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PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA DA 5ª REGIÃO


Seção Judiciária do Ceará – 3a Vara Federal – Gabinete do Juiz Substituto
Praça Murilo Borges, s/n, 9º andar, Centro, Fort.-CE, CEP 60035-210

Sentença nº /2017 – Tipo A (Resolução CJF nº 535/2006).


Processo nº 0006688-97.2010.4.05.8100.
Classe 29 – AÇÃO ORDNÁRIA.
Autor: FRANCISCO AURICÉLIO DAMASCENO (CPF/MF nº
847.333.903-78)
Réu): SUPERINTENDENTE REGIONAL DO INSTITUTO
BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS DO CEARÁ (IBAMA/CE).
1 RELATÓRIO

Trata-se de Ação Ordinária proposta por Francisco Auricélio


Damasceno contra o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis no Ceará (IBAMA/CE), em que o autor questiona a
atuação da autarquia ambiental, consistente na apreensão de 07 (sete)
pássaros que se encontravam sob sua posse, nos termos do Termo de
Apreensão e Depósito nº 596384/C, bem como na lavratura do Auto de
Infração nº 656110/D.
O autor requereu liminarmente provimento jurisdicional de
antecipação dos efeitos da tutela para que tenha acesso e possa visitar os seus
pássaros junto ao CETAS/IBAMA e, ao final, que anule e torne sem efeito o
aludido Auto de Infração e a multa atribuída, assegurando-lhe, ademais, a
devolução das aves apreendidas, condenando o órgão promovido nas custas
do processo e nos honorários advocatícios.
Em prol de sua pretensão, aduziu que é criador autorizado de
passeriformes silvestres nativos, estando devidamente inscrito e cadastrado
junto ao IBAMA, sob o registro nº 448772, obtido em 03.08.2009.
Relatou, que, no dia 02.05.2010, sua residência foi invadida, de
forma arbitrária e ilegal, por fiscais do IBAMA, sem apresentação de
qualquer mandado ou ordem judicial para tanto, ocasião em que lavraram
em seu desfavor o AI nº 656110/D e apreenderam, na forma do TAD nº
596384/C, 07 pássaros que se encontravam sob sua posse, sob alegação de
que as mantinha em cativeiro sem a devida licença da autoridade ambiental
competente.
Afirmou que expôs aos fiscais, na oportunidade, que os pássaros
apreendidos possuíam licença do IBAMA e constavam de sua Relação de
Passeriformes Silvestres mantida junto ao Órgão Ambiental, mas, mesmo
assim, os agentes mantiveram-se intransigentes, num verdadeiro exercício
abusivo de poder.
Alegou, ainda, que também informara aos fiscais que, dentre os
pássaros apreendidos, haviam 02 (dois) bicudos- verdadeiros (espécie
orizoborus maximiliani), que foram adquiridos junto a um criadouro comercial
da cidade de Taguatinga/DF e correspondem às Notas Fiscais nº 1328 e
1346, os quais têm sua criação e venda permitida pelo IBAMA através da
portaria nº 117, pássaros esses, que valiam na época R$ 5.000,00(cinco) mil
reais cada, em razão da qualidade do canto do qual são possuidores.
Aduziu ainda, que dentre os pássaros apreendidos e levados de
sua residência se encontrava também o da espécie “ Sporofhila Bouvreuil”
conhecido como “caboclinho” o qual tinha se consagrado como Vice-
Campeão do Torneio promovido pela Associação Ornitológica do Ceará em
data de 28.03.2010, segundo relata de valor inestimável e possuidor de alto
valor comercial em razão da qualidade de seu canto.
Informou que em razão da ilegalidade e abuso de poder praticado
pelo IBAMA ingressou com uma Ação de Mandado de Segurança junto a
este juízo processo nº 0006688-97.2010.4.05.8100, comprovando que todos
os (07) pássaros apreendidos estavam devidamente legalizados, sendo: 01
Sofré (que vem a ser o mesmo corrupião), 01 trinca ferro verdadeiro, 03
caboclinhos e 01 sabiá laranjeira.
Alegou ainda que o IBAMA afirma que as anilhas constantes das
Notas Fiscais apresentadas: Anilhas ONI DF 07/08 614-NFN. 1328 e Anilha
ONI DF 07/08 627 não correspondem com a dos pássaros existentes na
relação do autor. Porém, o autor esclareceu que as aves apreendidas pela
fiscalização e de sua propriedade são as constantes das notas fiscais anexas, ou
seja Anilha ONI DF 07/08 614 e Anilha ONI DF 07/08 627, adquiridas do
Sr. Rêmulo Cavalcante Martins no mês de abril de 2010, conforme
declaração do mesmo anexada aos autos às fls. 28.
Sustentou que foi trocado pelo IBAMA o número da Anilha do
Pássaro Caboclinho-Ibama AO 2.2 185700, colocando o número “4” na
mesma, quando na verdade, o pássaro apreendido e pertencente ao autor
possui a Anilha IBAMA AO 2.2 181700 e que, ao ser autuado e multado,
não foi lhe dado qualquer direito de defesa, uma vez que foi emitido pelo
IBAMA o Boleto de pagamento com prazo de pagamento para o dia
22.05.2010, tendo o referido órgão deixado de discriminar e descrever as aves
apreendidas com a devida numeração das anilhas, o que a seu ver ensejaria
sua nulidade, motivo pelo qual ingressou com a presente ação.
Acrescentou que, ao procurar o CETAS/IBAMA/CE, local onde
as aves estariam, não lhe foi permitido ter acesso ao local, sendo informado
por um funcionário que as aves apreendidas não mais se encontravam no
local.
O réu foi citado às fls. 36v, tendo apresentado contestação às fls.
65/74, na qual afirmou que o autor teve o seu plantel fiscalizado por equipe
do IBAMA/CE, em operação deflagrada em virtude de denúncia oferecida
através da Linha Verde (canal de comunicação disponibilizado à população
pelo IBAMA). Na oportunidade, foram constatadas as irregularidades
registradas no AI nº 656110/D. Ao contrário do que o Autor afirmou na
petição inicial, os fiscais não invadiram, de modo arbitrário e ilegal, sua
residência, tanto que, por ocasião da apresentação de sua defesa no
pertinente procedimento administrativo, de nº 02007.001105/2010-2, o
próprio Autor afirmou que “em momento algum, o autuado dificultou o
trabalho dos autuantes, ao contrário, se mostrou solícito e cooperativo para a
ação fiscalizadora, permitindo o livre acesso às dependências do seu local”.
Disse ainda que os pássaros não se encontravam na residência do Autor, mas,
sim, em seu estabelecimento comercial do ramo de comidas e bebidas
(churrascaria), de livre acesso ao público, conforme demonstram as fotos
coligidas aos autos do PA nº 02007.001105/2010-2. No local, havia faixas
com os dizeres “CARANGUEJADA ÀS QUINTAS – PROMOÇÃO:
CERVEJA BRAHMA, ANTÁRTICA OU SKOL – R$ 2,00 À VISTA –
SOMENTE QUINTA”, “PROMOÇÃO: FRANGO + 4 LINGUIÇAS +
BAIÃO – R$ 14,00” e “PAGUE COM VISA E VISA ELECTRON – VISA”.
Assim, inexistiria qualquer ilicitude a macular o exercício do poder de polícia
levado a efeito por seus fiscais, que simplesmente cumpriram seu desideratum
institucional. Argumentou ainda que, mesmo que se tratasse eventualmente
da residência do Impetrante, inexistiria, na forma do art. 5º, inc. XI, da
CF/1988, qualquer ilegalidade na ação fiscalizadora empreendida por seus
agentes, já que, além de contarem com o consentimento do Morador, restou
caracterizado, na ocasião, flagrante delito, consoante estatuído na Lei nº
9.605/1997 (Lei de Crimes Ambientais).
Segundo o IBAMA, não procede a alegação de que os pássaros
possuiriam licença e constavam da sua Relação de Passeriformes Silvestres
junto ao Órgão Ambiental, visto que, a despeito de a relação de aves que
compunham o plantel do Autor, em número de 06 (seis), contemplar apenas
01 (um) sofré, 01 (um) trinca-ferro-verdadeiro, 03 (três) caboclinhos e 01
(um) sabiá-laranjeira, havia em sua posse, na ocasião da fiscalização, 07 (sete)
pássaros, sendo 02 (dois) bicudos, 02 (dois) curiós, 01 (um) caboclinho, 01
(um) sabiá e 01 (um) corrupião, que foram apreendidos e conduzidos para o
CETAS/IBAMA/CE.
De acordo com o IBAMA, apesar de 6 dos 7 espécimes
apreendidos em poder do autor possuírem origem legal, apenas um deles (o
sabiá portador da anilha IBAMA AO 4.0 054856) poderia estar em sua
posse. Além disso, não constava no SISPASS nenhuma referência aos 02
(dois) bicudos-verdadeiros apreendidos, de anilhas ONI DF 05/06 214 e
ONI DF 05/06 627, os quais foram provavelmente adquiridos junto a
criador comercial do Distrito Federal e não correspondem a nenhuma das 02
(duas) Notas Fiscais apresentadas pelo autor, que se referem, em verdade, a
aves anilhadas com as peças ONI DF 07/08 627 (NF 1346) e ONI DF 07/08
614 (NF 1328). Tais notas teriam sido emitidas em nome de Rêmulo
Cavalcante Martins, e não do Demandante. Por sua vez, o cúrio apreendido
de anilha IBAMA AO 2.6 648173 seria de propriedade de Ricardo Roges
Alves Madureira, e não do Autor. O caboclinho, de anilha IBAMA AO 2.2
184700, seria de propriedade de Luis Otávio Siervi Manso, e não do Autor,
sendo que referida anilha ainda não foi destinada, ou seja, não guarda
qualquer vinculação com nenhum pássaro, não constando, pois, registro
nesse sentido no SISPASS. O único espécime de propriedade do Autor,
declarado e constante no SISPASS, seria o sabiá-laranjeira, de anilha IBAMA
AO 4.0 054856, cuja posse encontrava-se regular, mas que fora apreendido
para avaliações sanitárias e taxonômicas com vistas à sua posterior liberação.
Na ótica do IBAMA, como detentor de licença de criador
passeriforme, o Autor tinha obrigação de conhecer e cumprir toda a
legislação que disciplina a atividade, sendo, inconcebível o descumprimento
dos preceitos contidos na IN nº 001, de 24.01.2003 (DOU de 27.01.2003),
que impõe o registro no SISPASS de qualquer alteração no plantel, aí
incluído o transporte de qualquer indivíduo para qualquer local e a qualquer
título. Além disso, o Autor teria infringido as disposições estatuídas nos arts.
17, caput e § 2, “a inobservância desta instrução normativa implicará as
penalidades previstas nas Leis nº 5.197/1967 e da Lei nº 9.605/1998 e
demais legislações pertinentes” e “em caso de comprovação de irregularidade
o infrator será autuado e terá os pássaros apreendidos”. Em relação aos
pássaros bicudos oriundos do criadouro comercial portadores das anilhas 614
05/06 ONI-DF (notas Fiscais nº 1328 e 1346 respectivamente), teria sido
descumprida a Portaria nº 117/1997, pois o autor não possuía nota fiscal de
compra e que a declaração de fls. 27 data de 27.07.2010, tendo os animais
sido apreendidos em 02.05.2010. Portanto, o autor não tinha o documento à
época, logo não poderia haver o reconhecimento pelo IBAMA da
manutenção dos mesmos pelo autor.
Finalmente, o IBAMA alegou que o CETAS, como Centro de
Triagem que é, sendo uma de suas funções a reabilitação dos animais que ali
se encontram, não permite visitação e que a apreensão já ultrapassou a casa
dos 8 meses à época. Diante de tudo isso, pugnou pela improcedência da
ação.
Réplica às fls. 80/83, em que o autor procura refutar os
argumentos do IBAMA e reiterar a súplica pela procedência da ação.
Às fls. 187 este juízo deferiu pedido de produção de prova
testemunhal e designou Audiência de instrução para o dia 23.10.2013.
Após, vieram-me os autos conclusos.
Eis o breve relatório a respeito dos atos processuais que merecem
maior relevo neste estádio processual. Passo, então, ao julgamento.

2 FUNDAMENTAÇÃO
Os seguintes fatos que motivaram a presente ação são
incontroversos: (a) o autor é criador de pássaros silvestres; (b) após
fiscalização do IBAMA, sete pássaros foram apreendidos e, em seguida,
reintroduzidos em ambiente natural; (c) foi aplicada multa em razão das
irregularidades apontadas pelo IBAMA.
Diante desses fatos, o autor pede, em termos sintéticos, o
reconhecimento da nulidade da fiscalização do IBAMA, com a anulação da
multa aplicada e a consequente devolução dos pássaros.
Quanto ao pedido de anulação da multa, a razão está com o
autor. De fato, a multa foi aplicada antes mesmo de ter sido dada
oportunidade de o autor apresentar a documentação que justificaria a posse
das aves, o que representa uma clara violação do devido processo. Em outras
palavras: o IBAMA aplicou a multa e apenas depois analisou a documentação
do autor. Mesmo que várias inconsistências na documentação tenham sido
constatadas, o certo é que a punição somente pode ser aplicada após a
apreciação da defesa do eventual infrator.
Além disso, o próprio IBAMA reconheceu que uma boa parte da
documentação estava regular, ou seja, seis dos sete pássaros tinham origem
legal. As inconsistências apontadas pelo IBAMA em sua contestação somente
foram apontadas depois que a multa foi aplicada, indicando que o órgão
ambiental primeiro aplicou a sanção para somente depois encontrar a
infração. Em outras palavras: o órgão ambiental foi contaminado pelo
chamado viés da confirmação, tentando encontrar razões para justificar sua
atuação depois que a decisão de condenar já havia sido tomada.
Não é preciso nem mesmo adentrar no mérito sobre a
possibilidade de fiscalização in loco realizada pelo IBAMA. Basta reconhecer
que houve uma inversão processual em que o direito de defesa foi
prejudicado pelo desejo do órgão ambiental de justificar a sua atuação.
Diante disso, o auto de infração deve ser anulado, inclusive com a
suspensão da cobrança da multa aplicada.
Por outro lado, o pedido de devolução dos pássaros não pode ser
acolhido. Primeiro por uma impossibilidade fática: conforme informações do
IBAMA, os pássaros já foram reintroduzidos ao ambiente natural. Segundo
por uma impossibilidade jurídica: é questionável o direito do autor de
manter a posse dos pássaros.
Quanto a esse segundo ponto, há uma razão formal para negar o
pedido. Conforme apontado pelo IBAMA, a documentação apresentada pelo
autor possui diversas inconsistências que põem em dúvida a sua regularidade.
Além de ter contradição entre os números das anilhas e as espécies de
pássaros, também foram apontados problemas no nome dos proprietários,
bem como no local de criação desses pássaros.
Além disso, há um aspecto que, embora não seja decisivo para a
solução desse caso, é extremamente importante do ponto de vista da proteção
dos animais: é bastante questionável se é válida uma licença ambiental que dá
o direito de uma pessoa de criar um pássaro em cativeiro, sobretudo em
gaiolas.
Os pássaros são seres senscientes que possuem a capacidade de
voar. Nessa condição, qualquer medida que retire desses pássaros essa
capacidade fundamental deve ser vista, em linha de princípio, como uma
medida que submete os animais a crueldade e, nessa condição, viola o artigo
225, §1o, inc. VII, da Constituição Federal1.
O Supremo Tribunal Federal tem sistematicamente anulado
práticas que submetem os animais a crueldade, tal como ocorreu no
julgamento do caso da Farra do Boi2 e da Briga de Galo3. Mais recentemente,

1
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. § 1º
Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: VII - proteger a
fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
2
A ementa do acórdão é a seguinte: “COSTUME – MANIFESTAÇÃO CULTURAL –
ESTÍMULO – RAZOABILIDADE – PRESERVAÇÃO DA FAUNA E DA FLORA –
ANIMAIS – CRUELDADE. A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício
dos direitos culturais, incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não
prescinde da observância da norma do inc. VII do art. 225 da Constituição Federal, no
que veda a prática que acabe por submeter os animais à crueldade. Procedimento
discrepante da norma constitucional denominado ‘farra do boi’ (STF, RE 153.541-1-SC,
rel. p/ acórdão Min. Marco Aurélio).” Veja-se trecho do voto do Min. Marco Aurélio,
relator para o acórdão, que sintetiza o argumento vencedor: “é justamente a crueldade o
que constatamos ano a ano, ao acontecer o que se aponta como folguedo sazonal. A
manifestação cultural deve ser estimulada, mas não a prática cruel. Admitida a chamada
‘farra do boi’, em que uma turba ensandecida vai atrás do animal para procedimentos que
estarrecem, como vimos, não há poder de polícia que consiga coibir esse procedimento.
Não vejo como chegar-se à posição intermediária. A distorção alcançou tal ponto que
no julgamento da ADI 4.983/CE, o Supremo Tribunal Federal, conforme
voto do Min. Luís Roberto Barroso, assinalou:
"A Constituição veda expressamente práticas que submetam animais a
crueldade. O avanço do processo civilizatório e da ética animal elevou o
resguardo dos seres sencientes (i.e. , capazes de sentir dor) contra atos
cruéis a um valor constitucional autônomo, a ser tutelado
independentemente de haver consequências para o meio - ambiente, para
a função ecológica da fauna ou para a preservação das espécies" (STF,
ADI 4.983/CE, voto do min. Luís Roberto Barroso).
Com relação à criação de pássaros em gaiola, embora não exista
nenhuma decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o tema, a matéria não
é nova na jurisprudência global. De fato, no Caso "People For Animals vs Md
Mohazzim & Anr", a Alta Corte de Delhi, na Índia, reconheceu expressamente
que os pássaros possuem o direito de serem livres e que o seu aprisionamento
em gaiolas viola esse direito4.

somente uma medida que obstaculize terminantemente a prática pode evitar o que
verificamos neste ano de 1997. O Jornal da Globo mostrou um animal ensanguentado e
cortado invadindo uma residência e provocando ferimento em quem se encontrava no
interior. Entendo que a prática chegou a um ponto a atrair, realmente, a incidência do
disposto no inciso VII do artigo 225 da Constituição Federal. Não se trata, no caso, de
uma manifestação cultural que mereça o agasalho da Carta da República. Como disse no
início de meu voto, cuida-se de uma prática cuja crueldade é ímpar e decorre das
circunstâncias de pessoas envolvidas por paixões condenáveis buscarem, a todo custo, o
próprio sacrifício do animal”.
3
“CONSTITUCIONAL. MEIO AMBIENTE. ANIMAIS: PROTEÇÃO:
CRUELDADE. ‘BRIGA DE GALOS’. I. – A Lei 2.895, de 20.03.98, do Estado do Rio de
Janeiro, ao autorizar e disciplinar a realização de competições entre ‘galos combatentes’,
autoriza e disciplina a submissão desses animais a tratamento cruel, o que a Constituição
Federal não permite: C.F., art. 225, § 1o, VII. II. – Cautelar deferida, suspendendo-se a
eficácia da Lei 2.895, de 20.03.98, do Estado do Rio de Janeiro.” (STF, ADI no
1.856/MC, rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 22/9/2000).
4
Eis, no original, o trecho relevante do julgamento: "after hearing both sides, this Court is of
the view that running the trade of birds is in violation of the rights of the birds. They deserve
sympathy. Nobody is caring as to whether they have been inflicting cruelty or not despite of settled
law that birds have a fundamental right to fly and cannot be caged and will have to be set free in the
sky. Actually, they are meant for the same. But on the other hand, they are exported illegally in
foreign countries without availability of proper food, water, medical aid and other basic amenities
required as per law. Birds have fundamental rights including the right to live with dignity and they
cannot be subjected to cruelty by anyone including claim made by the respondent. Therefore, I am
clear in mind that all the birds have fundamental rights to fly in the sky and all human beings have
Veja-se que, no presente caso, há várias outras razões, além do
direito dos pássaros à liberdade, para se negar ao autor o seu pedido. De
qualquer modo, é importante trazer esse tema ao debate até para que a
sociedade possa refletir até que ponto criar pássaros em gaiolas é uma medida
civilizatória ou não. De qualquer modo, seja por razões práticas, seja por
razões jurídicas, os pássaros apreendidos não podem ser mais devolvidos ao
autor.

3 DISPOSITIVO

Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O


PEDIDO DESTA AÇÃO tão somente para anular o autor de infração e a
respectiva multa lavrada contra o autor. Quanto ao pedido de devolução dos
pássaros, JULGO O PEDIDO IMPROCEDENTE.
O IBAMA arcará com as custas processuais e com os honorários
de sucumbência, que arbitro em 15% sobre o valor atribuído à causa.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Fortaleza-CE, 24 de outubro de 2017

GEORGE MARMELSTEIN LIMA


Juiz Federal da 3ª Vara

no right to keep them in small cages for the purposes of their business or otherwise" (Disponível on-
line: http://tinyurl.com/y8l97aox).

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