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Bakunin
redivivo
(revolução e anarquia)

Evaldo Piolli

Mikhail Bakunin: Obras Escolhidas, organização e tradução de


Plínio Augusto Coêlho, São Paulo, Hedra/Imaginário, 2015, 722 p.

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E
Em um inquérito policial de veio de um descontentamento generalizado da popu-
mais de 2 mil páginas, ela- lação com o aparato institucional da democracia im-
borado pela Polícia Civil do plantado após a ditadura (1964-85), e que, agora, dá
Estado do Rio de Janeiro, sinais claros de esgotamento.
em 2014, para apurar, inves- Portanto, nada mais oportuno do que termos em
tigar e responsabilizar 23 mãos esse livro Mikhail Bakunin: Obras Escolhi-
pessoas por “atos violentos das, publicado pelas editoras Hedra e Imaginário
na cidade” durante as mani- com textos selecionados desse pensador libertário.
festações anticopa, o nome de Bakunin, morto em Uma edição primorosa e muito bem organizada,
1876, aparece como um dos suspeitos de liderar esse com 722 páginas, que ainda traz um apêndice com
movimento. Seu nome foi citado por manifestantes textos de estudiosos da obra de Bakunin, além de
em ligações feitas por celular que foram intercepta- uma parte final dedicada à apresentação de dados
das pela polícia durante as investigações. O jornal cronológicos de sua vida.
Folha de S. Paulo noticiou esse fato em sua edição Mikhail Aleksandrovitch Bakunin nasceu em
do dia 28 de julho do mesmo ano. 1814, na Rússia, filho de pais aristocratas pertencen-
A eclosão das manifestações nos anos de 2013 e tes à “pequena nobreza” russa. Quando jovem, trans-
2014 trouxe para a cena política nacional, por con- feriu-se para a Alemanha para iniciar seus estudos
ta das opções políticas de muitos dos manifestantes, na escola hegeliana, a qual veio a se constituir a base
entre eles os black blocs, o tema do anarquismo, jun- e o fundamento das suas ideias revolucionárias, junta-
tamente com o nome de Bakunin e de outros de ex- mente com Blanqui, Herzen, Marx e Darwin, que con-
pressão desse movimento, aspecto que revela a força tribuíram mais perifericamente. Participou de quase
e atualidade de suas ideias. todas as revoltas que ocorreram na Europa durante o
Senão, vejamos. Os partidos, principalmente aque- século XIX. Esteve na Suíça, Bélgica e França, onde
les que se apresentam como defensores dos trabalha- conheceu Marx e Engels na residência de Proudhon,
dores, se transformaram em verdadeiras máquinas no ano de 1845. Aliás, Proudhon é quem, mais tarde,
eleitorais, envolvidos hoje em esquemas de arrecada-
ção e de corrupção. Os sindicatos, por sua vez, seguem
preservando a estrutura burocratizada reprodutora do
peleguismo. O questionamento dessas instituições pe- EVALDO PIOLLI é professor da Faculdade de Educação
los movimentos de rua iniciados em 2013, no Brasil, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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irá nomear Bakunin de anarquista. Por sua atuação essa imolação, mais perfeito é o Estado” (p. 122). Nes-
acabou preso na Alemanha, sendo deportado depois se sentido, o Estado, desde sempre, é o patrimônio de
para a Sibéria, condenado a trabalhos forçados entre uma classe qualquer, assim como também a negação
os anos de 1849 e 1861, de onde fugiu. Em sua fuga “mais flagrante, mais cínica e completa da humani-
passou pelo Japão, depois Estados Unidos até chegar a dade” e da liberdade. Suas críticas são direcionadas
Londres, integrando-se à cena política local e passan- também para o Estado moderno e seu aparato buro-
do a escrever e atuar. No ano de 1865 mudou-se para crático, pois, “mesmo os mais democráticos, como os
a Itália, onde fundou a Fraternidade Internacional e, EUA”, foram construídos para legalizar a exploração.
depois, a Aliança da Democracia Socialista. A burguesia detém o monopólio da violência organi-
É a partir de seus embates com os republicanos, zada pelo Estado e do controle das suas instituições e
liberais e socialistas que atuavam nessas associa- esferas político-jurídicas.
ções que Bakunin começa a pregar o antiestatismo, No programa da Sociedade de Revolução Inter-
a auto-organização, o antiteologismo e a liberdade, nacional de 1868, o Estado é definido como uma “or-
reflexões que o levarão a negar totalmente qualquer ganização histórica dos princípios da autoridade e da
forma de poder sobre o homem e o coletivismo entre tutela, divinas e humanas, exercidas sobre as massas
os trabalhadores. populares” (p. 188). Em resumo, a justificativa para
Essa transição se dá no final da década de 1860, a negação do Estado é a mesma da do ateísmo, pois
quando começa a produzir textos efetivamente anar- para ele o homem é bom, inteligente e livre. O Estado,
quistas, destacando-se “Federalismo, Socialismo e como qualquer teologia, parte do pressuposto de que o
Antiteologismo”, escrito para a Liga da Paz e da homem é essencialmente perverso e mau.
Liberdade, uma agremiação burguesa fundada em Para Bakunin o Estado moderno e sua forma de
1867 por liberais e republicanos, da qual Bakunin organização não são outra coisa senão dominação
se desligaria mais tarde para aderir à I Internacio- e exploração veladas e sistematizadas, fundadas no
nal. Aliás, esse texto é o primeiro a ser apresentado “livre contato” (p. 101). O Estado republicano, insti-
nessas obras escolhidas. tuído sobre as bases do sufrágio universal, segundo
Os escritos reunidos nesse livro permitirão ao ele, pode ser ainda “mais despótico do que o Esta-
leitor ter uma compreensão das matrizes do pen- do monárquico, quando a pretexto de representar a
samento, os princípios, os embates que tornaram vontade de todo mundo, oprimir a vontade e o livre
Bakunin um pensador antiautoritário, com o Estado movimento de cada um de seus membros com todo
como principal alvo de suas críticas. Ele defendia o o peso de seu poder coletivo” (p. 86).
coletivismo, em total oposição ao Estado, como me- Nessas Obra Escolhidas estão os elementos da
lhor caminho para a revolução social e a conquista crítica de Bakunin ao Estado democrático e seus sis-
da igualdade econômica. Assim, como é definido no temas de representação política. Sua crítica às elei-
texto “Os Princípios e a Organização” (p. 153), a co- ções populares, aos partidos, ao sistema represen-
muna “absolutamente autônoma” é a base de “toda a tativo e aos políticos oportunistas de sua época, em
organização política de um país”. A paz e a liberdade razão de sua profundidade, se apresenta ainda muito
somente seriam conquistadas se fossem concretiza- atual e, com certeza, não será estranha ao leitor que
das as possibilidades de autodeterminação dos po- acompanha a cena política brasileira.
vos, do federalismo e da autonomia das províncias Em seu “Catecismo Revolucionário”, como em
e comunas. Tal forma de organização estaria mais outros textos incluídos no volume, Bakunin expõe
afinada com os “princípios do socialismo”. sua radical oposição a todo tipo de instituição bur-
Bakunin defendia que a existência de Estados cen- guesa de sua época para edificação de uma socieda-
tralizados tornaria impossível a paz e a liberdade. Para de fundada na liberdade e na razão. Nesse sentido,
ele, o Estado é “um imenso cemitério onde vêm sacri- portanto, o antiteologismo se constitui em outro
ficar-se, morrer, enterrar-se todas as manifestações da elemento central de sua obra.
vida individual e local, todos os interesses das partes Bakunin também foi um crítico feroz da educação
cujo conjunto constitui precisamente a sociedade. É o burguesa em seus princípios e modo de organização,
altar onde a liberdade real e o bem-estar dos povos são sendo primorosas suas reflexões sobre a educação em
imolados à grandeza política; quanto mais completa é textos como “Federalismo, Socialismo e Antiteolo-

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gismo”, “A Ciência e a Questão Vital da Revolução”, do proletariado, bem como os progressos da indústria
“Programa da Sociedade da Revolução Internacional”, e do comércio foram a causa de sua miséria relativa.
“A Ciência e o Povo” e “Os Enganadores”. Mas é em Os progressos intelectuais e progressos materiais con-
“Educação Integral” que podemos encontrar o melhor tribuíram igualmente, portanto, para aumentar sua es-
de seu pensamento sobre o tema, o qual se vincula cravidão. O que resulta disso? Que devemos rejeitar e
ao seu projeto de sociedade fundado na igualdade combater essa ciência burguesa, assim como devemos
econômica e na liberdade. Para ele, o domínio da ci- combater e rejeitar a riqueza burguesa” (p. 272).
ência e da razão, atrelado a uma educação antiautori-
tária constitui-se como elemento fundamental para a Para Bakunin, tanto a ciência quanto a riqueza são
emancipação humana. De outra parte, toda proposta bem comum e patrimônio de todos e, como tal, não
pedagógica advinda do Estado e pactuada com os in- devem ser apropriadas apenas por uma classe.
teresses da burguesia tem por pretensão a reprodução Nesse quadro, pois, a universidade estará a ser-
das relações de dominação, o doutrinamento, o con- viço dessa dominação. Através da sua burocracia irá
formismo e a formação de indivíduos docilizados e alienar os professores/intelectuais, disciplinará seus
adaptados ao mundo produtivo. alunos, obtendo como produto uma ciência alienada.
O estudo cuidadoso desses textos será de grande O leitor encontrará muitos elementos para aproximar
valia para o debate atual sobre o tema da educação as críticas de Bakunin à conformação da universidade
integral. Poderá ser desfeita, por exemplo, parte da brasileira hoje, bem como para que se percebam as
confusão provocada pelos programas governamentais1 relações feitas por ele, em certa medida, no aprofun-
de escolas de tempo integral ou de ensino integrado, damento da burocracia universitária, nos controles
confundidos, muitas vezes, com educação integral. No centralizados, no ranqueamento das instituições, nas
entanto, o simples fato de uma escola desenvolver um avaliações heterônomas, nos prêmios de produtivida-
programa de complementação curricular ou mesmo de, na privatização da pesquisa, no currículo Lattes e
um ensino profissionalizante, no contraturno do ensino no produtivismo acadêmico e sua indução à produção
das matérias do currículo comum, está bem distante da de papers em periódicos cada vez mais padronizados.
proposta de educação integral defendida por Bakunin. Outro texto fundamental presente na coletânea é
Também no que se refere à ciência, a crítica de “Escrito Contra Marx”, redigido em 1872, após a ex-
Bakunin é contundente sobre a sua aplicação no pulsão de Bakunin da I Internacional, juntamente com
contexto da sociedade burguesa, fundamentalmente James Guillaume. No texto é apresentado o ponto de
quanto à apropriação que a burguesia fez desse tipo vista de Bakunin sobre o direcionamento dado por
de conhecimento através do Estado e das universida- Marx e seus seguidores à I Internacional. Bakunin
des. Ele alega que os usos do conhecimento científico será um crítico feroz ao programa político defendido
configuram-se como elemento primordial da domina- por Marx. Contudo, é bom esclarecermos, que não
ção de classe e do poder do Estado. São críticas que foi em função da radicalização dessas divergências,
se reportam ao ensino universitário para as classes como pregam muitos, que a I Internacional se dissol-
privilegiadas e ao relacionamento entre a produção da veu, mas, acima de tudo, pela forte repressão às diver-
ciência e de tecnologias com a exploração do trabalho, sas seções em vários países após a Comuna de Paris,
o enriquecimento da burguesia e o fortalecimento do ocorrida em 1871.
aparelho estatal. Como ele mesmo diz: A I Internacional foi fundada em setembro de 1864
em Londres, desenvolvendo uma forte atração entre
“Em resumo, na organização atual da sociedade, os pro- os trabalhadores europeus, não devendo, portanto,
gressos da ciência foram a causa da ignorância relativa sua popularidade apenas ao fato de ter proclamado a
Comuna de Paris em 1871, e sim de ter criado seções
em diversos países da Europa e nos Estados Unidos.
1 O Programa Mais Educação, instituído pela Portaria Intermi- Ela surge num contexto de fortalecimento dos Estados
nisterial n. 17/2007 e regulamentado pelo Decreto 7.083/10,
constitui-se como estratégia do Ministério da Educação para nacionais como necessidade imperativa dos trabalha-
induzir a ampliação da jornada escolar e a organização cur- dores para responder ao processo de acumulação do
ricular na perspectiva da educação integral. Outro exemplo
é o Programa Escolas de Tempo Integral (ETI), desenvolvido
capital. A I Internacional foi constituída a partir da
pelo governo do estado de São Paulo. percepção dos trabalhadores de que a organização em

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âmbito nacional seria apenas uma etapa da luta, sendo da América, sem falar dos trabalhadores eslavos, de-
necessária uma articulação internacional. sejarão se submeter à disciplina marxista” (p. 403).
Bakunin ingressou na I Internacional no ano de
1866, admitido por Marx, durante a seção de Genebra, A criação de um partido operário para disputar
e atuou intensamente até sua expulsão, feita pelo pró- o poder a partir de uma eleição popular constitui-se
prio Marx e seus seguidores durante o Congresso de como uma ilusão, pois poderá corromper-se e afastar-
Haia, em 1872. As divergências foram se acentuando -se das lutas e dos interesses dos trabalhadores, ou,
em torno das seções “antiautoritárias”, que pregavam mesmo, edificar-se como um instrumento operador da
a ação e a organização dos trabalhadores na direção da legitimação da exploração, por meio da conquista de
abolição do Estado e do capital, e das seções de orien- direitos e da domesticação através da proteção estatal.
tação social-democrata, que, sob a direção de Marx e Nos “Escritos Contra Marx”, mais do que contra
seus seguidores, defendiam um programa político ou, Marx, Bakunin polemiza contra a social-democracia
ainda, a tomada do poder por um partido operário. alemã, influenciada pelo lassallismo, contra o culto ao
Nesse sentido, também, Bakunin manifesta seu posi- Estado e a via eleitoral.
cionamento crítico ao burocratismo de Marx à frente
do conselho central da I Internacional. “É evidente que todo esse movimento político pre-
Nos escritos contra Marx, Bakunin expressará sua gado pelos socialistas da Alemanha, visto que deve
fidelidade aos princípios e ao programa geral da I In- preceder à revolução econômica, só poderá ser di-
ternacional defendendo sua unidade ao afirmar que rigido por burgueses, ou, o que será ainda pior, por
ela “só pôde adquirir uma extensão imensa porque eli- operários transformados por sua ambição, ou por vai-
minou de seu programa obrigatório todas as questões dade, em burgueses, e passando, na realidade, e como
políticas e filosóficas” (p. 400) e que a “emancipação todos os seus predecessores, por cima da cabeça do
dos trabalhadores só pode ser obra dos próprios tra- proletariado, esse movimento não poderá deixar de
balhadores” (p. 402). É sobre essa base que construirá condenar de novo, este último, a ser apenas instru-
toda sua crítica ao “socialismo científico” e ao progra- mento cego e infalivelmente sacrificado na luta entre
ma político de Marx e seus seguidores. os diferentes partidos burgueses pela conquista do
poder político, da força e do direito de dominar as
“Não creio ser necessário demonstrar que, para que massas e explorá-las” (p. 397).
a Internacional seja e permaneça uma potência, ela
deve ser capaz de atrair para o seu seio, abarcar e Munido desses argumentos, Bakunin aponta que
organizar a imensa maioria do proletariado de to- o programa político de Marx tem como objetivo o es-
dos os países da Europa e da América. Mas qual o tabelecimento de um Estado pangermânico, “preten-
programa político ou filosófico que poderia se gabar samente popular”. A clareza de suas posições sobre
de reunir sob sua bandeira milhões de adeptos? Só o problema do Estado e da dominação o faz criticar,
um programa geral, isto é, indeterminado e vago, também, a ideia de um Estado operário, pois uma
pode consegui-lo, pois toda determinação em teoria sociedade sob domínio de um partido operário e de
corresponde fatalmente a uma exclusão, uma elimi- um Estado popular constituídos por uma “inteligência
nação na prática” (p. 400). científica” não estará isenta de mecanismos burocráti-
cos legitimadores de uma nova dominação de classe.
Para Bakunin, a resolução do Congresso de
Haia, sob domínio de Marx e seus seguidores, ao “Haverá uma nova classe, uma nova hierarquia de
propor um “programa político uniforme” a todas as doutos reais e fictícios, e o mundo se dividirá em
federações internacionais, incitou uma “grande dis- uma minoria dominando em nome da ciência e uma
córdia” no âmbito da I Internacional, contribuindo imensa maioria ignorante. E, então, cuidado com essa
para seu enfraquecimento e dissolução. massa de ignorantes” (p. 433).

“É preciso ser verdadeiramente insensato para ima- É preciso, no entanto, fazer justiça a Marx, uma
ginar que os trabalhadores da Inglaterra, da Holanda, vez que o socialismo científico será mais propagado
da Bélgica, da França, do Jura, da Itália, da Espanha, pelos leninistas do que por ele próprio. Para Marx o

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socialismo é um movimento espontâneo das massas por Bakunin. O que ele diria sobre os atuais partidos
e cabe ao marxismo o papel de registrar e dar consci- brasileiros que adotam em suas siglas palavras como
ência. Bakunin vai na mesma direção ao compreender “social”, “socialista”, “trabalhista”, “trabalhadores” ou
que não se trata de inculcar um socialismo científico, mesmo “comunista”, mas que na prática são, no máxi-
“mas de exprimir o movimento real das massas”. No mo, democratas defensores da ordem burguesa? O que
entanto, os marxistas se dividirão em torno dessa ques- diria o nosso pensador libertário sobre o financiamen-
tão. Kautsky (1834-1934) e Lenin (1870-1924), ao cri- to desses partidos por grandes corporações? E sobre o
ticarem a espontaneidade das massas, confluirão com sindicalismo burocrático e suas centrais dependentes
suas ideias para as armadilhas do socialismo científico do imposto sindical e das contribuições compulsórias?
denunciadas por Bakunin. O centralismo democrático E sobre as festas de 1º de Maio promovidas pelas cen-
de Lenin, tomado de empréstimo de Kautsky, virá es- trais sindicais, com sorteios de automóveis e shows de
tabelecer a supremacia do partido e seus revolucioná- cantores sertanejos, repletas de políticos oportunistas?
rios profissionais dotados de conhecimento científico Aliás, algumas dessas centrais, inclusive, fizeram a de-
em detrimento de outras formas possíveis de organi- fesa aberta da nova lei da terceirização (PL 4.330/04),
zação dos trabalhadores. Esse caminho, para muitos, a qual, se aprovada, afetará a vida de milhares de
teria desenvolvido as condições que favoreceram, trabalhadores, retrocedendo, em muitos aspectos, às
posteriormente, o surgimento do stalinismo. Por sua condições de contratação típicas do século XIX.
vez, Rosa de Luxenburgo e Aton Pannekoek cuidarão Enfim, ao ler muitos dos escritos incluídos nes-
de preservar o aspecto libertário das ideias de Marx, se livro, o leitor chegaria à mesma conclusão a que
defendendo os conselhos e a autogestão. No entanto, cheguei: de que, com certeza, se Bakunin estivesse
compartilho da ideia de que, se podemos encontrar vivo e morando aqui no Brasil, teria se envolvido, com
na obra de Marx esse viés libertário, isso é devido à certeza, nas manifestações de rua e proferido muitas
convivência e aos embates com Bakunin. críticas ao Estado e seus mecanismos de repressão, à
Os escritos reunidos nesse livro constituem, por- corrupção, aos partidos (de esquerda e de direita) e aos
tanto, um documento histórico de grande relevância sindicatos pelegos. Não se furtaria em tecer críticas se-
para todos que pretendem compreender a história das veras aos intelectuais, à ciência, à educação, bem como
lutas sociais e da organização dos trabalhadores no também à classe média conservadora que hoje clama
final do século XIX. Contudo, vale reafirmar, que o pela volta dos militares ao poder no Brasil. Portanto,
leitor perceberá a atualidade desses escritos e a força tal como consta no inquérito policial do Rio de Janei-
das ideias e críticas neles contidas. Olhando para a ro, Bakunin é, sim, uma voz presente no nosso tempo,
cena política brasileira recente, com pouco esforço, imortalizada por sua contundente crítica à sociedade
encontraremos muitos pontos da crítica elaborada burguesa e suas instituições.

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