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1. Raul procura um advogado informando que visitava seu amigo Getúlio, em pacato
bairro residencial na cidade de São Paulo, deixando seu automóvel, uma Corvette
Chevrolet 1962, estacionado em frente ao imóvel do anfitrião. Afirma que naquele dia
estava sendo realizada festa infantil na casa vizinha e na ocasião, diz, algumas crianças
estavam se entretendo com tinta. Duas delas acabaram manchando a pintura de seu
veículo. Na oportunidade, Raul intercedeu junto aos adultos que estavam em frente ao
imóvel onde acontecia a festa e procurou saber quem estava responsável pelas crianças,
de quem era a festa e quem eram os pais dos infantes. Indagado sobre de quem era a
festa, um dos convidados disse que uma das crianças que estavam brincando com a tinta
era filha do dono da festa, a quem indicou afirmando “é aquele cara ali, ele e o irmão
viram quando o moleque manchou o seu carro”, apontando para um senhor. Raul
identificou tratar-se de José, de quem se lembrava por também ser amigo de Getúlio. Esse
mesmo convidado indicou outro senhor, de nome Edson, informando tratar-se do pai de
umas das crianças causadoras do dano.
O advogado, de posse dessas informações, consegue alguns dados de qualificação dos
pretensos responsáveis, e assim ajuíza a ação, atribuindo para a causa o valor de R$
100.000,00.
Citados, os réus comparecem aos autos representados por advogados distintos. José alega
a preliminar de ilegitimidade ad causam afirmando que jamais realizou ou organizou
qualquer festa no dia em questão, e que há muitos anos não se dava a brincadeiras com
tinta, de modo que não é responsável pelo ilícito. Requereu a extinção do processo, sem
julgamento de mérito. Edson também alega ilegitimidade ad causam, sustentando que não
tem filhos, de modo que a criança causadora dos danos não poderia ser sua descendente.
O autor oferece réplica. No curso da fase de instrução processual, desolado com a
perspectiva de perder a ação, Raul comenta com Getúlio sobre o panorama do litígio, e
este afirma que Raul provavelmente se confundiu porque José tinha um irmão gêmeo, de
nome João. Esclarece, ainda, que João efetivamente reside no imóvel vizinho e tem filhos
conhecidos na vizinhança por serem indisciplinados. Getúlio diz, também, que conhece
Edson e sabe que ele realmente não tem filhos.
Diante desse cenário, pergunta-se:
a. Há consequência processual para a parte que, citada, alega a ilegitimidade
passiva, mas deixa de indicar quem efetivamente deve se submeter ao polo passivo da
relação processual? Se houver, essa consequência se aplica a José?
Sim. Nos termos do artigo 339, caput, do CPC, há consequência processual ao réu
que alega como matéria de defesa a carência de ação por ilegitimidade passiva mais deixa
de indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida, sempre que tiver conhecimento,
sendo tal consequência a de arcar com as despesas processuais e prejuízos que causar ao
autor pela falta de indicação; porém, nos termos do Enunciado 44 do II Fórum Permanente
de Processualistas Civis, “a responsabilidade a que se refere o art. 339 é subjetiva”, ou
seja, depende de comprovação por parte do autor de que o réu não fez a indicação
intencionalmente.
Tal consequência só se aplicaria a José caso comprovado que este detinha o
conhecimento necessário para fazer a indicação da autoria, tendo em vista que o NCPC
estabeleceu a obrigatoriedade de o réu que alegar sua ilegitimidade indicar quem deverá
substituí-lo, se tiver tal conhecimento (artigo 339, caput, CPC).
c. Qual a natureza da reconvenção? Precisa ter valor da causa? Deve ser anotada no
distribuidor?
A natureza jurídica da reconvenção é de uma nova ação (pois aciona o judiciário,
é exercício do direito de ação), sem, contudo, formar novo processo; é, na clássica
definição de João Monteiro, “a ação do réu contra o autor, proposta no mesmo feito em
que está sendo demandado”. A reconvenção é um contra-ataque, uma verdadeira ação
ajuizada pelo réu (reconvinte) contra o autor (reconvindo), nos mesmos autos.
Sim, precisa ter valor de causa, conforme texto expresso do artigo 292, caput, do
CPC. Como qualquer outra ação, devem estar presentes as condições da ação
(legitimidade, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido) e cumprir o disposto no
artigo 319 do CPC (petição inicial).
Sim. Conforme artigo 286, § único, do CPC, recebida a reconvenção, o juiz
mandará processar a respectiva anotação pelo distribuidor. A reconvenção, a intervenção
de terceiros ou qualquer outra hipótese de ampliação subjetiva do processo, embora não
sofram distribuição, pois são apresentadas diretamente ao juiz da causa principal, são,
todavia, objeto de anotação no Ofício da Distribuição para efeito de registro e
documentação.
LUIS GUILHERME AIDAR BONDIOLI. Resposta do réu: uma análise à luz da tutela provisória
e dos limites objetivos da coisa julgada. In Processo em jornadas/ coordenadores Paulo
Henrique dos Santos Lucon e Outros. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016.