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Entrevista ao líder do Opus Dei em Portugal.

“Cada
mulher tem em si a capacidade de ser quem cuida da
casa” /premium
31 Outubro 2018  512 

João Francisco Gomes

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A influência nos negócios e na política, o papel das mulheres
na organização, as mortificações corporais. José Rafael
Espírito Santo fala dos mitos e verdades sobre o Opus Dei,
que lidera em Portugal.

1 “As críticas surgem da incompreensão e são clichés que se vão repetindo”


2 “Não houve nenhuma interferência” no BCP
3 “A mulher tem em si a capacidade de ser quem cuida da casa”
4 Pedo lia. “Unidade com o Papa é algo que é fundamental na Igreja”
5 O engenheiro guitarrista que perdeu as eleições para a associação de
estudantes

É, seguramente, a organização mais controversa e criticada da Igreja


Católica. Fundado em 1928 pelo padre espanhol Josemaria Escrivá, o
Opus Dei foi comparado desde cedo a uma espécie de maçonaria cristã
— a expressão foi mesmo usada pelo superior geral dos jesuítas, o
polaco Vladimir Ledochowski, em 1942, num relatório remetido ao
Vaticano sobre o movimento que, naquela altura, ia crescendo numa
Espanha dilacerada pela guerra civil. Os críticos da Obra de Deus
(tradução da expressão latina Opus Dei) condenam as técnicas
agressivas de recrutamento junto das elites com o objetivo de garantir
influência sobre o poder político e económico, o secretismo, a ocultação
do património, as práticas de mortificação corporal e, enfim, o
tradicionalismo e conservadorismo no seio da própria Igreja.

Em entrevista ao Observador, o padre José Rafael Espírito Santo,


vigário regional do Opus Dei em Portugal, garante que essas críticas à
organização são “superficiais” e resultam do desconhecimento da
realidade da Obra de Deus. O sacerdote, de 59 anos, garante que
“ninguém esconde que pertence ao Opus Dei” e rejeita uma aura de
secretismo apenas pelo facto de os membros não andarem com
“nenhuma identificação” na rua. Respondendo a quem acusa o Opus Dei
de ocultar o património por não o ter em nome da organização, mas sim
de fundações e de alguns dos seus membros mais destacados, José
Rafael Espírito Santo destaca que “toda a gente sabe” que os colégios,
clubes e outras obras ligadas à organização “têm uma finalidade
apostólica que é o Opus Dei que garante”, admitindo que é património
que está ligado à Obra de Deus — sem deixar de pertencer aos leigos que
são responsáveis por cada uma das iniciativas.

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[Veja o v ídeo da entr ev ista : Cu ida r da ca sa “ v a lor iza ” a


m u lher ]
O caso mais polémico de alegada influência do Opus Dei em Portugal
será o do BCP, fundado na década de 80 por Jardim Gonçalves, que é
supranumerário (designação dada aos membros da organização que não
aderem ao celibato e que constituem cerca de 70% do Opus Dei). Em
2005, Jardim Gonçalves deixou a liderança do banco, colocando no
lugar Paulo Teixeira Pinto, igualmente supranumerário do Opus Dei.
Para muitos, a escolha de Teixeira Pinto — e mais tarde a saída, que
também coincidiu com o abandono do Opus Dei — foi a prova da
influência do organização no banco. Mas o padre que está à frente da
organização em Portugal diz que aquela foi “uma decisão daquele que
era na altura o presidente, que decidiu em consciência” e assegura: “Não
houve nenhuma interferência”. Mais: afirma mesmo que “se o Opus Dei
interferisse, seria um erro grave e que não se pode tolerar”.

José Rafael Espírito Santo fala ainda de outro dos temas quentes à volta
do Opus Dei, que completa este ano 90 anos de existência: o facto de a
Obra de Deus apenas atribuir as tarefas domésticas dos seus centros às
mulheres e não aos homens, o que tem levado a organização a ser
classificada como machista. O Opus Dei apenas admite a existência
de numerárias auxiliares (numerário é o nome dado aos membros da
Obra de Deus que optam pelo celibato e vivem em comunidade em
centros do Opus Dei). O vigário regional, porém, recusa que esta
realidade seja um sinal de machismo e afirma que é, na verdade, uma
forma de “valorizar a mulher”, lembrando o “génio feminino”, de que
falava João Paulo II, “que faz com que cada mulher tenha em si esta
capacidade de ser quem cuida da casa”. “São aquelas que veem que a
sua vocação profissional é ser mãe de família. Portanto, cuidam das
casas do Opus Dei como uma mãe”, diz.

O padre José Rafael Espírito Santo na sede do governo do Opus Dei em Portugal, no Lumiar, em
Lisboa (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

“As críticas surgem da incompreensão e são clichés que se


vão repetindo”

Muitos católicos portugueses fazem, provavelmente, esta
pergunta: o que é o Opus Dei?
Podemos usar uma expressão de S. Josemaria: é uma mobilização de
cristãos para que vivam aquilo que é próprio da fé cristã — a vocação à
santidade — nas circunstâncias correntes da vida e em concreto através
do trabalho. D. Manuel Clemente, que celebrou a missa no 90.º
aniversário do Opus Dei, referia exatamente o espírito do Opus Dei, que
é dar o testemunho cristão no trabalho, na família, nas circunstâncias
correntes. O Opus Dei ajuda as pessoas a aprofundarem a vida de
oração, a aprofundar o conhecimento do Evangelho, a ver como os
sacramentos têm um reflexo na sua vida e que, quando vão à missa, isso
ajuda-as a trabalhar melhor e a pensar mais nos outros, a cuidar mais
da sua vida familiar.

O Opus Dei
O Opus Dei (Obra de Deus) é uma prelatura pessoal da Igreja Católica, o que signi ca que é
um conjunto de éis, leigos e padres, sob a autoridade de um bispo — uma espécie de
diocese sem território. Fundado em 1928, em Espanha, pelo padre Josemaria Escrivá de
Balaguer, o Opus Dei conta hoje com cerca de 90 mil membros em todo o mundo, dos
quais mais de 2 mil são padres. Em Portugal são cerca de 1.600  éis (dos quais 70% são
casados) e aproximadamente 100 sacerdotes. O ideal de vida dos membros do Opus Dei é
o alcançar da santidade através do trabalho quotidiano.

O Opus Dei não é uma ordem monástica, o que signi ca que os seus membros não fazem
votos nem usam hábito como acontece nas congregações religiosas. Há várias formas de
pertença no Opus Dei. Os numerários são os membros que optam pelo celibato e que
vivem em centros da prelatura, estando disponíveis para o trabalho da Obra. Os agregados
são elementos que também optam pelo celibato, mas que vivem com as suas famílias. Os
supranumerários (que compõem cerca de 70% da prelatura) são homens e mulheres
casados que aderem ao ideal da santidade através do trabalho quotidiano.

À frente do Opus Dei está o bispo espanhol Fernando Ocáriz, o quarto homem a assumir a
liderança da organização. Em Portugal, a organização tem como líder o vigário regional o
padre José Rafael Espírito Santo.

Há aí uma mudança de paradigma, em que o Opus Dei coloca
a ênfase nos leigos em vez de nos clérigos?
Sim. O Opus Dei recorda algo que é uma verdade do Evangelho, que
tinha sido, pelas circunstâncias históricas, um bocadinho esquecida, e
mostra como todos formamos parte da Igreja.

S. Josemaria antecipou o Concílio Vaticano II?
Em algum aspeto, sim, pela iluminação que recebeu de Deus. O próprio
Papa João Paulo II reconheceu isso, que ele foi um dos percursores
desta mensagem do Concílio, a vocação universal à santidade. E aí sim,
mostra a importância dos leigos. Significa que a Igreja somos todos e os
sacerdotes estão em função dos leigos. Chama-se sacerdócio ministerial,
significa que os padres estão a servir, para que os leigos realizem a
missão da Igreja, que é levar o mundo para Deus e tornar Deus presente
no mundo.

Em 1942, poucos anos depois da fundação do Opus Dei em
Espanha, um superior geral dos jesuítas comparou, num
relatório que enviou ao Vaticano, o Opus Dei a uma espécie de
maçonaria cristã, pelas técnicas agressivas de recrutamento
que usaria. Ainda existe, hoje, alguma rivalidade com os
jesuítas?
Não. Tudo isso, naquela época, foram incompreensões por falta de
conhecimento e por mal-entendidos. Há um artigo sobre a narrativa
sobre o Opus Dei que explica muito bem como é que essas
incompreensões surgiram. Mas, graças a Deus, e porque todos temos
muito boa vontade, tudo isso já foi superado.

Diria, portanto, que estas críticas surgem da incompreensão?
As críticas agora surgem de uma incompreensão e são clichés que se vão
repetindo. E, infelizmente, pode haver pessoas que não as queiram
esclarecer e que fiquem simplesmente com aquilo que ouviram.

Como responde às críticas sobre os métodos de recrutamento
agressivo do Opus Dei, nomeadamente nas universidades?
São análises superficiais e que não aprofundam a realidade. O que se
pretende é ajudar todas as pessoas a que aprofundem a sua fé. Ao
aprofundarem a sua fé, isso leva-as a ver o que é que Deus quer para
elas. O que é que o Papa pretende com o Sínodo dos Jovens? Pretende
mobilizar toda a juventude, ajudando-a a ter um discernimento
vocacional, a ver a sua vida não como um desfrutar, mas como algo que
é uma resposta a uma vocação. É Deus que chama a uma missão. O
Papa escreveu a mensagem para o dia mundial das missões em que fala
disso: cada homem e cada mulher são uma missão e nós temos de
descobrir essa missão. No Opus Dei, o que se pretende é ajudar as
pessoas a que, ao aprofundarem a sua relação com Deus, descubram a
sua missão. E aí alguns poderão ver: o que Deus me pede é que seja do
Opus Dei. E outros não. Cada um segue o seu caminho. Graças a Deus,
vemos como muitas pessoas que frequentaram os meios de formação do
Opus Dei depois seguem os seus caminhos. Há vários jesuítas que
estiveram nos meios de formação do Opus Dei, noutras realidades
eclesiais, carmelitas… E pessoas que aproveitam toda aquela formação
para depois viverem a sua fé até às últimas consequências.

Na capela da prelatura, onde celebra a missa diariamente com os numerários do Opus Dei que
residem no centro do Lumiar (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

Porque é que acha que o Opus Dei foi comparado a uma
maçonaria cristã? O que é que no Opus Dei levou a essa
comparação?
O que pode haver é, como eu dizia há bocado, não entender a
naturalidade. Portanto, confundir uma coisa que é a naturalidade com
que vivem a sua relação com Deus e a sua inserção na sociedade com
algo que se esconde, com uma estratégia de poder, de influência. O
Opus Dei, a única coisa que pretende é realizar a missão da Igreja,
aquilo que a Igreja quer fazer. O Opus Dei é um instrumento da missão
da Igreja.
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“Não houve nenhuma interferência” no BCP

Uma das grandes críticas apontadas à organização é o
secretismo em torno da pertença, porque os membros da
prelatura não andam com identificação. Mas há outras
organizações nas quais os membros não fazem questão de
anunciar a sua pertença, embora não o escondam. Porque é
que há, então, esta aura de obscurantismo no Opus Dei?
O que eu acho, francamente, é que são essas incompreensões que
surgiram nos anos 40, que foram mais intensas aí e que se prolongaram
nos anos 50, muito a ver com a realidade espanhola, que se vão
transmitindo sem as pessoas confrontarem com a realidade. A realidade
é totalmente diferente. Ninguém esconde que pertence ao Opus Dei.

O facto de o Opus Dei, oficialmente, quase não ter
património, mas na verdade ter indiretamente muitos bens e
edifícios que são dos membros da prelatura e onde funcionam
as atividades da organização, não pode ser visto como uma
forma de ocultar os bens da obra?
O primeiro ponto que é preciso ter em conta é o seguinte: o próprio do
Opus Dei não é ter iniciativas e ter grandes organizações, é o que cada
um dos fiéis do Opus Dei faz à sua volta, como procura ajudar os seus
amigos, como procura dar testemunho cristão no seu trabalho, na
família. Isto é que é a essência. Depois, há alguns membros, que têm
alguma preocupação do ponto de vista da intervenção social e de
alguma necessidade formativa, que se organizam para pôr em marcha,
seja uma instituição de formação, de ensino, de assistência social. Como
procuram também que essa iniciativa tenha uma finalidade apostólica
— portanto, que nos princípios dessa iniciativa esteja presente o espírito
de Cristo —, pedem que o Opus Dei dê a garantia dessa finalidade
apostólica. Não há nada que se esconda. Toda a gente sabe que essas
iniciativas têm uma finalidade apostólica que é o Opus Dei que garante.
Ou seja, é património que gira à volta do Opus Dei.
Sim, mas com uma característica, que é própria do espírito do Opus Dei,
que é a responsabilidade dos leigos. São os leigos que são responsáveis
por levar para a frente essas iniciativas. Portanto, o património é deles.

"O Opus Dei não interfere em nada nas decisões que


as pessoas tenham do ponto de vista pro ssional,
das opções que tenham. As pessoas que, por
vocação pro ssional, trabalham num banco, são
responsáveis por isso. Se o Opus Dei interferisse,
seria um erro grave e que não se pode tolerar"

Mas com o controlo da estrutura do Opus Dei, ou não?
Como digo, o Opus Dei, em relação a essas iniciativas, a única coisa que
garante é a finalidade apostólica. Ou seja, que ali se vive o espírito
cristão. Depois, do ponto de vista económico, do ponto de vista
organizacional, tudo isso é algo que é da responsabilidade das pessoas
que promovem — e são elas que têm o património que é necessário para
pôr essas iniciativas a funcionar.

Ao mesmo tempo, o Opus Dei é habitualmente considerado
uma organização na qual se estabelecem teias de influência
para obter poder político e económico, porque há membros
da prelatura em lugares de destaque na banca, nos negócios e
no poder político. O Opus Dei tem interesse em colocar
pessoas em lugares estratégicos?
Não. O Opus Dei funciona de uma maneira totalmente diferente. Ajuda-
se as pessoas, como dizia, a que aprofundem a sua fé, a sua relação com
Cristo e a sua responsabilidade, e que cada um procure fazer o melhor
possível. Aí, cada um decide, e o Opus Dei não interfere em nada nas
decisões que as pessoas tenham do ponto de vista profissional, das
opções que tenham. As pessoas que, por vocação profissional,
trabalham num banco, são elas que são responsáveis por isso. Se o Opus
Dei interferisse, seria um erro grave e que não se pode tolerar. Qualquer
membro do Opus Dei não aceitaria que algum diretor do Opus Dei lhe
dissesse alguma coisa sobre o modo como ele organiza o seu trabalho.
Ou para lá pôr outras pessoas do Opus Dei. Não. Nunca se diz: “Olha,
esta pessoa precisa de trabalho, mete-a lá”. Nunca (risos). Isso vai
contra a própria essência do Opus Dei.

O caso do BCP — fundado por Jardim Gonçalves, membro do
Opus Dei — é o exemplo mais evidente, com uma pessoa —
Paulo Teixeira Pinto — que também era do Opus Dei a ser
colocada por ele na liderança do banco. Diria que é uma
coincidência?
Há uma decisão daquele que era na altura o presidente, que decidiu em
consciência. Não houve nenhuma interferência.

Também houve um relatório que envolvia o Opus Dei numa
teia de interesses à volta da gestão do Hospital de Santa
Maria. O que é que o relatório queria dizer?
(Risos) Quando li a notícia deu-me vontade de rir, como me estou a rir
agora. Nunca cheguei a perceber.
O padre José Rafael Espírito Santo recebeu o Observador na sede do governo do Opus Dei em
Portugal, em Lisboa (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

Mesmo não tendo o Opus Dei nenhum plano para interferir
na política ou nos negócios, admite que as casas e as
estruturas do Opus Dei possam servir, muitas vezes, de
atmosfera onde estas relações se estabelecem e se
exteriorizam para fora do Opus Dei?
As atividades do Opus Dei estão abertas a todo o tipo de pessoas.
Admito que alguma pessoa se aproxime procurando obter algum favor
por outras vias, pelos conhecimentos que possa travar aí. Mas uma
pessoa que vá com essa intenção rapidamente se apercebe de que aí não
vai tirar nada.

Não se fala de política ou economia nos encontros de
formação do Opus Dei?
Não.

Calculo que nas casas onde vivem os numerários se discutam
estes assuntos.
Aí, fala-se com naturalidade, como num grupo de amigos. Cada um
expõe a sua opinião e aí respeita-se sempre as opiniões. E é muito bom
que haja opiniões contrárias sobre as diversas matérias.

O Opus Dei tenta dirigir o seu trabalho de evangelização
sobretudo para membros das elites?
Não. A mensagem do Opus Dei é para todos. Mas procura-se, sim, ter
uma evangelização da cultura, dos intelectuais, para chegar a todos. Os
pensadores, os criadores de ideias, são aqueles que depois mais
facilmente chegam a todos. Mas não há uma preferência ou uma
exclusividade.

"Admito que alguma pessoa se aproxime procurando


obter algum favor por outras vias, pelos
conhecimentos que possa travar aí. Mas uma pessoa
que vá com essa intenção rapidamente se apercebe
de que aí não vai tirar nada"

Ou seja, chegando às elites, chega­se a todos.
O objetivo é chegar a todos, sabendo que, do ponto de vista intelectual,
se as ideias forem impregnadas do espírito de Cristo mais facilmente
transformam o espírito da sociedade.

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“A mulher tem em si a capacidade de ser quem cuida da


casa”

Onde é que está o Opus Dei em Portugal?
Centros do Opus Dei há em Lisboa, Coimbra, Porto, Viseu, Braga e
Montemor-o-Novo. Pessoas do Opus Dei há em todo o país e em muitos
desses sítios há atividades de formação. As atividades de formação,
quando são encontros de oração orientados por algum sacerdote,
começam sempre com o visto bom do bispo da diocese, que vê que é
uma coisa boa e que quer que ali haja essa formação.

O Opus Dei é muitas vezes visto como uma Igreja paralela
dentro da Igreja.
Não, não. O Opus Dei está para servir a Igreja, cada diocese e as
paróquias. As pessoas do Opus Dei que vivem na paróquia estão ali para
estar metidas na paróquia e para fazerem com que a paróquia esteja
viva. O que é que procuram fazer as pessoas do Opus Dei? Ajudar os
seus amigos a que sejam bons cristãos e que, portanto, vão à missa,
procurem ajudar na paróquia, e também estejam metidos nas iniciativas
dos bispos. Ou seja, não é nada em paralelo. Antes pelo contrário.

Quando me falava de pessoas do Opus Dei em todo o país,
estamos a falar, sobretudo, de intelectuais?
Não. Podemos dizer que a franja de pessoas do Opus Dei é muito
parecida, a outra escala, com a franja nacional. Há pessoas de muito
poucos recursos, a maioria é de classe média, e depois algum pode ter
mais recursos.
O padre José Rafael Espírito Santo está à frente do Opus Dei em Portugal desde 2002 (JOÃO
PORFÍRIO/OBSERVADOR)

Vou ler um excerto que retirei do site do Opus Dei
relativamente à organização interna: “Algumas numerárias —
denominadas numerárias auxiliares — dedicam­se — de modo
prioritário (não exclusivo) e habitual (não necessariamente
sempre) — como seu trabalho profissional à atenção
doméstica dos centros do Opus Dei”. Também há numerários
auxiliares?
Não. Repare. As mães de família são mães. S. João Paulo II falava do
génio feminino, que faz com que cada mulher tenha em si esta
capacidade de ser quem cuida da casa. Há muitas mulheres que tomam
a opção, na sua vida profissional, de cuidar da casa, de cuidar da família.
As numerárias auxiliares — e também há outras que as ajudam — são
aquelas que veem que a sua vocação profissional é ser mãe de família.
Portanto, cuidam das casas do Opus Dei como uma mãe.

Mas também há pais de família na sociedade, que também
tratam das casas.
Sim. Claro que o pai de família também colabora. Mas o génio feminino
— e isto é algo que nós não podemos perder, porque é um valor humano
que ajuda a que a sociedade seja mais humana — faz com que a mulher
tenha esta capacidade para estar atenta aos pormenores, para saber, por
exemplo, do bom gosto para arranjar as coisas, de ter iniciativas que
surpreendem. Claro que os homens também têm, mas a mulher tem
uma capacidade que é inultrapassável.

No Opus Dei não pode haver homens que se queiram dedicar
a essas tarefas, então.
Não está previsto. Mas muitos numerários, claro, colaboram nas coisas
da casa, porque é necessário. Muitas vezes até fazer comida, arranjar as
coisas.

Acha que isso faz parte de uma cultura machista na Igreja
Católica?
Não, nem pensar. Isto é valorizar a mulher. Uma discriminação positiva.
Ver um valor que tem a mulher. Quando se tem uma linguagem
igualitária, às vezes o que se faz é perder esse valor. É um valor que tem.

A nal, porque não podem as mulheres ser padres?


O Papa diz que a última palavra foi de João Paulo II e se mantém. O teólogo
português Jacinto Farias garante que a Igreja "não pode fazer o que quiser". E as
mulheres católicas, terão outra ambições?

Por João Francisco Gomes

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As mulheres não podem ser ordenadas sacerdotes, não
podem ocupar cargos de liderança na Igreja…
Quanto a isso, a questão do acesso ao sacerdócio é algo que está
perfeitamente esclarecido. Ainda agora, recentemente, foi esclarecido,
porque é algo que vem da vontade de Cristo. A Igreja foi aprofundando
esta realidade do que é que significa o sacerdócio de Cristo, como
identificação com Cristo homem. Daí, vê-se que as mulheres não têm
acesso ao sacerdócio. Mas uma das coisas nas quais a Igreja está a
caminhar é a descobrir o que é que os leigos podem fazer e que, muitas
vezes por razões históricas, há tarefas que os sacerdotes assumem que
podiam ser assumidas por leigos.

Como por exemplo?
Na organização da Igreja, muitas coisas do ponto de vista
administrativo, na organização da formação, da catequese… Coisas que
muitas vezes, por razões históricas, estão centradas nos sacerdotes. Por
exemplo, dirigir o centro social. Há um caminho a percorrer para
descobrir o papel dos leigos. Homens e mulheres. A mulher aí contribui
com este aspeto positivo do génio feminino.

Mas nos cargos de liderança…
Nos cargos de liderança também é um desafio perceber o que é que
corresponde ao sacerdócio ministerial. O sacerdócio ministerial é
essencialmente distinto do sacerdócio comum. Quando somos
batizados, identificamo-nos com Cristo, que é sacerdote, profeta e rei.
Todos os batizados participam do sacerdócio de Cristo, da missão
profética de Cristo e do reinado de Cristo. Depois, o sacerdócio
ministerial, essencialmente diferente, dá uma identificação com Cristo
cabeça, que tem uma função, como sacerdote, na celebração dos
sacramentos, de santificar o povo de Deus; como profeta, de ensinar em
nome de Deus, e como rei, no governo da Igreja em nome de Deus. A
organização da Igreja tem coisas que são reservadas aos sacerdotes e há
outras, muitas outras, que podem ser desempenhadas por leigos. Isto é
uma descoberta que estamos a fazer. Para que os sacerdotes possam
dedicar-se àquilo que é exclusivo e assim potenciar muito mais a ação
da Igreja.
"As mães de família são mães. S. João Paulo II falava
do génio feminino, que faz com que cada mulher
tenha em si esta capacidade de ser quem cuida da
casa. Há muitas mulheres que tomam a opção, na
sua vida pro ssional, de cuidar da casa, de cuidar
da família"

Muitas críticas ao Opus Dei têm na sua origem relatos de
antigos membros da prelatura que saíram com experiências
negativas. Como olha para esses relatos que, muitas vezes,
atacam os próprios fundamentos do Opus Dei?
Olho com pena, porque é uma pena ver que houve pessoas que também
partilharam deste mesmo ideal que não se soube ajudar e que ficaram
feridas. É uma pena. O que eu gostaria era de ajudar todas essas pessoas
a sarar as suas feridas. Há incompreensões.

E a voltar ao Opus Dei?
Se quisessem, sim. Há incompreensões, pode haver perspetivas
diferentes, mas há um respeito por essas perspetivas. É muito
importante perceber o que as pessoas sofreram e compreendê-las,
ajudá-las e pedir perdão. Pedir perdão porque houve coisas que foram
mal feitas. Todos nós somos seres humanos e todos nós, às vezes, com a
melhor das boas vontades, podemos fazer coisas que são barbaridades.
E aí, sim, temos o desejo de retificar.

Portanto, o Opus Dei cometeu erros com muitas dessas
pessoas.
O Opus Dei, como instituição, não. Mas muitas pessoas do Opus Dei
sim. E por isso é que há este desejo de pedir perdão.
As mortificações corporais têm alguma coisa a ver com o que
vimos no Códig o da Vinci?
Não, não têm nada a ver (risos).

Ainda se praticam?
A chamada mortificação é algo que faz parte do património cristão. No
fundo, é ver como a nossa identificação com Cristo também é com
Cristo sofredor, Cristo que sofre voluntariamente, porque Jesus não
morre fruto de umas circunstâncias das quais não pôde escapar. Morre,
dá a sua vida, exatamente porque quer, porque quer redimir-nos. O
sacrifício vem daí, desta identificação com Jesus. Perceber como é que o
sofrimento unido à cruz como manifestação de amor é algo que
contribui para o tesouro da humanidade. O Papa Bento XVI, quando
refere o sofrimento, diz que aí estamos a contribuir para a compaixão,
porque, no fundo, é perceber como é sofrer, estar ao lado de quem sofre,
estar ao lado de Cristo.

"A chamada morti cação é algo que faz parte do


património cristão. (...) O Papa Francisco referiu há
pouco tempo que houve alturas em que ele também
usava o cilício"

Usa­se o cilício [cinto, corrente ou cordão com farpas, usado
sobre a pele como penitência] e as disciplinas [um objeto
semelhante a um chicote]?
As pessoas que querem sim. Mas o Papa Francisco referiu há pouco
tempo que houve alturas em que ele também usava o cilício.

Isso pode ser, de alguma forma, incompreensível aos olhos de
hoje?
Sim, completamente. Assim como é incompreensível que tenha havido
um Deus que encarnou e que nos salvou a todos e que há todo um
sentido para a história. Isso, para um mundo que recusa o
transcendente, é incompreensível.

Acha que o Códig o da Vinci contribuiu para criar muitas das
imagens que existem hoje à volta do Opus Dei?
Sem dúvida. Recolheu muitos destes fantasmas que corriam e divulgou-
os de uma maneira mais mediática. Por exemplo, a mortificação que
aparece ali é uma caricatura. É como estar a dizer que quando um
macaco emite um som é parecido a um homem que fala. Não tem nada a
ver (risos).

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Pedo lia. “Unidade com o Papa é algo que é fundamental


na Igreja”

A Igreja está a fazer o suficiente para lidar com o problema da
pedofilia?
Este problema, podemos dizer, é uma coisa tremenda, que quase produz
revolta. Temos de evitar cair na revolta, porque sabemos que temos de
confiar em Deus. Mas eu vejo em tudo isto uma bênção de Deus. O pior
que há é uma gangrena que não se conhece, que está a destruir. Estes
erros estavam a destruir a missão da Igreja, a imagem da Igreja.
Quantas vítimas ficaram com a sua vida completamente destruída?
Pessoas, crianças, que esperavam encontrar Deus e foram
completamente enxovalhadas?

A Igreja traiu­as.
Essas pessoas da Igreja traíram-nas. E isto é tremendo. Por isso, é bom
conhecer este mal, porque é isso que nos salva. Bento XVI, quando
começaram a aparecer estes casos, disse: “Só a verdade salva”. Digo que
é uma bênção de Deus porque Deus está a purificar a Igreja daquele mal
que existe nos seus membros.

Chega pedir desculpa?
Não, não chega. Têm-se feito muitas coisas. Há uma progressiva
consciência do que significam esses erros graves e do modo como é
preciso sarar as feridas. Não basta pedir desculpa, é preciso
acompanhar as vítimas, compreender a sua dor e a sua revolta — essas
pessoas, sim, estão revoltadas — e procurar ajudá-las a que voltem a
encontrar Deus, sabendo que Deus não se esquece delas. Depois, sim, é
preciso tomar medidas, que se estão a tomar, para que nunca mais se
repitam estes casos.

Como viu a carta do arcebispo Carlo Maria Viganò a
denunciar que o Papa Francisco, alegadamente, teria tido
conhecimento dos abusos do cardeal norte­americano
Theodore McCarrick?
É bom olhar para tudo o que a Igreja está a fazer e, ao mesmo tempo,
como alguns bispos dos Estados Unidos pediram, precisamos de saber a
verdade.

"Há uma progressiva consciência do que signi cam


esses erros graves e do modo como é preciso sarar
as feridas. Não basta pedir desculpa, é preciso
acompanhar as vítimas, compreender a sua dor e a
sua revolta e procurar ajudá-las a que voltem a
encontrar Deus, sabendo que Deus não se
esquece delas"

A carta tem credibilidade, na sua opinião?
O que é preciso é investigar e o Papa já fez isso, já ordenou que se
investigasse tudo o que está relacionado com este caso do cardeal
McCarrick. É por aí que é preciso ir, para esclarecer. Se se levanta uma
suspeita, é preciso esclarecer. Não podem ficar dúvidas.
E se se concluir que o Papa sabia mesmo, o que é que devia
acontecer?
É o Papa que tem de tomar a decisão, mas eu confio totalmente no
Santo Padre.

Os bispos portugueses…
…manifestaram a sua unidade! E é muito bom. A unidade com o Papa é
algo que é fundamental na Igreja. O Santo Padre é o fundamento da
unidade da Igreja. Poderíamos até dizer que o ministério do Santo
Padre é possibilitar que a Igreja esteja unida. Estando unidos ao Papa,
então estamos unidos entre nós e estamos unidos a Cristo. Por isso, é
um valor que é preciso defender sempre.

O cardeal D. António Marto chegou a dizer, também numa
entrevista ao Observador, que aquela carta fazia parte de uma
campanha organizada pelos ultraconservadores.
Isso é uma análise da situação.

"Há campanha dos ultraconservadores contra o Papa"


/premium
Defensor de Francisco, o cardeal António Marto diz que os católicos
ultraconservadores estão a aproveitar a "catástrofe" que são os abusos sexuais na
Igreja para "dar um golpe de morte" no Papa.

Por João Francisco Gomes

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O Opus Dei é muitas vezes associado a esta ala mais
conservadora da Igreja.
Isso são clichés. Não é verdade. No Opus Dei, e o prelado sempre o tem
dito, temos de estar sempre unidos ao Santo Padre, rezar pelo Santo
Padre, e ajudar a contribuir para a unidade, para que todos estejam
unidos ao Santo Padre.
Mas podemos colocar o Opus Dei nesta ala mais
conservadora?
Não. Mesmo até dizer que o Opus Dei é da ala mais conservadora, isso é
uma visão completamente superficial e errada. A realidade é totalmente
diferente. O Opus Dei pretende, sim, ajudar a que todos sejam fiéis à
doutrina da Igreja, ao Magistério, estejam unidos ao Papa. S. Josemaria
dizia que uma das finalidades do Opus Dei é levar todos, com Pedro, a
Jesus por Maria. Todos com Pedro. Todos unidos a Pedro. Com o Papa.

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O engenheiro guitarrista que perdeu as eleições para a


associação de estudantes

Quando entrou para a organização, tinha seguramente noção
de todas estas críticas à atuação do Opus Dei. Como as
interpretava?
Conhecia. Um exemplo: quando estava no liceu, tinha um colega cujo
pai também tinha lido desses livros. Este meu amigo, que também
alguma vez tinha ido a algum dos meios de formação do Opus Dei,
falou-me disso, do que o pai lhe tinha dito. E eu disse-lhe: “Olha, a
realidade é outra. O que eu conheço não é nada disso”. Esse mito é algo
que se tem vindo a desfazer com o conhecimento da realidade. O Opus
Dei surge como algo que é novo, inédito, e às vezes há dificuldade para
compreender o que é a naturalidade de viver a vida cristã com empenho,
sendo um engenheiro, um advogado, um médico, um trabalhador da
construção civil… Essa dificuldade de compreender levou, às vezes, a
procurar preencher aquilo que não se percebia com outros parâmetros.

Porque é que não se percebia? Porque os membros não
divulgam a pertença, este secretismo de que se fala?
Pela naturalidade com que viviam a sua relação com o Opus Dei. Uma
das coisas que são próprias do espírito do Opus Dei é que as pessoas são
cidadãos normais e correntes e que não ocultam a sua relação com o
Opus Dei. Mas que não andam nenhuma identificação. Essa
naturalidade, que hoje em dia as pessoas já aceitam e compreendem, na
altura era estranha.

José Rafael Espírito Santo, de 59 anos, natural de Lisboa, estudou engenharia em Coimbra e
loso a em Roma (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

Quando entrou no Opus Dei também levava algumas destas
dúvidas?
Não, porque eu conhecia a realidade do Opus Dei pelo meu pai e pela
minha mãe. Depois, pelas pessoas que eu conhecia, via que tudo isso era
um desconhecimento da naturalidade com que as pessoas viviam.

O que é que surgiu primeiro? A vocação para ser padre ou a
vocação para entrar no Opus Dei?
Primeiro, surgiu a vocação para o Opus Dei, que descobri quando era
muito novo.

Quantos anos tinha?
Descobri quando tinha 14 anos, porque já o meu pai era do Opus Dei e
sempre me foi ajudando a crescer na fé, sempre com grande respeito
pela liberdade. Foi-me ajudando a amadurecer na fé e, aí sim, fui
descobrindo essa possibilidade de ter a mesma vocação.

Quando é que entrou, efetivamente, na prelatura?
Fiz o chamado pedido de admissão quando tinha 14 anos e meio. Mas,
depois, há todo o processo, e só aos 21 é que fiz o chamado
compromisso definitivo.

Nessa altura, qual era a ideia que tinha do Opus Dei? Calculo
que fosse a perspetiva do interior da organização.
Sim, e também pelas pessoas que ia conhecendo. Por exemplo, o meu
irmão, que não é do Opus Dei, é um dos iniciadores de um clube de
rapazes chamado Clube Xénon. Portanto, eu já conhecia quais eram as
atividades que se desenvolviam. Depois, com naturalidade, comecei a
frequentar e fui amadurecendo na minha relação com Deus, vendo o
que Deus me ia pedindo e o que é que queria fazer da minha vida.

Já na altura, com 14 anos, tinha noção do compromisso que
pretendia assumir?
Sim. Aquilo que me perguntaram incluía tudo o que significava esse
compromisso.

O que é que queria ser dentro do Opus Dei?
Uma pessoa normal, corrente. Sou engenheiro civil e o que pensava era
em dedicar-me à engenharia civil. O meu irmão é engenheiro civil, tem
um gabinete de engenharia. E eu também pensava que a minha vida iria
por aí. Depois, acabei o meu curso em Coimbra e fiquei como assistente
e também tinha a perspetiva de ter a minha carreira universitária, como
assistente e depois como professor.
"Em casa dos meus pais, sempre tínhamos uma
vivência política. O meu pai, na altura, era Governador
Civil em Vila Real. (...) Depois do 25 de Abril, logo em
1974, z uma lista para a associação de estudantes
do Liceu Camões. Não ganhei, quei em
segundo lugar"

Mas queria ser numerário ou supranumerário? Ou seja,
queria casar?
Nessa altura, aquilo que me propuseram era já ser numerário, com a
consciência de que Deus me pedia o dom do celibato. Foi assim que
correspondi.

Estudou primeiro em Lisboa e depois em Coimbra…
Fiz o primeiro ano no Técnico, sou o número 23.166 do Técnico (risos).

O 25 de Abril tinha sido há pouco tempo.
Apanhei-o no liceu, estava no correspondente ao nono ano de agora.

Na altura, os jovens estavam muito próximos da intervenção
política. Como foi a sua intervenção?
Desse ponto de vista, em casa dos meus pais, sempre tínhamos uma
vivência política. O meu pai, na altura, era Governador Civil em Vila
Real. Portanto, havia uma consciência da realidade política e era natural
ter esse desejo de intervir. Depois do 25 de Abril, logo em 1974, fiz uma
lista para a associação de estudantes do Liceu Camões. Não ganhei,
fiquei em segundo lugar (risos).

Nessa altura, já estava a fazer o seu percurso dentro do Opus
Dei. O que é que o levou à Engenharia Civil?
Sempre tive claro que ia ser engenheiro. Pelo modo de ser, pelo modo de
ver as coisas. Depois, fui amadurecendo essa realidade. Quando acabei o
que corresponde ao décimo primeiro ano, apanhei o Serviço Cívico.
Durante o Serviço Cívico, estive a trabalhar numa empresa de relógios,
levava as encomendas para as lojas, e isso ajudou-me muito a conhecer
o mundo do trabalho, ter um trabalho e estar ali a receber um ordenado,
que era uma coisa ridícula na altura. Foi o primeiro ano em que houve
exames de acesso à universidade e eu estava em dúvida entre
engenharia mecânica e engenharia civil. Mas depois vi claramente:
engenharia civil. O meu irmão já estudava no Técnico.

Já conhecia a história do beato Álvaro del Portillo [1914 —
1994, sucessor de Josemaria Escrivà à frente do Opus Dei]?
Que era engenheiro civil, também.

Inspirou­o a seguir essa área?
Não foi propriamente uma inspiração. Eu conhecia o beato Álvaro
porque o conheci aqui em 1972, quando veio o S. Josemaria cá. Mas
conheci-o no sentido em que ele acompanhava S. Josemaria, porque
passava sempre muito despercebido. Sabia que ele era engenheiro civil,
mas não foi isso que me influenciou.

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