24. 1713.
40
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 142. 1723.
41
PAIVA. Op. Cit.
42
COATES. Op Cit.
111
Um país como este, que possuía poucos habitantes e um pequeno território, não
econômicas para o Estado não é de todo completa. Pode-se dizer, portanto, que com
Essa teoria se torna mais forte quando se percebe que a introdução das heresias da
43
Assunto já debatido no primeiro capítulo deste trabalho.
44
NOVINSKY, Anita.O tribunal da Inquisição em Portugal , São Paulo, Revista da Universidade de São
Paulo, 1987. p. 92.
112
para povoarem, habitarem e se fixarem nas terras conquistadas, repassando assim os
terras.
declarou Antonia, logo se publicou o crime por que fora o dito degredo e
começaram a concorrer as casas dela re muitas pessoas, umas que lhes aplicasse
algum remédio aos ataques que padeciam outras que lhes adivinhassem algumas
coisas futuras46 e que por conta dessa publicação ela foi induzida a iniciar os
trabalhos porque fora degredada, pois essas pessoas passaram a ter má vontade a ela
re argüindo-lhe de que ela lhes não queria fazer as merinhas só porque eles
padecessem os males nem lhes queria dizer o que lhe perguntavam só por lhes não
fazer este bem. 47 Em seu depoimento ela queixa- se que era uma mulher estrangeira
que foi para a dita cidade sem ter nela parentes alguns que lhe acudissem e
45
Antonia Maria e Joana de Andrade brigaram por questões pouco esclarecidas no processo. Joana se casou
com Joseph Pereira, cristão velho natural da vila, ela morreu de enfermidade não esclarecida; os denunciantes
de Antonia Maria declararam que ela morrera por feitiços feitos por Antonia Maria.
46
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p.208v. 1723.
47
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067, p. 208v- 209. 1723.
48
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067, p. 208v. 1723.
113
Percebe-se ainda que em nenhum momento ela se reporta a algum páro co ou amigo
que tenha lhe assistido ou dado apoio, abrigo, emprego, amizade ou conforto
espiritual, como lhe era cabido pela sua condenação em Portugal que afirmava que
ela seria instruída nas causas da fé necessárias para salvação de sua alma e
momento algum se percebe no processo que ela tenha tido aulas de catecismo ou um
orientação dos seus padres confessores. 51 Nenhum deles ad mite estar denunciando
por questões particulares ou por ódio e mau vontade, 52 mas sim por serem obrigados
pelos confessores.
denunciassem Antonia Maria não foi por orientação dos confessores, mas sim por
medo que Antonia Maria as denunciasse ao Santo Ofício, pois a delata (...)
49
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 96v. 1713.
50
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 119v, 121, 121v, 127v, 193v, 195, 195v, 196v, 197.
1723.
51
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 117v; 192v; 194; 195v; 197. 1723.
52
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 113v. 1723.
114
ameaçava (...) com a Santa Inquisição. 53 Outro motivo que as fizeram denunciá- la
foi o receio que ela fizesse algum sortilégio contra elas. Caetana de Jesus 54 em seu
depoimento assume que Antonia Maria as ameaçou que já que ele [Antonio da
Silva] não pagava (...) elas lhe pagariam pois tinha arte para tudo.55
admitem que seus confessores as orientaram para que denunciasse ao Santo Ofício o
denunciá- la. João Pimentel56 afirma que na ocasião em que veio del atar da
sobredita Antonia Maria a fizer pelos confessores assim o mandarem.57 Assim como
Bárbara de Melo 58 que só denunciara Antonia Maria por ser obrigada de seus
que declara ter denunciado Antonia Maria por assim o obrigar o dito comissário D.
53
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 26v. 1713.
54
Moça donzela, órfã, 33 anos, moradora na cidade de Beja, depoimento em 22 de agosto de 1712.
55
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 26v. 1713.
56
Cristão velho, casado natural da Ilha de São Miguel e morador na Vila do Arrecife, de idade entre 40 e 43
anos. Depoimento dado em 21 de julho de 1718.
57
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 117v. 1723.
58
Casada com João Pimentel, natural da Ilha de São Miguel e moradora na vila do Recife, de idade de 50
anos. Depoimento dado em 28 de julho de 1718.
59
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 194. 1723.
60
Casada com Domingos Lobato de Almeida, de idade entre 23 e 24 anos. Depoimento dado em 01 de agosto
de 1718.
61
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 197. 1723.
115
Dessa forma percebe- se a presença dos religiosos das mais variadas ordens no
século XVIII, mas não se observa esse mesmo acompanhamento com Antonia
Maria, degredada.
familiares62 que em geral eram leigos que, sem abdicar das suas actividades
Lisboa, para de lá, caso necessário, se instituir uma diligência, ou seja, tomar o
62
Já nos referimos a essa categoria de funcionários do Santo Ofício no capítulo 1.
63
SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Dicionário da História da Colonização Portuguesa no Brasil, Verbo,
Lisboa/São Paulo, 1994. p. 332.
116
Dessa forma se deu com Antonia Maria. Ela foi denunciada a Câmara da Vila do
Recife e sua denúncia foi encaminhada pela Câmara para o Tribunal em Lisboa e de
se autorizou à prisão de Antonia Maria e o início do seu processo que culminou com
Não podemos deixar de mencionar que Bárbara de Melo tentou denunciar Antonia
Maria ao ouvidor de Pernambuco e que este não aceitou suas acusações. Seu
confessor a aconselhou que [ela] fosse ter com o ouvidor para que a fizesse [Antonia
Maria] ir cumprir o seu degredo para onde ela tinha saído o que ela testemunha
ainda que sem efeito pediu (...) ao ouvidor que a fizesse cumprir o seu degredo.65
Algumas questões nos surgem com este fato. Porque o ouvidor se recusou a aceitar a
primeiro: prática de feitiçaria na província era uma constante e por esse fato o
ouvidor não deu importância às acusações de Bárbara de Melo; segundo: ele não se
sentiu responsável por receber denúncias desta natureza, sabido que o órgão
com o marido de Bárbara já ter se tornado algo público, e portanto, o ouvidor não
64
Já relacionadas no início desde capítulo.
65
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 194. 1723.
117
levar em consideração as acusações contra Antonia Maria de práticas de feitiçarias,
escravos que assolavam o Estado por obra dos feiticeiros. O Príncipe respondeu em
de Mendonça 66 para que realizasse uma diligência pelo recôncavo desta cidade para
que se averigúem estes damnos tirando se para isso devassa e avendo culpados
encaminhamentos habituais.
eles estão os casos, já citados, das negras escravas Teresa e Lourença, e da parda
66
Afonso Furtado de Castro do Rio de Mendonça, também conhecido como o Visconde de Barbacena,
governou de 1671 a 1675. Colonial Governors from the fifteenth century to the present. The University of
Wisconsin Press Madison, Milwaukee and London, 1970.
67
AHU, códice 276, folha 74 in DPH da UFPE.
118
Maria de Araújo, além da parda Páscoa Maria e do negro forro Domingos João,
Esse fato nos faz perceber que boa parte dos condenados por práticas mágicas em
Pernambuco era branca, diferente dos negros e pardos citados nesse período. Parece-
nos que a feitiçaria era “permitida” aos negros e pardos e não aos brancos. Em
processo, diferente do caso de Antonia Maria, que aqui também foi denunciada e
processada, ao contrário de Páscoa Maria e Domingos João, entre outros, que por
transformadas em processo.
Outro dado que nos aguçou a curiosidade quando da análise destes processos,
que a procuraram para que ela realizasse algum tipo de reza, adivinhação ou
simpatia recebeu punição por parte do Santo Ofício; ao contrário, eles foram tidos
artes mágica, 69 contudo apenas Antonia Maria recebeu as penalidades cabidas nesses
68
Já citada e discutida no capítulo 2.
69
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. p. 313, 314, 315, título IV, livro 5, cânone 894 a 898.
119
crimes, ao contrário dos que se consultaram com ela. Ou seja, as regras e leis
com Antonia Maria, sua presença já não mais era de serventia para Pernambuco,
pois ela estava criando casos com moradores cristãos e seguidores da Igreja.
É relevante considerarmos que houve mistura dos ritos mágicos entre Antonia Maria
e Páscoa Maria. Em seu processo há denúncias de que ela teria se aperfeiçoado nas
artes mágicas com uma mulher parda de nome Páscoa Maria, também chamada de
Pascoazinha. Antonia Maria teria aprendido outras rezas e simpatias com o convívio
notória.
século XVIII nos faz reconstruir uma sociedade recifense com características
próprias e bem distintas. Nas terras duartinas havia uma grande permissividade com
os ritos não católicos. Isso se observa quando João Pimentel, Bárbara de Melo,
70
ANTT, maço 120, processo 1377, microfilme 14067. p. 119v. 1723.
120
Maria Crisostoma e Domingos de Almeida Lobato procuram um curandeiro para
fizeram mais efeito que o exorcismo do padre, feito em João Pimentel e sua esposa
Bárbara de Melo, além deles os inúmeros habitantes que procuraram Antonia para
Recife era uma terra de paragem para outras localidades, além de moradia para
Francisco Rodrigues Chaves e sua esposa Maria Rodriguez de Aguiar, também eram
Após a leitura, transcrição e análise dos processos de Antonia Maria, além dos
121
que necessitavam desses “mágicos” eram freqüentadores das missas e dos rituais
fascinava era o espírito mágico e ritualístico que envolvia essas rezas, além do
careciam de cura, sem se consultar com um médico letrado, o que nos faz crer que
futuros, de seus negócios e de sua saúde. A eles era guardado todo o respeito, desde
risco os que se consultavam, todo o respeito a eles era substituído e passavam a ser
cristãos.
122
Considerações Finais
123
instituição da Inquisição mas que não eram observadas como perigosas
r e s p e i t o a o c u m p r i m e n t o d a s l e i s q ue os regiam.
124
Finalizamos nosso trabalho descrevendo as “práticas mágicas” e os
negros e índios (e não aos brancos) sabido que a eles não incorria
125
solteiras e esposas querendo amansar seus maridos, até clérigos
necessário para uma mulher que habitava uma vila como Santo Antônio
estava de gredada.
126
Documentos primários consultados
Histórica(DPH)
127
Bibliografia
1983.
Universitária/UFPB, 1996
Itália – Séculos XV- XIX, São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
128
CAVALCANTI, Carlos André Macedo. A Reconstrução da Intolerância: o
Edição.
por Maria Beatriz Nizza da Silva. Verbo, Lisboa / São Paulo, 1994.
129
Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Direção de Ronaldo Vainfas.
1976.
edição, 1989.
1986.
1998
130
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidia no e as idéias de um
Letras, 1987.
Letras, 1991.
Tomo II/1, Primeira Época, coordenado por Edua rdo Hoornaert, 4ª edição.
Tomo II/2, Segunda Época – século XIX, coordenada por José Oscar
131
Martelo das Feiticeiras. 10ª Edição, Rio de Janeiro, 1993, Editora
1987.
1996
1995.
132
Janeiro, Topbooks, 1997, 2ª Edição.
Massangana, 199 0 .
1984.
Fronteira, 1992.
Paulo, 1982.
133
-------- , O Tribunal da Inquisição em Portugal in Revista da
PAIVA, José Pedro. Bruxaria e Superstição num país sem “Caça às bruxas”:
1992.
das Letras.
134
Execução da
Cena de
tortura da fogueira
polé
Vista interna
Vista externa do cárcere
do cárcere
140
Desenho de Goya: cena do garrote, uma das formas de execução dos
condenados da Inquisição, usada para aqueles que “queriam morrer
como cristãos” antes de serem queimados.
141
Execução dos condenados pelo tribunal da Inquisição de Lisboa.
Percebe -se a quantidade de pessoas assistindo a execução dos
condenados a morte.
142
Anexos
Este texto está impresso no processo de Antonia Maria, as partes
Abjuração em forma
136
conforme o direito, e se em alg um tempo constar o contrário do
escrevi.
Fabiam Bernardes
137
Este texto está impresso no processo de Antonia Maria, as par tes
Termo de Segredo
pôs a mão sob-cargo dele lhe foi mandado que tenha muito
se descubra, nem por outra qualquer via que seja sob pena de
138
Este texto foi escrito de próprio punho do escrivão. As partes não
E sendo presente lhe foi dito que ela não torne a cometer as
culpas por que foi presa e processada neste Sa nto oficio nem
mais que se contém em uma carta que lhe será dada o que
139
Mapa de Portugal
Miranda
Lisboa
Évora
Beja
Castro
Marim
140
Todas as imagens que se seguem foram retiradas do livro História das
Inquisições: Portugal, Espanha e Itália. Séculos XV - XIX. Do autor Francisco
Bethencourt .
141
Cenas de Tortura: a
primeira se refere a do
Potro ao qual Antonia
Maria foi submetida.
142
Representação de um auto de fé. No primeiro plano vê -s e o s
condenados em cima de mulas, sendo conduzidos pelas autoridades
civis e acompanhados por religiosos para o local de execução. Em
cima do palco, a cena central corresponde ao rito de degradação de
um clérigo pelo bispo da respectiva diocese. À esquerda, a escadaria
dos funcionários do tribunal e dos convidados, diante da qual, em
cima de um púlpito, um clérigo lê a sentença de um condenado, que
está sentado com uma vela na mão. Os sentenciados estão do lado
direito do palco, enquanto ao fundo se vê um altar com a cruz,
rodeado de dois baldaquinos, sob os quais se encontram os
inquisidores e a família real.
144
Hábitos penitenciais dos sentenciados chamados de “sambenitos”.
Eram feitos de linho cru pitado de amarelo. No caso dos reconciliados
era pintada uma cruz de Santo André (gravura do meio); no caso dos
condenados que tinham se salvado nos últimos dias com uma
confissão, eram pintadas chamas viradas para baixo (gravura da
esquerda); no caso dos relaxados, tinham o retrato pintado entre
chamas e grifos, com o nome e as “culpas” inscritas embaixo (gravura
da direita). Os reconciliados eram obrigado s a usar o sambenito
durante um certo período.
145
Livros Grátis
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