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“ABAIXO A BATIDA!”
TRANSFORMAÇÕES DA FIGURA DO BATER NOS
ESCRITOS DE EXÍLIO DE THEODOR W. ADORNO1
I. Schlager e propaganda
Depois da tomada do poder por Hitler em 1933, Theodor W.
Adorno teve que abandonar, devido à sua origem “não-ariana,” todas
as suas atividades docentes na Universidade de Frankfurt, e com a
retirada de sua venia legendi em setembro do mesmo ano, sua curta
carreira acadêmica, de apenas quatro semestres, foi oficialmente
terminada. Porém, apesar de toda inquietação política, parecia-lhe
questionável “que o Estado Nazista fosse perdurar por muito tempo”.2
Por isso, decidiu-se “a ficar a qualquer preço na Alemanha”,3 até o
esperado fim do regime Nacional Socialista, estabelecendo-se em
Berlim, onde morava sua futura esposa, Gretel Karplus. Durante este
período, trabalhou intensamente em vários escritos sobre música, pois
alimentava a esperaça de obter uma posição como crítico de música no
Vossische Zeitung.4 Mas como mesmo este jornal liberal teve sua
edição de 31 de março de 1934 suprimida, Adorno deixa seu país natal
em abril, sem ter noção de que começava um período de quinze anos
de exílio – primeiro na Inglaterra, posteriormente nos EUA.5
Estes anos de hibernação de Adorno na Alemanha nazista,
1933/34 despertaram a atenção pública de forma não desejada, devido
aos pequenos escritos musicais redescobertos nos anos sessenta, ou seja
por volta de trinta anos após seu aparecimento: um jornal estudantil
descobriu o fato escandaloso de que Adorno, em uma resenha, não
apenas aprovava uma obra coral apesar e por causa de seu texto
“conscientemente marcado pelo nacional-socialismo”,6 mas também
mencionava o nome de Goebbels lisonjeiramente. Em uma carta-
resposta aberta, Adorno expressa, em primeiro lugar, seu profundo
1
“Bater” é schlagen, que dá origem ao substantivo Schlager, a canção comercial ou de sucesso, e
que corresponde ao hit em inglês (nota do tradutor).
2
Carta de Adorno a Walter Benjamin, 21 de abril de 1934. In Adorno/Benjamin, Briefwechsel
1928-1940, von Henri Lonitz (ed.), Frankfurt a.M. 1994, p. 64.
3
Carta de Adorno a Ernst Křenek, 7 de outubro de 1934. In Adorno/ Křenek, Briefwechsel,
Wolfgang Rogge (ed.), Frankfurt a.M. 1974, p. 43.
4
cf.ibid.
5
Adorno voltou para a Alemanha em 2 de novembro de 1949.
6
Adorno, Rezension von “Herbert Müntzel, Die Fahne der Verfolgten. Ein Zyklus für Männerchor
nach dem gleichnamigen Gedichtband von Baldur von Schirach”, in Die Musik 9, Junho 1934, p.
712; agora em Theodor W. Adorno Gesammelte Schriften, Rolf Tiedemann (ed.), Frankfurt a.M.
1970ff. (doravante AGS), Bd. 19, p. 331.
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ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
7
Carta de Adorno ao Senhor S. [Schroeder, Klaus Chr.], 3 de janeiro de 1963, in Diskus, Janeiro
1963; agora em AGS 19, p. 637f.
8
op.cit.p. 637.
9
op.cit.p. 638.
10
Em tal carta aberta, o próprio Adorno recusou veementemente uma comparação de si com
Heidegger: “Quem tem uma visão geral da continuidade da minha obra, não pode me comparar a
Heidegger, cuja filosofia é fascista até em suas menores partículas.” (carta de Adorno ao Sr. S., 3 de
janeiro de 1963, op.cit.p. 638).
11
ibid.
12
Adorno, “Rundfunkautorität und Schlagersendung”, in: Frankfurter Adorno Blätter VII/2001,
Rolf Tiedemann (ed.), p. 90-93. Cf. Também o comentário do editor sobre este texto, p. 94-95.
13
op.cit.p. 94.
14
ibid.p. 95.
15
Adorno, “Abschied vom Jazz” in AGS 18, p. 795-799.
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ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
Porém a música ligeira, ou, para usar o termo mais preciso e menos
amigável: os Schlager permaneceram. O inferno da estupidez, no qual
os fazedores dos Schlager ficam se exibindo, zombou da autoridade, e
além disso demonstra uma consideração para com as maiorias, que
dificilmente poderia acontecer na política.18
16
Adorno, “Rundfunkautorität e Schlagersendung” op.cit.p. 90.
17
Cf. Adorno/Horkheimer, Dialética do Esclarecimento (Rio de Janeiro, Zahar, 1985, tradução de
Guido Antonio de Almeida, doravante DdE), p. 150ff.
18
Adorno, “Rundfunkautorität und Schlagersendung”, op.cit.p. 90f.
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ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
19
cf. Michael H. Kater, Gewagtes Spiel: Jazz im Nationalsozialismus. München, 1998. p. 95.
20
Adorno “Rundfunkautorität” op.cit.p. 90f.
21
ibid.p. 90.
22
ibid.p. 90f.
23
ibid.p. 91, ênfase de Adorno.
24
Comentário do Editor, op.cit.p. 95.
47
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25
Citado de: Anônimo, Nationalsozialistische Rundfunkpolitik 1942-1945. Organisation, Programm
und die Hörer. Baden Baden, 1983, p. 306. No entanto, como já foi freqüentemente observado, até o
colapso do regime nacional-socialista esta prescrição não foi estritamente observada (cf. Kater,
Gewagtes Spiel, op.cit.p. 93-109.
26
Adorno “Rundfunkautorität”, op.cit.p. 91.
27
ibid.
28
cf.ibid.p. 92.
29
ibid.p. 92. Ênfase de Adorno.
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30
ibid.p. 93. Ênfase de Adorno.
31
Cf. Bernd Polster. “Es zittern die morschen Knochen: Orchestrierung der Macht” in B.Polster
(ed.), “Swing Heil“: Jazz in Nationalsozialismus. Berlin: 1989, p. 9-30, aqui p. 25.
49
ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
32
Carta de Adorno de 3 de janeiro de 1963 ao Sr. S. op.cit.p. 638.
33
DdE, p. 171. Esta imitação está todavia diametralmente oposta à “da mimese genuína”, pois “[o]
anti-semitismo baseia-se numa falsa projeção. Ele é o reverso da mimese genuína, profundamente
aparentada à mimese que foi recalcada, talvez o berço caracterial patológico em que esta se
sedimenta. Se a mimese se torna semelhante ao mundo ambiente, a falsa projeção torna o mundo
ambiente semelhante a ela.” (p. 174.)
50
ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
34
Adorno, Über Jazz, in AGS 17, p. 74-108.
35
Adorno, Vorrede zu Moments musicaux, ibid.p. 10f.
36
Adorno, Über Jazz op.cit.p. 76.
51
ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
37
ibid.p. 80.
38
O verbo “martelar” [einhämmern] já pode ser encontrado em “Zur gesellschaftlichen Lage der
Musik” (1932), em relação ao filme sonoro e ao Schlager: “[O]s ouvintes devem cantá-las [Schlager
dos filmes sonoros] em repetição, não apenas porque a mais precisa maquinaria martela-os sem
descanso, mas antes de mais nada porque o monopólio do filme sonoro impede que outros bens
muscais sejam-lhe apresentados, que pudessem ser escolhidos.” (AGS 18, p. 773, ênfase de Y.T.)
Esta função de martelar do Schlager foi posteriormente mais elaborada por Adorno em sua análise
da música pop como técnica de “plugging” (cf. Adorno, “On Popular Music”, in Studies in
Philosophy and Social Sciences vol.9/1941, p.17-48, esp.p. 27).
52
ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
39
DdE, p. 113, ênfase de Y.T.
40
DdE, p. 187, ênfase de Y.T.
41
DdE, p. 189, ênfase de Y.T.
53
ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
42
DdA, p. 160, ênfase de Y.T.
43
“O riso do freqüentador de cinema é [...] repleto do pior sadismo burguês.” (Carta de Adorno a
Benjamin, 18 de março de 1936, in Adorno/Benjamin, Briefwechsel op.cit.p. 172f.).
44
cf. Adorno, Studies in the Authoritarian Personality, in: AGS 9.1, p. 474ff.
45
Walter Benjamin. “Das Kunstwerk im Zeitalter seiner technischen Reproduzierbarkeit” (1a.
Versão, 1935), em Walter Benjamin Gesammelte Schriften, Rolf Tiedemann (ed.), Frankfurt a.M.,
1972ff. (doravante abreviado como BGS), Vol. I-2, p. 462; segunda versão (1935f.), in BGS VII-1, p.
377. Na terceira e última versão (1936-1939) não contém esta frase. Apenas na segunda versão
encontra-se o comentário de que “alguns dos mais novos filmes de Mickey Mouse”, mostrariam a
aceitação confortável “da inclinação, bestialidade e violência como fenômeno condutor do ser”.
Com isso, Benjamin compara a relação com “hooligans dançarinos [...] das imagens de pogrom da
Idade Média” (ibid.). Esta modificação é sem dúvida um reflexo de uma objeção de Adorno, que
discutiu o texto com Benjamin em meados de dezembro de 1936 (cf. carta de Benjamin a Adorno de
7 de fevereiro de 1936 in Adorno/Benjamin Briefweschsel, op.cit.p. 164). Sobre a discrepância entre
Adorno e Benjamin a respeito de Disney cf. Miriam Hansen, “Of Mice and Ducks: Benjamin and
Adorno on Disney”, in South Atlantic Quarterly 92, Jan. 1993, p. 27-61.
54
ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
46
DdE, p. 143f. Ênfase Y.T.
47
Adorno, “Über Jazz”, op.cit.p. 98.
48
ibid.
55
ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
49
Adorno partiu para Nova York em 16 de feveiro de 1938 com a Sra. Gretel, com quem
recentemente se casara.
56
ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
50
Adorno, “Selbstanzeige des Essaybuches Versuch über Wagner” in AGS 13, p. 504-508, aqui p.
504.
51
ibid.
52
cf. Adorno, Versuch über Wagner, in AGS 13, p. 82-91, esp.p. 86ff.
53
Ibid.p. 102.
54
ibid.p. 28, ênfase Y.T.
55
ibid.p. 27.
57
ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
58
ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
62
Ibid.p.71, ênfase Y.T. cf.também p. 227.
63
ibid.p. 223f.
64
ibid.p. 233.
65
Sistema de notação do canto gregoriano, baseado no acento das palavras. (Nota do tradutor)
66
ibid.p. 232.
67
ibid.p. 227f.
68
ibid.p. 228.
69
ibid.
70
ibid.p. 235.
59
ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
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ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
61
ESPECIAL: THEODOR W. ADORNO FD9 (2005)
ficasse de tal forma fixada, que pudesse ser lida como “a última língua
de todos os homens depois da construção da Torre”, suas mensagens,
determinadas, porém cifradas, contendo cada uma de suas “frases”.
Fossem todavia as notas seus meros signos, então aproximar-se-iam
decisivamente, por meio dos sulcos dos discos, de seu verdadeiro
caráter de escrita. Decisivamente, porque esta escrita deve ser
reconhecida como uma verdadeira língua [echte Sprache], na medida
em que surge como seu simples ser-de-signo: irremovivelmente
dedicado ao som, que este e apenas este corte de som possui.81
81
Adorno, “Die Form der Schallplatte”, op.cit.p. 532f.
82
Cf. Levin, “For the Record” op.cit.p. 33.
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