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Oficina Online da Narrativa Curta - Fábio Fernandes

Segundo Exercício

Explicação: fiz um outline porque não o fiz no exercício anterior

Outline: Uma história de investigação e exame sobre a realidade. Depois de oito anos
de serviço, detetive é afastado da Polícia por apresentar os seguintes distúrbios:
paranoia e mania de perseguição. O vício por cigarro também o cobra socialmente e,
como medida de ressocialização, a personagem fica internado em uma clínica durante
dez meses. Do lado de fora, o pai dele pretende casar o filho e, para isso, conversa com
um amigo industrial para que ocorra um casamento entre os filhos deles. O pai projeta
que, com o casamento e o consenso dos médicos, o filho pode reassumir o cargo na
corporação policial. O amigo industrial não pretende casar a única filha com um
homem visto como insano, mas recebe uma oferta de dote pelo enlace. O dote é
estabelecido e tem o consenso da filha do industrial, pois ela é gananciosa e projeta
dinheiro e status ao casal. A mulher começa a se encontrar com o ex-detetive, e
notando traços dos distúrbios dele, toma a iniciativa no relacionamento. Eles se casam
e o marido reestabelece sua função na Polícia. A esposa percebe os sintomas do
marido e começa a medica-lo sem ele ter conhecimento. Logo no primeiro mês de
trabalho, ele recebe um caso importante de assassinato para provar o seu valor e
sanidade. Contudo, a falta de provas e sucessivas falhas levam o detetive à exaustão.
Nesse momento, os distúrbios psíquicos ficam mais intensos e a mulher percebe que
as pílulas parecem não surtir efeito. Pouco a pouco, a paranoia do marido intensifica a
ganância da esposa e ela passa a apresentar delírios de grandeza. A chave é a
investigação ainda não finalizada. Os dois passam a trabalhar juntos no caso de
assassinato e, enquanto investigam mais fundo os envolvidos, mais os sintomas da
paranoia se cercam do casal. O mundo para eles passa a adquirir novo significado e,
com o caso ainda sem solução, eles criam provas para solucionar o assassinato. As
provas forjadas pela loucura convencem a Polícia que o caso está solucionado e tudo
que era visto como desvio psicológico passa a adquirir força e intensidade pela nova
realidade compartilhada. No final, a história tem que levantar, ao leitor, dúvidas sobre
o que é ou não a realidade.

Cena de como ela toma iniciativa no relacionamento entre os dois:

Ele a sentia ansiosa. A prova era o modo como ela se comportou nos
restaurantes que frequentaram até o momento. Nos quatro encontros em que
dividiram a mesa, a acompanhante pedia sempre pratos leves com, no máximo, vinte
minutos de preparação: variações de saladas, mediterrânea, italiana, inglesa, com
peixe ou frango grelhado e molho ao gosto do chef. Nada muito demorado. Ela
também não pedia entradas, por vezes o rápido vinho tinto ou rosé era comum aos
dois.
E tinha as mãos.
As mãos dela desciam constantemente pelo cabelo como um dínamo
movimentando aquela cachoeira castanha clara. Ele então perguntava algo mínimo e a
acompanhante dizia dizia dizia como se, ao falar, a garganta adquirisse uma voz por
sobre a própria voz. Como ela era filha única, ele pensou, havia aquela necessidade de
contar o que não cabia aos pais. Por isso todas aquelas palavras sem fôlego.
E as roupas.
Seda, ele observou, em maioria. Um tecido nobre, liso, e doce como uma
lâmina trabalhada à exaustão pelo ferreiro. Os sapatos não eram menos suaves. A
acompanhante preferia scarpins, ele sabia o nome por conta dos comerciais, aqueles
sapatos brilhantes de ponta fina e salto único; era rica e fatal, é o que os pares diziam.
E as bolsas.
Pequenas. Espaço apenas para o celular e a carteira, também reduzidos.
A acompanhante se esforçava por esconder as coisas com o luxo, mas ele
somou aquela vontade por discrição com a ansiedade de seu corpo e logo deduziu que
ela escondia algo. Um grande segredo, pensou. Uma confissão tão extensa que a única
solução era diminuí-la a tal ponto que pudesse ser esquecida sob o tapete vestido da
própria carne.
Ela escondia um segredo, ele tinha certeza. Quatro encontros para entender
que ela o ocultava algo.
Cumprimentaram-se à distância nesse momento. Ela pôs a bolsa no colo e
rapidamente alisou o cabelo, macio como sempre. Ele decidiu não perguntar, apenas a
observou sorrir, alegre.
Vinte segundos e nada.
Quarenta segundos e nada.
Um incômodo. Ele tomou o copo e bebeu água. Ela olhou ao redor e desfez o
sorriso.
- Aconteceu algo? – ela perguntou, insegura.
- Quero que me conte – ele pôs as mãos, entrelaçadas, sob o linho branco da
mesa.
- O quê?
O garçom viera interrompê-los, mas o homem o repeliu com um simples gesto
no ar.
- O garçom? – ela perguntou, surpresa.
- Depois. Agora, preciso que me conte outra coisa.
- Minha nossa, Sérgio, não pensei que estivesse tão ansioso. Não tem ido à
clínica? – ela alisou o cabelo mais uma vez.
- Não mudemos de assunto. O que você quer me contar?
Breve silêncio entre os dois.
- Que deselegante. Nada, ué. Me disseram que poderia ter recaídas, mas você
estava ótimo até a última vez.
- A sua pupila está dilatada. Você não consegue me encarar sem olhar aos lados
a cada dois segundos. Agora os seus braços estão sobre a bolsa e você está apertando-
a. Esses sinais só tem uma explicação: você quer me contar algo.
- Não deve ser fácil a pessoa trabalhar oito anos como detetive e sair da Polícia
igual a você. Mas veja, certamente é o contrário: você é que quer me contar algo. Por
que saiu da delegacia com apenas oito anos de serviço? – ela fez a pergunta e fechou a
boca com força, séria. As mãos dela ainda apertavam a bolsa no colo.
- Você parece o meu pai, aquele velho – o ex-detetive desdenhou.
- É algum transtorno de perseguição? Ou a sua cabeça não sabe mais distinguir
uma conversa informal em um bom restaurante do que acontece com o resto do
mundo? – agora ela entrelaça os braços sobre a mesa e ele recua, surpreso.
O acompanhante olha aos lados. Dois segundos depois põe o dedo indicador
direito na mesa e começa a fazer círculos no linho fino.
- O Kennedy foi morto porque a CIA não estava de olhos abertos. Dois tiros –
ele faz um “V” com a mão direita. – Imagina a dificuldade para o assassino conseguir
driblar a principal agência de espionagem do mundo e dar apenas um tiro no próprio
presidente. Agora multiplique por dois. Dois tiros – ele volta a fazer círculos.
- Isso não quer dizer nada para mim – as duas mãos voltam ao colo e ela agarra
sua bolsa pequena.
- Porque você não está de olhos abertos. O que significa que seus olhos estão
internos, observando algo dentro de você que não deve sair à luz dos outros. Um
segredo. Não quer me contar? Sou muito bom em ouvir – ele sorri, consciente dos
outros quatro encontros.
- Você está me assustando. Eu realmente pensei que havia mudado. Você
passou a dormir bem, notei porque suas olheiras diminuíram. Largou o cigarro, tanto
que não o sinto há dez metros de distância, como antes. Renovou o guarda-roupas e
provou que os ternos azuis te fazem atraente. Mas agora essa fixação em um segredo.
Ele não a olha diretamente e volta a fazer círculos na mesa, mas, dessa vez,
com a mão esquerda.
- Entendo como um refúgio. Cada pessoa guarda para si um elemento que a
conforta dentro do caótico mundo atual. Do lado de fora a pobreza impera, mas aqui
dentro, veja só, tem um cara atrás de você comendo uma lagosta de duzentos reais. E
o Elon Musk, nesse momento, deve estar dando voltas com o carro voador dele.
Movido à energia solar, é claro. Então os segredos íntimos nos normalizam nessa
bagunça toda. Segredos, eu disse. E se você está realmente interessada em mim, como
os nossos últimos encontros e a insistência do meu pai, apontam, acho que chegamos
ao momento em que, para prosseguir, você deve me falar algo.
Ela olha aos lados. As pessoas comem e conversam, mansos; atrás de si, um
homem genuinamente faminto devora uma grande lagosta com aspargos enquanto as
outras duas pessoas da mesa conversam sobre as taxas dos seguros de vida. Os
garçons deslizam pelo ambiente sem fazer barulho, é como se usassem patins
invisíveis.
- Concordo – ela reconhece.
Ele olhou aos lados e a observou, surpreso.
- Eu sabia.
- Meu segredo é...
Ele a interrompeu com o dedo levantado.
- Não aqui. Muita gente. Muitos celulares. A Skynet. Vamos para minha casa.
Ela sorri e o acompanha.
O motivo da ansiedade caiu por terra quando ela o beijou na casa dele.

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