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O Ciclo Econômico
Observações Preliminares
vai mal. A história não entraria em contradição com essa teoria. Pois
em quase todos os casos históricos há tantos “acidentes”, que podem
ser responsabilizados pela crise que ocorre realmente sem nenhum
disparate evidente, que a necessidade de qualquer busca de causas
mais gerais e fundamentais é menos óbvia do que alguns de nós parecem
acreditar. Pode-se observar de passagem que, como quer que decidamos
essa questão, o cenário individual da maioria das grandes crises da
história é mais importante para a explicação dos acontecimentos efe-
tivos observados em cada caso do que qualquer coisa que entre numa
teoria geral — supondo que tal teoria seja possível — que, portanto,
nunca pode ser tomada como produzindo mais do que uma contribuição
tanto ao diagnóstico quanto à política de correção, em qualquer caso
real. Se os homens de negócios quase sempre tentam explicar qualquer
crise por circunstâncias especiais ao caso em questão, não estão intei-
ramente errados. Também não o está o antagonismo do “empirista”
em relação a qualquer tentativa de construir uma teoria geral sem
fundamento — embora não seja antagonismo o que se requer nesse caso,
mas uma distinção clara entre duas tarefas inteiramente diferentes.
A descoberta decisiva, que resolveu a nossa questão e ao mesmo
tempo pôs o nosso problema em bases um tanto diferentes, consistiu
em estabelecer o fato de que há, de qualquer modo, alguns tipos de
crises, que são elementos ou, pelo menos, componentes regulares, se
não necessários, de um movimento em forma de onda que alterna pe-
ríodos de prosperidade e depressão, que têm permeado a vida econômica
desde o início da era capitalista.178 Esse fenômeno emerge então da
massa de fatos variados e heterogêneos que podem ser responsabili-
zados pelos retrocessos e colapsos de toda espécie. O que temos que
explicar primeiramente são essas grandes peripécias da vida econômica.
Assim que dominarmos esse problema, não apenas estaremos justifi-
cados, mas forçados, para fins de análise teórica, a supor a ausência
de todas as outras perturbações — externas e internas — às quais
está exposta a vida industrial, para isolar a única questão interessante
do ponto de vista da teoria. Ao fazê-lo, não devemos contudo esquecer
nunca que aquilo que descartamos não é por isso de menor importância
e que, se a nossa teoria for mantida dentro dos estreitos limites de
nossa pergunta, deverá se tornar desproporcional a todos os esforços
analíticos de maior alcance que objetivem fornecer um aparato para
o pleno entendimento do curso efetivo das coisas.
Aquela pergunta pode agora ser formulada da seguinte maneira:
por que é que o desenvolvimento econômico, como o definimos, não
avança uniformemente como cresce uma árvore, mas, por assim dizer,
178 Essa descoberta e a clara percepção de suas conseqüências se devem a Clément Juglar.
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espasmodicamente; por que apresenta ele esses altos e baixos que lhe
são característicos?
§ 2. A resposta não pode ser mais curta e precisa: exclusivamente
porque as combinações novas não são, como se poderia esperar segundo
os princípios gerais de probabilidade, distribuídas uniformemente atra-
vés do tempo — de tal modo que intervalos de tempo iguais pudessem
ser escolhidos, a cada um dos quais caberia a realização de uma com-
binação nova — mas aparecem, se é que o fazem, descontinuamente,
em grupos ou bandos.
Agora essa resposta deve (a) ser interpretada, depois esse apa-
recimento em grupos deve (b) ser explicado e então (c) devem ser ana-
lisadas (no § 3 deste capítulo) as conseqüências desse fato e o curso
do nexo causal provocado por elas. O terceiro ponto contém um novo
problema, sem a solução do qual a teoria estaria incompleta. Embora
aceitemos a afirmação de Juglar de que “a única causa da depressão
é a prosperidade” — o que significa que a depressão nada mais é do
que a reação do sistema econômico ao boom, ou a adaptação à situação
à qual o boom submete o sistema, de modo que a sua explicação também
está enraizada na explicação do boom —, no entanto a maneira pela
qual o boom leva à depressão permanece uma questão em si, como o
leitor pode ver de imediato na diferença que existe, quanto a esse
ponto, entre Spiethoff e eu. Também será visto imediatamente que
essa questão é respondida pela nossa argumentação — sem dificuldade
e sem ajuda de fatos novos ou de novos instrumentos teóricos.
(a) Se os novos empreendimentos, em nossa concepção, apare-
cessem independentemente um do outro, não haveria nenhum boom
ou depressão enquanto fenômeno especial, reconhecido, notável, regu-
larmente recorrente. Pois o seu aparecimento seria então, em geral,
contínuo; eles seriam distribuídos uniformemente no tempo e as mu-
danças que seriam efetuadas por eles no fluxo circular seriam cada
uma delas relativamente pequenas, assim as perturbações teriam im-
portância apenas local e seriam facilmente superadas pelo sistema
econômico como um todo. Não haveria nenhuma perturbação conside-
rável do fluxo circular e portanto nenhuma perturbação do crescimento.
Deve-se notar que isso é válido para qualquer teoria das crises com
relação ao elemento que a teoria considera como causa, em particular
para todas as teorias da desproporcionalidade; o fenômeno nunca se
torna inteligível, se não se explica por que a causa, qualquer que ela
seja, não pode atuar de maneira a permitir que as conseqüências sejam
contínua e correntemente absorvidas.179
179 Com o que quero dizer que essa parte de nossa argumentação deve simplesmente ser
admitida por todas as teorias das crises. Pois mesmo que estejam livres de outras objeções,
nenhuma explica precisamente essa circunstância.
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OS ECONOMISTAS
cá lculo, numa escala que pode facilmente pôr em perigo uma firma
individual, em casos excepcionais talvez toda uma indústria, não é em
geral suficiente para pôr em perigo o sistema econômico como um todo.
Então, como é que erros tão gerais podem ser feitos de tal modo que
todo o sistema seja afetado, e, na verdade, como uma causa indepen-
dente e não meramente como uma conseqüência da depressão que deve
ser explicada? Uma vez que tenha começado por outras razões, a de-
pressão certamente transtorna muitos planos que anteriormente eram
perfeitamente razoáveis e torna perigosos certos erros que, de outro
modo, seriam facilmente retificados. Os erros iniciais requerem uma
explicação especial, sem a qual nada se explica. Nossa análise fornece
essa explicação. Se o traço caraterístico de um período de boom não é
meramente a ampliação da atividade econômica enquanto tal, mas a
realização de combinações novas e ainda não experimentadas, fica então
imediatamente claro, como já foi mencionado no capítulo II, que aí o
erro deve desempenhar um papel especial, qualitativamente diferente
do seu papel no fluxo circular. Não obstante, não se econtrará aqui
nenhuma “teoria do erro”. Pelo contrário, para evitar tal impressão,
isolaremos esse elemento. Na verdade, ele é um elemento acidental
de apoio e reforço, mas não uma causa primária necessária à com-
preensão do princípio. Ainda haveria movimentos cíclicos — embora
de forma mais suave — mesmo que ninguém nunca fizesse qualquer
coisa que pudesse ser descrita como “falsa” de seu ponto de vista;
mesmo que não houvesse nenhum “erro” técnico ou comercial, “febre
especulativa”, ou otimismo e pessimismo sem fundamento; e ainda que
todos tivessem o dom de uma ampla presciência. A situação objetiva
que o boom necessariamente cria explica exclusivamente a natureza
da coisa,182 como veremos.
(b) Por que os empresários aparecem, não de modo contínuo, ou
seja, individualmente, a cada intervalo escolhido apropriadamente, mas
aos magotes? Exclusivamente porque o aparecimento de um ou de poucos
empresários facilita o aparecimento de outro, e estes provocam o apa-
recimento de mais outros, em número sempre crescente.
Isso significa, primeiro, que, pelas razões explicadas no capítulo
II, a realização de combinações novas é difícil e acessível apenas a
pessoas com certas qualidades, como se vê melhor por um exemplo
dos tempos antigos ou por uma situação econômica no estágio que
mais se parece a uma economia sem desenvolvimento, a saber, o estágio
de grande estagnação. Apenas poucas pessoas têm essas qualidades
de liderança e só algumas podem ter sucesso nesse sentido numa tal
182 O que, é óbvio, não significa que se negue a importância prática do elemento erro, nem a
dos elementos que comumente são designados por febre especulativa, fraude etc. — categoria
à qual também pertence a superprodução. Afirmamos apenas que todas essas coisas são
em parte conseqüências e que, mesmo que não seja esse o caso, a natureza do fenômeno
não pode ser entendida a partir delas.
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cima pode, por sua vez, ultrapassar os limites, manter as ações a uma
cotação impropriamente alta e conduzir a um pequeno pseudo-boom
que, em certas circunstâncias, pode durar até que comece um real.
Evidentemente a posição alcançada no fim nunca corresponde
completamente ao quadro teórico de um sistema sem desenvolvimento,
no qual não haveria mais renda sob a forma de juro. Somente a duração
relativamente curta das depressões evita isso. Não obstante, sempre
ocorre a aproximação de uma posição sem desenvolvimento, e esta,
sendo relativamente estável, pode ser de novo um ponto de partida
para a realização de novas combinações. Nesse sentido, portanto, che-
gamos à conclusão de que, conforme nossa teoria, deve sempre haver
um processo de absorção entre dois booms, terminando numa posição
que se aproxima do equilíbrio, cuja execução é a sua função. Isso é
importante para nós, não só porque existe efetivamente uma tal posição
intermediária e a sua explicação é uma incumbência de qualquer teoria
do ciclo, mas também porque apenas a prova da necessidade de uma
tal posição periódica de quase-equilíbrio completa o nosso argumento.
Porque começamos com uma posição, a partir da qual surge a onda
de desenvolvimento — sem levar em conta se ou quando historicamente
foi este o caso. Poderíamos até mesmo assumir meramente um estado
“estático” inicial, para deixar que se destacasse claramente a natureza
da onda. Mas, para que a nossa teoria explique a essência do fenômeno,
não é suficiente que uma baixa siga efetivamente todas as cristas das
ondas: deve fazê-lo necessariamente — o que não pode simplesmente ser
suposto, nem pode uma prova ser substituída por indicar o fato. Por essa
razão pareceu ser necessário nessa seção usar certa dose de formalismo.
Em segundo lugar, à parte a assimilação das inovações que acaba
de ocupar a nossa atenção, o período de depressão faz algo mais que não
salta tanto à vista quanto os fenômenos aos quais deve o seu nome:
cumpre o que o boom prometeu. E esse efeito é duradouro, ao passo que
os fenômenos sentidos como desagradáveis são temporários. A corrente
de bens é enriquecida, a produção parcialmente reorganizada, os custos
de produção diminuídos193 e o que a princípio aparece como lucro empre-
sarial incrementa depois as rendas reais permanentes de outras classes.
193 Falamos duas vezes dos efeitos do boom no aumento dos custos: primeiro a demanda dos
empresários impulsiona para cima os preços dos bens de produção, depois, a demanda que
se segue, das pessoas que vêm nas ondas secundárias de desenvolvimento, os impulsiona
ainda mais. Esses custos crescentes não têm nada a ver com a elevação secular sustentada
pelos economistas clássicos com base em sua suposição de uma progressiva ultrapassagem
das possibilidades de produção de meios de subsistência pelo aumento da população. Ora,
os custos decrescentes em questão acima não são o complemento desses custos crescentes
em termos monetários. São a conseqüência do progresso produtivo realizado pelo boom e
significam uma queda dos custos reais por unidade de produto, primeiro nos novos em-
preendimentos em relação aos antigos, depois também nestes últimos, uma vez que devem
se adaptar — por exemplo, reduzindo sua produção e se restringindo às melhores possi-
bilidades — ou desaparecer. Depois de todo boom o sistema econômico, enquanto tal, produz
a unidade de produto com menor dispêndio de trabalho e terra.
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depressões predominantes, anterior a 1895, como o famoso Third Report on the Depression
of Trade. Investigações acuradas são apenas de data mais recente, como, por exemplo, no
Special Memorandum no 8 do London and Cambridge Economic Service (de J. W. F. Rowe),
ou, para os Estados Unidos, os dados e estimativas no Report of a Committee of the President s
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