Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
d e P sic ol ogia
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) se posiciona a favor da
descriminalização e legalização do aborto no Brasil, pois entende que a defesa
dos Direitos Sexuais e Reprodutivos das mulheres faz parte da defesa
dos seus Direitos Humanos. A autonomia das mulheres sobre seus
corpos deve ser ampliada para que as mesmas tenham condições de decidir
ou não interromper uma gravidez. A Psicologia deve se posicionar agindo sobre
as situações que favorecem situações de vulnerabilidade social e
psicológica, que provocam intensas situações de sofrimento psíquico, como é
o caso da manutenção de uma gravidez que não foi escolhida pela gestante.
Atualmente, o aborto no Brasil é crime previsto no artigo 128, incisos I e II do
Código Penal Brasileiro. A lei data da década de 20 e autoriza a interrupção da
gestação em apenas dois casos: risco de vida para a mãe e/ou estupro (em
2012 foi legalizado o aborto no caso do feto ser anencéfalo).
Com base nestes dados, percebemos que a lei atual impede que estas mulheres
tenham direito a sua cidadania e aos seus direitos humanos sexuais e
reprodutivos, direitos estes estabelecidos por importantes Conferências
Internacionais de Direitos Humanos que produziram Documentos dos quais o
Brasil é signatário.
Sabe-se que a lei que criminaliza o aborto não impede, ou sequer reduz a sua
incidência, e não dá conta da complexidade da temática da questão. O debate
sobre a liberdade de optar por não seguir com a gestação é distante da
realidade e necessidades das mulheres.
O CFP luta pela promoção da saúde da mulher, tanto física quanto mental, e
pelo reconhecimento e integração dos diversos momentos e vivências na
subjetividade da mulher, entre eles a decisão de ter filhos. Defendemos,
sobretudo, o acolhimento e escuta para as mulheres em situação de aborto!
A comissão de juristas criada pelo Senado para elaborar o novo Código Penal
aprovou ontem um anteprojeto que prevê, entre outros pontos, a ampliação
dos casos em que o aborto é legal.
Pela proposta, não é crime a interrupção da gravidez até a 12ª semana quando,
a partir de um pedido da gestante, o "médico ou psicólogo constatar que a
mulher não apresenta condições de arcar com a maternidade".
Inicialmente, a ideia da comissão era propor que essa autorização fosse apenas
dos médicos, mas acabou estendida aos psicólogos.
Isso foi mantido, mas ainda foi incluída a liberação quando houver risco à
saúde -e não só "à vida" da mulher. Hoje, a pena é de um a três anos de
reclusão para a mulher que faz um aborto
Dilema do Aborto
TRABALHO DESENVOLVIDO NA DISCIPLINA ÉTICA PROFISSIONAL EM
PSICOLOGIA - TURMA 2008.1.
, lutar pela vida do embrião seria negar a existência dos direitos humanos adquiridos pela
mulher muito antes da existência do feto. É importante ressaltar que o ato de proibir em lei o
aborto não tem diminuído esta prática, pelo contrário, as mulheres procuram clínicas ilegais,
arriscando suas vidas, por conta de um valor “moral”.
A mulher que procura um profissional da psicologia nesta situação, provavelmente não está
querendo ouvir um “Sim, faça o aborto” ou um “Não, isso é crime”, isso ela ouviria de
qualquer um a quem pedisse uma opinião. Deste profissional, ela espera uma postura
humana, que a veja como um ser dotado de fraquezas, limitações, sentimentos, expectativas,
enfim, de toda uma vida que já existe, e que neste momento está abalada pelo fato de ter ou
não um filho. Muitos moralistas poderiam retrucar afirmando “mas por que ela não se
preveniu, hoje em dia existem métodos fáceis e baratos!”, é muito fácil falar do outro,
sempre foi, difícil mesmo é ter uma postura empática, sentir o que o outro sente, pois isso
requer além de um preparo profissional, um preparo muito maior do lado pessoal, não está
apenas em teoria, acontece dentro de nós.
O direito de escolher o que é melhor para si provoca menos transtornos futuros tanto para a
mãe, quanto para a criança. Obviamente que existem casos nos quais a mãe pensava em
abortar, decidiu pelo contrário, e viveu de uma forma maravilhosa com seu filho, mas, no
entanto, essa escolha deve partir dela, e não ser imposta por lei, ou muito menos, por um
consenso social que chega a ser hipócrita, uma vez que existem muitas atitudes socialmente
aceitáveis, que poderiam se constituir em crimes, como é o caso dos bebês de proveta, onde
os cientistas reimplantam diversos óvulos fecundados em cada tentativa para tentar
engravidar uma mulher, a fim de aumentar as probabilidades de acerto, isso significa que os
cientistas obtêm “seres vivos” sabendo que uma alta porcentagem deles vai “morrer”. Se o
aborto voluntário é um atentado à vida, o que esses cientistas fazem é o que?
Sendo assim, o psicólogo precisa, antes de tudo, ouvir, mas um ouvir profundo, onde ouve-se
as palavras, os pensamentos, a tonalidade dos sentimentos, o significado pessoal, e até
mesmo o significado por trás do que foi verbalizado. Essas mulheres têm sentimentos, e
geralmente estão sofrendo com suas decisões, seja a de ter ou não esse filho, ela não
necessita de uma pessoa que aumente esse sofrimento ou que lhe cause um transtorno
psíquico ainda maior lendo a lei, enquadrando-a num determinado artigo porque é ético, esse
profissional deve dentro de suas atribuições facilitar a tomada de decisão, seja ela qual for,
buscando sempre contribuir para o bem-estar do sujeito.
William Saad Hossne – Para muitas pessoas, moral e ética são
sinônimos, diferindo apenas na origem de cada palavra. Moral
vem do latim e ética, do grego. Ambas significam costumes e
lidam com os valores humanos. Eu faço, porém, uma distinção
entre moral e ética. Quando me refiro a valores morais, estou
pensando naqueles que determinada sociedade, pelos usos e
costumes, consagrou e aos quais todo cidadão deve obedecer. Não
se trata de valores escolhidos individualmente: precisam ser
introjetados. Em grego, a palavra ética significa não só costumes,
mas também conduta humana e refere-se, em geral, a um juízo
crítico de valores que implica uma opção que vem de dentro da
cada indivíduo.
Para realizar o exercício ético de juízo de valores, a primeira
exigência é não ter preconceitos. Não posso examinar um conflito
se tenho uma posição pré-estabelecida. A vida não é o que eu
acho. Preciso respeitar o ponto de vista do outro e ter a humildade
de rever minhas posições constantemente. Veja este exemplo:
diante dos novos métodos de clonagem, não existe experiência
acumulada pelos usos e costumes. Essa questão ainda está no
campo da discussão ética, isto é, do juízo de valores. Há mais
perguntas do que respostas a respeito desse tema. Quando, porém,
pelos usos e costumes alguns valores forem selecionados, a
questão passará a ser moral e irá configurar em código e em lei.
A interrupção da gravidez já não é mais uma discussão
exclusivamente ética. Na minha avaliação pessoal,
discriminalizar qualquer tipo de abortamento, não apenas os
previstos em lei, vai interferir numa opinião já estabelecida pela
sociedade.
Ninguém tem o direito de impor nada. A sociedade deve definir
em conjunto. A primeira exigência para fazer a análise ética de
qualquer questão é despir-se, tanto quanto for humanamente
possível, de qualquer tipo de preconceito. A segunda é estar
disposto a ouvir a opinião do outro. A terceira é dar liberdade,
porque a ética pressupõe sempre liberdade de opção, por mais
angustiante que ela seja. Essa é a beleza da ética: desencadear
uma angústia diante da necessidade de fazer um juízo de valores e
tomar uma posição. As pessoas têm medo de enfrentar essa
angústia e recorrem ao que a lei e o código dizem. Agindo assim,
fogem da liberdade que as obriga a rever-se constantemente e a
selecionar os valores dos conflitos que estão ocorrendo.
Não sou contra nem a favor do aborto. Não posso impor nenhuma
posição, tenho que ouvir o outro. Num dado momento, nossa
sociedade estabeleceu parâmetros que passaram a configurar na
lei que não criminaliza duas situações de abortamento. Mas o
mundo mudou e as coisas mudaram. O papel da ética não é dar
respostas; é fazer perguntas sem as quais não se chega à melhor
resposta. Para a questão do abortamento, a resposta tem de ser
dada pela sociedade, porque não se trata mais de assunto
exclusivamente pessoal. É coletivo e já extrapolou os limites da
simples discussão ética. Portanto, chegou a hora de reanalisar,
rediscutir e modificar a lei que existe, mas sem imposições.
Para se entender bem tal doutrina, esclareça-se que o princípio da dignidade humana,
segundo Dworkin, possui dois requisitos: i. o “respeito próprio” (“self-respect”); e ii. a
“autenticidade” (“authenticity”). O primeiro exige que cada um leve a sério sua
responsabilidade de assegurar para si mesmo uma boa vida, e o segundo acrescenta a tal
exigência o compromisso do indivíduo de preservar a coerência de suas escolhas com o seu
próprio caráter ou modo de vida. Por outro lado, o “respeito próprio” inclui o respeito pela
vida de todos os seres humanos, contendo em si as implicações, no âmbito da independência
ética, das obrigações morais que temos para com a humanidade como um todo.
A interrupção voluntária da gestação não é um ato imoral em caráter absoluto, tanto que
existe quase um consenso em torno de sua aceitação, na hipótese do estupro. Se a mulher
engravida, de forma voluntária ou involuntária, deve ser concedido a ela algum tempo do
processo gestacional para que ela tome uma decisão? Ou, ao contrário, sua obrigação moral
de preservar a vida do embrião não permite exceções sustentáveis em parâmetros éticos?
Dificilmente é possível demonstrar que a vida do embrião é digna de respeito, no mesmo grau
de imperatividade, não importando o período do seu desenvolvimento.
Nas palavras de DWORKIN (2011. p. 378): “Uma mulher trai sua própria dignidade quando ela
aborta por razões frívolas: para evitar remarcar um feriado, por exemplo. Eu faria um juízo
ético diferente em outros casos: quando as perspectivas de uma adolescente de ter uma vida
decente seriam arruinadas caso ela se tornasse uma mãe solteira, por exemplo. Mas se o juízo
está certo ou errado, em quaisquer dos dois casos particulares, ele permanece sendo um juízo
ético. Deve ser deixado a cada mulher, como sua dignidade exige, assumir a responsabilidade
por suas próprias convicções éticas”.
Sendo assim, o Estado não pode restringir a escolha da mulher pela realização do aborto,
desde o início da gestação, porque isto viola sua liberdade de consciência, atingindo do,
portanto, a autonomia decisória, em matéria de planejamento reprodutivo. Não se
constituindo o aborto um assunto de moralidade política, haja vista a ausência de interesse
público no controle da procriação, a criminalização rígida de sua prática importa em exercício
arbitrário do poder estatal.
____________________________________________________________
Com o objetivo de facilitar a compreensão e localização das idéias acerca da interrupção da
gravidez, podemos dizer que entre os extremos morais, há uma infinidade de pequenas
variâncias que, aparentemente, são incoerentes aos princípios maiores, sejam eles o da
autonomia ou o da heteronomia.
O argumento principal dos defensores da legislação ou discriminação do aborto é o do respeito
à autonomia reprodutiva da mulher e/ou do casal, baseado no princípio da liberdade individual.
Já os oponentes do aborto defendem a idéia de que a vida humana é sagrada por princípio.
Se por um lado, os proponentes da legislação do aborto encontram abrigo no princípio da
autonomia reprodutiva e, por outro, os oponentes no princípio da heteronomia da vida humana,
as diferenças entre os dois grupos acentuam-se ainda mais nos desdobramentos
argumentativos destes princípios. Os prepotentes unem-se em torno do valor -autonomia,
enquanto os oponentes esforçam-se por desdobrar o princípio da heteronomia.
Perante tais posições, mais do que se questionar quem tem o poder de decidir, parecenos que
o principal direito subjacente é o direito à vida. A idéia de que o feto é uma pessoa humana em
potencial, tem maior número de defensores do que a que concede o status de pessoa ao
embrião/feto desde a fecundação. A teoria da potencialidade sugere que o feto humano
representa a possibilidade de uma pessoa humana e, portanto, não pode ser eliminado. No
entanto para ambos, o aborto possui o significado moral e jurídico de um assassinato.
Fonte: https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-da-saude/consideracoes-sobre-o-aborto ©
Psicologado.com.br
____________________________________________________________________________