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Prolegômenos a toda Metafísica Futura | Discursus: A filosofia e seus meios
Apresentação – Prolegômenos são para os mestres inventarem uma ciência. Não é obra para
historiadores da filosofia. Começa por saber se a metafísica é possível. É preciso saber que tipo de
ciência é a metafísica. O discernimento chega sempre tarde. Duvidar da metafísica ofende aos
metafísicos. O interesse da razão universal leva ao renascimento da metafísica. David Hume fez um
ataque decisivo contra ela. Hume demonstrou a impossibilidade a priori da conexão entre causa e
efeito. Ele duvidou que o conceito de causa fosse concebido a priori pela razão independente da
experiência. Contra Hume, não é possível apelar para um entendimento comum. Apesar de não ter sido
desenvolvido, seu pensamento fundamentado permite ir mais além do que o pensado. A dedução dos
conceitos metafísicos pelo entendimento puro permitiu limitar seus princípios e conteúdos. Os
Prolegômenos vêm sanar a queixa de obscuridade da Crítica da Razão Pura. A Crítica é sistemática e
completa, enquanto os Prolegômenos são exercidos fundados nos limites do poder da razão pura. Estes
mostram uma nova ciência e sua utilidade. Para isso, conhecimentos antigos não poderão julgar seu
alcance. Renunciouse a uma exposição popular, por uma mais séria e duradoura. A Crítica deve ser
completa em todos elementos da razão pura e nela determinar tudo ou nada. Seguir o plano, deixa ver os
detalhes da exposição. Os Prolegômenos seguem o método analítico em relação ao sintético da Crítica,
para mostrar as articulações com a estrutura de um poder particular de conhecimento.
Prolegômenos: Advertência a respeito das peculiaridades de todo conhecimento
metafísico
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28/03/2017 Resumo de KANT, I. Prolegômenos a toda Metafísica Futura | Discursus: A filosofia e seus meios
§1 – Das fontes da metafísica
É preciso determinar o caráter peculiar da ciência para não confundir seus limites. Na diferença do
objeto, fontes do conhecimento ou modo de conhecimento, deve estar essa característica. A fonte do
conhecimento metafísico está fora da experiência externa ou interna, logo, seu conhecimento é a priori,
de razão pura. Esse conhecimento é denominado filosófico puro, um conhecimento racional por
conceitos, considerando o particular no geral.
§ 2 – Da única espécie de conhecimento que pode ser chamado metafísico
A) Da diferença entre juízo sintético e analítico em geral
O conhecimento metafísico contém juízo a priori. Os juízos analíticos explicam, sem nada acrescentar,
o conteúdo do conhecimento, enquanto o sintético estende e amplia o conhecimento dado. Os juízos
analíticos não afirmam no predicado nada além do que significa o sujeito. O sintético aumenta, no
predicado, o conhecimento, acrescentando algo ao conceito do sujeito.
B) O princípio comum de todos os juízos analíticos é o princípio de contradição
Os juízos analíticos são a priori e fundamse sobre o princípio de contradição. O predicado não pode
negar o que o sujeito afirma.
C) Juízos sintéticos necessitam de um outro princípio que o de contradição
Existem juízos sintéticos a posteriori, de origem empírica, e a priori, da razão pura. Eles exigem outro
princípio, de acordo com o de contradição, para serem gerados.
§ 3 – Observação para a divisão geral dos juízos em analíticos e sintéticos
A divisão entre juízos analíticos e sintéticos é indispensável à critica do entendimento humano.
A questão geral dos Prolegômenos é, em geral, possível a metafísica?
§ 4 – Não há um livro em que se possa apresentar a metafísica. O conhecimento matemático constrói
conceitos, por isso, deve ir além do conceito e alcançar a intuição de modo sintético. Hume teria
afirmado que a matemática pura só contém proposições analíticas e a metafísica, sintéticas a priori. Os
juízos metafísicos são todos sintéticos. Os conceitos metafísicos também pertencem à metafísica como
seus juízos que surgem do simples desmembramentos do conceito. As proposições sintéticas são
produzidas a partir deste desmembramento. O conteúdo da metafísica constituise da produção de
conhecimento a priori, segundo a intuição, os conceitos e proposições sintéticas a priori. O conceito
problemático da metafísica permite responder sobre a possibilidade dessa ciência. O procedimento
metódico dos Prolegômenos é analítico, partindo do conhecimento digno de confiança para suas fontes.
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Questão geral dos Prolegômenos, como é possível um conhecimento pela razão
pura?
§ 5 – As proposições sintéticas a priori devem fundarse em outros princípios que não o de contradição.
Essas proposições existem, mas devese investigar como é possível este conhecimento: o conhecimento
sintético da razão pura. A existência da metafísica depende dessa sedução. Para Hume, só a experiência
pode dar essas conexões. O que é considerado a priori é um hábito de tornar o subjetivo em objetivo. A
solução custou anos para Kant. Na falta dela, nada se pode dizer em nome da razão pura. Sem tal
ciência, a metafísica tornase uma arte de persuasão. Uma nova ciência é necessária para responder a
questão. Há só duas ciências teóricas do conhecimento, a matemática e a física pura que apresentam os
objetos na intuição e mostram a concordância do conhecimento a priori com o objeto concreto na
realidade. Para partir do conhecimento a priori até a ciência metafísica, a questão principal é dividida
em quatro questões sobre a possibilidade da: matemática pura, física pura, metafísica em geral e como
ciência. Investigase as fontes dadas na própria razão o poder de conhecer algo a priori.
Primeira parte da questão transcendental principal
Como é possível a matemática pura?
§ 6 – O poder da razão pura não se apoia em experiências.
§ 7 – Todo conhecimento matemático apoiase numa intuição que não é empírica, mas pura a priori.
Seus juízos são intuitivos. Pela intuição pura a matemática representa in concreto seus conceitos a
priori, construindoos. O juízo sintético a priori, encontrase na intuição pura anterior à experiência ou
percepção particular.
§ 8 – A intuição é uma representação que depende da presença imediata do objeto, mas a pura deve
preceder o próprio objeto.
§ 9 – Só é possível uma intuição pura quando nada mais contém além da forma da sensibilidade que
precede todas as impressões reais pelas quais os objetos podem ser percebidos. Intuições a priori são
apenas para objetos dos sentidos.
§ 10 – Só pela forma da intuição sensível é que se pode perceber a priori as coisas. O espaço e o tempo
são intuições puras as quais fundam a priori os juízos e conhecimentos da matemática. Espaço e tempo
são formas da sensibilidade que precedem à intuição empírica, como eles aparecem e não em si mesmos.
§ 11 – A matemática pura só é possível quando aplicada a objetos do sentido fundados numa intuição
pura, na forma da sensibilidade, ou seja, como espaço e tempo. Os objetos sob essas condições são
simples fenômenos que podem ser representados a priori.
§ 12 – A dedução transcendental dos conceitos de espaço e tempo explica a possibilidade de uma
matemática pura que se funda em intuições a priori e propõe proposições de valor sintético e
apodíctico. Tudo que se apresenta aos sentidos externo de espaço e interno de tempo é percebido em sua
aparência fenomenal e não em si.
§ 13 – A imagem espectral não pode substituir a real por ser invertida. Esses objetos fundamse na
relação de coisas conhecidas em si com a sensibilidade. Não se pode compreender a diferença de coisas
iguais e incongruentes que incide na intuição apenas por conceitos.
Observação I – Todos objetos exteriores devem coincidir com as proposições da geometria, porque a
sensibilidade externa espacial torna possível aqueles objetos como meros fenômenos, sem recorrer às
fontes dos conceitos.
Observação II – Todo objeto é dado na intuição, mediante os sentidos. O entendimento não tem
intuição. Os sentidos não permitem conhecer a coisa em si. Logo, tudo que é externo não passa de
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representação, existindo só no pensamento. Ao invés do idealismo, afirmase a existência de corpos
exteriores, desconhecendo seus teores em si mesmos. Todas propriedades que formam a intuição do
corpo pertencem só a fenômenos. Pelos sentidos não se pode conhecer como ele é em si mesmo.
Observação III – O conhecimento sensível não representa as coisas como elas são apenas o modo como
afetam os sentidos, fornecendo simples fenômenos ao entendimento. A diferença entre verdade e sonho
resulta da conexão segundo as regras que ligam as representações ao conceito de objeto e sua
possibilidade de existir numa experiência. A experiência não deve ser atribuída aos sentidos, mas sim
ao entendimento que profere o juízo objeto do fenômeno. Isso depende do uso das representações
sensíveis no entendimento e não de sua origem. Elas podem ser bem ligadas na experiência, segundo as
regras da verdade. O erro pode surgir quando a condição da intuição subjetiva foi dada como
universalmente válida para toda experiência, como coisas em si e não como condição da experiência.
Assim, podese estabelecer a validade da matemática pura e da geometria em relação a todos objetos do
mundo sensível, enquanto fenômenos. O fenômeno restrito à experiência proporciona a verdade.
Quando transcende os limites da experiência são meras aparências. O idealismo transcendental não
duvida da existência das coisas. Ele relacionase com a representação sensível das coisas: o espaço e o
tempo. Os fenômenos não são coisas, mas modos de representação. Transcendental é a relação do
conhecimento com a faculdade de conhecer, por isso pode ser chamado idealismo crítico.
Segunda parte da questão transcendental capital
Como é possível a ciência pura da natureza?
§ 14 – O entendimento não pode fornecer a priori nenhuma regra das coisas em si. A experiência ensina
o que existe e como existe, pois a natureza é a existência das coisas como leis universais determinantes.
Porém, a posteriori a experiência nunca mostra como a coisa deve ser necessariamente e não de outra
maneira. Portanto, não se pode ensinar a natureza das coisas em si.
§ 15 – Entre os princípios da física geral, alguns possuem universalidade e existência a priori, como as
de substância e causa; outros dependem da experiência. Todavia, é possível falar de uma ciência pura da
natureza.
§ 16 – A natureza material é o conjunto de todos objetos da experiência. O objeto da experiência pode
comprovar, ao contrário dos objetos da mente, a realidade do conhecimento da natureza possível a
priori.
§ 17 – O formal da natureza é a regularidade dos objetos da experiência a priori. As leis subjetivas
valem para as coisas como objetos de uma experiência possível. Não se pode estudar a priori a natureza,
sem investigar as condições e as leis universais. Pretendese mostrar como as condições a priori são as
fontes da possibilidade da experiência de onde derivam todas as leis universais da natureza.
§ 18 [Unidade do objeto] – Para serem juízos de experiência, os juízos empíricos devem ser
acrescentados de conceitos particulares a priori e terem validade objetiva. Os juízos empíricos válidos
subjetivos são juízos de percepção. Os conceitos especiais do entendimento tornam o juízo de
experiência válido objetivamente. Quando um juízo concorda uns com os outros. Quando o conceito
puro de entendimento torna um juízo como necessário e universalmente válido ele será objetivo. A
unidade do objeto garante a concordância de todos juízos que concordam entre si.
§ 19 – Conhecese o objeto pela conexão universalmente válida e necessária das percepções dadas. A
validade universal dos juízos empíricos fundase num conceito de entendimento puro. Para que um
juízo de percepção tornese de experiência, todos devem necessariamente ligar a mesma percepção às
mesmas circunstâncias.
§ 20 – Não basta comparar percepções e conectálas pelo juízo numa consciência. É preciso um
conceito de entendimento puro a priori para determinar, em geral, a forma do julgar com relação à
intuição, como o conceito de causa. Assim, a percepção é subsumida sob o conceito de entendimento
relacionado, tornando o juízo empírico universalmente válido. Os juízos sintéticos objetivamente
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válidos seriam impossíveis sem acrescentarem o conceito puro do entendimento aos conceitos da
intuição.
§ 21 – Os conceitos do entendimento puro nada mais são que conceitos de intuições em geral, em
relação aos momentos do julgar em si mesmos.
§ 21a – O juízo de experiência deve ser composto por intuição sensível, conexão lógica e um conceito
que representa a intuição como determinada em si e as outras, a unidade sintética das intuições feita
pela lógica dos juízos.
§ 22 – Os sentidos intuem e o entendimento pensa. Pensar é unir representações numa consciência
subjetiva ou objetiva. Essa união dáse num juízo que pode ser analítico ou sintético. A experiência é a
conexão sintética necessária de fenômenos numa consciência.
§ 23 – Juízos da união de representações na consciência são regras a priori, quando necessária. São
princípios quando não puderem ser derivados de nenhum outro juízo. Os princípios de uma experiência
possível são leis universais a priori da natureza. As condições formais de todos os juízos em geral
constituem um sistema lógico e os conceitos a priori de todos juízos sintéticos e necessários formam um
sistema transcendental. Os princípios que subsumem todos fenômenos sob esses conceitos são um
sistema fisiológico da natureza, a ciência pura da natureza.
§ 24 – O princípio de aplicação da matemática à natureza é o primeiro princípio fisiológico, subsumido
sob o conceito de grandeza. O segundo princípio subsume a sensação sob o conceito de graduação.
§ 25 [Existência na natureza] – A relação existencial dos fenômenos é dinâmica. Por isso, os fenômenos
devem ser subsumidos ao conceito de substância, a fim de determinar a sua existência. Princípios a
priori servem de fundamento a juízos objetivamente válidos sobre existência de objetos na natureza.
Esses princípios são chamados dinâmicos. O conhecimento da concordância e conexão com as
condições formais do entendimento pertence aos juízos empíricos e contém a possibilidade, realidade e
necessidade das leis gerais da natureza.
§ 26 – Todas as coisas estão sujeitas necessariamente a priori, como objetos da experiência às
condições formais do entendimento. Os princípios não se referem aos fenômenos e sua relação, mas à
possibilidade da experiência, a proposições sintéticas e válidas objetiva e universalmente, distinguindo
juízos de experiência dos juízos de percepção. A demonstração dos princípios nada mais pode ser além
da determinação da existência no tempo segundo leis necessárias.
§ 27 – Ao contrário do que afirmava Hume, os conceitos e os princípios são estabelecidos a priori a
toda experiência e são objetivos, e acima de dúvidas no que diz respeito à experiência.
§ 28 – A questão resumese a saber como o conhecimento dos objetos da experiência pode e deve ser
subsumida sob o conceito de entendimento puro, como princípios da possibilidade da experiência.
§ 29 [Causalidade] – O conceito de causa pertence necessariamente à simples forma da experiência e
sua possibilidade como união sintética das percepções numa consciência em geral. O conceito de causa
é uma condição inerente à experiência, já que o antecedente pode ser ligado ao consequente, segundo
as regras dos juízos hipotéticos.
§ 30 – Os conceitos do entendimento puro não têm significação fora da experiência. Os exemplos só
podem ser tirados de uma experiência particular. As leis do entendimento não derivam da experiência.
Pelo contrário, a experiência é que deriva delas. Todos princípios a priori são de experiência possível e
não podem se relacionar com coisas em si, mas só com fenômenos, objetos da experiência.
§ 31 – Esses são os limites dos domínios da metafísica. Na razão, há muitos princípios que não são
empíricos e válidos a priori.
§ 32 – Os fenômenos, seres do mundo sensível, têm realidade tanto quanto os noúmenos, seres do
mundo inteligível. Ao admitir os fenômenos, o entendimento aceita a existência de coisas em si, o que
torna a representação de seres inteligíveis inevitável. Porém, nada de determinado podese saber dos
noúmenos, pois o entendimento e a intuição puros referemse apenas a objetos da experiência possível,
aos seres sensíveis.
§ 33 – Os conceitos transcendentais do entendimento puro parecem referirse aos noúmenos, às coisas
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em si. Essa aparência permite ao entendimento construir conceitos que vão além do uso da experiência,
acessível apenas a seres pensantes.
§ 34 – Os sentidos não oferecem os conceitos do entendimento puro em concreto, mas só o esquema de
uso e os objetos na experiência. Assim, todos os noúmenos e o mundo inteligível não passam de
representação de um problema, cuja solução é impossível, por não ter o entendimento um poder de
intuição. Fora da intuição sensível, todos os conceitos são destituídos de significação.
§ 35 [Aplicação dos conceitos] – O entendimento deve pensar e não divagar, pois ele tem poder de
impor limites às divagações da imaginação. Os conhecimentos anteriores à experiência devem ter
sempre sua aplicação na experiência. Devese esclarecer a impossibilidade das suposições dogmáticas e
a ciência do autoconhecimento da razão.
§ 36 [Matéria e forma] – O sentido da natureza é explicado pela condição da sensibilidade que é
afetada por objetos desconhecidos em si mesmo e distinto do fenômeno. O sentido formal só é possível
devido à condição do entendimento que relaciona as representações sensíveis na consciência por meio
de regras e pela experiência distinta dos objetos em si. As características do entendimento e da
sensibilidade não podem ser dadas fora desses conceitos. A natureza em geral não pode ser conhecida
por nenhuma experiência, pois esta precisa de leis a priori para sua possibilidade. A lei da natureza só
pode ser tirada dos princípios de conexão dos fenômenos e das condições dessa união na consciência. A
lei suprema da natureza deve estar em nosso entendimento das condições de possibilidade da
experiência da sensibilidade e do entendimento. As leis universais da natureza podem e devem ser
conhecidas a priori e servir de fundamento a todo uso empírico do entendimento. O entendimento não
cria suas leis a priori, a partir da natureza, mas as prescreve.
§ 37 [Leis dos objetos] – As leis dos objetos da intuição sensível que são necessárias, foram postas pelo
entendimento.
§ 38 – A lei de gravitação universal fundase em leis dos princípios universais da determinação do
espaço que o entendimento conhece a priori. O espaço é o substrato de todos objetos particulares de
intuição determináveis, a condição de possibilidade e multiplicidade de intuições. O entendimento é a
origem da ordem universal da natureza, constituindo a forma da experiência a priori. Assim, o mundo
dos sentidos não é um objeto da experiência ou é uma natureza.
Apêndice à ciência pura da natureza
Do sistema das categorias
§ 39 [Categorias] – Devese derivar a multiplicidade de conceitos sob um princípio a priori e unilos
todos num conhecimento sistemático. Tirar da experiência a forma da conexão dos conceitos que estão
fora da experiência é o mesmo que extrair a gramática de uma língua natural. As categorias aristotélicas
foram rejeitadas como fantasia inútil. Os conceitos puros da sensibilidade – espaço e tempo –
eliminaram a necessidade daquela classificação. As categorias predicáveis foram propostas a partir do
sistema transcendental. As categorias são funções lógicas que servem só para determinar juízos
empíricos, tornandoos válidos e possíveis por meio de juízos de experiência. As categorias estão
limitadas ao uso da experiência. Assim, também surgiu a tábua dos princípios que vai além do uso
fisiológico do entendimento. Esse sistema exclui todos os conceitos estranhos dos conceitos do
entendimento puro, determinando cada conhecimento em seu lugar, segundo um princípio universal.
Terceira parte da questão transcendental principal
Como é possível a metafísica em geral?
§ 40 – A matemática e a física não necessitam da investigação crítica por elas, mas para a metafísica. A
metafísica necessita dessa investigação por si mesma. Os conceitos de razão referemse à completude e
por isso vão além de toda experiência, tornandose transcendentes. As ideias estão na natureza da razão
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como as categorias estão na do entendimento. O autoconhecimento da razão é o único preservativo
contra suas aberrações.
§ 41 – A metafísica só é possível quando distingue os conceitos de razão pura dos conceitos do
entendimento.
§ 42 [Entendimento e razão] – Os conhecimentos do entendimento puro e seus princípios podem ser
comprovados na experiência. Os conhecimentos de razão transcendente não podem ser dados pela
experiência, nem comprovados. Para corrigir seus erros, a razão deve submeterse a um exame subjetivo.
§ 43 [Três ideias da razão] – Desde a Crítica da Razão Pura fazse a distinção entre as várias espécies
de conhecimento. As ideias transcendentais são encontradas na atividade da razão que constitui o
elemento lógico dos raciocínios. Os conceitos da razão são divididos entre ideias psicológicas, sobre o
sujeito completo; cosmológicas, a série completa das condições; e teológicas, a determinação dos
conceitos numa totalidade do que é possível. Cada uma delas geram uma dialética dividida em
paralogismos, antinomia e ideal.
§ 44 – As ideias da razão não são úteis para o uso do entendimento em relação à experiência. As ideias
da razão devem contribuir para a perfeição do entendimento. A razão pura visa a totalidade do uso do
entendimento no encadeamento da experiência, que é a totalidade dos princípios e não da intuição e
dos objetos.
§ 45 – Observação provisória para a dialética
O desvio da razão para coisas em si gera noúmenos que servem para tornar possível a regularidade da
experiência, mas sem as condições da intuição. Apesar de contribuir para a ampliação ilimitada do uso
da experiência, as ideias transcendentais levam o entendimento a um uso transcendente ilusório, que só
pode ser evitado com muito esforço.
I. Ideias psicológicas (Crítica p.342 e ss)
§ 46 [O eu] – A razão pura exige que, para cada predicado de uma coisa, haja um respectivo sujeito.
Porém, o último sujeito e o substancial nunca pode ser pensado pelo entendimento, pois este pensa tudo
por conceitos, através de predicados aos quais falta sempre o sujeito absoluto. Todas as propriedades
dos corpos são simples acidentes. Todos os predicados do sentido interno referemse ao eu, como sujeito
substancial. Mas esse eu não é um conceito, não sendo conhecido por predicados, por isso não serve
como conceito determinado de um sujeito absoluto. Serve apenas como princípio regulador para
destruir todas as explicações materialistas dos fenômenos da alma e a pretensão de um conhecimento
substancial do ser pensante fora da experiência.
§ 47 [Eu como substância] – A alma, entendida como sujeito último do pensamento, pode ser chamada
de substância, mas é um conceito vazio e sem consequência se não for aquilo cuja permanência torna
fecundo o conceito de substâncias na experiência. A permanência, no entanto, só pode ser provada
como experiência, pois o esquema da substância é a permanência do real no tempo, como um substrato
da determinação empírica temporal, em geral, que permanece enquanto tudo muda. Essas proposições
sintéticas a priori só podem ser provadas apenas em relação a coisas de uma experiência possível.
§ 48 – A vida é a condição subjetiva de toda experiência possível. Por isso, a permanência da alma só
pode ser provada na vida humana e não após a morte.
§ 49 – O que é intuído no espaço é empírico. O espaço pertence às representações que mostram a sua
verdade objetiva e a ligação dos fenômenos do sentido interno. A alma, como objeto do sentido interno,
tornase consciente pela experiência externa e interna. O idealismo material pode, assim, ser refutado,
uma vez que a experiência da existência dos corpos no espaço é tão certa como sua representação no
sentido interno, no tempo. O espaço é tão real como o eu, enquanto forma da sensibilidade. A verdade
empírica dos fenômenos existentes como representação no sujeito.
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II. Ideia cosmológica (Crítica, p.405 e ss)
§ 50 – A ideia cosmológica é o fenômeno mais importante do uso transcendente da razão pura. Ela
estende a ligação do condicionado com a condição. Seu objeto nunca pode ser dado pela experiência.
§ 51 [Quatro antinomias] – Segundo as ideias cosmológicas, há quatro teses e antíteses dialéticas da
razão pura:
Teses
Antíteses
§ 52 – Tanto as teses como as antíteses podem ser estabelecidas por provas irresistíveis.
§ 52b – Os conceitos usados pelas ideias cosmológicas não são fornecidos pela experiência, por isso,
não há exatidão ou prova afirmativa ou negativa. Elas revelam a ilusão dialética da razão pura no uso
desses princípios. A impossibilidade de um conceito está em duas proposições contraditórias serem
falsas, nenhuma proposição pode ser concebida entre elas, logo nada absolutamente é pensado desse
conceito.
§ 52c [Grandeza e divisão] – A grandeza do mundo é impossível de ser provada como finita ou não
pelos conceitos da representação. O conceito de um mundo sensível em si é contraditório e a
experiência não pode dar uma solução afirmativa ou negativa para essa questão. A divisão dos
fenômenos também não pode admitir a existência de um simples fenômeno, antes da experiência, nem
sua divisão além desta.
§ 53 [Necessidade e liberdade] – A falsidade das antinomias matemáticas – sobre a finitude e
simplicidade do mundo – está na concepção contraditória de um fenômeno como coisa em si,
conciliável num conceito. Nas antinomias dinâmicas – da liberdade e necessidade , o conceito
conciliável é considerado contraditório. No conceito de causalidade a homogeneidade não é necessária.
A necessidade de um ser é referida aos fenômenos e a liberdade só às coisas em si. Nos fenômenos, a
necessidade natural é a condição que determina as causas eficientes. A liberdade é a finalidade de
começar por si mesma um evento. Nas conexões de causa e efeito do mundo sensível, há uma
necessidade natural e quanto à causa, como coisa em si, é livre. Enquanto fenômeno, uma coisa é efeito
necessário, por outro lado é uma coisa em si livre. A razão é a faculdade que faz parte dos fenômenos,
em seus princípios subjetivos, e, ao mesmo tempo, referese a princípios objetivos que a determinam
como a conexão de dever. Todas as ações de seres racionais, enquanto fenômenos, estão submetidas à
necessidade natural, mas, relativa ao sujeito em si, a ação por razão pura é livre. Quando a razão é a
causa das leis naturais, ela é livre. Quando os efeitos decorrem das leis naturais da sensibilidade, a razão
não exerce influência, portanto, há necessidade natural. Por não ser a razão determinada pela
sensibilidade, a liberdade não impede a lei natural dos fenômenos, e esta não prejudica a liberdade no
uso prático da razão. Podese conceber, nos seres em geral, cuja causalidade é determinada como coisas
em si, a faculdade de começar por si uma série de estados. Essas causas determinantes não se encontram
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28/03/2017 Resumo de KANT, I. Prolegômenos a toda Metafísica Futura | Discursus: A filosofia e seus meios
sob condições materiais. A causa do mundo sensível não é necessária por ser fenomenal, o ser necessário
é a causa determinante e livre.
§ 54 – Não é possível resolver as antinomias da razão, enquanto os objetos do mundo sensível forem
considerados como coisas em si.
III. Ideia teológica (Crítica, p.571 e ss)
§ 55 – A terceira ideia transcendental de um ser primeiro e supremo determina a possibilidade e
realidade de todas as coisas. Esse pressuposto não é pensado na série da experiência, mas é em vista dela
concebido para a compreensão das suas conexões, ordem e unidade.
Observação geral sobre as ideias transcendentais
§ 56 [Integralidade] – As ideias transcendentais não podem ser dadas pela experiência, mas pela razão
e devem ser resolvidas por elas mesmas. A ideia de um todo do conhecimento fornece a unidade de um
sistema. A unidade do modo de conhecimento, constitutivo e regulativo, na realidade, como
possibilidade de ir além da experiência, permite à razão servir para levar a experiência em si mais perto
da integralidade.
§ 57 Conclusão da determinação dos limites da razão pura
Todos os conceitos do entendimento puro visam tornar possível a experiência. Porém, é absurdo
considerar os princípios de possibilidade da experiência como condições universais das coisas em si. A
experiência nunca satisfaz a razão. A razão encontra espaço para o conhecimento das coisas em si. A
razão não conhece limites que não possa alcançar. A metafísica esta predisposta nos homens e não é
produto de escolha ou progresso do conhecimento da experiência. Só no conhecimento da coisa em si, a
razão pode ser satisfeita e ter a completude do progresso do condicionado às suas condições. As ideias
transcendentais determinam os limites da razão pura. Só nos noúmenos a razão encontra completude e
satisfação. Mas esses não podem ser conhecidos por si, entretanto, são admitidos na relação com o
mundo sensível e ligados pela razão. A insuficiência dos fenômenos leva a um conceito de um ser
independente que é condição de sua determinação. O entendimento humano é discursivo e só conhece
se por conceitos gerais. Porém, o recurso ao antropomorfismo leva o conceito de ente supremo à
condução, pois ele não pode ser determinado pelo homem. A razão é limitada a não estender o
conhecimento da experiência fora de seus limites e não julgar coisas fora como coisas em si. O
antropomorfismo dogmático é substituído pelo simbólico, através do uso da linguagem e não da relação
ao objeto. O mundo sensível referese ao desconhecido, que se conhece por se referir ao homem e sua
relação com o mundo do qual faz parte.
§ 58 [Analogia] – A analogia é uma semelhança perfeita de duas coisas dessemelhantes, quanto à
relação, como entre as leis da física e o direito. Assim, nada impede de se atribuir ao ser supremo uma
causalidade por meio da razão, sem que esta lhe seja atribuída nele mesmo como propriedade inerente.
A razão, então não é transferida ao ente, mas à relação dele com o mundo sensível. O fundamento da
razão suprema é dada pela relação da causa suprema com o mundo. Ao lado da limitação do uso da
razão à toda experiência possível, não se considera o campo da experiência como aquele que se limita
por si perante a razão.
§ 59 – A limitação do campo da experiência é o conhecimento que resta à razão mediante o qual
circunscreve a relação do que está fora com o que está dentro do mesmo limite. A razão vai além da
experiência sensível para dirigir seu próprio uso dentro deste, apesar de proceder apenas por analogia.
Essa limitação não impede que se chegue ao limite da experiência, à relação com algo que deve ser o
fundamento supremo de todos os objetos da experiência em respeito a seu uso no campo da experiência
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28/03/2017 Resumo de KANT, I. Prolegômenos a toda Metafísica Futura | Discursus: A filosofia e seus meios
possível.
§ 60 – Essa é a predisposição natural da razão humana. A metafísica quer encontrar os fins da natureza,
pois tudo que se encontra na natureza deve ter sido predisposto a algum fim útil. Essa disposição visa
libertar nosso conceito das experiências e das barreiras da observação da natureza e permitir o acesso
aos objetos da razão pura, que não podem ser alcançados pela sensibilidade. Assim, podese estender a
universalidade necessária ao fim moral. As ideias psicológicas servem para desviar o materialismo. As
ideias cosmológicas evitam o naturalismo e as ideias teológicas afastam o fatalismo. O uso prático da
especulação tem uma unidade com o prático na moral. A natureza é encontrada na relação da
sensibilidade com o entendimento. A unidade da experiência possível num sistema chega ao
entendimento em relação à razão e sua legislação.
Solução da questão principal do Prolegômenos
Como é possível a metafísica como ciência?
A metafísica, como disposição natural da razão, é real, mas dialética e ilusória por si mesma. Para ser
ciência, ela deve gerar o conhecimento e a convicção. Os conceitos a priori devem ser divididos entre a
sensibilidade, entendimento e a razão. Deve também deduzir o conhecimento sintético a priori e seus
limites no sistema completo. A metafísica não é contada entre as ciências fundamentais. A lei da
necessidade fornece ao espírito universal da filosofia um novo objeto de estudos através dos
Prolegômenos. A crítica da razão pura deve investigála e submetêla à prova universal. A metafísica
ainda não pôde demonstrar a priori suas proposições. A metafísica como ciência não existiu até agora. O
recurso à probabilidade e ao entendimento sadio comum estão proibidos. O conhecimento a priori deve
ser apoditicamente certo. As regras a priori e independentes da experiência competem ao entendimento
especulativo e não ao entendimento comum. A metafísica só pode recorrer a conhecimentos universais.
Apêndice do que pode ser feito para tornar a metafísica como ciência
A investigação dos princípios da crítica deve anteceder todo juízo a respeito de seu
valor ou não
Ensaio de um juízo sobre a crítica que deve anteceder à investigação
O idealismo transcendental afirma que todo conhecimento das coisas é ilusório se for tirado só do
entendimento puro ou da razão pura. Só na experiência há verdade. Espaço e tempo pertencem aos
fenômenos das coisas. Ambos são conhecidos a priori como forma pura da sensibilidade que torna
possível toda intuição dos fenômenos. Eles prescrevem a priori a lei de toda experiência possível,
fornecendo critério para distinguir a ilusão da verdade. O conhecimento a priori recebe realidade
objetiva, a partir da idealidade do tempo e do espaço.
Proposta para uma investigação da crítica, à qual pode suceder o juízo
Todos os conhecimentos e fins da razão devem encontrarse e unir numa totalidade. A crítica dá critério
ao juízo para distinguir o saber da ilusão. Fundamenta uma maneira de pensar e liberta o juízo da
especulação dogmática. As aberrações são afastadas da metafísica pela filosofia crítica, transformando
se em uma ciência de real utilidade para todos.
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