Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
ANTROPOLOGIA:
Tal como as outras ciências sociais, a antropologia tem uma perspectiva particular sobre a realidade,
pois desenvolve-se autonomamente. A perspectiva antropologia divide-se em cinco fases:
1. Ruptura Metodológica: o método utilizado pela Antropologia é a observação participante, isto
é, fundir-nos com a realidade através da interiorização dos hábitos e costumes das outras
culturas, exercendo assim o comportamento idêntico aos membros dessas culturas, mas sem
provocar um ambiente perturbador na sociedade. Não pode haver quaisquer tipo de
interferências no grupo em estudo, mesmo que inconscientemente.
2. Prioridade do micro sociólogo/ quotidiano: é dada uma especial atenção à vida quotidiana e
ao micro sociológico, isto é, mesmo que estejam interessados no estudo de grandes,
instituições de sociedades, iniciam sempre o seu estudo pela vida social das pessoas. Os
antropólogos especializaram-se nas sociedades ditas primitivas, logo, pequenas sociedades, e
nestas há uma maior personalização das relações, sendo assim mais próximas e genuínas,
tornando-se num dos objectos de estudo da antropologia.
3. Estudar o real enquanto totalidade: para ocorrer o estudo de um determinado objecto à que
isola-lo e aprofundá-lo mas sempre tendo em consideração tudo o que o circunda. Foi nesta
terceira etapa que surgiu o Fenómeno Social Total por Marcel Mauss que diz que cada
elemento isolado só ganha significado a partir de um conjunto cultural e social em que está
inserido.
4. Abordagem Comparativa: somente a partir do conhecimento de outras culturas/sociedades é
que podemos praticar a antropologia, pois o confronto com o outro alarga a abordagem do
mundo e experiências de vida. Esta necessidade de estabelecer comparações é uma ambição
desde os primórdios.
Para ocorrer esta abordagem comparativa é necessário ocorrer o seguinte processo de análise:
Etnografia: corresponde a um trabalho de campo, de observação e de escrita. Recolha
de dados e de documentos, registo de factos humanos, traduções, simbologias para
uma melhor compreensão da sociedade estudada.
Etnologia: visa a interpretação e análise de dados recolhidos pelo método etnográfico
e construir modelos para que seja possível uma síntese teórica, para uma posterior
análise comparativa.
Antropologia: abordagem comparativa
5. Reflexividade e auto-análise da posição do observador: diz respeito à relação entre o
investigador e o objecto de estudo. O investigador tem de fazer um estudo prévio para poder
estar dentro do facto, tornando-se assim sujeito-participante e sujeito-investigador. O
antropólogo provoca reacções nos sujeitos e reage a reacções destes devido à reflexão da sua
posição num dado facto.
1
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
A sociologia surge no séc. XIX devido à necessidade de reorganização social após as revoluções
política e industrial.
A Antropologia estuda as sociedades homogéneas e de pequena escala, sem história conhecida,
ditas primitivas, tradicionais, sem escrita, enquanto a sociologia estuda sociedades complexas,
heterogéneas, com história, civilizadas, industrializadas, letradas e modernas.
O objecto do sociólogo é mais recente e mais visível do que o do antropólogo. A sociologia
utiliza, como método preferido, o da amostragem sobre um vasto conjunto enquanto a antropologia
prefere elaborar inventários descritivos (monografias) acerca das culturas estudadas.
Contudo, apesar de todas as diferenças, estas duas ciências sociais permanecem ligadas a
teorias e politicas comuns, tendo por isso perspectivas idênticas, semelhantes métodos de comparação
e de crítica.
O interesse de ambos assenta numa análise dinâmica das sociedades actuais.
A Antropologia, tal como já foi dito anteriormente, interessava-se pelas sociedades ditas
primitivas, sem historia e baseia-se no método oral para o seu estudo enquanto os historiadores
exercem o seu trabalho a partir de fontes escritas.
No entanto, as diferenças do passado foram desaparecendo, pois em 1953, Levi Strauss
distingue as sociedades frias (primitivas) das sociedades quentes (civilizadas). E foi a partir daí que a
História começou a relacionar-se com a Antropologia, pois as sociedades ditas frias começaram a
‘aquecer’. Desde esse momento, deu-se a formação da etno-história, que combina as técnicas da
história e da antropologia:
Relaciona o passado e o presente examinando os valores e linguagem de um grupo visto por
dentro;
Métodos de investigação orais;
Investiga minuciosamente o passado das sociedades;
Estabelece cronologias.
Os antropólogos não podem estudar uma determinada cultura sem ter conhecimento acerca da
língua. Por isso, os Antropólogos sempre reconheceram a língua como um código, cujo principal
responsável pela criação desta premissa segundo a sua visão de antropólogo estruturalista foi o Claude
Levi-Strauss.
Outro antropólogo que deteve um papel muito importante quanto à influência da linguística na
antropologia foi Franz Boas, responsável pela fundação da Antropologia Linguística, que afirma:
Ser possível a coabitação de duas línguas na mesma cultura;
Haver diferenças fonéticas entre subculturas;
Quando a língua não possui escrita, então desenvolve-se a memória, expressa pela literatura
oral;
Existe uma relação entre língua e o estatuto social.
EVOLUCIONISMO
O evolucionismo é a única corrente que surgiu no séc. XIX e que se mantém até os dias de hoje. O
primeiro projecto do antropólogo foi estudar toda a evolução Humanidade, para isso era necessário
estudar as formas mais remotas de vida, os primitivos, para que pudéssemos calcular o seu possível
avanço, estudando assim as origens da humanidade e os seus processos de evolução.
2
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
A corrente evolucionista, cujo desenvolvimento ocorreu na segunda metade do séc. XIX, apoia-se no
transformismo de Lamark e nas pesquisas de Darwin sobre a origem das espécies pela via da selecção
natural.
Os pressupostos do Evolucionismo são:
Os fenómenos culturais regem-se por mecanismos semelhantes aos da evolução biológica (do
simples para o complexo; do primitivo para o evoluído);
A espécie humana é basicamente inventiva;
Uma ideia ou um instrumento podem ser inventados mais que uma vez, em diferentes lugares
ou épocas;
Os seres humanos, por todo o lado, pensam fundamentalmente do mesmomodo (uniade
psíquica da humanidade);
Logo, as mesmas coisas serão inventadas em diferentes locais por todo globo (determinismo
histórico).
Propostas:
Unilinear: propõe uma mesma linha evolutiva, independentemente do lugar (Jonh Lubbock);
Universal: prevê uma evolução coincidente mas apenas em linhas gerais (Gordon Childe);
Multilateral: prevê múltiplas linhas de evolução consoante as regiões do mundo;
Sociobiologia: sugere o cruzamento entre dimensões biológicas, genéticas e sociais, na
determinação do comportamento humano.
Autores:
Darwin
Lamarck
Marx
Lewis Morgan
E.B.Taylor
J.Frazer
Jonh Lubbock
Gordon Childe
Criticas:
Não existe trajectória histórica unilinear da humanidade, mas sim formas diferentes de
civilização dispersas no espaço;
A história humana comporta erros sociológicos e ‘involuções’, logo não se traduz apenas pelo
acúmulo de ganhos;
As mudanças não se explicam por um factor único.
DIFUSIONISMO
O objectivo da corrente difusionista é estudar a distribuição geográfica das culturas, explicando a sua
presença pela propagação de informação de um grupo para outro.
Os pressupostos do Difusionismo são:
Ao contrário do evolucionismo, defendem que a espécie humana tende mais a copiar do que a
criar;
As semelhanças culturais dependem não da passagem por fases semelhantes da evolução, mas
antes da apropriação do conhecimento de outros (os homens tendem a imitar, mais do que a
criar).
Propostas:
Teoria dos círculos culturais: as culturas existentes derivam de um conjunto reduzido de
centros de onde são originárias as invenções mais relevantes (Antigo Egipto; outros antigos
centos de origem civilizacional);
Áreas Culturais: relação entre culturas que podem ser definidas a partir do seu contacto
geográfico com um centro (quadros comparativos de base geográfica e não evolucionista).
3
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Autores:
Franz Boas (Tem em conta o desenvolvimento interno, admite o dinamismo cultural, e que elementos semelhantes
possam ter sido inventados várias vezes. Ficamos a dever-lhe o estabelecimento dos limites do método comparativo
pouco fiável. Demonstra que elementos culturais viajam sozinhos, isolados e n em pacotes, o q levou a teorizar sobre a
relação entre variabilidade histórica e invariantes culturais e a demonstrar que uma cultura relativamente integrada
não consegue absorver seja o que for)
Criticas:
A agregação de traços semelhantes pode muito bem não provir da mesma corrente histórica.
A transferência de um elemento cultural de uma sociedade para outra é sempre ocasião de
perdas, acréscimos e remodelações.
CULTURALISMO
O culturalismo, que teve inicio nos anos trinta, nos Estados Unidos, define a cultura como sistema de
comportamentos apreendidos e transmitidos pela educação, a imitação e o condicionamento
(enculturação), num dado meio social. Ao contrário dos difusionistas, os culturalistas deram ao seu
trabalho uma orientação psicológica e tentaram saber como é que a cultura está presente nos
indivíduos e como é que orienta os seus comportamentos. Desenvolveram também a ideia de que cada
cultura tem uma história particular e padrões próprios daí que o que é comum numa cultura pode não
ser na outra, há diversidade cultural.
Os pressupostos do Culturalismo são:
Colhem influências de Franz Boas (psicanálise), Niestzche (filosofia), da linguística.
A cultura tem um impacto determinante na forma de pensar dos que nela se inserem;
Os membros de uma dada cultura partilham uma personalidade de base, que condiciona o seu
comportamento (partilha das experiencias culturais pelos membros de uma comunidade,
através da educação e da “endoculturação”;
Propostas:
A noção de padrões culturais tipifica esta modalidade especifica de agir, em função de uma
dada cultura e sob a influencia de uma educação com ela correlacionada;
Relativismo Cultural (Boas): coerência de cada sistema cultural por si só e recusando a
comparação valorativa;
Importância do trabalho de campo.
Autores:
Ralph Linton
Abraham Kardiner
Ruth Benedict
Margaret Mead
Criticas:
Grande simplificação no problema da formação da personalidade;
FUNCIONALISMO
Paralelamente a estes movimentos, na Inglaterra, nasce o Funcionalismo, que enfatiza o trabalho de
campo (observação participante). Para sistematizar o conhecimento acerca de uma cultura é preciso
apreendê-la na sua totalidade. Para elaborar esta produção intelectual surge a etnografia. As três
noções que contribuíram para o nascimento do funcionalismo foram da utilidade, da casualidade e de
sistema.
Os pressupostos do Funcionalismo são:
Ultrapassagem do particularismo cultural e descrição etnográfica;
A sociedade como um “organismo”, cada parte do sistema desempenha uma função;
Importância das instituições sociais na vida social;
Comparativismo para evidenciar aspectos funcionais comuns nas várias culturas.
4
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Propostas:
Os elementos de uma cultura (traço cultural) servem para satisfazer as necessidades dos
indivíduos em sociedade; cada traço cultural está associado a necessidades básicas (de carácter
biológico, por exemplo a alimentação ou o abrigo) ou a necessidades secundárias ou complexas
(de carácter social, por exemplo, a religião como resposta à incerteza quanto ao futuro);
Funcionalismo de uma cultura tende a contribuir para uma estrutura social equilibrada, uma
harmonia social;
Grande importância do trabalho de campo e da observação participante.
Autores:
Bronislaw Malionowski
Radcliffe-Brown
Criticas:
O Funcionalismo não explica nem a génese nem as transformações de uma cultura ou de uma
organização;
O Funcionalismo não está preparado para mostrar a mudança sendo que temos consciência de
que a mudança é algo constante na nossa sociedade. Esta corrente apenas nos dá imagens
paradas da sociedade.
ESTRUTURALISMO
A Antropologia Estrutural nasce na década de 40. O seu grande teórico é Claude Lévi-Strauss que
centraliza o debate na ideia de que existem regras estruturantes das culturas na mente humana.
Sendo assim, o agrupamento de indivíduos, de acordo com posições, que resulta dos padrões essenciais
de relações de obrigação, constitui a estrutura social de uma sociedade.
Os pressupostos do Estruturalismo são:
Influência da linguística e da psicanálise;
Modelo linguístico das oposições binárias ou categorias contrastantes;
Relação directa entre o sistema social e a estrutura da mente humana.
Propostas:
A cultura, expressa por rituais, expressões artísticas e símbolos mas também nas suas práticas
quotidianas, não é mais do que a manifestação de uma estrutura mental mais profunda,
inerente a toda a espécie humana;
Importância do estudo dos mitos e das narrativas simbólicas;
Sistema de relações e de comunicação (circulação) de base binária (bens/pessoas/ideias);
Os factos culturais fazem parte de um sistema mais complexo.
Autores:
C. Levi-Strauss
M. Douglas
E. Leach
INTERPRETIVISMO
Os pressupostos do Interpretivismo são:
Atribuir significados a objectos, pessoas, acontecimentos, comportamentos e emoções é uma
actividade humana essencial, através da qual se torna possível ordenar o mundo e dar sentido
às experiências de vida;
As culturas são as redes de sentido, diferentes de sociedade para sociedade e formadas por
símbolos e pelos seus significados;
5
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Propostas:
A cultura pode ser comparada a um texto literário que carece de tradução para ser inteligível
interculturalmente;
O trabalho de antropologia é proceder à interpretação das culturas, seleccionar símbolos,
decifrar significados e identificar o sentido que tomam em cada contexto cultural;
Autores:
Clifford Geertz
PÓS-MODERNISMO
Clifford Greetz além da teoria anterior propunha que houvesse uma atenção especial para uma escrita
etnográfica (produção de informação).
Propõe que se faça uma ‘Think Descriphion’ (descrição densa), descrição recheada de pormenores e
valores. Nesta descrição não devem estar só descrições dos antropólogos mas sim também das pessoas
em estudo na primeira pessoa, pois estes são os informadores.
Esta escrita etnográfica é valorizada e desenvolvida no pós-modernismo que propõe que os
antropólogos escrevam como “realizadores de cinema”. Assim, um livro inspirado nesta base de
trabalho torna-se fácil de ler e pode até ler-se por capítulo como se de cenas de filme se tratasse.
Os pressupostos do Pós-Modernismo são:
As culturas não podem ser descritas de um modo objectivo e sistemático, conforme
pretendiam os defensores do realismo etnográfico;
Cada etnografia é um produto único que resulta da interacção entre determinados
investigadores e informantes, fazendo uso de metodologias diversas de trabalho de campo;
Influência dos estudos culturais e literários.
Propostas:
Reflexividade: centrar a análise antropológica menos nas culturas e mais na reflexão sobre as
práticas etnográficas e os processos de escrita;
Polivocalidade: reduzir a autoridade dos etnógrafos, permitindo aos sujeitos analisados
exprimir-se directamente nos textos;
Ficcionismo: recorrer às observações de terreno para compor retratos ficcionados de
indivíduos e situações que representem as culturas estudadas.
Autores:
George Marcus
James Clifford
TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS
Depois de Lévi-Strauss, as tendências contemporâneas causaram um grande impacto na segunda
metade do século 20, estas visavam a interpretação do facto em estudo, procurando as suas
motivações, os seus objectivos, e os seus significados. Não é apenas uma descrição minuciosa, mas uma
leitura, uma interpretação. A análise destes dados deveria então ser feita com base na compreensão
humana e na interpretação de textos escritos.
Na década de 80, o debate teórico na Antropologia ganhou novas dimensões. Muitas críticas a todas as
escolas surgiram, questionando o método e as concepções antropológicas.
6
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
SENSO-C OMUM
É válido mas não é da mesma família do conhecimento científico, cai normalmente num
discurso estereotipado.
É um saber empírico, útil, que permite organizar o nosso quotidiano;
Permite organizar ideias, ajudando-nos a construir um posicionamento;
Todo o Homem, sociedades, culturas, etc, tem uma matriz de conhecimento baseada no senso
comum, sendo por isso visível em todos os agrupamentos sociais;
Embora o senso comum seja partilhado, este, varia de sociedade para sociedade, sendo
fundamental para viver em sociedade;
Apesar de opostos, ao senso comum incorporamos conhecimentos científicos. No fundo, o
senso comum é a base de conhecimentos mais avançados e elaborados;
O senso comum naturaliza-se, incorpora-se com o avançar da idade, pois não podemos estar
sempre a questionar o porquê das coisas, à semelhança das crianças, embora e,
independentemente da idade, tudo seja sempre questionável.
O senso comum tem, então, um carácter espontâneo, não pensa, é automático. Daí que
quando nos comparamos com outros que não têm a mesma matriz cultural, constatamos que
nem todos têm a nossa raiz de senso comum.
O senso comum não é perigoso, não é errado e é certo que pode vincular conhecimentos que
contradizem o conhecimento científico, mas não deixa de ser um conhecimento útil à
sobrevivência do Homem.
ETNOCENTRISMO
Sobrevalorização da nossa sociedade em função de outras; é um mecanismo imediato de todas
as culturas, não nos permitindo compreender de forma exacta os princípios de outros padrões
culturais.
7
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Consiste em julgar as formas morais, religiosas e sociais de outras comunidades de acordo com
as nossas próprias normas, e, portanto, em considerar as suas diferenças como uma anomalia,
tendo a tendência para rejeitar, criticar ou desvalorizar os que não são como ele.
Pode conduzir a preconceitos xenófobos, racistas, chauvinistas, etc.…
O etnocentrismo existe em todo o ser humano e cultura, sendo no entanto importante para a
sobrevivência de padrões culturais específicos que permitem a reprodução social;
Existem diversas formas de etnocentrismo, por exemplo, uma comunidade portuguesa no
estrangeiro que preserva o seu património genético, mantendo em território internacional a
língua e hábitos portugueses, é uma forma de etnocentrismo;
Apesar da dificuldade sentida por muitos dos imigrantes na adaptação à cultura do país que os
acolhe, o contacto com uma matriz cultural diferente é sem dúvida enriquecedora.
O etnocentrismo acaba assim por funcionar como um obstáculo ao conhecimento científico.
É importante que nos coloquemos numa perspectiva não etnocêntrica, abertos a novas formas
de agir e de pensar, diferentes das nossas.
O mundo que nos rodeia não pode ser apenas explicado de acordo com as nossas grelhas
culturais, combatendo a ideia base do etnocentrismo de assumir as outras culturas como
diferentes e anormais.
O respeito por culturas diferentes é o 1º passo para uma análise mais objectiva do social e para
a sua compreensão, além de ser uma atitude indispensável para o bom entendimento entre os
diferentes povos, conhecer outros padrões culturais é fundamental para que não achemos
determinada acção aberrante.
Na ciência não há posicionamentos, apenas se tenta esclarecer ou clarificar algo;
Devemos questionar e desconfiar sistematicamente, mas tendo como base um princípio
científico, assente na objectividade e neutralidade.
O facto é que para um cientista social assegurar a objectividade não pode estabelecer juízos de
valor;
Para avaliar, observar, estudar, algo que nos é estranho, não podemos encarar o objecto de
estudo como algo de “estranho”, devemos antes compreender o contexto em que aquilo foi
produzido, de modo a compreender o seu valor (sendo esta a forma de etnocentrismo mais
difícil de ultrapassar).
Se numa mesma cultura, as pessoas não possuem a mesma visão, a situação acentua-se numa
escala menor.
O que nós somos é socialmente entendido e culturalmente aprendido.
PROCESSOS DE INVESTIGAÇÃO
Metodologias Qualitativas – nesta na pergunta de pesquisa esta incluído o nível de analise. Apesar da
metodologia ser menos abrangente é muito mais intensiva.
8
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Emics Etics
Estuda o comportamento a partir do Estuda o comportamento a partir de uma
interior do sistema posição exterior ao sistema
Examina uma única cultura Examina e compara várias culturas
A estrutura é descoberta pelo A estrutura é criada pelo investigador
investigador
Os critérios são relativos às Os critérios são considerados absolutos e
características internas universais
9
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
EMIC VS ETIC
No âmbito das várias construções onde se constroem as perspectivas das ciências sociais.
É o posicionamento do investigador no início da investigação, no momento da observação.
ETIC:
Sociologia, Psicologia
Grelha de análise prévia (pré-definida) e só após esta se começa o estudo
EMIC:
Antropologia
Construção do problema de investigação depois de um contacto com o terreno
A realidade proporciona uma fase exploratória que tem sempre numa fase subsequentes
desenvolvimentos ETIC
Espírito comparativo e holístico
TRABALHO ANTROPOLÓGICO
10
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
- Muitas vezes o objectivo inicial do estudo é “desviado”, aliás enriquecido pelo contributo extra
oferecido pelo terreno/ sujeito.
Etnologia
- Elabora os materiais fornecidos pela etnografia, que após análise e interpretação, procura construir
modelos.
COMPARAÇÃO
Ilustrativa: com um suporte etnográfico, compara as mesmas variáveis identificadas entre duas
ou mais comunidades ou sociedades distintas.
Controlada: recorrendo a comunidades ou sociedades semelhantes, procurar identificar de que
forma uma variável distinta, entre elas, afecta as distantes.
Global: Agrupar características e situa diferentes sociedades ou comunidades de acordo com
categorias muito amplas, ecológicas e geográficas.
PROPÓSITOS DE ESTUDO
11
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
IDENTIDADE
Transforma um ser biológico num ser cultural – processo de socialização. Tem a ver com a pertença de
certos grupos a respectivas culturas.
Conceito de identidade cultural está desde os anos 50 nas ciências sociais. Surge nos EUA devido à
dificuldade de integração das sociedades.
As culturas podem existir sem consciência de identidade porque a identidade é do foro da consciência.
Portanto, se os indivíduos não a auto reconhecem nem os outros a reconhecem, é possível existir uma
cultura sem identidade. As identidades são de ordem da manipulação, valoriza-se e fala-se do que se
orgulha. A cultura é o que nós somos e é ‘inconsciente’, enquanto a identidade remete para a
necessidade consciente o que nos permite demarcar mais certas características, valorizar umas e
desprezar outras. Numa época de globalização, a ideia de que nos estamos a tornar cada vez mais iguais
não corresponde à realidade. A nacionalidade não figura no código genético contudo os indivíduos
consideram a pátria o lugar onde nasceram como uma identidade se si próprios.
Resumo:
O que nos caracteriza pluralmente.
Narrativas na 1º pessoa, histórias sobre o eu e sobre nós que permitem identificarmo-nos uns
aos outros e a nós mesmos.
Na base desta construção está o património hereditário.
No entanto, a identidade constrói-se da interacção que o indivíduo faz com as instituições
(nacionalidade, religião, família, etc), nascendo daqui o nosso património individual.
Como já foi perceptível, constrói-se da interacção com o meio exterior, sendo este o aspecto
que a diferencia de personalidade;
Não é inata, ao contrário do que o conceito iluminista de identidade apontava.
Alguns dos elementos importantes para a formação da identidade (como o género, classe
social), são estáveis e coerentes, pois acompanham-nos ao longo da vida.
As identidades são:
Contínuas (constroem-se ao longo da vida)
Complexas (possuem diversas dimensões)
Menos rígidas (possibilidade de alterar a identidade)
A construção da identidade é um exercício solitário, construído apenas por cada um de nós.
As crises de identidade ocorrem pela diversidade de escolhas, tornando-se estas num problema
devido à necessidade de responder por elas.
Actualmente, a leitura das identidades não é estável, rígida, em virtude das possibilidades de
escolha, da postura do indivíduo perante as instituições.
12
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Fragmentação da Identidade
Num mundo tão complexo, onde as pessoas são constantemente bombardeadas de
informações, onde migrações acontecem a cada segundo, com a globalização mais acelerada
do que nunca, levando o indivíduo a adoptar identidades múltiplas, ele irá familiarizar-se e
identificar-se com várias.
Num mundo de constante mudança a identidade não é estável, é mutável, considerando-se
mesmo provisória, levando ao discurso de que a identidade acabou.
Perante isto perdemos a capacidade de explicar o que somos, ficando perdidos face à nossa
própria identidade individual.
Há dimensões da nossa identidade que são partilhadas a nível social, logo são colectivas, e
dependem da nossa relação com o social (“ser português”é construído de forma partilhada por
todos os portugueses que todos reconhecem como tal).
Para criar um grupo há elementos que são partilhados.
Em cada um há algo que faz a distinção.
13
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Língua,
Gastronomia
Música (fado)
Símbolos característicos
Passado (feitos históricos)
Origem do país (mito fundador, discurso mítico). De sublinhar, a origem é importante, pois é
única e, é importante saber de onde é oriunda a nossa Nação.
A origem não muda, apesar de contestada. Alterá-la é complexo, uma vez que a origem é um
dos elementos fundamentais para a centralização de um discurso nacional.
Ciência histórica, literatura mística – são fontes de informação que acrescentam elementos à
narrativa da nação (tudo aquilo que for considerado património único de uma nação).
Feitos da Nação (triunfos, heróis…)
Desastres da Nação (momentos épicos…)
É-lhes dada ênfase pois são períodos de originalidade histórica que podemos reivindicar como
único.
Invenção da Tradição
Uma tradição não é necessariamente um acto antigo, pode ser bastante recente ou mesmo
inventado.
Tradição inventada é o conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras, de natureza
ritual ou simbólica, que visam estabelecer certos valores e normas de comportamento através
da repetição, implicando uma continuidade em relação ao passado.
É essencialmente um processo de formalização e ritualização, caracterizado por referir-se ao
passado, mesmo que apenas pela imposição da repetição.
Muitas instituições sem antecessores tornaram necessária a invenção de uma continuidade
histórica.
São também criados símbolos e acessórios inteiramente novos, tais como o hino nacional, a
bandeira nacional e símbolos ou imagens oficiais, no caso de movimentos e Estados nacionais.
COSTUMES
São regras sociais, resultam numa certa convicção de obrigatoriedade, de acordo com cada
sociedade e cultura específica.
São característicos das sociedades tradicionais.
Têm a dupla função de motor e volante.
Não impedem as inovações e até as podem mudar.
No entanto devem parecer compatíveis ou idênticos ao passado.
Têm de ser variáveis de acordo com as sociedades.
14
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
COSTUMES VS TRADIÇÕES
Embora se verifique uma certa relação, existem diferenças notórias entre costumes e tradições:
Enquanto o costume é o acto ou a acção concreta, a tradição é o ritual que envolve essa mesma acção.
O costume não possui nenhuma função simbólica nem ritual importante, embora possa adquiri-las
eventualmente.
Qualquer prática social que tenha de ser muito repetida tende a gerar um certo número de convenções
e rotinas, formalizadas de direito ou de facto, com o fim de facilitar a transmissão do costume.
Muitas vezes as tradições são inventadas, não porque os velhos costumes não estão mais disponíveis
nem são viáveis, mas porque eles, por opção dos indivíduos, não são usados, nem adaptados.
Património comum;
Construção partilhada da ideia de vivência em conjunto (pessoas que partilham a nossa
identidade nacional).
Património herdado – desejo de manter a identidade colectiva;
Ideia de um Povo Original, Puro, Singular, pretendendo ligá-lo ao território original. É um
conceito “perigoso” pois pode despertar xenofobia. Não existem nações constituídas por um
único povo, sem contacto, nem troca, principalmente hoje em dia. No contexto, ainda h muitos
discursos nacionalistas com base neste argumento. Leva à exclusão de elementos, que resulta
em conflitos.
IDENTIDADE NACIONAL
15
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
ETNIA
Unidade de análise através da qual é feita o estudo do outro.
É tudo aquilo que é único, original, numa cultura e que lhe está circunscrito: cultura histórica,
língua, conjunto de regras, valores, origem comum mas diferentes da nossa;
Actualmente faz parte de uma etnia quem se auto determina, auto inclui-se, auto assume-se
como tal.
De referir que há traços que são transversais, isto é, partilhados, devido a encontros culturais
(ex. colonialismo).
O mesmo território pode ser partilhado por diversas etnias e a mesma etnia pode encontrar-se
em territórios muito afastados.
Tribos Urbanas
São grupos urbanos que se afastam do tradicional, aproximando-se dos fenómenos
contemporâneos, sendo actualmente estudados pela antropologia pela sua originalidade e por
se encontrarem no mesmo espaço geográfico (graffiters, góticos).
Uma tribo não tem uma definição étnica, sendo possível pertencer a várias ou nenhumas
tribos. Esta é a grande diferença face ao conceito etnia, uma vez que o indivíduo apenas poderá
possuir uma etnia!
Minoria étnica - termo minoria diz respeito a um determinado grupo humano e social que está em
inferioridade numérica em relação a um grupo maioritário e/ou dominante. Não implica
necessariamente que sectários ou membros das minorias sejam necessariamente perseguidos ou
dizimados pelo grupo dominante, embora haja numerosos casos de perseguições a minorias étnicas.
João Leal e José Manuel Sobral são dois antropólogos que se dedicaram ao estudo da identidade
Nacional.
AUGUSTO SANTOS SILVA, abordou o tema da cultura nacional na sua interrogação “Existe uma cultura
portuguesa?”
Ainda segundo Augusto Santos Silva, os eixos estruturantes da cultura portuguesa concentram-se em:
Religiosidade a Igreja é uma força estrutural e presente em Portugal sendo uma instituição
importante desde muito cedo. Existe para além da religiosidade eclesiástica uma religiosidade
popular (entendimento que as pessoas fazem da religião);
Ruralidade da sociedade portuguesa é um país ligado à ruralidade onde grande parte da
população portuguesa se encontra ligada à agricultura, possuindo inúmeros trabalhadores
16
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
rurais ao invés de uma classe operária. As tradições e valores que permanecem são os
conectados à vida do campo.
A diáspora (imigração) constante ao longo da nossa História é a existência de uma diáspora
planetária: uma dispersão da população à escala mundial (apesar de não existir equilíbrio nesta
dispersão) que coloca nos mais diversos locais do mundo nichos portugueses.
Por outro lado, a par destas características, possuímos (EM CONTRADIÇÃO COM OS CRITÉRIOS DE
PERIFERIA DO PAÍS):
Património vivo de formas de cultura popular;
Capacidade de ajustamento e adaptação às situações (através de solidariedades tradicionais e
laboração paralela).
Augusto Santos Silva chama ainda a atenção para a existência de uma cultura popular ao invés de uma
cultura de massas.
Segundo o autor José Manuel Sobral, Portugal é uma nação antiga, possuindo uma identidade remota.
17
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
IDENTIDADES VS GLOBALIZAÇÃO
Como interfere a globalização com as identidades culturais, visto que não as homogeneíza?
o Existem traços globais em todo o mundo.
o Há um reforço dos mecanismos de distinção cultural.
o O fundamentalismo, que é uma forma de insensibilização das identidades nacionais,
deixando bem patente as características exóticas salientes e valorizadas.
Nas interpretações da globalização, salienta-se a fragmentação do processo que criou e manteve esta
situação desequilíbrios que provocaram a desigualdade económica entre países.
Estes processos são, assim, estruturados por estas desigualdades globais que foram explicadas segundo
várias perspectivas teóricas:
Teoria do Imperialismo muitas vezes confundida como uma teoria política marxista
associada com a extrema-esquerda, esta teoria pertence, no entanto, a um historiador inglês
de 1900.
18
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Segundo o autor, o colonialismo deriva de uma tentativa para encontrar novos mercados de
investimento. Os mercados das potências encontravam-se já saturados. O colonialismo tornou-
se também um ponto de colocação de bens o que conduziu à sujeição económica de outros
povos em relação à expansão económica externa.
Juntaram-se os recursos de colónias e potências, o que criou condições desfavoráveis para as
potências enriquecendo o Império e empobrecendo as colónias.
Mesmo no período pós-colonial, os países industrializados continuaram a manter a liderança
económica dos mercados coloniais apesar de já existir uma independência política.
A perpetuação destes privilégios é considerada pelos apoiantes da teoria um neo-imperialismo.
Teoria da Independência criada nos anos 70, parte da base da teoria do Imperialismo.
Segundo esta teoria, os países mais desenvolvidos mantinham o 3º Mundo na sua
dependência. A natureza desta dependência variava consoante a colonialização.
A pobreza do apelidado 3º Mundo era o resultado directo da subordinação aos países
industrializados. As riquezas que se acumulam no 1º Mundo resultam da pobreza do 3º Mundo,
sendo estas variáveis as duas faces de uma mesma moeda.
Teoria do Sistema Mundo modelo mais prestigiado que foi adoptado pelo autor nacional
Boaventura Santos. Esta teoria foi criada por Immanuel Wallersein entre 74 e 80.
Nesta perspectiva, desde os Descobrimentos que estão em desenvolvimento conexões
económicas e politicas, a uma escala para além das fronteiras-nação. A teoria do sistema
mundo tem por génese esta época. Este sistema mundo é constituído por várias partes:
o Países centrais aqueles que tomaram a dianteira com o processo industrial a que
mais tarde se juntaram outras economias (E.U.A. e Japão);
o Países semi-periféricos sul da Europa; países que permaneceram economicamente
estagnados na sequencia da revolução industrial da Europa;
o Países periféricos franjas do leste europeu que eram fornecedores de produtos
agrícolas ao centro europeu (após a revolução industrial);
o Arena externa formada sobretudo pela África e Ásia bem como outras áreas que
permaneceram intocáveis. Até tempos recentes estes países permaneciam à margem
das relações económicas.
Hoje, já não existem zonas apelidadas de arena externa mas verifica-se um
engrossamento dos países periféricos.
Para os críticos da teoria do Imperialismo, o melhor exemplo é o dos chamados dragões asiáticos
pequenos países como a Coreia e Singapura que conseguiram sair da situação de subdesenvolvimento e
fazem agora parte de economias exportadoras desejáveis.
A globalização é pensada como uma ameaça – a imposição de uma cultura única. No entanto, esta será
apenas uma tendência que deve ser desmistificada porque existem processos de reacção às formas de
homogeneização.
Um outro acontecimento inerente é o desenvolvimento de novas culturas transaccionais para além das
existentes: as 3ªs culturas.
19
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Migração – fenómeno multifacetado, complexo, caracterizado pela mudança de biótopo por parte do
Ser Humano.
Migrantes – quem se deslocou de um território para outro.
Uma comunidade migrante não deve ser vista como um conjunto de pessoa que vieram do exterior mas
como uma comunidade bastante heterogénea.
Cada comunidade relaciona-se de forma diferente com as comunidades migrantes.
Fluxos Migratórios:
Local de origem
O que leva à migração
Trajectos dos antepassados com vista a entender os objectivos dos migrantes.
Estratégias dos migrantes, porque locais do pais de acolhimento se distribuem.
Estratégias de integração – Processo negocial feito em conjunto, não é a comunidade migrante que se
sobrepõe ao terreno de acolhimento nem a comunidade do terreno de acolhimento que vai anular os
princípios da comunidade migrante, se bem que, na maioria das vezes, se pode sobrepor. Esta estratégia
está, constantemente em aberto, enquanto existirem comunidades migrantes.
- Pré-requisito – contextualizar a comunidade migrante (em que país, em que contexto político, situação
económica e social…)
IDENTIDADES HÍBRIDAS
Uma identidade assimila uma característica, adapta-a, transforma-a e cria assim uma nova
identidade, uma identidade híbrida. Esta não é mais do que o resultado do encontro de duas
culturas. Esta nova identidade não surge do somatório de duas culturas, apenas cria uma nova
identidade baseada em ambas.
À semelhança de uma tese, quando confrontada com uma antítese, dá origem a uma nova tese
original, única, particular.
Logo, nós que estamos inseridos numa cultura única, nascemos do encontro entre várias
culturas, como por exemplo a árabe, uma vez que a Península Ibérica foi fortemente
influenciada pelos muçulmanos.
Actualmente são visíveis paradoxos, isto é, pessoas que assumem uma identidade num país
diferente, construindo deste modo uma nova identidade, evitando o confronto cultural.
- Nova cultura – não se pode ter como exclusiva mas sim como um pouco de tudo ao mesmo tempo.
- Diáspora – processo que permitiu romper com as fronteiras no sentido de que uma cultura não é
enraizada no território.
- Uma cultura não se circunscreve ao território e às suas fronteiras. Há um tráfego cada vez mais intenso
quer da cultura como de gente.
- É importante libertarmo-nos do essencialismo racial, o hibridismo não ameaça a pureza da raça, antes
transforma-a, tornando-a única.
20
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Estas correntes migratórias também suscitam alguns problemas nomeadamente relacionados com a
integração cultural que podem eclodir em focos de racismo e xenofobia (essencialmente quando
existem crises económicas nos países de acolhimento).
Estes fenómenos têm sempre um reflexo à escala global (mas também em relação a outras escalas).
São essencialmente estes aspectos económicos e outros políticos que fazem repensar o mundo como
um sistema social único.
MULTICULTURALISMO
É um termo que descreve a existência de muitas culturas numa localidade, cidade ou país, sem
que uma delas predomine, separadas geograficamente, mas convivendo no que se
convencionou chamar de “mosaico cultural”, onde são estabelecidas fronteiras entre as
pessoas com princípios diferentes.
É uma politica que parte de um pressuposto base: respeito pela especificidade cultural de cada
um.
Contrariamente, a maioria dos países adoptou o monoculturalismo que pretende a assimilação
dos imigrantes e da sua cultura nos países de acolhimento. Exemplo disso é o Melting Pot, nos
Estados Unidos, onde as várias culturas estão misturadas sem a intervenção do Estado.
21
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Heterogeneidade cultural dos migrantes e suas culturas – estas culturas são maioritariamente tocadas
tanto pela cultura de acolhimento como pelas outras existentes. Há novas regras, novos contextos,
novos ritmos, que contagiam as culturas.
Vai haver uma maior heterogeneidade porque cada fluxo específico vai ter uma adaptação, inserção
diferente.
22
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Mito – História com um quê de verdade como factor fantasiador que ao ser herdado de geração em
geração, vai sendo enriquecido com novos factores.
É ilusório, metafórico, fantástico, criativo.
Não é cientificamente comprovado:
Sinónimo de imaginação;
Antónimo de experiência científica;
O mito contribui para o reforço, união, solidariedade entre os povos, promovendo a coesão
social.
É uma tentativa de dar resposta a questões que o Homem sempre se colocou.
Serve para ensinar regras, condutas, estruturar a vida em colectivo, construir uma unidade em
torno de algo.
Corrente Estruturalista
Na década de 70, surge nas escolas francesas a corrente estruturalista que propõe que
centremos a nossa análise no conteúdo da narrativa mítica.
Devido à complexidade das narrativas, seria um disparate não ter em conta a sua riqueza para
compreender as especificidades culturais.
Centra o seu trabalho na análise de conteúdos do mito, sendo um trabalho mais difícil, pois ao
não possuirmos as mesmas categorias culturais é complicado estudar os outros mitos.
Estudar o conteúdo da narrativa é entender a estrutura a partir do qual a história é construída
e não a história em si.
Não há narrativas universais, há apenas aquelas que são partilhadas por milhões de pessoas.
Este argumento estruturalista, leva-nos a pensar que o seu conteúdo é importante para
compreender uma estrutura social.
As nossas narrativas míticas fazem sentido no nosso contexto social. Ao pensarmos numa
narrativa temos de ter em conta a sua contextualização de modo a compreende-la e aceitá-la.
Corrente Funcionalista
Centra o seu trabalho na função do mito e não no seu conteúdo.
Encara os mitos como narrativas tradicionais.
É uma narrativa acerca de deuses e heróis, acerca da origem do mundo, é uma narrativa
sagrada.
Narrativa Mítica – reflexão sobre a realidade que não é universal, é abstracta, não é científica, mas
permite-nos conhecer o mundo através da atribuição de significados.
Pode fornecer informações fundamentais se tivermos em conta que cada povo tem
especificidades próprias na forma de pensar a realidade.
23
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Conteúdo da Narrativa – secundário, desde que seja eficaz no cumprimento da sua função: estabelecer
as normas e regras da união e agregação da nossa sociedade mesmo sabendo que a ciência responde a
várias questões.
Antigamente a narrativa mítica era um demo do qual devíamos fugir (à semelhança do senso
comum).
Actualmente é uma forma de conhecer a realidade que nos circunda;
A antropologia vê o senso comum e mito como forma de reflectir e pensar na realidade, mas
parte de postulados, categorias, metodologias, diferentes;
As narrativas vão sendo renovadas e criadas, acompanhando a evolução da sociedade, com o
objectivo de fomentar a coesão social, sobretudo perante situações complicadas, de crise, que
nos assustam;
Cosmogonia – parte da cosmologia, o que não implica a sua integração nela necessariamente, pois
podem haver cosmogonias para além de cosmologias.
Centra-se na criação do mundo, abordando também mitos fundadores.
RITUAL
- Em antropologia, são comportamentos prescritos pelo social nos quais pouco interfere a nossa
vontade individual.
- Por serem comportamentos fortemente impostos pelo social, não implica que não sofram influências,
sendo que a sua transformação decorre do consenso colectivo.
Exemplo:
Praxes Académicas, têm elementos próprios e estruturais que se multiplicaram no espaço, mas
no social caracteriza-se do mesmo modo. Perante isto, um indivíduo só poderá alterar o que
está pré – estabelecido após consenso do colectivo.
24
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Aproveitando o exemplo, é de salientar que o ritual da praxe é eficaz, uma vez que contribui
para a união e incorporação dos alunos na nova instituição de ensino.
Os rituais marcam momentos específicos da vida de cada indivíduo (ritual de celebração do baptismo,
casamento, morte, etc.). Actualmente estes rituais assumem formas diferentes de outrora, mas não
deixam de existir com legados do passado.
O baptismo é supostamente numa idade precoce, sendo o seu ritual estipulado pela igreja católica,
usando uma vela, padre, padrinho, madrinha como elementos indispensáveis.
Este é um ritual de entrada, de mudança de estatuto, assinalando a entrada num novo colectivo.
O baptismo é um ritualizado todos os anos sob a forma de aniversários, mesmo após a nossa morte.
Esta passagem é feita com uma festa, um bolo com velas igual ao nº de anos do indivíduo, amigos,
família, comida, bebida, oferendas.
Parte destes elementos que integram a celebração do aniversário, estão presentes noutros rituais,
noutras culturas. Esses elementos são fulcrais para a criação e recriação do ritual.
A maioridade, marca a entrada na vida adulta, consistindo num ritual de passagem. Contudo, para a
antropologia, adulto é todo aquele que entra para o mercado de trabalho contribuindo para o colectivo.
A morte é um ritual fixo, rígido, na cultura portuguesa, organizando-se segundo os princípios católicos.
No entanto, todas as culturas o celebram, caso contrário são “punidas” socialmente. É um ritual
fundamental e que é respeitado ao extremo. É um ritual de passagem entre uma situação e outra.
Exemplo da importância da cerimónia fúnebre é, quando ocorre uma tragédia (tsunami, atentados
terroristas, acidentes aviação), o colectivo faz grandes esforços para recuperar os corpos de modo a que
as famílias possam ritualizar o óbito dos seus entes.
25
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Objecto
Os objectos são uma forma de distinção entre grupos;
A especificidade cultural de um grupo transmite-se para o objecto e este torna-se embaixador
dessa especificidade;
Logo, os objectos só fazem sentido dentro do contexto em que são produzidos;
Eles têm simbolismo, estabelecendo uma comunicação não-verbal;
-Os objectos são mais do que o material de que são feitos:
▪ Têm um significado que nos lhes atribuímos;
▪ Têm um significado na vida social, que evolui ao longo do tempo;
Os objectos não podem ser tidos como marcadores da identidade social, pois não são fixos/
rígidos, evoluindo, ganhando ou perdendo significado;
Os objectos têm muito peso nos indivíduos (se nos roubarem um pertence significativo,
sentimo-nos lesados e o sentimento de perda é doloroso);
26
Exame de Antropologia Inês Martins da Silva
J ANEIRO DE 2010 1º ano Jornalismo
Os objectos têm uma dimensão expressiva simbólica sendo que nos relacionamos com estes,
construindo o nosso projecto de identidade;
Muitas vezes a relação com o objecto é estratégica do ponto de vista social, fazendo os outros terem
uma imagem de nós que não corresponde à realidade;
Desta forma, são demarcadas estratégias de distinção e identificação social;
27