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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES

LINGUAGEM VERBAL NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO III

A moda como mecanismo de militância no sistema capitalista.

Paula Gurgel 8949715

Profa. Dra. Irene Machado

São Paulo, 2016


Moda é a forma de vestuário referente a um período de tempo e um contexto.
É uma percepção e um conceito que só surgem no início da Renascença, período em que
a vestimenta obtém uma função social de reafirmação de poder e se desvincula de sua
funcionalidade de pura de proteção contra os males do ambiente.

Ao contrário do que muitos pensam, a moda não foi sempre algo que existiu
guiando a forma de se portar e se vestir da sociedade, mas foi um fenômeno que cresceu
com a escala industrial e se moldou ao que observamos nos últimos séculos. Ela vem
como uma releitura do conceito dos mais renomados estilistas internacionais e se insere
no mercado brasileiro através de peças chave e nichos influenciadores. Temos como
exemplo disso a inserção de calças no guarda-roupa feminino, uma grande quebra de
paradigmas para a época, e que décadas depois nem se cogita que calça seria uma peça
de roupa exclusivamente masculina. O mesmo processo ocorre com ternos, bermudas,
camisas, cada um em um momento, confrontando sutilmente um paradigma em seu
contexto.

Desde pequena observo a moda como um padrão a ser seguido, um ditador de


tendências que tem o poder de lhe inserir ou segregar em um núcleo social, um grande
influenciador com a capacidade de destruir autoestimas, reforçar relações de poder e
explorar milhares de pessoas em pró de um comportamento social. Fui incontáveis
vezes vítima do padrão ditado pela moda feminina, me martirizando para alcançar
padrões inatingíveis ou consumir tendências que para mim não eram acessíveis, sendo
essas coisas que aprendi a gostar e previamente abominava. Me foi ensinado que ser
magra era bonito, que marinho com preto não pode, que tal coisa é chique, tal coisa é
brega, rosa é de mulher, terno é só pra homem... e continuamente construí conceitos que
apenas processos muito brutos ou muito longos conseguiram abalar.

Percebo que este existe um ciclo natural da moda: conceitos surgem nas
passarelas e não os compreendemos, são transferidos para o nosso cotidiano em peças
que muitas vezes não nos fazem sentido e portanto logo não apreciamos, em pouco
tempo estaremos buscando a mesma peça que incialmente nos era estranha e
consumindo algo que nos foi lentamente inserido. Em meio a tamanha capacidade
destrutiva que a moda detém, deixamos de perceber possibilidades de discurso e diálogo
usufruindo de todo o poder influenciador em suas mãos. Assim como várias das
tendências foram inseridas e primeiramente refutadas, o mesmo processo ocorre com
discussões sociais pautadas em militâncias. Desta mesma maneira em que tendências
quaisquer surgem, tendências revolucionárias também ocorrem, e lentamente se
desenvolvem ao ponto de quebrarem paradigmas.

Meu questionamento é a possibilidade do uso da moda como uma ferramenta


para fins contrários à sua própria existência, desvinculando-se do propósito
primordialmente mercadológico e lucrativo e adquirindo um caráter de militância dentre
as diversas problemáticas sociais em um sistema que sua própria manutenção se baseia
na permanência das mesmas problemáticas.

Da mesma forma que me aprisiona de inúmeras maneiras, muito da liberdade


feminina, por exemplo, se deu com quebras de paradigmas na esfera da moda.

Salvo exceções, as sociedades contemporâneas são historicamente de estrutura


patriarcal e, portanto, de cultura e educação machista. Desta forma, todas as conjunturas
que estão envolvidas nessa estrutura trabalham de forma a manter este sistema fechado
e estável como se encontra há séculos, sendo na organização do trabalho, no sistema
educacional, na composição das famílias e até em pequenos vícios de linguagem que
foram consolidados. Em séculos de história, pouquíssimos acontecimentos foram
grandes o suficiente para quebrarem essa continuidade e provocarem uma revolução de
qualquer tipo. Em grande maioria as rupturas ocorreram de forma processual e lenta, em
um acumulo de novidades que em certo ponto não fazem mais sentido algum na
estrutura em que se encontram, e neste acumulo ocorre a ruptura.

Em paralelo a toda a construção social, observamos o mundo da moda


acompanhando de forma sintomática qualquer período histórico, refletindo as demandas
e vontades daqueles no poder, assim como todos os outros aspectos sociais. A própria
surge com a função de distinguir a monarquia de todo o resto da população através de
tinturas, tecidos e designs exclusivos, estabelecendo através da vestimenta uma relação
de poder sutil, porém bastante representativa. Com o mesmo princípio que surgiu,
continuou existindo estabelecendo exatamente a mesma função de formas diferentes.

Não seria diferente em um sistema que busca manter a supremacia masculina


intacta. Partindo do pressuposto que a moda é um fenômeno que trabalha
constantemente de forma a sustentar relações de poder, podemos observar como a
mesma se sustenta em um sistema patriarcal e rapidamente observar como o simples ato
de se vestir se torna um mecanismo de opressão. Em evidência temos a distinção de
roupa de homem e de mulher, uma vez que neste sistema são dois gêneros
absolutamente distintos e que em hipótese alguma devem ser misturados ou
confundidos, a moda cresce de forma a criar roupas para homens e roupas
absolutamente diferentes para mulheres, é a mais primordial e a mais desapercebida
forma de controle que obtemos. Sendo educados desde pequenos que uma coisa é uma
coisa e outra coisa é outra coisa, a distinção é clara e não é contestada.
De maneira igualmente resistente, a moda como forma de distinção de classes se
torna um mecanismo ainda mais poderoso uma vez que a sociedade deixa de ser
composta por plebe, clero e monarquia, mas passa a existir como milhões de indivíduos
distintos somente pelo poder de aquisição. Desta forma, a moda passa a existir como um
símbolo de pertencimento e o atestado é aquilo que exibimos à primeira vista, nossas
vestimentas. As grifes são muito mais do que uma marca, são o atestado de poder social
que foi transferido de um sistema para outro através do dinheiro. Com esta distinção tão
clara e gritante, cria-se uma eterna busca pela ascensão social através do
reconhecimento estético que se constrói majoritariamente pela forma com que nos
vestimos.

Notemos, no entanto, que nenhuma destas relações de poder surge através da


moda, ela apenas as replica de forma a estabelece-las e mantê-las estáveis e discretas,
quase como se fossem naturais.

Uma vez estabelecido o papel da vestimenta na sociedade, a moda passa a agir


de forma quase autônoma, seguindo padrões sociais que pouco diferem do pré-
estabelecido e seguindo a ordem das coisas. Servindo apenas como um reflexo de um
sistema megalomaníaco, a moda espelha para a população sintomas sociais e os finca na
geração vigente. Temos neste século inúmeros elementos que são fortes denúncias de
um sistema social complexo.

Como seria possível defender a continuidade da moda sabendo de seu potencial


de danos?

Em um modelo de produção que visa a constante produção e crescimento de


vendas,o desmembramento da autoestima do indivíduo se torna algo extremamente
lucrativo. Foi criado nas últimas décadas, mais forte do que nunca, um padrão de beleza
inantingível que é cultivado e glorificado a todos os momentos, fazendo com que todos,
mas em especial o público feminino batalhe diariamente para atingir o mesmo, sendo
este impossível, não se conformando nem com algo muito próximo do ideal, pois
sempre nos foi ensinado o que devemos ser e buscar, mas nunca nos foi ensinado a
gostar de nós mesmos. Surge assim o culto exacerbado pelo corpo, gerado por uma
mídia que assim como a moda serve para manter as relações de poder e a todo momento
reforça o ideal criado por este sistema.

O culto ao corpo se torna um problema gravíssimo e extremamente enraizado


uma vez que gerações crescem com apenas um ideal de beleza em sua educação. Como
observamos na imagem acima, a silhueta magra, de pernas finas e compridas, seios
vistosos e pele branca é cultivado como o “corpo perfeito”, uma vez que uma parcela
extremamente pequena de mulheres atende absolutamente todas as características
requisitadas para se ter um corpo perfeito. Uma vez que é absolutamente impossível
alcançar tudo isso, a busca se torna eterna, sempre comprando qualquer coisa que te
aproxime do ideal e realizando procedimentos, fechando assim mais um ciclo de relação
de poder gerado pela sociedade patriarcal. A moda em si é mais um mecanismo
propagação deste padrão, a própria no entanto trabalha em pró da manutenção deste
sistema através da geração de desejo por itens de duração sazonal, as famosas
tendências criadas por estilistas criativos e estrangeiros que no núcleo da moda ditam o
que vai acontecer no mundo do varejo nos próximos meses ou anos. Assim como o
padrão de beleza, é praticamente impossível seguir as tendências da moda fielmente o
tempo todo. A sazonalidade das peças e velocidade com que caem em desuso tornam
absolutamente inviável que qualquer indivíduo se mantenha sempre vestido com a
última tendência. O ciclo novamente se fecha, no qual a busca pela
atualidade é eterna e mantém todos os indivíduos reféns.
Tudo isso faz parte de um modo de produção que visa a rapidez e a urgência.
Não importa se você já comprou uma camiseta semana passada,você PRECISA ter uma
nova camiseta que é o novo “must have” indicado pelos formadores de opinião, como a
peça acima.

Sabendo que a moda é muito diferente de uma expressão cultural, mas é na


realidade uma indústria que consolidou um sistema não somente produtivo, mas cultural
e comportamental, percebemos que voltar atrás é praticamente impossível, é uma
realidade pautada no capitalismo, decorrente do patriarcado que está secularmente
enraizada. Seria possível mesmo assim desconstruir lentamente essa fortaleza em que
fomos inseridos?
Ao longo dos últimos cem anos houveram quebras no mundo da moda que na
época foram vistos como atos de rebeldia, mas observando posteriormente pode se
perceber que foram indícios de atos rebeldes muito além das peças de roupa.
As primeiras mulheres a vestirem calças, por exemplo, foram vistas como
rebeldes e foram extremamente transgressoras ao combater uma ordem em que calças
eram peças exclusivamente masculinas. Essa transgressão batia de frente não só com
questões de estilo, mas com um status quo que até então não fora questionado. Coco
Chanel, em 1930 se tornou simbólica quanto a esta questão pois fora uma das primeiras
mulheres a vestir calças e acima de tudo a produzi-las para outras mulheres. Apesar de
reconhecer a importância do feito de Coco Chanel, não acredito que tenha sido uma
revolução da moda que dependeu exclusivamente da ousadia de uma única pessoa. A
moda é um reflexo de elementos sociais, ela nunca surge absolutamente de forma
espontânea sem qualquer vínculo.

Nesse momento histórico em que calças começam a ser introduzidas no guarda-


roupa feminino, a conformação sobre o papel da mulher na sociedade já não é a mesma,
e a quebra de paradigma no mundo da moda serve como um incômodo, porém não
como elemento revolucionário.

O mesmo ocorre com os famosos terninhos de Coco Chanel, que redesenhou um


dos maiores símbolos do homem bem-sucedido e o transportou para o universo
feminino, colocando em cheque a posição da mulher na sociedade mais uma vez. Este
grande grito em um período em que feminismo não era ao menos uma questão
possibilitou que as mulheres adentrassem um novo cenário da moda que até então não
existia a possibilidade de se vestir de forma semelhante ao homem, sendo mais um
passo simbólico e representativo de uma liberdade inexistente. No entanto, este grande
passo se deu adentro de uma indústria que cresce fortalecendo o mesmo sistema
patriarcal que incialmente aprisionara.

Este “loop infinito” parece não haver saída pois cada passo de liberdade
reingressa no mesmo sistema com pequenas mudanças conjunturais. Mas ao mesmo
tempo, é o acumulo destas pequenas mudanças que possibilita grandes rupturas.

O contexto social, político e econômico em que a moda se encontra no país nos


dias de hoje possui tantas camadas absolutamente enraizadas que toda e qualquer forma
de incentivo à mesma é um incentivo à consolidação da mesma. É ainda mais cruel uma
vez que o padrão de beleza, vestimenta e comportamento que seguimos vem
diretamente do hemisfério norte, o qual é absolutamente diverso da nossa realidade,
tornando toda e qualquer busca por um ideal extremamente irreal. Assim como todos os
outros afetados por esta indústria tão forte, nossa cultura se desenvolveu em torno e uma
vez pautados por essa influência externa se torna incrivelmente difícil se desvincular e
desconstruir todos os padrões que temos estabelecidos.

Esquecemos, no entanto que o mesmo poder destrutivo tem o igual alcance para
qualquer outro tipo de impacto, e deixamos de perceber oportunidades de desconstrução
de padrões sociais, e não de sistema, que podem ser alcançadas através da mesma
ferramenta.

A grife francesa Christian Loubotin com a coleção The Nude Collection gerou
um debate que estava dormente no universo da moda até então, gerando visibilidade
para questões raciais que pareciam estar resolvidas e foram apontadas de forma
absolutamente delicada e eficaz. Uma grande tendência e “coringa” de muitas coleções
é o bege clarinho batizado de “nude” há décadas. Até então, o mundo caucasiano
eurocêntrico não havia percebido a grande presunção ao batizar um tom muito utilizado
em criações de estilistas de “nude”, ou seja, de cor da pele. Cor da pele de quem?

A coleção que gerou grande visibilidade para uma marca caríssima e de acesso
extremamente restrito à uma elite socioeconômica gerou também grande impacto e
discussão em todas as outras esferas, uma vez que a grife já é uma “formadora de
opinião” há décadas, na qual muitas marcas pequenas e grandes se espelham,
propagando a discussão em milhares de vezes. Na sociedade em que nos encontramos,
dar visibilidade é um ato extremamente político e atípico e o mesmo mecanismo que
mantém modelos brancos em evidência é também capaz de levantar uma discussão
seríssima sobre racismo.
Paralelamente, a discussão sobre a diferenciação de roupas de um gênero para o
outro é retomada por marcas de fast fashion como a C&A e Forever 21 com um alcance
igualmente grande, mas não devido ao seu caráter de referência, mas pelo volume de
vendas e presença mundial, contestando a rigidez de vestuário vinculado ao gênero,
trazendo à tona a discussão de identidade de gênero que por muitos séculos foi, e ainda
é um grande tabu, porém graças à exposição tão grande e súbita sobre o assunto, este
passou a ser discutido e lentamente preconceitos se desmancham.
A militância se ocorre é restrita, sutil e excludente, não sai nas ruas gritando por
suas causas ou arrisca perder muitos clientes chocando o mundo brutamente. Se ela
ocorre, é controlada e em testes, observando o público e fazendo lentas tentativas de
reparo por posições passadas. Ao mesmo tempo que pequenos passos são tomados
adiante milhão são tomados para trás em todos os aspectos de uma cultura industrial e
reforçando todo o sistema prejudicial e excludente em que o mundo da moda se
encontra.

Quantas marcas e ações são necessárias se posicionando perante alguma minoria


para podermos considerar o universo da moda porta voz de algo?

REFERÊNCIAS

Fashion Gone Rogue. Disponível em: < http://www.fashiongonerogue.com/christian-


louboutin-nudes-flats/ >.

Acesso em 13 de junho de 2016

Grandes Nomes da Propaganda. Disponível em:


<http://grandesnomesdapropaganda.com.br/anunciantes/ca-transforma-dia-dos-
namorados-em-dia-dos-misturados/>. Acesso em 13 de junho de 2016.

Hannah Ongley, Xojane. Disponível em: < http://www.xojane.com/fashion/is-gender-


nuetral--fashion-butch-appropriation>.

Acesso em 13 de junho de 2016.

Alice Casely-Hayford, Hunger TV. Disponível em:


<http://www.hungertv.com/feature/ten-ways-coco-chanel-changed-fashion//>.

Acesso em 13 de junho de 2016.

Chris Serico, Today. Disponível em: < http://www.today.com/health/victorias-secret-


faces-backlash-over-perfect-body-campaign-1D80253890/>.
Acesso em 13 de junho de 2016.

Coco Chanel NHD. Disponível em: < http://cocochanelnhd.weebly.com/the-chanel-


suit.html>.

Acesso em 13 de junho de 2016.

Marcy Cruz, Plus Model. Disponível em: < http://www.plus-model-


mag.com/2015/01/10-must-accessories-2015-wear/>.

Acesso em 13 de junho de 2016.

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