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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA SUBSEÇÃO

JUDICIÁRIA DE SANTARÉM - ESTADO DO PARÁ

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, oficiando no feito o Procurador


da República infra subscrito, com fulcro nos artigos 127, caput; 129, II e III; 196; 203,
I e IV e 230, todos da Lei Maior e artigo 5º, V, “a”, da Lei Complementar n.º75/93,
tudo em harmonia com as disposições da Lei n.º7.347/85, com redação dada pela
Lei n.º 8.078/90, vem promover

AÇÃO CIVIL PÚBLICA


COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

em face de:

UNIÃO, pessoa jurídica de direito público interno, representada por seu


Procurador – Seccional da União, Dr. José Mauro Lima Ó de Almeida, situado na
Travessa Dom Amando, n.º722, bairro Santa Clara, nesta cidade;

VIAÇÃO AÉREA RIO-GRANDENSE – VARIG, pessoa jurídica de


direito privado, com domicilio na Avenida Rui Barbosa, n.º786, Centro, fone (93) 522-
2138, nesta cidade;

Av. Barão do Rio Branco,252 - Centro - CEP. 68.005-310 -Fone/Fax (93)523-2651- e-mail: prmstm@prpa.mpf.gov.br - Santarém/PA
TAM LINHAS AÉREAS S/A, pessoa jurídica de direito privado, com
domicílio na Avenida Mendonça Furtado, n°913, Centro, fone (93) 523-
9450/9451/9453, nesta cidade, e

MUNICÍPIO DE SANTARÉM, pessoa jurídica de direito público interno,


representada por seu Procurador-Chefe, Dr.Jéferson Brito, com endereço
profissional na Av. Anysio Chaves, 853, Aeroporto Velho, fone (93) 523-2788/522-
4974, nesta cidade.

I – DO OBJETO DA PRESENTE DEMANDA

A ação em epígrafe objetiva assegurar o direito constitucional à


integração social e à saúde de idosos e portadores de deficiência carentes - mais
especificamente quanto ao seu transporte, em especial havendo necessidade de
atendimento médico hospitalar - com amparo na Constituição Federal e nas Leis
n°8.899/94 e n°10.741/2003.

Com efeito, consoante o inarredável comando constitucional, resta


garantido aos idosos e aos portadores de deficiências tanto a saúde quanto a
integração social, devendo o Estado garantir todos os instrumentos necessários ao
pleno exercício desses direitos. Nesse diapasão, inegável o direito de amplo acesso
aos meios de transporte para o deslocamento ao trabalho, ao lazer, às atividades de
tratamento médico, enfim, com efetiva guarida à verdadeira integração social.

Destarte, concretizando o imperativo constitucional, as Leis n°8.899/94


e n°10.741/2003 engendraram o “PASSE LIVRE”, i.e., instituto que assegura a
gratuidade de transporte no sistema coletivo intraestadual e interestadual aos idosos
e portadores de deficiência carentes. Por oportuno, ressalte-se que as mencionadas
leis, e com mais autoridade a Lex Matter, em qualquer momento, restringem a
referida garantia aos transportes terrestres e aquáticos, o que somente é feito –
frise-se: contra legem e contra constituitioni – por meio de reles portaria e decreto
(Portaria Interministerial n°3 de 2001 e Decreto n°5.130/2004).

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II – DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

A Constituição Federal de 1988, ao definir o Ministério Público como


instituição permanente, essencial a função jurisdicional do Estado, incumbiu-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis (art. 127). Nesse escopo, foram estabelecidas suas funções
institucionais no artigo 129, destacando-se:

“(...)
II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos
serviços de relevância pública aos direitos assegurados
nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a
sua garantia;
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e
de outros interesses difusos e coletivos;”

Pari passu, a legislação infraconstitucional, por meio da Lei da Ação


Civil Pública (Lei nº7.347/85), ampliada pela Lei nº8.078/90 e roborada pela Lei
Complementar nº75/93 (Lei Orgânica do Ministério Público da União), comete ao
Parquet a proteção, prevenção e reparação de danos ao meio ambiente, ao
consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico, e outros interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis e
individuais homogêneos.

Delimitando o tema, o mestre HUGO NIGRO MAZZILLI define:

“O Ministério Público está legitimado à defesa de


qualquer interesse difuso, pelo seu grau de dispersão e
abrangência”, em “A DEFESA DOS INTERESSES
DIFUSOS EM JUÍZO”, 9ª ed., Saraiva, 1997, pg.32.

E logo adiante, arremata:

“O interesse de agir do Ministério Público é presumido.


Quando a lei lhe confere legitimidade para acionar ou
intervir, é porque lhe presume interesse. Como disse
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Salvatore Satta, o interesse do Ministério Público é
expresso pela própria norma que lhe consentiu ou impôs
a ação.

(...)

“Quando a lei confere legitimidade de agir ao Ministério


Público, presume-lhe o interesse de agir, pois está
identificado por princípio como defensor dos interesses
indisponíveis da sociedade como um todo.” (grifo próprio)

Na percuciente lição de NELSON NERY JÚNIOR, “sempre que se


estiver diante de uma ação coletiva, estará presente aí o interesse social, que
legitima a intervenção e a ação em juízo do Ministério Público” – grifo próprio -
(em “AÇÃO CIVIL PÚBLICA”, coordenação de Édis Milaré, RT, 1995, pg.366).

Prossegue o renomado autor:

“De conseqüência, toda e qualquer norma legal


conferindo legitimidade ao Ministério Público (CF 129
IX) para ajuizar ação coletiva, será constitucional
porque é função institucional do Parquet a defesa do
interesse social (CF 127 caput).

(...)

Como o art. 82, inc.I, do CDC confere legitimidade ao MP


para ajuizar ação coletiva, SEJA QUAL FOR O DIREITO
A SER DEFENDIDO NESSA AÇÃO, haverá legitimação
da instituição para agir em juízo. O art. 81, parágrafo
único, do CDC diz que, a ação coletiva poderá ser
proposta para a defesa de direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos (incs. I e III).

(...)

O argumento de que ao MP não é dada a defesa de


direitos individuais disponíveis não pode ser acolhido
porque em desacordo com o sistema constitucional e
do CDC, que dá tratamento de interesse social à
defesa coletiva em juízo.” (ob. cit., pg.366)

Por sua vez, a Lei n.º7.853, de 24/10/1989, ao disciplinar as funções do


Ministério Público, no que tange a proteção dos direitos das Pessoas Portadoras de
Deficiência, bem como sua integração social, dispõe em seu art. 3º que:
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“As ações civis públicas destinadas à proteção de
interesses coletivos ou difusos das pessoas portadoras de
deficiência poderão ser propostas pelo Ministério Público,
pela União, Estados, Municípios e Distrito Federal; por
associação constituída a mais de 1 (um) ano, nos termos da lei
civil, autarquia pública, fundação ou sociedade de economia
mista que inclua, entre suas finalidades institucionais, a
proteção das pessoas portadoras de deficiência.”

A legitimidade do Ministério Público Federal vem ainda assegurada


pela Lei de Ação Civil Pública (Lei n.º7.347/85), que reza:

“Art. 1º - Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo


da ação popular, as ações de responsabilidade por danos
morais e patrimoniais causados:
(...)
II – ao consumidor;
IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.”

“Art. 21 – Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos,


coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do
Título III da Lei n.º8.078, de 11 de setembro de 1990, que
institui o Código de Defesa do Consumidor.”

Salienta-se que o Título III do Código de Defesa do Consumidor –


diploma em perfeita simbiose com a Lei de Ação Civil Pública –cujos artigos 81 a
104 definem os interesses ou direitos coletivos como sendo transindividuais, de
natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas
ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base (art. 81,
parágrafo único, inciso II). Ademais, dispõe o artigo 82:

“Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados


concorrentemente:
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I – o Ministério Público;”

Quanto à tutela aos idosos, dispõe o art.74 da Lei nº10.741/2003, in


verbis:

“Art. 74. Compete ao Ministério Público:


I – Instaurar o Inquérito Civil e a Ação Civil Pública para a
proteção dos interesses e direitos difusos e coletivos,
individuais indisponíveis e individuais homogêneos do
idoso;
II – omissis
III – atuar como substituto processual do idoso em situação de
risco, conforme o disposto no art. 43 desta lei;”

O art. 52 do Estatuto do Idoso discorre acerca da fiscalização das


entidades governamentais e não-governamentais pelo Ministério Público quanto aos
direitos dos idosos. Outrossim, imprescindível repisar os artigos 5º e 6º da Lei
Complementar n.º75/93 – Lei Orgânica do Ministério Público da União – que também
consagram expressamente essa legitimidade.

Preconiza, ainda, o art. 129, I, da CF/88, ser função institucional do


Ministério Público zelar pelo efetivo respeito aos serviços de relevância pública.
Não se pode negar que um dos cernes dos serviços de relevância pública constitui a
proteção do direito à vida, com suporte básico e indissociável no direito à saúde,
estabelecido no caput do art. 5º do atual Estatuto Supremo. Ainda, impõe-se gizar
que o direito à gratuidade no transporte de idosos e portadores de deficiência
carentes é indivisível (o direito é de todos os que se enquadrem naquela
qualificação), titularizado por um grupo de pessoas (idosos e portadores de
deficiência), ligados com o Estado por uma relação jurídica básica (soberania), ou
seja, trata-se de indiscutível interesse trasindividual (interesse coletivo).

Destarte, inequívoca a legitimação do Ministério Público para promover


a tutela sobre os serviços relacionados à saúde e à integração social de deficientes
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e idosos carentes, dentre eles o transporte desses hipossuficientes, conforme
manifestações dos Tribunais Superiores:

“O campo de atuação do MP foi ampliado pela


Constituição de 1988, cabendo ao parquet a promoção do
inquérito civil e da ação civil pública para a proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos, sem a limitação imposta
pelo art. 1º da Lei 7.347/85.” (RESP. nº. 31.547-9/SP, STJ,
Resp. 67.148-SP, un., Rel. Min. Adhemar Maciel, Dj
4.12.95, pg. 42.148, in Infom. Saraiva n.º 8).

Diante do exposto, o Ministério Público Federal se encontra


totalmente legitimado e, mais tecnicamente, vinculado a defender o direito ora
pleiteado, visto positivar com a presente ação os comandos constitucionais e legais,
bem como resguardar um pretendido e verdadeiro Estado Democrático e Social de
Direito.

III - DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

Preceitua o art. 109, inciso I, do Estatuto Supremo, que compete aos


juizes federais processar e julgar as causas que a União for interessada na condição
de autora, ré, assistente ou oponente.

Na presente ação, dentre outros pedidos, requerer-se a condenação da


União, bem como de outras pessoas: Município de Santarém, TAM e Varig, na
OBRIGAÇÃO DE FAZER, consistente em implementar o sistema de passe livre
no transporte aéreo interestadual para as pessoas portadoras de deficiência e
idosos comprovadamente carentes, mormente quando vinculado a um tratamento
médico especializado, inexoravelmente ligado às atribuições do Sistema Único de
Saúde (SUS), pois é dever do Estado assegurar o acesso universal e igualitário às
ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde (art.196 da
CF).

Em consonância com a preceituação constitucional contida no art. 109,


I, a jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 1ª Região não tem transigido com
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a fixação de competência na Justiça Federal quando a quaestio juris envolve
desdobramentos concernentes ao Sistema Único de Saúde:

“Com a implantação do Sistema Único de Saúde


(SUS), a União descentralizou seus serviços
médicos, hospitalares, ambulatoriais e assistenciais
- que continuam sendo seus - e transferiu recursos
para os Estados para a cobertura das despesas,
continuando, pois, a ter interesse direto no bom
desempenho dos mesmos”. (HC 94.01.25699-3/PI,
Rel. Juiz Tourinho Neto, 3ª T., dec.28.9.94, DJ 2 de
17.10.94, pg.58.782)

No magistério do Juiz Federal VLADIMIR SOUZA CARVALHO, “ação


civil pública deve ser proposta perante o juiz do local do dano. Presente o
interesse da União e existindo Vara Federal no local, é desta última a
competência para processar e julgar a causa” (Juiz Silveira Bueno, AI 6261-
SP,Bol.n. 193, pg. 68, TRF 3ª Região - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL, 2ª
ed., Juruá, 1995, pg. 88)

Nada despiciendo repisar que, em razão do comando insculpido no


art.198 da Constituição da República, a União, por meio do SUS, descentralizou
seus serviços médicos, hospitalares, ambulatoriais e assistenciais para os
municípios, dentre eles o Município de Santarém, entretanto manteve sua
titularidade. Com efeito, o Ministério da Saúde (União) repassa verbas federais para
o Município de Santarém, via Secretaria de Saúde, para a manutenção do SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE, motivo pelo qual o Município, como executor direto das políticas
públicas relativas à saúde em Santarém, é arrolado no pólo passivo da presente
Ação Civil Pública.

Espancando qualquer dúvida, por ventura, existente quanto à


competência da Justiça Federal para apreciar a matéria, muito arguta a colocação
do ilustre Desembargador Federal da 4ªRegião, João Pedro Gebran Neto, de que
compete à União (art.21, XII, da CF) explorar, diretamente ou mediante autorização,
concessão ou permissão, a navegação aérea, “(...) sendo serviço público federal
delegado, o que atrai a competência para a Justiça Federal, a teor do disposto no
art.109, da Constituição Federal.”

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IV – DOS FATOS E DO DIREITO

Em 1994, foi promulgada a Lei n.º 8.899, de 29 de junho (publicada no


DOU de 30.06.1994), que concede às pessoas portadoras de deficiência
carentes no sistema de transporte coletivo interestadual o direito ao passe livre:

“Art. 1º - É concedido passe livre às pessoas portadoras de


deficiência, comprovadamente carentes, no sistema de
transporte, coletivo interestadual.
Art. 2º - O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo
de noventa dias a contar de sua publicação.”

A novel Lei nº10.741/2003 assegura aos idosos, em seu art.2º,


“todas as oportunidades e facilidades para preservação de sua saúde física e
mental”. No mesmo diapasão, o art.3º, I, garante, ainda aos idosos, a prioridade no
atendimento preferencial imediato junto aos órgãos públicos e privados
prestadores de serviços à população.

Nessa esteira, o art. 40, ainda do Estatuto do Idoso, prescreve,


in verbis:

“Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual


observar-se-á, nos termos da legislação específica:
I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para
idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários
mínimos” – grifo próprio

Estes dispositivos visam estender ao sistema de transporte coletivo


interestadual e internacional o benefício de que já gozam os portadores de
deficiência e idosos no sistema de transporte municipal. No entanto, a despeito do
prazo de noventa dias fixado pelo art.2º, da Lei n.º8899/94, tal foi regulamentada
somente em 10.04.2001, por meio da Portaria Interministerial n.º003/2001, contudo,
restrita aos modais AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO e RODOVIÁRIO, QUEDANDO-
SE INERTE QUANTO AO TRANSPORTE AÉREO. E, baseados na suposição de
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que essa regulamentação seria indispensável para a eficácia da norma, o Poder
Público Federal e as empresas de transporte aéreo interestadual (rés) até hoje
frustam o direito das pessoas portadoras de deficiência e, mais hodiernamente, dos
idosos ao passe livre.

Dando cumprimento a sua missão institucional, o Ministério Público


Federal em Santarém instaurou o Procedimento Administrativo nº
1.23.002.000069/2003-14, para verificar o efetivo cumprimento da Lei nº8.899/94 no
que tange ao passe livre no transporte aéreo interestadual, para as pessoas
deficientes e idosas, comprovadamente carentes.

Ressalta-se, por oportuno, que o serviço de transporte aéreo inter e


intraestadual, quando indispensável para a efetivação do superior direito à vida,
especificamente por meio de tratamento de saúde fora do domicílio, quando inexistir
especialista no Município de Santarém, revela-se impreterível e obrigatório para
todos os concessionários de serviços públicos de transporte, tal como o aéreo.

Na mesma linha, sendo o município o gestor do Sistema Único de


Saúde, administrando os recursos federais na proteção e reparação da saúde
pública, torna-se interessado no deslinde da presente demanda. Em verdade, mais
do que mero interessado, o Município de Santarém se mostra legitimado no pólo
passivo da presente Ação Civil Pública, visto ser notaria a inexistência de uma
política de prioridade no tratamento de idosos e portadores de deficiências,
enfatizando-se a falta de qualquer anúncio ou aviso nos meios de comunicação e
mesmo nos próprios Postos de Saúde ou Hospitais Municipais. Por fim, sublinhe-se
que tampouco há qualquer serviço diferenciado no tocante à saúde dos idosos ou
portadores de deficiência, conforme mandamento legal.

Retomando o tema, repisa-se que a União apenas regulamentou o


passe livre para os transportes interestaduais nos modais aquaviário, ferroviário e
rodoviário, quedando silente quanto ao transporte aéreo, imprescindível na região
norte do Brasil, em especial no oeste paraense (Portaria Interministerial n°3 de 2001
e Decreto n°5.130/2004). Nesse ponto, a timidez do Executivo deve ser interpretada

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como verdadeira ilegalidade, em face do pertinente e inarredável brocardo jurídico
de que não se admite ao administrador restringir, onde a própria lei não o fez.

Mais uma vez, nada obstante a alvissareira normatização, o Executivo


foi deveras tímido e, por que não dizer, negligente, restringindo ilegalmente o direito
conferido pelo Legislativo. Muito bem anda a doutrina ao apregoar que, em termos
de direitos constitucionais, não cabe ao administrador, muito menos ao intérprete,
restringir sua amplitude quando a lei e a constituição não o fizeram. Nas irretocáveis
palavras do mestre lusitano J.J.Gomes Canotilho, é a concretização do princípio
hermenêutico da Máxima Efetividade das Normas Constitucionais. Nesse
sentido, a acanhada portaria somente regulou, de maneira expressa, a gratuidade
dos transportes nos modais aquaviário, ferroviário e rodoviário, quedando-se omissa
quanto ao transporte aéreo, o que não o excluiu do âmbito da garantia
constitucional.

Em virtude da timidez regulamentar, baseados em uma estrábica


compreensão jurídica de prevalência de reles atos administrativos (portaria
interministerial e decreto) em detrimento de leis (Leis n.º 8.899/94 e nº 10.741/2003)
e, mais gravemente, da própria Lei Fundamental, reitera-se, ao cansaço, que os
réus persistem vilipendiando direitos fundamentais.

Ademais, despautério argumentar-se que a expressão “transporte


coletivo interestadual” não englobe a via aérea, pois tanto no prisma jurídico
como semântico, dúvida não resta de que a interpretação restritiva se revela
incabível. De fato, o Novo Código Civil, ao tratar do contrato de transporte, definiu-o
como o instrumento pelo qual alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar
de um lugar para outro pessoas ou coisas, inexistindo qualquer restrição quanto à
espécie de veículo a ser utilizado. O serviço de transporte aéreo não se enquadra
exatamente nessa definição???

A conceituação constitucional de serviço de “transporte intermunicipal e


interestadual”, a despeito de pertinente ao ICMS (art.155, II), vem muito a calhar no
caso em testilha, compreendendo, segundo o mestre Roque A. Carrazza, “o levado
a cabo por via aérea, marítima, lacustre, fluvial ou hidroviária (...) prestada por
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qualquer tipo de veículo: automóvel, caminhonete, barco e avião (...)” – grifo
próprio.

Nesse ponto, parece irrelevante se o serviço aéreo, ordinariamente, é


usufruído apenas por cidadãos mais abastados em virtude do elevado preço das
passagens, decorrente da comodidade, qualidade e agilidade que proporciona. O
fato é que, não sendo oportunizado o direito de gozar do direito fundamental à
saúde, resta atingido o princípio – elevado pelo constituinte originário como axioma
do Estado Brasileiro – da dignidade da pessoa humana, pois um indivíduo titular
de direitos sem operatividade equivale a uma pessoa sem um mínimo de direitos,
afetado em sua dignidade enquanto ser humano.

A comunidade que poderia e deveria se beneficiar do passe livre já há


uma década, continua privada de seu direito pela letargia do Poder Executivo
Federal, frise-se: sem nenhuma expectativa de que o benefício venha a ser
implementado.

Por relevante, ressalta-se que o passe livre não constitui mero


privilégio das pessoas portadoras de deficiência e idosos carentes, todavia
verdadeira concretização da tão propalada isonomia material. Com efeito, a
expressiva população de portadores de deficiência (estimados pela ONU em 10% da
população mundial) encontra, evidentemente, adicionais dificuldades para o
exercício de seu direito à liberdade de ir e vir, exigindo-se, pois, a adoção de
políticas públicas e privadas conferindo-lhes tratamento especial e propiciando
efetiva igualdade material de condições de vida em sociedade.

No mesmo passo, o IBGE, no último censo, estimou os idosos em


cerca de que 09% do total da população brasileira, i.e., mais de um milhão e
trezentas e cinqüenta mil pessoas. Todo esse contingente de hipossuficientes –
portadores de deficiência e idosos – em homenagem ao princípio da isonomia
material e do verdadeiro Estado Democrático e Social de Direito, por óbvio, merece
especial atenção. Ao longo das décadas, o Estado Brasileiro, constitucionalmente
desenhado como assistencialista, vem olvidando de sua incumbência de cuidar de
seus cidadãos no que lhes é mais essencial - educação, saúde, habitação,
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dignidade, etc. – deixando a população, precipuamente a mais necessitada e frágil,
à mercê de sua própria sorte, com o que a sociedade e, principalmente, o Judiciário
não podem compactuar. Nesse sentido, merece aplausos a decisão liminar
concedida no bojo dos autos do Agravo de Instrumento n°2004.01.00.034072-0/DF
pelo E.Tribunal Regional Federal da 1ªRegião, obrigando as empresas de transporte
terrestre que se recusavam a cumprir a Lei n°10.741/2003 à efetivação do “passe
livre”.

Nesse mister de concretização da isonomia material, toda a


normatização constitucional e legal assegura à pessoa portadora de deficiência
inúmeras equiparações, que exigem o efetivo trabalho da Administração para seu
sucesso, tais como: reserva de vagas em concursos públicos e na iniciativa privada,
acesso ao ensino regular e a logradouros de uso público, dentre outras ações. No
mesmo diapasão, aos idosos são garantidas alguns benefícios previstos em seu
novel Estatuto, v.g., proteção integral, atendimento prioritário, destinação
preferencial de recursos, acesso à rede de serviços de saúde, dentre outros.

No caso sob exame, a garantia de transporte aéreo intra e


interestadual gratuito para a pessoa portadora de deficiência ou idoso carente,
principalmente estando vinculado a um tratamento médico, assume natureza de
direito fundamental decorrente do regime e dos princípios adotados pela
Constituição Federal de 1988 (§ 2º do art. 5º). De fato, o “passe livre” no caso da
saúde constitui inquestionável direito fundamental, pois materializa: (a) o objetivo
fundamental da República do Brasil de erradicar a marginalização, as
desigualdades sociais e econômicas e a discriminação (art.2º, inciso III e IV); (b)
o princípio da igualdade material (art. 5º, I); (c) o direito à vida, mais
especificamente em seu desdobramento saúde (caput do art. 5º); (d) os princípios
da ordem econômica relativos à redução das desigualdades sociais (art. 170, VII)
e (e) os objetivos da assistência social, de promoção da integração das pessoas
portadoras de deficiência à vida comunitária (art. 203, IV) e da assistência ao
idoso, nos termos do art. 230, CF.

No eloqüente ensinamento do professor Luiz Alberto David de Araújo:

Av. Barão doRio Branco, 252 - Centro - CEP. 68.005-310 -Fone/Fax (93) 523-2651- e-mail: prmstm@prpa.mpf.gov.br - Santarém/PA 13
“O direito ao transporte, apesar de ser elemento
indispensável ao direito ao trabalho, tem vida própria,
enquanto conteúdo do direito à integração social das
pessoas portadoras de deficiência. O transporte não é
apenas utilizado para o deslocamento ao trabalho, mas
ao lazer, às atividades de tratamento médico, etc.” –
grifo próprio - (em “A proteção constitucional das pessoas
portadoras de deficiência”, obra que conferiu o título de
doutor em Direito Constitucional pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo ao autor, sendo
recomendada pelo Ministério da Justiça)

Desse modo, a norma que institui o passe livre exige uma interpretação
que implique na máxima eficácia e na imediata aplicabilidade de seu conteúdo,
conforme ordenado pelo § 1º do art. 5º da Constituição Federal. Na mesma esteira,
o sempre razoável magistério de José Afonso da Silva:

“(...) que valor tem o disposto no § 1º do art.5º, que declara


todas de aplicação imediata? Em primeiro lugar, significa que
e/as são aplicáveis até onde possam, até onde as
instituições ofereçam condições para seu atendimento. Em
segundo lugar, significa que o Poder Judiciário, sendo
invocado a propósito de uma situação concreta nela
garantida, não pode deixar de aplicá-las, conferindo ao
interessado o direito reclamado, segundo as instituições
existentes.” (Aplicabilidade das Normas Constitucionais, 3ª ed.,
Malheiros. São Paulo: 1998)

No caso concreto, portanto, cumpre à Administração, à sociedade e,


em última palavra, ao Judiciário extrair a máxima amplitude da norma concedente de
um direito constitucional, segundo as instituições existentes, ou seja, passe livre
para todas as pessoas portadoras de deficiência e idosos, comprovadamente
carentes, em todos os meios de transporte coletivos intra e interestaduais.

Na efetivação do benefício, apenas são exigidos como requisitos para


seu gozo: (1) ser portador de deficiência ou idoso e (2) ser comprovadamente
carente. A exigência de tratamento fora do domicílio (TFD), quando não houver
especialista na cidade de Santarém/PA, é somente mais um elemento a roborar a
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imediata concessão do direito, em vista da garantia à saúde e, de forma mediata, à
própria vida.

Com relação ao primeiro requisito, o Decreto nº3.298, de 20 de


dezembro de 1999, que regulamentou a Lei nº7.853/89 e dispôs sobre a Política
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência tratou nos artigos 3º
e 4º da caracterização da pessoa portadora de deficiência.

“Art. 4º - É considerada pessoa portadora de deficiência a que


se enquadra nas seguintes categorias:

I – deficiência física – alteração completa ou parcial de um ou


mais segmentos do corpo humano, acarretando o
comprometimento da função física, apresentando-se sob a
forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, hemiparesia,
amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral,
membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as
deformidades estéticas e as que produzam dificuldades para o
desempenho de funções;

II – deficiência auditiva – perda parcial ou total das


possibilidades auditivas sonora, variando de graus e níveis na
forma seguinte:
a) de 25 a 40 decibéis(db) – surdez leve;
b) de 41 a 55 db – surdez moderada;
c) de 56 a 70 db – surdez acentuada;
d) de 70 a 90 db – surdez severa;
e) acima de 91 db – surdez profunda; e
f) anacusia;

III – deficiência visual – acuidade visual igual ou menor que


20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo
visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou ocorrência
simultânea de ambas as situações;
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IV – deficiência mental – funcionamento intelectual
significativamente inferior à média, com manifestação antes
dos dezoitos anos e limitações associadas a duas ou mais
áreas de habilidades adaptativas, tais como:
a) comunicação;
b) cuidado pessoal;
c) habilidades sociais;
d) utilização da comunidade;
e) saúde e segurança;
f) habilidades acadêmicas;
g) lazer e
h) trabalho;

V – deficiência múltipla – associação de duas ou mais


deficiências.”

Aliás, regulamentando em parte a benesse, a Portaria Interministerial


n.º 003, de 10.04.2001, também define o que seja pessoa portadora de deficiência
(art. 3º, inciso II):

“aquela que apresenta em caráter permanente, perda ou


anomalia de sua função psicológica, fisiológica ou anatômica
que gere incapacidade para o desempenho de atividade,
dentro do padrão considerado normal para o ser humano”

Na mesma linha, o inciso III do art. 3º do mesmo diploma legal


conceitua pessoa carente como:

“Aquela que comprove renda familiar mensal ‘per capta’ igual


ou inferior a um salário mínimo estipulado pelo Governo
Federal”

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Aliás, no que tange ao requisito da carência, existem outros diplomas
legais que já regulamentam benefícios concedidos a cidadãos para o gozo de
direitos fundamentais. É o caso , por exemplo, da Lei de Registros Públicos (Lei n.º
6.015/73, com a redação dada pela Lei n.º 9.534/97), que prevê, por força de norma
constitucional (art. 5º, LXXVI), a gratuidade, para os reconhecidamente pobres, das
certidões extraídas pelos cartórios dos registros civis. De fato, dispõe o art. 30 e,
especialmente, seus parágrafos:

Art. 30 – Não serão cobrados emolumentos pelo registro civil


de nascimento e pelo assento de óbito, bem como pela
primeira certidão respectiva.
§ 1º - Os reconhecidamente pobres estão isentos de
pagamento emolumentos pelas demais certidões extraídas
pelo cartório de registro civil.
§ 2º - O estado de pobreza será comprovado por
declaração do próprio interessado ou a rogo, tratando-se
de analfabeto, neste caso, acompanhada da assinatura de
duas testemunhas.
§ 3º - A falsidade da declaração ensejará a
responsabilidade civil e criminal do interessado.”
(grifamos)

Esses, portanto, são critérios legais, aplicáveis a casos análogos de


exercício de direitos fundamentais e que, sem nenhum óbice jurídico ou prático,
podem ser utilizados para a concessão do passe livre aéreo. Posto isso, nítido está
inexistir entrave jurídico ao gozo imediato do direito ao passe livre aéreo. Pelo
contrário, eventual regulamentação superveniente cuidaria apenas de normas
procedimentais, tais como o emissor, o local e a forma para concessão de atestados
de deficiência, ou seja, meros detalhes que não comprometem a prestação principal.

Ademais, sofista a alegação de que ato normativo seria necessário


para indicar a fonte de recursos para o custeio dessas passagens aéreas. Primeiro,
porque não se pode obrigar ao detentor do direito ao passe livre a arcar com
eventual impasse entre o Poder Público e as concessionárias de transporte aéreo.
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Depois, porque sendo o transporte aéreo um serviço público federal, concedida sua
execução ao particular, cabe-lhe, por óbvio, alguns ônus próprios da atividade
pública delegada. Com efeito, enquanto política destinada à inclusão da pessoa
portadora de deficiência e do idoso, o passe livre aéreo se caracteriza pela natureza
jurídica de ação assistencial, nos exatos termos do art. 203 da Constituição.

Outrossim, certo é que essas ações de assistência social integram a


seguridade social, que, nos termos do art. 194, “compreende um conjunto integrado
de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade”, portanto constitui um
ônus a ser carregado também pela sociedade. Em acréscimo, o art. 195 determina
que “a seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta”, sendo o caso sob exame típica hipótese de custeio direto pela sociedade,
i.e., por sociedades empresariais que exploram atividade pública.

Pari passu, muito bem andou o ilustre Des.Federal João Pedro Gebran
Neto ao declarar: “Demonstra-se salutar, neste aspecto, mencionar o fato de que a
impetrada é concessionária de serviço público. Por assim ser, o poder concedente
só transfere ao concessionário a execução do serviço, continuando titular do
mesmo, o que lhe permite dispor de acordo com o interesse público”.

Ademais, totalmente falacioso o argumento de que às prestadoras de


serviços de navegação aérea não se aplicam as Leis n°8.899/94 e n°10.741/2003,
mas tão-somente o Código Brasileiro de Aeronáutica, pois como bem pondera o
mesmo Desembargador Federal, “a concessão de passe livre não está inserida no
âmbito do direito privado, pois é fato jurídico decorrente da incidência da norma que
tem finalidade realizar um dos objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil, qual seja, construir uma sociedade igualitária”.

Convém rememorar o brilhante magistério do professor Noam


Chomsky, do famoso MIT – Massachusetts Institute of Tecnology, de que a doutrina
neoliberal tende a esquecer o verdadeiro objetivo do Estado e das sociedades
empresariais, qual seja: o bem estar das pessoas, apegando-se tão-somente na
lucratividade selvagem, com intensa concentração de riquezas e incremento do
desdém ao social. Em face do aterrorizante quadro, impinge-se ao Judiciário
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demover o Estado e as empresas ao seu verdadeiro papel, com devolução à
população de parcela dos frenéticos lucros sugados da própria comunidade.

Por oportuno, reitere-se que as empresas de transporte aéreo são


meras concessionárias do poder público federal, sendo certo que prestam serviços
públicos, podendo, portanto, ser exigido pelo Estado sua contraprestação social
desinteressada.

Saliente-se que a omissão injustificada, não apenas pelo poder


delegante do serviço público de transporte aéreo, outrossim da pessoa jurídica
delegada, não pode ser eternizada, pois enquanto positivação infraconstitucional de
garantias fundamentais consagradas no seio da Lei Maior, o direito ao passe livre
deve ter aplicabilidade imediata e máxima eficácia.

Note-se, ainda, que o estatuto de proteção da pessoa portadora de


deficiência (Lei n.º 7.853/89) estabelece como princípios básicos:

(a) ser obrigação nacional, a cargo do Poder Público e da


sociedade, a satisfação dos interesses das pessoas portadoras de deficiência; e

(b) caber ao poder público dar tratamento prioritário às


questões relativas à pessoa deficiente, para que lhes seja efetivamente ensejado
o pleno exercício de seus direitos individuais e sociais, bem como sua
completa integração social.

Tais princípios têm sido, no caso, completamente menoscabados, quer


pela União, com sua omissão administrativa, quer pelas prestadoras de serviços
aéreos. Comete o Poder Público uma dupla ilegalidade, na medida em que deveria
implementar definitivamente o benefício da Lei n.º 8.899/94 e prestar obediência à
determinação dos artigos 1º e 2º da Lei n.º 7.853/89, vinculantes para toda a
Administração Pública Federal.

No que se refere aos idosos, exsurge do art. 9º do seu Estatuto que é


obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante

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efetivação de políticas públicas que permitam um envelhecimento saudável e em
condições de dignidade. Deste modo, resta assegurado aos maiores de 65 anos
carentes, idosos na acepção da lei, a gratuidade no transporte coletivo interestadual,
desde que apresentado qualquer documento pessoal que faça prova de sua idade
(§1° do art.39 da Lei n°10.741/2003).

O conceito legal de carência para fins de benefícios aos idosos,


consoante seu Estatuto (art.40), é mais realista do que a legislação pertinente aos
portadores de deficiência, garantindo o direito do passe livre a todos os maiores de
65 anos que tenham “renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos”.

O Município de Santarém há bastante tempo não vem cumprindo seu


papel social quanto ao tratamento fora do domicílio (TFD), custeado pelo Ministério
da Saúde com repasses federais mensais, como é da sabença geral e constatado
no Procedimento Administrativo que tramita no âmbito desta Procuradoria da
República sob o nº1.23.002.0000.76-2002-35, com inegável infração ao art.15 do
Estatuto do Idoso.

Como paradigma, ressalta-se que o deslocamento em decorrência de


TFD de Santarém até Belém via aquaviária, portanto ainda dentro do Estado do
Pará, demora cerca de 03 (três) dias, o que dificulta sobremaneira o tratamento de
saúde de qualquer cidadão, o que se dizer quando o indivíduo constitui pessoa idosa
ou deficiente e a viagem é feita para outro estado-membro.

Destarte, não se pode cerrar os olhos para a precária realidade


regional, podendo-se seguramente afirmar que a maioria das especialidades em
matéria médica somente é encontrada em outras regiões do país, sendo, por
conseguinte, inacessível para a população carente local.

Por fim, acerca do tema, socorre-se da irrepreensível e irrefutável lavra


do nobre Desembargador Federal Luiz Carlos de Castro Lugon, da 4ª Região, que
destrói qualquer argumentação contrária:

“Acrescento, ainda, que com razão está o MM.Juízo


monocrático ao explicitar que somente conferindo à
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indigitada categoria de excluídos o direito posto em lide,
garante-se a oportunidade de serem os mesmos
integrados no contexto sócio-econômico e cultural em
igualdade de condições com os demais cidadãos (...), se
a situação fática exige que o deficiente carente seja
transportado, este deve ser beneficiado com a isenção
total de custos na aquisição da passagem aérea da
mesma forma que os demais indivíduos em situação
financeira e saúde semelhante a sua são ao serem
transportados através de rodovias, ferrovias e portos.”

V – DO DANO MORAL COLETIVO

A mais moderna e avançada doutrina pátria, indubitavelmente, aceita a


possibilidade de ocorrência de danos em interesses coletivos latu sensu, pois a
violação de direito independe de sua titularidade, seja de um único indivíduo ou de
muitos ou de todos. Nesse passo, inexorável outrossim o reconhecimento da
indenização por tais danos, sendo falaciosa a alegação de que inexiste reparação
para pessoas indeterminadas, pois nesse ponto a Lei n°7347/85 foi profícua ao
engendrar um Fundo Fluído (“Fluid Recovery”, previsto no art.13), cujo conteúdo
reverte em benefício de todos.

Os fatos objetos desta ação abalam seriamente a confiança da


população no sistema de saúde brasileiro e desprestigiam o ordenamento jurídico
pátrio. As violações à Constituição e às leis, per si, configuram danos passíveis de
reparação moral, pois o cidadão se queda nitidamente intranqüilo e receoso acerca
da seriedade das instituições públicas nacionais. Em razão disso que, como é
notório para quem viaja ao exterior, a nação brasileira é a única que não prestigia
seus próprios valores e somente ressalta seus pontos negativos, em virtude desse
descrédito ocasionado pelo descaso da Administração Pública, por vezes com o
beneplácito dos demais Poderes 1. Com o devido respeito, esse descrédito não pode
1
No sentido do exposto, toma-se a liberdade de reproduzir a correspondência eletrônica veiculada, há pouco tempo, via rede
mundial de computadores, demonstrando os efeitos do descrédito das instituições públicas (inequívoco dano coletivo) no
sentimento popular brasileiro:

COMENTÁRIOS DE UMA HOLANDESA SOBRE O BRASIL...

"Os brasileiros acham que o mundo todo presta, menos o Brasil. E realmente parece que é um vício falar mal do Brasil. Todo
lugar tem seus pontos positivos e negativos, mas no exterior eles maximizam os positivos, enquanto no Brasil se maximizam
os negativos. Aqui na Holanda, os resultados das eleições demoram horrores porque não há nada automatizado. Só existe uma
companhia telefônica e (pasmem!) se você ligar reclamando do serviço, corre o risco de ter seu telefone temporariamente
desconectado. Nos Estados Unidos e na Europa, ninguém tem o hábito de enrolar o sanduíche em um guardanapo - ou de
lavar as mãos - antes de comer. Nas padarias, feiras e açougues europeus, os atendentes recebem o dinheiro e com mesma
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ser a regra, tampouco entendido como razoável ou de somenos importância,
devendo ser arduamente combatido por ações positivas dos demais Poderes e
mesmo por meio de indenização pelo inconteste prejuízo coletivo.

Esse prejuízo moral – que segue paralelo ao dano material – há de ser


ressarcido, conforme previsto no inciso V do art.1º da Lei n.º 7.347/85:

mão suja entregam o pão ou a carne. Em Londres, existe um lugar famosíssimo que vende batatas fritas enroladas em folhas
de jornal - e tem fila na porta. Na Europa, não-fumante é minoria. Se pedir mesa de não-fumante, o garçom ri na sua cara,
porque não existe. Fumam até em elevador. Em Paris, os garçons são conhecidos por seu mau humor e grosseria e qualquer
garçom de botequim no Brasil podia ir para lá dar aulas de como conquistar o cliente."

Você sabe como as grandes potências fazem para destruir um povo? Impõem suas crenças e cultura. Se você parar para
observar, em todo filme dos EUA a bandeira nacional aparece, e geralmente na hora em que estamos emotivos. O Brasil tem
uma língua que, apesar de não se parecer quase nada com a língua portuguesa, é chamada de língua portuguesa, enquanto que
as empresas de software a chamam de português brasileiro, porque não conseguem se comunicar com os seus usuários
brasileiros através da língua Portuguesa.

Os brasileiros são vítimas de vários crimes contra sua pátria, crenças, cultura, língua, etc... Os brasileiros mais esclarecidos
sabem que tem muitas razões para resgatar as raízes culturais. Os dados são da Antropos Consulting:

1. O Brasil é o país que tem tido maior sucesso no combate à AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis, e vem
sendo exemplo mundial.

2. O Brasil é o único país do hemisfério sul que está participando do Projeto Genoma.

3. Numa pesquisa envolvendo 50 cidades de diversos países, a cidade do Rio de Janeiro foi considerada a mais solidária.

4. Nas eleições de 2000, o sistema do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) estava informatizado em todas as regiões do Brasil,
com resultados em menos de 24 horas depois do início das apurações. O modelo chamou a atenção de uma das maiores
potências mundiais: os Estados Unidos, onde a apuração dos votos teve que ser refeita várias vezes, atrasando o resultado e
colocando em xeque a credibilidade do processo.

5. Mesmo sendo um país em desenvolvimento, os internautas brasileiros representam uma fatia de 40% do mercado na
América Latina.

6. No Brasil, há 14 fábricas de veículos instaladas e outras 4 se instalando enquanto alguns países vizinhos não possuem
nenhuma.

7. Das crianças e adolescentes entre 7 a 14 anos, 97,3% estão estudando.

8. O mercado de telefones celulares do Brasil é o segundo do mundo, com 650 mil novas habilitações a cada mês.

9. Na telefonia fixa, o país ocupa a quinta posição em número de linhas instaladas.

10. Das empresas brasileiras, 6.890 possuem certificado de qualidade ISO 9000, maior número entre os países em
desenvolvimento. No México, são apenas 300 empresas e 265 na Argentina.

11. O Brasil é o segundo maior mercado de jatos e helicópteros executivos.

Por que esse vício de só falar mal do Brasil?

1.Por que não se orgulhar em dizer que o mercado editorial de livros é maior do que o da Itália, com mais de 50 mil títulos
novos a cada ano?

2. Que o Brasil tem o mais moderno sistema bancário do planeta?

3. Que as agências de publicidade ganham os melhores e maiores prêmios mundiais?

4. Por que não se fala que o Brasil é o país mais empreendedor do mundo e que mais de 70% dos brasileiros, pobres e ricos,
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Art. 1º - Regem-se pelas disposições desta lei, sem
prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade
por danos morais e patrimoniais causados. (grifo próprio)

O Código de Defesa do Consumidor, por seu turno, também contempla


a indenização por dano moral, nos incisos VI e VII, do art. 6º, escudado pela
previsão da Carta Política de 1988, na dicção do inciso V do art. 5º. Diz o citado
artigo do Código de Defesa do Consumidor:

“Art.6º - São direitos básicos do consumidor:

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos


patrimoniais, morais, individuais, coletivos e difusos;

VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos,


com vistas à prevenção ou reparação de danos
patrimoniais, morais, individuais, coletivos ou difusos,
assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica
aos necessitados.” (grifo próprio)

Na preclara lembrança do estudioso Alberto Bittar Filho:

“...chega-se a conclusão de que o dano moral coletivo é a


injusta lesão da esfera moral de uma dada comunidade,
ou seja, é a violação antijurídica de um determinado
círculo de valores coletivos. Quando se fala em dano
moral coletivo, está-se fazendo menção ao fato de
que o patrimônio valorativo de uma certa comunidade
(maior ou menor), idealmente considerado, foi
agredido de maneira absolutamente injustificável do
ponto de vista jurídico: quer dizer, em última instância,
que se feriu a própria cultura, em seu aspecto imaterial” –

dedicam considerável parte de seu tempo em trabalhos voluntários?

5. Por que não dizer que o Brasil é hoje a terceira maior democracia do mundo?

6. Que apesar de todas as mazelas, o Congresso está punindo seus próprios membros, o que raramente ocorre em outros
países ditos civilizados?

7. Por que não lembrar que o povo brasileiro é um povo hospitaleiro, que se esforça para falar a língua dos turistas, gesticula
e não mede esforços para atendê-los bem?

8. Por que não se orgulhar de ser um povo que faz piada da própria desgraça e que enfrenta os desgostos sambando?

É! O Brasil é um país abençoado de fato. Bendito este povo, que possui a magia de unir todas as raças, de todos os credos.
Bendito este povo, que sabe entender todos os sotaques. Bendito este povo, que oferece todos os tipos de climas para
contentar toda gente. Bendita seja, querida pátria chamada Brasil! Divulgue esta mensagem para o máximo de pessoas que
você puder. Com essa atitude, talvez não consigamos mudar o modo de pensar de cada brasileiro, mas ao ler estas palavras
irá, pelo menos, por alguns momentos, refletir e se orgulhar de ser BRASILEIRO!!!

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grifo próprio - (em “Do dano moral coletivo no atual
contexto jurídico brasileiro” , Direito do Consumidor, vol.
12 – Ed. RT)

Vale destacar, ainda, o escólio do douto Procurador Regional da


República André de Carvalho Ramos, que, analisando o dano moral coletivo,
ponderou:

“Assim, é preciso sempre enfatizar o imenso dano moral


coletivo causado pelas agressões aos interesses
transindividuais. Afeta-se a boa-imagem da proteção
legal a estes direitos e afeta-se a tranqüilidade do
cidadão, que se vê em verdadeira selva, onde a lei do
mais forte impera” – grifo próprio - ( “A ação civil pública e
o dano moral coletivo” Direito do Consumidor, vol. 25 –Ed.
RT, pg. 83)

Continua o citado autor, dizendo:

“Tal intranqüilidade e sentimento de desapreço gerado


pelos danos coletivos, justamente por serem
indivisíveis, acarretam lesão moral que também deve ser
reparada coletivamente. Ou será que alguém duvida que
o cidadão brasileiro, a cada notícia de lesão a seus
direitos não se vê desprestigiado e ofendido em seu
sentimento de pertencer a uma comunidade séria,
onde as leis são cumpridas? A expressão popular ‘o Brasil
é assim mesmo’ deveria sensibilizar todos os operadores
do Direito sobre a urgência na reparação do dano moral
coletivo” – grifo próprio - ( “A ação civil pública e o dano
moral coletivo” Direito do Consumidor, vol. 25 – Ed. RT,
pg. 83)2

No suporte dessa responsabilidade comparece novamente a


Constituição Federal, estabelecendo em seu art. 37, § 6º, a responsabilidade civil do
Estado por ato de seus agentes. Nas palavras do douto José Afonso da Silva, na
essência do preceito a:

“Responsabilidade civil significa a obrigação de reparar os


danos ou prejuízos de natureza patrimonial (e, às vezes,
2
Pertinente comentar que o descrédito do brasileiro com o país se revela tão nítido que a Associação Brasileira de
Anunciantes (ABA) começou a veicular, nessa semana, um série de comerciais, objetivando resgatar o orgulho nacional,
totalmente malferido pelo constante desrespeito à dignidade humana, perpetrado, sobretudo, pelo próprio Estado e pelas
grandes sociedades empresariais.
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moral) que uma pessoa cause a outrem.” (“Curso de
Direito Constitucional Positivo”, RT, 6ª ed., pág. 567).

Logo, a ilegalidade guerreada, por ferir os mandamentos do direito


pátrio, ofendeu o patrimônio imaterial de toda a coletividade. A tolerância
administrativa significou e continua significando o sofrimento de milhões de pessoas
que poderiam e deveriam usufruir de um benefício assegurado constitucionalmente.

Por todo o exposto, não parece pairar dúvida acerca do cabimento da


reparação por danos morais coletivos. Já, no tocante ao quantum apurável para o
ressarcimento do dano coletivo, a ser revertido para o Fundo de Bens Lesados
(“Fluid Recovery”) de que trata o art.13 da Lei da Ação Civil Pública, a melhor
solução se mostra sua fixação de acordo com o costumeiro bom senso e eqüidade
deste juízo.

VI – DA TUTELA ANTECIPADA

Ante o exposto, requer o Ministério Público Federal a concessão de


TUTELA ANTECIPADA, para determinar:

1. à União que implemente, imediatamente, o sistema de


passe livre em todo o sistema de transporte aéreo interestadual para as pessoas
portadoras de deficiência e idosos comprovadamente carentes, que necessitem de
tratamento fora do domicílio (outro estado ou região) – TFD. Para tanto, requer seja
utilizado os conceitos e parâmetros da Portaria Interministerial n.º 003, de
10.04.2001 e da Lei n°10.741/2003;

2. ao Município de Santarém, pois responsável pela


administração do Sistema Único de Saúde, seja dada efetiva prioridade aos casos
de deslocamento de idosos para outros estados da Federação ou região, via aérea,
em prazo estabelecido por médico credenciado pelo SUS, ante a urgência de cada
caso;

3. às prestadoras de serviços de navegação aérea que, no


prazo de 5 (cinco) dias, iniciem a concessão de “passe livre” para todos os
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portadores de deficiência e idosos carentes, que comprovem sua condição, desde
que demonstrado, por laudo médico reconhecido pelo SUS, a necessidade de
transporte para tratamento de saúde;

4. à União, ao Município de Santarém e às companhias


aéreas, no prazo máximo de 30 dias, proceder à ampla divulgação desse direito, por
todos os meios disponíveis (v.g., publicação de avisos na imprensa; notificação ao
DAC e à INFAERO para devida divulgação e fiscalização; avisos nos terminais
aeroportuários, nos guichês e nos pontos de venda de passagem; dentre outras
medidas), a fim de que não seja frustrado pelo desconhecimento por parte de seus
beneficiários;

5. à União, ao Município de Santarém e às sociedades


prestadoras de serviços de navegação aérea rés que disponibilizem,
gratuitamente, um modelo de declaração de carência para os beneficiários desta
Ação Civil Pública, a ser distribuído em todo o SUS e nas empresas integrantes do
sistema de transporte aéreo interestadual do país;

6. à União e às companhias aéreas rés o pagamento de


multa diária (“astreinte”) no valor de R$10.000,00 (dez mil reais) por beneficiário
recusado. Ademais, requer seja fixada multa diária no valor de R$10.000,00 (dez mil
reais) à União, ao Município de Santarém e às sociedades prestadoras de
serviços de navegação aérea para eventual descumprimento de qualquer um dos
pedidos contidos nos itens “4” ou “5” supra arrolados. Por derradeiro, requer-se a
imposição de “astreinte” no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) ao Município de
Santarém, por eventual omissão na obrigatória prioridade envolvendo doentes
idosos ou portadores de deficiência que necessitem de tratamento médico fora do
domicílio;

7. intimação do Departamento de Aviação Civil, na pessoa


de seu superintendente regional, acerca do deferimento da medida liminar, para fins
de fiscalização junto às empresas de transporte aéreo interestadual de seu
cumprimento;

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8. por fim, a extensão do benefício ao acompanhante do
doente, quando se revelar imprescindível sua presença, consoante atestado médico
do SUS (ou de médico credenciado).

Inequívoca, no caso, a presença dos elementos consubstanciadores da


verossimilhança do direito alegado e do fundado receio de dano irreparável ou de
difícil reparação (art. 273. CPC). Nessa esteira, a verossimilhança decorre do
agudo contraste entre a conduta dos réus e as normas constitucionais e legais
explicitadas (recusa da União, do Município de Santarém e das companhias aéreas
em dar cumprimento ao direito de passe livre aéreo intra e interestadual aos
deficientes e idosos carentes que precisam de tratamento médico fora da região
oeste do Pará).

Soma-se o evidente perigo na demora, revelado pelo risco à saúde e,


em última análise, à vida de toda a comunidade de portadores de deficiência e
idosos carentes necessitados de atendimento médico fora da região de Santarém.

De fato, nesse ponto toma-se a liberdade de emprestar a lapidar


decisão, em caso idêntico, do ilustre Desembargador Federal Luiz Carlos de Castro
Lugon:

“Pertinentemente à impossibilidade de medida que esgote


o objeto da ação, o regramento do §2° do art.273, do
CPC, de olhos postos na situação fática, deve ser
relativizado, sob pena de ver-se obstada, em casos
extremos, a concessão do provimento antecipatório.
Assim, põe-se em confronto a segurança jurídica e a
efetividade da jurisdição. Neste quadro, a interpretação
literal ao dispositivo de lei, ver-se-á amparando o
improvável direito do agravante em detrimento do
provável dos portadores de deficiência física carentes
de recursos financeiros. Para o equacionamento da
questão, como ensina Luiz Paulo da Silva Araújo Filho,
citando Egas Moniz de Aragão:

‘Quando o problema consista em determinar onde se


situa o limite da satisfação lícita de um interesse à custa
de outro (...) também digno de tutela, deve o juiz ponderar
os interesses em jogo à luz do chamado princípio da
proporcionalidade: quanto mais grave for a interferência
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do provimento na esfera do peticionado, tanto mais
rigoroso tem de ser o exame do direito e tanto mais
severas hão de ser as exigências a impor a quem cabe
tornar críveis as alegações’ (Da Antecipação de Tutela, in
Revista de Jurisprudência da Seção Judiciária do Rio de
Janeiro, n°3, pg.235, ano 1996).

Assim, a irreversibilidade dos efeitos da medida,


prevista no §2° do art.273 do CPC, não se pode erigir
em impedimento inafastável ao deferimento de
provimento antecipatório em casos como o dos
autos, em que os cidadãos representados pelo
Ministério Público, por absoluta falta de outro
recurso, socorrem-se por meio do fornecimento de
passes aéreos gratuitos. O princípio da
proporcionalidade deve inspirar a prestação
jurisdicional, de jeito que na colisão de interesses
deve o julgador precatar aquele de maior valor, o
qual, no caso, reputo ser o pertencente à categoria
defendida pelo agravado, que necessita do transporte
aéreo para tratamento de saúde adequado.” – grifo
próprio

Por outro lado, o bem da vida aqui postulado ( o direito à integração


econômica e social do portador de deficiência e do idoso carente – bem deveras
caro, a ponto de ser incluído, retoricamente, em todos os programas de governo) é
de insofismável relevância individual e social, razão pela qual sua proteção deve
prevalecer na ponderação de valores, consoante a lição sempre memorável de Teori
Albino Zavascki:

“Efetivamente, ao estabelecer que o juiz poderá, a


requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente,
os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, o
legislador ordinário está, sem dúvida, estabelecendo
restrição ao direito à segurança jurídica, consagrado
pelo art. 5º da Constituição. Justamente por isso, e
conforme evidenciam os incisos do artigo, tal restrição
somente é admitida quando outro direito fundamental (
o da efetividade da jurisdição) estiver em vias de ser
desprestigiado. O desprestígio pode ocorrer a) quando
‘haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação’ (situação que põe em xeque a utilidade prática
da futura sentença ante o possível comprometimento do
próprio direito afirmado na inicial) ou b) (..) E a opção do
legislador, de adotar como técnica de solução a
antecipação provisória do bem da vida reclamado pelo
autor, revela claramente que, na ponderação dos
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valores colidentes, ficou estabelecida uma relação
específica de prevalência do direito fundamental à
efetividade do processo sobre o da segurança
jurídica” – grifo próprio - (Antecipação da Tutela, 1997,
Saraiva, págs. 73/74).

Frise-se que o TRIBUNAL REIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO já se


pronunciou, em sede de Agravo Regimental nº 2003.04.01.01290-0/PR, favorável à
decisão proferida por juízo a quo, no sentido de confirmar a tutela antecipada que
determinava a concessão de passe livre aéreo aos deficientes carentes que
necessitassem de atendimento médico, hospitalar ou ambulatorial, em razão
de problemas relacionados à enfermidade.

Por oportuno e derradeiro, requer-se a concessão de eficácia erga


omnes para a liminar, conferindo-lhe abrangência nacional, em virtude do
interesse ser coletivo, portanto de natureza transindividual e indivisível, consoante
entendimento doutrinário pacífico, sendo inaplicável o art.16 da Lei n°7.347/85.
Destarte, sendo o direito o mesmo em todo o território nacional, seria total
despautério ter eficácia no Pará, todavia não no Amazonas. Seria o mesmo que um
divórcio realizado em Santarém não ter valia em São Paulo, pois o juiz de direito do
Pará somente tem competência em sua comarca, não tendo sua sentença eficácia
erga omnes. Data maxima venia, total teratologia!

VI - REQUERIMENTOS E PEDIDO PRINCIPAL

Em face do exposto, requer o Ministério Público Federal a citação


dos réus para responderem à presente ação, bem como a notificação antecipada da
União e do Município quanto ao pedido de tutela antecipada (Lei 8.437/92),
julgando-se, ao final, procedente o pedido, com vistas à:

(1) confirmação integral da tutela antecipada, julgando-se


procedentes os pedidos;

(2) condenação da União e das empresas aéreas rés em


conceder, independente da necessidade de tratamento médico fora da região
de Santarém, o direito de portadores de deficiência e idosos carentes ao
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“passe livre” no transporte interestadual, nos termos das Leis n°8.899/94 e
n°10.741/2003 (duas vagas por veículo para idosos e duas para portadores de
deficiências), em homenagem ao sagrado direito de efetiva integração social dos
referidos hipossuficientes;

(3) efeito erga omnes, com abrangência nacional, em


homenagem à natureza do direito, bem como ao sistema simbiótico estabelecido
pelo art.21 da Lei n°7.347/85 c/c. arts.90 e 103 da Lei n°8.078/90;

(4) condenação dos réus ao pagamento de danos morais


coletivos, a serem revertidos ao fundo previsto no art. 13 da Lei n.º 7.347/85, pelos
fatos narrados, em montante a ser fixado pelo juízo de acordo com a gravidade da
lesão;

(5) a isenção de custas, despesas e de inesperado ônus da


sucumbência.

Por oportuno, esclarece-se que eventual produto da aplicação das


multas diárias por descumprimento de liminar seja revertido ao fundo fluído a que se
refere o art. 13 da Lei n.º 7.347/85.

Dá-se à causa, para efeitos meramente fiscais, o valor de R$ 10.000,00


(dez mil reais).

Santarém/PA, 11 de agosto de 2004.

GUSTAVO NOGAMI
PROCURADOR DA REPÚBLICA

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