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Sebenta Português 12º ano

Poetas Contemporâneos II

Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner Anderson e Eugénio de Andrade, são


três poetas que se destacam no século XX. Todos eles colaboraram na Presença e
nos Cadernos de Poesia, porém, cada um tem um estilo muito peculiar.

Nos três poetas perpassam temas próprios da época: interrogação da


transcendência e a valorização da realidade humana e terrestre; a consciência
social da época, os valores éticos e morais; a nostalgia da infância; as faces
aniquilantes do tempo, do amor e da morte; a condição humana e a solidão; a
definição de poeta e da poesia, linguagem que consegue dizer o indizível1.

Miguel Torga
Súplica
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.


Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

1
Graça Magalhães e Madadena Dine, Preparar o Exame, 2015, Raiz Editora.

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Sebenta Português 12º ano

1. A quem se dirige o sujeito poético?


2. Que efeitos produziu o tempo no sujeito poético?
3. O que pretende o sujeito lírico transmitir ao dizer que «Agora que o silêncio
é um mar sem ondas»?
3.1. De que forma é que essa ideia é desenvolvida nos três últimos
versos?
4. Nos dois últimos versos, é percetível a razão desta súplica. Qual a verdadeira
razão para ele desejar que a amada não se aproxime?
5. O último verso da primeira estrofe apresenta uma comparação. Indique a
função expressiva desse recurso estilístico.

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Sebenta Português 12º ano

Resolução:

1. O sujeito poético dirige-se a alguém que já amou muito, mas cujo sentimento
foi agora apaziguado («…enquanto/ O nosso amor/ Durou»).
2. O tempo permitiu o afastamento dos dois, bem como o atenuar da paixão
(«Mas o tempo passou, /Há calmaria…») Porém, ele sabe que se ela se
aproximar a paixão será ainda maior («Matar a sede com água salgada»).
3. Ele pretende dizer que no momento presente as emoções não magoam, pois,
a paixão está tranquila. Porém, esta situação deixa-o sem rumo, sem vida.
3.1. Como o sujeito poético consegue encontrar e equilíbrio
afastando-se da paixão que fazia sofrer (“só soubemos sofrer”),
ele suplica à amada para não se aproximar de novo, pois essa
aproximação ainda seria mais dolorosa.
4. No último verso vemos que a aproximação seria ainda mais dolorosa, pois
traria um desejo ainda maior (“sede”), o qual seria sanado com o sofrimento
(“água salgada”), ou seja, ainda mais com desejo e paixão.
5. O fato do sujeito poético se afastar do amor, da paixão por ela, faz com que se
afastasse também dele próprio, deixando-se ir “sem rumo”, à deriva pela
vida.

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Sebenta Português 12º ano

Mãe
S. Martinho de Anta, 1 de Junho

Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa


Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti - não me respondes.


Beijo-te as mãos e o rosto - sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

1. Mostre de que forma o sujeito poético é caracterizado ao longo do poema.


Não esqueça de evidenciar alguns recursos expressivos relevantes ao seu
serviço.
2. De que forma é caracterizada a mãe?

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Sebenta Português 12º ano

Resolução:

1. O sofrimento do sujeito poético parece ir aumentando gradualmente, ao


longo do poema. Primeiro, o poema abre com uma invocação à mãe,
auxiliado de anáforas, revelando em toda a estrofe o sofrimento e o choque
inicial da morte, perante o corpo gélido e morto da mãe. Esta situação
continua a ser verificada na segunda estrofe, momento em que ele a
compara com uma estátua cinzenta sem vida. Na terceira estrofe, os gritos
desesperantes e a não aceitação da morte agudizam o sofrimento («Chamo
aos gritos por ti – não me respondes.»). Na última estrofe, ele volta a
suplicar à mãe o seu regresso e esse pedido é acentuado pelas frases curtas,
expressivas e com o recurso ao imperativo («Abre» e «Diz»).

2. A mãe surge morta, “insensível e gelada” como uma estátua cinzenta,


deitada numa pedra (“presença cinzelada em pedra dura”); as mãos e o
rosto estão “frios”. Esta mãe é, para o sujeito poético, a “eterna mulher
entre as mulheres” aquela que é realmente importante e sem a qual ele
permanece vazio (“por detrás do terror deste vazio”).

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Sebenta Português 12º ano

Sísifo2
Recomeça....

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...

1. Após ler a nota referente a Sísifo, explique qual o sentido desta referência
para o sentido global do poema.
2. O que pretende o sujeito poético com a expressão seguinte: «De nenhum
fruto queiras só metade.»?
3. Qual a importância das ilusões para o sentido global do poema?

2 Sísifo, na mitologia grega, ilho do rei Éolo, da Tessália, e Enarete era considerado o mais astuto de todos
os mortais. Mestre da malícia e da felicidade, ele entrou para a tradição como um dos maiores ofensores dos
deuses. Segundo Higino, ele odiava o seu irmão Salmoneu; perguntando a Apolo como ele poderia matar o
seu inimigo, o deus respondeu que ele deveria ter filhos com Tiro, filha de Salmoneu, que o vingariam. Dois
filhos nasceram, mas Tiro, descobrindo a profecia, matou-os. Sísifo vingou-se... e, por causa disso, ele
recebeu como castigo na terra dos mortos empurrar uma pedra até o lugar mais alto da montanha, de onde
ela rebolava de volta, pela montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível,
invalidando completamente o duro esforço despendido. Por esse motivo, a expressão "trabalho de Sísifo",
em contextos modernos, é empregada para denotar qualquer tarefa que envolva esforços longos, repetitivos
e inevitavelmente fadados ao fracasso - algo como um infinito ciclo de esforços que, além de nunca levarem
a nada útil ou proveitoso, também são totalmente desprovidos de quaisquer opções de desistência ou recusa
em fazê-lo.
Sísifo tornou-se conhecido por executar um trabalho rotineiro e cansativo. Tratava-se de um castigo para
mostrar-lhe que os mortais não têm a liberdade dos deuses. Os mortais têm a liberdade de escolha, devendo,
pois, concentrar-se nos afazeres da vida cotidiana, vivendo-a em sua plenitude, tornando-se criativos na
repetição e na monotonia.

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Sebenta Português 12º ano

Resolução:
1. O sujeito poético dirige-se ao leitor e incita-o a nunca desistir enquanto
não sentir liberdade (“Enquanto não alcances/Não descanses.”). Esta
alusão a Sísifo leva-o a reconhecer a ilusão e o sonho necessários para
atingir o cume da montanha, isto é, a liberdade, pois o Homem é feito de
loucura e de sonhos, tal como o mortal Sísifo. Só essa loucura nos faz ser
quem nós somos realmente (“Só é tua a loucura/Onde, com lucidez, te
reconheças…”).

2. O sujeito poético incita-nos a começar sempre e a nunca desistir, enquanto


não provarmos o “fruto todo”, isto é, a realidade total da vida, da
liberdade.

3. As ilusões permitem a criação constante do recomeço, da esperança. São


as ilusões que permitem ao homem continuar a sonhar diante da deceção
da aventura (“Sempre a sonhar e vendo/o logro da aventura”). Desta
forma, o sujeito poético incita-nos à loucura e à ilusão, mas de uma forma
consciente, onde ele reconheça a importância de nunca desistir.

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Sebenta Português 12º ano

Sophia de Mello Breyner Andreson

Porque os outros se mascaram mas tu não


Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem


E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos


E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

1. Ao longo de todo o poema é utilizada uma estrutura paralelística


antitética, permitindo distinguir o “tu” dos “outros”. Evidencia as
características deste “tu”.

2. À luz do sentido global do poema, interpreta o sentido da expressão


“Porque os outros são os túmulos caiados / Onde germina calada a
podridão”.

3. O último verso do poema permite deduzir uma consequência, destas


atitudes, no sujeito poético. Explique-a tendo como base a última estrofe.

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Sebenta Português 12º ano

Resolução:
1. O “tu” é verdadeiro, não utiliza máscaras, utiliza “a virtude”
corretamente, é destemido e não se cala. Este “tu” não se compra nem se
vende e tem a capacidade de enfrentar os perigos “de mãos dadas”, sem
medir as consequências. Este “tu” parece ser alguém verdadeiro, corajoso
e reto, alguém que se destaca pela sua pureza e verdade.

2. Esta expressão permite destacar as máscaras utilizadas pelos outros em


relação ao “tu”. Aqueles calam-se, morrem com as verdades que não são
ditas, enquanto este não se cala. Assim, se os outros apodrecem
interiormente, anunciando uma pureza exterior, falsa (“túmulos
caiados”), o “tu” tem a capacidade de mostrar quem é, interior e
exteriormente.

3. Ao contrário do “outros”, o “tu” sofre muito mais, pois enquanto os outros


se vão refugiando e protegendo do que os poderá fazer sofrer, este “tu”
prefere ir “de mãos dadas”, enfrentando todo o sofrimento num ato de
coragem.

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Sebenta Português 12º ano

Bebido o luar, ébrios de horizontes,


Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,


Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,


Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.

1. Proceda à divisão do texto em partes, justificando a sua resposta.


2. Indique o tema deste poema, comprovando com um excerto do texto.
3. Explique a última estrofe do poema, tendo em atenção o sentido global do
texto.

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Sebenta Português 12º ano

Resolução:
1. O texto pode ser desenvolvido em duas partes: a primeira parte engloba a
primeira estrofe e a segunda parte compreende as outras duas estrofes. Na
primeira parte, o sujeito poético apresenta a ilusão que todos temos da
vida, enquanto que na segunda parte, introduzida pela conjunção “Mas”,
ele explica a ilusão e acrescenta que o céu, o mar e a aurora que nasce nos
belos jardins só pertencem aos deuses. A ilusão apresentada na primeira
estrofe é, assim, desmistificada pela mortalidade humana.

2. O tema é a fugacidade da vida. Depois de anunciada a ilusão humana, o


sujeito poético refere que durante o nosso curto caminho da vida nós
permanecemos solitários e, após a nossa partida, toda a natureza
permanece (“Mas solitários somos e passamos, / Não são nossos os frutos
nem as flores”).

3. A última estrofe do poema anuncia que a eternidade, o horizonte tão


sonhado por nós, como sendo infinito, é uma ilusão. A verdadeira
imortalidade, realidade e felicidade, pertencem aos deuses, pois só eles
têm a oportunidade de viver eternamente “o céu e o mar” e a verdadeira
beleza da vida.

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Sebenta Português 12º ano

Mulheres à Beira-Mar
Confundido os seus cabelos com os cabelos
do vento, têm o corpo feliz de ser tão seu e
tão denso em plena liberdade.

Lançam os braços pela praia fora e a brancura


dos seus pulsos penetra nas espumas.

Passam aves de asas agudas e a curva dos seus


olhos prolonga o interminável rastro no céu
branco.

Com a boca colada ao horizonte aspiram longa-


mente a virgindade de um mundo que nasceu.

O extremo dos seus dedos toca o cimo de


delícia e vertigem onde o ar acaba e começa.

E aos seus ombros cola-se uma alga, feliz de


ser tão verde.

1. Caracterize psicologicamente as mulheres que estão à Beira-Mar.

2. De que forma a natureza se envolve com essas mulheres?

3. Neste poema emerge um recurso expressivo que permite caracterizar a


natureza marítima. Identifique-o e infira sobre o seu valor expressivo.

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Sebenta Português 12º ano

Resolução:
1. As mulheres que estão à beira-mar são felizes, livres e desejam conquistar o
mundo (“Com a boca colada ao horizonte aspiram longamente a virgindade de
um mundo que nasceu”.)

2. O poema abre apresentando os cabelos das mulheres entrelaçados com os cabelos


do vento e os seus braços e os pulsos delas “penetram” na espuma do mar.
quando as aves passam pelo no ar, os olhos das mulheres seguem-nas pelo
infinito, desejando conquistar o mundo. No final do poema, surge uma alga
colocada nos ombros das mulheres, anunciando uma cumplicidade única entre
as mulheres e a natureza.

3. Ao longo de todo o poema, a natureza que existe naquela praia, surge


personificada: o vento com os seus cabelos e a alga “feliz de ser tão verde”. Este
recurso expressivo permite conferir comunhão e cumplicidade a estas mulheres
que estão à beira-mar. Como o vento ou como a alga, elas sentem o que é a beleza
daquele espaço, a liberdade que estar à beira-mar lhes aufere.

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Sebenta Português 12º ano

Eugénio de Andrade

Poema à Mãe
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou


o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras


que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo


são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas


que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,


talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!


Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -,


às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração


rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:


"Era uma vez uma princesa

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Sebenta Português 12º ano

no meio de um laranjal..."

Mas - tu sabes! - a noite é enorme


e todo o meu corpo cresceu...

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.


Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...

Boa noite. Eu vou com as aves!

1. Indique o tema do poema.

2. Porque afirma o sujeito poético que traiu a sua mãe?

3. Caracterize o sujeito poético, justificando com excertos do texto.

4. O que pretende o sujeito poético ao dizer que “já não sou o retrato
adormecido/ no fundo dos teus olhos!”?

5. Identifique o recurso expressivo presente no último monóstico do poema e infira


sobre o seu valor expressivo.

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Sebenta Português 12º ano

Resolução:
1. O poema remete para o amor materno e a relação entre o sujeito poético e
a sua mãe, aquilo por que passaram e as recordações que guardam na
memória.

2. O sujeito poético afirma que traiu a sua mãe porque cresceu e se afastou
dela, para viver de uma forma autónoma e independente. A ideia advém
do tornar-se adulto.

3. O sujeito poético é meigo, reconhece que traiu a sua mãe e que por vezes
é cruel com ela (“às vezes as palavras que te digo/são duras, mãe”).
Porém, embora adulto, ele revela-lhe que ainda é, às vezes, o seu menino,
aquele que precisa de proteção ou está saudoso de histórias que ela lhe
contava («ainda aperto contra o coração /rosas tão brancas / como as que
tens na moldura” e “ainda oiço a tua voz: “Era uma vez uma princesa /
no meio do laranjal…”»).

4. Através desta personificação, o sujeito poético afirma que cresceu, que já


não é aquela imagem que a mãe tem dele, daquele menino que ela teima
em ver congelada na moldura, no tempo.

5. O eufemismo presente no último verso do poema fomenta a ideia de que


o sujeito poético cresceu e se distanciou das asas de proteção da mãe.

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