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Susana Cristina Caleiro Rodrigues | O fogo como centro e símbolo da casa

O fogo como centro e símbolo da casa


Fire as the center and symbol of the house
Susana Cristina Caleiro Rodrigues*

Resumo Abstract

O fogo está na origem da casa e da noção de lar, Fire appears to be in the origins of the house
encontrando-se, inicialmente, no centro da ha- and the idea of home, initially established as the
bitação. Progressivamente perdeu importância, center of the dwelling. Progressively has lost its
deslocando-se da sua centralidade para as zonas importance, moving from the center to the side
laterais. Nesse sentido, há um percurso do fogo walls. In this sense, there is a path of the do-
domesticado a reter na abordagem dos espaços mesticated fire to retain at the approach of living
habitacionais: ao longo do tempo o posiciona- spaces: over time the position of fire, as well as
mento do fogo, assim como a sua funcionalidade its functionality and meaning, were transformed.
e significado, foram-se transformando. Esta pes- This search intends to develop the concept of
quisa centra-se no conceito de fogo como centro fire as the center and symbol of the house, while
e símbolo da casa, enquanto fundador do espa- founder of the domestic space and the begin-
ço doméstico e origem do habitar, assim como ning of dwelling, as well as a qualifying element
elemento qualificador do espaço arquitetônico. of architectural space. The intention of making
A intenção de tornar este conceito um tema de this concept one of theoretical exploration ap-
exploração teórica surge no sentido de contribuir pears to contribute to the understanding and
*Mestre pela Universidade de para o entendimento e concepção de projeto ar- design of architectural project, within the con-
Évora, em 2015. Arquitecta quitetônico dentro do contexto contemporâneo. temporary context.
Estagiária em Rui Silva Russo
– Atelier de Arquitectura, Lda. Palavras-chave: Habitar. Lar. Lareira Keywords: Dwell. Home. Fireplace.

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Las vivencias que experimenté en silencio en tor-


no al fuego que ardía en el centro de aquel gran
espacio y que iluminaba intermitentemente la cú-
pula de paja, el dormir dentro de una camariña de
madera y la atmósfera general que me envolvía
com aquel olor penetrante de ahumado, me im-
presionaron tanto que tenía la sensación de estar
Introdução viviendo otros tempos.

Yago Bonet Correa, La Arquitetura del Humo, p.11

A presente investigação teve como ponto de mente estudada, verificando-se uma abordagem
partida a afirmação de Vitrúvio, no seu tratado muito superficial e simplificada sobre a temática.
De Architectura, que na descoberta do fogo está Contudo, destacam-se dois arquitetos espanhóis
a origem da casa e do homem social (VITRÚVIO, – Luis Fernández-Galiano e Yago Bonet Correa
2006). Da mesma forma, a etimologia da palavra - que contribuem com pensamentos e teorias
lar – local da habitação onde se acende o lume - aprofundadas sobre o tema e que, apesar de se-
revelava que fogo e casa são indissociáveis. Com rem abordagens diferentes, complementam-se
o desenvolvimento da investigação percebeu-se na fundamentação do tema.
que, se nos primórdios o fogo se encontrava ao
centro da habitação, utilizado tanto para aquecer, Antecedentes
como para cozinhar e iluminar, sendo igualmen-
te foco de um fascínio místico, progressivamente O primeiro autor (FERNÁNDEZ-GALIANO, 2000)
perdeu importância, deslocando-se da sua cen- teoriza sobre a ligação entre arquitetura e energia,
tralidade para as zonas laterais. Compreendeu-se combustão e construção. Reconhece a existên-
então que, apesar do fogo ser elemento proto- cia de uma relação entre fogo e casa, que sofreu
-arquitetônico, sendo a partir dele que a arquite- alterações ao longo do tempo, identificando uma
tura surge como concretização do habitar, com o progressiva desvalorização do valor simbólico do
passar do tempo, essa relação foi-se dissipando. fogo, à medida que este se multiplica, difunde e
especializa, perdendo, assim, a sua qualidade e
Da pesquisa efetuada, constata-se que a relação significado, tanto mítica como ritual, até à sua ex-
do fogo com a arquitetura não tem sido profunda- pulsão do lugar central que ocupava na habitação.

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Segundo o arquiteto, as consequências desta rup- rie Houses que o arquiteto projetou no início do
tura entre fogo e arquitetura são duas: por um lado, século passado foram desenhadas a partir da
a arquitetura atual reproduz uma visão mecânica e lareira, definidora de todo o espaço interior, en-
vazia de sentido, a um ritmo monótono e obsessi- tendida a partir da ideia do fogo primitivo como
vo, transformando a casa num lugar desarticulado, origem da congregação humana e da família.
sem centros e limites; em segundo lugar, o espaço Essas casas, desenhadas à escala da paisagem
arquitetônico está, progressivamente, a tornar-se americana, pretendiam servir a família, estrutura-
visual e termicamente homogéneo, e, enquanto da por princípios muito clássicos, que se reunia
procura abstrair-se do lugar, visa ser igualmente sobretudo em torno da mesa e da lareira. A sua
alheio à memória e ao tempo, não apenas histórico, composição partia do princípio da lareira cen-
mas também meteorológico e astronómico. tral, quase sempre de pedra, larga e firmemen-
te estabelecida no centro da composição. Desta
O segundo autor (CORREA, 2007) traça a cro- lareira todos os elementos se irradiavam, e daí
nologia da relação entre fogo e arquitetura, deli- surgiam os outros espaços, abertos e fechados.
neando a evolução do que denominou “espacio Também outros grandes nomes da arquitetura do
del humo” (Ibid., p.15), caracterizando-o como o século XX estabeleceram a união entre arquite-
espaço mais alto de um conjunto e onde o fogo tura e fogo, polarizando a lareira como coração
é centralizado. Afirma, inclusive, que se pode en- da casa, nomeadamente Alvar Aalto, Gunnar As-
tender como espaço do fumo todo o espaço ar- plund e Louis Kahn.
quitetônico muito alto, ou de pé direito duplo, com
luz zenital e que liga uma serie de espaços peque- Fundamentos teóricos
nos. O arquiteto desenvolve esta teoria através de
uma percepção histórica, remetendo às origens e Assim, pretende-se desenvolver o conceito do
evolução dos primeiros abrigos do Homem até ao fogo como centro e símbolo da casa e como ele-
período moderno. Assim, o autor parte do fumo, mento expressivo na arquitetura. O objeto cen-
como metáfora do difuso e, consequentemente, tral desta abordagem primeva explora e define o
termina dando conceitos precisos e descrevendo conceito do fogo enquanto fundador do espaço
com clareza uma coleção de exemplos, nomea- doméstico e origem do habitar, e como elemento
damente de arquitetos como Le Corbusier, Baillie qualificador do espaço arquitetônico. A intenção
Scott, Adolf Loos, e Frank Lloyd Wright. de tornar este conceito um tema-base de explo-
ração teórica surge no sentido de contribuir para
De facto, Frank Lloyd Wright pensou o espaço o entendimento e concepção de projeto arquite-
habitacional em torno da ideia do fogo. As Prai- tônico dentro do contexto contemporâneo.

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O termo habitar, do latim habitare, um frequentativo é sinónimo de habitar, mas que nos deve fazer
de habeo que significa ter, possuir ou ocupar, signi- pensar o habitar que aí se nomeia. Também a pa-
fica, em termos literais, ocupar um determinado lo- lavra bin, que significa sou, deriva de bauen, e
cal, vivendo ou morando nele. Contudo, o conceito evidencia que somos à medida que habitamos.
de habitar transcende essa definição objetiva. Concluindo esta primeira análise, o filósofo acen-
tua que só iremos encontrar a essência do cons-
Quando o tema é a habitação e o habitar, o pen- truir quando o pensarmos, em si mesmo, como
samento e entendimento arquitetônico são in- um habitar. Continua o raciocínio, explicando-
fluenciados pela fenomenologia existencialista. -nos que o habitar não surge porque construí-
Em meados do século XX, começou a pensar- mos, pelo contrário, construímos e chegamos
-se a casa como o único lugar onde o Homem a construir à medida que habitamos. Numa se-
se pode fixar existencial e espiritualmente. Em gunda análise linguística, o filósofo conclui que
Construir, Habitar, Pensar, o filósofo Martin Hei- a essência do habitar, relacionada com as pa-
degger (1971), um dos pensadores fundamentais lavras góticas wunian que significa permanecer,
do século passado, fala da existência de uma cri- demorar-se, Friede que designa paz e Freie que
se habitacional, e, tendo como ponto de partida significa resguardado, é, efetivamente, esse res-
as questões O que é habitar? Em que medida o guardo, o conforto e proteção de um abrigo, e
construir pertence ao habitar?, analisa cada um um demorar-se junto às coisas. Neste sentido,
dos termos, de modo a formalizar o conceito e analisando o conceito de espaço, Heidegger
de habitar. A relação entre habitar e construir é explica-nos que o espaço não é algo além do
o primeiro ponto da análise. Segundo o filósofo, Homem – nem é um objeto exterior nem uma vi-
o construir tem sempre como objetivo o habitar, vência interior -, ou seja, quando olhamos para
contudo, nem todas as construções são, efetiva- dentro de nós, num momento de introspeção,
mente, habitações. Por conseguinte, após ques- é a partir do lugar onde nos demoramos, onde
tionar se a habitação garante o habitar, conclui permanecemos, que chegamos dentro de nós.
que o construir é em si mesmo o habitar, e não Assim, a essência de construir é deixar habitar:
apenas um meio para tal. Analisando o significa- apenas podemos construir quando somos ca-
do das palavras, em alemão, a sua língua mater- pazes de habitar. Somente na tentativa de com-
na, diz-nos que a palavra que designa construir é, preender o significado de habitar e construir se
do alto-alemão, buan, que significa, igualmente, depreende que ao habitar pertence um construir
habitar. Porém, o significado do verbo bauen – e que dele adquire a sua essência. Só após isto
construir -, perdeu-se. O filósofo salienta que a se pode pensar. O pensar, assim como o cons-
palavra buan não revela meramente que construir truir, pertence ao habitar. Tanto um como outro,

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de maneiras diferentes, são fundamentais ao ha- ditava ser o objetivo da arquitetura) é construído
bitar. Porém, só se revelam suficientes quando pelo Homem na sua relação com o meio, através
em conjunto, e conscientes de que resultam de da percepção e do simbolismo. No seu livro Exis-
uma longa experiência e exercício incessantes tencia, Espacio y Arquitectura, de 1975, introdu-
(HEIDEGGER, 1971). Assim, habitar transcende ziu o conceito de espaço existencial, tendo como
o seu sentido literal e passa a significar a forma ponto de partida a afirmação de Heidegger de que
como o Homem é e está no mundo. Ao analisar a existência é espacial. Para o arquiteto, o con-
Heidegger, o arquiteto Christian Norberg-Schulz ceito de espaço tem um significado limitado e, ao
(1975) indica-nos que é justamente por existir introduzir o conceito de espaço existencial, acre-
essa inter-relação entre o construir, o habitar e o dita ser possível superar essas limitações e recu-
pensar que a arquitetura pode ser poética. perar a posição central que o espaço deve ter na
teoria arquitetônica. Assim, define espaço existen-
Norberg-Schulz foi, de facto, o primeiro arquiteto cial como “…un sistema relativamente estable de
a aproximar-se das teorias de Heidegger1, dedi- esquemas perceptivos o ‘imágenes’ del ambiente
cando-se, desde 1960, ao desenvolvimento da circundante” (NORBERG-SCHULZ, 1975, p. 19),
interpretação das ideias do filósofo, tendo como ou seja, o espaço existencial é um conceito psi-
base o ensaio Construir, Habitar, Pensar. Para ele, cológico3, “…lugar de uma experiência de relação
habitar é muito mais do que o simples abrigo; re- com o mundo por parte de um ser essencialmente
1.O pensamento de Heide- quer que os espaços onde a vida se desenrola se- situado «em relação com o meio» ” (AUGÉ, 1998,
gger pode também ser apli-
jam lugares, no verdadeiro sentido da palavra. O p. 86), sendo o espaço arquitetônico a sua concre-
cado à arquitetura de Frank
Lloyd Wright, Alvar Aalto e arquiteto define lugar como um espaço com uma tização. As imagens, por sua vez, são construídas
Louis Kahn. identidade particular, uma atmosfera, ou espírito. a partir das estruturas elementares do Universo,
2. “First of all I owe to Heide-
O espírito do lugar, ou genius loci, conceito de ori- das estruturas condicionadas social e cultural-
gger the concept of dwelling.
‘Existential foothold’ and gem Romana, define que todos os lugares têm o mente, e das características particulares de um
‘dwelling’ are synonyms, seu genius, o seu espírito guardião. Esse espírito indivíduo ou grupo.
and ‘dwelling’, in an existen-
é a sua identidade, a sua essência, é o que ca-
tial sense, is the purpose of
architecture” (NORBERG- racteriza, em termos qualitativos, um determinado O arquiteto distingue cinco níveis do espaço exis-
-SCHULZ, 1991, p. 5). lugar - designa o que é, ou que deseja ser. Profun- tencial: “El más bajo de los niveles es determinado
3. “…es un concepto sicoló-
damente interessado em estudar as implicações por la mano…. El nível inmediato superior, o sea el
gico que denota los esque-
mas que el hombre desar- psicológicas da arquitetura, além do seu funcio- mobiliário …. El tercer nível, la casa …. El nível ur-
rolla, en interacción com el nalismo (NORBERG-SCHULZ, 1991), considera bano …. El nível del paisaje rural…” (NORBERG-
entorno para progresar satis-
factoriamente” (NORBERG-
o habitar sinónimo do que denominou de suporte -SCHULZ, 1975, p. 34). Interessa salientar o nível da
-SCHULZ, 1975, p. 46). existencial2. Esse suporte existencial (que acre- casa, que define como o lugar central da existência

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humana. Observa que a estrutura da casa é primei- coincide com o centro do nosso espaço existencial
ramente a de um lugar, que contêm uma estrutura experimentamos a sensação de “estar em casa”.
interior diferenciada, ou seja, que se organiza em Sendo o espaço arquitetônico a concretização do
espaços secundários e pontos que os conectam. espaço existencial, Norberg-Schulz diz-nos que, a
No seu interior, desenvolvem-se diferentes ativida- essência da casa, arquitetonicamente, é o espaço
des que, enquanto conjunto, expressam uma forma interior. Conclui que a estrutura de um lugar, nome-
de vida. Essas atividades têm uma relação variável adamente a casa, é composta por duas categorias:
com o exterior e com as duas direções básicas: o espaço e o caráter, que ao serem analisadas pela
vertical e horizontal. Em geral, a casa expressa a percepção e pelo simbolismo, permitirão o suporte
estrutura do habitar nos seus aspetos físicos e psí- existencial, ou seja, a capacidade de habitar do Ho-
quicos. Está pensada, ou deve ser pensada, como mem (NORBERG-SCHULZ, 1975).
um sistema de atividades concretizado como um
espaço que engloba lugares de caráter distinto. A Também o filósofo Merleau-Ponty, na sua fase
imagem da casa depende, assim, da existência de final, refletiu sobre esta problemática. Não nos
lugares diferenciados que se influenciem mutua- deixou necessariamente uma filosofia do habitar,
mente. Principalmente, salienta Norberg-Schulz, o no entanto, o conceito converteu-se no ponto
caráter [do lugar doméstico] é determinado por coi- aglutinador de todo o seu pensamento. Trans-
sas concretas tais como a lareira, a mesa e a cama, cendendo o habitar a casa, no pensamento de
ou seja, são os elementos básicos do espaço exis- Merleau-Ponty, adquire um sentido universal.
tencial que o caracterizam. O arquiteto explica que Para o filósofo o Homem habita o seu corpo, as
há uma interação entre os níveis que definiu, pois coisas, o tempo e o espaço, em geral, o ser. Ou
os níveis mais altos são concretizados pelos níveis seja, o habitar é a relação verdadeira, a relação
mais baixos. São os detalhes do que nos rodeia que propriamente humana com o mundo, e este ha-
dão significado ao espaço existencial. Inclusive, o bitar geral, por outro lado, encontra-se indisso-
genius loci depende de uma concretização humana ciavelmente conectado com o habitar num senti-
e, com efeito, essa manifesta influência é geralmen- do mais restrito, o habitar a casa. Deste modo, a
te reconhecida. Por norma, o Homem projeta-se casa adquire uma função central na constituição
a si mesmo no ambiente que o rodeia; comunica essencial do Homem (BOLLNOW, 1966).
algo ao ambiente que, por sua vez, unifica as “coi-
sas” num contexto significativo mais amplo. Toda A casa
a atividade humana tem aspetos espaciais, dado
que toda a atividade implica movimento e relações Desde tempos imemoriais que o Homem, na
com o lugar. Quando a nossa localização imediata demanda de se proteger do meio naturalmen-

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te agreste, procurou consolidar a sua habitação ra de um abrigo ou refúgio (CARVALHO, 2006).


de modo a que esta lhe permitisse habitar esse A palavra refúgio, do latim, refugium, do verbo
ambiente em segurança e de uma forma mais refugere (re- para trás, mais fugere, fugir), fugir
confortável. Ou seja, delimitou um espaço apro- para trás, recuar, afastar-se, significa o lugar para
priado à sua sobrevivência, controlando o meio onde alguém foge ou se retira, a fim de estar em
que o envolvia. Neste sentido, podemos conside- segurança. Refúgio é, igualmente, sinónimo de
rar a habitação como “…a solução elementar que abrigar, apesar de etimologicamente ser muito
resolve o problema humano do habitar na Terra” distinta. Do latim apricus, aquecer pelo calor do
(RODRIGUES A.L., 2008, p. 30). Progressivamen- sol, ou exposto ao sol, a palavra abrigo designa
te, o Homem tornou-se cada vez mais depen- um lugar defendido das intempéries, resguarda-
dente desse refúgio onde encontrava proteção, do - uma morada.
e os elementos que o constituíam e construíam
revelaram-se essenciais à sua própria existência. O conceito de abrigo não é, no entanto, uma in-
Por este motivo, a sua habitação evoluiu, ao lon- venção humana; é algo que procuramos instinti-
go do tempo, de acordo com as suas exigências e vamente, como todos os animais (ALLEN, 2005),
necessidades. A partir do momento em que o Ho- sendo que os artefatos humanos, criados a par-
mem reconheceu essa relação íntima que estabe- tir da intuição, da inteligência e da razão, com
lece com o lugar que habita, compreendeu que o propósito de habitar, aproximam-se, de certo
deveria domesticar e individualizar esse espaço, modo, aos habitáculos naturais5. Pragmatica-
e a partir daí a habitação passou a significar um mente, para um animal, um abrigo é especifica-
lugar de pertença e de identificação do habitante, mente o local onde este se pode aninhar e de-
constituindo o seu domínio privado, distinto do fender dos predadores, e é, fundamentalmente, a
domínio público. Assim, surge o conceito de casa impossibilidade do contato com o exterior. Esse
(Ibid.). Do latim casa ou casae, é o nome comum abrigo não determina quaisquer limites simbóli-
a todos os edifícios especialmente destinados a cos: isto é o oposto daquilo que, analogamente,
4.Da palavra domus surge o
habitação, significando também família, conhece- para o Homem constitui a sua habitação, a sua
nome domicilĭum, que tra-
duz domicílio, e o adjetivo -se a sua utilização já em 870: “… et adicimus casa (JORGE, 2007). A palavra lar reflete, ou evi-
domestĭcus, que designa ibidem… casas cubos cubas et omnia edificia…”. dencia, esse simbolismo associado à casa. Do
doméstico, ou da casa, da
Já a designação domus4, do latim, significa casa, latim, Lār, Lāris, no plural Lāres, a palavra lar sig-
família.
5. Bachelard, no livro A Poéti- morada, habitação (FERREIRA, 1998). nifica, originalmente, a parte da habitação onde
ca do Espaço, faz uma refle- se acende o fogo. A denominação lar doméstico
xão sobre a analogia entre a
De facto, habitar tem sido relacionado, ao longo diz-se especialmente para significar a intimidade
casa do Homem, o ninho, a
toca e a concha. do tempo e nas várias disciplinas, com a procu- da família. Da palavra lar surge a palavra lareira,

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que denomina a pedra, ou laje, em que se acende de o espaço geométrico. A casa é a nossa própria
o fogo. É, no entanto, utilizada como sinónimo de expressão no espaço e no tempo; é, neste sentido,
casa ou habitação, que reforça a ideia da casa a nossa “…segunda pele” (JORGE, 2007, p. 94).
como refúgio, como espaço íntimo. Se Norberg-
-Schulz (1975) designa espaço existencial como A casa representa o espaço individualizado, onde
um conceito psicológico sendo o espaço arquite- o indivíduo se sente seguro, confortável, no calor
tônico a sua concretização, então, pode-se con- do que lhe é íntimo; onde se encontra como ser,
siderar que o lar é um espaço existencial consa- nas suas diversas dimensões. O arquiteto Ernesto
grado pelo espaço arquitetônico, a casa. Assim, Rogers indica-nos que “…ao abandonar o ventre
considera-se o lar um espaço mental e a casa materno, o Homem necessita de uma proteção
a sua expressão física. A casa denomina, des- mais vasta…” (apud RODRIGUES, 2008, p. 30)7.
te modo, um espaço físico, construído material- Isto significa que o Homem necessita e procura,
mente, enquanto a ideia de lar transcende essa durante a sua existência, um lugar que substitua
materialidade, designando não um espaço físico e que represente o ventre materno. A casa desig-
mas um espaço mental – a casa enquanto corpo na esse novo espaço de proteção – é um símbolo
e o lar enquanto alma. Assim, quando se fala em feminino, no sentido de refúgio, mãe8 ou ventre
casa, fala-se tanto do espaço mental que aí se materno. Apesar destes dois lugares existenciais
nomeia, como da sua concretização física, pois serem claramente distintos, conceptual e material-
consideram-se indissociáveis um do outro. mente, aproximam-se num sentido mais simbólico
e espiritual, ou seja, na necessidade de acolhimen-
6. Bachelard, no livro A Poé-
tica do Espaço, faz uma re- Deste modo, em primeiro lugar, a casa deve ser to, de conforto e de pertença (RODRIGUES, 2008).
flexão sobre a analogia entre reconhecida como tal (JORGE, 2007). O seu espa- A forma circular representa a mais antiga solução
a casa do Homem, o ninho, a
ço reúne sempre certas qualidades que acolhem a de abrigo humano, sendo uma forma “primordial”,
toca e a concha.
7. RODRIGUES, Ana Luísa. domesticidade de quem o habita. A casa orienta- muito presente na Natureza, podendo o côncavo
A Habitabilidade Do Espa- -nos no espaço, pois partimos dela todos os dias ser associado ao ventre materno, considerada in-
ço Doméstico. O Cliente, O
para a ela regressar. É assim o núcleo do nosso tuitiva na edificação dos primeiros abrigos.
Arquitecto, O Habitante E A
Casa. Tese De Doutoramen- espaço físico, não como coisa, mas como morada,
to. Universidade do Minho, como “…construção simbólica no espaço” (Ibid., Bachelard destaca um excerto do livro de Victor
Escola de Arquitectura, Gui-
p. 94). Quando Gaston Bachelard diz que “…a Hugo onde este descreve que para Quasímodo a
marães, 2008
8. “Digo minha Mãe. E é em ti casa é, evidentemente, um ser privilegiado” (BA- catedral fora
que penso, ó Casa! / Casa dos CHELARD, 2008, p. 23) considera-a não um objeto
belos estios obscuros de mi-
inerte no espaço, mas algo que está vivo6. Na ver- …o ovo, o ninho, a casa, a pátria, o universo ….
nha infância” (MILOSZ apud
BACHELARD, 2008, p. 61). dade, para o filósofo o espaço habitado transcen- Quase se poderia dizer que ele havia tomado

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a forma dela, como o caracol toma a forma da para estar só, na sua intimidade (Ibid.) – um espa-
concha. Era a sua morada, sua toca, seu invólu- ço de contemplação dos próprios pensamentos.
cro…Estava, por assim dizer, colado a ela como Esta ideia de canto, ou de recanto12, está muito
9.Bachelard, Gaston. A Poé- p. 960). Este lugar denomi- a tartaruga ao casco. A rugosa catedral era a sua relacionada com a noção de proteção e intimida-
tica Do Espaço. São Paulo: nado inglenook pode ser de; inclusivamente costuma-se utilizar a expres-
carapaça (apud BACHELARD, 2008, p. 103)9,
Coleção Tópicos, 2008. evocado como thermal ae-
10.“A vida começa bem, co- diculae (HESCHONG, 1973).
são “quero ficar quieto no meu canto”, apesar de
meça fechada, protegida, aga- Do latim, a palavra aedicula a catedral - a casa de Quasímodo - era assim a esse canto poder ser apenas metafórico. Esse
salhada no regaço da casa” significa nicho, capela, cela, recanto pode ser onde, numa noite gélida de in-
sua segunda pele. Sublinha esta ideia ao referen-
(BaACHELARD, 2008, p. 26). cubículo, e casa pequena.
11.RODRIGUES, Ana Luísa. Deriva de aedes ou aedis, ciar Jules Michelet, também filósofo, que sugere verno, se acende o lume e se está no calor íntimo
A Habitabilidade Do Espa- esta que significa templo, que a casa é construída “…pelo corpo e para o da chama, um cálido nicho onde nos sentimos
ço Doméstico. O Cliente, O casa ou habitação (FER- no conforto do lar, como o inglenook13, peque-
corpo…” (Ibid. p. 113), assumindo a sua forma
Arquitecto, O Habitante E A REIRA A. G., 1998). Apesar
Casa. Tese De Doutoramen- do termo aedicula ser usu- pelo interior, como uma concha ou como um ni- no espaço com uma finalidade térmica especial,
to. Universidade do Minho, almente utilizado em con- nho, que interiormente é circular por causa do com bancos construídos de cada lado do fogo.
Escola de Arquitectura, Gui- jugação com um pequeno Como Bachelard argumentou “…não encontra-
marães, 2008 espaço sagrado ou cerimo-
corpo do pássaro, ou seja, o habitante é a própria
12. É curioso perceber que nial, pode também ser usado casa, a sua forma e o seu esforço. mos nas próprias casas redutos e cantos onde
o significado de recanto é, para descrever qualquer es- gostamos de nos encolher? Encolher-se perten-
de facto, um lugar retirado trutura diminuta usada para ce à fenomenologia do verbo habitar. Só habita
ou oculto; um esconderijo; o marcar um lugar especial
Bachelard diz-nos ainda que o ninho é uma casa
que há de mais íntimo. (HESCHONG, 1973). O ser de vida pois continua a envolver o pássaro que com intensidade aquele que soube se encolher”
13. Do inglês, Ingle, de ori- humano possui um fascínio sai do ovo (Ibid. p.105). Deste modo, pode-se (BACHELARD, 2008, p. 21).
gem escocesa, significa pelo abrigo em miniatura,
fogo, “…a fire burning upon como refere John Summer-
considerar o ninho uma analogia à casa do Ho-
the hearth; a house-fire. Now son no seu livro sobre o uso mem, pois ambos têm a função de proteção e A casa funciona, dentro das produções da ima-
chiefly in at, by, or round da aedicula na arquitetura substituição10. Dentro da própria casa poderão ginação material, não só como abrigo mas como
the ingle. … as ingle-bench, gótica, e relaciona a aedicula um princípio de integração dos pensamentos,
a bench beside the fire…” com o anseio da criança em
existir espaços, de escala mais reduzida, que
(SIMPSON & WEINER, 1989, esconder-se debaixo de uma signifiquem e reforcem essa sensação de intimi- das memórias e dos sonhos – como um valor
p. 960). Já a palavra inglesa cadeira ou uma mesa, fin- dade, segurança e proteção, que nos permitam de integração psíquica (MELO, 2001). Esses es-
nook significa canto, “…a gindo estar na sua “peque- paços íntimos, exigidos numa casa, são lugares
small secluded or sheltered na casa” imaginária (SUM-
recolher a um canto. Ernesto Rogers refere que
place; a corner or recess: a MERSON, 1948). Assim, “…uma casa não é casa se não tiver um canto onde se pode estar só, consigo próprio, um lugar
cozy nook” (ALLEN R., 2000, como menciona Bachelard para ler poesia, uma cama, uma banheira, uma enquanto experiência do pensamento, sendo a
p. 950). Da junção das últi- “A miniatura faz sonhar.… A arquitetura a concretização dessa experiência.
mas duas palavras resulta miniatura é repousante, sem
cozinha…” (apud RODRIGUES, 2008, p. 85)11,
inglenook, igualmente de jamais fazer adormecer. A ou seja, a casa não tem apenas de responder às Bachelard refere que “…a casa abriga o deva-
origem escocesa, designa imaginação permanece vigi- necessidades físicas do Homem, do corpo, mas neio, a casa protege o sonhador, a casa permi-
“ The nook or corner beside lante e feliz” (BACHELARD,
também às suas necessidades espirituais, da te sonhar em paz” (BACHELARD, 2008, p. 26).
the “ingle”; chimney-corner” 2008, p. 160 e 168).
(SIMPSON & WEINER, 1989, alma, necessitando de um canto para ler poesia, Apenas uma casa carregada de intimidade e es-

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piritualidade permite vivências genuínas, ou seja, à casa, e a criança só se sente segura em ultra-
não é a exuberância da sua arquitetura que a tor- passar os limites da habitação muito lentamente.
na memorável, mas antes, a experiência da vida O autor salienta que o centro representa para o
que conteve14. Só a casa que é usada, habitada, Homem o conhecido, em contraste com o desco-
gasta pela vida dos seus habitantes, é que pode- nhecido, logo assustador.
rá conter histórias que emocionam e perduram
(RODRIGUES, 2008). Isto significa, deste ponto Mircea Eliade (1996) revela-nos que as socieda-
de vista, que uma casa só será casa após ser des arcaicas e tradicionais concebem o mundo
habitada, usada e gasta pela vida que albergou, que as rodeia como um microcosmo. Nos limi-
pois antes de ser vivida, é apenas um espaço tes desse mundo fechado começa o domínio do
concretizado arquitetonicamente, projetado para desconhecido, do não-formado. Assim, de um
cumprir uma determinada função. Só quando a lado existe um espaço cosmicizado, que é ha-
sua função se cumpre, é que a sua essência se bitado e possui uma estrutura, uma organização,
14. É interessante perceber
que a palavra “nostalgia”
consubstancia, ou seja, a arquitetura só poderá do outro lado, no exterior desse espaço familiar,
está intimamente associa- materializar o espaço existencial após o espaço existe a região desconhecida e temível dos de-
da à noção de casa: deriva físico ser vivido, ter contido existência. mónios, das larvas, dos mortos, dos estranhos
das palavras Gregas nostos
– regressar a casa – e algia
– ou seja, o caos, a morte, o desconhecido, logo
– saudade. O centro da habitação, na sua origem, coincide assustador16. Todo o microcosmo, toda a região
15. Do latim significa lar e com o local onde se acende o fogo, sendo este, habitada, tem um ou vários centros, ou seja, um
fogo, dando origem à pala-
vra foco. Aqui utiliza-se de consequentemente, o próprio focus15 desse es- lugar sagrado por excelência. Cada um desses
modo a salientar essa analo- paço - o fogo centralizado. centros é considerado um “Centro do Mundo” –
gia entre lar-fogo-centro. um imago mundi. O espaço sagrado é o espaço
16. Daqui que seja funda-
mental para o ser humano A noção de centro é desenvolvida como forma de real por excelência, pois para o mundo arcaico
o estabelecimento de limi- organização do espaço, no qual este está subje- o mito é real porque ele relata as manifestações
tes do seu espaço mental, tivamente centrado na própria pessoa. Esta ne- da verdadeira realidade: o sagrado. Assim, toda
simbólico ou físico, que lhe
garantam a existência de cessidade revela-se tão intrínseca ao Homem que, a construção ou edificação tem, desde as suas
um “dentro” e um “fora”, um desde a Antiguidade, pensou o mundo como sen- origens, como modelo a cosmogonia – toda a
local protegido, a ordem (o do centralizado. A palavra lar diz-nos que o mundo habitação humana comporta um aspeto sagrado
Cosmos), em oposição ao
desprotegido (o Caos), local pessoal de cada Homem tem o seu centro, signifi- pelo facto de refletir o mundo, e, na sua estrutu-
que, progressivamente, se cando a palavra lar o que é íntimo. Norberg-Schulz ra, revela-se um simbolismo cósmico. A constru-
alargará à medida que aque- (1975) diz-nos que a noção de lar, como centro do ção de uma casa representa a fundação de um
le ser humano vá “colonizan-
do”, i.e., ordenando o espa- próprio mundo individual, remete à infância, pois cosmos num caos, a delimitação de uma morada
ço para lá do limite prévio. os primeiros pontos de referência estão ligados num território desconhecido, e, por isso, a casa é

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uma imagem do mundo, uma imago mundi (Ibid.). um canto para ler poesia, ou seja, que tem de res-
Por exemplo, a construção do altar do fogo sa- ponder às necessidades espirituais do Homem.
grado, na Antiguidade Clássica17, reproduzia a Isto está intrinsecamente relacionado com a inti-
criação do mundo, e o altar era em si mesmo midade e introspeção que encontramos no lugar
um microcosmo. O fogo localiza-se ao centro da que habitamos, no lugar que nos protege do des-
casa desde a sua origem, representando um lu- conhecido. Pode-se designar o lar, local onde se
gar sagrado, foco de um fascínio místico. Repre- acende o fogo, como o canto para ler poesia – o
senta o espaço habitado, o íntimo, o conhecido, focus do nosso espaço espiritual.
que protege do exterior, do desconhecido.
Norberg-Schulz (1975) diz-nos ainda que um am-
O fogo, centro da casa biente estruturado depende da nossa capacidade
de o reconhecer como tal; por outras palavras, de-
Por conseguinte, o centro é o ponto de onde o pende da existência de lugares estáveis, perma-
Homem toma posição como ser pensante no es- nentes, que nos transmitam segurança. O espaço
paço, o ponto onde “mora” e “vive” no espaço. pessoal de cada um deve manter uma estrutura e
Segundo Norberg-Schulz (1975), centro significa ser experienciado como um interior, em contraste
17. Ver COULANGES, Fustel
de (1980). A Cidade Anti- a criação de um lugar, ou, por outras palavras, to- com o exterior que nos rodeia, ou seja, além de
ga: Estudo Sobre O Culto, dos os centros são lugares de ação, onde acon- um centro é igualmente fundamental o estabe-
O Direito E As Instituições
tecimentos significativos da nossa existência têm lecimento de limites. Assim, a casa deve funcio-
Da Grécia E De Roma (10ª
ed.). Lisboa: Livraria Clássica lugar. São pontos de chegada, assim como pon- nar como imago mundi, articulada por centros e
Editora. tos de partida, a partir dos quais nos orientamos limites. A casa continua a conservar o seu aspeto
18. “Porque a casa é o nos-
e apropriamos do ambiente. No entanto, as ações sagrado, ao constituir um espaço inviolável, de in-
so canto do mundo. Ela é,
como se diz amiúde, o nosso só têm significado na sua relação com lugares timidade, repouso, refúgio, marcadamente sepa-
primeiro universo” (BACHE- particulares e estão qualificados pelo caráter do rada do mundo exterior, o profano. Se a casa é o
LARD, 2008, p. 24).
lugar. Este ponto revela-se particularmente impor- nosso primeiro mundo18, como diz Bachelard, en-
19. A mesa é onde a família se
reúne para formar um círculo, tante, pois é no lar – local qualificado pelo fogo, o tão é ainda um cosmos e, assim, a casa e o mun-
enquanto a cama é o local focus -, que se encontra essa significação. A casa do correspondem-se de alguma maneira.
onde se começa e termina o
orienta-nos no espaço, ao partirmos dela todos os
dia. Porém, nos últimos tem-
pos, a televisão e o computa- dias para a ela regressar, é assim o centro do nos- Desde os primórdios que a casa é, de facto, do-
dor têm vindo a constituir-se so espaço físico. Se a casa é o núcleo do espaço tada de “centros”, não só o lugar onde se acen-
como novos focos da casa,
físico que diariamente habitamos, o lar é o centro de o fogo – a lareira -, mas também a mesa e a
criando novos centros e dimi-
nuindo a importância dos três do espaço espiritual. Como anteriormente citado, cama19. A lareira tem sido desde os primórdios o
focos originais. Ernest Rogers acredita que a casa necessita de centro da habitação – foi, de fato, o primeiro cen-

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tro não permitindo distinções entre os espaços único e multifuncional20) e de desenho orgânico,
onde os seus habitantes de reuniam, se alimen- arredondado ou oval, surge, primitivamente, co-
tavam e onde dormiam. Todas as atividades se nectada por uma reminiscência à forma da gruta
centravam em redor do fogo, fossem de ordem (PINTO, 2007).
simbólica, fossem de ordem prática.
De fato, há um percurso do fogo domesticado a
O fogo ocupou, desde a sua descoberta e do- reter na abordagem dos espaços habitacionais:
mesticação, um papel fundamental na vida de ao longo do tempo, o posicionamento do fogo,
todas as civilizações. Apresentava-se, perante assim como a sua funcionalidade e significado,
o Homem primitivo, intrigantemente belo, pe- foram-se transformando. Se na cabana primitiva
rigoso, quente e vivo. Em seu redor criaram-se designava o centro espacial e social, nas habi-
mitos, lendas, ritos e todo um imaginário profu- tações da Antiguidade Clássica adquiria valor
samente criativo. Foi foco de um fascínio místico, sagrado e mítico. Descrito na Odisseia, o termo
onírico e sagrado. Mas, acima de tudo, ofereceu homérico21 mégaron designa um espaço arqui-
20. Com o progresso da civi- 21. O mégaron revela-se ao Homem selvagem a possibilidade de se ci- tetônico característico dos palácios micénicos,
lização, a unidade original do muito semelhante à descri- vilizar. Permitiu cozinhar os alimentos, aquecer na Antiga Grécia22 (e que será mais tarde a base
fogo dissolveu-se e as suas ção da casa de Ulisses feita
e iluminar as noites. Motivou, principalmente, a dos templos gregos)23, porém, segundo Kostof
funções foram separadas por Homero na Odisseia.
- houve uma fragmentação 22. A cultura grega arcaica construção da casa, na intenção de proteger a (1995), conhece-se a sua existência desde 1800
do fogo doméstico - ape- iniciou-se por volta de 1700 chama sagrada e ao mesmo tempo criar um es- a.C., antes do domínio micénico, após ter sido
sar do cozinhar e aquecer a.C., cujo povo inicial, os mi-
paço mais acolhedor, um abrigo – da proteção da descoberto no palácio em Beycesultan, na Ásia
terem permanecido juntos cénicos, não eram nativos da
durante muito tempo. De Grécia. Deslocaram-se para o chama surgiu a arquitetura e o habitar. A essência Menor (atual Turquia). O mégaron, ou sala gran-
facto, o primeiro elemento a país, e para as ilhas em seu da arquitetura, segundo Vitrúvio (2006), encon- de, constituía o núcleo arquitetônico de todo o
autonomizar-se foi a ilumi- redor, a partir da Ásia Menor
tra-se associada à cabana primitiva que protege complexo dos palácios micénicos, a casa do rei,
nação, pois o fogo podia ser e, por volta de 1600 a.C., já
transportado em paus e to- controlavam a região. Cons- o fogo, que o preserva e aquece a família. A pri- estes inspirados no labiríntico palácio de Knos-
ros e a qualidade da chama truíram um grande número de meira casa – primeiro caverna e depois cabana sos. O espaço, que era também a sala do tro-
iluminante dependia das pro- cidadelas, famosas pelas len-
- seria, assim, o resultado do fogo protegido. É, no e lugar de culto, constituía o centro da vida
priedades da madeira. Mais das - Pylos, Tiryns, Mycenae
tarde surgiram inovações -, e falavam um grego arcaico de fato, na cabana primitiva que se encontram social da aristocracia micénica. De dimensões
técnicas como a tocha e a que foi denominado Linear B. plasmadas as regras naturais da arquitetura, uma variáveis, constituiu a tradução mais nobre da
vela, resultado de uma sé- 23. Quando se sentiu a ne-
forma arcaica que demonstra a relação íntima habitação primitiva retangular, organizada por
rie de ínfimos e meticulosos cessidade de construir uma
aperfeiçoamentos para que “casa” para albergar as está- entre Arquitetura e Natureza (RYKWERT, 1999). duas divisões: um amplo espaço retangular, tér-
a chama melhor ardesse em tuas dos deuses que os gre- Talvez seja por esse motivo que a cabana primi- reo (os palácios tinham apenas dois pisos), com
redor do pavio com o único e gos veneravam, o protótipo
tiva de espaço único centrado no fogo (este que um grande fogo central sobre uma base circular,
exclusivo propósito de ilumi- foi a casa do chefe, com uma
nar (SCHIVELBUSCH, 1995). sala retangular e um pórtico. se revela inseparável da casa primitiva, um fogo rodeado por quatro colunas que sustentavam o

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piso superior, antecedido por um vestíbulo, que forma de elipses truncadas e a sua disposição,
permitia a entrada no espaço; por vezes, existia quatro em cada quarto de círculo, faz com que
também um pórtico frontal formado pelo prolon- estejam ligadas por um pórtico, e têm uma co-
gamento das paredes laterais, finalizadas por luna ou pé direito comum nos vértices em que
colunas. A fumaça, causada pelo fogo, escapava se tocam. A estrutura destes edifícios, que datam
por uma ampla abertura situada no teto, que per- de 975 d.C., corresponde a um sistema construti-
mitia, igualmente, a iluminação natural. Na ver- vo chamado Stav (stafr em nórdico antigo, e stav
dade, o mégaron foi uma unidade padrão para em norueguês moderno), muito primitivo, e que
as residências importantes neste local, desde o se desenvolveu posteriormente ao longo da Ida-
terceiro milénio a.C. (Ibid.) de Média, em quase toda a Europa, alcançando
uma perfeição técnica que permitiu a construção
Também nas terras frias e húmidas do norte da de grandes edifícios. A estrutura Stav era com-
Europa, onde os invernos são rigorosos, o fogo posta por muros formados por tábuas verticais e
estabelecia-se como centro do habitar, nomea- de um teto sustentado geralmente por quatro co-
damente nas casas da Escandinávia após o Baixo lunas de madeira colocadas ao meio do espaço.
Império Romano. Das casas escandinavas pou- Este sistema permitia uma grande liberdade ao
cos são os vestígios que ainda permanecem, pois nível da planta, resultando em formas circulares,
estas, dada a abundância do material e, eventu- elípticas, quadradas, etc., e permitia, sobretudo,
almente, o próprio modo de vida, eram constru- gerar espaços de grandes dimensões. Com mu-
ídas em madeira e, sendo este um povo sempre ros longitudinais curvados de grande longitude e
em guerra, desapareciam pelos fogos provoca- as empenas retas, estas casas evocam a forma
dos ou pelo abandono, e apenas permanecem as de um navio invertido, pelo que os arqueólogos
descrições literárias dessa arquitetura civil. Por dinamarqueses as nomearam de casas largas. No
este motivo, mais tarde, sentiram necessidade de seu interior, quatro grandes colunas de madeira,
construir os seus edifícios em pedra. As fortalezas de seção quadrada, que suportavam a cobertu-
vikings, que consolidavam as fronteiras, serviam ra, delimitavam o grande fogo central, protago-
de residência de inverno e de quarteis generais nista destas casas de inverno; ao mesmo tempo,
de onde partiam as frotas rumo ao Sul durante duas paredes de altura média dividiam o espaço
o verão. Já sobre as fortalezas dos vikings dina- central de duas antecâmaras mais pequenas nos
marqueses, ou danevirke, chegaram até nós mais dois extremos, tal como acontecia no mégaron
informações. Estas casas eram construídas com micénico. Também no Sudoeste da Noruega, a
precisão matemática e proporcionalmente ao lo- partir do século V, surgem variantes deste tipo de
cal de implantação; os muros eram curvados em habitação (CORREA, 2007).

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A “fuga” do centro ou do fogo? da casa, fundamentalmente da casa burguesa (a


casa popular preservou a sua rusticidade e eru-
Ainda como as suas antecedentes, a casa da Ida- dição, sempre vinculada à essência da cabana),
de Média era protagonizada pelo fogo. O plano da onde progressivamente se foram adicionando
casa medieval era simples: uma só divisão multi- novos espaços, paralelamente ao gradual dese-
funcional com o fogo estabelecido ao centro – o jo de intimidade (RYBCZYNSKI, 2001), assistiu-
hall. Era aí onde se trabalhava, onde se recebiam -se uma proliferação do fogo doméstico que, ao
as visitas, onde se confecionava a comida, onde multiplicar-se e dividir-se ao longo das paredes
se comia e dormia. Esta divisão única tanto existia das diferentes divisões, foi afastado do centro da
na habitação do camponês, como na do burguês casa, perdendo o seu significado e funcionalida-
ou do senhor, apesar da habitação dos mais des- de originais. Com a difusão do fogão, juntamente
favorecidos, além de diminuta, ser tão elementar com o aparecimento do aquecimento central, o
que pouco era mais do que um refúgio. Na verda- fogo, além de aprisionado e descentralizado, foi
de, para os mais pobres, não existiam os concei- desvalorizado, perdendo-se a relação intrínseca
tos de “casa” e de “família” (RYBCZYNSKI, 2001). que mantinha com a casa desde as suas origens.
O hall era originalmente um espaço único que Esse processo – com a consequente desvaloriza-
ção do simbolismo do fogo - foi acelerado duran-
… posteriormente passa a ser servido por te a segunda metade do século XIX, verificando-
outros espaços subsidiários que a ele se vão -se, progressivamente, uma homogeneização do
juntando, segundo as exigências e as necessi- espaço, tanto visual como termicamente. Ambos
dades de adequação e de separação funcional. os processos de homogeneização foram pos-
O caráter antropológico originário, do espaço síveis devido à separação entre matéria e ener-
24. De acordo com o arqui-
unitário em torno do fogo, perdura nas relações gia, arquitetura e fogo, construção e construção,
teto J. Pickering Putnam
(1847-1917), a ideia de cons- etimológicas das palavras: Hall, Hallaee, Halla, como defende Galiano (2000), gerado no romper
truir a lareira contra a parede
Saal, Sala e Aula, nas suas várias significações da modernidade. De fato, no início do Movimento
surgiu, provavelmente, em
culturais, onde se revela a formação e a evo- Moderno, a autonomia das instalações de aque-
Inglaterra durante o sécu-
lo XI. A lareira lateralizada, lução de um conceito tipológico metahistórico cimento e ventilação estava praticamente con-
na sua forma primitiva da cluída. Por conseguinte, meia década depois, os
(PINTO, 2007, p. 214).
Idade Média, consistia num
espaços visualmente homogéneos, repetitivos e
simples nicho cravado na
espessura da parede, sen- Ainda durante a Idade Média o fogo deslocou- permutáveis, eram igualmente espaços termica-
do delimitado por pequenos mente uniformes. Porém, alguns dos mais impor-
-se do centro para a parede lateral, originando
apoios que suportavam a
a chaminé24, elemento que se tornou indissociá- tantes arquitetos do século XX, como Frank Lloyd
cobertura sobre o fogo (PU-
TNAM, 1882). vel da lareira (PUTNAM, 1882). Com a evolução Wright (vd. Casa Robie), Alvar Aalto (vd. Casa

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Experimental), Gunnar Asplund (vd. Casa em atmosfera ou espírito, e se o fogo, enquanto


Stennäs) e Louis Kahn (vd. Casa Korman), resta- elemento proto-arquitetônico, confere essa
beleceram a união entre casa e fogo, devolvendo identidade, essa atmosfera, então repensar o
à palavra lar o seu significado original, reintrodu- habitar atual pode passar pela necessidade de
zindo significado e simbolismo nesses espaços recuperação das razões e significados primei-
visual e termicamente homogéneos. Pensaram o ros, ou seja, a recuperação da ideia do fogo na
espaço do fogo de uma determinada maneira e origem do habitar, e da sua inerência em rela-
atribuíram-lhe significado – o fogo como centro e ção à casa. Com as consequentes transforma-
símbolo da casa, como origem do habitar. ções no interior da casa, indissociáveis da su-
premacia tecnológica, revela-se fundamental,
A contemporaneidade para o arquiteto, questionar o habitar atual. Se
o fogo congregava a família em seu redor e
Apesar dos esforços desses arquitetos, a união fomentava a conversa, o diálogo, os diversos
entre fogo e arquitetura não se restabeleceu, écrans (televisão, computador) distanciam os
observando-se, continuamente, um afastamento habitantes de uma mesma casa, reforçando
entre fogo e casa, principalmente nos grandes o isolamento. Em vez de se habitar o espaço
centros urbanos, dominados pela tecnologia. O arquitetônico, cada vez mais se habitam es-
lume aceso sobre a lareira apenas permanece em paços virtuais. O vazio hipnotizador do écran
alguns locais mais rurais ou eruditos, onde ainda provoca um vazio existencial, como salienta
se preserva a sua centralidade e funcionalidade. Pallasmaa (2007), mas, acima de tudo, enfra-
Galiano (2000) defende que, tal como a cabana quece a experiência arquitetônica, na sua es-
primitiva, a casa contemporânea é uma imago sência. O fogo surge ao longo deste estudo
mundi, mas enquanto a primeira tinha como base como uma metáfora do habitar, pois a partir
um mundo estruturado por centros e limites, a úl- dele poderemos repensar o habitar e redese-
tima expressa um mundo uniforme e mensurável nhar o interior doméstico, tendo sempre como
cujo único atributo é a sua amplitude. objetivo a experiência arquitetônica e de que a
casa deve ser estruturada a partir de um cen-
Se o habitar requer, como defendeu Norberg- tro e limites, como defendeu Norberg-Schulz
-Schulz (1975) a partir das teorias de Heide- (1975) e Fernández-Galiano (2000).
gger, que os espaços onde a vida se desen-
volve sejam lugares, na verdadeira acepção Pallasmaa (2007) diz-nos que, enquanto seres
da palavra, considerando-se lugar como um essencialmente biológicos e históricos, cuja
espaço com uma identidade particular, uma progamação genética se prolonga desde há mi-

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lhões de anos, as nossas reações instintivas a raco, o coelho na toca, a vaca no estábulo
determinadas situações e qualidades espaciais devem ser felizes como eu.’ Assim, o bem-
encontram-se enraizadas nas condições de vida -estar devolve-nos à primitividade do refúgio.
de inumeráveis gerações passadas. As sensa- Fisicamente, o ser que acolhe o sentimento
ções humanas de direção, quente e frio, luz e do refúgio fecha-se sobre si mesmo, retira-
escuridão, segurança e perigo, prazer e descon- -se, encolhe-se, esconde-se, entoca-se” (BA-
forto, proximidade e distância, etc., encontram- CHELARD, 2008, p. 104),
-se enraizadas na nossa inconsciência coletiva
partilhada. Podemos viver numa cidade con- diz-nos Bachelard.
temporânea, profundamente dependentes da
tecnologia e da realidade digital atual, e contudo No decorrer da investigação, cedo se revelou
as nossas reações físicas continuarem a estar evidente que, por mais incansável que fosse a
fixadas num passado imemorial – ou seja, ain- recolha de informação, seria impossível esgotar
da existe em nós um homem primitivo, oculto possibilidades. Da mesma forma, essa constata-
nos genes de cada um, e a arquitetura, como ção fez atribuir a este estudo um caráter inter-
salienta Pallasmaa, precisa de reconhecer essa disciplinar, na tentativa de compreender as várias
profunda historicidade da humanidade. O fogo dimensões arquitetônicas do fogo. A sua incom-
relembra-nos essa primitividade, dotando o es- pletude, apesar de ser um risco, surgiu igualmen-
paço doméstico de vozes arcaicas, fragmentos te como uma necessidade.
de um passado imemorial. O poder simbólico da
lareira resulta da sua capacidade de unir a ima- Assim, acredita-se que, sobre as ideias enuncia-
gem arcaica do fogo primitivo com a experiência das ao longo deste estudo, sobre o objeto em si,
pessoal de conforto, de abrigo e de sociabiliza- ainda existe muito por explorar e indagar, não só
ção. A imagem do fogo no interior da casa com- na área da arquitetura, mas também em outras
bina o mais arcaico com o mais atual, que, no áreas de estudo, como, por exemplo, de um pon-
conforto da nossa casa, perante a chama que to de vista sociológico ou antropológico, psicoló-
arde, habitamos tanto a caverna como o mais gico, artístico, histórico, entre outros.
sumptuoso palácio.
Da mesma forma, ao longo da investigação
O pintor Vlaminck, vivendo em sua casa tran- sentiu-se a necessidade de exprimir, através
quila, escreve: ‘O bem-estar que sinto diante do esquisso, as ideias que se foram consoli-
do fogo, quando o mau tempo se desenca- dando através da investigação teórica (Figura
deia, é totalmente animal. O rato em seu bu- 1, 2, 3, 4).

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Figura 1, 2, 3, 4. Esquissos da autora. O fogo como imagina- Funcionou, essencialmente, como ferramenta de BACHELARD, Gaston. A Poética Do Espaço.
ção poética do espaço.
auxílio ao entendimento e pensamento arquitetô- São Paulo: Coleção Tópicos, 2008
nico, ou, por outro lado, como forma de expres-
são. Embora se teorize sobre arquitetura, este BOLLNOW, Otto Friedrich. El Hombre Y Su Casa.
discursar é frequentemente uma estrutura parale- La Torre. Revista General De La Universidad
la e monologante em relação ao desenho. Deste De Puerto Rico, Porto Rico, 54, p. 11-24, Sep-
modo, verificou-se que os esquissos eram, em si, tiembre-Diciembre de 1966
um desfecho, ou seja, uma conclusão imagética.
O que interessa reter é que o fogo pertence ao CARVALHO, Ricardo. Morada: Rua, Casa. (P. C.
espaço e ao habitar, e que, através dele, pode- Monteiro, Ed.) Jornal Arquitectos, Lisboa, 224,
mos imaginar a sua poética. p. 34 - 41, 2006

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