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Na noite de sete de março de 1914, Fernando Pessoa, poeta e fingidor, sonhou que acordava.
Tomou o café no seu pequeno quarto alugado, fez a barba e vestiu-se com esmero(1). Enfiou a
gabardina, porque lá fora chovia. Quando saiu faltavam vinte minutos para as oito, e às oito em
ponto estava na estação do Rossio, na plataforma do comboio com destino a Santarém. O comboio
5 partiu pontualmente às oito e cinco. Fernando Pessoa tomou um lugar num compartimento onde
estava sentada uma senhora aparentando cinquenta anos, que lia. Era a sua mãe e não era a sua
mãe, e estava imersa na leitura. Fernando Pessoa pôs-se também a ler. Naquele dia tinha de ler
duas cartas que lhe tinham chegado da África do Sul e lhe falavam de uma infância longínqua. (…)
Quando chegaram a Santarém, Fernando Pessoa apanhou uma tipóia(2). Sabe onde fica uma casa
10 isolada caiada de branco?, perguntou ao cocheiro(3). O cocheiro era um homenzinho anafado(4), com
o nariz vermelho do álcool. Claro, disse, é a casa do senhor Caeiro, conheço-a bem. E fustigou o
cavalo. O cavalo começou a trotar(5) na estrada principal ladeada de palmeiras. (…)
Mas onde estamos nós?, perguntou Pessoa ao cocheiro, para onde me leva?
Estamos na África do Sul, respondeu o cocheiro, e estou a levá-lo a casa do senhor Caeiro.
15 Pessoa tranquilizou-se e apoiou as costas no assento. Ah, estava então na África do Sul, era mesmo
isso que queria. Cruzou as pernas com satisfação e viu os seus tornozelos nus, dentro de umas calças
à marinheiro. Compreendeu que era um rapazinho, o que muito o alegrou. Era bom ser um rapazinho
que viajava para a África do Sul. (…)
1.1. Corrige, com base no texto, as afirmações que classificaste como falsas.
1.2. A viagem que Fernando Pessoa faz, neste texto é real? Transcreve do texto uma expressão
que justifique a tua resposta.
1.3. Explica, por palavras tuas, esta contradição: “Era a sua mãe e não era a sua mãe…” (l. 6-7)
II
Lê agora o texto B com atenção e responde às questões:
Modernismo
O início do século XX foi um momento de crise aguda, de dissolução de muitos valores. Os artistas
reagiram ao cepticismo(1) social (…) através da agressão cultural, pelo sarcasmo, pelo exercício
gratuito das energias individuais, pela sondagem, a um tempo lúcida e inquieta, das regiões virgens
e indefinidas do inconsciente, ou então pela entrega à vertigem das sensações, à grandeza inumana
5 das máquinas, das técnicas, da vida gregária(2) nas cidades.
No início deste século, as minorias criadoras manifestaram-se por impulsos de rutura com as
diversas ordens vigentes(3). As forças da aventura romperam as crostas das camadas conservadoras
e tentaram redescobrir o mundo através da redescoberta da linguagem estética. Na área da poesia,
recusam-se os temas poéticos já gastos, as estruturas vigentes da poética ultrapassada. A arte
10 entra numa dimensão – outra: os objetos não estéticos e o dia a dia na sua dimensão multiforme
entram na arte. Recusa-se o código linguístico convencional e, sob o signo da invenção, surgem
novas linguagens literárias: desde a desarticulação deliberada da frase até à expressão densamente
metafórica, quase inacessível ao entendimento comum.
2.1. Rescreve a frase abaixo, substituindo as expressões destacadas pelos pronomes pessoais
correspondentes, com função, respetivamente, de sujeito e complemento direto:
2.2. Reescreve o texto abaixo, com os verbos indicados no pretérito perfeito, mais que perfeito
ou futuro do modo indicativo:
2.3. A palavra valor (singular de valores – l.1) teve origem no vocábulo latino valore. Seleciona
a opção correta para designar o fenómeno fonético que ocorreu, na evolução da forma latina
para o português, e justifica a tua escolha:
Redige um texto de opinião estruturado, com um mínimo de noventa a cento e trinta palavras, em que
te posiciones a favor ou contra a seguinte afirmação:
Fundamenta o teu ponto de vista, recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um deles com
um exemplo significativo.
Bom trabalho!