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apply the Law in a politics outlook where it foram nomeados diretamente pelo Presidente da
remains ignored. The verdict brought to light República, depois de escolhidos pelo Ministro
legal means as the state’s strict liability, which da Justiça do governo militar, o que demonstra
were still effective at that time, being its use a preocupação do governo da época em que as
completely possible. decisões lhes fossem favoráveis. Apenas por
From that point, one brief analysis based volta de 1973 passaram a ocorrer novamente
on the Constitutional law and the Criminal law concursos para juízes federais.
leads to the conclusion that, back to that days, Nesse contexto, em 25 de outubro de 1978,
crimes such as torture, murder and sexual crimes quando se completavam exatos três anos da mor-
were completely reprehensible and punishable te do jornalista Vladimir Herzog, o juiz Márcio
from the legal point of view, even under the José de Moraes assinou uma sentença única na
effectiveness of the Institutional Acts, and that vida política do país, evidenciando a possibili-
the interpretation given to the Amnesty Law is dade de independência do Poder Judiciário e o
extremely doubtful. Finally, it is highlighted dever que este tem de aplicar o Direito, inclusive
the importance of the society and the jurists in para fazer com que a Administração Pública res-
the process concerning the transition justice, ponda pelos seus atos. Aliás, é essa justamente a
allowing the knowledge of the truth and the função de tripartição dos poderes proposta por
recognition of the mistakes in order to prevent Montesquieu, qual seja, a de que, por meio de
that such shameful and everlasting marks as of um sistema de freios e contrapesos, haja harmo-
the Dictatorship would come back to stain the nia entre Executivo, Legislativo e Judiciário de
history of Brazil. maneira que nenhum dos Poderes ultrapasse a
Keywords: Dictatorship; Herzog; Brazil; Law; sua representatividade pública e usurpe o Poder
jurists; Amnesty Law; truth. na defesa de interesses particulares.
Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi
preso e veio a falecer no mesmo dia nas depen-
1) A função Poder Judiciário, como dências do DOI CODI (Destacamento de Opera-
Poder Independente, no processo ções de Informações do Centro de Operações de
de abertura política Defesa Interna- órgão encarregado de investigar
e obter confissões dos pretensos envolvidos no
O presente artigo objetiva ressaltar a im-
processo de dissidência política).
portância dos juristas, e, sobretudo do Direito,
no contexto político do período de transição O jornalista em tela foi procurado pelo DOI
marcado pelo fim da ditadura e a volta do re- CODI e comprometeu-se, para não ser preso
gime democrático. Dessa forma, se buscará instantaneamente, a comparecer no dia seguinte
demonstrar que exercer uma carreira jurídica não às dependências do referido órgão. Em razão
significa uma aplicação meramente mecanicista disso, na época, o governo insistiu na tese de
de normas jurídicas. Um verdadeiro jurista deve que Herzog teria se apresentado voluntariamente
estar apto a fazer interpretações sistemáticas e ao DOI CODI e ali teria se suicidado. A versão
principiológicas das normas, sob pena de tra- apresentada era totalmente absurda e não con-
zer conseqüências extremamente deletérias à seguiu ludibriar os mais próximos do falecido,
sociedade. ou mesmo a população.
O caso do jornalista Vladimir Herzog foi Ficou de tal maneira evidente que o jor-
emblemático no que se refere à missão do Poder nalista fora exterminado pelo dentro de um
Judiciário no contexto político, merecendo, por órgão governamental que o caso gerou grande
isso, abordagem mais detalhada. Primeiramente, divulgação e comoção popular. Uma semana
oportuno lembrar que em 1965, um ano após o após a morte de Herzog oito mil pessoas se
golpe militar de 1964, por meio do Ato Institu- concentraram na catedral da Sé em São Paulo
cional nº 2 os Juízes Federais de Primeiro Grau para um ato ecumênico, manifestação essa fun-
“habeas corpus” nos casos de crimes políticos, do Poder Estatal, uma vez que este, diferente-
contra a ordem nacional, a ordem econômica e mente dos particulares, só pode fazer o que a
social e a economia popular. lei permite).
Desta feita, resta claro que os atos insti- Logo, há uma necessidade de desfazer
tucionais, cujo mais autoritário foi o AI5, insti- a ideia de que as atrocidades cometidas pelos
tuíram uma série de limitações aos direitos e à agentes do governo durante o regime militar,
liberdade que os cidadãos tem em uma ordem de- pelo simples fato de estarem supostamente sob
mocrática. Contudo, a Constituição de 1967 não a anuência estatal, seriam atos legais.
foi totalmente revogada pelos atos institucionais, Nesse sentido, não há dúvidas de que todos
de maneira que plenamente possível a invocação os interrogatórios realizados por meio de tortura
de dispositivos da referida Carta Magna que não e crimes sexuais, assim como os homicídios
contrastassem com os posteriores, tais como o § oriundos desses meios inquisitivos, foram ile-
11 do artigo 150 : gais, mesmo na hipótese de se considerar que
tais condutas tenham sido eventualmente reali-
“ § 11 - Não haverá pena de morte, de
zadas a mando estatal, haja vista que não havia
prisão perpétua, de banimento, ou con-
previsão constitucional autorizando as condutas
fisco, salvo nos casos de guerra externa
supramencionadas.
psicológica adversa, ou revolucionária
ou subversiva nos termos que a lei de- Mesmo que assim não fosse, ou seja, su-
terminar. Esta disporá também, sobre o pondo para efeitos meramente argumentativos
perdimento de bens por danos causados que algum Ato Institucional tivesse previsto
ao Erário, ou no caso de enriquecimento expressamente a permissão de todo e qualquer
ilícito no exercício de cargo, função ou tipo de tortura, de tratamento cruel ou degradan-
emprego na Administração Pública, te, ainda assim, poder-se-ia sustentar, embora
nesse caso mais arduamente que no anterior, a
Direta ou Indireta.”
ilegalidade de tais condutas.
Portanto, como não havia nenhum dis- Isso porque precede à análise da legalidade
positivo expresso autorizando o assassinato, a a questão da legitimidade. O fato de os militares
tortura ou a práticas de crimes sexuais contra terem utilizado seu material bélico e poder de
os prisioneiros, mesmo que acusados de crimes influência, sobretudo pela manipulação da mídia,
políticos, claramente prevaleciam as disposi- para realizar o que foi por eles denominado de
ções do ordenamento jurídico anterior aos Atos revolução e por muitos chamado de golpe teria
Institucionais (sobretudo em relação aos limites o condão de lhe conferir a imputação de Poder
Art 6º - Ficam suspensas as garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em
funções por prazo certo.
§ 1º - O Presidente da República poderá mediante decreto, demitir, remover, aposentar ou pôr em disponibilidade quaisquer titulares das garantias
referidas neste artigo, assim como empregado de autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista, e demitir, transferir para a reserva
ou reformar militares ou membros das polícias militares, assegurados, quando for o caso, os vencimentos e vantagens proporcionais ao tempo de
serviço.
§ 2º - O disposto neste artigo e seu § 1º aplica-se, também, nos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios.
Art 7º - O Presidente da República, em qualquer dos casos previstos na Constituição, poderá decretar o estado de sítio e prorrogá-lo, fixando o
respectivo prazo.
Art 8º - O Presidente da República poderá, após investigação, decretar o confisco de bens de todos quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no
exercício de cargo ou função pública, inclusive de autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, sem prejuízo das sanções penais
cabíveis.
Parágrafo único - Provada a legitimidade da aquisição dos bens, far-se-á sua restituição.
Art 9º - O Presidente da República poderá baixar Atos Complementares para a execução deste Ato Institucional, bem como adotar, se necessário
à defesa da Revolução, as medidas previstas nas alíneas d e do § 2º do art. 152 da Constituição.
Art 10 - Fica suspensa a garantia de habeas corpus , nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a
economia popular.
Art 11 - Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato institucional e seus Atos Complementares,
bem como os respectivos efeitos.
Art 12 - O presente Ato Institucional entra em vigor nesta data, revogadas as disposições em contrário.
Brasília, 13 de dezembro de 1968; 147º da Independência e 80º da República.
Constituinte Originário? Para aqueles que enten- aos torturados, posição em sentindo diverso é
derem ser a resposta negativa, nenhuma previ- plenamente defensável, inclusive por uma in-
são dos Atos Institucionais pode ser tida como terpretação simplesmente gramatical da lei de
legítima, haja vista que não foram seguidos os anistia, in verbis :
requisitos formais e materiais para o exercício Art. 1º É concedida anistia a todos
do Poder Constituinte Reformador. quantos, no período compreendido
Isto posto, elidem-se os argumentos de que entre 02 de setembro de 1961 e 15 de
haveria impossibilidade de responsabilização dos agosto de 1979, cometeram crimes
agentes que cometeram torturas e homicídios políticos ou conexo com estes, crimes
durante a ditadura com a justificativa de que eleitorais, aos que tiveram seus direitos
tais atos estariam sob o manto da legalidade na políticos suspensos e aos servidores da
época, poderiam até estar sob o manto da gover- Administração Direta e Indireta, de
nabilidade, mas não da legalidade. fundações vinculadas ao poder público,
A hipótese de o próprio Estado ter acober- aos Servidores dos Poderes Legislativo e
tado, aprovado e até ordenado o cometimento Judiciário, aos Militares e aos dirigen-
de atos totalmente desumanos para defender tes e representantes sindicais, punidos
interesses políticos de maneira alguma poderia com fundamento em Atos Institucionais
sanar o vício da ilegalidade. O que poderia o e Complementares (vetado).
ocorrer, no máximo, é que o inferior alegasse
obediência hierárquica para não ser punido, na § 1º Consideram-se conexos, para
remota possibilidade de se considerar crível que efeito deste artigo, os crimes de qual-
os crimes cometidos na ditadura não fossem tidos quer natureza relacionados com crimes
como manifestamente ilegais. políticos ou praticados por motivação
política.
Contudo, os dirigentes do sistema de
justiça (Ministério Público e Poder Judiciário), Assim, a lei de Anistia estabelece anistia
mesmo entendendo serem ilegais todos os atos para os crimes políticos e para os crimes cone-
criminosos cometidos sob a égide da ditadura, xos2 aos políticos, ou seja, aqueles que tenham
não deram seguimento os processos com fulcro sido cometidos, basicamente, para facilitar ou
na Lei de Anistia, que, segundo a interpretação ocultar crimes políticos. Nesse sentido, plena-
da grande maioria dos doutrinadores e políticos mente defensável que os crimes de tortura e
seria recíproca, ou seja, tanto para aqueles que homicídio cometidos pelos agentes estatais não
torturaram e mataram quanto para os que foram seriam crimes conexos, haja vista não se subsu-
torturados e mortos em razão de uma ideologia mirem ao conceito de conexão nem poderem ser
política. considerados crimes praticados por motivação
política pelo simples fato de as vítimas serem
os dissidentes políticos à época, pois deve ser
3) Anistia no Estado Democrático analisada a conduta em si e não o sujeito passivo.
brasileiro O fato de as vítimas serem pessoas acusadas de
supostos crimes considerados políticos na época
Há que se considerar que, apesar de o da ditadura militar não pode conferir à tortura, ao
conceito de anistia ter se propagado como recí- homicídio e aos crimes sexuais a característica
proco e abrangente tanto aos torturadores quanto de crime político ou conexo a este.
2
Art.99 do Código Penal:
a) se, ocorridas duas ou mais infrações, tiverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas ou por várias pessoas em concurso,
embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;
b) se, no mesmo caso, umas infrações tiverem sido praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em
relação a qualquer delas;
c) quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.
nas nas grandes cidades e em áreas prováveis de em razão do dano, tanto patrimonial quanto mo-
sepultamento dos militantes, em cumprimento ao ral e as mazelas causadas nas vítimas da ditadura,
Inciso II do artigo 4º da Lei nº 9.140/95, que a tanto profissionalmente quanto psiquicamente
criou : “envidar esforços para a localização dos são realmente vultosas, devendo o magistrado
corpos e de pessoas desaparecidas no caso de fixá-las de acordo com esses danos, sem se inti-
existência de indícios quanto ao local em que midar pelas críticas midiáticas descabidas.
possam estar depositados”.””.
O resgate da memória e da verdade (sendo
que esta pode ser, muitas vezes, reconhecida 5) Conclusão
pelos magistrados em suas sentenças) tem uma
função fundamental na justiça de transição por- A anistia pode até ter tido o efeito, naquele
que de importância inestimável para os familia- determinado momento político, de apagar do
res das vítimas, por uma questão incitamente de mundo jurídico as torturas, os assassinatos e os
dignidade humana, haja vista que o direito de se crimes sexuais cometidos durante o período da
conhecer e, principalmente, reconhecer o que de ditadura, mas não foi capaz de apagar da mente
fato ocorreu com seus familiares desaparecidos das vítimas, de seus familiares e da sociedade
no regime militar e de realizar para as vítimas um esse período da história. Talvez seja essa a maior
sepultamento digno está englobado no conceito falha daqueles que procuraram na anistia um
de “mínimo ético irredutível”, que não se pode sinônimo de esquecimento, esqueceram eles
negar aos cidadãos. próprios que esta é apenas um instituto jurídico
Contudo, não se pode restringir a importân- e não uma substância química.
cia do conhecimento da verdade aos familiares da Como consequencia, as marcas desse
vítima, a sociedade como um todo tem também período não serão e nem devem ser apagadas,
interesse em que os fatos sejam revelados, não até mesmo para que não se repitam as mesmas
somente porque maculam a história da nação atrocidades na história do nosso país. O que a
brasileira, como também porque com a verdade sociedade e os profissionais do Direito podem
há a garantia de não repetição. Nesse sentido, fazer, com máxima eficiência possível, é aplicar
plenamente defensável os recursos da tutela co- anestésicos que amenizem a ferida já formada,
letiva em busca de tais direitos, ampliando o rol que se expressam na justiça de transição-no
dos legitimado para a propositura das ações. conhecimento da verdade e na possibilidade
Quanto ao direito à reparação este deve de reparação, entendida esta no seu sentido
englobar tanto as vítimas que sobreviveram ao estrito (pecuniário), haja vista que a reparação
regime militar quanto os familiares de vítimas lato sensu, efetiva, de todo o mal causado, é
desaparecidas ou reconhecidamente assassina- impossível.
das. No primeiro caso a indenização é calculada Por fim, algo de muito positivo resta da
geralmente levando em conta o piso salarial da memória desses fatos que maculam a história do
categoria do anistiado e fazem uma projeção da Brasil, a aprendizagem. Magistrados, promoto-
evolução profissional que poderia ter alcançado res, juizes, advogados e população não podem
se não tivesse sido prejudicado durante o período aceitar que qualquer forma de desmando se
da ditadura. repita, de maneira que a reconstrução do Estado
O valor da indenização tem sido criticado Democrático de Direito deve ser guiada pela
com frequência na mídia, que vem inclusive apli- não aceitação de qualquer Poder Ilegítimo, não
cando a denominação “bolsa indenização”, mas sendo nunca enfadonho recordar a famosa frase
trata-se da aplicação da justiça comutativa, já de Winston Churchill: “Quem ignora a história
prevista por Aristóteles. A indenização deve ser está fadado a repeti-la”.
FICO, Carlos, Que história é esta? O Regime Sarmento, Daniel, Direitos Fundamentais e rela-
Militar no Brasil (1964-1985), O golpe militar de ções privadas, 2 ª edição, Editora Lumen Juris,
1964; repressão; o milagre econômico; a Aber- Rio de Janeiro, 2006
tura e o fim do regime, Editora Saraiva, 1999.