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Òsanyìn na África
O nome das plantas, a sua utilização e as palavras (ọfọ), cuja força desperta seus
poderes, são os elementos mais secretos do ritual no culto aos deuses iorubás.
Uma história de Ifá nos ensina como “o pássaro é a representação do poder de Ossain.
É o seu mensageiro que vai a toda parte, volta e se empoleira sobre a cabeça de Ossain
para lhe fazer o seu relato”. Esse simbolismo do pássaro é bem conhecido das
feiticeiras, aquelas freqüentemente chamada Elýẹ, “proprietárias do pássaro-poder”.
Cada divindade tem as suas ervas e folhas particulares, dotadas de virtudes, de acordo
com a personalidade do deus. Lydia Cabrera publicou uma lenda interessante, difundida
em cuba, sobre a repartição das folhas entre as diversas divindades.
“Ossain havia recebido de Oloduramaré o segredo das ervas. Estas eram de sua
propriedade e ele não as dava a ninguém, até o dia em que Xangô se queixou à sua
mulher, Oiá-Iansã, senhora dos ventos, de que somente Ossain conhecia o segredo de
cada uma dessas folhas e que os outros deuses estavam no mundo sem possuir
nenhuma planta. Oiá levantou suas saias e agitou-as impetuosamente. Um vento
violento começou a soprar. Ossain guardava o segredo das ervas numa cabaça
pendurada num galho de árvore. Quando viu que o vento havia soltado a cabaça e que
esta tinha se quebrado ao bater no chão, ele gritou: “Ewé O! Ewé O!” (“ Oh! As folhas!
Oh! As folhas!”), mas não pôde impedir que os deuses as pegassem e as repartissem
entre si “.
A colheita das folhas deve ser feita com extremo cuidado, sempre em lugar selvagem,
onde as plantas crescem livremente. Aquelas cultivadas nos jardins devem ser
desprezadas porque Ossain vive na floresta, em companhia de Àrònì, um anãozinho,
comparável ao saci-pererê, que tem uma única perna e, segundo se diz no Brasil, fuma
permanentemente um cachimbo feito de casca de caracol enfiado num talo oco cheio de
suas folhas favoritas. Por causa dessa união com Àrònì, Ossain é saudado com a
seguinte frase: “Holá! Proprietário-de-uma-única-perna-que-come-o-proprietário-de-
duas-pernas!” alusão às oferendas de galos e pombos que possuem duas patas, feitas a
Ossain Àrònì, que possui apenas uma perna.
Ossain está estreitamente ligado a Orunmilá, o senhor das adivinhações. Estas relações,
hoje cordiais e de franca colaboração, atravessaram no passado períodos de rivalidade.
Algumas lendas refletem as lutas pela primazia e pelo prestígio entre os adivinhos
babalaôs e os curandeiros onixegum. Como essas histórias são transmitidas através das
gerações pelos babalaôs, não é de estranhar que tendam a glorificar mais Orunmilá, e
em conseqüência eles mesmos, do que Ossain e os curandeiros.
Segundo uma lenda recolhida por Bernard Maupoil, “quando Orunmilá veio ao mundo,
pediu um escravo para lavrar seu campo; compraram-lhe um no mercado; era Ossain.
Na hora de começar seu trabalho, Ossain percebeu que ia cortar esta erva, pois é muito
útil”. A segunda curava dores de cabeça. Recusou-se também a destruí-la. A terceira
suprimia as cólicas.”Na vedade”, disse ele, não posso arrancar ervas tão necessárias.”
Orunmilá, tomando conhecimento da conduta de seu escravo, demonstrou desejo de
ver essas ervas, que ele se recusava a cortar e que tinha grande valor, pois contribuíam
para manter o corpo em boa saúde. Decidiu, então, que Ossain ficaria perto dele para
explicar-lhe as virtudes das plantas, das folhas e das ervas, mantendo-o sempre ao seu
lado na hora das consultas”.
Uma outra história de Ifá nos diz que,se é Ossain que conhece o uso medicinal das
plantas, é, entretanto, a Orunmilá que cabe o mérito de haver conferido nomes a essas
mesmas plantas. Os poderes de cada planta de cada estão em estreita ligação com o
seu nome e são despertados por palavras obrigatoriamente pronunciadas no momento
de seu uso. Essas palavras são indicadas pelos adivinhos aos curandeiros, fato este que
dá aos primeiros uma posição de supremacia sobre os segundos.
Essa superioridade é afirmada numa outra lenda, onde “Oferenda”, filho de Orunmilá,
compete com “Remédio”, filho de Ossain. Graças a um artifício imaginado por Orunmilá,
seu filho “Oferenda” é declarado vencedor de “Remédio” para mostrar que o poder dos
babalaôs é superior ao dos curandeiros. Os babalaôs afirmam assim que, sem o poder
liberador da palavra, as plantas não exerceriam a ação curativa que possuem em
estado potencial.