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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA


DISCIPLINA: DILEMAS, DESAFIOS E CONTRADIÇÕES DA ATENÇÃO BÁSICA
NO ÂMBITO DO SUS

Professoras: Camila Furlanetti Borges, Danielle Moraes e Tatiana Wargas de Faria Baptista.
Discente: Francisca Lidiane Ximenes da Silva Aguiar

Reflexões sobre os Dilemas da Atenção Básica a partir das minhas experiências

Minha vivência com a atenção básica é como usuária e estudante (graduação e pós-
graduação). Vou destacar aqui a minha experiência acadêmica, pois foi durante a coleta de
dados para a dissertação de mestrado, que tive maior contato com esse nível de atenção à saúde.
Na ocasião, apliquei questionários a pessoas com Diabetes Mellitus que participavam das
reuniões do Hiperdia em Santarém, no oeste do Pará, para investigação de dor neuropática.
Durante 5 meses do ano de 2016, visitei 9 unidades básicas de saúde, participando das reuniões
que, geralmente, aconteciam 1 vez ao mês em cada unidade. Durante esse período, além de
aplicar o instrumento da pesquisa, pude observar o funcionamento das unidades nos dias das
reuniões. Vale ressaltar que em Santarém, a atenção básica ainda é exclusivamente pública.
As unidades se dividiam entre Estratégia Saúde da Família (ESF) e Programas de
Agentes Comunitários de Saúde (PACS), mas pareciam funcionar de forma semelhante. O que
observava é que as pessoas chegavam (maioria idosos) às unidades no período da manhã,
entregavam um cartão ou documento aos agentes de saúde e sentavam-se nas cadeiras, onde
aguardavam serem chamados pelo nome. Eram três etapas de atendimento. Primeiro os técnicos
de enfermagem aferiam a pressão (em alguns lugares verificavam o peso também), depois
seguiam para a consulta com a enfermagem, que realizava a dispensação de medicamentos
entregues pelos ACS. Durante a consulta de enfermagem era verificada a necessidade de
consulta com o médico que participava das reuniões, em 4 das 9 unidades que visitei. Quando
o médico não estava presente eram marcadas consultas para os pacientes que necessitavam de
avaliação médica.
Outra observação sobre o funcionamento das unidades em dias de reuniões do
Hiperdia é que alguns ACS ficavam na unidade e outros faziam visitas domiciliares no mesmo
horário (pela manhã). Os ACS que ajudavam nas reuniões demonstravam um forte vínculo com
os pacientes, que transpareciam contentamento com a atenção recebida. No geral, não haviam
atividades além das três etapas de atendimento. Em algumas ocasiões haviam momentos de
confraternização com lanches e música (por datas comemorativas) e outros com ações
educativas por iniciativa de instituições de ensino da cidade.
Ao relatar essa experiência, agora com uma visão um pouco mais ampliada, graças
às discussões durante a disciplina, vejo como a atenção básica é fundamental na Rede de
Atenção à Saúde. Percebo hoje, que todo o cuidado prestado em tempo hábil e de forma gratuita
nas UBS tem sustentado o sistema público de saúde. Mesmo com as dificuldades e falta de
resolutividade em vários casos é na atenção básica que se deposita a esperança de reorganização
do sistema, por meio do fortalecimento de seus pontos fortes e correções das falhas. Já havia
estudado sobre a ESF, mas as experiências trazidas pelas professoras e pelos colegas
enriqueceram muito o meu conhecimento e admiração por essa estratégia desafiadora.
Ao deparar-me como uma realidade diferente e totalmente inesperada de ter
Organizações Sociais (OS) à frente das unidades básicas de saúde, fiquei muito consternada e
preocupada com o futuro da atenção básica na minha região. Além disso ainda tem a nova
PNAB. Durante as discussões em aula sobre as mudanças na política de atenção básica eu fazia
reflexões sobre como as UBS funcionavam durante a pesquisa que eu fiz e como elas poderão
vir a funcionar. Vejo a nova PNAB como uma apunhalada ao SUS, para o seu desmonte. Apesar
de não ser lei e não ser de aplicação obrigatória, sabe-se que a PNAB de 2011 é que norteava a
organização dos serviços e trabalhadores na atenção básica, assim fica aberta uma enorme
brecha para que os municípios optem por seguir as novas premissas da PNAB de 2017, como
já está acontecendo em todo o país, com incontáveis demissões de ACS.
É uma grande perda para a população brasileira ter a atenção básica reduzida, com
recursos escassos e com o quadro de profissionais, principalmente ACS diminuindo
drasticamente. Desde a aprovação da PEC que congelou os gastos públicos com a saúde e a
educação, observa-se um progressivo desfinanciamento do SUS, cujo impacto é desolador e
imoral. A proposta de oferecer um pacote mínimo de serviços pela atenção básica fere os
princípios do SUS, de garantir a universalidade, integralidade e equidade.
Com essas práticas abusivas incrementadas nas políticas de saúde, como a PNAB
de 2017, não é apenas o SUS, enquanto sistema, que morre. É a população, beneficiária dos
direitos constitucionais à vida e à saúde, que tem sua dignidade esfacelada. O mínimo não é
suficiente para manter as pessoas vivas e com dignidade. É preciso fazer o necessário para que
se tenha vida e saúde com qualidade. É questão de humanidade.
Retorno a experiência por mim relatada inicialmente e penso nas comunidades de
Santarém atendidas pela atenção básica, que mesmo com poucos recursos tinham (e espero que
ainda tenham) muitas das suas queixas atendidas na UBS, sem necessidade de recorrerem a
outros níveis de atenção. A nova Pnab ameaça à saúde daquelas pessoas, que podem ter a
atenção e cuidado diminuídos por falta de profissionais e de recursos, ficando ainda mais
vulneráveis às complicações de suas afecções, além do risco de surgimento de novos agravos e
comorbidades.
Mesmo com profundo pesar e descontentamento com o cenário político instalado
no Brasil e com todos os artifícios implementados para desconstruir a atenção básica e o SUS,
encho-me de esperança, que junto com a academia, a população e os trabalhadores da saúde
possamos resistir às investidas contra o sistema público de saúde para manter o SUS vivo e a
atenção básica fortalecida garantindo atenção integral e proporcionando melhor expectativa e
qualidade de vida às pessoas.
Preciso destacar aqui a relevância da disciplina para a minha formação pessoal e
acadêmica, visto que agora posso ver e entender o cenário que estávamos vivendo há algum
tempo atrás, o que estamos vivendo hoje e o que estar por vir. Tendo em vista a minha
inexperiência e até mesmo ignorância em relação a temática, que eu conhecia muito
superficialmente, não conseguia enxergar o potencial da atenção básica e muito menos conhecia
esse panorama tenebroso que perpassa pela AB atualmente.
Fico feliz por existirem espaços como o da disciplina para levantamento dessas
discussões e também por saber que existem muitas pessoas (estudantes, pesquisadores,
trabalhadores e usuários) lutando pelo SUS e pelo fortalecimento da atenção básica como
coordenadora do cuidado na rede de atenção à saúde.

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